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GABARITO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO A DISTÂNCIA

Princípios e Fenômenos Eletromagnéticos –


2014.1
Escola de Ciências e Tecnologia – UFRN
20-02-2014
24-08-2011
Questão 1 [2,0 pts]:
(a) Supondo somente a atuação da força da gravidade, qual deveria ser a distância entre um elétron e um
próton (supondo-os um par isolado) para que a aceleração sofrida pelo elétron tivesse módulo igual ao
da aceleração da gravidade da Terra (𝑔 = 9,80 m⁄s 2 )? [𝟏, 𝟎 𝐩𝐭]
(b) Suponha que a Terra fosse composta apenas por prótons, mantendo o mesmo tamanho e massa atuais.
Qual seria o módulo da aceleração de um elétron solto próximo à superfície? Seria necessário
considerar tanto a força elétrica quanto a gravitacional? Por quê? [𝟏, 𝟎 𝐩𝐭]

Solução:

(a) Se 𝑚𝑒 é a massa do elétron, 𝑚𝑝 é a massa do próton e 𝑟 a separação entre eles, o módulo 𝐹𝑔 da força
gravitacional que o próton exerce sobre o elétron será
𝑚𝑝 𝑚 𝑒
𝐹𝑔 = 𝐺 , (1.1)
𝑟2
onde 𝐺 ≅ 6,672 × 10−11 N ∙ m2 ⁄kg 2 é a constante universal de Newton. Se a força gravitacional
exercida pelo próton fosse a única força atuando sobre o elétron, então, pela Segunda Lei de Newton,
teremos
𝐹𝑔 = 𝑚𝑒 𝑎𝑒 , (1.2)

onde 𝑎𝑒 é o módulo da aceleração do elétron. Combinando (1.1) com (1.2) e considerando 𝑎𝑒 = 𝑔,


a distância 𝑟 entre o elétron e o próton será

𝑚𝑝 𝑚𝑒 1⁄2
𝑚𝑒 𝑔 = 𝐺 2
⟹ 𝑟 = (𝐺𝑚𝑝 ⁄𝑔) . (1.3)
𝑟

Usando os valores numéricos do problema, teremos

6,672 × 10−11 N ∙ m2 ⁄kg 2 ∙ 1,673 × 10−27 kg


𝑟=√ ≅ 1,07 × 10−19 m
9,80 m⁄s2

(b) Neste problema consideramos a força eletrostática (de módulo 𝐹𝑒 ) exercida pela “Terra de prótons”
sobre um elétron:
𝑄𝑒
𝐹𝑒 = 𝑘𝑒 , (1.4)
𝑅2
onde 𝑅 é o raio da Terra e 𝑄 é a que a Terra teria se fosse composta apenas de prótons. Se 𝑀 é a
massa da Terra, a carga 𝑄 é dada por
𝑀
𝑄 = 𝑁𝑒 = 𝑒, (1.5)
𝑚𝑝
onde 𝑁 = 𝑀⁄𝑚𝑝 é o número total de prótons. Inserindo (1.5) em (1.4) e usando os dados numéricos
(no CGS) correspondentes, teremos

𝑀 𝑒2 5,972 × 1027 g (4,803 × 10−10 stC)2


𝐹𝑒 = 𝑘𝑒 = ≅ 2,031 × 1015 dyn = 2,031 × 1010 N. (1.6)
𝑚𝑝 𝑅 2 1,673 × 10−24 g (6,368 × 108 cm)2

Já a força gravitacional sobre o elétron seria


𝑀𝑚𝑒
𝐹𝑔 = 𝐺 2 = 𝑚𝑒 𝑔 = 9,109 × 10−31 kg ∙ 9,80 m⁄s2 ≅ 8,93 × 10−30 N. (1.7)
𝑅
Comparando (1.6) com (1.7) concluímos que 𝐹𝑔 ≪ 𝐹𝑒 , de maneira que a força gravitacional não
precisa ser levada em consideração. Logo, o módulo 𝑎𝑒 da aceleração do elétron seria dado por
𝐹𝑒 2,031 × 1010 N
𝐹𝑒 = 𝑚𝑒 𝑎𝑒 ⟹ 𝑎𝑒 = ≅ ≅ 2,229 × 1040 m⁄s2 ≅ 2,27 × 1039 𝑔. (1.8)
𝑚𝑒 9,109 × 10−31 kg
A aceleração sofrida pelo elétron seria da ordem de 1039 vezes maior que a aceleração da gravidade!

Questão 2 [3,0 pts]:


Duas cargas 𝑞1 e 𝑞2 estão dispostas como indicado na figura abaixo. O módulo da carga 𝑞1 é 9,00 stC. Calcule
o módulo do campo elétrico 𝑬 ⃗⃗ (que aponta para a esquerda) no ponto 𝑃 indicado na figura.


𝑬 𝑃 𝒋̂
.
𝒓̂𝑃2
𝒊̂
𝒓̂𝑃1
𝜃
𝑞1 𝑞2
12,0 cm

Solução:

Os campos ⃗𝑬
⃗ 1 e ⃗𝑬
⃗ 2 produzidos pelas cagas 𝑞1 e 𝑞2 , respectivamente, no ponto 𝑃 (no sistema de coordenadas
escolhido) são dados por

𝑞1 𝑞1 𝑘𝑒 𝑞1
⃗⃗ 1 = 𝑘𝑒
𝑬 ̂ 𝑃1 = 𝑘𝑒 2 [(𝒊̂ ∙ 𝒓̂𝑃1 )𝒊̂ + (𝒋̂ ∙ 𝒓̂𝑃1 )𝒋̂] = 2 (𝒊̂ sen 𝜃 + 𝒋̂ cos 𝜃),
2 𝒓 𝑎 sen2 𝜃
(2.1)
𝑟𝑃1 𝑟𝑃1
𝑞 𝑞 𝑘𝑒 𝑞2
⃗ 2 = 𝑘𝑒 2 𝒓̂𝑃2 = 𝑘𝑒 2 [(𝒊̂ ∙ 𝒓̂𝑃2 )𝒊̂ + (𝒋̂ ∙ 𝒓̂𝑃2 )𝒋̂] =
⃗𝑬 (−𝒊̂ cos 𝜃 + 𝒋̂ sen 𝜃), (2.2)
2 2 𝑎2 cos2 𝜃
𝑟𝑃2 𝑟𝑃2

onde 𝒓̂𝑃1(2) é o vetor unitário que aponta da carga 𝑞1(2) para o ponto 𝑃 e 𝑟𝑃1(2) é a distância da carga 𝑞1(2)
ao ponto 𝑃 e 𝑎 é a distância entre as cargas. Pelo Princípio da Superposição, o campo total 𝑬
⃗ em 𝑃 será

𝑘𝑒 𝑞1 𝑞2 𝑞1 𝑞2
⃗⃗ = 𝑬
𝑬 ⃗⃗ 1 + 𝑬
⃗⃗ 2 = [( − ) 𝒊̂ + ( cot 𝜃 + tan 𝜃) 𝒋̂] = −𝐸𝒊̂, (2.3)
𝑎 2 sen 𝜃 cos 𝜃 sen 𝜃 cos 𝜃
onde 𝐸 é o módulo do campo e onde usamos o fato de que o campo em 𝑃 é horizontal e aponta para a
esquerda, como ilustrado na figura. De (2.3) obtemos o seguinte sistema de equações:

𝑘𝑒 𝑞1 𝑞2
2
( − ) = −𝐸, (2.4)
𝑎 sen 𝜃 cos 𝜃
𝑞1 𝑞2
cot 𝜃 + tan 𝜃 = 0. (2.5)
sen 𝜃 cos 𝜃

De (2.5) podemos encontrar 𝑞2 em termos de 𝑞1 e 𝜃:

𝑞2 𝑞1
tan 𝜃 = − cot 𝜃 ⟹ 𝑞2 = −𝑞1 cot 3 𝜃 . (2.6)
cos 𝜃 sen 𝜃

Inserindo o resultado (2.6) em (2.4), teremos

𝑘𝑒 𝑞1 𝑞2 𝑘𝑒 𝑞1 2
𝑘𝑒 𝑞1
𝐸=− ( − ) = − (1 + cot 𝜃) = − . (2.7)
𝑎2 sen 𝜃 cos 𝜃 𝑎2 sen 𝜃 𝑎2 sen3 𝜃

Como 𝐸 > 0 (já que é o módulo do vetor campo elétrico), de (2.7) temos necessariamente 𝑞1 < 0, o que
implica |𝑞1 | = −𝑞1 . Dos dados do problema, temos ainda sen 𝜃 = 6,00 cm⁄12,0 cm = 0,500, 𝑎 = 12,0 cm
e |𝑞1 | = 9,00 stC. Inserindo esses dados em (2.7), poderemos enfim calcular o módulo 𝐸 do campo elétrico
em 𝑃:

𝑘𝑒 |𝑞1 | 9,00 stC


𝐸= = = 0,500 dyn⁄stC = 15,0 kN⁄C.
𝑎 sen3 𝜃
2 (12,0 cm)2 (0,500)3

Questão 3 [2,0 pts]:


Um diodo consiste, basicamente, em dois eletrodos no interior de um tudo no qual se faz um vácuo elevado.
Um dos eletrodos, o catodo, é mantido a uma alta temperatura e emite elétrons de sua superfície. Uma
diferença de potencial é mantida entre o catodo e o outro eletrodo, chamado de anodo, sendo o potencial deste
último o mais elevado. Devido ao acúmulo de cargas nas vizinhanças do catodo (em razão do fluxo de elétrons
que deixa a superfície do catodo), o potencial elétrico entre os eletrodos não é uma função linear da posição
(mesmo para a simetria planar), sendo dado por

𝑉(𝑥) = 𝐶𝑥 4⁄3 , (3.1)

onde 𝑥 é a distância entre o ponto ondo o potencial é calculado e o catodo, e 𝐶 é uma constante característica
do diodo. Suponha que a distância entre o catodo e o anodo seja de 1,27 cm e que a diferença de potencial
entre eles seja de 243 V.

a) Determine a constante 𝐶. [𝟏, 𝟎 𝐩𝐭]


b) Calcule a força sobre um elétron quando ele está na metade da distância entre os eletrodos. [𝟏, 𝟎 𝐩𝐭]

Solução:

a) O catodo é o eletrodo negativo (já que possui um excesso de elétrons) enquanto o anodo é o eletrodo
positivo. Logo, tomando-se o catodo em 𝑥 = 0 e o anodo em 𝑥 = 𝑎, de (3.1) temos que os potenciais
𝑉c e 𝑉a no catodo e anodo, respectivamente, serão
𝑉c = 𝑉(0) = 0,
(3.2)
𝑉a = 𝑉(𝑎) = 𝐶𝑎4⁄3 .

Usando os dados do problema na última equação, teremos

𝑉a = 𝐶𝑎4⁄3 ⟹ 𝐶 = 𝑉a 𝑎−4⁄3 = 243 V ∙ (0,0127 m)−4⁄3 ⟹ 𝐶 ≅ 82,0 kV ∙ m−4⁄3 . (3.3)

b) A força ⃗𝑭 sobre uma carga 𝑞 num campo eletrostático ⃗𝑬 é dada por


⃗ = 𝑞𝑬
𝑭 ⃗ = −𝑞𝛁𝑉(𝒓 ⃗ ), (3.4)
onde 𝑉 é o potencial eletrostático e 𝒓
⃗ é a posição da carga 𝑞. No presente caso, o potencial 𝑉 é dado
por (3.1) e a carga 𝑞 é um elétron, ou seja, 𝑞 = −𝑒 = −1,602 × 10−19 C. Logo,
𝜕 4
⃗𝑭 = 𝑒𝛁𝑉(𝑥) = 𝑒𝛁(𝐶𝑥 4⁄3 ) = 𝑒𝒊̂ (𝐶𝑥 4⁄3 ) = 𝑒𝐶𝑥 1⁄3 𝒊̂. (3.5)
𝜕𝑥 3
Calculando a força para 𝑥 = 𝑎/2 (metade da distância entre os eletrodos), teremos
4 4 0,0127 m 1⁄3
⃗ = 𝑒𝐶(𝑎⁄2)1⁄3 𝒊̂ = ∙ 1,602 × 10−19 C ∙ 82,0 kV ∙ m−4⁄3 ∙ (
𝑭 ) 𝒊̂ ⟹
3 3 2
⃗ ≅ (3,24 × 10−15 N)𝒊̂.
𝑭 (3.6)
A força tem módulo 3,24 × 10−15 N e aponta do catodo para o anodo.

Questão 4 [3,0 pts]:


Um dipolo de intensidade 2,50 × 10−4 stC ∙ cm localizado sobre o eixo de 𝜃
̂
𝒌
simetria de um aro circular muito fino e orientado de um ângulo 𝜃 = 30,0° ⃗𝒑
com a direção vertical, está a uma distância ℎ = 4,00 cm do plano do aro (ver
𝒋̂
figura). O aro está uniformemente carregado com uma carga 𝑄 = +12,0 stC. 𝒊̂

a) Determine a energia eletrostática armazenada no dipolo. [𝟏, 𝟎 𝐩𝐭]
b) Determine o módulo e a orientação do torque exercido sobre o dipolo.
[𝟏, 𝟎 𝐩𝐭]
𝑄
c) Determine o módulo e a orientação da força resultante sobre o dipolo.
[𝟏, 𝟎 𝐩𝐭]

Solução:

a) A energia eletrostática 𝑈 armazenada no dipolo será


𝑈 = −𝒑 ⃗
⃗ ∙𝑬 (4.1)
onde ⃗𝑬 é o campo produzido pelo aro carregado, que é dado por (ver problema 1 da aula 2)
𝑄𝑧
⃗𝑬
⃗ = 𝑘𝑒 ̂,
𝒌 (4.2)
(𝑅 2 + 𝑧 2 )3⁄2
onde 𝑧 é a coordenada sobre o eixo de simetria do aro de raio 𝑅. Combinando (4.1) com (4.2),
fazendo 𝑧 = ℎ e usando o CGS, teremos
̂∙𝒑
𝑄ℎ𝒌 ⃗ 𝑝ℎ𝑄 cos 𝜃
𝑈=− 2 = − . (4.3)
(𝑅 + ℎ2 )3⁄2 (𝑅 2 + ℎ2 )3⁄2
b) O torque 𝝉
⃗ exercido sobre o dipolo será
𝑄ℎ𝒑⃗ ×𝒌 ̂ 𝑝ℎ𝑄 sen 𝜃
⃗ × ⃗𝑬 =
⃗ =𝒑
𝝉 ⁄
= 2 𝒊̂. (4.4)
2
(𝑅 + ℎ )2 3 2 (𝑅 + ℎ2 )3⁄2
O módulo do torque é 𝑝ℎ𝑄(𝑅 2 + ℎ2 )−3⁄2 sen 𝜃 e sua orientação é a mesma do vetor 𝒊̂ (como indicado
na figura).
c) A força resultante ⃗𝑭 sobre o dipolo será

𝜕 𝑄𝑧 1 (3ℎ⁄2)(2ℎ)
⃗𝑭 = (𝒑 ⃗⃗ = (𝑝 cos 𝜃
⃗ ∙ 𝛁)𝑬 )( 2 ̂ )|
𝒌 = ̂ 𝑝𝑄 cos 𝜃 (
𝒌 − )⟹
𝜕𝑧 (𝑅 + 𝑧 2 )3⁄2 𝑧=ℎ
(𝑅 2 + ℎ2 )3⁄2 (𝑅 2 + ℎ2 )5⁄2

(𝑅 2 − 2ℎ2 )𝒌̂
⃗𝑭 = 𝑝𝑄 cos 𝜃 . (4.5)
(𝑅 2 + ℎ2 )5⁄2

O módulo da força é 𝑝𝑄 cos 𝜃 |𝑅 2 − 2ℎ2 |(𝑅2 + ℎ2 )−5⁄2 e sua orientação é a mesma do vetor 𝒌
̂ para
𝑅 2 > 2ℎ2 , e tem sentido contrário ao do vetor 𝒌
̂ para 𝑅 2 < 2ℎ2 (para 𝑅 2 = 2ℎ2 a força sobre o
dipolo é nula).

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DISCUSSÃO COMPLEMENTAR

Como na questão não é dado o valor numérico do raio do aro, consideremos o caso limite 𝑅 ≪ ℎ. Neste caso,
os resultados (4.3) a (4.5) ficam

𝑝𝑄
𝑈≈− cos 𝜃 , (𝑖)
ℎ2
𝑝𝑄
⃗ ≈ 𝒊̂ 2 sen 𝜃 ≅ −𝒊̂𝑈 tan 𝜃 ,
𝝉 (𝑖𝑖)

2𝑝𝑄 2𝑈
⃗𝑭 ≈ −𝒌 ̂ cos 𝜃 ≈ ̂.
𝒌 (𝑖𝑖𝑖)
ℎ 3 ℎ

Usando os dados numéricos do problema nas equações (𝑖) a (𝑖𝑖𝑖), teremos

2,50 × 10−4 stC ∙ cm ∙ 12,0 stC


𝑈≅− cos 30,0° ≅ −1,62 × 10−4 erg.
(4,00 cm)2

⃗ ≅ 𝒊̂ ∙ 1,62 × 10−4 erg ∙ tan 30,0° ≅ (9,38 × 10−5 dyn ∙ cm)𝒊̂.


𝝉

2 ∙ (−1,62 × 10−4 erg)


⃗ ≅
𝑭 ̂ ≅ −(8,12 × 10−5 dyn)𝒌
𝒌 ̂.
4,00 cm

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