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DIREITO CONSTITUCIONAL I

ELEMENTOS DO ESTADO
Estado – uma coletividade territorial integrada por um povo, que a ela se encontra ligado pelo vínculo da
nacionalidade, e por um poder político soberano e que visa a satisfação de interesses gerais. Elementos do
Estado:
a) Povo – conjunto de pessoas ligadas a uma determinada coletividade estadual pelo vínculo jurídico
da nacionalidade
b) Território – espaço próprio e integrativo do Estado onde este exerce os seus poderes de
soberania. Engloba o território terrestre, o território aéreo e o território marítimo.
c) Poder político soberano – faculdade de o poder político se poder livremente auto-organizar no
plano jurídico, na liberdade de tomar decisões obrigatórias para os cidadãos e na capacidade de
representar internacionalmente os interesses externos da coletividade, num quadro de igualdade
formal com outros Estados.
FORMAS TERRITORIAIS DE ESTADO
A forma do estado está diretamente relacionada com a distribuição do poder político em função do
território estadual.
Estado unitário – existência de um poder político soberano.
Estado federal – admite a coexistência de Estados particulares e de uma autoridade central
LEGITIMIDADE DO PODER POLÍTICO
Legitimidade do poder político como o conjunto de vínculos, valores e princípios de ordem cultural,
politica e jurídica que justificam junto dos governados, o tipo de autoridade titulada e exercida pelos
governantes.
REGIMES POLÍTICOS
Modelo doutrinal ou ideológico onde repousam os fundamentos da legitimidade do poder soberano de um
Estado bem como da definição do tipo de enlace jurídico-político que é estabelecido entre o povo e os
órgãos que exercem o mesmo poder.
Regimes democráticos
Um regime democrático-representativo pressupõe o livre consentimento dos governados na designação dos
governantes, o qual se deve processar através de eleições realizadas em liberdade, com caráter regular,
periódico, com alternativa plural de opções e no respeito pelo princípio da igualdade na expressão do
sufrágio.
Regimes autocráticos
Ordem de domínio fundada num ideário oficial que fundamenta o exercício concentrado e não
efetivamente controlado do poder político por parte de um grupo que domina as instituições estaduais e
que restringe ou veda o acesso dos governados ao mesmo poder, mediante uma expressiva compreensão ou
supressão dos seus direitos políticos.
Tipologia elementar
O Estado totalitário
Envolve uma cosmovisão ideológica integral do homem, da sociedade e do poder político que é erigida a
filosofia pública de Estado e dinamizada por um partido único que detém a autoridade pública e a exercer
de forma exclusiva, utilizando para a conservar, o monopólio da comunicação social e da educação e um
aparelho repressivo de caráter judicial, policial e paramilitar.
O Estado autoritário
Caracteriza-se pela existência de um ideário público que justifica uma concentração do poder num órgão
supremo que, sem intentar moldar a esfera privada dos cidadãos e a vida em sociedade ou derrogar a
legalidade, enseja dirigir e dominar os aspetos fundamentais da vida política do Estado, limitando
significativamente a escolha dos governantes pelos governados.

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A CONSTITUIÇÃO COMO ORDEM JURÍDICA DE DOMÍNIO DE UM ESTADO
Funções da Constituição:
a) Legitimação da ordem jurídica e política do Estado
b) Função integrativa
c) Função organizativa de uma ordem jurídica e política
d) Função garantística dos direitos e liberdades fundamentais
Classificações da constituição
Em sentido material – estatuto do poder político (determinação dos órgãos de poder e discriminação das
suas competências e respetivos limites) e estatuto dos cidadãos nas suas relações com o mesmo poder
(garantia jurídica e política dos direitos fundamentais das pessoas). No fundo, pretende designar o conjunto
de normas, escritas ou não, que definem a estrutura das relações de poder de um país e o sistema de
garantias dos seus cidadãos.
Em sentido formal – conjunto de normas dotadas de hierarquia e de força jurídica superior em relação aos
restantes atos normativos do ordenamento, por efeito da supremacia inerente à decisão constituinte e ao
caráter especial e agravado do procedimento de produção e revisão constitucional. No fundo, diz respeito
ao conjunto de textos escritos que têm natureza constitucional.
Em sentido instrumental – recondução do texto constitucional a um único documento jurídico. É a
Constituição escrita, na sua qualidade de instrumento jurídico-normativo.
Constituição rígida e constituição flexível
As constituições rígidas são aquelas que necessitam de um processo formal, que dificulta a alteração do
seu conteúdo, ou seja, revestem um processo de alteração especial e agravado, com particularidades mais
exigentes, que tornam mais difícil rever a constituição.
As constituições flexíveis, por sua vez, não determinam nenhum requisito para a alteração do seu texto,
não possuindo grau de dificuldade para a sua modificação. Os textos constitucionais podem ser revistos
mediante processos idênticos aos adotados para a alteração da legislação ordinária.
Existe, ainda, uma outra designação, a de constituição semi-rígida, que reserva a rigidez para uma parcela
de determinadas matérias, sendo as demais flexíveis.
Constituição utilitária e constituição programática
A constituição utilitária é o texto composto por normas precetivas e circunscrito à organização do poder
político e à salvaguarda dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
A constituição programática é o texto constitucional integrado não apenas por normas preceptivas, mas
igualmente por normas programáticas, isto é, normas não exequíveis por si mesmas, que definem aos
poderes públicos programas de realização permanente, projetadas para o futuro. Acrescenta uma outra
realidade, a dos direitos sociais.
Constituições compromissórias e constituições simples
Nas constituições compromissórias, a decisão constituinte depende da existência de concertos ou acordos
de vontades entre distintas forças e agentes políticos que intervêm na formação da Lei Fundamental. Nas
constituições simples, não existe essa dependência da existência de concertos ou acordos.
O paradigma ontológico de Loewenstein
Constituição normativa – aquelas cujas normas dominam o processo político, ou seja, o processo do
poder adapta-se às normas constitucionais.
Constituição nominal – aquelas que não conseguem adaptar as suas normas à dinâmica do processo
político, pelo que ficam sem realidade existencial.
Constituição semântica – aquela cuja realidade é a formalização da situação do poder político existente
em benefício exclusivo dos detentores desse poder.
PODER CONSTITUINTE

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É a faculdade de fazer aprovar uma constituição. É um ato de vontade que tem força e autoridade. É,
assim, um poder cujo exercício se traduz na elaboração de um texto constitucional. Há que distinguir:
- Poder constituinte originário – poder de elaborar um novo texto constitucional. É ele próprio
que define as suas regras.
- Poder constituinte derivado – poder de rever ou de modificar os textos constitucionais já
existentes.
ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO E CONSTITUIÇÃO
O princípio do Estado de Direito diz respeito a um Estado que tem um conjunto de regras baseadas em
determinados valores, sendo um deles o princípio da separação de poderes. A constituição é o documento
mais importante de todos e, como tal, tem de ser plenamente respeitada. O princípio democrático assenta,
fundamentalmente, na soberania e na vontade do povo, sendo o poder político exercido através de sufrágio
universal, igual, direito e secreto.
ALTERAÇÕES CONSTITUCIONAIS
São as transformações passíveis de afetar a constituição e a ordem constitucional.
Tipologia:
a) Derrogação constitucional – exceção singular a um princípio ou uma regra geral prevista na
constituição, ou seja, só abrange uma parcela do texto constitucional.
b) Transição constitucional – uma passagem entre duas ordens constitucionais sem rutura formal,
ou seja, há uma lei que permite transitar de uma ordem constitucional para uma outra ordem
constitucional.
c) Ruturas operadas por atos de força - como é o exemplo dos golpes de Estado e as revoluções.
d) As mutações informais da constituição – alterações no sentido das normas da constituição sem
afetação do texto, ou seja, as normas mudam sem mudar o conteúdo da constituição e sem haver
uma revisão constitucional.
e) Revisão constitucional – mutação expressa e parcial da constituição operada nos limites fixados
pelo poder constituinte.
Limites à revisão constitucional:
 Limites temporais – visto que só se pode rever a constituição de 5 em 5 anos. O legislador pode
assumir poderes de revisão antes de decorridos 5 anos, desde que se consiga reunir o consenso de
uma maioria de 4/5 dos deputados para se dar início à revisão, que se considerará então
extraordinária. 284º
 Limites formais – na medida em que apenas os deputados podem iniciar um processo de revisão
constitucional, sendo necessária uma maioria de 4/5 dos deputados para se dar inicio a uma
revisão extraordinária (enquanto que para a ordinária não se requer qualquer maioria) e as leis de
revisão são aprovadas por maioria de 2/3 dos deputados. 286º
 Limites circunstanciais – não se podendo realizar uma revisão constitucional em casos de
excecionalidade ou anormalidade constitucional como, por exemplo, durante o estado de sítio ou
estado de emergência.
 Limites materiais – tendo de ser respeitado um conjunto de matérias previstas no artigo 288º da
constituição, consideradas como o cerne material da ordem constitucional.
Deste modo, é possível observar que para se efetuar uma revisão ordinária, basta um deputado ter iniciativa
para começar e 2/3 para aprovação, enquanto que no caso da revisão extraordinária são necessários 4/5
para iniciar o processo e 2/3 para a aprovação.

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