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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS

ACÓRDÃO

REPRESENTAÇÃO (11541) - PROCESSO Nº 0603054-37.2018.6.09.0000


GOIÂNIA - GOIÁS
RELATOR: JULIANO TAVEIRA BERNARDES
REPRESENTANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
REPRESENTADO: WALDIR SOARES DE OLIVEIRA
ADVOGADO: LUIZ CESAR BARBOSA LOPES - OAB/GO34850

EMENTA

ELEIÇÕES 2018. RECURSO ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO.


PROPAGANDA ELEITORAL IRREGULAR. USO DE CARRO DE SOM.
ALEGAÇÃO DE CARREATA. APENAS DOIS VEÍCULOS EM
FILA. NÚMERO INSUFICIENTE DE AUTOMÓVEIS. DETERMINAÇÃO
DE CESSAÇÃO DO ATO ILÍCITO. EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA
NA PROPAGANDA. REPRESENTAÇÃO JULGADA PROCEDENTE.
RECURSO DESPROVIDO.

1. A alteração promovida no § 11 do art. 39 da Lei 9.504/97 elencou, expressamente, as


possibilidades de utilização de carros de som, permitindo-os “apenas em carreatas,
caminhadas e passeatas ou durante reuniões e comícios”.

2. Conforme raciocínio do legislador, a livre utilização de carro de som para divulgar


propaganda eleitoral de candidato pelas ruas implicaria poluição sonora desnecessária e
ainda geraria risco de desequilíbrio à campanha eleitoral.

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3. No caso, o vídeo apresentado mostra candidato a desfilar na carroceria de um veículo
(carro de som), onde fazia discurso político seguido por apenas mais outro veículo,
situação que, definitivamente, não caracteriza procissão de carros em número suficiente
para configurar uma carreata, cuja definição legal é o "deslocamento em fila de veículos
automotores” (Anexo I da Lei 9.503/97 - Código de Trânsito Brasileiro).

4. Embora a lei não fixe número mínimo de automóveis para que configurada uma
carreata, a presença de apenas dois veículos não é suficiente.

5. Acusação ministerial instruída com certidões dotadas de fé pública e não infirmadas por
quaisquer outras provas.

5. Recurso conhecido e desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, Na sessão de 26.9.2018, o


Procurador Regional Eleitoral, Doutor Alexandre Moreira Tavares dos Santos, manifestou-se oralmente
pelo desprovimento do recurso eleitoral. Em seguida, o Relator proferiu seu voto e ACORDARAM os
Membros do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, por unanimidade, em CONHECER e NEGAR
PROVIMENTO AO RECURSO ELEITORAL, nos termos do voto do Relator. Acórdão publicado em
sessão, nos termos do art. 20, § 4º, da Resolução TSE n. 23.547/2017..

Goiânia, 26/09/2018

JUIZ JULIANO TAVEIRA BERNARDES


Relator

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RELATÓRIO

WALDIR SOARES DE OLIVEIRA (Delegado Waldir), candidato ao cargo


de Deputado Federal, interpõe recurso eleitoral com a finalidade de reformar decisão
deste Juiz Auxiliar (ID 222747) que julgou procedente o pedido aduzido pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL e determinou a abstenção da utilização de carro
de som para veicular propaganda eleitoral em circunstâncias diversas
das permitidas pela legislação eleitoral.

O Recorrente alega não restou demonstrada nos autos a realização de ato


ilegal de campanha, tendo em vista que em nenhuma das certidões firmadas por
servidores do Ministério Público “constou toda a descrição dos fatos, ou seja, não
constou em momento algum se o Recorrente estaria se utilizando de carro de som de
forma isolada ou em movimento de carreata, mas que teria sido avistado sobre a
carroceria de um veículo, sendo que no caso da servidora do Ministério Público Federal
há nítido equívoco em apontar até mesmo o modelo do veículo, haja vista que aponta
que o Recorrente estaria sobre uma saveiro, cabendo salientar que o Recorrente jamais
utilizou de uma saveiro para realizar atos de propaganda eleitoral”.

Sustenta que o fato de o candidato estar sobre a carroceria de um veículo


com aparelhagem de som não é suficiente para atrair a pecha da ilegalidade.

Assevera que “o conceito de carreata não pode simplesmente ser buscado


no dicionário, haja vista que se trata de um conceito legal, por constar expressamente
no anexo I, da Lei Federal nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), onde consta que
CARREATA é o “deslocamento em fila na via de veículos automotores em sinal de
regozijo, de reivindicação, de protesto cívico ou de uma classe”.

Defende que “todo número de veículo acima de 2 (dois), cujos ocupantes


tenham o ânimo voltado para deslocar em fila na via com o objetivo de manifestar-se ou
promover campanha política, apoio a partido, coligação, candidato ou chapa, se mostra
suficiente para se inserir dentro do conceito de carreata”.

Salienta que, no citado conceito legal de carreata, que deverá ser aplicado
ao presente caso para afastar a ilicitude da conduta, “não se exige qualquer
apontamento do número de veículos participantes, mas tão-somente a demonstração
de ajuste entre seus participantes, uma organização, ainda que precária, com os
veículos dirigindo-se de forma ordenada, seja em uma única linha ou em direções
diversas, desde que coordenados, com demonstrações claras de apoio a campanha,
manifestação, político, coligação ou equivalente”.

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Requer, ao final, o conhecimento e provimento do recurso para julgar
improcedente o pedido formulado na inicial.

O Ministério Público Eleitoral apresentou contrarrazões (ID 225203) em


que rechaça a tese do Recorrente, reafirmando a alegação de que os atos praticados
configuram, sim, propaganda eleitoral irregular, sancionável por meio de poder de
polícia para fazer cessar a irregularidade e sujeita a pena de multa, em caso de
descumprimento.

Ressalta que, diversamente do que sustenta o Recorrente, as certidões


anexadas aos presentes autos são claras e precisas quanto à descrição do fato
caracterizador de propaganda eleitoral irregular.

Conclui que, em ambas as notícias informadas, constatou-se que o próprio


Recorrente, WALDIR SOARES DE OLIVEIRA, estava na carroceria de um veículo, em
via pública, promovendo a própria candidatura mediante uso de aparelhagem de som.
Porém, em nenhuma dessas situações, tratava-se de carreata, caminhada, passeata ou
reunião e/ou comício.

Requer, ao final, seja negado provimento ao recurso eleitoral e,


consequentemente, mantida a decisão que julgou procedente a representação eleitoral.

É o relatório.

VOTO

O recurso é próprio e tempestivo.

A decisão recorrida, no que interessa, ficou assim redigida:

Objetiva-se a decretação da ilicitude de propaganda eleitoral do representado mediante a


utilização de carro de som.

Foi concedida a liminar, em decisão assim redigida, no que interessa:

“O Representante (MPE) requer, em sede de pedido liminar, seja determinada a


imediata cessação da propaganda dita irregular.

O pedido de medida liminar em questão tem natureza de tutela de urgência


satisfativa, na dicção do art. 300 do Código de Processo Civil de 2015. Nesse sentido,
a medida pleiteada configura pedido de antecipação liminar da pretensão final.

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Para a obtenção da tutela de urgência satisfativa, em medida liminar, faz-se
necessária a presença dos seguintes requisitos previstos no art. 300 do CPC/2015:
(a) elementos que evidenciem a probabilidade do direito e (b) perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo.

Com base nesses parâmetros, passo ao exame do pedido de antecipação dos efeitos
da tutela.

Pois bem. A matéria resume-se à suposta prática de propaganda eleitoral irregular


mediante a utilização de carro de som.

A propaganda eleitoral mediante a circulação de carro de som está disciplinada no


art. 39, § 11, da Lei n. 9.504/97, que assim dispõe:

Art. 39. A realização de qualquer ato de propaganda partidária ou eleitoral,


em recinto aberto ou fechado, não depende de licença da polícia.

...

§ 11. É permitida a circulação de carros de som e minitrios como meio


de propaganda eleitoral, desde que observado o limite de oitenta decibéis
de nível de pressão sonora, medido a sete metros de distância do veículo, e
respeitadas as vedações previstas no § 3º deste artigo, apenas em
carreatas, caminhadas e passeatas ou durante reuniões e comícios.

Por outro lado, ao regulamentar as propagandas eleitorais para as Eleições 2018, a


Resolução/TSE 23.551/2017 estabeleceu o seguinte acerca do uso de carro de som:

Art. 11. O funcionamento de alto-falantes ou amplificadores de som,


ressalvada a hipótese de comício de encerramento de campanha, somente é
permitido entre as 8 (oito) e as 22h (vinte e duas horas), sendo vedados a
instalação e o uso daqueles equipamentos em distância inferior a 200m
(duzentos metros) (Lei nº 9.504/1997, art. 39, § 3º):

(...)

§ 3º É permitida a circulação de carros de som e minitrios como meio


de propaganda eleitoral, desde que observado o limite de 80dB (oitenta
decibéis) de nível de pressão sonora, medido a 7m (sete metros) de
distância do veículo, e respeitadas as vedações previstas neste artigo,
apenas em carreatas, caminhadas e passeatas ou durante reuniões e
comícios (Lei nº 9.504/1997, art. 39, § 11).

§ 4º Para efeitos desta resolução, considera-se (Lei nº 9.504/1997, art. 39,


§§ 9º-A e 12):

I – carro de som: qualquer veículo, motorizado ou não, ou ainda


tracionado por animais, que use equipamento de som com potência nominal
de amplificação de, no máximo, 10.000W (dez mil watts) e que transite
divulgando jingles ou mensagens de candidatos;

II – minitrio: veículo automotor que use equipamento de som com potência


nominal de amplificação maior que 10.000W (dez mil watts) e até 20.000W
(vinte mil watts);

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III – trio elétrico: veículo automotor que use equipamento de som com
potência nominal de amplificação maior que 20.000W (vinte mil watts).

Enfim, a legislação eleitoral é bastante clara ao restringir a utilização de carros de


som, como meio de propaganda, apenas para acompanhar carreatas, caminhadas,
passeatas ou durante reuniões e comícios.

No caso, trata-se de Notícia de Fato – NF 1.18.000.002488/2018-57 oriunda da


Procuradoria Regional Eleitoral, cujos servidores públicos (no caso, do Ministério
Público do Estado de Goiás), que possuem fé pública, certificaram o seguinte:

CERTIDÃO

“Certifico e dou fé que, nesta data, atendendo solicitação verbal da


Promotora Eleitora da 12a Zona, Dra. Luciene Maria Oliveira Otoni, informo
que no dia 29/08/2018, o candidato a deputado Federal "Delegado Valdir''
encontrava-se na cidade de Goiás, falando com os cidadãos vilaboense,
através de um microfone, em cima de uma carroceria de uma caminhoneta
de cor preta.

Informo que por volta das 14h e 30 minutos do dia 29/08/2018, estava na
recepção das Promotorias de Justiça da Comarca de Goiás, atendendo uma
ligação, quando ouvi um barulho de som, continuei fazendo minhas
atividades laborais, mas, pude, ver pela porta da entrada das Promotorias de
Justiça de Goiás, que o Candidato "Delegado Valdir" encontrava-se na
Carroceria de uma Caminhoneta, com um microfone na mão, falando sobre
os candidatos Bolsonaro e Ronaldo Caiado, porém, quando ele viu que
estava passando em frete à sede das Promotorias de Justiça dessa
Comarca, ele parou de falar. Após o ocorrido, tentei localizar o candidato na
Avenida Hermogenes Coelho, no trevo da saída de Goiás para Goiânia,
Bairro Jardim Vila Boa, porém, as pessoas que perguntei se havia visto o
candidato, somente o funcionário do posto de combustível Serra Dourada,
informou ter visto o candidato indo em direção à saída para Goiânia.

Certifico por fim, que a fotografia aportada nesta Promotoria Eleitoral, foi
tirada na Rua Moretti Foggia, próximo aos Bancos da Caixa Econômica
Federal e Itaú, fato esse que comprava que o candidato a Deputado Federal
" Delegado Valdir" esteve nesta cidade.

O referido é verdade e dou fé”.

CERTIDÃO Nº 3462/2018

Certifico que no dia 31 de agosto de 2018, às 10h30min, o candidato


conhecido como 'DELEGADO WALDIR' passou em frente à sede do
Ministério Público Federal em Goiás, na carroceria de uma camioneta tipo
'saveiro', proferindo discurso político com mensagem sobre a sua
candidatura, utilizando-se de um potente aparelho de som instalado no
veículo. O referido fato foi presenciado pelas estagiárias da Procuradoria
Regional Eleitoral, BRENDA DIAS DOS ANJOS, matrícula 37794 e
VITORYA RODRIGUES SOUSA MORAIS NEAS, matrícula 38281, que
estavam no prédio do Ministério Público Federal

Certifica, ainda, que a sede do Ministério Público Federal é localizada na


Avenida Olinda, Edifício Rosângela Pofahl Batista, Quadra G, Lote02, nº
500, Park Lozandes, Goiânia – Goiás.

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Por ser verdade, firmo a presente certidão, juntamente com as testemunhas
do fato relatado.

Goiânia/GO, 31 de agosto de 2018”.

Dessa forma, em cognição sumária, as provas colacionadas à representação


demonstram a utilização ilegal de carro de som para divulgar ato de campanha do
candidato a Deputado Federal WALDIR SOARES DE OLIVEIRA (Delegado Waldir).

Afinal, a legislação veda a utilização de carro de som que transite divulgando jingles e
mensagens de candidatos (§ 3º e inc. I do § 4º, ambos do art. 11 da Res. TSE n.
23.551/2017).

Isso porque, na busca de se restringir a interferência do poder econômico no


resultado das eleições e zelar pela paridade de condições nas campanhas eleitorais,
o legislador restringiu o uso de carro de som apenas a carreatas, caminhadas e
passeatas ou durante reuniões ecomícios.

Nesse sentido, a alteração promovida no § 11 do art. 39 da Lei n. 9.504/97 elencou,


expressamente, as possibilidades de utilização de carro de som, permitindo-os “
apenas em carreatas, caminhadas e passeatas ou durante reuniões e comícios”
(original sem grifo).

Assim, os carros de som não podem ser acionados livremente nas ruas do Município,
mas exclusivamente no momento das carreatas, caminhadas e passeatas ou
durante reuniões e comícios.

Sobre o tema, o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) respondeu


consulta nos seguintes termos:

Agora a propaganda feita em carros de som e minitrios só será permitida durante a


realização de carreatas, caminhadas, passeatas ou reuniões e comícios que são
eventos esporádicos durante uma campanha e envolvem uma coletividade de
pessoas.

Esse foi o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral ao aprovar, em 18 de


dezembro de 2017, a Resolução TSE n.º 23.551 que ratifica, em seu art. 11, § 3º, o
que o art. 39, § 11 da Lei n.º 9.504/97 passou a disciplinar após modificação trazida
pelo art. 1º da Lei n.º 13.488 de 06 de outubro de 2017.

Ao comentar a Res. n.º 23.551/2017, o TSE destacou que “pela resolução, só serão
permitidos carros de som e minitrios em carreatas, caminhadas e passeatas ou em
reuniões ou comícios”.

(...)

Veda-se, portanto, a utilização desses veículos com som para livre circulação nas
ruas. Deveras, a mobilidade deve estar atrelada ao evento referido no §11 do art. 39
da Lei das Eleições.

Desse modo, a sonorização ambulante não deve ser efetuada fora das hipóteses
previstas na Lei. A ratio essendi da norma é evitar a intensidade e intermitência dessa
modalidade de propaganda ensejadora de poluição sonora, uma vez que sempre fora
objeto de reclamações intensas pela população.

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Diante do exposto, voto pela resposta à consulta firmando-se no seguinte
entendimento: “a utilização de carros de som e minitrios só é permitida em carreatas,
caminhadas, passeatas e durante reuniões e comícios”. (TRE-PR, Cta n. 0600324-31
de 19.7.18, Rel. ERIKA DE BARROS LIMA FERRAZ, publicado no DJe em
31.7.2018).

Com efeito, a livre utilização de carro de som para divulgar propaganda eleitoral de
candidato pelas ruas apresenta grave desequilíbrio à campanha eleitoral e afronta
diretamente a regulamentação da matéria.

Do exposto, em análise superficial, própria da presente fase processual, defiro


liminarmente o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, a fim de determinar
ao Representado que se abstenha que utilizar carro de som para veicular propaganda
eleitoral em momento diverso do permitido pela legislação eleitoral.

Em caso de desrespeito, os responsáveis incidirão em multa diária, no valor de R$


5.000,00 (cinco mil reais), por cada evento de comprovado descumprimento da
presente decisão, sem prejuízo das demais penalidades cabíveis, incluindo crime de
desobediência.

Nenhuma ressalva a fazer.

Como consignado na decisão concessiva da liminar, a alteração promovida no § 11 do


art. 39 da Lei 9.504/97 elencou, expressamente, as possibilidades de utilização de carros
de som, permitindo-os “apenas em carreatas, caminhadas e passeatas ou durante
reuniões e comícios” (original sem grifo).

Certo, o Representado alega não ter praticado qualquer ato de propaganda irregular, ao
contrário do certificado por servidores do Ministério Público. Diz que, no momento da
propaganda noticiada, estava ocorrendo “um pequeno movimento de carreata”, razão por
que a propaganda questionada é lícita, pois permitida pela legislação de regência.

Pois bem. Certidões emitidas por servidor da Promotoria de Justiça gozam de fé pública
e presunção relativa de veracidade. E é ônus do representado infirmar tal presunção.

No caso, para comprovar a licitude da propaganda eleitoral em comento, o Representado


juntou aos autos vídeo (ID 222244). O vídeo mostra imagens do candidato a discursar na
carroceria de veículo S-10, sendo seguido por apenas um veículo, em cuja carroceria
estavam pessoas portando propaganda eleitoral (bandeira).

Entretanto, as imagens não permitem concluir, com a segurança necessária, que o


veículo do candidato estivesse sendo seguido por mais outros veículos, em movimento
próprio de carreata, conforme alegado.

De outro lado, para caracterizar a ocorrência de carreata, seria necessário que o


Representado provasse estar à frente de verdadeira “procissão de veículos”, sendo
seguido por número razoável de correligionários. Afinal, segundo o dicionário Aurélio, o
vocábulo carreta significa "desfile de carros, ger. com bandeiras e/ou cartazes".

Já o vídeo apresentado mostra o candidato a desfilar na carroceria de um veículo (carro


de som), onde faz discurso político, sendo seguido por apenas mais outro veículo,
situação que, definitivamente, não se enquadra na definição de “desfile de carros” ou
carreata.

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A lei não elege número mínimo de automóveis para configurar uma carreata. Mas,
obviamente, a presença de apenas dois veículos não é suficiente para desqualificar a
acusação ministerial.

Esse o contexto probatório, deve prevalecer a certificação dos servidores do Ministério


Público segundo os quais o próprio Representado, na condição de candidato à reeleição
ao cargo de Deputado Federal, utilizou-se de carro de som para divulgar ato de
campanha.

O Representado não comprovou satisfatoriamente tratar-se de uma carreata, razão por


que tenho por confirmada a violação ao art. 39, § 11, da Lei 9.504/97.

Por fim, a legislação de regência atribuiu ao poder de polícia eleitoral a possibilidade de


imposição de obrigação de não fazer (ou fazer), a fim de impedir ou fazer cessar a prática
de infração eleitoral, assim como cominação da penalidade de multa em caso de
descumprimento (art. 5º, XXXV da CF/88; art. 41 da Lei 9.504/97 e art. 103, § 1º, da
Resolução TSE 23.551/2017).

Pelo exposto, ratificada a liminar, julgo procedente o pedido, a fim de confirmar a


determinação para que o Representado se abstenha que utilizar carro de som para
veicular propaganda eleitoral em circunstâncias diversas às permitidas pela legislação
eleitoral.

Em caso de desrespeito, os responsáveis incidirão em multa diária, no valor de R$


5.000,00 (cinco mil reais), por cada evento de comprovado descumprimento da presente
decisão, sem prejuízo das demais penalidades cabíveis, incluindo crime de
desobediência.

Novamente, nenhuma ressalva a fazer.

Certo, o recurso sustenta a necessidade de se aplicar ao presente caso o


conceito legal de carreata, conforme previsto no Anexo I, da Lei Federal nº 9.503/97
(Código de Trânsito Brasileiro), “onde consta que CARREATA é o “deslocamento em
fila na via de veículos automotores em sinal de regozijo, de reivindicação, de
protesto cívico ou de uma classe”.

Contudo, esse conceito não destoa daquele utilizado na decisão recorrida,


em que se consignou:

De outro lado, para caracterizar a ocorrência de carreata, seria necessário que o


Representado provasse estar à frente de verdadeira “procissão de veículos”, sendo
seguido por número razoável de correligionários. Afinal, segundo o dicionário Aurélio, o
vocábulo carreata significa "desfile de carros, ger. com bandeiras e/ou cartazes".

É dizer, seja pelo dicionário, seja pelo anexo ao Código de Trânsito, a carreata
pressupõe número significativo de carros a transitar em fila.

Porém, no caso, o vídeo apresentado mostra o candidato a desfilar na


carroceria de um veículo (carro de som), onde faz discurso político, sendo seguido por
apenas mais outro veículo, situação que, definitivamente, não se enquadra em
qualquer definição de carreata, mesmo a mais elástica.

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Todavia, como consignado na decisão recorrida, ainda que a lei não
eleja número mínimo de automóveis para configurar uma carreata, a presença de
apenas dois veículos não é suficiente, por óbvio, para desqualificar a acusação
ministerial. Sobretudo quando amparada por certidões que gozam de fé pública e que
não foram infirmadas por quaisquer outras provas.

De outro lado, como muito bem ponderou o douto Procurador Regional


Eleitoral Auxiliar, “o fato de constar em uma das certidões nome de modelo de veículo
diverso do que o recorrente, de fato, estaria utilizando, não afasta a autenticidade do
documento, nem tampouco torna inverídica a situação fática nele descrita. Até porque o
recorrente não contesta o fato em si, mas apenas alega estar em uma minicarreata”.

No mais, o recorrente apenas repete os argumentos já lançados em sua


peça de defesa, os quais foram suficientemente analisados e rechaçados por este
relator tanto na decisão liminar quanto na decisão recorrida.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

É como voto.

Goiânia, 26/09/2018

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

PROCESSO: REPRESENTAÇÃO - 0603054-37.2018.6.09.0000


ORIGEM: Goiânia - GOIÁS
PAUTA: 26/09/2018
RELATOR:JUIZ JULIANO TAVEIRA BERNARDES
PRESIDENTE: DESEMBARGADOR CARLOS HIPOLITO ESCHER
PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: DR. ALEXANDRE MOREIRA TAVARES DOS SANTOS

AUTUAÇÃO

REPRESENTANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

REPRESENTADO: WALDIR SOARES DE OLIVEIRA


Advogado(s) do representado: LUIZ CESAR BARBOSA LOPES

CERTIDÃO

Certifico que o egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, ao apreciar o processo em epígrafe,
em Sessão realizada em 26 de setembro de 2018, proferiu a seguinte decisão:

Na sessão de 26.9.2018, o Procurador Regional Eleitoral, Doutor Alexandre Moreira Tavares dos
Santos, manifestou-se oralmente pelo desprovimento do recurso eleitoral. Em seguida, o Relator proferiu
seu voto e ACORDARAM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, por unanimidade, em
CONHECER e NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO ELEITORAL, nos termos do voto do Relator.
Acórdão publicado em sessão, nos termos do art. 20, § 4º, da Resolução TSE n. 23.547/2017.

Votação definitiva (com mérito):

DESEMBARGADOR ZACARIAS NEVES COÊLHO E JUÍZES LUCIANO MTANIOS


HANNA, OVÍDIO MARTINS DE ARAÚJO, JULIANO TAVEIRA BERNARDES, RODRIGO DE
SILVEIRA E MARCUS DA COSTA FERREIRA.

O referido é verdade. Dou fé.

Assinado eletronicamente por: Maria Selma Teixeira - 26/09/2018 19:40:00 Num. 227130 - Pág. 1
https://pje.tre-go.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=18092619400044100000000222275
Número do documento: 18092619400044100000000222275
Goiânia, 26 de setembro de 2018.

Maria Selma Teixeira

Secretária de Sessões

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Número do documento: 18092619400044100000000222275

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