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Desenvolvimento
inciudent e, sust ent ável
sustentado
Prefácio
debate sobre o desenvolvimento vem
sendo travado há algumas décadas, mas
rece ntem ente se intensificou, muit as vezes
de maneira estimulante, com as drásticas
mudanças políticas que o mundo tem
sofrido, o forte acirramento das tensões
sociais e a incessante degradação do meio
ambi ente . Nesse contex to delicado, surge a
proposta de um Desenvolvimento
Sustentável como alternativa desejável - e
possível - para promover a inclusão social,
Desenvolvimento
ineludente, sustentável,
sustentado
Ga ra mo nd
Copyright © 2004, Ignacy Sachs
Revisão
Cláudia Rubim
Editoração Eletrônica
Luiz Oliveira
Capa
Estúdio Garamond
sobre "Quadrados com círculos concêntricos",
óleo sobre tela de Wladimir Kandinsky
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÂO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
S126d
Sachs, Ignacy, 1927-
Desenvol vimento : inelu dente , sustent ável, sustent ado /
Ignacy Sach s. - Rio de Janei ro : Gar amo nd, 200 8
14x2; 1152p.
ISBN 85-7617-04-X
1. Desenvolvimento econômico - América Latina. 2. Desen-
volvimento social - América Latina. 3. Desenvolvimento sus-
Desenvolvimento includente e
trabalho decente para todos
25
7
grande e lúcido conhecedor da problemática do desenvolvimento e,
mais especificamente, dos impasses que enfrenta o Brasil no mo-
mento atual, no s encora ja a trazê-las para o primeiro plano. A leitura
deste livro muito nos ajudará a evitar a reprodução da fábula platô-
nica, em que os prisioneiros confundiram a realidade com as ima-
gens projetadas na caverna.
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DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
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DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
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DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
Igualdade,
butidas eqüidadedee solidariedade
no conceito estão, por
desenvolvimento, comassim dizer, em- de
conseqüências
longo alcance para que o pensamento econômico sobre o desenvol-
vimento se diferencie do economicismo redutor.
Em vez de maximizar o crescimento do PIB, o objetivo maior se
torna promover a igualdade e maximizar a vantagem daqueles que
vivem nas piores condições, de forma a reduzir a pobreza, fenôme-
no vergonhoso, porquanto desnecessário, no nosso mundo de abun-
dância.
a-O crescimento, mesmo que acelerado, não é sinônimo de desen-
volvimento se ele não amplia o emprego, se não reduz a pobreza
e se não atenua as desigualdades, conforme enfatizado, desde os
anos 1960, por M. Kalecki e Dudley Seers. De acordo com o
mesmo raciocínio, não é suficiente promover a eficiência
alocativa. O desenvolvimento exige, conforme mencionado, um
equilíbrio de sintonia fina entre cinco diferentes dimensões. Ele
também exige que se evite a armadilha da competitividade espú-
ria e, em última instância, autodestrutiva, com base na deprecia-
ção da força de trabalho e dos recursos naturais.
b-A eqüidade, traduzida em termos operacionais, significa o trata-
mento desigual dispensado aos desiguais, de forma que as re-
gras do jogo favoreçam os participantes mais fracos e incluam
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DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
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crescimento baseado
as pessoas para na mobilização
trabalhar de com
em atividades recursos
baixointernos, pondo
conteúdo de
importações e para aprender a "vivir con lo nuestro".
Conforme mencionado, o único limite para o crescimento não
inflacio nário e induzido pelo emp rego é dado p ela disponibilidade de
bens de salário. Como não é necessário ter moeda estrangeira para
o financiamento de obras públicas, outras atividades poderiam ser
financiadas por um Imposto de Valor Adicionado altamente pro-
gressivo.
Portanto, as condições necessárias para se levar à frente o cres-
cimento induzido pelo emprego são:
a-capacidade local de planejamento, entendido como a capacidade
de identificação de gargalos e de recursos ociosos capazes de
superá-los;
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DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
paraO todos
objetivo supremo da
- trata-se é omelhor
empregoforma
decente
de e/ou auto-emprego
assegurar simultanea-
mente a sustentabilidade social e o crescimento econômico. Em
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• obras públicas;
• construção civil, especialmente programas voluntários de cons-
trução de casas populares com apoio governamental (casas
populares construídas pelo povo);
• serviços sociais (países que pagam salários baixos têm uma
vantagem comparativa absoluta na produção deste tipo de ser-
viços);
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Prólogo
Ao longo dos último s sessenta anos, o desenv olvimen to tem sido
uma poderosa idée-force para o sistema das Naçõe s Unidas, tanto
como conceito analítico quanto como ideologia. Assim como o ele-
fante de Joan Robinson - difícil de se definir, porém, fácil de se
reconh ecer o desen volvi mento não se presta a ser encap sulad o
em fórmulas simples. A sua multidimensionalidade e complexidade
explicam o seu caráter fugidio. Como seria de se esperar, o concei-
to tem evoluído durante os anos, incorporando experiências positi-
vas e negativas, refletindo as mudanças nas configurações políticas
e as modas intelectuais.
As discussões em torno deste tema contribuíram para o refina-
mento do conceito, porém contrastam com o sombrio histórico do
desenvolvimento existente em muitas partes do mundo. Daí a ne-
cessidade de se revisitar a idéia de desenvolvimento, com vistas a
torná-lo mais operacional, enquanto se reafirma, mais do que nun-
1
Artigo preparado para a Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da
Globalização, OIT, Outubro 2002. Traduzido do srcinal Inclusive
Development and Decent Work for Ali, por José Augusto Drummond e Gló-
ria Maria Vargas.
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Para uma distinção entre desigualdades naturais, ver Jean-Jacques Rousseau:
"Je conçois dans 1'e spèce hu mai ne deux sortes d'inégalités; l' une q ue j'a ppell e
naturelle, et qui consiste dans la différence des âges, de la santé, des forces
du co rps, et de ses qualit és de 1'esprit, ou de 1'âme, 1'autre q u o n pe ut
appeler inégalité morale, ou politique, parce qu'elle dépend d'une sorte de
convention, et quelle est établie, ou du moins autorisée par le consentement
des hommes. Celle-ci consiste dans les différents privilèges, dont quelques
uns jouissent, au préjudice des autres, comme d'être plus riches, plus honores,
plus puissants queux, ou mê me de s'en faire obéir" (p. 77).
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A situação mudou
da Checoslovaquia, emradicalmente
1968, apagoudurante os anos
as últimas 70. Aquanto
ilusões invasão
à
capacidade do bloco soviético de construir uma versão do "socia-
lism o com rost o hum ano ". Os capitalistas per der am assim part e do
seu medo e ficaram mais arrogantes. A crise de energia e suas con-
seqüências foram usadas para desacreditar o keynesianismo e logo
3
Conforme colocado por Jean Ziegler (2002, p. 33), os partidos social-
democratas ocidentais e os seus sindicatos transformaram em vantagens
sociais para seus clientes o medo capitalista da expansão do comunismo
(Les nouveaux mêtres du monde et ceux qui leur résistent, Fayard, Paris,
2002, p. 33).
4
"Les trente années glorieuses", segundo Jean Fourastier.
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Este foi certamente o caso da índia durante o governo de Nehru, a tentativa
mais importante de definição de uma terceira via.
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Um primeiro volume poderia tratar das discussões precursoras dos séculos
XIX e XX sobre desenvolvimento avant la lettre, na Rússia, Índia, Japão,
China e América Latina, bem como das contribuições dos autores dos
países periféricos da Europa. Um seg undo volume deveria focalizar os
pla no s de reco nstru ção pa ra a Europa escritos na Grã-Bretanha, princi-
palmente por refu gi ado s de países sob oc up ação nazista, muitos dos quais
subseqüentemente ingressaram nas Nações Unidas como a primeira gera-
ção de funci oná rio s. U m terceir o vol ume seri a necessário para avaliar a
importante contribuição das diferentes agências das Nações Unidas e de
outras agências, com ênfase especial nas comissões regionais. Um quarto e
último volume concentrar-se-ia no trabalho acadêmico, enfatizando as
importantes contribuições de pensadores de países em desenvolvimento.
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Von Hayek, por causa de sua desco nfian ça qu an to ao plane jam ent o, ficou
numa situação de dissidente solitário.
10
Esta descrição difere dos dois modelos setoriais das economias formal e
inf orm al. A O I T está certa qu and o afi rma que as atividades pode m ser
formais ou informais, porém não representam setores separados.
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bloco soviético.
O fim do socialismo real foi certamente um marco importante
na breve história da idéia de desenvolvimento. Alguns se apressa-
u
A esse respeito, ver Sachs (1999), que trata da teoria do desenvolvimento
de Kalecki ( Monde s en développement).
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ram em ver nele a desq ualif icaçã o fina l do conceito de desenvo lvi-
mento não capitalista, chegando até a proclamar o fim da história.
Tal conclusão não tem fundamento. Como conceito histórico e
social, o desenvolvimento é por natureza aberto, o que o diferen-
cia da noção de desenvolvimento orgânico. Outras tentativas de
transcender o capitalismo podem surgir, na China ou em qualquer
outro lugar, e elas não precisam ter o mesmo destino do socialis-
mo real.
É ainda mais absurdo descartar o planejamento como tal, por
causa do fracasso do planejamento autoritário, centralizado e
abrangente do tipo soviético. As suas duas principais fraquezas
foram a sua base técnica inapropriada - estávamos ainda na época
pré-informática - e, mais importante, a falta de feedbacks da so-
ciedade, por causa da natureza não democrática do regime. A ad-
ministração de economias complexas requer transparência e res-
ponsabilidade, circulação de informações exatas e liberdade de dis-
cussão, bem como uma mídia plural.
Em contraste com o tipo de planejamento soviético, o planeja-
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François Perroux definiu dominação como uma relação assimétrica e
irreversível.
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2- selvagem - -
4- ambientalmente benigno - +
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Ver também a sua entrevista na Folha de São Paulo, "Mais!", 15 de setembro
de 2002.
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bém
sárias aao
transparência e ados
funcionamento responsabilização ( accountability No
processos de desenvolvimento. ) neces-
entanto, existe uma grande distância entre a democracia representa-
tiva e ademocracia direta, que cria melhore s condições para o de-
bate dos assuntos de interesse público.
Todos os cidadãos devem ter acesso, em igualdade de condi-
ções, a programas de assistência para deficie ntes, para mães e fi-
lhos, para idosos, voltados para a compensação das desigualdades
naturais ou físicas. Políticas sociais compensa tórias finan ciada s pela
redistribu ição de renda dev eriam ir mais l onge e incluir subsídios ao
desemprego, uma tarefa praticamente impossível naqueles países
onde apenas uma pequena minoria está empregada no setor organi-
zado e onde o desemprego aberto é bem menos significativo que o
subemprego.
O conjunto da população também deveria ter iguais oportunida-
des de acesso a serviços públicos, tais como educação, proteção à
saúde e moradia. Seguem-se alguns comentários a este respeito.
A educação é essencial para o desenvol viment o, pelo seu valor
intrínseco, na medida em que contribui para o despertar cultural, a
conscientização, a compreensão dos direitos humanos, aumentan-
do a adaptabilidade e o sentido de autonomia, bem como a
autoconfiança e a auto-estima. É claro que tem também um valor
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não
radiatrouxe resultados
decente satisfatórios.
para todos, No entanto,
preenchendo, a provisão
desta forma, de mo-
uma necessi-
dade básica, é certamente um enorme desafio para o desenvolvi-
mento includente. Daí a importância de políticas de moradias popu-
lares e, em particular, de esquemas baseados na autoconstrução
assistida, nos quais as autoridades públicas se juntam aos esforços
dos futuros moradores, cujo trabalho se constitui numa forma não
monetária de poupança.
Todos os qua tro itens se serviç os públ ico s citados acim a -
programas de assistência, a educação, a saúde, e a moradia - exi-
gem financiamento público, por meio da redistribuição de uma
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O programa pioneiro "Bolsa Escola", introduzido por Cristovam Buarque,
em Brasília, merece todo o destaque neste contexto.
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A este respeito, ver o prólogo de Kannan K. P. e Pillai N. V. (2002).
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Segundo Há-Joon Chang (2002), J. Stiglitz apóia esta opinião e considera
que se exige mais ênfase para que o pleno emprego e a maior participação
do emprego sejam considerados como partes essenciais de uma sociedade
genuinamente democrática.
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eficiências
ao conceitokeynesiana, social e ecoeficiência,
de desenvolvimento que são essenciais
ineludente, fundamentado no tra-
balho decente para todos. Lon ge de ser um par âme tro estim ado a
partir de comportamentos passados, a elasticidade de emprego do
crescimento deve ser tratada como uma variável no planejamento
do desenvolvimento, pois é a chave de uma estratégia de desen-
volvimento ineludente. Taxas mais altas de crescimento econômi-
co global presumivelmente trarão maior emprego. Porém, é igual-
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Para uma distinção entre trabalho heterônomo (dirigido por outros) e
autônomo, ver Ivan Illich. O mesmo autor nos lembra da etimologia da
palavra francesa " travai /": a tortura medieval chamada tripallium.
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dutividade do trabalho,
dades de trabal come opar
ho decent imperativo
a todos. deVárias
proporcionar oportuni-
obser vaçõe s ca bem
aqui.
• Primeiro, a redução do conteúdo do trabalho por unidade de
um dado produto pode ser compensada pelo incremento na
demanda total por este produto, estimulada pela redução do
preço e pelo crescimento geral do PIB, ocasionado pelo pro-
gresso técnico.
• Segundo, as reduções na incorporação direta de trabalho são
compatíveis com o increm ento da demanda por trabalho a mon-
tante da cadeia produtiva (pesquisa, desenho) e a sua jusante
(;marketing, distribuição, manutenção).
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"La civilisation de l'être dans lepartage équitable de 1'avoir".
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(subcontratação
caso especial é da
a produção
integraçãoe de
terceirização
pequenos dos serviços);rurais
produtores um
com os agronegócios (sobre conexões entre empresas, ver
UNCTAD, 2000 e 2001);
• avalia r as possi bilid ades de expans ão da pro duç ão de vários
tipos de biomassa agrícola, florestal e aquática para usos
diversificados, como alimento, rações para animais, ener-
gia, fertilizantes, materiais de construção, matéria-prima in-
dustrial, fármacos e cosméticos. Diversos países em de-
senvolvimento terão um futuro brilhante se conseguirem
explorar competentemente a sua biodiversidade, mediante
o uso de biotecnologias, tanto para aumentar a produção de
biomassa quanto para aumentar o espectro de produtos de-
riv ados dela. Desta form a, po de m se engaj ar, antes dos
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Kalecki, em sua teoria do crescimento, introduz dois parâmetros responsá-
veis pelo crescimento sem investimentos: a taxa de depreciação real e o
coeficiente
Quanto maisdebaixa
melhor utilização
a taxa das capacidades
de depreciação (atingida produtivas existentes.
mediante melhor ma-
nutenção), maior será ceteris paribus a taxa de crescim ento eco nôm ico .
Uma melhor utilização da capacidade produtiva existente também levará
a uma maior taxa de crescimento global.
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O dinheiro flui com facilidade dos bolsos das empresas até os bolsos domés-
ticos, e vice-versa, algo totalmente contrário à racionalidade observada
em empresas organizadas.
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Ver Jean tet (199 9). No Brasil, a eco nom ia soci al é conh ecid a como econ o-
mia solidária (Singer, P. Souza, R. D. (eds), 2000).
24 O escambo de produtos é, em parte, uma extensão da economia domés-
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socialmente preferível.
Como mencionado, é necessário dar aos pequenos produtores
uma oportunidade de melhora das suas atividades, aperfeiçoando as
suas habilidades mediante treinamento. Este ponto é de suma im-
portância para o número crescente de provedores de serviços téc-
nicos e de manutenção para firmas e famílias urbanas e rurais. A
demanda por serviços técnicos, mas também sociais e pessoais,
muito provavelmente aumentará nas áreas rurais, acompanhando,
desta forma, a modernização da agricultura e o estabelecimento de
indústrias de processamento de biomassa. Os serviços podem criar
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Os EUA têm uma detalhada legislação que dá às pequenas empresas trata-
mento preferencial nas compras públicas.
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Sobre o papel da assistência mútua na evolução social, ver Kropotkin, P.
(1988).
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Cabe aqui uma advertência: no Brasil, os empregadores algumas vezes
substituem os seus empregados regulares por meio da contratação dos
serviços de cooperativas de trabalhadores, esquivando-se assim do paga-
mento dos encargos sociais. Não é necessário dizer que esta é uma
distorção total dos ideais cooperativos e que ela deve ser vigorosamente
combatida.
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industriais num município ou microrregião. Os APLs, parecem
ser um campo particularmente importante para as políticas públi-
cas voltadas à transformação gradual dos pequenos produtores
em microempresários.
Por importante que seja a promoção do empreendedorismo cole-
tivo, ela tem que ser complementada por feixes de políticas públi-
cas que se reforçam mutuamente.
A experiência mostra que as reformas agrárias não funcionam
enquanto a distribuição da terra não for complementada por medi-
das que quebrem o poder dos agiotas e comerciantes estabelecidos
no campo e que ofereçam aos camponeses os seguintes requisitos
necessários para uma modernização bem-sucedida da agricultura
familiar:
• acesso a tecnologias apropriadas (intensivas em conhecimen-
to e em trabalho, porém poupadoras de capital e recursos) e a
serviços de extensão e de capacitação eficientes;
• créditos subsidiados para produção e investimentos;
• garantia de preç os mínim os, acesso aos merc ados e atendimen-
to preferencial nos mercados institucionais (compras públicas);
• assistência na identificação de nich os de merc ado locais, nacio-
nais e internacionais para produtos de qualidade (queijos, vi-
nhos, frutas, hortaliças etc.).
25
Pesquisadores brasileiros, inspirados nos estudos pioneiros da OIT (Pyke, F.,
Sengerberger W., Becattini, G. 1990, Pyke F., Sengerberger W., 1992) e
trabalhando em associação com colegas italianos, estão descobrindo centenas
de confecção
na arranjos produtivos
de roupas,locais industriais
sapatos e artigosespalhados pelo país,
de couro, móveis, especializados
pedras preciosas
etc. O SEBRAE está elabo rando u m atlas destes APLs. Os bens prod uzid os
nos APLs são freqüentemente comercializados por vendedoras de rua e de
porta em porta. São conhecidas como "sacoleiras". Milhares delas visitam os
APLs para comprar as suas mercadorias diretamente dos produtores, muitas
vezes te nd o que perc orr er longas distânci as. O SEBRAE plan eja dar alta
prioridade ao programa de consolidação e desenvolvimento dos APLs.
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Sobre os víncul os entre grandes empresas mult ina cio nai s e os seus cont ra-
tados, ver UNCTAD.
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As receitas do mercado indiano de serviços de software alcançaram US 6,2
bilhões de dólares, a partir de pouco menos de 500 mi lh õe s de dólares
registrados na metade de 1990 ( The Economist , 11 de janei ro de 200 3) .
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Derivado dos nomes dos municípios que a integram: Santo André, São
Bernardo, São Caetano e Diadema.
34
Segundo Jean Paul Sartre, o homem é um projeto. A posteriori, as socieda-
des humanas devem ser vistas como projetos.
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A UNCTAD está certa quando afirma que vivemos num mundo já liberali-
zado e ainda em processo de se globalizar.
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Inclusão e globalização
Ao longo deste trabalho, presumimos que os Estados-Nação so-
beranos são e continuarão sendo o locus principal para a promoção
do desenvolvimento includente. Num artigo recente, Kofi Annan
(2002 ) nos lembrou que a traduçã o arábica da palavr a "globa lizaç ão"
significa literalmente "inclusividade mundial". No entanto, as for-
mas assimétricas e desiguais da globalização atual prejudicam os
interesses dos países em desenvolvimento, favorecendo alguns in-
cluídos e deixando de fora muitos excluídos. Os incluídos vivem
no capitalismo reformado, enquanto os excluídos estão condena-
dos a formas mais duras e até selvagens de capitalismo. Os Esta-
dos-Nação, nos países em desenvolvimento, se esforçam para pro-
teger a sua gente contra a situação de crescente deterioração. Nas
suas formas atuais, a globalização reproduz, entre as nações cen-
trais e periféricas, o mesmo padrão perverso de crescimento con-
centrado e excludente que se observa dentro das nações.
Por analogia, com o desenvolvimento includente podemos postu-
lar a consolidação da globalização includente, instituindo uma ordem
36
econômica ba seada no princípio de tratamento desigual aos desiguai s,
promovendo o comércio justo, 37 incrementando o fluxo da assistên-
cia pública destituída de compromissos implícitos e transformando a
ciência e a tecnologia em bens públicos (em contraste com os acor-
dos interna cionais sobr e a propr ieda de intelectual - TRIPs ).
Seria desnecessário dizer que a globalização incl udente facilitari a
muito a transição para o desenvolvimento includente. Porém, as
possibilidades de se avançar neste sentido são remotas no futuro
previsível. Isto ressalta a importância crucial das estratégias nacio-
36
Aliás, este princípio foi srcinalmente formulado para o estudo das relações
econômicas internacionais, entre outros, por Gunnar Myrdal (1956), e
constitui a pedra angular sobre qual a UNCTAD foi construída.
37
Sobre este tema, ver Oxfam (2002) e os relatórios anuais da UNCTAD.
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DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
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Da armadilha da pobreza ao
desenvolvimento includente em
países menos desenvolvidos1
Introdução
Os relatórios da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para
o Comércio e o Desenvolvimento) sobre os países menos desenvol-
vidos (PMDs 2 ) oferecem uma análise precisa da sua situação. 3
Se-
jam quais forem as suas diferenças em termos de tamanho, popula-
ção, densidade demográfica, patrimônio natural, localização geo-
gráfica, geopolítica e história, 4 todos eles estão tolhidos por uma
baseado numa média estimada par a três anos do PIB per capita (men os do
que $900 para ser incluído na lista, e acima de $1.035 para sair dela); -
critério de escassez de recursos humanos, que envolve um índice Físico
Ampliado de Qualidade de Vida; -critério de vulnerabilidade econômica,
baseado na inst abi lida de da produção agrícola, na instab il id ad e das expor-
tações, na importância econômica das atividades não tradicionais, na con-
centração de mercadorias exportadas e nas desvantagens de ter pequena
dimensão econômica (ver UNCTAD, 2001).
5 Pesquisadores da índia sugerem que se use a expressão desenvolvimento
inclusionário, em vez de desenvolvimento includente. O adjetivo susten-
tável se refere à condicionalidade ambiental, enquanto sustentado se refe-
re à permanência do processo de desenvolvimento. O desenvolvimento
sustentado não é o mesmo que o crescimento material.
66
IGNACY SACHS
6 1
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
servar Existem
fora? o que têm de melhor
motivos e incorporar
para responder sim,o mas
melhor do que vem
há também de
razões
mais fortes para responder não" (p. 157). Nã o só é imp oss íve l co-
piar o modelo atual dos países ricos; não se pode reproduzir sequer
a sua linha evolutiva, o caminho seguido no passado pelos países
ricos de hoje.
Para Ki-Zerbo, " o desenvolvimento consiste na multiplicação de
escolhas quantitativas e qualitativas" (p. 173). É um fe nô me no
total que escapa ao reducionismo economicista.
Nessa totalidade, os fatores culturais e a educação são primor-
diais. No entanto, a cultura não pode ser quantificada. Este é o
motivo pelo qual é tão difícil classificar os países de acordo com o
seu desenvolvimento. "E um problema, porque os aspectos mais
íntimos do desenvolvimento são quase impossíveis de definir e to-
72
IGNACY SACHS
car, tal como felicidade, saúde e alegria" (p. 173). A ciên cia exi ge,
é claro, quantificação, " mas coisas raras e refinadas são produzidas
em muitos países pobres do mundo. Considerem-se a culinária, a
vestimenta, o artesanato, as artes ou a sensibilidade e o refinamen-
to de algumas línguas" (p. 173-174).
A educação, tal como existe hoje, é uma "educação
antidesenvolvimento". A maioria das crianças africanas rece be hoj e
uma educação que destrói o seu futuro. A erradicação do analfabe-
tismo exige recurso às línguas locais. " Usar as línguas africanas
significa ao mesmo tempo restaurar a dignidade dos camponeses.
Os camponeses sofrem de um complexo de inferioridade, porque as
pessoas se dirigem a eles numa língua estrangeira" (p. 176).
O Estado tem um papel funda ment al a desempenhar no desenvol-
vimento. "Quase desde o seu nascimento, o Estado é surrado por
instituições como o Banco Mundial. Essas instituições exigem que
haja menos Estado ainda, e a influência das empresas transnacionais
é cada vez mais forte. A África terá tempo suficiente para criar um
Estado que será o clone do Estado europeu? Atualmente, os líderes
6 3
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
6 A esse respeito, ver Wuyts M., 2001. Ver ainda Sachs I. 1980,1988 e
2000a.
74
IGNACY SACHS
pobreza, aem
verdade, detrimento
acumulação do seu em
primitiva, consumo mais atrasados
países rurais básico e sujei-
fragal. Na
tos a governos despóticos, só poderia ter acontecido dessa maneira
(se excetuarmos as guerras de conquista), nas costas de escravos
semifamintos, servos feudais, peões ou camponeses coletivizados
em colc oses e com una s (Sachs I., 1966).
Motivos éticos fortes e o compromisso com a democracia ex-
cluem a possibilidade de se recorrer a esse atalho cruel para se
6 5
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
• opaíses
fluxo industrializados
da ajuda oficial externa
fossem poderia crescere sérios
mini mament muito se os ao
quanto
seu compromisso de alocar para este fim 0,7% do seu PIB;
• a taxa de crescimento do PIB dos PMDs e o volume de inves-
timento podem ser melhorados um pouco se forem explora-
das as potencialidades do crescimento puxando o emprego e
do desenvolvimento ineludente (ver abaixo).
O terceiro aspecto estrutural dos PMDs é a sua vulnerabilidade a
importações (Sachs I., 1966 e 1969), em virtude do alto conteúdo
de importações de todos os processos de investimento, dada a
inexistência de uma indústria doméstica de bens de capital e de ca-
pacidade de engenharia, agravadas, em alguns casos, pela depen-
dência de importações de alimentos básicos e de energia.
Assim, a vulnerabilidade quanto às importações resulta da estru-
tura da economia nacional. Ela não depende do grau de abertura
econômica, nem da percentagem do comércio exterior na composi-
ção do PIB dos PMDs. Muitas economias coloniais eram acentua-
damente abertas, como bem aponta a UNCTAD, mas o problema
76
IGNACY SACHS
2- A armadilha da pobreza
Para fins analíticos, pode ser assim resumido o ciclo vicioso e
mutuamente alimentado de obstáculos ao desenvolvimento enfren-
tado pelos PMDs: 9
• uma agricultura primitiva, de baixa produtividade (tanto em
termos de rendimentos por hectare quanto de produtividade
por trabalhador), é incapaz de produzir um excedente de ali-
mentos para atender às necessidades de uma população urba-
6 7
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
Infelizmente,
ráveis no entanto,
às importações na medida
enfrentam em queeconômico
um ambiente os PMDsinter-
vulne-
nacional desfavorável, conforme analisado em sucessivos rela-
tórios da UNCTAD, eles continuam presos na armadilha da po-
breza.
Para ser mais preciso, eles foram induzidos a buscar uma fuga
recorrendo a empréstimos externos excessivos, enquanto coloca-
vam as suas esperanças nos investimentos diretos de capital es-
trangeiro quefuite
malsucedida não en
ocorreram.
avant é aOsuaresultado líquido dívida
inadministrável de suaexterna,
que complica ainda mais a busca das saídas da armadilha da po-
breza.
A saída terá de ocorrer mediante políticas nacionais que tenham
as três metas seguintes (ver a figura 1B):
1- aumento da poupança doméstica, tanto como resultado de
uma taxa maior de crescimento geral quanto de um aumento da
69
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
80
IGNACY SACHS
6 1
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
desenvolvimento,
uma panacéia. Ummesmo que alguns
dos paradoxos que prefiram apresentá-la
prevalecem como
hoje é o desem-
prego maciço de adultos existindo lado a lado com o intolerável
fenômeno do trabalho infantil. Para poder colocar todas as crianças
na escola é necessário distribuir bolsas para aqueles oriundos de
famílias pobres, cuja sobrevivência depende do dinheiro que levam
para a casa.13
Mesmo sendo muito importante o acesso aos serviços de saúde,
eles fazem parte de um objetivo mais amplo, que é o de melhorar a
saúde das pessoas. Isto depende de uma alimentação adequada (se-
gurança alimentar), do acesso à água limpa, da melhoria das condi-
9 2
IGNACY SACHS
6 3
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
7 4
IGNACY SACHS
6 5
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
7 6
IGNACY SACHS
6 7
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
9 8
IGNACY SACHS
8 0
IGNACY SACHS
6 1
DESENV OLVIME NTO: INCLUD ENTE, SUSTENTÁ VEL, SUSTENTADO
Figura 2
A B
c D E
PIB
volvimento.
Conforme dito antes, deve-se enfatizar os serviços básicos ofe-
recidos por meio de redes públicas, como educação, saúde e sa-
neamento, sem se esquecer a comunicação, o correio e a adminis-
tração pública. Existe também escopo para se ampliar os serviços
técnicos, tais como manutenção e reparação ou ainda o transporte
de pessoas e mercadorias. O comércio e os serviços pessoais po-
dem criar muitas ocupações, distintas dos serviços domésticos
mal pagos.
Finalmente, devem-se mencionar os serviços intensivos em tra-
balho qualificado com base em tecnologias de comunicação e infor-
mação (TCI). Hoje em dia, a índia é um líder na oferta de software
e de serviços baseados na informática, que estão sendo também
terceirizados para países como China, Rússia e Vietnã ( The
92
IGNACY SACHS
7 4
IGNACY SACHS
não
cais, agrícolas
nacionaisee uma variedade de produtos para os mercados lo-
internacionais.
Essas indústrias enfrentam uma dura competição - a dos outros
países em desenvolvimento que gozam da mesma vantagem compa-
rativa: mão-de-obra barata. O perigo é transformar essas atividades
em indústrias altamente exploradoras dos trabalhadores, em virtude
6 5
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
96
IGNACY SACHS
Para concluir
crescimento estapelo
puxado seção, é importante
emprego não élembrar
apenas que o objetivo do
a perpetuação de
estratégias de sobrevivência, por importante que seja em curto pra-
zo, mas a geração, em números crescentes, de empregos decentes.
Como o ponto de partida é caracterizado por uma produtividade do
trabalho muito baixa, a estratégia de desenvolvimento precisa in-
cluir um processo constante de sua melhoria, em todos os níveis de
atividade. Isto implica na melhoria de todas as atividades informais,
6 7
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
foi de 4,96%,porpraticamente
do trabalho igual
hora (4,93%). A àmesma
taxa detendência
crescimento da produtividade
ocorreu entre 1983 e
1999: o PIB cresceu a 2,12% ao ano e a produtividade do trabalho a
2, 13 % ao ano. Em outras palavras , o crescim ento do emprego (0 ,76 % no
prim eir o per ío do, e 0,33%, no segu nd o) se deveu prin cipalmente à red u-
ção da jornada de trabalho (-0,76% e -0,34%). O problema é que essa
redução ocorreu de uma maneira eqüânime, levando a um grande cresci-
mento do desemprego.
98
IGNACY SACHS
des informais
trabalho entre sejam por naturezadasconviviais.
os representantes diferentesMesmo
geraçõesas erelações
gêneros,de
dentro da família e da comunidade, são freqüentemente marcadas por
tensões e conflitos. Alguns pais e mães são coniventes com o trabalho
infantil. A exploração do trabalho familiar gratuito é corriqueira. Os
donos de habitações em favelas freqüentemente cobram aluguéis
abusivos e muitos pequenos empreendedores não são particularmente
escrupulosos nas suas relações com os empregados.
A visão româ ntic a de um setor infor mal convivial con vém àqueles
que o consideram, cinicamente, uma válvula de escape para a econo-
mia capitalista em apuros, cada vez mais incapaz de gerar oportuni-
dades de trabalho decente em números suficientes para contemplar
todos os recém-chegados ao mercado de trabalho, isso sem mencio-
nar o estoque acumulado dos desempregados ou subempregados.
6 9
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
100
IGNACY SACHS
vivendo
tes, na maior em
mergulhadas precariedade
complexaspor meio de
relações detoda a sorte
família e dedeparentesco,
expedien-
não tendem a ser bons avaliadores dos prós e contras da formalização.
É por isso que a saída da informalidade deve ser tratada sob uma
perspectiva de longo prazo, nos PMDs, associada a outras trans-
formações da economia real, cuja complexidade vai muito além da
dicoto mia formal-informal . 28
101
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
internacional desfavorável,
desenvolvimento devem
baseadas no formular
conceito estratégias nacionais
do desenvolvimento de
a partir
de dentro, socialmente ineludente, ambientalmente sustentável e
sustentado, e que eles devem começar a adotar estas estratégias
para fugir dos constrangimentos da armadilha da pobreza. Quanto
mais ced o se eng aj are m nessa longa jorn ada , difí cil e cheia d e aven-
turas, maior será o seu poder de negociação no âmbito da comuni-
dade internacional, principalmente se forem bem-sucedidos no for-
talecimento de sua posição comum e na obtenção do apoio de um
movimento não alinhado renovado. 29
A primeira demonstração de autoconfiança de um país deve ser
assumir a responsabilidade pelas suas políticas. Aldo Ferrer (2003)
cunhou o conceito de "densidade nacional" para denotar as cir-
cunstâncias que determinam a capacidade de uma sociedade defen-
der eficientemente o seu interesse nacional num contexto de rela-
ções internacionais globalizadas. Para ele, o nacionalismo (mas não
o chauvinismo) sempre foi uma condição necessária para o desen-
volvimento econômico e social. Como diz, "o desenvolvimento não
pode ser importado".
Ainda assim, conforme destacado pelo relatório da UNCTAD
(2002b), as políticas internas, mesmo sendo centrais, não são os
únicos fatores que determinam a capacidade de gerar recursos para
a acumul ação acelerada. Estes recursos depende m tamb ém de apoios
e limitações externos. "Em virtude das suas fraquezas estruturais,
do pequeno tamanho dos seus mercados e da dependência de im-
portações para usar as suas capacidades de produção e para acu-
mular, a capacidade dos países pobres para gerar os recursos neces-
102
IGNACY SACHS
103
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
32 Para Kuttner, "o fato é que a economia mista posterior à guerra foi uma
conquista magnífica, e os mercados livres globais minam de diversas manei-
ras o projeto de manutenção de uma economia doméstica mista, gerenciada
e regulamentada. O laissez-faire global empurra o capital para aqueles recan-
tos do planeta em que existe menos regulamentação, o que por sua vez faz
com que os países avançados tenham mais dificuldade no controle dos seus
bancos, bolsas de valores e mercados de capitais, bem como os seus padrões
sociais... o projeto centenário de transformar o capitalismo cru em algo
socialmente tolerável é minado de inúmeras maneiras pelo globalismo. Do-
mesticamente, existem mecanismos regulatórios e correntes políticas dota-
das de apoio social. Eles são quase varridos do cenário quando se deixa tudo
para os mercados, em nome do livre comércio. O me rcad o global desloca a
economia nacional doméstica" (p. 154-155).
104
IGNACY SACHS
33 A condenação da situação atual foi, de fato, muito forte: "Ao montar o jogo
do comércio internacional de forma a prejudicar os fazendeiros de países em
desenvolvimento, a Europa, os EUA e o Japão estão essencialmente dando
um chute na escada do desenvolvimento na qual se encontram algumas das
populações mais desesperadas do planeta. Isso é mo ralmente indecent e. As
ações dos EUA ". O artigo continua
afirmando que aestão criando
hipocrisia pobreza
amplia em todo
a revolta o mundo
e que a globalização consiste de
uma rua de mão única: "A gritante falta de credibilidade que divide o discur-
so de livre comércio do mundo desenvolvido de suas ações sobre a agricul-
tura que distorcem os mercados não pode continuar. Enquanto quase 1
bilhão de pessoas lu tam para viver com 1 dólar por dia, as vacas da Un ião
Européia recebem em média um subsídio governamental líquido de 2 dóla-
res por dia." Ironicamente, o mesmo jornal publicou, no mesmo dia, um
artigo de Louis Uchitelle, intitulado "How globalization thwarts economic
recovery" ["Como a globalização obstrui a recuperação econômica"], atri-
buindo a fraqueza da recuperação da ec on omia dos EUA à com petição dos
pro dutos imp ort ado s da China e de outros países cuja mão-de- obr a é bara-
ta. O artigo prevê que os EUA pressionarão os chineses a flutuar o seu
câmbio, de maneira a tornar as suas exportações mais caras nos EUA. Como
a maior parte dessas exportações vem de empresas cujos proprietários são
dos EUA, a alternativa seria os EUA forçarem, por meio de regulamentos,
essas empresas norte-americanas a ficar de fora de países que não cumprem
os padrões mínimos de proteção da mão-de-obra e do meio ambiente, o que
evitaria a perda de mais empregos dentro dos próprios EUA.
105
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
106
IGNACY SACHS
Referências
107
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
London.
SACHS, I. (1999): "L'Economie politique du développement des économies
mixtes selon Kalecki: croissance tirée par 1'emploi", Mondes en
Développement, Par is, vol. 27, n° 106, pp. 23-34 .
SACHS, I. (2000a): Understanding development: People, markets and the State
in mixed economies. Ne w Delhi: Oxford University Press, 2000. 204 p.
SACHS I. (2000b): "Brésil: tristes tropiques ou terre de bonne espérance?
Tropicalité, tropicologie et développement", Hérodote. Rev ue de
108
IGNACY SACHS
109
Inclusão social pelo trabalho
decente: oportunidades,
obstáculos, políticas públicas
Texto para discussão
liderança
trutura mundial em
ocupacional vários
reflete outrossocial
o atraso campos. No entanto,
do país. Segundo a sua es-
a PNAD
de 2002, os empregados sem carteira assinada constituíam 24,2%
da PEA e os empregados por conta própria 22,3%. 4,2% das pes-
soas ocupadas trabalhavam unicamente para o próprio consumo, e
1 1 1
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
definido pela OIT como decente, ou seja, empr egos e/o u auto-em-
pregos realizados em boas condições e convenientemente remune-
rados, fazendo com que a força de trabalho empregada cresça a um
ritmo anual de pelo menos 2,5%.
2
No dizer de Antônio Ermírio de Moraes, presidente do conselho de adminis-
tração do grupo Votorantim, juros mais impostos mais burocracia é igual
a economia informal. 70% da economia são informais, hoje (entrevista
concedida a Carta Capital, n° 272, 24 de dezembro de 2003).
3
A taxa de desemprego aberto é de 12,4% e, portanto, supera a média latino-
americana de 11%. Segundo os dados da OIT, o desemprego afeta, na
América Latina e no Caribe, 19 milhões de pessoas, dos quais 10 milhões
de brasileiros (O Globo, 8 de janeiro de 2004). Porém, num país como o
Brasil, o trabalho precário e o subemprego constituem um desafio ainda
mais grave, a menos que se considere a informalidade uma solução e não
um grave problema.
112
IGNACY SACHS
4
O Estado de São Paulo, 26 de outubro de 2003.
5
David de Ferranti e Vinod Thomas, "A new model of growth - why eyes are
on Brazil", International Herald Tribune, 24-25 de dezembro de 2003.
113
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
milhão de pessoas
2003, para os quaisnovas no mercado
os dados não estãodeainda
trabalho. Os anosconhece-
disponíveis, 2002 e
ram um desempenho similar. O crescimento pífio da economia não
7
compensa os efeitos da modernização tecnológica.
Estes números merecem alguns reparos. A perda de empregos
industriais é em parte compensada pela criação de ocupações no
setor de serviços para o qual as indústrias terceirizaram atividades
de limpeza, manutenção etc. A questão que se coloca é saber se a
modernização poderia ter sido menos destruidora de empregos, caso
fossem aplicadas políticas diferentes na agricultura, na indústria e
6
Rodrigues, L. "Resultado de um ano de retratação", O Globo, 24 de janeiro
de 2004.
7
Tod os estes dad os foram citad os em Fát ima Ferna nde s, "Liberali zação à
brasileira", Folha de São Paulo, 18 de janeiro de 2004.
114
IGNACY SACHS
115
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
10
A deslocalização abarca as indústrias tradicionais intensivas em mão-de-obra
(vestuário, de
atividades calçados, montagem
maquiladoras de aparelhos
e, cada vez mais,eletrônicos
atrai para etc.),
paísesdácomo
srcema às
índia
os serviços baseados nas tecnologias modernas de informação e comunica-
ção pertencentes à categoria de intensivos em mão-de-obra qualificada. Para o
Brasil, coloca-se o problema de competição nos mercados externos, mas
também no mercado brasileiro, com produtos fabricados em países que não
hesitam em lançar mão da competitividade espúria, a começar pela China.
11
Veja-se, por exemplo, o artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardo-
so "Ano bom? Tomara" (O Globo, 4 de janeir o de 200 4): " Os governos
também, costumam ser considerados culpados pelas taxas de desemprego. Hoje,
no Brasil, elas batem recordes históricos. Nas condições tecnológicas atuais, o
crescimento do PIB precisa ser espetacular (no caso, cabe a qualificação) para ter
efeito significativo sobre o desemprego".
12
Veja-se Sachs, Ignacy, 2003, Inclusão social pelo trabalho - desenvolvimento
humano, trabalho decente e o futuro dos empreendedores de pequeno porte,
relatório patrocinado pelo SEBRAE e pelo PNUD, Garamond, Rio de Ja-
neiro. Veja-se também a reportagem sobre o seminário "A inclusão social
pelo tr abal ho decente e o sistema de fom ento ", realizado no BN DES , em
setembro de 2003, Rumos, Ano 27, n° 211, setembro-outubro de 2003.
116
IGNACY SACHS
13
Rubens Ricúpero, Folha de São Paulo, 31 de agosto de 2003.
14
Deve-se ao economista chileno Anibal Pinto, um dos principais pensadores
cepalino s, a defi niç ão do des env olv ime nto como superação da
heterogeneidade social.
117
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
distributivos.
cia nas décadasComo
do já"milagre"
dissemos,dos
o Brasil
anos passou por esta
1940-1980. experiên-
O quarto de
século de baixo crescimento que se seguiu acrescentou a uma he-
rança já compl icada o peso de uma dívida externa e interna de difícil
administração.
Voltando ao nosso dilema, é normal que recursos financeiros
vultosos sejam mobilizados para a indispensável expansão do nú-
cleo modernizador da economia brasileira constituído de indústrias
15
Sobre o conceito de desenvolvimento includente, ver Sachs, I., Desenvolvi-
mento includente e trabalho decente para todos, documento preparado para a
Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da Globalização, OIT, outu-
bro de 2002; edi ta do em por tu gu ês pela O I T - escritório no Brasil.
118
IGNACY SACHS
16
Ver, a respeito, Sachs, I. 2001 , "Eco nomi a p olítica do dese nvolvi mento
segundo Kalecki: crescimento puxado pelo emprego", in Pomeranz L.,
Miglioli J., Tadeu Lima G. (Org.), Dinâmica econômica do capitalismo
contemporâneo (homenagem a M. Kalecki), EDUSP/FAPESP, São Paulo,
pp. 269-288.
119
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
17
Uma vez controladas as doenças endêmicas, o trópico passa a ser uma
vantagem natural, como intuiu Gilberto Freyre ao lançar o conceito de
Tropicologia. Ver, a respeito, Sachs, I., 2002: "Dos tristes trópicos aos
trópicos alvissareiros", in: Carvalheira Cunha, L. e Vila Nova S. (orgs.),
Dos tristes trópicos aos trópicos alvissareiros, Fundação Joaquim Nabuco / Ed.
Massangana, Recife, pp. 23-69.
120
IGNACY SACHS
1 0 1 2 3 4 5
2 -1 0 1 3 4
3 -2 -1 0 1 3
\
4 -3 -2 -1 0 l
5 -4 -3 -2 -1 0 1
121
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
18
A produção de hortigranjeiros requer pelo menos cem vezes mais trabalha-
dores por ha do que a de grãos altamente mecanizados. Por sua vez, a
floricultura absorv e qu in ze vezes mais traba lh ado res po r ha do que os
hortigranjeiros.
quatro As culturas
vezes menos perenes,
intensivas como o café
em mão-de-obra e o os
do que cacau, são três a
hortigranjeiros.
In fel iz men te , não se po de tr an sf or ma r em floricultura os 100 milh ões de
ha de terras cultiváveis ainda disponíveis no Brasil.
Em trabalho recente, José Eli da Veiga afirma que, na agricultura brasileira,
treze lavouras devoram postos de trabalho: cana-de-açúcar, café, laranja,
algodão, milho, cacau, alho, banana, coco-da-bahia, maçã, mandioca, to-
mate rasteiro e trigo. Porém, outras dez são capazes de aumentar a oferta de
ocupação: amendoim, arroz, caju, feijão, malva, mamona, sisal, soja, uva e
tomate envarado. Outrossim, grandes quantidades de mão-de-obra podem
ainda ser absorvidas pela fruticultura em plena expansão e as produções de
borracha, chá, dendê, erva-mate, ervilha, fava, pal mi to e urucum, além da
intensa osmose que prevalece entre a policultura destes vegetais e as ativida-
des pecuárias. O Brasil dispõe de um imenso mosaico de sistemas produti-
vos diversificados, cuja essência é a sinergia agropecuária {Valor Econômico,
12/08/2003, artigo reproduzido em Estudos Avançados, USP, 17 (48) 2003).
19
O conceito de tecnologias apropriadas é mais amplo que o de tecnologias
intermediárias, advogadas po r Schu mach er no seu celebrad o livro Smallis
beautiful. As tecnologias apropriadas são aquelas que respondem ao conjun-
to de critérios adotados para sua avaliação. Estes, no nosso entender, não
se devem limitar a critérios puramente técnicos, e sim incluir critérios
sociais (geração de empregos decentes) e ambientais.
20
M. Kalecki introduziu o conceito de período de reestruturação (retoolingperiod).
Se uma inovação tecnológica abrange, a cada ano, um décimo do aparelho
de produção existente no país, o período de reestruturação será de dez anos.
21
A modulação deste parâmetro pode ser objeto da política industrial.
Abordei este tema em três trabalhos recentes. Ver Sachs, I. 2001: "Brasil
rural: da descoberta à invenção", in Estudos Avançados n° 15 (43), pp. 75-
82; "Um projeto para o Brasil: a construção do mercado nacional como
motor do desenvolvimento" in Bresser Pereira, L. C. e Rego J. M. (orgs.):
2001, A grande esperança em Celso Furtado , Ed. 34, São Paulo, pp . 45- 52 ;
"Quo Vadis Brasil", in Sachs, I.; Wilheim, J. e Pinheiro P. S. (orgs): 2001,
Brasil, um século de transformações, Cia das Letras, São Paulo, pp. 488-501.
123
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
ria, aliás, possí vel para os país es europe us sem a emigração massiva
para as Américas e o papel desempenhado pelas colônias.
As condições mudaram. A desindustrialização em curso torna
impossível a reprodução deste padrão, tanto mais que o Brasil já
22
efetuou uma urbanização prematura e excessiva. É um erro supor
que os refugiados do campo que migram para as favelas e os bair-
ros periféricos das cidades se transformam automaticamente em
citadinos. São can didatos a uma urbaniz ação cuj a efetiv ação depe n-
derá da criação de empregos e alojamentos decentes e de condições
para o exercício da cidadania. Na visão otimista, as favelas funcio-
22
Os trabalhos de José Eli da Veiga mostraram que o grau de urbanização real
do Brasil é inferior às estatísticas do IBGE: nos 4500 municípios rurais,
viviam, no dirimo ano do século passado, quase 52 milhões de habitantes
(José Eli da Veiga, 2002, Cidades imaginárias — o Brasil é menos urbano do
que se calcula, Ed. Autores Associados, Campinas).
23
Em questão, n°143, 16 de janeiro de 2004. Se estes dados se confirmam, eles
indicam um custo extremamente baixo de geração de empregos por meio
dos créditos do PRONAF.
124
IGNACY SACHS
24
Veja, a este respeito, a entrevista de Ricardo Abramovay, no Estado de São
Paulo de 21 de dezembro de 2003.
25
Como observou José Eli da Veiga, no artigo já citado (2003), "é da essência
microeconòmica que a fazenda patronal desfaça imediatamente de qualquer
se
sobra de braços, enquanto entre agricultores familiares, prevalece a tendência
inversa. A propensão do sitiante inovador é evitar a ameaça da redundância, ou
retardá-la, graças à diversificação, não apenas de seu sistema produtivo, como
também das atividades dos membros da família, antes e depois da porteira'.
125
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
26
Carta Capital, de 14 de janeiro de 2004, publicou uma surpreendente entre-
vista de Alain Touraine, intitulada "Reforma urbana já", na qual o sociólogo
francês afirma que a reforma urbana é dez vezes mais importante que a
reforma agrária, porque atinge dez vezes mais gente. Touraine considera que
não há tempo para esperar que os enormes recursos necessários para a
reforma urbana venham do crescimento econômico e propõe, portanto, que
ela seja financiada pela redistribuição da riqueza às expensas dos 5 ou 10%
mais ricos que notoriamente escapam ao fisco. Concordo com o autor que
a reforma urbana é necessária, embora duvide que haja, no Brasil, condições
126
IGNACY SACHS
28
No mundo atual, vinte milhões de camponeses trabalham com um trator,
trezentos milhões usam a tração animal, enquanto um bilhão só dispõe de
seus braços para trabalhar. Dados da FAO, citados por De Ravignan F., 2003,
Lafaim, pourquoi? un déft toujours d'actualité, La Découverte, Paris, p. 79.
127
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
25
Lemoine, Françoise: 2003. L'économie chinoise, La découverte, Paris, p. 29.
Dos 168 milhões, 77% estavam empregados em empresas coletivas e 23%
em empreendimentos privados e individuais.
30
Trata-se da venda de certificados de carbono prevista pelo Protocolo de
Kyoto. Insistimos sobre o fato de que a preferência deva ser para sistemas
integrados de produção com fortes impactos sociais e econômicos e não
aos projetos de aflorestamento que constituem a forma mais simples de
venda de serviços ambientais.
128
IGNACY SACHS
31
A revolução duplamente verde (evergreen revolution, na terminologia do agrôno-
mo indiano M. S. Swaminathan) busca simultaneamente avanços tecnológicos
de produtividade e sustentabilidade ambiental. A revolução azul diz respeito
à passagem da caça e coleta ao cultivo de espécies que vivem no meio aquáti-
co. Ela se encontra ainda numa fase incipiente. As potencialidades do Brasil
resultam da combinação de uma extensa faixa litorânea do oceano Atlântico,
em parte protegida pelos recifes de coral, com os ecossistemas amazônicos, o
Pantanal e, por fim, os numerosos lagos de represa.
129
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
32
Rumos, de setembro-outubro de 2003, publicou uma extensa reportagem
sobre este evento.
33
Esta é ta mb ém uma área par a pot enci al cooperaç ão entre os pesquis adores
brasileiros e indian os. A declaração de Brasília, de 6 de junho de 2003,
pelos mi nistros das Relações Exteriores do Brasil, da Áfri ca do Sul e da
índia, cita as biotecnologias, as fontes alternativas de energia e a agricul-
tura, entre os setores científicos e tecnológicos nos quais os três países
pretendem am pliar a co op er ação.
130
IGNACY SACHS
a) do Pró-Álcool ao Pró-Cana:
O Pró-Álcool foi implementado como um programa de econo-
mia de guerra num breve lapso de tempo, sem se olhar os custos da
operação. Ele permitiu ao Brasil reduzir a sua dependência com re-
lação às importações de petróleo e provou ainda que a aditivação do
álcool à gasolina não criava problemas no funcionamento dos mo-
tores de automóvel, em que pesem as restrições que, na época,
foram emitidas. Fundamentado numa aliança entre os grandes
usineiros, as montadoras, as indústrias nacionais de equipamentos
e o Estado autoritário, ele contribuiu para a concentração de terras
14 1
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
Estas obser vações são impo rtant es, hoj e, quando se fal a da even-
tual duplicação da produção do álcool para atender à demanda exte-
rior, principalmente do Japão. Pensamos que esta duplicação pode-
rá ocorrer sem se repetir os erros do primeiro Pró-Álcool e deveria
se dar primordialmente por intermédio da implantação de micro e
miniusinas no interior do país, aproveitando o potencial das grandes
unidades já instaladas para a exportação.
Outrossim, esta é uma oportunidade para se analisar a cadeia da
cana com o intuito de sua racionalização e densificação em ativida-
des econômicas anexas geradoras de emprego e renda. Acredita-
b) Pró-Óleo:
O governo lançou recentemente o Programa Brasileiro de De-
senvolvimento Tecnológico de Biodiesel ( Probiodiesel ) e o presi-
dente da República inaugurou, em Piracicaba, o Pólo Nacional de
Biocombustíveis, que funcion ará na ESALQ-USP. Junto com o La-
34
Fonte potencial de cogeração de energia, matéria-prima para a produção de
pape l, de briquetes que substituem o carvão vegetal, de mate riais de co ns-
trução, de fibras para uso industrial e sob forma hidrolizada, ração para
gado leiteiro.
132
IGNACY SACHS
fome nto ) constitu em, a nosso ver, parceiro s potenciais neste em-
preendimento, na medida em que estão interessados em identificar,
promo ver e viabilizar, do ponto de vista da arquitetura financeira, os
empreendimentos de pequeno porte que possam surgir ao longo da
cadeia de produção de óleos vegetais desde o campo até a fase de
processamento.
133
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
mente aumentardosignificativamente,
com a mistura a exemplo
álcool com a gasolina, abrindo do que aconteceu
enormes perspec-
tivas para o cultivo das plantas oleaginosas.
O estudo dos óleos vegetais não se deve restringir aos seus usos
energéticos. O Brasil está atualmente importando óleos vegetais,
em particular o óleo de dendê, para consumo humano. Este poten-
cial de substituição de importações merece figurar alto na lista das
prioridades do país.
A cultura do dendezeiro (srcinário da África e amplamente di-
fundido na Ásia) encontra um ambiente favorável em várias áreas
da Amazônia e na Zona da Mata da Bahia. Estudos indicam que, no
mercado mundial, o óleo de dendê é cada vez mais procurado. O
seu cultivo é bastante intensivo em mão-de-obra. Dez hectares de
dendezeiros requerem um trabalhador a tempo integral durante o
ano todo. Como se trata de uma cultura perene, a plantação funcio-
na como um sumidouro do carbono. Na Malásia, as plantações de
dendê serviram de base à reforma agrária.
No contexto brasileiro, a pedido do governo do Amapá, chegou
a ser elaborada, no ano de 2001 (porém não implementada), uma
proposta de assentamentos de reforma agrária para ocupar terras já
desmatadas da Amazônia com plantações de dendezeiro, à razão de
dez hectares para cada família assentada, complementados por ou-
134
IGNACY SACHS
35
tros dez hectares para cultivos de subsistência e agroflorestais.
Entendimentos mantidos, na época, com uma grande empresa nacio-
nal especializada na produção do óleo de dendê indicaram a sua
disposição em colocar uma usina de processamento conquanto o
assentamento tivesse uma área de 5000 hectares cultivados com
dendezeiros. A empresa se encarregaria de oferecer as mudas, da-
ria a assistência técnica aos assentados e assinaria um contrato de
compra exclusiva dos cachos de dendê a um preço estipulado em
percentual do preço mundial do óleo de dendê. Tudo indica que um
assentamento deste tipo, além das inegáveis vantagens ambientais
(recuperação dos solos, seqüestro do carbono), proporcionaria aos
assentados de três a quatro ocupações com rendimentos decentes
por família, contando-se os empregos agrícolas, as atividades de
subsistência, os empregos na fábrica, no transporte, nos serviços
técnicos, sociais, administrativos e pessoais, além do comércio lo-
cal. Um assentamento de 500 famílias se transformaria, em poucos
anos, numa próspera vila agroindustrial.
O projeto suscitou grande interesse por parte das autoridades
c) Madeira e fibras:
35
O projeto elaborado pelo SEBRAE, em colaboração com o Ministério da
Reforma Agrária, contou com a valiosa contribuição dos professores Ademar
Ribeiro Romeiro (Unicamp/IE e Embrapa), Paulo Choji Kitamura (Embrapa
/ Cnpma) e Paulo Yoshio Kageyama (USP / ESALQ, atualmente MMA).
135
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
36
Em 2002, a produção mundial de camarão foi de 1,3 milhões de toneladas
sobre pouco mais de 2 mil hectares e uma produtividade média de apenas
644 kg/ha/ano. O maior produtor foi a China, com 311 mil toneladas.
136
IGNACY SACHS
37
Ver Biondi, A., "A guerra do camarão - enquanto produtores americanos
acusam os brasileiros de dumping, no Nor des te, o crustáceo gera for tun as
e conflitos", in Carta Capital, 21 de Janei ro de 2004 , pp. 8- 14 .
38
Dados citados por Philip C. Scott, em entrevista a Rumos, setembro-outu-
br o de 2003.
39
Segundo certos pesquisadores, faz sentido agregar um módulo de piscicultura
nos sistemas integrados de produção de alimentos e energia a partir da cana-
de-açúcar, já que o vinhoto pode ser aproveitado como ração para peixes.
137
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
40
Apresen tei es te arg ume nto , que fi gura proe mi ne nt em en te em vário s traba-
lhos ulteriores de Amartya Sen, no artigo "Welfare State in poor countries",
in Economic and PoliticalWeekly, Bombay, vol. VI, n° 3-4 , jane iro de 197 1,
pp. 367-370. O sucesso re cente da Ín di a na ex po rtação de softwares e de
serviços relacionados às novas tecnologias de informação e comunicação
(NTIC) baseia-se nesta mesma vantagem comparativa.
138
IGNACY SACHS
A absorção
do modelo da mão-de-obra
adotado. pelo setor
Quer nos parecer que ode turismodevaiatração
potencial depender
do
Brasil para turistas estrangeiros endinheirados está sendo
sobreestimado. A competição internacional, neste setor de servi-
ços, já é acirrada e os investimentos em redes de hotéis de luxo são
muito dispendiosos. No entanto, o turismo interno de massas e a
organização de colônias de férias para trabalhadores e escolares não
estão recebendo a devida atenção.
140
IGNACY SACHS
d) As obras públicas:
Como a construção civil, as obras públicas permitem escolher
tecnologias de grande intensidade em mão-de-obra, conquanto se
respeite um limite mínimo de produtividade de trabalho, abaixo do
qual as frentes de trabalho passam a constituir uma política
assistencial e não mais um instrumento de política econômica.
Entre as obras públicas, destacam-se aquelas que têm um retor-
no rápido, tais como construção de cisternas no Nordeste, de pe-
quenos perímetros de irrigação, de estradas vicinais, de calçamento
de ruas etc. O saneamento foi reconhecido ajusto título como uma
prioridade.
Acreditamos
grande mente exp que
andido o volume
ao se dardeumobras públicas menos
a interpretação pode serrestritiva
ao conceito de responsabilidade fiscal. Não há razão para se pensar
que um afrouxamento de créditos para estas obras resulte numa
pressão inflacionária, conquanto a agricultura e a indústria brasilei-
ras sejam capazes de enxugar a demanda adicional por bens de sa-
14 1
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
lário com uma oferta elástica destes bens a preços estáveis. Esta
condição existe no presente.
A participação de cooperativas de trabalho genuínas, devida-
mente fiscalizadas no que diz respeito às leis trabalhistas e
previdenciárias, recomenda-se fortemente, podendo se dar em for-
ma de contratos diretos ou de subcontratação por empreiteiras.
Mais uma vez, convém lembrar aqui o papel que os bancos pú-
blicos e o sistema de fomento podem desempenhar na promoção de
tecnologias apropriadas. 41
Indústrias
e artesanatonaturalmente intensivas em mão-de-obra
Ao contrário do setor de produção dos não comerciáveis, as
indústrias naturalmente intensivas em mão-de-obra (têxtil, confec-
ções, sapatos, móveis etc.) estão expostas a uma competição inter-
nacional acirrada, já que quase todos os países menos desenvolvi-
dos apostam neste nicho do mercado. O que está acontecendo no
mercado de calçados é emblemático. As grandes empresas
multinacionais que controlam o acesso ao mercado de países in-
dustrializados deslocam a sua produção para as zonas francas dos
países que oferecem o menor custo de produção, ou seja, salários
extremamente baixos, longas jornadas de trabalho e isenções de
42
impostos e taxas alfandegárias, a começar pela China.
41
Em seu primeiro pronunciamento, o novo ministro do Trabalho, Ricardo
Berzoini, indicou que pretende dar um grande destaque às políticas de
combate ao desemprego, à cooperação do seu ministério com os bancos
estatais (O Globo, 25 de janeiro de 2004).
42
Os industriais do calçado chineses contrataram numerosos técnicos brasi-
leiros, conseguindo uma entrada espetacular no mercado norte-america-
no, no qual o Brasil encontra dificuldades crescentes em se manter. Nume-
rosas indústrias maquiladoras no México, localizadas ao longo da frontei-
ra estadunidense, foram adquiridas por empresários chineses, que as fe-
charam, transferindo a produção para a China e causando uma grave crise
de desemprego no México.
142
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143
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
144
IGNACY SACHS
43
Um
vo.£alto em atividades
O famoso de baixa(roda
ambar-cbarka tecnologia
de fiar)é de
umGan
resultado contra-intuiti-
dh i, símbolo da resistên-
cia indiana aos britânicos, era muito barato, porém excessivamente pouco
produtivo, levando o coef icient e capital/produto k a um nível bem supe-
rior ao prevalecente nas fiações industriais. Já o caso era bem diferente
com relação aos teares manuais. Por isso, durante várias décadas, para
salvar os empregos artesanais, a índia aplicou uma política que protegia os
tecelões trabalhando em teares manuais com fios de srcem industrial.
145
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
• um Simples previdenciário;
• acesso amplo a créditos preferenciais;
44
Pensamos que um crédito de imposto associado à geração do primeiro
emprego adicional numa microempresa poderia resultar numa expansão
significativa de emprego. O aprendizado, devidamente institucionalizado,
pode con sti tu ir um a forma importante de criação de oportunidades de
trabalho nas microempresas artesanais, como mostra a experiência de vá-
rios países industrializados. Por outro lado, a legislação fiscal atual não é
favorável à graduação de MPEs na medida em que a passagem do Simples
pa ra o regime geral imp li ca um gr an de aumento da carga trib ut ár ia. Deve -
ria-se pensar numa maneira de se atenuar este choque, prevendo, por
exemplo, reduções progressivas da alíquota nos três primeiros anos que
seguem à graduação.
146
IGNACY SACHS
• acesso aos merc ados , por mei o de um reg ime prefere ncia l nas
45
compras públicas e licitações de obras públicas;
• gir
acesso às tecno
a criação de logia s apropriadas,
um serviço que análogo
de extensão pro vav elm
aos ent e vai exi-
serviços
de extensão rural;
• promoção de todas as formas de empreendedorismo coletivo,
o mais importante instrumento de fortalecimento de pequenos
empreendedores no enfrentamento do mercado como com-
pradores, vendedores e fornecedores de bens e serviços com
especial destaque para a consolidação dos Arranjos Produti-
vos Locais existentes e emergentes; este é um campo de atu-
ação para instituições como o SEBRAE, os sindicatos, a OIT,
a OCB e as incubadoras da economia solidária que estão sur-
gindo em várias universidades;
• racionalização da articulação entre as grandes empresas e os
empreendimentos de pequeno porte, de maneira a amenizar
as relações adversariais, promover, na medida do possível,
45
A legislação atual, baseada no princípio de aquisição pelo menor custo, não
permite incl uir outros critérios (sociais e am bie nta is). Na práti ca, ela
discrimina negativamente os empreendedores de pequeno porte que não
têm condições de atender às múltiplas exigências do processo de licitação.
Existe também uma discriminação de fato contra as cooperativas de traba-
lho, como se todas fossem cooperativas de gatos criadas para burlar as leis
trabalhistas. As cooperativas de gatos devem ser rigorosamente combati-
das. Ao mesmo tempo, deve-se instaurar um regime preferencial para au-
tênticas cooperativas de trabalho.
46
Um importante estudo do WIDER ("World Institute for Development
Economic Research), da Universidade das Nações Unidas, coordenado
por Rober t Mclntyre e Bruno Dallago, sobre as experiências da transição
à economia de mercado dos países do Leste Europeu, mostrou que, con-
trariamente ao que se esperava, o setor de pequenas empresas não é capaz
por si só de gerar um cresci ment o eco nômi co bem-su ce di do . Para que o
147
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
A implantação
ria do da estratégia
Desenvolvimento, de ecombate
Trabalho à pobreza
Solidariedade pela Secreta-
da Prefeitura de
47
São Paulo, a atuação do SEBRAE-SP na zona leste de São Paulo e
a próxima criação de um observatório social e econômico da zona
leste no novo campus da US P criam condições favoráve is para um
estudo da maior concentração da pobreza metropolitana no Brasil.
Devemos entender melhor os determinantes do comportamento
dos informais confrontados com o dilema de permanecer nas ativi-
148
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48
Uma maneira de distin guir um prod ut or pro toca pit alis ta de um
microempresário capitalista é saber se ele faz a devida distinção entre o
bolso da empresa e o bolso familiar.
149
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
49
Ver Estudo de caracterização econômica do pólo de confecções do Agreste
Pernambucano, relatór io final apr esen tad o ao SEBR AE- PE, em mai o de
2003. Este estudo foi coordenado pelos professores Maria Cristina Rapo-
so e Gustavo Maia Gomes.
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151
Este livro foi composto em Times New Roman 10,5/14,5
impresso em papel off-set 90 gr pela PSI7, em São Paulo
para a Editora Garamond no mês de maio de 2012
^ ^ deb ate sobre o desenvolvimento vem
ISBN 857617040-X
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