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DIREITOS REAIS

O conceito de direitos reais não é unívoco.

Pode ser perspetivado num sentido subjetivo ou num sentido objetivo.

Num sentido subjetivo: é o poder conferido pela ordem jurídica a um


sujeito para a tutela de um seu interesse

Poder jurídico: enquanto disponibilidade de meios jurídicos atribuídos a


uma pessoa determinada para a realização de interesses jurídico-privados,
mediante a afetação jurídica de certo bem.

Num sentido objetivo: enquanto expressão de um ramo de Direito Civil,


precisamente aquele que tem por objeto o estudo daqueles direitos
subjetivos.

Direito real: é um ramo de Direito Civil que integra o direito privado


comum. Os Direitos Reais pressupõem a liberdade e a igualdade dos
sujeitos, caraterísticas distintas das que podem ser apontadas no Direito
Público (que pressupõe a autoridade das entidades públicas sobre os
cidadãos).
Configura, assim, um direito subjetivo, no sentido de poder jurídico
absoluto, atribuído a uma pessoa determinada para a realização de
interesses jurídico-privados, mediante o aproveitamento imediato de
utilidades de uma coisa corpórea.

DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS DE CRÉDITO

• Os direitos reais têm natureza absoluta, visto as faculdades conferidas


ao seu titular serem oponíveis erga omnes (os direitos reais têm eficácia
absoluta perante terceiros, enquanto que os direitos de crédito apenas
são oponíveis ao devedor);
• Há uma ausência de relação específica subjacente ao direito real,
enquanto que o direito de crédito é estruturado numa relação jurídica
entre credor e devedor;

• A natureza absoluta dos direitos reais projeta-se na inerência, que por


sua vez se desenvolve na sequela e na prevalência (o direito real incide
em termos imediatos sobre a coisa não necessitando da existência de
qualquer intermediação). Nos direitos de crédito os poderes apenas
mediatamente se dirigem ao seu objeto;

• Os direitos reais acompanham as coisas nas suas vicissitudes – sequela;

• Os direitos reais excluem direitos incompatíveis constituídos sobre a


mesma coisa – prevalência;

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO REAL

O objeto do direito real tem de ser uma coisa certa e determinada, e como
tal existente no momento da constituição ou da aquisição do direito. No
entanto, os direitos reais podem ser alargados às coisas incorpóreas,
conforme preceitua o artigo 1302.º do Código Civil.
É usual na doutrina apresentar caraterísticas do direito real,
nomeadamente, o caráter absoluto; a inerência, a sequela; a prevalência, a
inerência, etc.

a) Inerência: traduz-se na ligação, muito próxima, entre o direito e a


coisa, em termos tais que o direito não pode separar-se da coisa que lhe é
inerente, quer isto dizer, que o direito real pressupõe uma coisa,
naturalmente corpórea, que seja já existente, certa e determinada.

b) Sequela: faculdade de invocar o direito real perante terceiro e


exercer esse direito real sobre a coisa que constitui o seu objeto, onde quer
que esta se encontre. Esta caraterística é o corolário evidente da inerência.
Assim, se a coisa é inerente ao direito real tem que se permitir ao titular do
mesmo a perseguição da coisa, acompanhando as suas vicissitudes.
Existem, no entanto, exceções à sequela, nomeadamente, verificando-se a
inoponibilidade da invalidade a terceiros de boa-fé prevista no artigo 291.º
do Código Civil, nos casos em que se pretende fazer valor o direito real
perante o titular inscrito, nos termos dos artigos 5.º n.º 4, 17.º n.º 2 e 122.º
do Código de Registo Predial;

c) Prevalência: o direito real prevalece sobre o direito de crédito. E


deve prevalecer o direito real constituído em primeiro lugar, ou, atendendo
às regras próprias do registo, o direito primeiramente registado.

PRINCÍPIOS ORIENTADORES DOS DIREITOS REAIS

- Princípio da Tipicidade: nos termos do artigo 1306.º n.º 1 do Código Civil.

- Princípio da Coisificação: o direito real versa sobre coisas e não sobre


pessoas ou bens não coisificáveis. No entanto, há determinados direitos
reais que têm por objeto direitos (conforme artigos 1439.º, 66.º n.º 1 e
688.º n.º 1 do Código Civil).

- Princípio da Atualidade (ou Imediação): este princípio decorre da


caraterística da inerência, ou seja, da ligação fundamental entre o direito e
a coisa sobre a qual incide.

- Princípio da Especialidade (ou Individualização): de acordo com o


princípio da especialidade apenas haverá direito real sobre coisas
específicas e não sobre coisas genéricas ou indeterminadas. O artigo 408.º
n.º 2 do Código Civil apenas admite a transferência de direitos reais sobre
coisa indeterminada quando for determinada com o conhecimento de
ambas as partes.

- Princípio da Compatibilidade (ou exclusão): a existência de um direito


real sobre alguma coisa depende da compatibilidade com outros direitos
reais já existentes sobre a mesma coisa. Enquanto poder direto e imediato
acaba por afastar naturalmente qualquer outro poder direto e imediato.
(ex: salvo as situações de compropriedade não podem coexistir dois direitos
de propriedade sobre uma única coisa). Além disso, pode haver
compatibilização de direitos reais quando têm a mesma natureza (ex.:
direitos reais de gozo) ou quando têm natureza diferente (ex.: direito real
de gozo e direito real de garantia ou de aquisição).

- Princípio da Elasticidade (ou consolidação): a coexistência de diferentes


direitos reais sobre a mesma coisa permite a conclusão de que os direitos
reais apresentam uma estrutura elástica. Este princípio é particularmente
evidente no direito de propriedade (direito real por excelência – “plena in
res potestas”).

- Princípio da Consensualidade: respeita aos passos necessários para se


produzir o efeito real. A constituição ou transmissão do direito real opera-
se solo consensu com a celebração do contrato, sem necessidade de
qualquer operação adicional, como a tradição, o registo ou a produção dos
demais efeitos obrigacionais do negócio (como o pagamento do preço).

- Princípio da boa-fé: Alberto Vieira reconhece a importância dogmática da


boa-fé nos direitos reais.

- Princípio da Publicidade: os direitos reais devem ser dados a conhecer ao


público em geral.

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