Você está na página 1de 3

O QUE A FOLHA PENSA

Cores da violência
Desigualdade se reflete nos homicídios, concentrados em negros, pobres e jovens

Perícia de jovem morto em Fortaleza (CE) - Jarbas Oliveira - 7.dez.18

29.ago.2020 às 23h15

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2020/08/30/)

Registrou-se, no ano de 2018, uma mais que bem-vinda queda do


vergonhoso número de homicídios no Brasil, repetida com maior vigor no
ano passado. O detalhamento dos números, no entanto, revela
desigualdades cruéis nessa melhora.
Foram assassinados 58 mil brasileiros em 2018, o que correspondeu a uma
taxa de 27,8 por 100 mil habitantes. Do total de mortos, nada menos de
75,7% eram negros (pretos e pardos), segundo o recém-divulgado Atlas da
Violência 2020 (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/08/assassinatos-de-negros-aumentam-115-e-de-
nao-negros-caem-129-mostra-atlas-da-violencia.shtml), elaborado pelo Ipea e pelo Fórum

Brasileiro de Segurança Pública.

Uma década antes, em 2008, a participação dos negros no total de vítimas


de homicídio se mostrava significativamente menor, 65,5%. Dito de outro
modo, a violência fatal aumentou no período para os pretos e pardos,
enquanto caía para os demais grupos.

Não se pode afirmar que são sempre brancos a matar negros —inexistem
dados a respeito dos homicidas. Mas resta evidente a deprimente
vulnerabilidade dos segundos —que há dois anos perfaziam 55,8% da
população e 75% dos miseráveis— ao morticínio.

As desigualdades não se verificam apenas em cor e renda. A taxa de


assassinatos por 100 mil habitantes varia de 8,2 em São Paulo a 71,8 em
Roraima; chega a 60,4 entre jovens de 15 a 29 anos, mais que o dobro da
medida no país se consideradas todas as faixas etárias.

Homens constituem 92% das vítimas de homicídios; ainda assim,


entretanto, o Brasil ostenta a macabra estatística de uma mulher morta a
cada duas horas (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/08/brasil-teve-uma-mulher-assassinada-a-cada-
duas-horas-em-2018-aponta-atlas-da-violencia.shtml) .

Em sua totalidade, as cifras brasileiras são escandalosas em qualquer


comparação internacional, a despeito da ainda mal compreendida redução
nos últimos dois anos. E, o que é mais grave, existem sinais de nova piora
neste 2020.

Entre as hipóteses para a queda estão os esforços de governos estaduais no


combate à violência, a diminuição dos confrontos entre facções criminosas
e as mudanças demográficas, que levam a menor proporção de jovens na
sociedade.
No sentido oposto podem atuar os retrocessos, estimulados em especial
pelo governo Jair Bolsonaro, no processo de desarmamento da população. O
Atlas da Violência contou uma lei, 11 decretos e 15 portarias com incentivos
à disseminação de armas de fogo e munição.

Se as causas não parecem claras, é fácil prever quais serão os maiores


atingidos por um eventual recrudescimento dos assassinatos: os jovens,
negros e pobres.

editoriais@grupofolha.com.br (mailto:editoriais@grupofolha.com.br)

sua assinatura pode valer ainda mais


Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha? Além de ter acesso
a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas (conheça
aqui (https://login.folha.com.br/newsletter)). Também pode baixar nosso aplicativo
gratuito na Apple Store (https://apps.apple.com/br/app/folha-de-s-paulo/id943058711?
utm_source=materia&utm_medium=textofinal&utm_campaign=appletextocurto) ou na Google Play

(https://play.google.com/store/apps/details?

id=br.com.folha.app&hl=pt_BR&utm_source=materia&utm_medium=textofinal&utm_campaign=androidtextocurto)

para receber alertas das principais notícias do dia. A sua assinatura nos
ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!

ENDEREÇO DA PÁGINA

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/08/cores-da-violencia.shtml

Você também pode gostar