Introdução
A par desta ideia de tratado, a Ética viria a ser entendida como a ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade, mas também como o conjunto de
princípios a orientar o relacionamento humano no seio de uma determinada comunidade
social. A partir daqui, fácil se torna conceber uma ética deontologicamente firmada e
voltada para a orientação de uma actividade profissional, mormente a docência.
Assinale-se, a título de exemplo, que a hierarquia interna à profissão docente tem como
critério um saber geral, e não um saber específico, isto é, um saber pedagógico. Por
outro lado, é importante sublinhar que este corpo de saberes e de técnicas foi quase
sempre produzido no exterior do “mundo dos professores”, por teóricos e vários
especialistas. A natureza do saber pedagógico e a relação dos professores ao saber
constituem um capítulo central da história da profissão docente (Nóvoa, 1999, p. 16).
Segundo (SILVA, 1997, p.171), Dez anos depois, a partir de outro estudo, no âmbito de
um Projecto Internacional1 que visava compreender os impactos da globalização nos
sistemas de ensino, do nível macro à sala de aula, analisámos o discurso de três grupos
de professores de diferentes regiões do país, respondendo à questão de saber quais os
valores presentes na Escola e nas práticas educativas, e podemos concluir que os
professores mantinham no seu discurso a admissão deste individualismo na profissão.
Os valores que são transmitidos dentro da sala de aula são aqueles que o professor
entende que são os primordiais. Eles variam de professor para professor, cada professor
tem uma forma de estar, uma forma de ser, a sua metodologia. Os valores que eu
considero fundamentais, derivam exclusivamente da minha postura, da minha maneira
de ser.
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Atribuindo-se a função principal de educar os seus alunos – o que é mais do que ensinar
, os professores afirmam a sua profissão como ética, por excelência.
Ética, porque educar e formar é criar hábitos, é levar a que se adquiram usos e
costumes. É fazer com que alguém pertença, por identificação, a uma comunidade, a
uma cultura. É agir sobre a maneira de ser e o carácter. É transformar a natureza
humana, aquilo que somos quando nascemos, para que se comporte conforme aos usos e
costumes. A Ética também, porque esses hábitos, usos e costumes são afectados de
valores: isto é, educar e formar é criar bons hábitos. De acordo com a moral em uso.
(SILVA, 1997, p.172)
Segundo (SILVA, 1997, p.172), Afinal, neste estudo os professores atribuem à docência
a tarefa de produzir nos alunos uma transformação para melhor. Trata-se pois de uma
profissão que deve ser moralmente regulada – quer pelo que lhe é proposto que faça,
quer pelo modo como lhe é exigido que o faça – apesar de os professores entrevistados
não afirmarem de forma clara o desejo de virem a ter um código deontológico, não
terem sobre ele, à altura, um sentimento de necessidade e até duvidarem da sua utilidade
e vantagem e prevalecendo acima de tudo a norma ditada pela consciência. Em síntese:
“os professores entrevistados têm da docência uma concepção mais ética que
profissional (aqui em sentido técnico), mais expressivo-relacional que cultural e
técnica”
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Conclusão
Bibliografia
Silva, L. (1997). A Docência é uma ocupação ética. In M. Teresa Estrela (org). Viver e
construir a profissão docente, Porto: Porto Editora, pp. 161-190.