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19º Congresso Brasileiro de Sociologia

9 a 12 de julho de 2019
UFSC - Florianópolis, SC

Grupo de Trabalho: GT20 - Religião, conflitos e secularização

O Discurso Moral/Religioso no Brasil: as “demandas por reconhecimento” e


a publicização do pentecostalismo na contenda política nacional

Gabriel Silva Rezende – Doutorando em Ciências Sociais pela PUC-Rio e Mestre


em Sociologia Política pelo IUPERJ/UCAM
Paulo Gracino Junior – Doutor em Sociologia e Professor Titular do Programa de
Pós-Graduação em Sociologia Política do IUPERJ/UCAM

1
Nas últimas décadas, contrariando uma boa cepa de teorias sociológicas,
como as da secularização, temos assistido ao progressivo aumento da presença
do religioso na esfera pública. Ao mesmo tempo que estão dando causas
conservadoras e, especialmente, a partidos políticos, novas forças e eleitorados,
bem como balizando a plataforma moral no debate público contemporâneo para
outros segmentos sociais não evangélicos.
No caso brasileiro o cenário que tem chamado mais atenção é a forma ativa
com que algumas lideranças do campo evangélico têm se posicionado
publicamente frente ao que a literatura sociológica compreende por “demandas por
reconhecimento”. Traduzindo discursivamente o mal-estar atual vivido pela
sociedade brasileira e o organizando tanto em dispositivos normativos quanto
consensos públicos (no sentido habermasiano), capazes, muitas das vezes, em
mobilizar capital social e político.
Partimos da hipótese, a partir das reflexões sobre as eleições de 2018, que
tal conjuntura se desenvolve, a priori, pela ocorrência de uma mudança estrutural
na esfera pública que possibilitou não apenas a publicização do pentecostalismo,
mas que também conferiu relevo ao discurso conservador, mais amplo, como
argumento legítimo nos assuntos públicos, notadamente, na arena política
nacional. Em que as erupções das pautas morais se apresentam muito mais ligadas
a uma reação diante dos processos de democratização vivida nos últimos anos no
Brasil.

A religião pública e mobilizações de narrativas

É interessante notar que dentre a diversidade de filiações religiosas aferidas


em recente trabalho1, o grupo evangélico é o que apresentou um contraste mais
pronunciado entre sua opinião pública e os “temas controversos”, menor tolerância
à diversidade religiosa, desconfiança com relação às instituições públicas e maior
confiança na instituição religiosa. Tal constatação não chega a ser uma surpresa,
uma vez que a literatura tem apontado que os estratos religiosos de cariz

1GRACINO JUNIOR, Paulo; TARGINO, Janine; REZENDE, Gabriel S. Confiança Institucional e


Opinião Pública entre jovens religiosos na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Interseções –
Revista de Estudos Interdisciplinares, v. 20, p. 305-329. 2018.

2
protestante, em nosso caso os evangélicos de origem pentecostal ou renovada 2
(Mariano 2006; 2016; Machado e Burity 2014; Almeida 2018) e no caso do EUA os
evangelicals, são os segmentos religiosos que guardam maior nível de strictness
(IANNACCONE 1994; STARK e FINKE, 2000: 197) em relação à cultura vernacular
que os cerca (SMITH, 2003).
Para ficarmos apenas com o caso brasileiro que nos compete neste artigo –
e já que a onda conservadora (ALMEIDA, 2017) parece ter assolado de diversas
maneiras vários países do globo (BURITY, 2018) – aqui o cenário que tem chamado
mais a atenção dos pesquisadores é a forma ativa com que algumas lideranças do
campo evangélico têm se posicionado publicamente frente ao que a literatura
especializada denomina “demandas por reconhecimento” (TAYLOR 1994; 2011;
HONNETH 2009). Outro ponto de relevo na literatura é a interseção entre
orientação religiosa e voto (MACHADO, 2006; VITAL DA CUNHA, LOPES e LUI,
2017; REZENDE, 2018). Neste caso, em recente trabalho (GRACINO JUNIOR;
TARGINO; REZENDE, 2018), chamamos a atenção para as estratégias que
algumas denominações religiosas – não só pentecostais – têm lançado mão para
traduzir discursivamente o mal-estar atual vivido pela sociedade brasileira e
organizá-lo tanto em dispositivos normativos, quanto em consensos públicos
(HABERMAS, 1989; 2003), capazes de mobilizar capital político suficiente para
eleger expressivas bancadas na Câmara Federal, Assembleias Estaduais e alguns
representantes no executivo municipal e estadual.
Antes de prosseguirmos, é importante salientar que esta onda
“conservadora”, que aqui aparece com contornos religiosos, está longe de fazer de
nossa pátria mãe gentil seu berço esplêndido, aparecendo mais como uma tônica,
do que como exceção na longa duração da moderna história das democracias
ocidentais (ALONSO, 2018). De forma mais geral, as erupções conservadoras
quase sempre aparecem ligadas a uma reação diante de processos de
democratização, uma espécie de ódio à democracia, como bem aponta Jacques
Rancière (2014).

2Utilizaremos aqui o termo Evangélico para nos referir tanto ao pentecostais e neopentecostais,
quanto aos pertencentes a igrejas renovadas, que não se identificam com os grupos descritos
acima, porém guardam traços teológicos, características discursivas e práticas públicas que se
assemelham aos grupos pentecostais e neopentecostais. É importante notar que em trabalhos
anteriores já havíamos chamado a atenção para esta diluição das fronteiras denominacionais no
campo religiosos evangélico (Mariz e Gracino Junior, 2013).

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Neste sentido, a nova vaga de conservadorismo tem como combustível
principal ascensão de Novos Movimentos Sociais (SCOTT, 1990), que deslocaram
de forma significativa o enfoque classista e a luta por igualdade para lutas com
demandas mais plurais, como as políticas de gênero, igualdade civil da população
GLBT, movimentos antirracistas, entre outros, invariavelmente concentradas no
reconhecimento de direitos e de alteridade. Tais movimentos não só colocaram em
xeque os antigos aparatos discursivos utilizados para sua interpretação, – o que
gerou uma reação não só social, mas acadêmica, na qual muitos estudiosos se
mostraram reticentes em levar a sério o novo fenômeno – como também fraturaram
a grande narrativa de estados democráticos ocidentais ao denunciarem seus
pilares heteronormativos, patriarcais e majoritariamente brancos. Em muitos
países, inclusive no Brasil, a atuação organizada de grupos que reivindicavam uma
cidadania por reconhecimento de direitos (PRÁ e EPPING, 2018) levaram a
emergência de um novo consenso jurídico-político que tem, ao menos no horizonte
de possibilidades, a inclusão e o respeito às diferenças como condição para
construção de uma sociedade mais justa e democrática, o que, por outro lado, foi
vista por setores do establishment como uma ameaça iminente a ordem
estabelecida.
Dessa forma, o aguçamento democrático pós derrocada do regime ditatorial
e promulgação da Constituição de 1988, fez emergir uma série de movimentos por
reconhecimento de direitos, traduziram-se em conquistas cristalizadas no âmbito
jurídico, com leis que garantem direitos e visam ampliar a igualdade entre gênero,
raça3 e diversidade de orientação sexual4; na esfera social, a partir de leis que
estabelecem cotas para minorias para o acesso ao ensino médio, técnico e
universitários, além da reserva de vagas concursos públicos na esfera federal5 e

3 Criação do Salário Maternidade em substituição à Licença Maternidade, o que amplia o acesso


das mulheres ao mercado de trabalho (Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991); Lei Maria da Penha
que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §
8o do art. 226 da Constituição Federal Lei 11340/06 | Lei nº 11.340; Lei do Feminicídio que tenta
coibir os crimes contra as pessoas do sexo feminino, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff
em 2015 (Lei 13.104, em 9 de março de 2015). A lei altera o Código Penal (art.121 do Decreto Lei
nº 2.848/40), incluindo o feminicídio como uma modalidade de homicídio qualificado, entrando no
rol dos crimes hediondos.
4 Ainda que o PL 122 tenha sido arquivado a partir da atuação de grupos cristãos conservadores,

o Supremo Tribunal reconheceu a União estável de pessoas do mesmo sexo ao julgarem a Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 132.
5 Leis Nº 12.711, de 29 de agosto de 2012 e Nº 12.990, de 9 de junho de 2014 respectivamente.

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no âmbito da cultura, a partir da patrimonialização de uma série de bens culturais
ligados às religiões de matriz africana, entre outros. Ironicamente, os grupos
evangélicos pentecostais – pontas de lança da reação contra a tramitação e
concretização de diversas das iniciativas elencadas acima – foram beneficiários de
primeira hora do processo de democratização do país, no que Burity (2016; 2018),
baseado na proposta de Connolly (2011), chama de minoritização das crenças.
Neste contexto, evangélicos pentecostais reivindicam sua maior presença no
espaço público, falando do lugar de minoria religiosas (MACHADO e BURITY,
2014), que sempre esteve marginalizada seja na política, seja na cultura mais
ampla, principalmente, frente a uma Igreja Católica ou uma cultura laica, vistas
como hegemônicas na ocupação de cargos públicos ou visibilidade midiática.
É fato já bastante ressaltado na literatura nacional a proeminência das agências
religiosas, em especial do catolicismo, como coprodutoras da sociedade civil
brasileira (MAINWARING, 1985; GUIMBELLI, 2002; MONTERO, 2012), no entanto,
quando assistimos a embates entre movimentos organizados da sociedade civil e
líderes religiosos a respeito do lugar da religião na esfera pública, pensamos que
algo possa ter mudado desde que o catolicismo, em sua vertente popular,
romanizada ou da libertação ocupava o centro dessas discussões. Mas o que teria
mudado com a entrada dos evangélicos pentecostais e católicos carismáticos na
cena pública, qual o escopo dessa mudança?
Obviamente a resposta a essa questão é bastante complexa e extrapola os
limites e objetivos deste artigo. No entanto, para os propósitos que nos movem, ou
seja, compreender o contraste entre a opinião pública de grupos religiosos ligados
a igrejas pentecostais face a grupos ligados a outras denominações religiosas,
destacamos dois processos, um de ordem mais macroestrutural e outro de ordem
conjuntural.
Primeiro, trataremos da mudança estrutural na esfera pública que possibilitou
não só a publicização do pentecostalismo – no sentido dado por Montero (2016) –
mas que conferiu relevo ao discurso conservador mais amplo como argumento
legítimo nos assuntos públicos. Em um segundo momento, argumentaremos que
não é a presença religiosa, em especial a pentecostal, que introduz o discurso
conservador na arena pública, mas ao contrário, o aguçamento da legitimidade de

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argumentos conservadores faz parte do próprio processo de publicização dos
pentecostais e da correlação de forças desde a constituição de 1988.
Seguindo nosso argumento, em seu trabalho Naturalismo e Religião,
Habermas propõem algumas teses que (2007, p. 119-120), que servirão como pano
de fundo e amálgama para análises mais conjunturais do fenômeno em solo
brasileiro. Segundo Habermas – que no trabalho empreende uma reconciliação
entre pensamento racional e religioso– um Estado liberal, ainda que possa obter
sua autolegitimação de maneira autossuficiente, através de recursos cognitivos que
não dependam de discursos estranhos a esfera política, necessita manter a
aderência de seus “cidadãos do Estado”, ou seu status, através de pequenas
virtudes do político, ou seja, através de uma sociedade civil que se alimenta de
fontes “pré-políticas”. Nesse sentido, para o autor, ao contrário dos “cidadãos da
sociedade” (Gesellschaftbürger) – que são destinatários do direito – os cidadãos do
Estado (Staatsbürger) se auto-entendem como coprodutores das leis e, nas
palavras de Habermas “devem assumir seus direitos de comunicação e de
participação de modo ativo, não somente no sentido bem-entendido do interesse
próprio, mas também, devem ser orientados pelo bem comum” (HABERMAS, 2007,
p. 119).
Como sabemos as propostas de Habermas estão eivadas de conteúdos
normativos, no caso da obra em tela, a democracia liberal surge como um valor em
si mesma, não obstante a este aspecto, os questionamentos do autor suscitam
questões importante para o entendimento do processo de publicização das religiões
no Brasil. Isto posto, se acompanharmos a linha argumentativa de Naturalismo e
Religião, poderíamos nos perguntar: se a ágora pública necessita de discursos pré-
políticos para manter os seus cidadãos do Estado engajados, e se esses discursos
devem, na palavras de Habermas, ensejar valores universais e um bem comum, o
que aconteceria se ao invés de um espaço público dialógico, como propõe
Habermas, estivermos diante de uma arena pública escassa, ou nas palavras de
Sennett (1999) um espaço público morto, em que a exacerbação das relações
impessoais de mercado leva a uma privatização da sociedade e ao
autocentramento na instrumentalização do mundo, de modo que o sujeito não
confere nenhuma legitimidade a demandas externas a seus self, como em Taylor
(OLIVEIRA, 2006)?

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Na esteira deste argumento, vemos o Estado brasileiro com dificuldades obter
e manter sua autolegitimação de maneira autossuficiente, através de recursos
cognitivos que não dependam de discursos estranhos a esfera política, abrindo com
isso, espaço para discursos exógenos, inclusive os religiosos do tipo conservador
(GRACINO JUNIOR; TARGINO; REZENDE, 2018). É interessante notar que nossa
interpretação do caso brasileiro é justamente uma das possibilidades aventadas
por Habermas em seu Naturalismo e Religião, mas descartada para sociedades
liberais mais consolidadas. Habermas observa que, uma modernização
“descarrilhadora” da sociedade poderia esgarçar, em sua totalidade o laço
democrático e consumir o tipo de solidariedade da qual o Estado democrático
depende, o que levaria a transformação de cidadão em mônadas individualizadas
que agem guiadas pelos próprios interesses e que acionam seu direito subjetivo
como se fossem armas apontada para os outros. Em seu entendimento, “em
sociedades onde impera uma economia mundial, e uma sociedade mundial, é
possível detectar evidências de um esmigalhamento da solidariedade de cidadão
do Estado” (Habermas 2007, p. 121). Para o autor, em tese que se aproxima as de
Taylor (1994; 2011) e Sennett (1999), os mercados, que não podem ser
democratizados da mesma maneira que administrações estatais, assumem cada
vez mais funções de controle e domínio da vida, que até então tinham sido mantidas
de forma normativa por tipos de comunicação política ou pré-política. Tal processo
inverte a polaridade das esferas privadas, transpondo o agir orientado pelo sucesso
e por preferências próprias, fazendo encolher, por conseguinte, os domínios que
dependem de pressões de legitimação pública, fortalecendo a privatização das
agências de cidadão do Estado (HABERMAS, 2007, p. 122).
Neste sentido, acreditamos que o processo de redemocratização do país levado
a cabo após a Constituição de 1988, não chegou a constituir uma arena pública
dialogal, antes, assistimos ao fatiamento das instituições do Estado entre os
conglomerados financeiros que, por sua natureza, são não democráticos. Desta
forma, o que assistimos desde o agudo processo de privatização dos governos
Collor e FHC, com refluxos em áreas específicas nos governos do Partido dos
Trabalhadores, foi a inclusão de diversos setores da sociedade brasileira em uma
espécie de “cidadania pelo consumo”. Parte de setores importantes para o acesso
a uma cidadania plena, como saúde, educação e transporte, foram entregues a

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inciativa privada e dependiam do interesse pecuniário destas para seu
desenvolvimento pleno. Não foi sem motivo que as manifestações de junho de 2013
tiveram como estopim o aumento do custo do transporte público.
Nos governos petistas, ainda que se tenha avançado em políticas de inclusão
social e cidadania (2003-2016), “viu-se a inclusão de vastos setores no processo
violento de valorização do capital, implicando uma integração que,
contraditoriamente, não significava necessariamente cidadania” (SINGER, 2016, p.
13). Diante de tal cenário, assistimos uma cultura política que é premida de um lado
pelos interesses privados associados ao Estado, impondo uma espécie de “teto” ao
acesso à cidadania, e desgastada de outro, por um discurso midiático que imputou
ao ocupante do Estado – no caso o PT – o papel de único artífice das contradições
e limites do arranjo mercado-cidadania, potencializando e até precipitando o
esgarçamento completo das instancias democráticas. Neste interim, assistimos ao
renascimento de diversos discursos de base moral, até então periféricos ao debate
político desde a derrocada do udenismo no início da Ditadura Militar de 1964
(BENEVIDES, 1981)6. É interessante notar que, atualmente, as pautas morais
mobilizam os cidadãos para ações coletivas que se articulam a partir de interesses
estritamente narcísicos, no sentido de Taylor (2011), projetando-se no espaço
público e dificultando a realização de interesses civis mais universais.
Seria um passo lógico aprofundarmos o argumento sobre o caráter
individualistas dos pentecostais versus caráter comunitário humanista católico,
principalmente frente ao legado do catolicismo da libertação para formação de
movimentos sociais e luta pelos direitos humanos em nosso país. Principalmente
se retomarmos alguns escritos bem recentes em que defendemos (GRACINO
JUNIOR, 2016), que as instituições religiosas que tem logrado maior êxito em
termos numéricos são as que se concentram nas preocupações com os medos
sociais diários; nas crises financeiras, que, sem aviso prévio e sazonalmente, levam
países à miséria e empresas à bancarrota; na violência vivida e/ou transmitida
cotidianamente pelos meios de comunicação, ou nas diversas fantasmagorias que
parecem ameaçar o núcleo familiar. Neste cenário, o discurso das opções religiosas

6Como bem observa José Murilo de Carvalho (2008) o discurso moralista parece ser uma tônica
em nossa história política principalmente em momentos de ruptura, como no fim da República
Velha, por exemplo.

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liberais (BEYER,1990), com sua eterna mensagem sobre a universalidade humana,
que conectam problemas locais a estruturas complexas e pouco tangíveis, como
capitalismo, mercado financeiro, problemas ambientais globais, só aguçam o
sentimento de desamparo e de ansiedade; ao contrário, a opção conservadora lhes
ensina a ir em frente, oferece-lhes um mapa da salvação diante aos desafios que
se renovam a cada dia.
Por outro lado, leituras como as Hans Joas (2012), onde o autor argumenta de
forma convincente sobre a gênese multifacetada dos direitos humanos, afastando
as imagens religiosas do mundo como sendo componentes pretéritos per si dos
direitos humanos, optando por um argumento mais construtivista e relacional sem,
contudo, afastar o papel importante das ideias religiosas. Neste sentido, Joas,
oferece um sem número de evidências históricas em que a religião tanto atuou
como demiurgo de sentimentos de solidariedade, quando como catalizador de
guerras e perseguições sanguinárias. No mesmo turno, Francisco Rolim (1993), em
um estudo sobre o pentecostalismo na América Latina, relata-nos casos em que
grupos evangélicos, inclusive de cariz pentecostal, que serraram fileiras com
movimentos de esquerda, como no da Igreja Wesleyana Pentecostal no Chile, de
forte penetração no meio operário e o Movimento de Pastores Revolucionários,
grupo de pastores ligados à Assembleia de Deus da Nicarágua.
Obviamente não afastamos de todo a afinidade positiva (LÖWY, 2014) entre
imagens religiosas do mundo pentecostais, individualismo e conservadorismo 7,
mas tais modelos devem, logicamente ser usados de forma matizada. Em trabalho
já citado, Burity (2018) chama atenção para ao fato de os pentecostais terem se
beneficiado, como já dissemos páginas atrás, do processo de democratização e de
minoritização das crenças. Neste cenário, Burity elenca três formas de publicização
das religiões ao longo das últimas três décadas, além do modelo católico: a via

7 Aqui, remetemo-nos, principalmente, ao trabalho de Maria das Dores Machado, Religião e


homossexualidade (2010), em que a autora analisa as percepções de líderes religiosos quanto a
homossexualidade. Neste trabalho Machado mostra que os líderes católicos enfatizam o princípio
da misericórdia e a noção da compaixão, “trazendo para o campo da sexualidade orientações da
CNBB para o atendimento de segmentos marginalizados da sociedade capitalista brasileira”
(Machado 2010: 54), ao passo que os advindos do protestantismo tradicional, concentraram-se no
caráter privado da sexualidade, enquanto que os líderes batistas e pentecostais, evocaram
passagens do Antigo Testamento e uma leitura literal da Bíblia para rechaçar a possibilidade de
reconhecimento da legitimidade dos grupos homossexuais em suas igrejas. No mesmo sentido, mas
falando de capitalismo, Michael Löwy, em a Jaula de Aço (2014), discorre sobre o que julga ser uma
afinidade negativa entre ética católica e o espírito do capitalismo (Löwy 2014: 83-92),

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político-eleitoral pentecostal; a via da incidência pública ecumênico-ativista; a via
da culturalização, das religiões de matriz afro-brasileiras. Para nossos objetivos
aqui, focaremos nossas atenções na via político-eleitoral pentecostal, que segundo
Burity, constituiu-se em verdadeiros partidos religiosos, que, se em um primeiro
momento disputavam espaços sem negar o direito de existir dos adversários, após
a eleição de Lula, aparecem cada vez mais como componentes essenciais do anti-
lulismo (2018, p. 40).
É preciso lembrar, que várias das lideranças que hoje serram fileiras contra o
governo do PT, engrossando o campo conservador, apoiaram o governo Lula e
Dilma em algum momento, entre estas lideranças destacamos o Pastor Silas
Malafaia (ADVEC), Bispo Robson Rodovalho (Sara Nossa Terra) que, em 2002
lançou um manifesto pró-Lula e apoiou Dilma Rousseff em 2010, sem falar do Bispo
Macedo (IURD) que tem posições pró-legalização do aborto8 e inclusive, integrou
alguns ministérios dos governos petistas.
Ao contrário de outros líderes do segmento evangélico pentecostal, que se
concentram em soluções biográficas, como Edir Macedo, que dá ênfase a questões
pecuniárias, ou a Waldemiro, que se concentra na cura, Silas surge com um
produto bastante requisitado nos dias atuais, principalmente em tempos de Lava
Jato, patos da FIESP e passeatas verde-amarelas contra a corrupção: a moral! O
discurso moral proferido por Malafaia e replicado por um cem número de outras
lideranças evangélicas, como os também pastores e, neste caso, parlamentares,
como o senador Magno Malta (PR-ES) e deputado Marcos Feliciano (PODE-SP),
apresenta-se como um forte amálgama capaz de conectar ansiedades e medos
pessoais, tributários de um momento histórico marcado por fortes transformações,
ao discurso moral de fundo religioso e a uma narrativa de longa duração. Porém, o
mal não está longe, não vem de fora, nem do estrangeiro, ao contrário, senta-se ao
seu lado na escola, almoça com você no refeitório do trabalho, enfim, nos termos
de Luhmann (2007), tal operação é capaz de transformar a indeterminação gerada
pelo contínuo processo de complexificação social em possibilidades determinadas

8Ainda que já tivesse postura francamente pró descriminalização do aborto


(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc3110199907.htm. Acessado no dia 19/06/2015) O Bispo
Macedo coloca-se mais uma vez a favor do tema ao defender Dilma em setembro de 2010, contra
ataques de seu adversário direto o então candidato à presidência José Serra do PSDB
(https://blogs.universal.org/bispomacedo/2010/09/03/jesus-fala-sobre-o-aborto/ e
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po3009201007.htm Acessado no dia 19/06/2012) .

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e determináveis, produzindo interpretações do mundo através de generalizações
simbólicas.
Como mostramos alhures (GRACINO JUNIOR, 2016), no caso brasileiro, as
instituições religiosas que tem logrado maior êxito em termos numéricos são as que
se concentram nas preocupações com os medos sociais diários: nos empregos de
uma montadora no Brasil que podem ser ceifados em uma reunião da diretoria de
multinacional em Wolfsburg ou Shanghai; nas crises financeiras, que, sem aviso
prévio e sazonalmente, levam países à miséria e empresas à bancarrota; na
violência vivida e/ou transmitida cotidianamente pelos meios de comunicação, ou
nas diversas fantasmagorias que parecem ameaçar o núcleo familiar. Neste
cenário, o discurso das opções religiosas liberais, com sua eterna mensagem sobre
a universalidade humana, que conectam problemas locais a estruturas complexas
e pouco tangíveis, como capitalismo, mercado financeiro, problemas ambientais
globais, só aguçam o sentimento de desamparo e de ansiedade; ao contrário, a
opção conservadora lhes ensina a ir em frente, oferece-lhes um mapa da salvação
diante aos desafios que se renovam a cada dia.

Eleições de 2018: percepções preliminares sobre o voto geográfico

De fato, a crise de representatividade dos partidos ajudou o aumento das


instituições religiosas neopentecostais no processo de maior inserção no tecido
social e agir a partir daí como “salvadores” da fé, ou mesmo, “restauradores” da
política.
É crível salientar a pesquisa realizada pelo Centro Estratégico Geopolítico
Latino-Americano (CELAG), intitulado “Iglesias evangélicas y el poder conservador
en Latinoamérica”, que analisa a capacidade que os evangélicos têm de explorar
politicamente sua grande mobilização midiática, graças a suas próprias estações,
canais de televisão e redes sociais. Ação que deixa os outros candidatos do
sistema político em desvantagem, uma vez que contam com à contribuição-
convicção de seus fiéis/telespectadores e, ao mesmo tempo, são fervorosos
“defensores do neoliberalismo e da sociedade de consumo”. (Haja visto, que o
bispo Edir Macedo - proprietário da TV Record, bispo e fundador da IURD - declarou
apoio ao então candidato a Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) ainda

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no primeiro turno. De modo que exibiu uma entrevista exclusiva com Bolsonaro no
mesmo dia em que a emissora concorrente, TV Globo, reuniu presidenciáveis para
o debate eleitoral9). É notável essa relação, visto que Jair Bolsonaro (PSL), possuía
apenas 08 segundos de horário eleitoral na TV por bloco respectivamente.
Enquanto seu opositor com mais tempo de horário foi Geraldo Alckimin (PSDB)
com 5 minutos e 32 segundos de espaço na propaganda.
Diante dos resultados eleitorais de 2018, são apresentados alguns pontos
de interseção, na medida que as redes sociais se tornaram centrais, por exemplo,
para o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Filiado a um partido pequeno, o PSL,
com poucos recursos e diante da baixa possibilidade de conseguir apoio de partidos
maiores – bem como pela dificuldade da escolha de um vice que agregasse apoio.
Bolsonaro já investe há um bom tempo na internet, da mesma forma que seus
filhos. Ele era, até então, o presidenciável com mais seguidores no Facebook, com
5,2 milhões de curtidas. Em setembro de 2018, o pré-candidato alcançou a marca
9,5 milhões no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube. Nos parece que as redes
sociais concentraram um poder até então não dimensionado na eleição de 2018.
Em que plataformas como Facebook, Twitter e Whatsapp tornaram-se, talvez, mais
importantes do que as propagandas de TV e rádio. Ao propiciar uma
horizontalização do poder tal como compreendido por Castells (2010), deixando de
ser verticalizado, no caso pelas grandes mídias, ao passo que também trouxe
desinformações – com as chamadas Fakenews - e a presença de empresas ligadas
ao envio de mensagens com conteúdo difamando candidatos rivais e apoiando
outros, ocorridos no Whatsapp durante o processo eleitoral10.
Dessa forma, portanto, o mote deste tópico, concentra-se sobre a
compreensão dos estudos sobre a geografia do voto aplicada à Ciência Política –
uma temática que começa a ganhar cada vez mais fôlego na Ciência Política
(TERRON, 2012) -, na qual a presente artigo elegeu o voto geográfico como um
dos principais meios de análise do cenário atual. Todavia, nos distanciaremos um

9Disponível em: <https://www.valor.com.br/politica/5905487/record-vai-transmitir-entrevista-com-


bolsonaro-durante-debate-da-globo>. Acessado em: 20/10/2018.
10 Uma reportagem da Folha de S. Paulo revelou que empresas estão comprando pacotes de

disparos em massa de mensagens contra o PT e de apoio ao candidato Bolsonaro pelo app. Isso,
segundo a mesma reportagem, é equivalente a fazer doações não declaradas (e ilegais, já que as
doações de empresas estão proibidas) para a campanha, por meio de “caixa 2”. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/empresarios-bancam-campanha-contra-o-pt-pelo-
whatsapp.shtml>. Acessado em: 22/10/2018.

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pouco do viés interação com os estudos pioneiros da sociologia eleitoral no país -
Fleischer, 1976; Soares, 2001; Dias, 1991 -, porém, os trabalhos recentes já
ultrapassam a dicotomia do voto urbano-rural para compreender a complexa
estrutura social, política e econômica na qual os candidatos aos pelitos buscam
angariar votos. Sendo nosso objetivo neste tópico, a análise comparativa das
intenções de voto e aos resultados eleitorais de 2018. Assim, iniciaremos
apresentados os dados do cenário eleitoral do primeiro e segundo turno para
presidente da república.

Quadro geral das eleições 2018

Nas figuras 1 e 2 destacamos os resultados eleitorais do primeiro e segundo


turno das eleições presidenciais de 2018, baseados nos dados do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Buscamos destacar os Estados e os municípios. Na figura 1, as
cores representam as unidades que tiveram maior votação nos candidatos, que
variam de 50% para as cores mais claras, entre 65% e 85% para os tons médios e
para 100% para a tonalidade mais escura. Os tons da cor vermelha correspondem
ao candidato Fernando Haddad (PT); amarelo ao candidato Jair Bolsonaro (PSL);
e azul em Ciro Gomes (PDT).

13
Figura 1: Resultado do Primeiro Turno

Fonte: Dados do TSE. Gráfico disponível em:


<https://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes/2018/veja-o-mapa-de-apuracao-de-todas-as-cidades-do-
rasil/#/cargo/presidente/local/brasil/turno/1/mapa/pais/municipio/brasilia/5300108>

Na divisão por regiões, portanto, Bolsonaro venceu em todos os estados do


Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul, e em todas as capitais dessas três regiões, e
em algumas do Norte. Já Haddad teve seu melhor desempenho no Nordeste, onde
teve a maior parte dos votos em 8 dos 9 estados e em 3 das 9 capitais. Dessa
forma, no primeiro turno o candidato do PSL venceu em 16 estados e no DF e
Fernando Haddad (PT), em 9. Já o terceiro colocado na disputa nacional, Ciro
Gomes (PDT), venceu apenas no Ceará e na sua capital, Fortaleza. Uma vez que
já foi prefeito da capital e governador do estado, tendo reconhecimento e prestígio
perante parte da população cearense.
Bolsonaro obteve 46% dos votos válidos, entrando no 2º turno com larga
vantagem sobre o adversário, Fernando Haddad (PT), que alcançou 29%. A
diferença de votos entre os dois foi de quase 18 milhões. Na esteira da mobilização
conservadora e do antipetismo que cresceu no Brasil nos últimos anos, Bolsonaro
e seu partido PSL, até então uma legenda pequena e sem grande desenvoltura no

14
cenário político ganharam destaque. O fortalecimento do candidato do PSL na reta
final da campanha contribuiu para várias surpresas nas eleições estaduais e ao
Senado. De modo que conseguiu eleger seus apoiadores no Rio de Janeiro, Minas
Gerais, São Paulo, Paraná, Rondônia, Roraima e outras partes do Brasil.
A onda conservadora que enalteceu a candidatura de Bolsonaro e seus
apoiadores e, consequentemente, trouxe reflexos negativos nas urnas para vários
nomes ligados ao petismo, como Lindbergh Farias (PT-RJ), Eduardo Suplicy (PT-
SP), de Jorge Viana (PT-AC) a Fernando Pimentel (PT-MG), Dilma Rousseff (PT-
MG). Bem como políticos tradicionais que tiveram papeis de destaque ao longo das
gestões Lula e Dilma e, também no governo Temer, como o ex-presidente do
Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), Romero Jucá (MDB-RR), e Edison Lobão
(MDB-MA). Dando lugar a políticos mais alinhados ao discurso conjuntural em
voga. Não obstante, a taxa de renovação da Câmara dos Deputados foi de 53,2%
e, 85% foi a taxa de renovação do Senado, a maior da história. Quarenta e seis dos
54 eleitos são novos no cargo. Resultado do desejo de muitos brasileiros de
mudança e renovação que expressavam desde os protestos de 2013; da operação
Lava-jato e seus desdobramentos11; da polarização política pós- 2014; e do
antipetismo que se mostrou mais forte que a rejeição ao candidato Bolsonaro. Outro
número que se destaca é que 29,9 milhões de brasileiros deixaram de votar no 1º
turno. Totalizando 20,3% do eleitorado nacional, comparativamente o total de
ausentes é o mais alto desde as eleições de 1998.
No segundo turno (Figura 2), Jair Bolsonaro (PSL) venceu em 15 estados e
no Distrito Federal e Fernando Haddad (PT), em 11. Nas capitais, o resultado foi
de 21 a 6, respectivamente. Ao analisarmos a divisão por regiões, Bolsonaro repetiu
o desempenho do 1º turno: venceu em todos os Estados e todas as capitais do
Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul. Enquanto Haddad teve o seu melhor
desempenho no Nordeste, onde teve a maior parte dos votos em todos os estados
e em 6 das 9 capitais, ganhando no Ceará e na capital, Fortaleza, que haviam dado

11 Sendo um dos principais pontos de desestabilização do governo Dilma o vazamento de áudio que
ocorreu em 2016, quando um áudio de uma conversa entre a então presidente da república, Dilma
Rousseff, com o ex-presidente Lula sobre, possivelmente, assumir um ministério em seu governo
frente as acusações que se formava contra ele. Para alguns especialistas em direito, o vazamento
do áudio pelo Juiz Federal Sergio Moro pode ser considerado inconstitucional, mesmo assim, não
houve nenhum tipo de sansão por parte do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Detalhes sobre o
áudio e sua repercussão em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/03/moro-divulga-grampo-de-
lula-e-dilma-planalto-fala-em-constituicao-violada.html>. Acessado em: 07/11/2018.

15
vitória, no primeiro turno, a Ciro Gomes (PDT). Ao passo que o candidato do PSL
perdeu em 1 estado e em 2 capitais nas quais havia vencido no 1º turno, que deram
mais votos a Haddad: Tocantins, Aracaju e Recife.
Ao contabilizarmos o percentual de votos nulos no segundo turno das
eleições, eles totalizaram 8,6 milhões (7,4%) o maior registrado desde 198912. Já
os votos brancos somaram 2,4 milhões (2,1%)13 e as abstenções somaram 31,3
milhões, cerca de a 21,3% total de eleitores aptos a votar, proporção similar ao do
2º turno presidencial de 2014. Se compreendermos os números de eleitores nas
eleições de 2018, percebemos que Jair Bolsonaro, candidato eleito, recebeu 57,7
milhões de votos enquanto o Fernando Haddad teve 47 milhões de votos. Contudo,
se somarmos os votos nulos e brancos com as abstenções, houve um contingente
de 42,1 milhões de eleitores que não escolheram nenhum candidato.

Figura 2: Resultado do Segundo Turno

Fonte: Dados do TSE. Gráfico disponível em:

12 O que corresponde um aumento, segundo os dados do TSE, de 60% em relação ao 2º turno da


última eleição presidencial, ocorrido em 2014, quando foram anulados 4,6% dos votos.
13 Um pouco acima, do segundo turno presidencial de 2014, que alcançou a marca de 1,7% de votos

brancos.

16
<https://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes/2018/veja-o-mapa-de-apuracao-de-todas-as-cidades-do-
rasil/#/cargo/presidente/local/brasil/turno/1/mapa/pais/municipio/brasilia/5300108>.

Intenção de voto dos evangélicos e católicos na eleição presidencial

Comparativamente, na figura 3 apresentamos as referências da geografia


das crenças religiosas, de modo especial, o percentual da presença de católicos e
evangélicos nas unidades federativas do Brasil, baseados nos dados do Censo
2010 do IBGE. Percebemos, inicialmente, que boa parte dos estados do Nordeste,
da região Sul e Minas Gerais apresentam o maior percentual de católicos, entre
75% a 99%. Enquanto os evangélicos concentram-se, a nível federal, nas regiões
Norte e Centro-Oeste, alcançando entre 50% a 85% dos que se declaram
evangélicos. Sendo São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo como destaques na
região Sudeste, variando com cerca de 20% a 50%.

Figura 3: A geografia das crenças - Estados onde a concentração de cada grupo religioso é
maior

Fonte: IBGE, 2010. Disponível em: <http://estadaodados.com/religiao.>.

Ao tomarmos como base os censos de 2000 e 2010, percebemos que


transição religiosa ocorre de maneira diferenciada entre as regiões, sendo que o
Norte, o Sudeste e o Centro-Oeste são as regiões mais avançadas na mudança de
17
correlação de forças entre católicos e evangélicos e que apresentam a maior
pluralidade religiosa. Constituindo o Nordeste a região onde há a maior proporção
de católicos e, a região Sul num nível intermediário de transição. Evidentemente,
estas mudanças religiosas possuem impacto sobre os resultados eleitorais. Dessa
forma, vejamos os dados (figura 4) do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves 14, do
segundo turno, nas capitais do país.

Figura 4 – Distribuição de votos no segundo turno por Capital

Fonte: ALVES, 2018.

Dessa forma, Alves almeja testar se o avanço evangélico nos Estados está
correlacionado com uma maior proporção de votos em Bolsonaro e se a maior
presença católica está correlacionada com maior proporção de votos em Haddad.
Em outras palavras, comparar a votação dos candidatos e a relação entre a
proporção de católicos e evangélicos nos Estados. Para isso, analisa a relação
entre a transição religiosa e o voto no segundo turno, apresentando a relação entre

14Artigo apresentado ao site da Revista IHU ON-LINE, da UNISINOS, em 01/11/2018. Disponível


em: <http://www.ihu.unisinos.br/584304-o-voto-evangelico-garantiu-a-eleicao-de-jair-bolsonaro>.

18
a razão de votos válidos em Bolsonaro e em Haddad (RBH) e a razão entre o
número de evangélicos e o número de católicos (REC), para as unidades da
federação.
É perceptível que os Estados com maior variação/transição religiosa, como
Rio de Janeiro, Acre, Roraima e Rondônia, deram uma considerável margem de
vitória ao candidato do PSL. Já os Estados do Nordeste (que possuem a menor
proporção de evangélicos) deram uma vitória significativa para o candidato do PT
(Haddad perde em apenas três capitais do Nordeste: Natal, João Pessoa e Maceió).
De acordo com Alves, o Piauí, que tem a menor REC, foi o que deu a maior
proporção de voto em Haddad (menor RBH). Mas como a religião não explica tudo,
o caso de Santa Catarina mostra que a segunda maior proporção de votos em
Bolsonaro (alta RBH), aconteceu em uma unidade federativa com baixa presença
evangélica (baixa REC).
Não obstante, concordamos com Alexandre Brasil Fonseca15 acerca de
algumas ponderações necessárias sobre a correlação supracitada.
Particularmente, na variação da Região Sul, como elencado acima, e de forma
destacada em Santa Catarina, Estado em que Bolsonaro obteve a segunda maior
votação percentual e onde a presença evangélica (20%) é menor do que a média
nacional encontrada no Censo de 2010 (22%). Situação, afirma Fonseca, que
somente ocorre em outros dez Estados, bem como o fato de haver alguma
associação não implica, necessariamente, em uma causa exclusiva.
Do mesmo modo que ao analisar a presença evangélica nos Estados é
interessante notar, por exemplo, que no segundo Estado com maior percentual de
evangélicos, o Espírito Santo (33,1%), aconteceu a derrota do Senador Magno
Malta do PR, líder evangélico no parlamento, candidato à reeleição e cogitado a ser
vice na chapa de Jair Bolsonaro. Fonseca ainda destaca que no Piauí, estado com
menor percentual de evangélicos no Brasil (9,7%), aconteceu a reeleição da
deputada federal Rejane Dias, evangélica e filiada ao PT.
Contudo, temos a consciência que a variável religião não é a única que
explica o resultado eleitoral de 2018, mas ela teve um peso fundamental,
principalmente na formação e mobilização discursava da ágora pública brasileira.

15Artigo apresentado ao site da Revista IHU ON-LINE, da UNISINOS, em 07/11/2018. Disponível


em: <http://www.ihu.unisinos.br/584446-foram-os-evangelicos-que-elegeram-bolsonaro>.

19
De fato, o voto evangélico foi um forte pendor nas eleições presidenciais de
2018. Como apresentamos nas tabelas 1 e 2, sobre as intenções de voto, segundo
as preferências eleitorais de duas denominações religiosas: católicos e
evangélicos. Os dados abaixo compreendem desde a primeira pesquisa, realizada
em agosto, divulgada e registrada no TSE pelo IBOPE até a última pesquisa do
segundo turno em 27/10/2018. Totalizando 10 pesquisas de intenção de voto
desses dois grupos cristãos, de modo a melhor entendermos a interface e, mesmo,
a capacidade de transferência de intenção de votos no segundo turno.
Observamos, portanto, que houve uma considerável variação entre os segmentos
católico e evangélico na intenção de votos a presidente da república. De modo que
ocorreu um empate técnico entre a população católica, e uma quantitativa vitória
de Bolsonaro entre os evangélicos (mais de 11 milhões de votos) foi suficiente para
abrir uma vantagem de pouco menos de 11 milhões de votos no conjunto dos votos
válidos do segundo turno, conforme assevera Alves (2018).

Tabela 1 - Intenção de Votos (%): Evangélicos

20/ago 04/set 11/set 18/set 24/set 01/out 03/out 15/out 23/out 27/out
Jair Bolsonaro 26 29 33 36 34 40 43 66 59 58
Fernando Haddad 2 3 6 15 17 15 16 24 27 31
Ciro Gomes 6 9 7 9 10 9 6 0 0 0
Geraldo Alckmin 7 9 10 7 8 7 7 0 0 0
Marina Silva 12 15 10 7 7 5 5 0 0 0
João Amoêdo 2 2 2 2 2 1 1 0 0 0
Henrique Meirelles 1 3 3 3 2 2 2 0 0 0
Álvaro Dias 3 2 2 2 2 2 1 0 0 0
Cabo Daciolo 1 1 1 1 0 2 3 0 0 0
Guilherme Boulos 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
Vera 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
Eymael 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0
João Goulart Filho 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0
Branco/Nulo 26 14 19 11 11 11 9 7 10 9

20
Não sabe/Não
respondeu 10 8 5 7 7 5 6 2 4 3
Tabela elaborada pelos autores. Fonte: IBOPE.

Tabela 2 - Intenção de Votos (%): Católicos


20/ago 04/set 11/set 18/set 24/set 01/out 03/out 15/out 23/out 27/out
Jair Bolsonaro 17 19 24 25 24 28 27 48 47 43
Fernando Haddad 3 6 9 21 25 24 27 42 41 45
Ciro Gomes 10 15 12 13 12 10 11 0 0 0
Geraldo Alckmin 8 10 9 8 8 9 7 0 0 0
Marina Silva 12 10 8 5 4 4 3 0 0 0
João Amoêdo 1 4 3 2 3 3 2 0 0 0
Henrique Meirelles 1 2 3 2 2 2 2 0 0 0
Álvaro Dias 4 3 3 2 2 2 2 0 0 0
Cabo Daciolo 1 0 1 0 0 0 1 0 0 0
Guilherme Boulos 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0
Vera 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0
Eymael 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
João Goulart Filho 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
Branco/Nulo 30 22 17 14 12 11 11 8 9 10
Não sabe/Não
respondeu 9 7 8 7 6 6 6 2 3 2
Tabela elaborada pelos autores. Fonte: IBOPE.

É preciso destacar que considerar a variável religião como o único e


exclusivo vetor da vitória de Bolsonaro é algo totalmente desprovido de sentido e
razoabilidade. É preciso observar o percentual a mais que o candidato obteve nos
vários estratos oferecidos pelas pesquisas de intenção de voto. Foi entre
evangélicos, mas também na Região Sul, por exemplo, entre pessoas com nível
superior e com renda acima de 5 salários mínimos que houve uma maior adesão à
candidatura de Bolsonaro, com percentuais significativamente mais altos do que os
obtidos na média da população, como argumenta Fonseca.

21
Conforme visto nas figuras 1 e 2, ficou claro que algumas regiões do Brasil
votaram de forma diferente. O PT manteve sua força no Nordeste, onde Haddad foi
o mais votado. É a região mais pobre e onde concentram-se os beneficiários do
Bolsa Família, o programa de renda mínima que o primeiro Governo Lula criou em
2003, tornando-se um dos símbolos dos programas sociais do PT. Por outro lado,
Bolsonaro prevaleceu no Sudeste (mais industrializado) e no Sul e Centro-Oeste
(mais agrícolas), onde vivem dois terços da população. Muito embora, as diferenças
regionais não arrefeçam a relação entre voto e riqueza.

Considerações Finais

Diante do exposto, consideramos que o voto evangélico foi fundamental para


a eleição de Jair Bolsonaro, contudo, sua importância se deu mais por aspectos
qualitativos do que quantitativos, principalmente, no ambiente dialogal do espaço
público contemporâneo. Visto que a campanha do candidato do PSL foi
substancialmente direcionada aos evangélicos em vários níveis, inclusive na pauta
moral e de valores16, favoreceu o avanço de Bolsonaro em um segmento
populacional em que este grupo é mais presente. Especialmente por sua
capacidade em atingir setores que na última eleição votaram mais na candidatura
do PT. Segmento este tal como compreendido por Fonseca (2018), com o seguinte
perfil: “escolaridade de nível médio (34% são evangélicos) e renda entre 2 e 5
salários mínimos (32% são evangélicos), grupos em que a vitória de Bolsonaro se
efetivou exatamente por terem votado de forma distinta do que votaram na eleição
de 2014”. Nestas eleições tanto entre os mais pobres o PT manteve a liderança, do
mesmo modo que também manteve o baixo desempenho entre os mais ricos, a
diferença se deu nos segmentos médios, os quais acabaram por dar a vitória ao
candidato do PSL.
Por fim, outro elemento mais evidente dessa direita, principalmente no seu
discurso público moral-conservador, é sentirem-se ameaçados pelos criminosos,
pelos imigrantes, pelas mulheres liberadas (utilizando significantes discursivos

16 É inegável que a campanha de Bolsonaro assumiu tanto no discurso como na prática (orações,
visitas e articulações com líderes evangélicos) uma preferência para com este segmento. Tanto que
o principal articulador político de Bolsonaro e possível Ministro da Casa Civil, o deputado Onyx
Lorenzoni (DEM-RS), é membro da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.

22
como “feminazi” de modo pejorativo), pelo homossexualismo, pelo aborto, pelo
discurso hegemônico de insegurança e suas tentativas simplicistas de solucioná-
las, entre outros. Eles acreditam que os seus valores morais e identidade estão se
perdendo e que a qualquer momento tudo pode se desmoronar e esse medo faz
com que eles busquem inimigos discursivos, geralmente minorias sociais, para que
possam despejar todo seu ressentimento.
Diante desse contexto, tais atores buscam e apoiam soluções autoritárias e
mais severas para os crimes (como o caso recente da maioridade penal e todo
discurso envolto). Em que os direitos humanos, por exemplo, são logo associados
a ideia de mordomia para os presos (como o auxílio reclusão), criando
desinformação e, com isso, enaltecimento da retórica política nacional. Pierucci
(1987) afirmou que para a direita, o discurso moralista se tornou o melhor meio de
se chegar até as massas e conquistar os seus votos. E, de fato, diante desse
cenário de medo e de tensão, a vertente moralista tem tido uma grande acolhida
nesse grupo de direita, já que, para eles, a crise geral nada mais é que uma crise
cultural. Lembrando que essa pauta, agora ligada de modo significativo ao
segmento evangélico, acabou transcendendo para a pauta pública nacional, diante
da crise representativa que o Brasil enfrenta nos últimos anos.

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