Redes de mídia de alto desempenho - Grau de conhecimento
dos profissionais de TIC sobre o impacto em infraestrutura de
TIC
Carlos M. S. Cavalcante
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
cmscavalcante@gmail.com
Introdução
O termo Redes de mídia de alto desempenho refere-se ao transporte
em tempo real e alta qualidade de áudio e vídeo sobre redes de comu-
nicação de dados, tendo como objetivo a substituição da abordagem de
conexões de cabos específicos para áudio e vídeo por uma estrutura con-
vencional de rede de comunicação de dados em instalações comerciais
ou de broadcast. [1] Este trabalho limita-se ao estudo de instalações co-
merciais (corporativas).
Áudio e vídeo analógicos requerem um circuito físico para cada canal,
o que torna o roteamento de sinais bastante inflexível. Já em sistemas
digitais, é possível a multiplexação de sinais em um mesmo circuito, o
que diminui a quantidade de circuitos, mantendo ainda a inflexibilidade
no roteamento de sinais. Já a abordagem em rede é muito mais flexível,
permitindo que qualquer equipamento conectado a uma rede possa se
comunicar com qualquer outro. [2]
A latência em uma rede de mídia não está restrita à latência de rede
unicamente, mas sim a todo o caminho do sinal transmitido. Em um sinal
de áudio, por exemplo, a latência é dada pelo somatório de: a) atrasos
acústicos (a distância entre a boca de um falante e o microfone e a dis-
tância entre os alto-falantes e os ouvidos do ouvinte); b) o tempo de
conversão analógico-digital e digital-analógico; c) parâmetros definidos
para qualidade de áudio e empacotamento, como tamanho de buffer e
pacote; d) atrasos de transmissão de rede, incluindo distância física (ge-
ográfica) e atrasos induzidos por switches, roteadores, firewall, além do
congestionamento de rede[3]. As aplicações de rede às quais os profissi-
onais de TI estão familiarizados são como entrega de e-mails, navegação
web, transferência de arquivos e acesso a bancos de dados. Muitas des-
tas aplicações não são sensíveis a temporização e consumem largura de
banda em uma base esporádica, ou seja, quando a aplicação é execu-
tada. Quase sempre utilizam o protocolo TCP e são resilientes a varia-
ções no desempenho de rede. Já em redes de mídia, a latência aceitável
para uma aplicação de áudio é menor que 1 milissegundo, ou 1/100 da
requerida para VoIP [4].
Muitos problemas que afetam sinais de áudio e vídeo não são em geral
problemas para redes de dados e normalmente não são tratados por ad-
ministradores de redes. A perda de pacotes é comumente tolerável em
aplicações de VoIP e videoconferência, mas resultam em artefatos audí-
veis em aplicações de redes de mídia. Redes de mídia requerem o uso
de DiffServ para QoS, permitindo baixa latência e sincronização acurada,
em geral através do protocolo IEEE 1588 (PtP - Precision Time Protocol).
É necessário ainda suporte a multicast em protocolos como IGMP e/ou
PIM, RTP sobre IP para clock e transporte de mídia, SDP para descrição
das conexões e SIP para negociação e execução das conexões pela rede.
[4]
Ao contrário das aplicações de redes de dados convencionais, geral-
mente sobre protocolo TCP/IP, redes de mídia utilizam o protocolo UDP
para o transporte e sincronização de mídia, reservando o protocolo TCP/IP
para tarefas como controle e supervisão. [5]
Justificativa e Objetivos
Justificativa
Os gastos das corporações privadas em sistemas de conferência e co-
laboração baseados em redes de mídia em 2016 nas Américas somaram
U$ 9,8 bilhões, sendo a participação do Brasil de cerca de 0,5%, ou seja,
ao redor de U$49 milhões [6], o que representa 0,003% do PIB de 2016
(R$ 6,3 trilhões) ou ainda 0,02% da taxa de investimento bruta do país
naquele ano [7]. Já em comparação com os gastos em TIC das compa-
nhias privadas, o volume despendido nestes sistemas representa 54%
do total naquele ano [8]. Este volume de investimentos aponta para a
importância da capacitação dos profissionais de TIC nestes sistemas.
Objetivos
Esta proposta de trabalho tem como objetivo a investigação do grau de
compreensão dos profissionais de TIC dos requisitos das redes de mídia
de alto desempenho com aplicação em ambiente corporativo, e do grau
de impacto destas novas tecnologias na infraestrutura de TI. Espera-se
ainda conhecer quais os métodos utilizados na aquisição deste conheci-
mento (se, por exemplo, por meio de currículos acadêmicos, experiência
profissional, auto estudo, etc.).
Questão de pesquisa
A presente proposta de trabalho tem como questão de pesquisa in-
vestigar se os profissionais de TIC que atuam em corporações privadas
ou governamentais possuem os conhecimentos necessários para suprir
a demanda destas corporações por redes de mídia de alto desempenho.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa exploratória, na qual será utilizada análise
quantitativa a partir de questionários eletrônicos a serem respondidos
por profissionais de TIC do Brasil.
Pretende-se tomar uma amostra de 1000 a 2000 profissionais, toma-
dos a partir da rede de contatos de primeiro, segundo e terceiro graus
do autor. Os respondentes serão convidados através de e-mail e/ou con-
tato através da rede social Linkedin e os questionários serão respondidos
através da plataforma Google Forms, com posterior tratamento estatís-
tico dos dados obtidos.
As questões procurarão, além de avaliar o conhecimento dos respon-
dentes nos requisitos para redes de mídia de alto desempenho, identi-
ficar a forma como este conhecimento foi adquirido, o tempo de expe-
riência dos avaliados, grau de formação, carreira cursada, tamanho da
corporação em que atua e se é do setor público ou privado.
Resultados esperados
Espera-se através desta pesquisa mensurar o estado atual de enten-
dimento das necessidades de redes de mídia quanto à infraestrutura de
TIC e, em caso de validada a hipótese de que este conhecimento é incipi-
ente nos profissionais de TIC, propor a inclusão de disciplinas ao currículo
acadêmico dos cursos superiores de TIC que possam suprir esta possível
lacuna.
Referências bibliográficas
[1] GROSS, Kevin. The future of high-performance media networking. In:
AES 44th International Conference, San Diego, CA, USA, 2011.
[2] BOUILLOT, Nicolas, COHEN, Elizabeth, COOPERSTOCK Jeremy R. et.
al. Best Practices in Network Audio. Journal of Audio Engineering
Society. New York, NY, USA. v. 57, n. 9, p. 729-741, set. 2009.
[3] CÁCERES, Juan-Pablo, CHAFE, Chris. JackTrip: Under the Hood of an
Engine for Network Audio. Journal of New Music Research. Abing-
don, UK. v. 39, n. 3, p. 183-187, set. 2010.
[4] GROSS, Kevin. Network Misconceptions. Sound & Video Contrac-
tor Magazine. Bath, UK. jul. 2014-Mensal, p. 54-59, jul. 2014.
[5] RUMSEY, Francis. Making audio networking easier. Journal of Au-
dio Engineering Society. New York, NY. v. 67, n. 3, p. 144-147,
MAR. 2019.
[6] 2017 AV INDUSTRY OUTLOOK AND TRENDS ANALYSIS - GLOBAL SUM-
MARY. AVIXA. Fairfax, USA. [online] , disponível em https://avixa.
azureedge.net/portal/docs/default-source/default-document-library/
download-the-2017-global-iota-executive-summary.pdf?sfvrsn=
c2d77ee6_2. Acesso em: 14 out. 2019.
[7] Em 2016, PIB chega a R$ 6,3 trilhões e cai 3,3%
em volume. AGÊNCIA IBGE DE NOTÍCIAS [online]
, disponível em https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/
22936-em-2016-pib-chega-a-r-6-3-trilhoes-e-cai-3-3-em-volume.
Acesso em: 14 out. 2019.
[8] Mercado Brasileiro de Software: panorama e tendências, 2017.
ABES - Associação Brasileira das Empresas de Soft-
ware [online] , disponível em http://central.abessoftware.
com.br/Content/UploadedFiles/Arquivos/Dados%202011/
ABES-Publicacao-Mercado-2017.pdf. Acesso em: 14 out. 2019.