Você está na página 1de 14

SISTEMA DE ENSINO A DISTÂNCIA

CURSO DE LETRAS

PRODUÇÃO TEXTUAL
Interdisciplinar individual - PTI

BRASIL
2020
PRODUÇÃO TEXTUAL
Interdisciplinar individual - PTI

Trabalho apresentado à Unopar, como requisito


parcial à aprovação no 8° semestre do Curso
de Letras.

BRASIL
2020
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
DESENVOLVIMENTO ................................................................................................ 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 11
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 13
3

INTRODUÇÃO

O presente trabalho interdisciplinar traz como tema uma leitura


comparativa dos poemas:

 "Poema de Sete Faces", de Carlos Drummond de Andrade,


publicado na obra Alguma poesia (1930) e;
 “Com Licença Poética” de Adélia Prado, publicado na obra,
Bagagem (1993).

O desígnio do trabalho está em averiguar, na estrutura poética de cada


poema, os aspectos que tendem a veicular um diálogo entre os textos.
Na problemática, será buscado subsídios teóricos em apontamentos de
Koch (2008), Perrone Moisés (2005) e Sant’Anna (2007), dentre outros estudiosos
que tratam da intertextualidade, um princípio possível de se identificar nos textos
poéticos citados, possibilitando que se estabeleça um diálogo entre si.
Como síntese, compreendendo a literatura como um campo em que a
linguagem requer uma análise mais cuidadosa, por ser uma área de difícil
entendimento pelo modo como a linguagem é posta, buscaremos desenvolver uma
leitura à luz da intertextualidade explícita, uma vez que esta se apresenta como
um importante recurso de linguagem que evidencia o caráter multifacetado e
dialógico do discurso, que pode ser verificado através da leitura comparativa entre
duas ou mais obras da mesma área do conhecimento.
Pensar em intertextualidade exige de certa forma retomar o conceito dado
pelo pensamento bakhtiniano, o dialogismo - princípio constitutivo da linguagem do
qual se derivam, em síntese, duas noções: o diálogo entre interlocutores e o
diálogo entre textos. O dialogismo é um princípio que considera, a partir do
pressuposto teórico da interação, a presença do outro no processo comunicativo,
quer dizer, na enunciação, aqui entendida como produto da interação verbal, de
forma a linguagem ser considerada dialógica. Nessa perspectiva, Bakhtin (1992, p.
123) observa que:

“a verdadeira substância da língua não é constituída por


um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação
4

monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção,


mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da
enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim
a realidade fundamental da língua.”

Deste modo, o discurso escrito é de certa maneira parte integrante de uma


discussão ideológica em grande escala, uma vez que ele responde, refuta,
confirma, antecipa as respostas e objeções, procura apoio, etc. de modo que o
diálogo, tanto exterior, na relação com o outro, como no interior da consciência, ou
escrito, realiza- se na linguagem, quer seja em relações dialógicas que ocorrem no
cotidiano, quer sejam em textos artísticos ou literários.
Ao explorar a diversidade textual, o professor aproxima o aluno das
situações originais de produção dos textos não escolares, como situações de
produção de textos jornalísticos, científicos, literários, médicos, jurídicos, etc. Essa
aproximação proporciona condições para que o aluno compreenda como nascem os
diferentes gêneros textuais, apropriando-se, a partir disso, de suas peculiaridades, o
que facilita o domínio que deverá ter sobre eles.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, a
diversidade textual que existe fora da escola pode e deve estar a serviço da
expansão do conhecimento letrado do aluno. (PCN, 1997, p.34). Sabe-se que a
interação humana pela linguagem está intrinsecamente associada aos gêneros
textuais, dado que se fala e se escreve por meio deles. Assim, interpretar um texto
adequadamente implica, em muitos casos, perceber a que gênero ele pertence para,
a partir de então, fazer previsões acertadas de sentido. Dessa forma, é preciso que o
sujeito leitor se posicione de forma diferenciada diante de um texto científico ou
informativo e de um texto humorístico, por exemplo. No entanto, a despeito da
necessidade de uma postura orientada nesse viés, percebe-se que, muitas vezes, os
sujeitos constroem equivocadamente, ou deixam de construir, os sentidos de certo
texto, além de não identificar/compreender aqueles que suscitam leituras não
explicitadas na superfície textual, como ocorre com os textos de caráter humorístico.
Vale notar que, como comprovam os estudos sobre o trabalho escolar com a
língua e a linguagem, compreender o sentido de um texto não é privilégio de poucos
indivíduos que tenham nascido com um dom específico para isso. Tampouco é por
meio de inúmeras leituras que se alcança uma interpretação adequada. Como
5

explica Fiorin (2013), a sensibilidade para a leitura deve ser desenvolvida e


ensinada, uma vez que a compreensão está associada a traços a serem observados
no texto, onde se inclui a questão do gênero textual. Também os conhecimentos de
mundo do leitor são essenciais nessa tarefa, já que é a partir deles que o leitor faz
inferências e tece relações entre o que o texto diz e o que ele conhece/sabe sobre o
que está sendo dito, atribuindo, assim, um sentido ao texto.
6

DESENVOLVIMENTO

É frequente que um texto retome passagens de outro. Diferentemente de um


texto de caráter científico, o qual cita outros textos de forma explicita o texto literário
cita outros textos de forma implícita, o escritor não indica o autor e o livro donde
retira as passagens citadas. Essa citação de um texto por outro que dialoga entre os
textos é chamado de intertextualidade. Quando um texto faz citação de outro texto
sua intenção é reafirmar ou inverter, contestar e deformar alguns sentidos do texto
citado, para polemizar com ele. E, nesse sentido, o papel da semiótica definida por
Diana Luz Pessoas de Barros é descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz
para dizer o que diz, analisando de forma minuciosa os diversos textos construindo-
lhes o sentido usando o jogo da intertextualidade e o contexto da sociedade e da
história.
Já, segundo José Luiz Fiorin, para construir o sentido do texto, a semiótica
concebe o seu plano de conteúdo sob a forma de um percurso gerativo de sentido,
que é estabelecido em três etapas. A primeira etapa do percurso recebe o nome de
nível fundamental; a segunda de nível narrativo e a terceira de nível de discursivo.
Para entender melhor o papel do percurso gerativo na construção semiótica
do sentido do texto é interessante associarmos com os textos em análise. No nível
fundamental as categorias são determinadas como positivas ou eufóricas e
negativas ou disfóricas. No texto de Drummond, um “anjo torto” é disfórico, porque
concede um futuro péssimo para o sujeito; no texto de Adélia, um “anjo esbelto” é
um elemento eufórico, porque concede um futuro próspero ao eu-lírico
No nível narrativo os dois textos possuem uma mesmo estrutura, com as
formas verbais em primeira pessoa no pretérito imperfeito do indicativo e no
presente do indicativo, predominando o segundo. O nível narrativo se caracteriza
pela transformação, isto é, uma passagem de um estado inicial para um estado final,
no caso dos textos em análise, eles são descritos de forma linear. Dentro do nível
narrativo, os enunciados podem ser agrupados em fases distintas: manipulação (um
personagem induz o outro a fazer alguma coisa); competência (o sujeito do fazer
possui um poder ou um saber); performance (o sujeito do fazer executa sua ação); e
sanção (constatação de que a performance se realizou).
Nos textos em questão a manipulação provém do “anjo torto” e do “anjo
esbelto”. Eles manipulam o destino dos sujeitos os quais aceitam passivamente.
7

Na fase da competência o eu-lírico, sujeito de estado, recebe do “anjo”,


sujeito do fazer, seu destino próspero ou errante. Na performance, a previsão de
cada anjo foi concretizada. No Poema de Sete Faces, o poeta se via injustiçado
diante do mundo e do abandono de Deus, firmando com isso a fala do anjo: “vai ser
gauche na vida”; em Com Licença Poética, o eu-lírico é um sujeito realizado,
conforme previu o “anjo esbelto”.
E, finalmente na sanção, foi constatada a realização do desempenho, o qual
é percebido no decorrer da leitura dos poemas, em que o eu-lírico descreve sua sina
promissora ou de fracassos.
No nível discursivo tem-se uma debreagem enunciativa, em que o sujeito da
enunciação se utiliza do discurso indireto. Nesse nível, ficamos mais próximos da
manifestação textual, pois, é aqui que se desenvolve o tema dos textos que são
expostos por meio de figuras (metáforas). Diante disso, é interessante analisar
detalhadamente a temática desses textos.
No Poema de Sete Faces, o poeta retoma a passagem bíblica referente à
morte de Cristo. Ele fala de vários assuntos: da infância, do desejo sexual
desenfreado dos homens, questiona sobre o seu próprio eu e faz uma cobrança a
Deus. Ele mostra de modo metafórico uma só realidade, a sua visão
desesperançada diante do mundo. Drummond se utiliza de um estrangeirismo
francês a palavra “gauche”, que corresponde o esquerdo em português. O poeta se
via como “gauche”, “torto”, em face de si e do mundo, ele não consegue se situar em
um contexto social. O seu referencial é o seu próprio eu insatisfeito, buscando,
desejando, retraindo-se. Por isso ele cobra: “Meu Deus, por que me abandonaste/ se
sabias que não era Deus/ se sabias que era fraco”. Ele é esquecido por Deus e
termina o poema “comovido como o Diabo”, depois de beber e de relembrar sua
triste realidade. No entanto, antes de finalizar ele afirma que apesar de se chamar
Raimundo que significa: “protetor, poderoso, sábio, indica uma pessoa que tende a
se isolar, pois é muito rigorosa consigo mesma e supervaloriza as virtudes dos
outros. Mas, quando se conscientiza da sua própria importância, torna-se capaz de
dar apoio e conselhos valiosos a todo mundo”, só serviria para rimar com o mundo,
não para solucionar seus problemas.
A mineira Adélia Prado parodia o poema de Drummond, podendo ser
percebido no próprio título. Ela pede licença para entrar no universo de Drummond e
para inverter o sentido do Poema de sete faces. O “anjo torto” é transformado num
8

“anjo esbelto”, já não vive mais na sombra, agora toca trombeta, deixando de
anunciar que alguém será gauche na vida, mas ao contrário, vai carregar bandeira,
ter uma posição de destaque entre os demais.
Diferentemente de Drummond, que questiona a Deus o porquê do seu
desprezo, Adélia Prado afirma que “dor não é amargura” e que “ser coxo na vida é
maldição para homem, mulher é desdobrável”.
Enquanto no texto de Drummond há uma visão masculina extremamente
pessimista, já no texto de Adélia há uma visão feminina positiva. Ela transforma o
texto de Drummond num poema que exalta a mulher, que aceita os “subterfúgios
que me cabem/ sem precisar mentir”. Ela classifica a mulher com ser desdobrável,
aceitando o seu papel de reprodutora de gerações, contudo num parto sem dor.
Diferentemente do homem do Poema de Sete Faces que acaba preferindo
embebedar-se a enfrentar os obstáculos impostos pela vida.
É perceptível que o eu-lírico apresenta fatos sociais da época, portanto,
justiça-se a insatisfação, sendo um ponto marcante da época em que o poema de
Drummond foi escrito. Na quinta estrofe o eu-lírico questiona a Deus e mostra sua
fraqueza. Enquanto, na penúltima estrofe, o eu-lírico tende a discutir a solução de
seu mundo gauche, de anjos tortos, sem Deus, de tantas pernas coloridas e também
de outras tantas máscaras que se fazem rostos. Contudo, semelhante à
incapacidade da rima em dar uma solução ao mundo, o eu-lírico também não vê
muito que fazer, a não ser reconhecer que o seu coração seria capaz de dar conta
desse mundo. Portanto, o anjo do poema de Drummond é um ser das trevas e
pessimista, enquanto o poema de Adélia o anjo é um ser de luz e otimista,
terminando de maneira positiva o poema.
Nota-se que os dois poemas apresentam a mesma temática, pautada por
um sentimento de insatisfação com a realidade da qual faz parte, através dos
sentimentos de indiferença, solidão e abandono. Isso tudo causado por desilusões
vivenciadas por eles (o eu-lírico). É certo que os poemas apresentam pontos afins,
tais como a forma autobibliográfica, a noção de insatisfação experimentada, com
foco para o abandono e a solidão. Entretanto, o primeiro é de autoria masculina e
trás um eu-lírico masculino, o segundo é de autoria feminina e trás um eu-lírico
também feminino, o que de antemão já justifica a constituição de uma visão
diferente de mundo.
Já a partir da primeira estrofe tem-se a característica de proximidade logo
9

reconhecível por um leitor atento e conhecedor da intertextualidade explícita, no


caso, a paródia, que é um recurso presente na intertextualidade, com fins
específicos como é apontado por Bakhtin (1997), em ser a paródia “o mundo às
avessas” tal qual espelhos deformantes que alongam, reduzem e distorcem em
diferentes sentidos e em diferentes graus.
O poema de Drummond apresenta um eu-lírico masculino e insatisfeito
com sua realidade, mas fraco, e questionando a Deus sobre sua condição perante
a sociedade, na qual ele está inserido, quer dizer, um eu-lírico pessimista. No
entanto, apenas questiona a respeito de sua existência para com “Deus” sem
nenhuma possibilidade de mudá-la.
Na segunda estrofe, do poema de Drummond, o eu-lírico é apresentado
como um ser que é influenciado pelos seus desejos sexuais, e percebemos a
presença de metáforas, que é um tipo de figuras de linguagens bastante usado na
estruturação de poemas. Já nas terceira e quarta estrofes, o eu-lírico é solitário, e
vive isolado das pessoas, e por isso, questiona as coisas.
Ao contrário da imagem pessimista do narrador masculino do poema de
Drummond, o feminino de Adélia é positivo e não encara a dor como amargura. Ela
aceita o seu papel de reprodutor, afirma “cumprir a sina”, e aceitar os subterfúgios
que lhe cabem, porém “sem precisar mentir”. Revela uma forma de agir consciente,
ao afirmar “... o que sinto escrevo. Cumpro a sina. /Inauguro linhagens, fundo
reinos”.
Assim, os dois poemas trazem uma temática pautada na crítica social, o eu-
lírico (masculino e feminino) transmite ao seu modo certo repúdio as atitudes dos
outros, assim também possibilitam uma reflexão questionadora a respeito das
atitudes que deverão ser tomadas para mudar essa realidade vivenciada. O uso de
linguagem subjetiva, a fragmentação da forma, o uso de figuras de linguagem, são
recursos utilizados cada qual ao seu modo pelos poemas. Ao passo que o poema de
Drummond trata de um ser humano em que questiona sua realidade como um
autorretrato, quer dizer que ele apresenta seu ponto de vista com relação à
sociedade como sendo apenas mais um na multidão que está impedido de seguir
certos impulsos, sem ter nenhuma forma de apoio, nenhuma forma de liberdade,
privado de qualquer recurso, a poesia de Adélia Prado, de forma dramática e irônica,
expressa a fragilidade da mulher, na condição dos "subterfúgios" que lhe cabem, tais
como casar-se, ter filhos, ser dona de casa, mas ao mesmo tempo exalta a
10

capacidade de aceitar a sua condição perante a sociedade na qual ela está inserida,
uma sociedade machista e prepotente.
Diante desse enfoque, podemos perceber o quanto Adélia Prado é otimista,
no início do texto, o anjo esbelto prever seu futuro próspero. Ela institui o discurso
feminino em contraposição o de Drummond que utiliza o discurso masculino com
característica melancólica. É interessante lembrar que o discurso masculino e
feminino segundo alguns linguistas, é resultado de uma construção social e cultural,
nada tendo a ver com o instinto, a genética ou com o determinismo da natureza.
Os dois textos possuem os versos livres e linguagem coloquial, portanto, são
antirretóricas e possui a mesma estrutura assimétrica, os dois autores são
brasileiros, produziram seus textos em épocas não tão distantes, sendo que
Drummond é modernista e Adélia Prado é contemporânea. Tratando do nascimento
para a vida e também para a poesia esses textos apresentam semelhanças e
também discordância. Drummond é metafórico e sua temática negativa e pessimista
está em todo o poema. Adélia Prado se utiliza da paródia para expressar a sua visão
feminina positiva, distorcendo o poema de Drummond.
Explorando esses textos linguisticamente, segundo a Análise do Discurso,
os sujeitos produzem um discurso já em condições dadas, estabelecidas por uma
formação discursiva correspondente. Podemos dizer também que o texto de Adélia
foi construído a partir do discurso do texto de Drummond para negar, afirmar ou
acrescentar. Segundo Maingueneau, discurso pode ser construído de várias formas
de paródias, paráfrases, ironia, pela imitação e várias outras formas.
11

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante disso, a leitura comparativa entre o “Poema de Sete Faces” de


Drummond e o poema “Com Licença Poética” de Adélia Prado, pelo viés da teoria da
intertextualidade explícita, denominada paródia, leva-nos a identificar que os dois
poemas mantém uma proximidade logo observada no título do poema de Adélia
Prado, uma forma de o eu-lírico pedir licença ao texto anterior para desconstruí-lo,
tendo-o como base para sua estruturação.
Contudo, a intertextualidade é instantaneamente perceptível logo nos
primeiros versos. Verificamos que ambos os poemas são marcados pela presença
de simbologias: o anjo de Adélia Prado é esbelto enquanto que o anjo
drummoniano é torto e “desses que vivem na sombra”. O poema de Adélia Prado
evidencia a superioridade feminina em relação à fraqueza masculina. Enquanto o
poema de Drummond expõe os desejos sexuais desenfreados dos homens, o da
Adélia apresenta o poder feminino em resolver os problemas da vida sem precisar
se embriagar. Drummond cobra a razão de seu abandono por Deus e Prado afirma
que a dor não é amargura.
No “Poema Sete Faces”, o eu-lírico masculino é apresentado como
pessimista, insatisfeito e condicionado a sua realidade, já em “Com licença
poética”, ao contrário, há a presença de um eu-lírico feminino disposto a mudar
sua condição atual, ao demonstra ser otimista e esperançoso em relação a sua
condição feminina.
Assim, apesar de muito próximo, os poemas apresentam aspectos
bastante distintos que chamam a atenção. Os resultados verificados demonstram
a importância do método estrutural, bem como a intertextualidade na forma de
paródia, característica relevantes da poesia moderna/contemporânea e uma forma
de unir estrutura estética e história. Aspecto este bastante relevante para se
pensar em um ponto que adquire destaque na relação entre os poemas: o fato de
o primeiro ser de autoria masculina e trazer um eu-lírico masculino e o segundo
ser de autoria feminina e trazer um eu-lírico também feminino, o que de antemão
já justifica a constituição de uma visão diferente de mundo. Tem-se aqui um
aspecto relevante para se pensar também a questão da mulher na sua condição
de ser excluída da escrita em função da sempre existente predominância
masculina na literatura.
12

Para além dessa relação com a poesia de Drummond, ao que parece


Adélia cria a imagem de uma mulher-poeta forte e pronta para obter uma posição
de destaque na literatura brasileira, uma vez que o desafio maior do poeta é o de
dar sentidos especiais às palavras, demonstrando a maneira como ele vê o
mundo, como estabelece um contato e uma inter-relação com o mesmo.
O poema de Adélia e relação ao poema de Drummond sua estrutura é bem
diferente, enquanto o poema de Drummond é composto de estrofes e o poema de
Adélia não tem estrofes apenas versos.
Destaca-se, por fim, que as análises aqui desenvolvidas esboçam apenas
algumas (e não a única) possibilidades de exploração dos sentidos, pluralidade que
pode ser estendida aos mais diversos gêneros textuais. Espera-se, nesse contexto,
que este trabalho também possa contribuir para qualificar a prática pedagógica de
ensino da Língua Portuguesa, levando a desenvolver estratégias que formem um
leitor competente, que vai além da superfície textual e encontra os sentidos latentes.
Refletiu – se também a necessidade que tem dentro do universo escolar
em saber que o educador tem o papel de preparar e transformar o educando em
um leitor consciente. Portanto é indispensável à motivação do educador para com
seus educando, onde a mesma irá despertar o gosto pela leitura e também a
participação frequente nas aulas.
13

REFERÊNCIAS

ANDRADE C, Drummond. Alguma Poesia. Rio de Janeiro. Record. 2003.


BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiésvski. Trad. Paula Bezerra, 2ª ed.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação; Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: Língua
Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CANDIDO, Antônio. Os Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e


a transformação dos seus meios de vida. São Paulo, 8°ed. Ed. 34, 1997.
ECO, Umberto. Ironia Intertextual e Níveis de Leitura. In: ECO, Umberto. Sobre
literatura. 2ª. ed. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2003.

FIORIN, José Luiz. Elementos de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto,


2ªedição, 1990. -Barros, Diana Luz Pessoa de. Teoria Semiótica do Texto. São
Paulo: Ática,1990.

FIORIN, José Luiz. Polifonia Textual e Discursiva. In: BARROS, Diana L. Pessoa
de; FIORIN, José Luís (org). Dialogismo, polifonia, intertextualidade. São Paulo:
USP, 2003.

GRAÇA, Paulino. Intertextualidades: Teoria e Prática. Belo Horizonte: Editora Lê, 4ª


edição, 1998.

KOCH, Ingedore G. Vilaça, Anna Christina Bentes, Mônica Magalhães


Cavalcante. Intertextualidade: Diálogos Possíveis. ed.2. Ed. Cortez. São Paulo.
2008.

MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso.


Campinas: Pontes & Editora da Unicamp, 1989.

PERRONE MOISÉS, Leyla. Texto, Critica, Escritura, ed.3, Editora: Martins Fontes,
São Paulo, 2005.

VILLAÇA, Ingedore Koch. O Texto e a Construção dos Sentidos. São Paulo:


Contexto, 2ª edição, 1998. -Stam, Robert. Bakthtin: da teoria literária à cultura de
massa. São Paulo. Editora Ática, 1992.

Você também pode gostar