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COMPORTAMENTO SENSORIAL NO

AUTISMO: COMO TRABALHAR


30 de ago de 2017

Sensorial – Sons, luzes, texturas, movimentos, toques, sabores.


Tudo aquilo que causa uma experiência sensorial pode impactar no comportamento do
indivíduo que tem Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Em um mundo regido por estímulos visuais e auditivos – de diferentes tipos e intensidades
-, pode ser um tanto quanto difícil compreender o quão incômodo e até restritivo – do
ponto de vista cognitivo, social e de comunicação – podem ser estas sensações para o
autista – sobretudo, na infância, período de descobertas quanto às suas habilidades e,
também, às possíveis fragilidades.
No início da década de 1970, um terapeuta ocupacional e neurocientista chamado A. Jean
Ayres, descreveu esta condição de “sensibilidade” como uma “disfunção de integração
sensorial”, em referência a essas dificuldades com atividades cotidianas.
O que para alguns é o toque da buzina de um carro, para o autista pode soar como um
barulho alto, que lhe causa desconforto e perturbação. Para se ter uma ideia do que isso
significa, que tal vivenciar um pouco deste universo?! Convidamos a assistir este vídeo da
“The National Autistic Society” que apresenta como uma sobrecarga sensorial pode se
parecer para o autista: https://www.youtube.com/watch?v=r1CqboCzxSc
 

Integração sensorial
As dificuldades sensoriais são reconhecidamente uma característica de TEA, incluída
como critério diagnóstico desta condição. São consideradas um fator de impacto
importante no comportamento do autista que, se não trabalhada, pode reduzir a
perspectiva de desenvolvimento. Um estudo publicado no ano de 2011 mostrou que
comportamentos sensoriais limitam a participação no trabalho, família e lazer.
Embora os receptores dos sentidos estejam localizados no sistema nervoso periférico,
acredita-se que o problema decorre da disfunção neurológica no sistema nervoso central –
o cérebro. Por isso, acredita-se que uma das maneiras de trabalhar o autista é por meio da
integração sensorial – que envolve atividades que acionam múltiplos sentidos ao mesmo
tempo. Segundo a Dra. A. Jean Ayres, a dinâmica centra-se principalmente em três
sentidos básicos, conforme apresentado em reportagem publicada no Autism Research
Institute:
 

 Tátil – referente ao toque, e a percepção de texturas


 Vestibular – estruturas dentro da orelha que detectam movimento e mudanças na
posição da cabeça e do corpo.
 Proprioceptivo – refere-se aos músculos, articulações e tendões que proporcionam
a uma pessoa uma consciência sobre a posição do corpo.

Embora esses três sistemas sensoriais sejam menos familiares do que a visão e a
audição, eles são fundamentais para nossa sobrevivência. Basicamente,nos permitem
experimentar, interpretar e responder a diferentes estímulos em nosso ambiente.
No autismo eles podem responder por reações como recusar a comer determinado
alimento por conta de sua textura; dificuldade de executar ações de movimento como subir
e descer escadas; e até mesmo de se sentar em uma cadeira ou usar uma colher para se
alimentar.
Estas experiências sensoriais podem gerar excesso de estimulação no cérebro o que torna
difícil para o autista organizar seu comportamento e se concentrar, ocasionando uma
resposta emocional negativa à estas sensações (tátil; vestibular e proprioceptivo).
A avaliação e o tratamento dos processos integrais sensoriais básicos devem ser
realizados por terapeutas ocupacionais e/ou fisioterapeutas, com apoio dos familiares do
autista.
De acordo com o Autism Research Institute, os objetivos gerais do terapeuta são: (1)
fornecer à criança informações sensoriais que ajudem a organizar o sistema nervoso
central, (2) auxiliar a criança a inibir e/ou a modular a informação sensorial e (3) ajudar a
criança no processamento da resposta aos estímulos sensoriais.
 

Afinal, como auxiliar a lidar com estímulos sensoriais?


No caso de sensibilidade visual – por exemplo, com luzes muito fortes, ou muitos objetos
e imagens uma sugestão é modificar o ambiente, reduzir a iluminação, oferecer óculos
escuros, entre outros meios e melhorar a experiência decorrente da observação do local.
Se o impacto é provocado por sons, é possível ajudar fornecendo protetores auriculares,
fechando portas e janelas para reduzir barulhos externos.
No caso de cheiros, você pode ajudar evitando usar perfume e tornando o ambiente livre
de fragrâncias que possam perturbar a pessoa.
Sobre o toque, avise a pessoa que você está prestes a tocá-la e procure sempre abordá-
la de frente para que ela possa vê-lo. Em quem tem sensibilidade ao toque, um abraço
pode ser doloroso em lugar de ser reconfortante. Modificar as texturas de alimentos, para
atender aquela que é aceitável Ex. batata para purê de batata. Permitindo que a pessoa
complete as próprias atividades (por exemplo, escovação e lavagem de cabelo) para que
eles possam fazer o que é confortável.
 

Desafios
Um dos aspectos que tornam a fragilidade sensorial no autismo difícil de estudar, no
entanto, é que os problemas sensoriais são variáveis. O que isso quer dizer? Uma criança
com TEA pode gritar toda vez que vai ao supermercado, enquanto outra criança pode
gostar de ir ao supermercado e empurrar o carrinho. Geralmente, estudos sobre autismo
não aprofundam nessas peculiaridades dos problemas sensoriais.
Para Mary Temple Grandin, portadora do espectro e considerada referência mundial em
autismo, sendo prova viva de que as características comuns do TEA podem ser
controladas e modificadas, embora haja na literatura científica pesquisas que reconheçam
e identifiquem a questão da deficiência sensorial no autismo, poucos aprofundam nas
especificidades de cada caso, o que, segundo ela, poderia levar a tratamentos mais
efetivos para aliviar a sensibilidade sensorial. “Seria mais fácil para um indivíduo com
autismo participar de atividades normais se seus problemas fossem efetivamente tratados
de acordo com suas necessidades específicas”, relatou ela no artigo “Treatments needed
for severe sensory sensitivity”, publicado em 2011, no site Spectrum News.
 

A experiência de Temple Grandin


Como forma de aliviar a ansiedade e a tensão, comuns a sua hipersensibilidade ao contato
físico de outras pessoas (o que para ela era uma experiência sensorial desagradável),
Temple desenvolveu em 1965 o que chamou de “máquina do abraço”, um dispositivo que
visava simular a sensação física de um abraço, limitando o espaço e pressionando o corpo
para gerar uma sensação de bem-estar e tranquilidade. Temple relata suas
experimentações no livro “Uma menina muito estranha”
Para saber mais sobre Mary Temple Grandin acesse “Temple Grandin fala em entrevista
exclusiva para a Revista Autismo” (Revista Autismo – Edição 3 – online em 21 de
dezembro de 2012 – escrito por Carolina Rafols)
 

Referência
Schaaf R.C. et al. The everyday routines of families of children with autism. Autism.
2011. Vol 15, Issue 3, pp. 373 – 389. Disponível em
<http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1362361310386505?url_ver=Z39.88-
2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub
%3dpubmed#articleCitationDownloadContainer>
Hatch-Rasmussen C. Integração sensorial.Autism Research Institute. Disponível em
<https://www.autism.com/symptoms_sensory_overview>
Deweerdt S. Talking sense: What sensory processing disorder says about
autism.Spectrum News. 1 june 2016. Disponível em
<https://spectrumnews.org/features/talking-sense-what-sensory-processing-disorder-says-
about-autism/>
Sensory differences. The National Autistic Society. Disponível em
<http://www.autism.org.uk/sensory>
 

FONOAUDIOLOGIA E AUTISMO:
REDUZINDO DIFICULDADES DE
LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO NO TEA
11 de set de 2017

Você sabe qual o papel do fonoaudiólogo no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)?


Vamos compreender.
Uma das características do TEA é o comprometimento da linguagem (oral e escrita) e
comunicação (verbal e não verbal), sendo estes considerados os sinais que
frequentemente são os primeiros indícios de espectro do autismo.
E, é por meio da intervenção de um fonoaudiólogo no desenvolvimento da criança com
autismo que é possível reduzir impactos do TEA na audição e fala e ampliar a
independência cognitiva e funcional do autista, o que contribui para facilitar a interação
social.
A partir do diagnóstico de TEA é indicado que um fonoaudiólogo seja consultado assim
que o atraso ou dificuldade de comunicação for percebido. Uma vez que o déficit de
audição e linguagem no autista foi determinado, será possível iniciar ações para
desenvolver as habilidades necessárias no campo da comunicação.
Um fonoaudiólogo ajudará a criança a entender e usar as palavras. Ela poderá aprender a
perguntar e responder questões; pedir ajuda; começar ou encerrar uma conversa.
Este profissional também poderá trabalhar na leitura e escrita, possibilitando que o
indivíduo com TEA leia livros, conte histórias, escreva letras, palavras e frases.
Outra possibilidade que pode ser conduzida pelo fonoaudiólogos e trazer benefícios,
sobretudo para indivíduos com TEA considerados não verbais e com habilidades de
comunicação verbal comprometida, é a chamada “Comunicação Ampliada e Alternativa –
CAA” – uma técnica que inclui todas as formas de interlocução que podem ser usadas
para expressar pensamentos, necessidades, desejos e ideias – tais como expressões ou
gestos faciais, uso de imagens para ilustrar algo que se objetive expressar, entre outros.
A CAA pode oferecer um meio de comunicação efetivo para indivíduos com transtorno do
espectro do autismo, muitos dos quais não conseguem usar o discurso convencional de
forma eficaz. Entre as modalidades que podem substituir ou ampliar o discurso de uma
pessoa com TEA por meio da CAA, estão: uso de sinais emitidos por meio de sistemas
que incluem símbolos gráficos exibidos em placas de comunicação ou em livros, ou
dispositivos que dependem de tecnologia, como geradores de fala, incluindo tecnologias
móveis (computador, tablets ou outros dispositivos eletrônicos).
 
Quem é o fonoaudiólogo?
Conforme a definição do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) este é o
profissional “responsável pela promoção da saúde, prevenção, avaliação e diagnóstico,
orientação, terapia (habilitação e reabilitação) e aperfeiçoamento dos aspectos
fonoaudiológicos da função auditiva periférica e central, da função vestibular, da
linguagem oral e escrita, da voz, da fluência, da articulação da fala e dos sistemas
miofuncional, orofacial, cervical e de deglutição”.
Por ser o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) um distúrbio do neurodesenvolvimento
que afeta as pessoas de diferentes formas na área da sociabilização, comunicação e
comportamento, o fonoaudiólogo deve preferencialmente atuar em conjunto com uma
equipe multidisciplinar que reúna especialistas como pediatras, neurologistas, terapeutas
ocupacionais e fisioterapeutas, entre outros.
 
Agende-se: 1ª edição do Congresso Internacional sobre o TEA (CONINTEA)
O papel do fonoaudiólogo no autismo é um dos assuntos que será abordado entre os
dias 12 a 16 de setembro de 2017 na 1ª edição do Congresso Internacional sobre o
TEA (CONINTEA). O encontro é totalmente online e gratuito e contará com palestras com
Terapeutas Ocupacionais, Médicos, Fonoaudiólogos, Pedagogos, Psicólogos,
Pesquisadores, Pais e Familiares. Confira a programação e inscreva-se no
site http://conintea.com.br/
 
Leia também em Neuroconecta – na seção “Artigos” :
O que é Transtorno do Espectro do Autismo
Conheça as opções terapêuticas para o TEA
O papel do terapeuta ocupacional no TEA
 
Referências
CFFa. O que é a Fonoaudiologia. Conselho Federal de Fonoaudiologia. Disponível em
<http://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/>
Ganz JB. AAC Interventions for individuals with autism spectrum disorders: state of
the science and future research directions.Augment Altern Commun. 2015;31(3):203–
214. Disponível em
<http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.3109/07434618.2015.1047532?
journalCode=iaac20>. Acessado em 5 de setembro de 2017.
Iacono T, Trembath D, Erickson S. The role of augmentative and alternative
communication for children with autism: current status and future
trends. Neuropsychiatric Disease and Treatment. 2016;12:2349-2361.
doi:10.2147/NDT.S95967. Disponível em
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5036660/#b1-ndt-12-2349> Acessado em
5 de setembro de 2017.
Lau, Carol A. Pathways: Audiology Must Take its Rightful Place on the Autism
Team. Hearing Journal: February 2012 – Volume 65 – Issue 2 – pp 18,20
doi: 10.1097/01.HJ.0000411237.82369.02. Disponível em
<http://journals.lww.com/thehearingjournal/Fulltext/2012/02000/Pathways__Audiology_Mus
t_Take_its_Rightful_Place.9.aspx> Acessado em 5 de setembro de 2017.
What do SLPs do when working with individuals with autism? American Speech-
Language Hearing Association. Disponível em
<http://www.asha.org/public/speech/disorders/Autism/> Acessado em 5 de setembro de
2017.
 
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COMO DESENVOLVER HABILIDADES
26 de ago de 2017

Correr, jogar bola, escovar os dentes ou mesmo aprender a falar, caminhar e escrever.
Consideradas habilidades motoras, estas atividades podem representar um universo
desafiador para o indivíduo que tem Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Acredita-se
que a causa provável da manifestação de distúrbio motor tem origem nas conexões
anormais entre os neurônios – condição comum no TEA. Para se ter uma ideia, estima-se
que aproximadamente 80% das crianças com autismo apresentem dificuldade neste
campo.
Desde 1960 estudos demonstraram que as habilidades motoras ajudam as crianças a
aprender comportamentos sociais e de comunicação básicos. São fatores que estão
interligados. Estas chamadas “habilidades motoras” podem incluir  movimentos finos,
responsáveis por atividades como escrita e desenho; e grandes movimentos, também
conhecidos como habilidades motoras grossas, tais como andar, pular. Se não
desenvolvidas, podem interferir no comportamento social e de comunicação do autista –
inclusive impactando na capacidade de fala e de compreensão das palavras.
Uma vez que a infância é um momento muito importante e sensível no desenvolvimento e
na formação de muitos padrões motores finos e grossos, as primeiras intervenções devem
ser iniciadas neste período.
Promover brincadeiras simples, como desenhar com tinta guache, mexer com massinhas
de modelar, encaixar objetos em plataformas, podem inspirar a criança a desenvolver
habilidades motoras finas.
Já as grossas podem ser estimuladas por meio de ações como marchar, saltar em um
trampolim, jogar bola, dançar, andar de triciclos e bicicletas. Um estudo avaliou o efeito do
exercício físico sobre as habilidades motoras em crianças autistas. Além de fortalecer
músculos e melhorar a coordenação, também oferecem oportunidades de aprendizado
que podem impactar na capacidade de linguagem.
Motive o seu filho a praticar equilíbrio em atividades como caminhar sobre uma linha de
fita. Em sua casa, faça um caminho de obstáculos usando cadeiras, travesseiros, cordas e
caixas.
Uma vez que a criança experimenta sucesso, ele ou ela poderá se sentir motivada para
tentar outras práticas. A chave é se divertir. Então, lembre-se que: quando ajudar as
crianças com autismo a desenvolver habilidades motoras – um bom termômetro é você
considerar a atividade agradável – sobretudo do ponto de vista sensorial. Se você gostar
as chances de elas também são maiores.
Tenha em mente que as crianças com TEA também podem ser excessivamente sensíveis
a algumas texturas, sons, gostos e cheiros, de modo que os materiais que uma criança
gosta de interagir podem ser muito perturbadores para outras. Encontre o que funciona
melhor para o seu filho. Seja qual for a escolha, amor, carinho, paciência e perseverança
são ferramentas-chaves para alcançar êxito neste processo.
 
Referências
Kedro, M. Movement Activities for Autism. Livestrong. 13 jun. 2017. Disponível em
<http://www.livestrong.com/article/131666-movement-activities-autism/>
Autism spectrum disorders and motor skills. Skills For Action. Disponível em
<http://www.skillsforaction.com/autism-spectrum-disorders >
Hughes V. Motor problems in autism move into research focus. Spectrum News. 3 nov.
2011. Disponível em <https://spectrumnews.org/news/motor-problems-in-autism-move-
into-research-focus/#ref1 >
Piochon C., Kloth AD, Grasselli G., Titley HK, Nakayama H, Hashimoto K., Wan V.,
Simmons D., Eissa T., Nakatani J., Cherskov A., Miyazaki T., Watanabe M., Takumi T.,
Kano M., Wang SH., Hansel C.. Cerebellar plasticity and motor learning deficits in a copy-
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University of Chicago Medical Center. “Motor coordination issues in autism are caused by
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<www.sciencedaily.com/releases/2014/11/141124081032.htm  >.
Walle, Eric A.,Campos, Joseph J. Developmental Psychology, Vol 50(2), Feb 2014, 336-
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Rain, E. Autism and Children Motor Skills in Autistic Children. Disponível
em <http://autism.lovetoknow.com/Motor_Skills_in_Autistic_Children

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