Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apresentação
A Embrapa Uva e Vinho, em cumprimento de sua missão institucional e em
consonância com as ações de transferência tecnológica da Empresa, vem
disponibilizando, desde 2003, informações sistematizadas e atualizadas sobre produtos e
processos relativos à cadeia produtiva da uva, do vinho e das frutas de clima temperado.
Estas informações, denominadas de Sistemas de Produção, têm por objetivo facilitar o
acesso do usuário às orientações técnicas que a Embrapa produz, organiza, valida e
oferece para que produtores, técnicos, industriais e comerciantes obtenham a máxima
qualidade e rentabilidade de sua atividade produtiva.
Assim, este Sistema de Produção é oferecido para que produtores de vinhos tintos,
sobretudo na pequena propriedade, possam obter uma bebida de alta qualidade, a partir
da seleção da matéria-prima, da higiene das instalações e equipamentos e do adequado
processo de fermentação, estabilização e maturação, de modo que o vinicultor possa
obter, para consumo próprio ou para comercialização, um produto de excelente padrão e
em acordo com a legislação vigente. Certamente é possível alcançar esta meta
independentemente da escala em que o vinho é produzido. Daí, a importância de
seguirem-se as orientações ora disponibilizadas.
Introdução
Nesta parte de nosso estudo, você vai acompanhar os procedimentos básicos para o
planejamento de uma cantina rural, especializada em vinho tinto.
Este estudo - produção de vinho tinto em cantina rural - foi baseada na experiência da
Embrapa Uva e Vinho, instalada em Bento Gonçalves, RS, uma das regiões de maior
produção de vinho do país.
A definição para o verbete agroindústria não toma duas linhas no Dicionário Aurélio: "é
a indústria que beneficia matéria-prima oriunda da agricultura". Por trás dessa aparente
simplicidade, está uma atividade especialmente complexa e de muitas particularidades.
A começar pelo atrelamento de duas fases de produção, já que o ritmo de produção
industrial obedece ao ritmo de produção natural.
Ao contrário de outras atividades industriais, o ritmo de produção de uma cantina rural,
ou seja, uma agroindústria especializada na elaboração de vinho, não é constante, mas
depende dos períodos de safra e entressafra. O que significa alternar períodos de
hiperatividade com quase ociosidade. Não é difícil concluir que, para enfrentar essa
situação, é necessário um planejamento muito cuidadoso, seja para traçar o plano de
produção, para dimensionar as instalações, para montar o quadro de pessoal e mesmo
para distribuir o produto. Caso contrário, os riscos de prejuízos são muito grandes.
Por caminhos transversos, que passaram por uma profunda crise no setor depois da
abertura do mercado, no início da década de 90, pequenos agricultores, que antes
abasteciam as grandes vinícolas, montaram suas próprias cantinas produzindo pouco,
mas com muita qualidade. Essa é a opção que consideramos mais adequada para a
pequena agroindústria e que vamos privilegiar nesta estudo.
Características da cantina
Depois da colheita, a uva transportada para a cantina é processada. Geralmente, a
cantina funciona num prédio de alvenaria de formação retangular. Nesse prédio, a uva é
recebida através de uma plataforma.
Além disso, sua construção deve respeitar o meio ambiente, principalmente quanto a um
possível desmatamento e à contaminação do terreno, mananciais de água ou lençóis
freáticos, devido à produção de resíduos sólidos ou líquidos, liberados no processo de
vinificação.
clima adequado, uma vez que interfere naturalmente no tipo de uva e nos
sistemas de vinificação e conservação adotados;
características do mercado e da concorrência;
distâncias entre o vinhedo e a cantina;
disponibilidade de capital e de mão-de-obra.
A cantina deve ser construída, de preferência, em terreno inclinado, para permitir que a
área destinada ao armazenamento dos vinhos seja subterrânea, o que evita variações de
temperatura.
Para a condução da uva na parte mais elevada da cantina, deve ser construída rampa de
acesso, com inclinação de, no máximo, 8%.
A planta industrial de uma cantina, por exigência legal e mesmo para o seu bom
funcionamento, deve ter os seguintes setores: recepção da uva, fermentação,
estabilização do vinho, engarrafamento, envelhecimento do vinho em garrafas,
tratamento de efluentes vinícolas, laboratório e escritório.
A seguir, você vai conhecer as principais etapas de produção do vinho tinto em cantina
rural.
Recebimento da uva
A uva - matéria-prima utilizada na elaboração de vinho tinto - provém de um vinhedo
de 3,5 ha, conduzido no sistema latada, com espaçamento de 1,5 m entre plantas e 3,0
entre filas. Em relação às cultivares, o vinhedo é construído de 1,0 ha de Merlot, 1,0 ha
de Cabernet Franc e 1,5 ha de Cabernet Sauvignon. O porta-enxerto utilizado é o
Paulsen 1103. O sistema de poda adotado é a mista, deixando-se cinco varas de seis
gemas e 12 esporões de duas gemas por planta. O número de gemas por hectare
deixadas na poda seca é de aproximadamente 120 mil. Considerando-se uma perda de
25% das gemas na brotação, restarão ainda 90 mil produtivas, com uma produtividade
média de 14.400 kg/ha, estimando-se uma produção média de 150 g de uva/gema,
totalizando nos 3,5 ha uma produção anual de 50.400 kg de uva. Projetando-se um
rendimento médio na transformação da uva em vinho de 65%, o volume de vinho
esperado é de 32.760 L.
Sob o ponto de vista enológico, o mosto das cultivares Merlot, Cabernet Franc e
Cabernet Sauvignon deve apresentar, aproximadamente, características analíticas
desejáveis para vinificar. Confira, na Tabela 1, essas características.
A uva é recebida em caixas de plástico de 20 kg, furadas na parte inferior, para escorrer
o mosto proveniente da uva esmagada. Nessa etapa do processo, são feitas:
O processo de esmagamento da uva para a elaboração de vinho tinto não deve ser
excessivamente enérgico, para não triturar a parte sólida da uva, que responde pela
formação de grande quantidade de borras e pelo aparecimento de gostos herbáceos
excessivos.
Fermentação
Uma das principais etapas do processo de vinificação é a fermentação alcoólica, que
acontece simultaneamente com a maceração.
Recipientes de fermentação
Para reduzir as perdas de álcool e outros compostos voláteis por evaporação, assim
como os riscos de contaminação microbiana, o recipiente a ser adotado é o tanque
fechado com chapéu flutuante. Esse sistema permite macerações mais longas; mas
requer muita atenção no aumento de temperatura de fermentação.
Maceração
Remontagens
As remontagens - que dedem ser efetuadas, de forma suave, pelo menos duas vezes por
dia - são realizadas para extrair os componentes da parte sólida da uva, homogeneizar a
massa vínica em fermentação, controlar a temperatura de fermentação e evitar o
desenvolvimento de microrganismos indesejáveis na parte superior da parte sólida da
uva. Esse trabalho consiste em retirar o mosto da parte inferior do recipiente e colocá-lo
novamente na parte superior, com o auxílio de uma bomba. É importante cuidar para
que a parte sólida fique submersa por um período de 30 minutos para cada operação.
Descuba
O mosto extraído sem auxílio da prensa dá origem ao vinho gota, enquanto o mosto
obtido da prensagem origina o vinho-prensa, que representa, aproximadamente, 15% do
volume total. Geralmente, são separados dois tipos de vinho-prensa. Na primeira prensa,
com pressão suave, é extraído o vinho tinto de melhor qualidade e, na segunda prensa,
com pressão mais intensa, é extraído o vinho de menor qualidade, caracterizado pelo
gosto adstringente, amargo e herbáceo.
Prensagem
A prensa descontínua vertical (Figura 5), que utiliza a força hidráulica, com capacidade
para 500 kg é o equipamento mais recomendado para a prensagem.
Calcula-se que, para cada recipiente com 3.500 kg de uva sem a ráquis, sejam extraídos
entre 500 kg a 600 kg de parte sólida, ou seja, entre 15% a 18% do total da uva. Depois
de prensada, a parte sólida - matéria-prima para elaboração da graspa - é colocada em
silo apropriado, para completar a fermentação alcoólica.
Fermentação lenta
Fermentação Malolática
Temperatura - A maior atividade das bactérias ocorre entre 25°C e 30°C e isso
provoca um aumento acentuado da acidez volátil. Portanto, a temperatura indicada para
a realização da fermentação malolática é de 15°C a 18°C, o que evita a acidez volátil e a
evaporação do vinho. Uma vez iniciada a fermentação malolática, ela continuará,
mesmo se a temperatura for inferior a 15°C. Mas abaixo de 12°C, a fermentação torna-
se demorada e até corre o risco de ser interrompida.
Oxigênio - As bactérias láticas têm pouca necessidade de oxigênio para respirar. Ele é
suprido pelo próprio oxigênio dissolvido no vinho. Em recipientes de madeira, ele é
suprido pela passagem do oxigênio externo, pelos poros da madeira. Por isso, em
recipientes de aço inoxidável de grande volume, a fermentação malolática pode
permanecer inativa pela falta de oxigênio.
Atestos e trasfegas
O vinho utilizado no atesto deve ter da mesma qualidade ou melhor que aquele que está
na pipa. Deve estar límpido e, de preferência, estabilizado. Se não tiver esses cuidados,
todo recipiente pode ser contaminado por alteração acética ou oxidação.
Estabilização tartárica
Filtração
Filtro à placa - Esse filtro pode ser encontrado com três tipos de placas:
Essa placa, como o seu próprio nome indica, esteriliza o vinho, pois ele deve estar bem
limpo. Caso contrário, seu rendimento será baixo.
Engarrafamento
O setor de engarrafamento do vinho de uma cantina deve ter área mínima de 25 m² e um
pé-direito de 4 m. As paredes devem ser revestidas de azulejo ou outro material
impermeável, até a altura de 2 m. Nesse setor, são efetuadas as operações de lavagem
das garrafas, preparo da rolha, enchimento da garrafa, fechamento, capsulagem e
rotulagem.
Lavagem da garrafa
As garrafas são lavadas em máquinas próprias que colocam o recipiente em contato com
solução detergente previamente aquecida para aumentar o efeito e, assim, separar e
emulsionar os detritos existentes. Depois de levadas, as garrafas são enxaguadas em
jatos de água, à temperatura decrescente. Para evitar o choque térmico, a amplitude de
temperatura entre duas zonas de lavagem não deve exceder a 35°C.
Essa lavagem é imprescindível porque, mesmo as garrafas novas, não estão isentas de
contaminação. Estudos mostraram que entre 30% a 40% das garrafas novas apresentam
problemas de contaminação por mofos, leveduras e bactérias e entre 30% e 60% delas
continham partículas de vidro no seu interior. Além disso, essas garrafas podem
apresentar sujeiras - insetos e gotículas de água de condensação - oriundas do transporte
e armazenamento.
Por isso, as garrafas novas devem ser submetidas a uma ou mais lavagens, em máquina
lavadora, antes do engarrafamento.
Quando as garrafas são reutilizadas, os cuidados com a limpeza devem ser redobrados.
Portanto, a garrafa usada deve passar por uma limpeza física, para eliminar todas as
partículas estranhas visíveis no seu interior e exterior. Depois, devem ser eliminados os
microrganismos que comprometem a estabilidade do vinho engarrafado. Quando a
lavagem é feita adequadamente, a garrafa usada, depois de limpa, apresenta as mesmas
condições de uso que a garrafa nova.
Para uma demanda inferior a 600 garrafas/h, o processo de lavagem mais comum é a
imersão desse recipiente em água quente, seguida por lavagem com escova e por vários
enxágües sob pressão. Quando a demanda for maior, são utilizados produtos de ação
química e físico-química, para reforçar o efeito mecânico e destruidor dos
microrganismos.
A água de lavagem deve ser isenta germes patogênicos ou outro tipo de microrganismo
que pode se desenvolver no vinho. Por isso, deve ser feito controle microbiológico
periódico da água utilizada na lavagem das garrafas.
Os produtos químicos utilizados na lavagem devem ter as seguintes características:
ser eficientes na separação dos detritos das paredes da garrafa e apresentar ação
esterilizante para os microrganismos
ser facilmente drenados e eliminados totalmente após a aguagem
não apresentar riscos de contaminação
ser biodegradáveis, para proteção ambiental dos recursos naturais.
Preparo da rolha
Depois que a vedação da garrafa passou a ser feita mecanicamente, esse problema foi
reduzido pelo processo de centrifugação, mas não totalmente solucionado.
Por isso, foi adotada a parafinação a frio ou a utilização de silicone, para que a vedação
fosse feita com a rolha a seco, uma vez que a parafina e o silicone reduzem o coeficiente
de atrito, facilitando, assim, a compressão e a introdução da rolha na garrafa.
O diâmetro das rolhas, geralmente, é de 24 mm, enquanto o bico das garrafas é de 18,5
mm. Assim, a rolha deve sofrer uma compressão de 6 mm no seu diâmetro, para haver
uma boa vedação.
Para vinhos de consumo rápido, não é necessário utilizar rolha com mais de 38 mm de
comprimento, desde que estas sejam fabricadas de cortiça de boa qualidade.
Enchimento da garrafa
As engarrafadoras de nível são mais utilizadas no setor enológico. Nesse caso, o volume
de vinho introduzido depende exclusivamente da capacidade do recipiente. Esse tipo de
enchedora é usado para engarrafar todo tipo de vinho, inclusive espumante.
A vedação da garrafa, com a rolha de cortiça, tem como principal função proteger o
vinho das contaminações microbianas e das oxidações. A rolha de cortiça é o mais
antigo processo utilizado para a conservação do vinho por um longo período.
O formato do bico das garrafas evoluiu muito nos últimos anos e, depois de 1971, suas
dimensões foram normatizadas. Assim, ficou estabelecido que o diâmetro interno do
bico é de 18,5 mm - 0,5 mm, na parte superior e no máximo de 21,0 a 45,0 mm de
profundidade.
As garrafas de bico cilíndrico são mais utilizadas, pois facilitam o trabalho de vedação,
admitem compressão mínima de 6,0 mm no diâmetro da rolha e garantem a vedação.
A colocação da rolha na garrafa deve ser feita sem danificá-la, evitando-se a formação
de fendas, que possibilitam a entrada de ar e conseqüente oxidação do vinho tinto. A
rolhadora moderna é equipada com mandíbulas formadas por várias peças móveis, de
preferência quádrupla, ajustadas de forma a exercer sobre a rolha uma pressão regular
em toda a superfície.
Capsulagem
Essa operação tem por finalidade encobrir o bico da garrafa, para evitar possíveis
contatos do ar com o vinho e melhorar a estética do recipiente. A capsulagem é feita em
esteira, onde a cápsula de plástico é colocada sobre a garrafa. Depois, ela passa por um
túnel aquecido por resistência elétrica, provocando a contração pelo calor.
Rotulagem
marca do vinho
teor alcoólico
volume
aditivos utilizados
local de origem
nome e endereço do produtor e engarrafador
classificação quanto a cor do vinho
classificação em relação ao teor de açúcar
responsável técnico
número de registro no Ministério da Agricultura
prazo de validade
composição do produto
informações que atendam ao Código de Defesa do Consumidor
nome da variedade
ano de colheita ou safra
origem
procedência
do processo de vinificação
O setor de envelhecimento deve ser um local limpo, bem higienizado, ventilado, com
pouca incidência de luz, umidade moderada e temperatura baixa e constante.
Custos de produção
Viabilidade financeira
Como você deve ter percebido, para fazer a análise financeira o empreendedor vai
precisar de um bom volume de informações e fazer uma série de cálculos matemáticos.
Por isso, se você deseja realmente abrir sua própria agroindústria de processamento de
uva, fique atendo ao roteiro, para análise financeira que iremos apresentar, a seguir.
Custo de investimento
Nesta etapa da análise financeira, vamos saber quanto precisaremos gastar na montagem
da agroindústria. Isso inclui as máquinas e os equipamentos utilizados na produção, as
ferramentas, os veículos, os mobiliários e outros materiais permanentes.
Chama-se esse conjunto de investimento físico, porque são gastos feitos de uma só vez
e que ficam agregados ao patrimônio da empresa.
Para fechar a tabela dos investimentos físicos, acrescentamos uma reserva técnica de
10% dos custos totais.
Custo Custo
Descrição Quantidade unitário total (R$
(R$ 1,00) 1,00)
Equipamentos e instalações 102.600
Caixas de plástico, com capacidade para 20 kg,
400 18 7.200
furadas na parte inferior, para transporte da uva.
Máquina desengaçadeira/esmagadeira para
separação da ráquis e esmagamento da uva, com 1 6.000 6.000
capacidade para 2.000 kg/hora.
Bomba para transporte da uva esmagada e do
1 3.500 3.500
bagaço.
Bomba para transporte do vinho. 1 2.000 2.000
Recipientes de aço inoxidável com capacidade
para 6.000 L, utilizados para fermentação 5 5.000 36.000
alcoólica e armazenamento do vinho.
Recipientes de aço inoxidável com capacidade
para 5.000 L, utilizados para armazenamento do 8 5.000 40.000
vinho.
Filtro a cartucho, para filtração do vinho. 1 3.000 3.000
Máquina enchedora e arrolhadora para
engarrafamento do vinho, com capacidade para 1 4.500 4.500
1.000 garrafas/hora, manual.
Máquina capsuladora, com capacidade para 1.000
1 400 400
garrafas/hora.
Obras civis: construção de galpão para cantina 140 450 63.000
rural
Reserva técnica (10%) 16.560
TOTAL 172.160
Custos diretos
Os custos diretos estão relacionados com a produção e a venda. Esses custos apresentam
particularidades em razão do tipo de atividade que a empresa exerce. Numa pequena
agroindústria de processamento de uva, estão incluídos, nesses custos, os materiais
diretos - matérias-primas, materiais secundários e embalagens - e a mão-de-obra direta -
salários e encargos sociais dos recursos humanos ligados diretamente à produção.
Materiais diretos
Os custos dos materiais diretos variam muito de produto para produto. Para produzir 35
mil garrafas de vinho tinto, por exemplo, vamos precisar de 50.000 kg de uva das
cultivares Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, que atualmente têm um custo
médio de R$ 1,50 o litro. Outros insumos - ensima, metabissulfito de potássio, levedura
e açúcar - entram na composição do vinho tinto, além das embalagens, cartuchos para
filtro, rolhas, cápsulas, rótulos, contra-rótulos, papel, cola e caixa de papelão.
Veja, na Tabela 2, a seguir, o custo anual dos materiais diretos necessários para a
produção de 35 mil garrafas de vinho tinto.
Mão-de-obra direta
Você verá que, nesta parte de nosso estudo, não trataremos de todos os funcionários da
nossa empresa, mas apenas daqueles que trabalham diretamente no setor de produção.
Essa divisão pode ser uma novidade para você, mas é feita para permitir melhor
planejamento e administração da empresa. Isso porque o trabalho dos operários está
diretamente relacionado ao volume de produção de uma agroindústria, o que não
aconteceu com o pessoal que trabalha na área administrativa. Uma secretária, por
exemplo, trabalha oito horas por dia, quer a agroindústria esteja processando 100 kg ou
10.000 kg de uva.
Valores
Discriminação
Quantidade (R$ 1,00)
Técnico em enologia 1 14.400
Auxiliar de produção 1 8.400
Mão-de-obra temporária 3 4.500
Subtotal 5 27.300
Encargos sociais - 20.420
TOTAL 5 47.720
Discriminação %
Contribuição da empresa 20,00
FGTS 8,00
Sesi 1,50
Senai 1,00
Incra 0,20
Sebrae 0,03
Salário-educação 2,50
Seguro sobre acidente de trabalho 2,00
Férias 13,67
Feriados 4,00
Auxílio-enfermidade 0,60
Aviso prévio 1,20
Faltas justificadas 3,00
13º salário 12,20
Dispensa sem justa causa 4,90
TOTAL 74,80
É importante informar que alguns desses índices são variáveis como o número de faltas
justificadas, o índice de rotatividade dos empregados, das férias, do número de feriados
por ano, do índice de acidente de trabalho, de auxílio-doença, do Sistema "S" (Senac,
Sesc, Senai, Sei e Sebrae), entre outros.
Custos fixos
Depois de calcular o custo anual dos materiais diretos e o valor da folha de pagamento,
devemos nos preparar para arcar com os custos fixos do negócio, ou seja, aqueles que
ocorrem independentemente da produção ou das vendas. Geralmente eles são
compostos dos salários e dos respectivos encargos sociais do pessoal administrativos, e
dos gastos gerais de administração.
Os custos fixos são aqueles que não estão associados às quantidades de produtos
processados, mantendo-se dentro de um mesmo patamar, independentemente, do
aumento ou queda da produção ou das vendas. Esses custos ocorrem mesmo que a
agroindústria não venda ou produza nenhum bem, sendo necessários para a manutenção
do negócio em funcionamento, daí serem também denominados de custos de
funcionamento ou custos de estrutura.
Geralmente, os custos fixos são compostos pelos salários e pelos encargos sociais do
pessoal administrativo (secretárias, contínuos, vigilantes, gerente-administrativo, etc.;
gastos com aluguéis; retirada pró-labore dos sócios; materiais de limpeza e conservação;
materiais de expediente ou de escritório; honorários profissionais(contador, advogado,
engenheiro, etc.); além dos gastos com depreciação, seguro e manutenção do
investimento físico.
Para fins do nosso estudo, utilizamos uma média de valores para os custos fixos, já que
eles variam muito de região para região. Eles dependem também, do estilo gerencial que
o empresário imprime no seu negócio e do nível de simplicidade ou sofisticação da
empresa.
Valores
Discriminação
% (R$ 1,00)
Depreciação
Equipamentos 15,0 19.665
Obras civis 3,5 2.205
Soma 21.870
Manutenção
Equipamentos 4,5 5.900
Obras civis 1,5 945
Soma 6.845
Seguros
Equipamentos 3,5 4.589
Obras civis 1,5 945
Soma 5.534
Discriminação Valores
Tarifa de água, energia elétrica e telefone. 960
Retirada pró-labore 12.000
Honorários profissionais 3.000
Fretes e transportes 1.080
Combustíveis e lubrificantes 720
Materiais de expediente e de limpeza 360
Depreciação 21.870
Manutenção 6.845
Seguros 5.334
Outros custos 600
TOTAL 52.769
Custos de produção
Agora, que já conhecemos o custo anual dos materiais diretos, o quanto vamos gastar
com a mão-de-obra direta e com os custos fixos, já temos todas as condições para
calcular o custo de produção.
Veja, a seguir, os principais fatores que compõem o custo anual de produção da nossa
agroindústria de processamento de uva.
Para não incorrer no mesmo erro, lembre-se de que o custo de produção é, por
definição, igual à soma dos custos dos materiais diretos, com o rateio dos custos fixos e
dos custos da mão-de-obra direta.
Assim, se quisermos saber o Custo de Produção (CP), isto é, quanto vai custar produzir
cada garrafa de vinho tinto, basta somar esses três itens: Materiais Diretos (MD), Mão-
de-obra Direta (MO) e Custo Fixo (CF), e dividir o resultado pelo Volume de Produção
(VP), ou seja:
CP = (MD + MO + CF) : VP
Os rateios são calculados proporcionalmente às quantidades fabricadas de cada produto,
utilizando-se, para isso, o percentual de participação apresentado anteriormente: Assim,
se quisermos saber o valor do rateio dos custos da mão-de-obra e dos custos fixos do
vinho, por exemplo, basta aplicar o percentual de participação do produto (59%) sobre
os valores do custo anual da mão-de-obra e do custo fixo para o mesmo caso.
Depois, somando-se o custo dos materiais diretos para o mesmo produto, com o rateio
do custo de mão-de-obra direta e o rateio do custo fixo, temos como resultado o custo
anual de produção.
Finalmente, para calcular o custo unitário de produção, basta dividir o custo anual de
produção pela quantidade fabricada de cada produto. Assim, o custo unitário de
produção é obtido pelo custo mensal de produção dividido pela quantidade anual de
produção.
Referências bibliográficas
ALMEIDA FURTADO, D. de. Tecnologia agrícola - enologia. Porto Alegre: Centro
Acadêmico Leopoldo Cortez, 1969. 240 p.
DAUDT, C. E. O vinho seco de mesa e sua produção caseira. Santa Maria: Imprensa
Universitária, 1981. 28 p.
FONSECA, M. da. O ABC da vinificação pela palavra e pela imagem. 5. ed. Porto:
Instituto do Vinho do Porto, 1973. 178 p.
ROSA, T. de. Tecnologia dei vini rossi. Brescia: AEB, 1983. 270 p.