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Rodovia Washington Luís (SP-310) km 235, São Carlos - São Paulo – Brasil CEP 13565-
905.
Resumo
Dentre as associações mais comuns entre aço e concreto estão as vigas mistas com perfis de aço conectados
às lajes por conectores de cisalhamento. Nestes casos, a laje de concreto armado também pode ser utilizada
para conferir certo grau de continuidade às vigas, aumentando a eficiência estrutural do sistema. Neste
trabalho é analisada a contribuição da laje de concreto armado na capacidade resistente e rigidez de vigas
mistas de aço e concreto. Em função do grau de continuidade nos apoios, as vigas mistas podem ser
contínuas ou semicontínuas. No primeiro caso, o limite de capacidade resistente é imposto pela viga de aço
e, no segundo, pela capacidade resistente da ligação mista entre viga e pilar ou entre vigas. São analisados,
discutidos e comparados alguns modelos para determinação da capacidade resistente de vigas mistas em
sistemas contínuos e semicontínuos. São apresentados ainda, de forma sintetizada, os procedimentos
constantes no projeto de revisão da NBR 8800 (PR-NBR 8800:2007) e os requisitos mínimos para que a laje
possa cumprir este papel de promover a continuidade nos sistemas de piso misto.
Palavras-chave: estrutura mista, viga mista, ligação mista, viga contínua e semicontínua, momento fletor.
Abstract
The composite beams are the most common composite element and the composite action is due the slab and
steel beam are connected by stud bolts. In this situation, the reinforced concrete slab can be utilized to
improve the continuity degree of the composite beams. In this paper is studied the influence of reinforced
concrete slab on strength capacity and rigidity of the steel-concrete composite beam. Depending on the
continuity degree, the beams can be classified in continuous or semi-continuous composite beams. In the first
case, the strength capacity of the structural element is limited by the steel beam, while the strength capacity
of the composite connection is the limit of the semi-continuous composite beams. In this paper are analyzed,
discussed and compared some models to determine the strength capacity of the composite beams in semi-
continuous and continuous structural systems. The procedure to estimate the strength capacity of the NBR
8800 Brazilian Standard Code is discussed and the main characteristics of the slab to contribute increasing
the continuity degree of the beam are presented.
Keywords: composite structure, composite beam, composite connection, continuous beam, bending moment.
1 INTRODUÇÃO
Os sistemas estruturais e construtivos têm evoluído significativamente nas últimas décadas
com a introdução de novas tecnologias que envolvem materiais, execução e hipóteses de cálculo.
Há a tendência de utilizar diversos materiais estruturais em uma mesma edificação, sejam
trabalhando independentemente (nas estruturas híbridas) ou associados, formando os elementos
mistos. Aço e concreto são os materiais mais amplamente utilizados nessas associações, dando
origem aos elementos mistos de aço e concreto – De NARDIN [1], De NARDIN et al [2].
Os elementos mistos resultam da associação de perfis de aço e concreto, de forma que os
dois materiais trabalhem em conjunto, resistindo aos esforços aplicados em lajes, vigas e pilares. O
uso das estruturas mistas pode impulsionar o crescimento da utilização tanto do aço quanto do
concreto, além de conferir à edificação importantes características. Em relação às estruturas de
concreto armado, a utilização de elementos mistos resulta em maior precisão dimensional,
economia de mão de obra e tempo, sobretudo no que se refere à execução de formas e
cimbramentos, pois há redução ou eliminação dos mesmos. Em relação às estruturas de aço, são
verificadas: maior resistência ao fogo e à corrosão, maior capacidade resistente e rigidez com
redução do consumo de aço. Dentre as associações possíveis para aço e concreto, as vigas mistas,
constituídas pela associação de vigas de aço e laje de concreto, foram as primeiras a surgir e as mais
amplamente utilizadas em edifícios e pontes, devido à versatilidade de sua geometria (Figura 1). Em
pisos de edifícios e tabuleiros de pontes, é natural a utilização de vigas mistas, visto que a laje de e a
viga de aço já fazem parte do sistema de piso, restando promover o comportamento conjunto aço-
concreto para que sejam vigas mistas. O trabalho conjunto entre o concreto e o aço é obtido com o
uso de conectores de cisalhamento na interface aço-concreto, promovendo uma ligação que pode
resistir à totalidade do cisalhamento horizontal (interação total) ou, no mínimo, a 40 % deste
cisalhamento (interação parcial), segundo preconiza o projeto de revisão da NBR 8800 – PR NBR
8800 [4].
A utilização das vigas mistas teve origem na necessidade de proteção das vigas de aço
contra a ação do fogo, mas, a partir de um dado momento, passou-se a considerar a contribuição do
concreto na resistência à flexão da viga – De NARDIN et al. [2], MALITE [3].
Inicialmente, o uso das vigas mistas de aço e concreto era restrito às vigas biapoiadas,
situação mais eficiente para o sistema misto, visto que a viga de aço é solicitada predominantemente
à tração e a laje de concreto, à compressão. Um aspecto limitador à consideração da continuidade
foi a dificuldade e os custos envolvidos na utilização de ligações viga-pilar e viga-viga que
permitam a transmissão de momento fletor. No entanto, estudos têm demonstrado (XIAO et al. [5],
LI et al. [6], AHMED et al. [7], LI et al. [8]) que a simples presença da laje conectada à viga já
confere certo grau de continuidade ao sistema de piso. Tal continuidade pode ser levada em conta
no projeto trazendo benefícios como: redução do momento solicitante positivo e melhoria das
condições de estabilidade global da estrutura. Nesta situação, a laje tem maior responsabilidade no
sistema estrutural; além disso, são necessários acréscimos na taxa de armadura negativa na região
dos apoios. Portanto, por um lado a continuidade gera momentos fletores negativos que reduzem a
eficiência do sistema misto devido à fissuração do concreto tracionado, à possibilidade de
flambagem local na região comprimida da viga e à instabilidade por distorção da viga de aço; por
outro, traz vantagens como redução dos esforços e deslocamentos e melhoria da estabilidade global
interação total
M- interação parcial
M-
M+
Figura 4 – Visão esquemática das regiões de momento negativo durante a fase construtiva
Quanto ao tipo de construção, que também tem grande influência sobre as verificações
necessárias, as possibilidades são: construção escorada, na qual a viga entra em serviço com a ação
conjunta já desenvolvida, e construção não escorada, em que o perfil de aço isolado é verificado
para as ações construtivas (Figura 6). A formulação descrita a seguir se aplica à situação de
construção escorada.
Positivo
TABELA 1 – Posições da linha neutra na viga mista e equacionamento para momento fletor positivo
b) Linha neutra na mesa superior da viga: Ccd < Tad e Cad ≤ Tad
0,85 f ck b t c
Resultante na laje de concreto: C cd =
1,40
Resultante de compressão na viga de aço:
(
1 Af y a )
C ad = ⋅ − C cd
2 1,10
C ad
Altura yp: y p = t
(A f y ) tf f
1,10
c) Linha neutra na alma da viga: Ccd < Tad e Cad >Tad
(Af y ) tf
C ad −
Altura yp: y p = t f + h
1,10
(Af y ) w
1,10
Momento fletor resistente positivo para linha neutra plástica na viga de aço
tc
+
Para os casos b e c: M Rd = β vm C ad (d − y t − y c ) + C cd + h F + d − y t
2
A sl f ys
Resultante de tração na armadura: Tds =
γ s = 1,15
(A ⋅ f y )a
− Tds − 2b f ⋅ t f ⋅ f yd
1,10
Linha neutra: y pn = t f +
2t w
Com análise estrutural adequada, são determinados os esforços para verificação dos
estados limites últimos e de serviço aplicáveis à estrutura. Sendo assim, quanto mais representativo
for o modelo de verificação utilizado, quer seja no tocante ao comportamento da estrutura como um
todo ou quanto ao comportamento dos materiais, menor será a distância entre o modelo idealizado e
a condição real. Os tipos de análise apresentados no PR-NBR 8800 [4] são divididos em função do
comportamento adotado para os materiais e da influência dos deslocamentos sobre a distribuição de
esforços na estrutura.
A não linearidade do material pode ser considerada de forma indireta. Por exemplo, ao
considerar a seção de concreto fissurada, duas rigidezes são determinadas para a viga mista
contínua: uma rigidez EI2 para a região sobre os apoios, onde o concreto é submetido a esforços de
tração, e outra rigidez EI1 nas demais regiões, onde não há penalização da rigidez total EI. A
distribuição das regiões com rigidez reduzida e rigidez total é mostrada na Figura 9. A inércia I2
corresponde à inércia da seção de aço mais a armadura longitudinal da laje. Naturalmente, os efeitos
da redistribuição devem ser considerados e todos os esforços internos devem ser recalculados
visando garantir o equilíbrio de cada um dos elementos estruturais e da estrutura como um todo.
Portanto, a consideração da análise elástica requer que a estabilidade da estrutura seja assegurada.
Nas regiões de momento positivo, o momento de inércia efetivo de vigas mistas de alma
cheia é dado por:
I ef = I a +
∑ QRd (I − I )
tr a
Fhd
Sendo, a relação (ΣQRd)/Fhd é igual a 1,0 para o caso de interação total ou completa. O
parâmetro Ia corresponde ao o momento de inércia da seção do perfil de aço isolado e Itr é o
momento de inércia da seção mista homogeneizada.
Nas regiões de momento negativo, em vigas mistas contínuas e semicontínuas, o momento
de inércia efetivo é dado pela seção formada pelo perfil de aço e pela armadura longitudinal contida
na largura efetiva da laje de concreto.
Figura 9 – Rigidez à flexão de viga mista contínua para obtenção de momentos fletores considerando
análise elástica
Classe da seção mista na região de momento negativo Compacta (%) Semicompacta (%)
Análise elástica – seção não fissurada 30 20
Análise elástica – seção fissurada 15 10
Segundo o PR-NBR 8800 [4], o emprego da análise rígido-plástica é permitido desde que:
- não ocorra flambagem lateral com torção ou distorção, que reduz o momento resistente;
- em cada ponto de formação de rótula plástica, o perfil seja simétrico em relação ao plano
da alma e possua contenção lateral adequada;
- em cada ponto de formação de rótula plástica, haja capacidade de rotação suficiente para
permitir a formação desta rótula, ou seja, seja possível a redistribuição de momentos fletores.
Devido à grande complexidade em verificar se a ligação tem capacidade de rotação
suficiente, o PR-NBR 8800 permite que seja considerada atendida tal exigência desde que a seção
do perfil seja compacta e:
- em vigas contínuas: nos pontos de formação de rótulas plásticas, as ligações tenham
resistência superior a 20% da resistência da viga;
- em vigas semicontínuas: deve ser comprovado que a capacidade de rotação das ligações é
superior à necessária ao sistema.
- alem disso, para vigas contínuas e semicontínuas, a relação entre vãos deve respeitar os
intervalos apresentados na Figura 10.
Conector de cisalhamento tipo pino com Concreto C20: fck=20 MPa; densidade
cabeça: fu = 415 MPa normal (γc=24 kN/m3)
*: 70% de curta duração
4.3 Resultados
Um resumo do dimensionamento da viga mista contínua longitudinal situada no Eixo B,
considerando laje com espessura de 8 cm e taxa de armadura de 0,7 % da seção de concreto da laje
é apresentado na Tabela 4. A numeração de tramos e apoios é apresentada na Figura 12.
Tabela 4 – Dimensionamento de vigas mistas contínuas: análise elástica linear e seção não fissurada
150
Momento resistente no apoio (kN.cm)
150
110 h= 8 cm
110
100 100
90 90
0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 7 8 9 10 11 12 13
Taxa de armadura na laje (%) Altura da laje (cm)
Para o cálculo dos momentos solicitantes considerando a seção fissurada, foi adotada a
distribuição de rigidez apresentada na Figura 9 que, para a situação estudada, resulta na distribuição
mostrada na Figura 14.
Com estes valores de momento de inércia, foram obtidos os esforços solicitantes iniciais,
aos quais foi admitida redistribuição de 15% para os momentos solicitantes negativos. Ambas as
situações foram consideradas via programa Ftool e os resultados obtidos são apresentados na
Tabela 5.
80
60
40
20
0
Apoio2 Apoio3 Tr1 Tr2
Região analisada
Figura 15 – Influência da rigidez na distribuição de esforços
Momento resistente
Modelo fck (MPa)
Tramo 01 Tramo 02
20 114,4 111,5
25 118,5 116,1
Elástico-linear
não fissurado
30 121,1 119,2
esforços elástico-linear
iniciais não fissurado
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7 AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] DE NARDIN, S. Pilares mistos preenchidos: estudo da flexo-compressão e de ligações viga-pilar. São Carlos.
341p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2003.
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origem, desenvolvimento e perspectivas. 47º Congresso Brasileiro do Concreto, Volume IV: Estruturas Mistas,
Recife, Brasil. 2005, pp IV69-84.
[3] MALITE, M. Sobre o cálculo de vigas mistas aço-concreto: ênfase em edifícios. São Carlos, Dissertação
(Mestrado), Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1990.
[4] Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios: Procedimento. Texto base para
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[6] LI, T.Q.; NETHERCOT, D.A.; CHOO, B.S. Behaviour of end-plate composite connections with unbalanced
moment and variable shear/moment ratios –I: Experimental behaviour. Journal of Constructional Steel Research,
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