Texto, contexto de cultura e contexto de situação na Linguística Sistêmico-
Funcional.
O estudo da língua e do discurso na Linguística Sistêmico-Funcional (LSF)
aponta a análise dos elementos estruturais – sistêmicos –, bem como dos elementos “externos” ao sistema, relacionados a fatores que contribuem para que a língua possa funcionar como instrumento capaz de realizar aquilo que os enunciadores desejam. Nesse caso, para aquilo que ajuda a compreender a língua em seu aspecto funcional. Esses fatores são explicados pela concepção de texto, contexto de cultura e contexto de situação. O texto – parece-me – é compreendido na LSF como uma unidade de sentido construída por meio de escolhas. Trata-se de uma abordagem, antes de tudo, semântica; mas não somente. Há um foco em como as escolhas dentro do sistema competem para a construção da unidade e sentido do texto. Nesse foco, põe-se em evidência os aspectos sistêmicos dos textos a partir de níveis sintagmáticos e paradigmáticos. Assim, as relações de coesão e coerência – construídas, por exemplo, por elementos sintáticos do sistema – tornam-se importantes. Inicialmente, entendo que, enquanto a coesão é bastante enfocada no nível sintagmático (combinações, relações lógico-semântico entre frases e períodos etc.), a coerência implica também as escolhas (paradigmáticas) e a referência a aspectos interacionais, que são descritos em termos de contexto de cultura e contexto de situação. Esses dois termos são importantíssimos porque, de acordo com o gênero, ajudam a entender aquilo que os gêneros fazem, a ação que realizam e porque têm certas características (informações indexadas, tipo de sequencialidade, temática etc.). Por exemplo, gêneros como uma placa de trânsito, um poema concretista e uma dissertação de mestrado realizam ações muito diferentes, com elementos semióticos diferentes. Construir, na interpretação, o sentido e unidade de cada gênero desses exige que nos situemos em uma cultura e contexto específicos. A textura envolve a relação do texto com seu contexto. O contexto de cultura – de forma ampla – diz respeito a valores, às crenças e àquilo que está institucionalizado em cada cultura. Nesse sentido, o contexto de cultura provê os instrumentos semióticos para certos propósitos e diz qual – dentro do conjunto de instrumentos possíveis – é o mais adequado para realizar determinada ação e/ou alcançar um objetivo específico. Dentro do contexto de cultura, os gêneros do discurso recebem atenção porque são o instrumento semiótico que a cultura oferece às gerações de modo que elas não tenham que criar as formas do discurso a cada enunciação. Além disso, Fuzer (2010), a partir da formulação de Malinowski, indica que o contexto de cultura informa sobre a história cultural dos participantes e sobre as práticas em que estão engajados. Dito de outra forma, o contexto de cultura é a “base ideológica e institucional que confere valor ao texto” (MUNIZ da SILVA, 2018, pág. 307). O contexto de situação diz respeito à situação concreta, imediata, em que se produz o texto e em que ele funciona. A instanciação de um texto por meio de um gênero ocorre nesse contexto de situação. Por meio desse contexto, o enunciador/interlocutor orienta-se – para produzir ou interpretar um texto – a partir de variáveis como a atividade e o lócus institucional em que se está agindo (definida como campo); como a relação entre os participantes, em termos de poder e afetividade/proximidade e até proximidade, distância, duração (definida como relação); e variáveis como a organização simbólica do texto (sua tipificação e sequencialidade), o canal, o meio e até o modo retórico (incluindo categorias como didático, persuasivo, expositivo etc.), constituindo o modo. Dessa forma, o contexto de situação é definido – em termo do estudo sistêmico-funcional – por meio das categorias campo, relação e modo. Está claro que esses dois conceitos – contexto de cultura e de situação – estão articulados entre si, no sentido de que a definição dos elementos de contexto de situação implica conhecimento do contexto de cultura. Halliday defende ainda – em uma visão dialética da linguagem – que cada variável do contexto de situação (campo, relação e/ou modo) está relacionada a uma das metafunções da linguagem: ideacional, interpessoal e textual. A variável campo diz respeito a representação da realidade e da agência humana em um contexto ou atividade, correspondendo à função ideacional; a variável relação dizendo respeito à relação entre os participantes, por isso corresponde à metafunção interpessoal; e a variável modo à função textual. Referências FUZER, C. Contexto e léxico-gramática em interação: análise de uma sentença condenatória. Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 113–132, jan./jun. 2010 MUNIZ da SILVA, E. C. Gêneros na teoria sistêmico-funcional. São Paulo: Delta nº 34.1. p. 305-330, 2018.
Interoperabilidade em Sistemas de Rádio Digital de Segurança Pública - P25 Tetra Tetrapol - Monografia de Especialização em Sistemas Modernos de Telecomunicações da UFF / Interoperability into P25 / Tetra / Tetrapol