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Parte I

Progresso
Iluminismo
Experiência

Arquitectura Europeia
1750 - 1890
Neoclassicismo:

Ciência,
Arqueologia, e
as doutrinas do
Progresso

Arquitectura Europeia
1750 - 1890
Neoclassicismo:

A Arquitectura
e o Iluminismo

Ciência,
Arqueologia, e
as doutrinas do
Progresso
Em meados do Séc. XVIII a antiguidade surgiu
como um modelo para a arquitectura como nunca
tinha acontecido no passado.

Com o espírito de Voltaire, o empenho no


progresso, os arquitectos confrontaram-se com o
maior desafio da filosofia do iluminismo: como
reconciliar a busca de verdades eternas com uma
crescente consciência da relatividade e
contingência das expressões culturais do homem.

Como conceber uma arquitectura que responda


simultaneamente à racionalidade e ao espírito do
progresso e, adicionalmente, ao relativismo cultural
representado por Montesquieu, que no seu célebre
“Espírito das Leis” de 1747, estabeleceu que as
sociedades eram tanto o produto de leis e
tradições locais, como da inalterável natureza
humana?
A New Theory of Vision
(1709), George Berkeley.

DURANTE MUITO TEMPO UM


TEXTO-MODELO SOBRE A
PSICOLOGIA DA PERCEPÇÃO,
IMPLICOU PROGRESSOS
CONSIDERÁVEIS EM RELAÇÃO
ÀS CORRESPONDENTES TEORIAS
DE DESCARTES E DOS SEUS
SEGUIDORES.
ESTES COMPARAVAM, POR
EXEMPLO, O VER À DISTÂNCIA
AO PROCESSO DE MEDIDAS
TRIGONOMÉTRICAS. BERKELEY,
AO CONTRÁRIO, TORNA CLARO
QUE APENAS É VISÍVEL UMA
SUCESSÃO DE IMPRESSÕES
CROMÁTICAS; A DISTÂNCIA, A
GRANDEZA E A FORMA NÃO SÃO
VISTAS DIRECTAMENTE, SÓ
GRAÇAS À COINCIDÊNCIA DAS
SENSAÇÕES TÁCTEIS E VISUAIS.
Qual é a natureza do mundo exterior?
Como é que o conhecimento humano adquire o seu
conhecimento do mundo?

John Locke
Essay concerning the human understanding - 1690

George Berkeley
The principles of human knowledge - 1710

David Hume
Treatise on human nature - 1739-40
Enquire concerning human understanding - 1748
Neoclassicismo:

A Relativização
dos Padrões de
Beleza da
Antiguidade
Ciência,
Arqueologia, e
as doutrinas do
Progresso
David Hume (1711-1776)

FILÓSOFO E HISTORIADOR ESCOCÊS QUE INFLUENCIOU O


DESENVOLVIMENTO DAS CORRENTES FILOSÓFICAS DO
CEPTICISMO E DO EMPIRISMO. AS SUAS OBRAS PRINCIPAIS,
“TREATISE ON HUMAN NATURE” (1739-40) E “ENQUIRE
CONCERNING HUMAN UNDERSTANDING” (1748), RESUMEM O
SEU TRABALHO MAIS IMPORTANTE
Impressões qualitativas, como a cor ou calor deixam de ser
propriedades da matéria, enquanto tal, para passarem a ser
efeitos superficiais causados pelo movimento dos átomos,
combinados com adições subjectivas criadas pela mente
percepcionadora.
A tendência para a subjectividade teve as suas raízes na
filosofia, que virou as suas atenções da interpretação do
mundo físico para o estudo dos nossos processos mentais, e,
particularmente, para os fundamentos do conhecimento
humano.
Dá-se a mudança da esfera física para a psicológica, do
mundo exterior para o interior.
a escolha individual do artista, já não era guiada por leis
matemáticas, nem pelas leis da natureza, ou até, no final, por
convenções sociais.
A beleza e a proporção tornaram-se em fenómenos
psicológicos, existindo e operando na mente do artista.

A beleza passou a ser um objecto, não para o olho,


mas para a mente.

Hume rejeita a ideia de que a proporção depende da razão,


defendendo, em contrário, que a beleza reside nos olhos do
espectador, é psicológica por natureza, e depende da
disposição e do carácter individual.

As impressões de beleza ou fealdade dependem da


estrutura da mente que percepciona, e uma vez que essa
estrutura varia, também varia esse sentimento.
“Euclides explicou detalhadamente todas as qualidades do
círculo, mas não disse, em qualquer momento, uma palavra
sobre a sua beleza. A razão é evidente. A beleza não é uma
qualidade do círculo. Não reside em nenhuma parte da linha,
cujas partes são todas equidistantes de um centro comum. É o
efeito, que essa figura produz na mente, possível devido à sua
estrutura particular, que torna possível esses sentimentos.”

David Hume
Beleza e Proporção são fenómenos psicológicos que existem e
operam na mente do artista.

“A arte deve submeter-se a regras. No entanto, estas regras


não são verdades absolutas, nem verificáveis por raciocínio
abstracto. Têm de ser descobertas ou pelo “génio” – a intuição
do artista individual – ou pela “observação” daquilo que ao
longo dos tempos e dos lugares sempre foi encarado como
sendo agradável.”

David Hume
O mundo de valor, no qual os conceitos de “harmonia”, “beleza”,
e “bem” tinham sido validados objectivamente, foi reduzido a
uma questão de gosto exclusivamente humana e quase
arbitrária.
Claude
Perrault (1613-1688)

ENQUANTO FISIOLOGISTA CLAUDE PERRAULT (1613-1688) FOI


UM REPRESENTANTE DO EMPIRISMO, TAL COMO ERA
ENSINADO SOBRETUDO POR JOHN LOCKE, QUE NEGAVA A
EXISTÊNCIA DE IDEIAS INATAS E COMPAROU O ESTADO
ORIGINAL DA MENTE A UMA TABULA RASA, NA QUAL A
EXPERIÊNCIA INTERNA E EXTERNA (“SENSAÇÃO” E
“REFLEXÃO”, RESPECTIVAMENTE) É INSCRITA.
A teoria da proporção é relativizada para se tornar um conceito
empírico.
O núcleo, o corpo, da teoria da arquitectura da antiguidade e
do renascimento é posto em questão.

A proporção não é uma lei da natureza, tal como era em teorias


da arquitectura prévias, e portanto não deve ser entendida como
normativa.

A beleza não é uma qualidade que existe nas coisas em si;


existe apenas na mente de quem as contempla; e cada mente
percebe uma beleza diferente.
O belo arquitectónico é acima de tudo um critério, e muitas vezes
é apenas entendido como uma “fantasia” subjectiva dependente
de inúmeros factores externos (a moda, a educação, por
exemplo).
São estabelecidas por consenso entre arquitectos e determinadas
pelo hábito e pela tradição.

O que é considerado belo nas proporções das várias partes do


edifício não resulta necessariamente da razão lógica ou de uma
lei natural mas muito mais de uma aprovação geral e da
habituação.
“É errado tomar a anatomia humana como referência para a
base, o fuste e o capitel de uma coluna, sem contar com que
o corpo do homem, tal como a coluna, estão sujeitos a tantas
variações que é impossível deduzir deles proporções ideais.”

Claude Perrault
Perrault introduz uma noção relativa de beleza, ou “beleza
arbitrária”
Belo é o que agrada à maioria dos homens que têm gosto e
educação, sem depender de uma lei natural.

A “Beleza Arbitrária”, tem corolário na noção de “Beleza


Positiva”.
Assenta na finalidade utilitária do edifício. Qualquer avaliação
deve ter também em consideração a relação entre o destino da
obra e a sua decoração para tornar possível um verdadeiro juízo
estético.
A preocupação de Perrault não é abolir a conceito de
proporção mas torná-lo menos absoluto.
Neoclassicismo:

A Batalha ente
antigos e Modernos
e a Teoria
Racionalista de
Laugier
Ciência,
Arqueologia, e
as doutrinas do
Progresso
Marc-Antoine Laugier
(1713-1769)

ESSAI SUR L’ARCHITECTURE (1753)


PROPÕE UMA ARQUITECTURA UNIVERSAL “NATURAL”, A PRIMORDIAL
“CABANA PRIMITIVA” CONSTITUÍDA POR QUATRO TRONCOS DE ÁRVORE
QUE SUPORTAM UM RÚSTICO TELHADO INCLINADO.
ATRAVÉS DA IMITAÇÃO NASCEU A ARTE

SEGURANDO UM COMPASSO E UM ESQUADRO, E


RECLINANDO-SE SOBRE ELEMENTOS DA ORDEM
JÓNICA, A MUSA DA ARQUITECTURA DESVIA A
ATENÇÃO DAS PREOCUPAÇÕES DAS
PROPORÇÕES HARMONIOSAS DOS ANTIGOS
TRATADOS, PARA SE ORIENTAR NA DIRECÇÃO DA
UMA VERDADE MAIS ESSENCIAL DA CLARIDADE
ESTRUTURAL CORPORIZADA NA PRIMEIRA
ESTRUTRA HUMANA.

“A PEQUENA CABANA RÚSTICA QUE DESCREVI É O


MODELO SOBRE O QUAL SE TEM IMAGINADO TODA
A MAGNIFICÊNCIA DA ARQUITECTURA. E
APROXIMANDO-SE, NA EXECUÇÃO DA
SIMPLICIDADE DESTE PRIMEIRO MODELO, EVITAM-
SE OS GRANDES DEFEITOS, E ALCANÇA-SE A
VERDADEIRA PERFEIÇÃO.”

Marc-Antoine Laugier (1713-69).


Essai Sur L'architecture, 1753
A cabana apresentava uma resposta e uma norma de
procedimento, em vez de um modelo, uma resposta à busca
daquilo que Laugier chama de “Leis Fixas e Imutáveis”.

Para Rousseau a natureza corrige os artifícios das sociedades evoluídas

A cabana comportava todos os elementos da arquitectura: as


colunas verticais, entablamento e cobertura inclinada
protectora. Tudo o resto era acessório, era apenas o produto
da civilização e não da natureza.

Laugier estabelece, contra o Barroco e o Rococo, o templo


Grego como o primeiro exemplo da aplicação da lei natural
estrutural.
Neoclassicismo:

A Redescoberta
da Grécia

Ciência,
Arqueologia, e
as doutrinas do
Progresso
“A Arquitectura deve aos gregos tudo o que é perfeito”.”

Laugier, 1753
Johann Joachim
Winckelmann (1717-1768)

GEDANKEN ÜBER DIE NACHAHMUNG DER GRIECHISCHEN


WERKE IN DER MALEREI UND BILDHAUERKUNST (SOBRE A
IMITAÇÃO DAS OBRAS GREGAS DE PINTURA E ESCULTURA,
1755)

OS SEUS RELATOS SOBRE AS ESCAVAÇÕES DE POMPEIA E


HERCULANO FORNECERAM AOS ACADÉMICOS DOS
CLÁSSICOS A PRIMEIRA INFORMAÇÃO CIENTÍFICA FIÁVEL
SOBRE OS TESOUROS DESENTERRADOS NO LOCAL. EM 1762
PUBLICOU ANMERKUNGEN ÜBER DIE BAUKUNST DER ALTEN,
(OBSERVAÇÕES SOBRE A ARQUITECTURA DOS ANTIGOS)
A natureza emergente e instável levou à busca de um estilo
autêntico, através de uma reapreciação precisa da
antiguidade.

A intenção não era copiar os antigos mas sim obedecer aos


princípios nos quais se tinha baseado o labor destes.
Herculano e Pompeia
Escavações em 1738 e 1748,
respectivamente
Nicolas Houel
Voyage Pittoresque des Isles
De Sicile, Malte E De Lipari (1782-1789)
Blouet, Trézel, Ravoisié
Expédition Scientifique de Morée (1831-1838)
Templo de Bassae
Neoclassicismo:

A querela entre
Antigos e
Modernos

Ciência,
Arqueologia, e
as doutrinas do
Progresso
“Nas obras-primas da Arte Grega, connoisseurs e imitadores
encontram não só a natureza no seu estado mais belo, mas também
algo para além da mesma, designadamente, determinadas formas
ideais, constituintes da sua beleza, que (…) são o resultado
exclusivo do processo criativo da mente.”

Johann Joachim Winckelmann (1717-1768), Reflections on the


Imitation of Greek Works in Painting and Sculpture, 1755.
James
Stuart (1713-1788)

Nicolas
Revett (1720-1804)

ANTIQUITIES OF ATHENS (1748)


Julien David
Leroy (1724-1803)

LES RUINES DES PLUS BEAUX MONUMENTS DE LA GRÈCE, (1758)


As campanhas arqueológicas, que surgiram deste impulso
não tardariam a criar controvérsia para determinar a qual das
culturas antigas – Egipcia, Etrusca, Grega ou Romana – se
devia recorrer na busca desta autenticidade.

Entre 1750 e 1765 os principais protagonistas do


neoclassicismo iam desde o pró-etrusco e pró-romano
Piranesi até aos pró-gregos Winckelmann e Le Roy.

Le Roy promoveu a arquitectura Grega como origem do


“verdadeiro estilo”, suscitando a ira de G. B. Piranesi.
Julien-David Leroy.
Les Ruines des plus Beaux Monuments de la Grèce, 1758
Partenon, Atenas.

Julien-David Leroy.
Les Ruines des plus Beaux Monuments de la Grèce,
1758. Templo Olímpico de Zeus, Atenas.
Giovanni
Battista Piranesi (1720-1778)

ARQUITECTO ITALIANO, FAMOSO PELAS SUAS GRAVURAS E ÁGUA-


FORTES. CRIOU MAIS DE 2000 IMAGENS DE EDIFÍCIOS REAIS E
IMAGINÁRIOS, ESTÁTUAS E ORNAMENTOS. DESENVOLVE O SUBLIME
COMO TERRIBILITÀ.
Piranesi defendia a supremacia do génio e da invenção sobre
as regras rígidas da imitação
Giovanni Battista Piranesi
Templo De Baco, Ou Santo Urbano Da Caffarella, 1756-1757
Roma, Ing, Gabinetto Stampe
Giovanni Battista Piranesi
Vista Do Coliseu, 1776.
Roma, Ing, Gabinetto Stampe
Jacques
Germaine Soufflot
IGREJA DE STE-GENEVIÈVE EM PARIS (IN. 1755)
(1713-1780)

SOUFFLOT FOI UM DOS PRIMEIROS ARQUITECTOS A VISITAR OS


TEMPLOS DÓRICOS EM PAESTUM. SOUFFLOT ESTAVA DETERMINADO A
RECRIAR A LIGEIREZA, A ESPACIALIDADE E A PROPORÇÃO DA
ARQUITECTURA GÓTICA EM TERMOS CLÁSSICOS.
Jacques Soufflot
Perspectiva do projecto da Igreja de Ste
Geneviève. Paris 1757.
Jacques Soufflot
Corte do projecto de 1764 da Igreja de Ste
Geneviève. Paris.
Jacques Soufflot
Ste-Geneviève. Paris.
Corte através da alvenaria dos
pedimentos, tal como foi desenhado por
Rondelet.
Jacques Soufflot
Igreja de Ste Geneviève.
Paris, 1755-92.
Jacques Soufflot
Igreja de Ste-Geneviève (actual panteão).
Paris 1757-89.
Neoclassicismo:

Arquitectos
Britânicos em
Roma

Ciência,
Arqueologia, e
as doutrinas do
Progresso
Lord
Burlington (1694-1753)

IMPULSIONADOR DO MOVIMENTO NEOPALLADIANO, PROMOVERÁ O


REGRESSO AOS PRINCÍPIOS CORRECTOS E NOBRES,
REPRESENTADOS NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA E INTERPRETADO POR
PALLADIO.
Lord Burlington
Chiswick House: Fachada Principal
Middlesex, 1725 - 1729
Lord Burlington
Chiswick House: Galeria
Middlesex, 1725 - 1729
Robert Adam (1728-1792)

ESTUDOU NA ESCÓCIA, ONDE O SEU PAI ERA UM ARQUITECTO DE


RENOME ATÉ À SUA MORTE EM 1748. ESTEVE EM ROMA E ESTUDOU AS
ANTIGUIDADES. COM O SEU IRMÃO ABRIU UM ESCRITÓRIO EM
LONDRES DEPOIS DE 1758, CRIANDO UM DOS ATELIERS MAIS
INFLUENTES E INOVADORES DO SÉCULO.
Robert Adam
Kedleston Hall: Planta
Greenwich, 1616 - 1635
Robert Adam
Syon House: Vista da entrada e Planta
Middlesex, 1760 – 1769.
Robert Adam
Syon House: Ante-câmara e Planta
Middlesex, 1760 – 1769.

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