p.5 Gorender faz uma pequena apresentação a respeito de quem era Marx e sobre a
escrita de O Capital.
1.Do liberalismo burguês ao Comunismo
Duas circunstâncias marcaram a origem e a primeira educação de Marx.
A primeira era a sua vivência numa província grandemente influenciada pela
Revolução Francesa. Havia nela firmação em uma moderna indústria fabril, onde se
polarizava duas novas classes da sociedade capitalista: o proletariado e a burguesia.
p.6 A segunda circunstância era que o pai de Marx era um adepto das ideias do
iluminismo francês.
A família de Marx era de classe média e judia, depois o pai dele se converte e
também a família, ao cristianismo.
Cursou a faculdade de direito, onde encontrou vivacidade no âmbito cultural e
político. Hegel era o supremo mentor ideológico na época, então Marx fez a
iniciação filosófica com os jovens hegelianos. Isto levou a um estudo preferencial da
filosofia clássica alemã e da filosofia geral. Esta formação teve influência em sua
produção intelectual.
Marx nunca foi hegeliano em sua escrita.
p.7 A essência do Cristianismo foi a primeira obra que investiu franca e sem
contemplações contra o sistema de Hegel.
O humanismo naturista de Feuerbach foi uma revelação para Marx. Ele se junta a
esta visão filosófica que o permitia romper com Hegel e transitar do idealismo em
direção ao materialismo.
Marx possuía, desde sua juventude, uma excepcional inteligência crítica. Via na
dialética hegeliana apenas uma fonte de especulação mistificadora.
Marx foi redator-chefe na Gazeta Renana, um jornal bancado pela burguesia, mas o
jornal veio a fechar pelos atritos com a censura prussiana. Entretanto, a experiência
jornalística foi muito útil a Marx, pois o aproximou da realidade cotidiana;
ganhou conhecimento nas questões econômicas geradoras de conflitos sociais.
“(...) assim, foi a atividade política, no exercício do jornalismo, que o impeliu ao
estudo em duas direções marcantes: as da Economia Política e das teorias
socialistas”
Em 1843 Marx se casa com Jenny, originária de uma família recém-aristocratizada,
ela troca este cenário para acompanhar o jovem líder revolucionário.
p.8 Marx se transfere para Paris.
Engels era filho de um industrial têxtil, o pai queria que ele seguisse a carreira dos
negócios, mas ele não quer. Engels completa sua formação como aluno-ouvinte de
cursos livres e era um incansável autodidata; viveu pouco o período hegeliano e
também foi influenciado pelas ideias de Feuerbach. Mas antes de Marx, Engels se
aproxima do socialismo e da Economia Política.
Marx encontra no proletariado a classe agente da transformação mais profunda.
p.9 No aspecto filosófico, Marx produziu textos que contém uma crítica incisiva do
idealismo hegeliano.
Marx obteve de Hegel o princípio dialético e começou a elabora-lo de forma a
utiliza-lo para a dialética.
“(...)A situação do proletariado, que representa o grau final de desapossamento,
tem o princípio explicativo no seu oposto — a propriedade privada. Esta é
engendrada e incrementada mediante o processo generalizado e alienação que
permeia a sociedade civil (...)”.
A alienação era vista por Marx enquanto processo da vida econômica.
Nos manuscritos alienação é a palavra-chave.
p.10 Materialismo histórico, socialismo científico e Economia Política
Em 1844 Marx e Engels deram início a colaboração intelectual e política que
perduraria por mais quatro decênios.
Engels sempre se colocou como “o segundo violino” de Marx, mas este jamais
conseguiria produzir seus grandes feitos sem a ajuda e suporte do amigo.
A sagrada família rompe com a esquerda hegeliana.
p.11 De 1845 a 1846, Marx e Engels se mantém em contato com as seitas socialistas
francesas e se envolveram numa conspiração contra a monarquia prussiana, é neste
período que eles escrevem A Ideologia Alemã. O livro é publicado em 1932 na
União Soviética.
Esta obra encerra a primeira formulação da concepção histórico-sociológica que
viria a ser o materialismo histórico.
“A formulação do materialismo histórico desenvolve-se no corpo da crítica às
várias manifestações ideológicas de maior consistência que disputavam, então, a
consciência da sociedade germânica (...)”.
Ideologia é uma consciência equivocada, falsa, da realidade.
p.12 A concepção materialista da história implicava a reformulação radical da
perspectiva do socialismo.
O socialismo só teria efeito se fosse as massas trabalhadoras que o fundamentassem,
com o proletariado a frente.
A partir de 1844 Marx concentra seus estudos na economia.
“(...) assim como Feuerbach abriu caminho à leitura materialista de Hegel e à
elaboração da dialética materialista, Hodgskin, Ravenstone, Thompson, Bray e
Edmonds permitiram a leitura socialista de Ricardo e daí começaria a elaboração
da Economia Política marxiana, de acordo com o princípio ontológico do
materialismo histórico e tendo em vista a fundamentação científica do socialismo”.
p.13 O fato de consequências que veio a constituir o materialismo histórico encontrava o
fundamento da Economia Política, isto viria a definir o caminho da elaboração do
socialismo científico.
Marx e Engels entram em um grupo de emigrantes alemães chamado Liga dos
Comunistas, e recebem uma intimação deste grupo a redigir um manifesto que
apresentasse os objetivos socialistas dos trabalhadores.
p.14 “Em 1850, veio à luz A Luta de Classes em França. Em 1852, O Dezoito Brumário
de Luís Bonaparte. Em ambas as obras, o método do materialismo histórico recém-
criado foi posto à prova na interpretação à quente de acontecimentos da atualidade
imediata (...) Nelas, são realçados não só fatores econômicos, mas também fatores
políticos, ideológicos, institucionais e até estritamente concernentes às pessoas dos
protagonistas dos eventos históricos”.
II. Os tormentos da Criação
p.15 Marx se entrega a tarefa de elaborar a crítica da Economia Política enquanto ciência
mediada pela ideologia burguesa e apresentar uma teoria econômica alternativa.
Em vários momentos ele passou dificuldades no que dizia respeito a recursos para
necessidades básicas, por conta disto, em diversos momentos ele precisou aceitar
tarefas de colaboração jornalística.
A situação de Marx seria insustentável e a sua principal tarefa científica
irrealizável se não fosse pela ajuda material de Engels.
p.16 Engels se instalou em Manchester e ali passou a gerir os interesses financeiros
paternos. Isto prejudicou sua produção intelectual, mas ele não se importava desde
que fornecesse a Marx recursos financeiros para sustenta-lo e a sua família, para que
este pudesse investigar cada vez mais os campos econômicos.
Engels foi incumbido pelo amigo de várias pesquisas especializadas para a
elaboração do Capital.
Por morarem em cidades distintas, as cartas que eles trocavam puderam registrar a
via de elaboração da obra.
A deflagração da crise econômica em 1857 levou Marx a se apressar em
escrever o resultado de suas investigações.
O capitalismo irá se extinguir pela perda de sua capacidade criadora de riquezas.
p.17 “(...) encontra-se nessa ideia um dos traços característicos da elaboração
discursiva marxiana: certos fatores são isolados e desenvolvidos até o extremo, de
tal maneira que venha a destacar-se o máximo de suas virtualidades (...)”.
O tema de destaque nos Grundrisse (esboços sobre a crítica da Economia Política), é
o das formas que precedem a separação entre o agente do processo do trabalho e a
propriedade dos meios de produção. Tal separação constitui uma condição prévia ao
surgimento do modo de produção capitalista.
Os Grundrisse são compostos de dois grandes capítulos dedicados ao dinheiro e ao
capital.
p.18 A riqueza dos Grundrisse reside nas numerosas explicações metodológicas que se
encontram muito pouco em O Capital.
Por ser um rascunho, os Grundrisse exibem andaimes metodológicos e estes
denunciam a forte impregnação hegeliana do pensamento do autor. Em várias
passagens encontram-se termos e giros discursivos do mestre da filosofia clássica
alemã.
“Em janeiro de 1866, Marx já possuía em rascunho todo o arcabouço de teses, tal
qual se tornaram conhecidas nos três livros de O Capital, desde o capítulo inicial
sobre a mercadoria até a teoria da renda da terra, passando pelas teorias da mais-
valia, da acumulação do capital, do exército industrial de reserva, da circulação e
reprodução do capital social total, da transformação do valor em preço de
produção, da queda tendencial da taxa média de lucro, dos ciclos econômicos e da
distribuição da mais-valia nas formas particulares de lucro industrial, lucro
comercial, juro e renda da terra (...)”.
Nestes três livros seriam abordados os temas do trabalho assalariado e da
propriedade territorial.
p.19 Engels se esforçou para realizar a publicação dos livros. Em um primeiro momento
foi realizado pela União Soviética, que considerava a obra como socialista, isto em
1872. Depois em 1873 houve a publicação da edição em alemão. E por último em
1890, a versão definitiva.
Marx trabalhou na redação final do livro 2 e 3 até 1878, sem completar esta tarefa.
p.20 Marx fica abatido com a morte de sua esposa e de uma de suas filhas, acaba
morrendo em 1883. Engels em seu discurso fúnebre diz que o amigo foi o maior
pensador de seu tempo.
Após a morte de Marx, Engels continua criativo e escrevendo obras. Sobre os
ombros dele pesava a responsabilidade de coordenar o movimento socialista
internacional.
Ele nunca deixou de ter a tarefa primordial de trazer a público os dois outros
livros de O Capital.
Havia o problema de que os manuscritos de Marx estavam em diversos graus de
preparação, alguns possuíam várias lacunas e comentários, com apenas os nomes
dos capítulos. Por esta razão Engels acaba assumindo um papel de coautor, cobrindo
as lacunas que o amigo deixou. Ele evita substituir as redações de Marx pela suas,
apenas organizou os manuscritos de acordo com as indicações do autor.
Engels morre pouco depois da publicação do livro 3 de O Capital.
p.21 III. Unificação Interdisciplinar das Ciências Humanas
O Capital é uma obra de economia política.
“(...)O Capital constitui, por excelência, uma obra de unificação interdisciplinar
das ciências humanas, com vistas ao estudo multilateral de determinada formação
social. Unificação entre a Economia Política e a Sociologia, a Historiografia, a
Demografia, a Geografia Econômica e a Antropologia”.
As categorias econômicas se enlaçam com fatores extra-econômicos inerentes a
formação social.
O enfoque marxista da instância econômica não é economicista, uma vez que não
isola da trama variada o tecido social.
O Capital é uma obra de economia política, sociologia e historiografia, por
levantar a tese dos modos de produção capitalista conforme a existência
histórica. Nasceu de determinadas condições criadas pelo desenvolvimento
social e ele mesmo criará as condições de seu desaparecimento e substituição.
p.22 A obra trata de uma historiografia econômica, que abrange exposições sobre os
desenvolvimentos das forças produtivas, questões de tecnologia, pesquisas sobre o
comércio, crédito, propriedade territorial, renda de terra, e a formação moderna da
classe operária.
Marx foi o primeiro a realizar apontamentos sobre o caráter predador da burguesia,
referenciando a destruição dos recursos naturais pelo capitalismo.
Do ponto de vista antropológico, o que se destaca é a relação do homem com a
natureza por meio do trabalho e a humanização sob o aspecto de autocriação do
homem no processo de transformação da natureza pelo trabalho.
As mudanças nas formas de trabalho constituem indicações básicas da mudança das
relações de produção.
O Capital se credencia como realização filosófica basilar.
p.23 Método e estrutura de “O Capital”
Lênin achava que Hegel tinha uma grande influência sobre o pensamento de Marx;
Stálin acreditava que não, para ele a filosofia hegeliana era representativa da
aristocracia reacionária e assim minimizou a influência do pensador sobre Marx.
p.24 Marx rejeita a ideia de Hegel dos contrários.
“(...) em O Capital, são correntes as inferências dedutivas, acompanhadas de
exposições por via lógico-formal (...)seja frisado, a lógica formal está para a lógica
dialética, na obra marxiana, assim como a mecânica de Newton está para a teoria
da relatividade de Einstein. Ou seja, a primeira aplica-se a um nível inferior do
conhecimento da realidade com relação à segunda”.
Marx distingue a investigação da exposição. A primeira exige o máximo de esforço
possível no domínio do material. Ele não descansava enquanto não houvesse
consultado todas as fontes de informação a respeito de determinado assunto.
O fim da investigação está residido em se apropriar em detalhe da matéria
investigada. Somente depois disso é que se passa a exposição.
p.25 A exposição deve figurar um “todo artístico”.
Os temas como os da acumulação originária do capital e da formação da moderna
indústria fabril foram expostos segundo o modo histórico.
p.26 O objetivo de Marx com O Capital foi desvendar a lei econômica da sociedade
burguesa, ou as leis do nascimento, desenvolvimento e morte do modo de produção
capitalista.
O plano da obra foi longamente trabalhado e sofreu modificações à medida que o
autor ganhava domínio do assunto.
Há uma linha divisória entre o Primeiro e o Segundo livro, e o terceiro. Os dois
primeiros dizem respeito ao “capital em geral”, em sua identidade uniforme. O
terceiro aborda a concorrência entre os capitais concretos e diferenciados por função
específica, e pela modalidade de apropriação da mais-valia.
O capital em geral seria a essência deste, aquilo que se identifica o capital
enquanto capital em qualquer circunstância.
“(...) no Livro Primeiro, trata-se do capital em sua relação direta de exploração da
força de trabalho assalariada. Por isso mesmo, o locus preferencial é a fábrica e o
tema principal é o processo de criação e acumulação da mais-valia. A modalidade
exponencial do capital é o capital industrial, pois somente ele atua no processo de
criação da mais-valia. No Livro Segundo, trata-se da circulação e da reprodução
do capital social total (...)”.
No livro 3 os capitais se diferenciam, se individualizam e o movimento global é
enfocado sob a concorrência entre os capitais individuais.
p.27 “A estrutura de O Capital, segundo Lange, foi montada de acordo com um plano
que parte do nível mais alto de abstração, no qual se focalizam fatores isolados ou
no menor número possível, daí procedendo por concretização progressiva, à
medida que se acrescentam novos fatores, no sentido da aproximação cada vez
maior e multilateral à realidade fatual (...)”.
IV. Mercadoria e Valor
Marx recebeu a teoria do valor-trabalho de Smith e Ricardo. A ideia é que o
trabalho exigido pela produção das mercadorias mede o valor de troca entre elas e
constitui o eixo em torno do qual oscilam os preços.
p.28/ Marx formula o conceito da mais-valia e a expõe no primeiro livro. Neste ele não
parte do conceito de valor e sim da mercadoria.
29/
-pág 29:
30 Marx assinala em várias passagens que nas formações sociais anteriores ao
capitalismo prevalecia a produção para valor de uso.
O capitalismo não pode surgir senão com as premissas dadas da produção mercantil
e da circulação monetária.
-pág 30:
No que diz respeito a mercadoria o valor de uso é o suporte físico do valor.
Em O Capital, Marx firma e salienta a diferenciação entre valor e valor de troca,
tornando clara a necessidade em focalizar no valor apenas.
p.31 Para Smith e Ricardo o valor não era uma qualidade social dos produtos e sim algo
natural. Para Marx, o valor é uma substância social-histórica.
“(...)A relação entre as pessoas se esconde atrás da relação entre as coisas”.
A lei do valor como reguladora da produção
A produção capitalista não obedece a um plano centralizado, mas se realiza
conforme o impulso de decisões fragmentárias isoladas.
p.32 O processo social global da produção capitalista se caracteriza pela anarquia.
Obedece a um regulador objetivo que atua à revelia da consciência de produtores
privados, este regulador é a lei do valor.
“A lei do valor cumpre sua função de reguladora da produção social em meio a
constantes oscilações e desequilíbrios provocados por sua própria atuação (...)”.
Na tradição do pensamento burguês, a economia capitalista seria substancial à
natureza humana precisamente por ser harmônica.
p.33 V. Capital, Fetichismo e Acumulação Originária
Valor de troca conduz ao dinheiro.
Marx ressalta que a necessidade do dinheiro está implícita na relação mercantil mais
simples e casual.
A circulação capitalista constitui premissa necessária não suficiente para o
surgimento do modo de produção capitalista.
Dois tipos de capital: comercial e empréstimo.
p.34 O capital não é uma coisa, e sim uma relação social, de exploração dos operários
pelos capitalistas.
A teoria de Marx conduz a desmistificação do fetichismo da mercadoria e do
capital.
O capital se encarna nos instrumentos de produção criados pelo homem, mas não é o
homem que utiliza esses meios e sim os meios que usam o trabalhador.
p.35 “A crítica ao fetichismo do capital vincula-se intimamente à decifração do segredo
da acumulação originária do próprio capital (...)”.
“A de Nassau Senior: o capital nasceu da abstinência de uns poucos virtuosos, que
preferiram poupar a consumir, assumindo o ônus de um sacrifício em benefício da
sociedade justamente recompensado. A de Weber: o capitalismo requer a atitude
racionalista diante dos fatos econômicos e semelhante atitude procedeu, na Europa
ocidental, da ética protestante. A de Schumpeter: os primeiros empresários foram
homens de talento que tiveram a poupança acumulada à sua disposição”.
“Já segundo Marx, o capital, não mais como capital mercantil, porém como capital
industrial promotor do modo de produção capitalista, surge somente com
determinado grau histórico de desenvolvimento das forças produtivas, grau este
que implica determinado tipo de divisão social do trabalho (...)”.
p.36 A acumulação primitiva do capital se deu como uma época de violenta subversão da
ordem.
O capital emerge como um agente revolucionário implacável que destrói as
formações sociais localistas e instaura grandes mercados nacionais unificados. Este
realizou o rápido desenvolvimento das forças produtivas sem considerações
moralistas humanitárias.
O capital possui dois componentes distintos: constante e variável.
O constante representa o trabalho morto, cristalizado e acumulado. O Variável
representa a única parte do capital que varia no processo produtivo.
p.37 A novidade em O Capital se resume em dois aspectos:
Primeiro pela distinção entre trabalho e força de trabalho. O trabalho nada mais é
que a utilização da força de trabalho, cujo conteúdo consiste nas aptidões físicas e
intelectuais dos operários.
O salário não paga o valor do trabalho, mas sim o da força de trabalho.
p.38/ Em segundo está a concepção da mais-valia enquanto sobre-produto extraído de
suas formas particulares.
39
-pág. 39:
“Da análise do texto de Smith, no volume I das Teorias da Mais-Valia, emergiram
distinções bem definidas em O Capital. O capital produtivo é, por excelência, o
capital industrial, concebendo-se o capital agrícola como uma de suas modalidades
(...)”.
p.40/ Mais-valia e acumulação de capital
Acumulação capitalista significa valorização do capital.
41
Os capitalistas anseiam por quantidades cada vez maiores de mais-valia.
-Pág. 41:
O aumento da quantidade de mais-valia, anteriormente, só era possível através de
uma mais-valia absoluta, que só se arrecadava mediante o prolongamento da jornada
de trabalho. Já a mais-valia relativa resulta do acúmulo de inovações técnicas,
elevando a produtividade social do trabalho e diminuem o valor dos bens de
consumo.
p.42 “Marx formulou uma lei geral absoluta da acumulação capitalista, segundo a qual
se concentra, num polo, a massa cada vez maior de riquezas à disposição do
capital, enquanto, no polo oposto, aumenta a miséria das massas trabalhadoras
(...)”
A posição de Marx em relação ao salário muda conforme sua idade avança.
p.43 “(...)Marx entendia a questão da acentuação da miséria dos trabalhadores numa
perspectiva abrangente, que não se referia tão-somente aos operários regularmente
empregados e aos seus salários reais, porém também devia incluir o que chamou de
“tormentos do trabalho”, bem como as condições de existência da massa crescente
de operários desempregados, cujos tormentos decorriam, não do trabalho na
empresa capitalista, porém da falta dele (...)”.
Os trabalhadores conseguem incorporar seu padrão de vida a satisfação de novas
necessidades, seja por processo espontâneo de desenvolvimento das forças
produtivas ou por efeito da luta de classes.
p.44 Todo progresso no capitalismo suscita antagonismos.
VI. Valor e Preço – O Problema da Transformação
Os economistas estipularam que deveria haver um regulador determinante dos
preços do mercado. Smith e Ricardo definem que este regulador seria o valor-
trabalho.
Marx se esforça no sentido de eliminar esta transição imediata do conceito abstrato
de valor à realidade dos preços. Fez isto realizando mediações dialéticas que
balizam o trajeto do valor aos preços de mercado.
1º mediação: taxa de mais-valia (relação entre a mais-valia e o capital variável.
A taxa de lucro é a relação entre a mais-valia e o capital individual total.
p.45 A taxa da mais-valia revela o grau de exploração da força de trabalho, enquanto a
taxa de lucro indica o grau de valorização do capital.
As taxas de lucro não variam em função do coeficiente de capital variável de cada
capital individual.
A mediação entre a taxa de mais-valia e a taxa de lucro reside na transformação do
valor em preço de produção.
“(...)A fórmula do valor é: capital constante + capital variável + mais-valia. A
fórmula do preço de produção é: capital constante + capital variável + lucro médio
(...)”.
No terceiro livro, Marx demonstra como é possível a transformação do valor em
preço de produção com a simultânea satisfação de duas equações: igualdade entre o
total dos valores e o total dos preços de produção; e a da igualdade entre o total da
mais-valia e o total dos lucros.
p.46 A lei do valor domina o modo de produção capitalista.
“(...)regulador do nível das oscilações dos preços de mercado já não é diretamente
o valor, mas sua forma transfigurada de preço de produção. Contudo, entre o preço
de produção e os preços de mercado, Marx colocou mais uma mediação categorial
— a do valor de mercado (...)”.
As mercadorias se dividem em três categorias:
1. Preço de produção igual à média socialmente necessária.
2. Preço de produção superior à média.
3. Preço de produção inferior à média.
Marx não desprezou a lei da oferta e da demanda. Ele apenas admitiu sua atuação
apenas à superfície dos fenômenos econômicos e rejeitou a explicação psicologista
desta atuação.
A oferta depende da aproximação dos preços de mercado com relação ao preço de
produção.
p.47 A publicação do livro 3 de O Capital se deu 27 anos depois de o primeiro. E
criou uma polêmica que perpassa até hoje.
Schimidt e Sombart afirmaram que o valor não passava de uma construção lógica.
O ensaio de Böhm-Bawerk definiu o padrão universitário de contestação da teoria
marxista do valor.
“(...) contradição entre o Livro Primeiro, no qual sempre se supõe a troca de
equivalentes, e o Livro Terceiro, no qual a troca de equivalentes cede lugar à troca
segundo os preços de produção. A conclusão era a de que Marx fracassara na
pretensão de explicar os preços a partir do pressuposto do valor-trabalho”.
Hilferding se empenhou a rebater esta crítica, consistindo na tese de que o sistema
da Economia Política marxista não poderia ser reduzido a uma teoria a respeito dos
preços. Esta se inseria num contexto maior de análise das leis do movimento da
sociedade burguesa.
p.49/ O teorema das duas igualdades só pode ser demonstrado a partir dos valores, como
fez Marx. Pois só assim fica provado que quaisquer os preços das mercadorias e a
50
não equivalência de suas trocas singulares, a sociedade disporá unicamente da soma
de valores igual àquela incorporada às mercadorias.
-Pág.50:
Os preços constituem uma evidência fenomenal dos processos econômicos
profundos e a explicação restrita dos preços.
A partir do valor-trabalho é que Marx pôde elucidar a contradição do modo de
produção capitalista como sendo a contradição entre a forma privada de apropriação
e o caráter social.
p.51 VII. Tendências do Desenvolvimento do Modo de Produção Capitalista
“O sistema teórico marxiano distingue-se pela exposição das tendências dinâmicas
inerentes ao modo de produção capitalista, as quais, se lhe impulsionam o
crescimento, ao mesmo tempo desenvolvem suas contradições internas e o
conduzem à decadência e à substituição por um novo modo de produção”.
A concepção dialética marxista se opôs a tradição jusnaturalista da ideologia
burguesa. Por isso, o capitalismo não é visto como aberração, assim como seus
anteriores, ele representa grandes etapas do desenvolvimento histórico.
p.52 O capital social total e as contradições de sua reprodução.
No livro 2 Marx busca esclarecer como era possível efetivar-se a reprodução do
capital social total.
Todo modo de produção deve ser também um modo de reprodução.
Os esquemas de produção se formulam em termos de valor, discriminando o
produto social anual em três partes: capital constante, variável e mais-valia.
O produto social procede de dois departamentos: o I – produtor de bens de
produção; II – produtor de bens de consumo.
p.53 A reprodução social do capital social depende que o produto social possua uma
composição quantitativa proporcional em termos de valor.
Marx formulou dois modelos matemáticos de esquemas: o primeiro é o da
reprodução simples, que supõe um gasto dos capitalistas de toda a mais-valia em
consumo pessoal. O segundo é a reprodução ampliada. Nesta, uma parte da mais-
valia é produtivamente investida.
No processo de circulação o capital atravessa as fazes de capital dinheiro,
produtivo e mercadoria.
p.54 Os esquemas marxistas da reprodução social total ensejaram acesas polêmicas.
“(...)Tugan-Baranovski, destacadamente, extraiu deles a conclusão de que o
capitalismo poderia desenvolver-se a perder de vista, a salvo de crises
econômicas(...)”.
p.55 Os ciclos econômicos
Schumpeter afirmou que Marx foi pioneiro na apresentação de uma teoria
consistente dos ciclos econômicos.
Não se acha em O Capital uma exposição sistemática a respeito disto, as referências
estão fragmentadas entre os três livros.
Ao estudar a reprodução do capital social, Marx assinala a natureza cíclica dessa
reprodução.
Depois da crise, cada ciclo se renova através de fases sucessivas de depressão,
reanimação e auge.
p.56 4 aspectos primordiais do movimento cíclico da economia foram abordados por
Mrax:
1. Definição das barreiras principais que o próprio capital instala. Este possui
duas barreiras: desproporcionalidade do crescimento dos vários ramos da
produção e a exploração dos trabalhadores que rebaixa o nível de consumo
das massas.
2. Deslocamento e autonomização da esfera bancária com relação a esfera
produtiva.
3. Caracterização da base técnico-material para o movimento cíclico.
4. Crises, tomadas como fase de deslanche do ciclo econômico.
Marx frisou que na fase de auge, antecessora a crise, a oferta de empregos se amplia
ao máximo e os salários sobem o mais alto possível.
p.57/ A elevação conjuntural dos salários importa em uma diminuição gradual da mais-
valia, o que desacelera e acaba freando o processo de acumulação do capital.
58
Marx não faz qualquer referência aos ciclos longos.
-Pág.58:
A Grande Depressão abalou o edifício teórico neoclássico e proporcionou a
emergência da teoria keynesiana, com a ideia de que as crises poderiam ser
submetidas a certo grau de controle pela intervenção do Estado burguês.
p.59/ A lei da queda tendencial da taxa de lucro
A queda da taxa de lucro já havia sido constatada por Smith.
60
-Pág.60:
Quando Marx aborda esta questão se desfaz do simplismo de Smith e da explicação
ricardiana. Ele elabora sua própria teoria da renda capitalista que se opõe a de
Ricardo.
p.61 “Marx aduziu outros fatores que, sem serem consubstanciais à atuação da lei,
também contribuíam para atenuar ou deter temporariamente a queda da taxa de
lucro. Um deles é o comércio exterior, que permite obter bens de produção e/ou
bens-salário mais baratos, coincidindo, portanto, com os efeitos apontados acima.
O outro fator é a exportação de capitais aos países atrasados, onde a taxa de lucro
costuma ser mais elevada, motivo por que os lucros dos investimentos no exterior
impelem para cima a taxa de lucro no país exportador de capitais”.
Marx criou o conceito de capital excedente referindo-se a superacumulação do
capital.
p.62 Na concepção de Marx, o surgimento do socialismo exige uma ação revolucionária
por meio dos trabalhadores.
p.64/ Concorrência e monopólio
O capital existe somente enquanto multiplicidade de outros capitais independentes.
65
Notamos nisto então, a necessidade que o sistema capitalista possui da concorrência.
-Pág.65:
Marx entendia a concorrência capitalista como luta de vida e morte, que elimina os
fracos e condiz ao estreitamento do círculo.
Marx previu a transição da concorrência ao monopólio.
p.66 Marx escreve O Capital na Inglaterra e toma este país como campo preferencial para
a observação empírica.
“(...) mas a estrutura lógica, que deu à obra, tornou-a instrumento teórico válido
para o estudo do capitalismo em quaisquer países e circunstâncias concretas, sob a
condição de não se perder de vista a relação entre os procedimentos lógico e
histórico de abordagem científica, imposta pela metodologia dialéticomaterialista.
Se o modo de produção capitalista possui as mesmas categorias e leis em toda
parte, o curso do desenvolvimento capitalista não pode deixar de se diferenciar
conforme a acumulação originária do capital se tenha efetivado a partir do
feudalismo (...)”.