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A esperteza do PS e a ultrapassagem do
1% para a cultura New story
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Publicado originalmente em Jornal Público:
https://www.publico.pt/2019/09/27/culturaipsilon/opiniao/esperteza-ps-
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ultrapassagem-1-cultura-1888162
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Por um lado, está ainda praticamente em vigor, ao nível das políticas nacionais de
cultura, o modelo instaurado pelo ex-ministro da Cultura, Manuel Carrilho. Esta
proposta, nascida nos Estados Gerais do PS é ainda hoje aclamada pela esquerda
enquanto fundadora de uma pertinente orgânica administrativa para a cultura, bem
como de medidas tendencialmente dirigidas ao desenvolvimento da democracia
cultural, e de políticas culturais de proximidade, nomeadamente no eixo das políticas de
descentralização das artes do espectáculo ou na realização da primeira “Convenção
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30/09/2019 A esperteza do PS e a ultrapassagem do 1% para a cultura
Cultural Autárquica” (1999), onde terá sido, aliás, aprovada, a «magna carta» da
descentralização cultural.
Por outro, desde há décadas que o discurso em torno da “Democracia Cultural”, vem
estando presente nos meios políticos, artísticos, académicos e culturais, não se podendo
pois argumentar com o seu desconhecimento. Não obstante a defesa da cidadania
cultural e da participação cívica na definição de políticas culturais, estas tardam em
ganhar relevância nas propostas eleitorais e na governação da esquerda. Neste impasse,
o atraso na implementação de políticas culturais de terceira geração, direccionadas para
o “envolvimento directo dos agentes enquanto praticantes culturais de pleno direito e
não apenas confinados ao papel de consumidor e/ou receptor” (João Teixeira Lopes),
resulta já num preocupante distanciamento das conquistas políticas da nova esquerda
europeia propulsionada pelo Movimento dos Indignados (15M). Em Espanha, partidos
políticos como o Podemos ou Barcelona en Comú, vêm paulatinamente efectivando, na
prática, a viragem para políticas culturais sustentadas no entendimento da cultura como
bem-comum.
Julgamos que seja minimamente consensual o entendimento de que uma das principais
dificuldades centra-se em lidar com a percepção concreta de que em Portugal o poder
local se encontra refém dos respectivos aparelhos partidários, os quais estão mais
focados nas suas estratégias de dominação e manutenção do poder, em vez de
prosseguirem objectivos comuns de desenvolvimento endógeno e sustentável, no
desenvolvimento de culturas activas de cooperação e de subsidariedade ou no
aperfeiçoamento de processos de participação dos cidadãos na vida plural e diversa das
cidades. Que propostas existem para que os museus, as galerias ou os teatros municipais,
contribuam efectiva e quotidianamente para a transformação e para a melhoria das
condições de cultura, para a reflexão e criação sistemática e regular de projectos
colectivos ou para a diversidade e diálogo intercultural? Ou seja, como fazer com que os
serviços públicos de cultura descentralizados superem o mero papel ornamental a que
foram sujeitos durante décadas pela instrumentalização político-partidária?
Uma coisa é pretender que este aumento para 1%, 2% ou 3% sirva para manter o padrão
de políticas culturais baseado na democratização/acesso, aumentando-se a distribuição
de receitas pelos serviços públicos, entidades e organismos do Estado central já
existentes, o que incluiria obviamente maiores dotações para o financiamento público às
artes e à salvaguarda do património. É certo que isso contribuiria, de algum modo, para
a melhoria do serviço público de cultura. Mas que ideias novas temos para a adequação e
resposta dos serviços públicos perante os desafios complexos do mundo actual, diante
dos ataques em todas as frentes do capitalismo de catástrofe, no auge do
aceleracionismo tecnológico e no limiar de sobrevivência da humanidade? Que políticas
culturais queremos, afinal?
No âmbito das parcerias entre Estado central e administração local, a nossa proposta
passa pela estruturação de um plano para a requalificação das políticas culturais locais
(de proximidade), o qual seria implementado entre o governo e os municípios aderentes,
através de protocolos associados ao respectivo suporte financeiro incluído no Orçamento
de Estado para a Cultura. Os municípios teriam de se comprometer a desenvolver
políticas e estratégias participadas e publicamente discutidas, conjugando princípios e
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30/09/2019 A esperteza do PS e a ultrapassagem do 1% para a cultura
valores de democracia cultural e de direitos culturais e humanos (amplamente
divulgados pela Agenda 21 da Cultura).
mediação, programação…);
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