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QUESTÃO OBRIGATÓRIA: 6759

O espaço sempre foi palco de todas as ações que a humanidade travou ao longo da
história. Desde de a humanidade na sua forma mais rudimentar de apropriação do espaço até
às formas mais sofisticadas, todo processo evolutivo social-tecnológico foi concebido pela e
através espacialização do ser humano – todos nós existimos espacialmente, ou seja, o espaço é
uma à priori que ninguém pode existir fora dele, a-espacialmente. E a partir daí, no processo
contínuo da sociedade, travado por disputas entre os mais variados grupos, o espaço foi sendo
modificado e tornando-se objeto de reflexão e de estudo. A sociedade foi fazendo o espaço e
se fazendo também através dele.
Como todo processo histórico não é um processo marcado pela linearidade e ubíquo,
este mesmo espaço que concebe-se hoje não foi idealizado de uma única forma, uma verdade
universal. Diversos segmentos e atores sociais tentaram explicar e compreender o espaço e
sobretudo forjá-lo a interesses particulares, sendo palco social de ações concretas e abstratas.
A geografia, por sua vez, desde antes da sua concepção como ciência e sim como um termo
e/ou conceito, cristalizou variadas formas de concepção espacial, que engendrou no mundo
seus respectivos olhares, determinantes para a compreensão e apreensão do espaço.
O longo caminho da geografia, desde antes da sua consolidação como ciência até a
forma atual, foi marcada por algumas correntes de pensamento em determinados momentos
históricos que foram os responsáveis por determinar o campo de atuação e de objeto da
geografia. No entanto, diversos autores entendem a geografia de formas diferentes e variáveis,
logo a geografia não é um ciência fixa e que tem o seu objeto de estudo bem definido desde
sua concepção, o contrário. A geografia, na sua concepção como ciência, foi feita
exclusivamente para atender os anseios dos Estados capitalistas que despontavam na Europa
ocidental, tornando a ciência geográfica a ciência do Estado. Já a corrente em sequência
pegou conceitos cartesianos e geométricos e fez da geografia uma ciência exclusivamente
técnica, utilizada para gestar e coordenar o espaço através de noções matemáticas e coordenar
todo o espaço do ponto de vista funcional e prático. Depois, a corrente que a substitui e que é
a atual corrente do pensamento geográfico surge questionando todas as correntes anteriores,
sobretudo a segunda corrente, fazendo da ciência geográfica uma ciência para atender os
interesses da sociedade e dos grupos sociais, não do Estado como um mecanismo somente e
exclusivamente de gestão do espaço.
A primeira corrente, conhecida como “Geografia Tradicional”, em que tem seus
expoentes principais Ratzel (alemão), La Blache (francês) e Mackinder (inglês), foi a corrente
que sistematizou a geografia como ciência e não como um termo e/ou conceito. As
necessidades dos Estados-Nações à época em expansão territorial e reconhecimento
topográfico eram indispensáveis à luta e afirmação hegemônica e de sobrevivência do Estado,
em meados do século XIX. Expandir suas fronteiras além de seus limites para a captação de
recursos e o reconhecimento topográfico para uma melhor estratégia de gestão do território e
de guerra foi a tônica, a grosso modo, da corrente geográfica tradicional. O gestão do espaço à
época era fundamentada no controle do território, a partir de uma relação direta de poder, de
controle, do Estado que o detinha. Obviamente, os três geógrafos tinham algumas
características singulares em como fazer a geografia e como aplicá-la a seus respectivos
Estados, porém o que fica de uníssono entre eles é a utilização da ciência geográfica para
fazer o controle e expansão de seus territórios, angariando recursos, fronteirizando e
repartindo o mundo, ampliando suas áreas de controle e poder e alçando os Estados
respectivos ao topo do controle mundial à época. O espaço, então, era vital – debruçando num
clássicos de Ratzel – aos interesses do Estado e a população era tida como secundária à
geografia tradicional, onde compunha todo um organismo baseado e centralizado somente no
Estado. A geografia tradicional pode ser também chamada de geografia do Estado.
A corrente que sucede a corrente tradicional é chamada de Teorética-Quantitativa ou
Nova Geografia, em que a racionalização máxima do espaço foi a tônica da corrente.
Surgindo na metade do século XX, especificamente no pós segunda guerra mundial, a
corrente retirou totalmente a população de seus estudos e incorporou métodos da estatísticos
laboratoriais em sua práxis. A reconfiguração dos Estados no pós-guerra necessitava de uma
geografia em que a racionalização máxima do espaço fosse feita para que a reprodução e
reestruturação do espaço fosse realizada o mais rápido possível. O moto contínuo capitalista
necessitava urgentemente irromper da crise que estava inserido no pós guerra e toda
instrumentalização geográfica foi concebida com esse viés, em criar e aprofundar práticas de
usos dos recursos naturais ao desenvolvimento e reestruturação do espaço. O espaço passa a
ser diferenciado entre lugares produtivos e improdutivos, e toda lógica natural se subordina
aos preceitos técnicos de acumulação e racionalização. A corrente teorética, dessa forma,
também pode ser vista a serviço do Estado, porém agora novos atores entram no jogo, que são
as grandes corporações capitalistas que passam a gerir e controlar, também, o território e as
novas técnicas de mapeamento, esquadrinhamento, comunicação, enfim, as novas tecnologias
aprofundam ainda mais o controle e uso do espaço ao viés determinado.
A próxima corrente, a qual está em voga agora, é a geografia crítica, que rompe com
toda a geografia antecedente e desponta como antítese à lógica capitalista de acumulação e
gestão do espaço. Um dos seus principais expoentes, Milton Santos, ergue-se como uma das
vozes principais da virada do pensamento geográfico: primeiro por entender que a geografia
não deve servir aos interesses do capital, da lógica de acumulação, que só impõe mazelas ao
mundo e depois por definir, de fato, um objeto de estudo à geografia, que é o espaço – o
espaço geográfico. Em Natureza do Espaço, Milton Santos pensa a epistemologia da
geografia, em como ela vem se consolidando ao longo do tempo, reforçando que as análises
são descritivas, colonialistas, quantitativas, etc,. E que não tem claramente definido o seu
objeto de estudo. Nenhum dos conceitos geográficos (região, território, paisagem, lugar) se
consolida como objeto de estudo geográfico, e que a geografia necessita de um objeto de
estudo, este que é o espaço geográfico. Falar de geografia é falar de espaço geográfico.
Geográfico pois o homem consolidou domínio sobre todo o globo por meios das técnicas
como um todo, logo, tornou geográfico o espaço habitado e modificado pelo homem. Só se
entende espaço geográfico se entender ele como, literalmente, uma indissociabilidade entre
sistemas de objetos e sistemas de ações, que são indissociáveis entre eles. Ou seja: o espaço
geográfico é um conjunto indissociável entre sistema de objetos e sistemas de ações, que é um
conceito abstrato pois o espaço não é palpável, mas se torna concreto no território, lugar,
região, paisagem. Isso faz o espaço tornar-se concreto. Para ele, tem que se pensar do ponto
de vista sistêmico e que tem que suplantar a ideia de que o espaço são só os objetos porque
isso era das geografias tradicionais, descritivas, quantitativas. Então a geografia, na verdade,
são os objetos e os objetos eles impõem limites às ações e as ações transformam os objetos.
Por isso são indissociáveis. O homem transformava o espaço através de técnicas simples.
Conforme o homem vai se desenvolvendo, ele une a técnica à ciência, o
Iluminismo/Positivismo. Então nesse momento da humanidade a gente começa a aliar e
desenvolver a ciência e a técnica pra transformação do espaço geográfico. E depois tem-se a
informação como elemento central das transformações do espaço geográfico, passando do
meio técnico ao técnico-científico e depois ao técnico-científico-informacional. A informação
torna-se peça chave, também, na reprodução do espaço e do modo capitalismo, o que Milton
chamou de “fluxos”, que são os deslocamentos de informações e produtos através dos “fixos”,
estes que são, basicamente, a infraestrutura necessária para que a informação/produto circule.
A geografia crítica de Milton Santos rompe com todo as visões antigas de geografia e da sua
concepção do espaço um conceito apartado das relações indissociáveis de técnica e ação e tira
a concepção de uma geografia aquém da crítica e da sociedade.
O espaço como palco das ações e a técnica como meio de intervir no espaço
aprofundou de tal maneira, que hoje, as relações entre tempo x espaço são cada vez mais
fluidas e dinâmicas. Consegue-se chegar fisicamente a locais remotos com muito mais
facilidade que antigamente; virtualmente, basta um simples acesso à internet e um clicar de
botões que se está presente a qualquer local do globo. O meu projeto de pesquisa é justamente
trabalhar essa racionalização máxima da “compressão espaço x tempo” (Harvey) através da
técnica, sob um viés crítico. Os entregadores por aplicativo (uber, ifood) deslocam-se
diariamente sobre os mais variados espaços submetidos a uma plataforma que
ininterruptamente calcula e recalcula rotas para que a mercadoria – que pode ser entendida,
também, como o próprio entregador em movimento, afinal ele torna-se uma mercadoria –
desloque-se em menos tempo possível entre o entregador e o consumidor. Tudo isso é
possível graças a tecnologia a serviço das reproduções capitalistas, que aniquila o espaço por
meio do tempo, devido as altas tecnologias empregadas a serviço da fluidez da mercadoria no
espaço físico e da comunicação que extingue qualquer relação de tempo x espaço no
ciberespaço, fazendo com que a mercadoria transite entre estes dois espaços interligados e em
sintonia pela profusão máxima da técnica científica e informacional.
A convergência dos momentos corre em paralelo ao desenvolvimento das técnicas,
principalmente aquelas destinadas a velocidade e da quantificação do tempo. O avanço
tecnológico viabiliza o deslocamento mais rápido do homem no espaço e viabiliza que as
mensagens circule de forma instantânea, o ponto principal de análise do meu projeto, tendo o
objeto de estudo os entregadores por aplicativo. O espaço local torna-se global, os
entregadores estão disponíveis em todos os lugares a qualquer momento, basta um simples
comando remoto pela internet e eles são acionados, invertendo as relações de subserviência
entre homem x máquina. A máquina não está a serviço do homem fazendo com que este se
emancipe e torne-se mais livre, nem a serviço do espaço criando locais em que esta sociedade
possa repousar e ter momentos de lazer, porém o inverso: a máquina tem o poder de controlar
o homem através das suas informações e funções e o espaço racionalizado a servir de meio
físico para que está máquina opere com maior fluidez e faça com que os produtos circulem
por ele o mais rápido possível.
A técnica dominou o mundo a serviço do capital e a geografia, no início, teve papel
fundamental na consolidação. Agora a geografia é peça chave na compreensão dessa lógica
exploratória e apartada de qualquer resquício lógico, afinal o espaço não pode ser concebido
para que somente os privilégios do capital possa usufruí-lo do forma satisfatória.
QUESTÃO ESPECÍFICA: 1 - 6759

O capitalismo industrial deu-se início no século XVIII, na Inglaterra, pela nova forma
de produção que foi instaurada pelas fábricas. A fábrica rompe com qualquer noção anterior
de produção e revoluciona para todo o sempre o mundo: a fábrica é responsável por marcar
um novo mundo. Suas máquinas inovadoras, a concentração da força de trabalho confinada
em grandes galpões controlados pelos ritmos das tecnologias, a produção em massa e em série
de produtos, a supressão do tempo natural ao tempo artificial, ou seja, o ritmo de produção
não passaria mais a ser determinado pelas condições naturais de tempo e sim a natureza seria
condicionada ao imperativo de produção fabril determinaram o mundo novo que estaria a
chegar. O Iluminismo foi responsável primeiro por essa concepção de fábrica como sendo o
imperativo máximo social, que o progresso técnico das fábricas levariam à emancipação
social, que as mudanças no mundo poderiam ser empenhadas pelas fábricas. A fábrica nasce
no imaginário social como o único modo de alcançar o progresso. Ser moderno é ter fábricas
trabalhando a todo momento, em todos os lugares, produzindo cada vez mais para todos, em
todos os lugares.
Marx, no Grundrisse, afirma que a agricultura não poderia ser palco da instauração e
da profusão do capitalismo na sociedade à época, afinal o ritmo natural do campo, até então,
imperava sobre os homens que não detinham conhecimento à época para controlar a natureza
e fazê-la refém ao modo de produção que surgia: o capitalismo não podia iniciar pelo campo,
pela agricultura. Seria necessário destituir as relações com o campo, dissolver toda e qualquer
relação da terra. A fábrica entra em cena, então, como um lugar apartado de todas as relações
sociais que imperavam até então. Enormes galpões que detinham o seu próprio tempo, o seu
próprio ritmo, o seu próprio modo de operação, invertendo toda a lógica qual a sociedade
constitui-se.
A fábrica, então, começa a lançar à sociedade produtos em quantidade até então jamais
vistas e toda lógica de produção e reprodução passa a ser condicionada por ela. Obviamente,
com um capitalismo muito incipiente ainda, alguns locais não eram afetados pela dinâmica e
pelos consequências fabris, mas configurações locais e regionais foram completamente
modificadas por ela. Era necessário que reformulações espaciais fossem feitas para que os
produtos produzidos por ela chegassem mais rápido a outros pontos, aumentando ainda mais o
fluxo das mercadorias por ela criadas. O espaço, então, é reconfigurado a atender essa nova
dinâmica: ferrovias são abertas, estradas criadas, sistemas de transporte ao fluxo de
mercadorias, enfim. A fábrica irrompe como uma forma jamais vista e modifica tudo a sua
volta: desde as relações de trabalho, a noção de tempo, o espaço, a natureza, o ser humano.
O sistema fabril que data do até os anos 1970, em média, ficou conhecido como
sistema fordista de acumulação. Henry Ford foi o responsável por aprofundar o sistema de
produção fabril e colocar as esteiras de produção à produção, que foi definida como produção
em massa, que ficou conhecida como um método moderno capaz de fabricar grandes
quantidades de um mesmo objeto, mercadoria, de forma padronizada. O fort

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