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ENTREVISTA DO MÊS: MAIO/2020
Carmen Teixeira
milagrosas”. Escritora e pianista, a entrevistada
comenta ainda a contribuição da arte e da
cultura no enfrentamento do atual panorama
b ra s i l e i ro . Boa leitura!
C a r m e n Te i xe i r a : S e m d ú v i d a . A t r o c a d e
ministros da Saúde desde que começou
a pandemia de COVID-19 no Brasil é uma
expressão do conflito interno no âmbito do
governo federal, resultante da dificuldade
de manter a coesão entre forças políticas
que têm concepções distintas de como
deve se dar a condução governamental. E,
principalmente, evidencia a tensão entre
P a r a a m é d i c a e s a n i t a r i s t a C a r m e n Te i x e i r a , projetos políticos diferentes com relação
o enfrentamento da pandemia de Covid-19 – à Saúde.
que exige uma ação complexa, multisetorial e
uma eficiente comunicação social – evidencia Embora durante a campanha eleitoral
a “inadequação de uma política de saúde o candidato que ora ocupa o cargo de
privatista e neoliberal à realidade econômica, presidente não tenha apresentado uma
social e sanitária da população brasileira” e proposta clara do que pretendia fazer
escancara os problemas crônicos do SUS. A na área de Saúde, era possível perceber,
entrevistada do mês de maio do Observatório até por suas declarações grosseiras com
d e A n á l i s e P o l í t i c a e m S a ú d e ( OA P S ) , i n t e g r a n t e re l a çã o a o P rog ra m a M a i s M é d i co s q u e , ca s o
d a c o o r d e n a ç ã o d o e i xo d e p e s q u i s a A n á l i s e eleito, a direcionalidade a ser impressa
do Processo da Reforma Sanitária Brasileira à política de saúde daria continuidade ao
do OAPS, fala sobre a gestão da pasta da subfinanciamento e ao desmonte do SUS
Saúde durante a pandemia, as repercussões que já estava em curso, principalmente com
sociais do atual cenário e a possibilidade da a a p r o v a ç ã o d a E C 9 5 n o g o v e r n o Te m e r .
importância recentemente atribuída ao SUS
por amplos setores da população ampliar A indicação de Luís Henrique Mandetta ao
as bases de sustentação do movimento pela cargo d e m i n i s t ro d a S a ú d e s i n a l i z o u a o p çã o
Reforma Sanitária Brasileira. Mestre em pelo projeto privatista, neoliberal, que
S a ú d e Co m u n i t á r i a , d o u to ra e m S a ú d e P ú b l i c a p e l a c o n t e m p l a o fortalecimento do modelo medico-
U n ive r s i d a d e Fe d e ra l d a B a h i a ( U F B A ) e d o ce n te assistencial hospitalocêntrico no âmbito do
n o I n s t i t u to d e H u m a n i d a d e s , A r te s e C i ê n c i a s SUS, sob hegemonia do setor privado, o que
( I H AC ) e n o I n s t i t u to d e S a ú d e Co l e t iva ( I S C ) d a implicou, nessa linha, a mudança da lógica
i n s t i t u i ç ã o , Te i xe i ra a b o rd a t a m b é m o s e fe i to s d a de financiamento da Atenção primária e o
s i t u a ç ã o provocada p e l a p a n d e m i a s o b re a s a ú d e desmonte do Programa Mais Médicos logo no
mental da população: “No campo da saúde mental início do atual governo.
t a m b é m s e reproduz o conflito entre modelos
A condução federal da política de saúde
de atenção d i s t i n t o s , q u e a t e n d e m , c o m o em 2019 acelerou e agravou a crise do
sabemos, a concepções e interesses diferentes sistema, que já vinha se intensificando nos
no que diz respeito ao cuidado em saúde mental. últimos anos, com o subfinanciamento
A emergência da pandemia de COVID-19 também e a privatização “por dentro” do SUS
acentua esse conflito, e traz à tona, por um ( p e l a adoção de alternativas de gestão
lado, a precarização dos serviços que compõem que reproduzem a lógica do setor privado)
a RAPS, e, por outro, o oportunismo de pastores e “por fora” do SUS, pela preservação d o s
evangélicos que tratam de apregoar suas curas privilégios do setor de assistência médica
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c o n t a d o s estudos que venho tentando fazer condições precárias de vida não conseguem um
sobre as “patologias do social”, termo usado por acesso regular a serviços de suporte social e
Vladimir Safatle, Nelson da Silva Junior e Christian psicológico, quer fornecidos pelo Estado quer
Dunker no livro que eles organizaram e publicaram a t r a vé s d e r e d e s s o c i a i s e / o u o r g a n i z a ç õ e s n ã o
em 2018 (“Patologias do social: arqueologias do gove r n a m e n t a i s , que também têm enfrentado
sofrimento psíquico”), trazendo o que chamam restrições d e f i n a n c i a m e n t o n o s ú l t i m o s a n o s .
de “arqueologia do sofrimento psíquico”.
G o s t a r i a d e d e s t a c a r , inclusive, que
Na verdade, esse tema já me ocupava o impacto da pandemia sobre a saúde mental,
antes, a partir das leituras dos livros de além de ser maior em grupos vulneráveis
Joel Birman (“Mal-estar na atualidade”, socialmente, atinge
2 0 0 1 ) e Z yg m u n t B a u m a n
fortemente as pessoas
(“O mal-estar da pós-
modernidade”, 1998) que com histórico prévio
tratam do “mal-estar” de doença mental, que
presente no cotidiano da No campo da saúde mental precisam ser atendidas
vida na contemporaneidade. também se reproduz o conflito nos serviços públicos,
A motivação inicial nasceu na Rede de Atenção
com os debates em sala entre modelos de atenção Psicossocial constituída
de aula com meus alunos
de graduação, onde
distintos, que atendem, como p e l o s C A P S [ C entros de
apareciam os problemas sabemos, a concepções e Atenção Psicossocial] e
relacionados com a interesses diferentes no que diz residências terapêuticas,
ansiedade, distúrbios e também os profissionais
de sono, transtornos respeito ao cuidado em saúde
e trabalhadores de saúde
alimentares, uso de mental. Assim, a emergência que estão atuando na
drogas lícitas e ilícitas,
depressão e mesmo da pandemia de COVID-19 chamada “linha de frente”
tentativas de suicídio, também acentua esse conflito, do combate à pandemia.
que acomete jovens
universitários e que
e traz à tona, por um lado, a
É bom lembrar que a
tem levado muitos à precarização dos serviços que RAPS [Rede de Atenção
automedicação e aos compõem a RAPS, e, por outro,
serviços d e p s i c o l o g i a e Psicossocial] tem sido
psiquiatria. o oportunismo de pastores duramente atingida
evangélicos que tratam de pelas medidas de
Mais recentemente, c o n t i n g e n c i a m e n t o
estudando a crise
apregoar suas curas milagrosas
de recursos no SUS,
econômica internacional e com grande prejuízo na
a crise política brasileira, manutenção do modelo de
me deparei com um
atenção à saúde m e n t a l q u e
autor, Mounk (“O povo conta a democracia:
p r i v i l e g i a a d e s o s p i t a l i z a ç ã o , o atendimento
p o r q u e nossa liberdade corre perigo e como
ambulatorial e a ressocialização d o s e n f e r m o s ,
salvá-la”, 2 0 1 9 ) q u e c h a m a a a t e n ç ã o p a r a
“a perda das ilusões”, ou seja, a crescente mas, paralelamente, tem aumentado o
consciência, principalmente nos mais jovens, financiamento às chamadas “comunidades
da impossibilidade de alcançarem, no futuro, terapêuticas”, vinculadas a igrejas
uma condição de vida igual ou superior a evangélicas, que reproduzem um modelo
de seus pais, coisa que no Brasil me parece asilar, de tratamento “moral”, principalmente
particularmente verdadeiro, em função das no que diz respeito a usuários de drogas. Ou
múltiplas crises que estamos vivenciando. seja, no campo da saúde mental também se
reproduz o conflito entre modelos de atenção
A pandemia de COVID-19 é u m p r o c e s s o q u e distintos, que atendem, como sabemos, a
i n te n s i f i c a e s t a s c r i s e s e está contribuindo concepções e interesses diferentes no que diz
p a ra a u m e n t a r a s e n s a ç ã o d e i nsegurança respeito ao cuidado em saúde mental. Assim,
no presente e d e i n ce r te z a co m re l a çã o a o a e m e r gê n c i a d a p a n d e m i a d e COVID-19
futuro, o que é um fato desencadeante também acentua esse conflito, e traz à tona,
d e s o f r i m e n t o p s í q u i c o e de problemas
por um lado, a precarização dos serviços
de saúde mental, especialmente em grupos
que compõem a RAPS, e, por outro, o
vulneráveis – que j á s o f re m co t i d i a n a m e n te
oportunismo de pastores evangélicos que
d i s c r i m i n a ç ã o , preconceito, violência doméstica
tratam de apregoar suas curas milagrosas.
–, c o m o i d o s o s , p e s s o a s c o m d e f i c i ê n c i a ,
p e s s o a s e m s i t u a ç ã o d e r u a o u privação de
O outro grupo fortemente afetado pela
liberdade, enfim, grupos sociais que além de
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Expediente
Coordenador Geral : Isabela Cardoso Pinto Equipe CDV: Isabela Ramos Porto | Maria Creuza Silva |
Thadeu Borges Souza Santos
Coordenação Executiva OAPS: Yara Oyram Ramos Lima
Comunicação: Inês Costal | Patrícia Conceição
Coordenação Executiva CDV: Carmen Fontes Teixeira
Tecnologia da Informação: Diego Corrêa | Gilson
Equipe OAPS: Jairnilson Silva Paim e Maria Rabelo | Juliana Argolo | Sérgio Santana
Guadalupe Medina
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