Você está na página 1de 10

Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

arandanet.com.br

Curtos-circuitos assimétricos: uma


proposta de revisão da norma NBR
5410
12-16 minutos

De acordo com a norma NBR


5410:2004 [1], seção 5.3.5.5, todo dispositivo destinado a prover
proteção contra curtos-circuitos deve atender às duas condições
seguintes:

● A capacidade de interrupção do dispositivo deve ser no mínimo


igual à corrente de curto-circuito presumida no ponto onde for
instalado. (...)

1 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

● A integral de Joule que o dispositivo deixa passar deve ser


inferior ou igual à integral de Joule necessária para aquecer o
condutor desde a temperatura máxima de serviço contínuo até a
temperatura limite de curto-circuito, o que pode ser expresso por:

onde:

é a integral de Joule (energia específica) que o dispositivo de


proteção deixa passar, em ampères quadrados-segundo (A²s);

k²S² é a integral de Joule (energia específica) capaz de elevar a


temperatura do condutor desde a temperatura máxima de serviço
até a temperatura de curto-circuito, supondo-se aquecimento
adiabático. O valor de k é indicado na tabela 30 da norma [por
exemplo, 115 para condutores de cobre com isolação de PVC,
seção ≤ 300 mm², temperatura de regime 70°C, temperatura de
curto-circuito 160°C], e S é a seção do condutor (mm²).

Este enunciado da NBR 5410 está perfeitamente alinhado com a


IEC 60364 [2]. Neste ponto, porém, a norma brasileira aduz uma
nota, reproduzida a seguir:

“Nota – Para curtos-circuitos de qualquer duração em que a


assimetria da corrente não seja significativa, e para curtos-circuitos
assimétricos de duração 0,1 s ≤ t ≤ 5 s, pode-se escrever

I²t ≤ k²S²

onde:
I é a corrente de curto-circuito presumida simétrica, em amperes,
valor eficaz (A); t é a duração do curto-circuito, em segundos (s).”

2 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

Segue-se a tradução
do texto da IEC 60364 correspondente a essa nota:

“Para tempos de atuação do dispositivo de proteção < 0,1 s, onde


a assimetria da corrente é importante, e para dispositivos
limitadores de corrente, k²S² deve ser maior que a energia
específica (I²t) indicada pelo fabricante do dispositivo de proteção.”

E prossegue a referida norma IEC, em tradução livre:

“Para curtos-circuitos de duração até 5 s, o tempo t, no qual uma


dada corrente de curto-circuito eleva a temperatura do condutor
desde a temperatura máxima de serviço até a temperatura limite
de curto-circuito, pode ser calculado por aproximação pela
expressão:

t = (k ∙ S / I)²

onde:
t - duração do curto-circuito, em segundos (s);
S - seção do condutor (mm²);
I - corrente de curto-circuito presumida simétrica, em ampères,
valor eficaz (A); e
k - fator que considera a resistividade, o coeficiente de temperatura
e a capacidade térmica do material condutor, e as temperaturas
inicial e final. Os valores de k são dados na tabela 43A”
[correspondente à tabela 30 da NBR 5410].

Percebe-se que a norma IEC faz uma distinção de tratamento

3 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

entre curtoscircuitos interrompidos em tempo inferior a 0,1 s e


aqueles com duração de até 5 s, distinção inexistente na norma
ABNT.

Por que critérios distintos em função do tempo?

Uma consulta à literatura especializada da norma VDE 0100 [3],


equivalente alemã da NBR 5410, contribui para esclarecer essa
questão. A VDE está em plena consonância com os critérios
prescritos pela IEC 60364: para curtos-circuitos com duração
inferior a 0,1 s, compara-se a energia específica do dispositivo de
proteção com a energia específica que o cabo suporta; já na faixa
de 0,1 s a 5 s, calcula-se o tempo máximo admissível de
interrupção do curto-circuito compatível com a capacidade térmica
do cabo. Esses critérios visam a aplicação de dispositivos com
características diversas:

● Para tempos abaixo de 0,1 s, a norma IEC 60364 determina que


o valor I²t do dispositivo de proteção seja informado pelo fabricante
mediante curvas características que contemplem o efeito limitador
de corrente. Fusíveis tipo D e NH, por exemplo, têm características
extremamente inversas para correntes > 20 In, e podem limitar a
corrente a 1/10 do valor de crista presumido. Disjuntores conforme
IEC 60898 [4] também dispõem de uma versão (classe 3) com alta
limitação de corrente. A energia específica I²t para dispositivos
desse tipo (fusíveis e disjuntores limitadores de corrente) não pode
ser calculada corretamente devido à distorção da forma de onda,
devendo ser verificada por meio de ensaio.

● Aplicações com tempos até 5 s referem-se, por exemplo, a


disjuntores conforme IEC 60947-2 [5] não limitadores de corrente,
com extinção do arco na passagem por zero. Ou a fusíveis,
quando a corrente presumida for insuficiente para que o fusível

4 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

limite o valor de crista (Ik < 20 In), limitando apenas a duração da


falta. Nesse caso, o tempo máximo admissível (t) para um dado
valor de energia específica tolerado pelo cabo é calculado pela
expressão da IEC: t = (k ∙ S / I)².

Qual o tempo de duração da assimetria?


Além disso, há ainda uma questão conceitual. Circuitos típicos de
baixa tensão são predominantemente resistivos, com R >> X.
Nessas condições, a constante de tempo τ = X/(ω R) tende a zero.
A componente de corrente contínua, que é uma medida da
assimetria do curto-circuito, decai exponencialmente e em geral
desaparece no primeiro ciclo, em tempo inferior a 0,016 s. Caso o
dispositivo de proteção seja do tipo limitador de corrente, a

5 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

interrupção pode ocorrer em menos de 0,004 s, ou um quarto de


ciclo. Portanto, os curtos-circuitos assimétricos na faixa de 0,1 s a
5 s previstos na NBR 5410 não parecem ter sentido prático, como
demonstrado pela análise que se segue.

A figura 1 representa um exemplo hipotético de corrente de curto-


circuito assimétrico, enquanto a tabela I quantifica uma série de
parâmetros correlatos. Para os diversos valores de X/R (coluna 2)
foram calculados os fatores de assimetria (coluna 5) e os valores
de crista máximos de curto assimétrico (coluna 6). Para determinar
a duração da assimetria foram também calculadas as respectivas
constantes de tempo τ (coluna 7). Por definição, τ expressa o
tempo necessário para que a amplitude de uma grandeza que
decresce exponencialmente se reduza a 1/e ≈ 0,368 do seu valor
inicial. Logo, transcorrido um lapso de tempo equivalente a 5 ∙ τ
(coluna 8), o transitório de corrente contínua está praticamente
extinto, restando meros 0,7 % do seu valor inicial.

Das colunas 2 e 8 depreende-se, por exemplo, que para X/R = 0,1


a componente de corrente contínua desaparece em 1,33 ms; para
X/R = 1, esse tempo é de 13,26 ms – ou seja, esses curtos-
circuitos deixam de ser assimétricos em menos de um ciclo (coluna
9).

Inversamente, considere-se um curto-circuito com 100 ms de


duração e X/R = 10 (que denota reatância indutiva
propositadamente alta, atípica em redes de baixa tensão).
Sabendo-se que a constante de tempo τ é 26,53 ms, o valor
residual da componente contínua, consoante [6], pode ser obtido
da expressão:

Verifica-se que a assimetria da corrente, no instante t = 100 ms


após a inserção da falta, é de apenas 2,3% do valor inicial. Pode-

6 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

se inferir desta avaliação que a assimetria de curtos-circuitos com


duração > 0,1 s é irrelevante em redes de baixa tensão.

Nota – A tabela I baseia-se nas normas DIN EN 60909 / VDE 0102


[7]. Em artigo anterior [8], este autor analisa a primeira edição da
então IEC 909, originária da VDE 0102, um marco importante na
normalização. É oportuno recordar que a posição relativa da onda
de tensão (ângulo ψ) é determinante da assimetria máxima para
um dado fator de potência X/R (ângulo φ). O valor de crista da
corrente (ip) é máximo quando o curto-circuito tem início no
instante em que a onda de tensão está passando por zero (ψ = φ –
90°). Uma abordagem analítica desse mecanismo pode ser
apreciada nas referências [9] e [10].

Assimetria e efeito térmico da componente contínua

Para dimensionar a suportabilidade térmica das instalações, a


norma IEC 60909 [11] prescreve o cálculo da corrente térmica
equivalente de curto-circuito (Ith). Trata-se da corrente cujo valor
eficaz gera o mesmo calor que a corrente real de curto-circuito com
as componentes alternada e contínua – portanto, levando em conta
a assimetria. A corrente Ith é calculada a partir da corrente
simétrica inicial de curto-circuito I”k e dos fatores m e n, variáveis
em função do tempo. Pode-se escrever:

7 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

onde m é o fator que expressa o calor gerado pela componente


contínua, e n, o calor gerado pela componente alternada da
corrente. Na referida norma IEC, a exemplo da VDE 0102 [7],
esses fatores são representados por dois diagramas (figuras 2 e
3).

Para curtos-circuitos caracterizados como distantes do gerador


(nos quais as reatâncias subtransitória e transitória das máquinas
síncronas não têm influência sobre a amplitude da corrente de
falta), que constituem o caso geral dos circuitos de distribuição de
baixa tensão, o fator n é igual a 1. O fator m, por sua vez, é dado
por:

onde:
f - frequência nominal da rede (Hz);
Tk - tempo de duração do curto-circuito (s); e
k - fator de assimetria conforme IEC/VDE.

Para curtos-circuitos com duração Tk > 1 s, o fator m é igual a


zero.

Simulações publicadas na referência [12] demonstram que, para


curtos-circuitos distantes do gerador (n = 1), com fator de
assimetria k ≤ 1,6 e duração Tk > 0,1 s, o valor da corrente térmica
equivalente pode ser considerado idêntico ao da corrente simétrica
inicial de curto-circuito, e ao da corrente permanente de curto-
circuito: Ith = I”k = Ik.

Pode-se deduzir que, nas condições em apreço (k ≤ 1,6 e Tk > 0,1


s), o efeito térmico da assimetria da corrente de curto-circuito é
insignificante.

8 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

Conclusão

Considerando que, para proteção de condutores contra curtos-


circuitos com duração inferior a 0,1 s (inclusive por dispositivos
limitadores de corrente), o critério a ser satisfeito é a comparação
direta com a integral de Joule (I²t); e quando a duração do
fenômeno for superior a 0,1 s até 5 s aplica-se o cálculo do tempo
máximo admissível, convém fazer a devida distinção entre essas
duas situações práticas. Além disso, foi demonstrado que a
assimetria das correntes de curto-circuito com duração > 0,1 s é
em geral irrelevante em redes de baixa tensão. Recomenda-se,
portanto, harmonizar o texto da seção 5.3.5.5 da NBR 5410 com o
da seção 434.5 da norma IEC 60364-4-43.

Revendo edições anteriores da NBR 5410, é interessante constatar


que em 1980 o texto em discussão era idêntico ao da atual IEC
60364 (edição de 2008). A divergência ora apontada surgiu na
revisão de 1990 da norma ABNT.

Agradecimentos: O autor agradece aos engenheiros Hilton


Moreno, João Gilberto Cunha e Dr. Paulo Alves Garcia, pelas
frutíferas discussões e comentários sobre a temática deste artigo.

Referências
[1] ABNT NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão. Rio de
Janeiro, 2004
[2] IEC 60364 – Low voltage electrical installations – Part 4.43:
Protection for safety – Protection against overcurrent. Ed. 3.0.
Genebra, 2008
[3] Kiefer, G.; Schmolke, H. – VDE 0100 und die Praxis. VDE
Verlag GmbH. Berlim, 2017
[4] IEC 60898 – Electrical accessories – Circuit-breakers for
overcurrent protection for household and similar installations – Part
1: Circuit-breakers for a.c. operations. Genebra, 2016 [ABNT NBR

9 of 10 04/08/2020 15:45
Curtos-circuitos assimétricos: uma proposta de revisão da norma NBR... about:reader?url=https://www.arandanet.com.br/revista/em/artigo_tecn...

IEC 60898:2019]
[5] IEC 60947-2 – Low voltage switchgear and controlgear – Part 2:
Circuit-breakers. Genebra, 2016 [ABNT NBR IEC 60947-2:2013]
[6] Siemens – Tech Topics no 44: Anatomy of a short-circuit.
Siemens Industry, Inc. Wendell, NC, 2016. Disponível em
https://new.siemens.com/us/en/products/energy/product-support/t-
d-guardian-articles/anatomy-of-a-short-circuit.html
[7] DIN EN 60909-0 | VDE 0102 – Berechnung der
Kurzschlussströme in Drehstromnetzen – Teil 0: Berechnung der
Ströme. Berlim, 2016
[8] Mendes, Celso L.P. – Método de cálculo de curto-circuito
conforme IEC e VDE. Mundo Elétrico, São Paulo, março 1990, pp.
31-37
[9] Hartman, C.N. – Understanding asymmetry. IEEE Trans. Ind.
Appl., Jul/Aug 1985, pp. 842-848
[10] Reichenstein, H.W.; Gomez, J.C. – Relationship of X/R, Ip and
I to asymmetry in resistance/reactance circuits. IEEE Trans. Ind.
Appl., Mar/Apr 1985, pp. 481-492
[11] IEC 60909-0 – Short-circuit currents in three phase a.c.
systems – Part 0: Calculation of currents. Genebra, 2016
[12] Pistora, G. – Berechnung von Kurzschlussströmen und
Spannungsfällen. VDE Verlag GmbH. Berlim, 2016

10 of 10 04/08/2020 15:45

Você também pode gostar