Você está na página 1de 13
a | TERRITORIO, POESIA E IDENTIDADE! ROGERIO HAESBAERT Departanesto de Geosraia - UFF “A linguagem do gedgrafo se torna sem esforco aquela do poeta (..).Orrigor da ciéncia nada perde ao confiar sua mexsagem a um obseroador que sabe admirar, escolber a imagem justa, luminosa(...). Uma visto puramente cen tifica do mundo poderia muito bem designar, como nos indica Paul Ricee sum “refdgio quando estou camsado de desjar que a audacia ¢ 0 perigo de ser Tiore me pesam” (Eric Dardel, LHomme et la Tere, 1952) Em 1990 comecei a reunir material num pequeno dossié que denominei Pela liberdade criadora: Geografia ¢ linguagem pottica’ Julgando muito ou: sado numa época em que ainda viviamos os resquicios de mais uma das fases do pensamento geogréfico caracterizada pela busca de um estatuto “cientifico” para a disciplina (desta vez marcada sobretudo pela légica dialética),¢ temendo ‘air no extremo oposto, o de um “itracionalismo" do qual muitos dos chamados os-modernistas vinham sendo acusados, guardei no fundo do bat aquela his. ‘ria de misturar meu lado poético (com alguns poemas publicados ainda na adolescéncia) e minha paixao pela geografia (com mindscula, pouco impor- a.) ‘Mas a poesia aqui e ali acabava sempre aflorando: Neruda e sua "Geografia Infrucwosa’, “vestido de gua” e “cercando territérios com a forca de pluma- gens", abriu minha dissertagao de mestrado (depois livro, “RS: Latifandio Identidade Regional” [1988]) ¢ em "China: entre o Oriente ¢ 0 Ocidente” (1994), a riquissima e algo transcendente experiéncia com o espaco tibetano me levou mais longe: transcrevi num poema aquele territ6rio “dilacerado em pedacos! de misérias que nao se separam nunca/ transfigurados pelos deuses (p. 61) Augustin Berque, meu professor durante a “bolsa sandufche" na Franca em 92, abriu-me ainda mais os olhos paraa possibilidade, enfim, de tentar superar a separagao entre sensibilidade e razao, poesia e ciéncia, que a “modernidade" Ane AINDA, MAIS OS OLHOS PARA A POSSIBILIDADE, ENFIM, DE TENTAR SUPERAR A ‘SEPARAGAO ENTRE SENSIBILIDADE E RAZAO, POESIA E CIENCIA lho fos onginalimeneaprerenado no | Seminério Geograis« Art (29 © 3011.95), na mesa redonda ‘Geograin Cigna ou Are promovie pela Associasto ds Gedgrafs Bresieiron Seto Nitert, aquem agradego plo convite ea oporunidade de desenwolvero tera ‘ocidental acabou dicotomizando, Ele nao s6 pro- poe reunir estes fragmentos como, sobretudo en- quanto gedgrafo, pretende fundir novamente socie- dade ¢ natureza, numa trajection em que 0 meio ou rilieu (relagao ao mesmo tempo fisica e sensivel com ‘oespago ¢ com a natureza), historicamente produ zido, combina de forma ambivalente “o subjetivo ¢ 0 objetivo, 0 fisico e 0 fenomévice, 0 ecolégico ¢ 0 simblico” (BERQUE, 1990:48). O meio envolve assim uma dimensao fisica, 0 environnement (ambiente) € a paisagem, sua dimensdo ‘sensfvel e simbdlica. Para definir 0 “sentido do meio’ Berque desenvolve o conceito de médiance. Permea- da por essa dupla dimensao, o meio: (.) no exist endo na medida em que ee €ox- prrimentado,interpretado¢organizado por uma socitdade. mas onde também, inversamente, esta parte do social ¢ constantemente traduzida em afeitos materiais que se combinam com os fatos raturais, Todos esses efeitos nfo om um determi- aio sentido que €a evolusao objetiva do meio om quest, mas isto justamente na medida em que cles so, também, percebidos ¢ epresentados em tum determinado sentido pela sociedad, tais sen- tidos, ent, atuam de manta meio-subjetioa rcionobjtina nesta evolugao (1985-32) Assim, em minha tese de doutorado resolvi rea- lizar algumas tentativas, nao sei se bem sucedidas, de recuperar um pouco velhas tradigdes geograficas que aliavam a sensibilidade artistica / paisagistica do gedgrafo, sua intuigdo, e sua capacidade de re- flexao critica sobre a realidade. Acabei utilizando poesias (misicas gauchescas, poemas baianos) ¢ desenhos para retratar, com a minha visto ¢ a dos que efetivamente vivenciavam os processos em cur- so, a geografia des-re-territorializa-dora resultante do encontro entre sulistas € nordestinos. Voltarei a0 tema mais & frente, a titulo de exemplificagdo para uma discuss4o um pouco mais ampla € apro- fundada Falar sobre poesia ¢ identidade com o territério € falar, portanto, antes de mais nada, da dicotomia fundada pelo mundo moderno entre Ciéncia e Arte Razao e Sensibilidade, ¢ que explodiu nos anos 80 sob 0 signo do debate entre modemidade © pés- modernidade (v, nossa breve andlise do tema em HAESBAERT, 1990). Sem poder entrar aqui na dis ‘cussao complexa que envolve as vérias correntes que acabaram se forjando a partir deste bindmio, ressal tarfamos apenas que nao se trata mais de vincular os"modernos" ao mundo da razao e do lluminismo € 0s "pés:modernos” ao mundo da emocdo € do Romantismo. Para se ter uma idéia do grau de con- trovérsia das interpretagbes, enquanto autores como CASTORIADIS (1990) denominam o pés-moder- nismo uma "época de conformismo generalizado” outros o entendem numa perspectiva essencialmen- te critica (YUDICE, 1990), A verdade € que a mo: dernidade “realmente existente’ (outros preferem 0 termo “modernizagio"),fomentada e construida pelo capitalismo, foi/é um pouco como o socialismo: um ‘projeto abortado - e abortado sobretudo porque foi! €ocidental-etnocéntrca (a tecnologia e a razao ins- trumental superando todos os constrangimentos da natureza) © porque sobrevalorizou a razio € a re producao em detrimento da sensiblidade e da cia tividade humana. Falar em criatividade humana ¢ falar em Arte Mas, como nao somos artistas, € 0s proprios aris- tas est2o sempre vivendo alguma crise em termos da definigao do que € Arte, iremos nos contentar com algumas definigdes muito simples ¢ genéricas ESPAGOE CULTURA N* 3 «JANEIRO DE 1997 ET Comegamos por lembrar que, por incrivel que pa- rega, Arte vem do latim ars, talento, saber fazer, que inicialmente era associado com técnica, ou seja, a0 que € feito pelo homem, ao anificial. Ora, mas este artificio" ou criagao comporta, segundo a edicio atualizada do Vocabulirio Ténico« Crtico da Filosofia de André LALANDE (1993), “dois sentidos sime- tricamente inversos": pode estar subordinado "aos 1noss0s fins préticos” ou "nos subordinaa fins ideais « satisfaz (..) as atividades nao-utiitarias™. O Di cionério Aurélio, por sua vez, define arte como a ‘atividade quesupoe a criagdo de sensagdes ou es- tados de espirito, de cardterestético carregados de vivencia pessoal ¢ profunda, podendo suscitar em outrem 0 desejo de prolongamento ou renovacio"” (HOLLANDA, 1986:176) Poderiamos afirmar que no mundo moderno @ arte deixou de ser técnica, e vice-versa. Filésofos como HABERMAS (1981) enfatizam a dssociagso «que a modernidade criou entre cincia (conhecimen to objetivo, a "verdade"), moral (mundo social das normas, justiga)e arte (valorizacao estética, mundo subjetivo das vivéncias e emog0es). O verdadeiro, © justo € 0 belo nao mais coincidem num mesmo conjunto, amalgamado, por exemplo, pela dimen- sto do sagrado, da religido, como ocorria nas soci edades tradicionais, Para Octavio PAZ (1982[ 1952), (...) a0 extirpar a nogao de divindade o raciona- lismo reduz 0 bomem. Liberta-nos de Deus mas ros encerra num sistema ainda mais frrco. A ‘maginagao bumilbada se vinga edo caddoer de Deus brotam fetiches atrozes. na Russia ¢ em deo dor hd does carcass outros paises, a divinizagdo do chefe, o culto a letra das escrituras, a deficagao do partido, en- tre nbs, aidolatria do proprio ew. Ser si mesmo ¢ condenar-sed mutilagao, pois o bomen ¢ apatite perpétuo deser outro. A iéolatria do eu conduz.a idolatria da propriedade, o verdadero Deus da socitdade crit ocidental chama-se dominio so- breos outros. Concebeo murda os homens como rminbas propriedades, minhas coisas. O drido mundo atual,o inferno circular, € 0 esplbo do bomen cerceado em sua faculdade poctizadora Fechou-se todo contato cam: 0s vastosterritsrios da realidade quest recusam a medida ¢ 4 quan- tidade, como tudo aguilo que € qualidade pura, invedutioe a géneroeespéce. a propria substin- cia da vida (p. 327-328) E nessa esfera da arte ¢ do estético que se ins- reve, como uma de suas expressées, a poesia. En. quanto no senso comum geralmente se reduz 0 sentido de poesia ao primeiro significado propos. to no Dicionério Aurélio, a “arte de escrever em verso", ela na verdade transcende em muito este significado e pode mesmo ser utilizada como st- nOnimo de estética, ou seja, aquilo que é relativo ao belo. Por isso preferimos, ainda utilizando o Aurélio, tratar poesia como “entusiasmo criador, inspiragao” e/ou como “aquilo que desperta osen- timento do belo” Sindnimo de emogio ¢ ritmo, a poesia geralmen. te rompe com a linearidade ¢ a funcionalidade pro- movidas pelo mundo moderno capitalista, onde a “forma deve seguir a fungao", e difunde o lidico, o oder criador ea liberdade da imaginacao. Apenas ast mii, speci, ance dow sds ins mee code sistent a dens darts a aa deonde cal mii fle arenes ind, (Nuri nel) Tern soca coca tmev imac mis bedi sft oa eg soba sss forma Ema dn ots. cae cl Jon dao sia “Tash or iL," de EEA F2:0:1020 poesia enrioADe (André Lalande) (LALANDE. 1993 89, nota por isso a poesia j6 seria revolu- cionéria’, Num mundo molda- do pelo uilitarismo e aética mer- cantil, 0 trabalho, a0 mesmo tempo social (captalistica}mente Sono DE EMOCAO E RITMO, A POESIA (GERALMENTE ROMPE COM A poesia tem um cardter du- plamente “revolucionario": pri- _meiro porque vat contra o mun. do-mercadoria que cada vez mais domina a face do planeta, ¢ seu ALLINEARIDADE E A. sobrevalorizado e fonte de alie- nagio’, destréi toda a iniciativa daarte-tesdo': 0 artesdo que ao mesmo tempo produz valor de uso elou de troca e valor simbé: lico, valor estético onde pode de alguma forma se realizar afetiva ¢ emocionalmente, responsivel que se sente pela totalidade da cobra produzida. Como afirmou FUNCIONALIDADE, PROMOVIDAS PELO MUNDO MODERNO "FORMA DEVE SEGUIR A FUNCAO", E DIFUNDE O. LUDICO, 0 PODER cardter lidico torna-se transgres sor: ela ndo pertence a légica © ao mundo da compra-e-venda. A poesia € gratuita, “nao tem fina- lidade’, sua utiidade é sua in-ut CAPITALISTA, ONDE A lidade: mostrar ao mundo da pro- dugao e do consumo sua contra: face, oculta, sufocada - o mundo da imaginagao € da sensbilida- de, “incontrolével’ mundo dos CRIADOR E A LIBERDADE DA Octavio PAZ (1982): (..)a poesia nao existe para a burguesia nem para as massas contemporancas. O exercicio da posia pode seruma distagio.ou uma enfermida- de, nunca uma profissdo. 0 pota nao trabalba sem produz. Por iss00s oemas nao valen nada tio so produtossuscetioeis de intercmbio mer- antl, Ocsforgo que se gastaem sua criagdo nao pode serreduzio ao valor trabalho. (...) Como 4 poesia nao €alga que posa ingressar no inter- climbio de bens mercantis, nao € realmente um valor Ese do ¢um valor, ndo tem exstencia real dentro do nosso mundo (p.296-297)"(..) Aose reducziro mundo aos dadosdaconscinciac todas 4 obras ao valor trabalbo-mercadoria, ato raticamenteexpulsou-seda sera da reaidadeo poeta e suas obras (p. 297). "A oben IMAGINAGAO SENDO NEGLIGENCIADO is le: nda Opiate de tao emi, ate tia rea sentidos do qual a razo nunca vai tomar posse. Como disseram arandes poetas e escritores que sofreram nas prisbes,atinica coi sa que nunca pode ser aprisionada € a imaginacio. Eaimaginacio pode nos proporcionar a poesia mais profunda, as viagens mais alucinantes, mesmo na clausura mais recondita do mundo. Uma tribo a nadense em perigo de extingdo afirmou certa vez aque, apesar de tudo, nunca poderiam thes roubar seus sentimentos, "sua alma” ‘Amamos, sofremos e podemos, pelo menos na imaginacio, expressar todos os sentimentose todos 6s espagos do mundo. Essa “liberdade criadora’ ‘este cardterlrico da poesia, onde o brotar das pai Ges que nela se expressa asustae transeride as fron: teiras da racionalidade do técnico e do empreséri, slo, neste sentido, “revolucionérios’ dling ir A sae mane ex (PAZ, 19821). is apo ama ds emia) (p 283) havoc don es ciadr © taal seni, cone is oad dienes (PAZ 1986184). For one anal eget ww clown nian remem tial Aaa donb ESPACOE CULTURA + Nv #/ANERODE o> EE (.) exaltar 0 amor significa sma provocagdo, um desafio.ao mundo moderno, pois €algo que «scapa a andlisee que constitu! uma excecdo inclassificdvel ) O sonbo, a divagasao, 0 {ogo dosritmas, fantasia, tam- bm so experiéncias que alte- ram sem possioel compensagao a economia do pirito « turvam o discernimento Para Octavio Paz, "todas as atividades verbais } sto susceptiveis de mudar de signo ¢ se trans- formar em poemas’, A abertura para miltipla signifi ‘cages é propria do discurso simbélico que caracteriza ‘© poema, Como se sabe, 0s signos, representacbes ou. ‘substitutos da realidade concreta, podem se estender desde o extremo de uma reprodugao direta¢ “iteral’ das coisas ¢ fendmenos, como palavras que tenham apenas um sentido, diretamente vinculado a uma 'rea- Tidade’, até a pura invengao (0 “imagingrio radical’ a due se refere Castoriadis), com um significado abstra to € subjetivo que pertence ao reino dos sonhos e/ou dda imaginacao e que, por auséncia de um cédigo pa- dronizado, esté aberto a todo tipo de interpretacio, sugerindo as mais diversas imagens. Admitimos 0 sinbolo posicionado a um meio ca- ‘minho: seu significado nao pode ser nem totalmen: te fechado, légico e objetivo, nem totalmente aber- to, sem referéncia a uma realidade concreta, Como bem expressa CASTORIADIS (1982), a0 mesmo tempo que “determina aspectos da vida em socieda- de’ o simbolismo esta “cheio de intersticios de Anasos, SOFREMOS E PODEMOS, PELO MENOS NA IMAGINACAO, EXPRESSAR TODOS OS SENTIMENTOS E TODOS OS ESPACOS DO MUNDO graus de liberdade’ A escola’ de um sinbolo nao é nunca nem absolutament ine- vitdoe, nem puramentealeats- ria. Um simbolo nem sc impose como uma necessidade natural, nem pode privar-se em seu teor de toda referéncia ao real (s0- mente em alguns ramos da matemdtica spoderia tentar encontrar sfnbolos totalmente 'convencio~ nais' ~ mas uma convencdo que valew durante En algum tempo deixa de ser pura conven Sine, nada permite determinar as frontetas do sim bélico (1982-144). Como a escolha de um simbolo nao pode pri var-se de toda a referéncia ao ‘real’, podemos asso- iar essas reflexdes a0 nosso campo, a Geografia, ¢ lembrar que muitos espacos expressam muito mais do que @ manifestagao concreta de seus prédios, «stradas e montanhas, Neles ha “espagos’ ou, se pre- ferirem, ternitérios (enquanto espagos concreta e/ ‘ou simbolicamente dominados/apropriados) de um carater particular, especial, cuja significacio extra- pola em muito seus limites fisicos e sua utilizagao material, E 0 que autores como POCHE (1983) denominam “espacos de referéncia identitéria’, a partir dos quais se cria uma leitura simbdlica, que pode ser sagrada, poética ou simplesmente folelén ca, mas que de qualquer forma emana uma apropri- aco estética espectfica, capaz de fortalecer uma identidade coletiva que, neste caso, é também uma identidade territorial. “Onbin raveice caacadmapnri Doses coca deem maine desl frat dogs.) na made nese eral flavin deo ded sb oma denen acta wn ie gun 86 (quo sto dadnesa porccnete ‘nunc ofram) aliens dean magni sno ual corona bimini eon cde snl (CASTORIADIS, 1982 158) Corse obser. autor trade forma resto mals gral a nogto de smbalico, mute veees omandora como sinonimo de sighca, e-em ous ‘esitingindo nog de simbolo de sgficante HEE er Assim se formam ou se forjam identidades lo- cais, regionais, nacionais etc. fortalecidas nao ape- nas pelos territérios "de naturalidade’, em seu senti- do concreto, mas também por temitérios simbéli cos, como a Campanha Gaticha (e, mais especifica- mente, a estancia ou olatifindio de pecuéria exten- siva) para a formagao da identidade gaticha eo Ser- to nordestino para a identidade nordestina (pelo menos no decomrer deste século, quando suplantou "Zona da Mata’ ea vida do engenho). Imaginem ‘quantosestereotipos estas identidades regionais nao difundem ¢ quantos deles néo se encontram em nossas cabecas, ainda que nao tenhamos plena cons- cigncia disso. Romances como O Gatch, de José de Alencar, ¢ Os Sertes, de Euclides dda Cunha, esto eivados de iden- tificagBes estereotipadas e mui- tas vezes idealizadas sobre gat hos e sertanejos, um motdado principalmente pela exuberancia «¢ as amenidades do Pampa, ou tro pela rusticidade e pelas agru ras do Sertao semi-arido. Imaginem agora estes dois grupos, estas duas identidades regionals, se encontrando em pleno sertao baiano, sul do Piaut sul do Maranhao. A poesia de Clerbet Luiz, poeta de Barreiras, Bahia, pode nos dizer mais do que nos sas palavras diriam Quem engorda a natureza agra ¢ sd0-franciscana por favor me siroa a mesa arta de soja ede cama ro mastigue nosso irmao ue tem oss0¢ bolso fraco (. } EXALTAR O AMOR SICNIFICA UMA PROVOCACAO, UM DESAFIO AO MUNDO MODERNO, POIS £ ALCO QUE ESCAPA A ANALISE E QUE CONSTITUI UMA EXCECAO INCLASSIFICAVEL no 0 coma no churrasco nemo beba no cbimarrio Quem descobre que a beleza Eposscira nesta zona sabe queda Ecamponesa ¢ por dla se esgana sdo escravos da riqueza pesos entre grades de cama 6m comprar nossa lerdeza com o poder de sua grana (Clerbet Luiz, “Banquete’, Rodeios Interiores) Embora entre os sulistas também existam classes. -expropriadas, predomina a visao do gaticho, difun- dida até por alguns representan: tes dessas classes de despossui- dos, descendentes de alemaes € italianos, como 0 mais trabalha- dor, o mais politizado, o mais em- preendedor etc. Se, como disse SANTOS (1995:135), as “identidades sao Boaventura dos identificagdes em curso”, (...) “plurais’, elas so também “domi- nadas pela obsessao da diferenga € pela hierarquia das distingoes’ € € contra elas que devemos nos insurgir. Como afirmei em um artigo no jornal Tr= buna da Bahia: (-.) € preciso superar os esteeétipos do sulista aventurcito, desbravador a qualquer custo, ¢ do baiano, preguicaso festeiro. Da ousadia ¢ da racionalidade “moderna” de alguns sulistas da resisténcia ¢ da sensiblidade “tradicionais” de ruitosbaianos pode nascer um amdlgama, iné- dito no pais, aoentrecruzar cultura ( identda- ESPAGOE CULTURA ®N*3 « JANEIRO DE 1997 ED des] do ricas edstntas-ondese most ao mesmo tempo a dsciplina ¢o amor ao trabalho (contra a exploragao ea usura) ¢ 0 gosto pela vida, num ritmo quendo massacre o bomem nemo reduza 4 mera condigdo de maquina (re)produtora (HAESBAERT, 1994. 4) Para manter € mesmo fortalecer os tragos identi térios do gauchismo (que se eforgam frente ® alte ridade baiana) difundem-se os Centros de Tradigdes Gatichas que hoje acompanham os sulistas em toda a sua rede migratéria pelo interior do pats. Nestes clubes preserva-se o folclore ¢ divulga-se o ‘nativis- mo’, uma ligagao com um territério de origem com ‘qual muitos nunca tiveram contato, pois a mai: ria dos descendentes de imigrantes italianos e ale- macs, agricultores ¢ empresérios, permaneceu na Colénia ou Serra Gaticha, antiga zona de florestas, separada dos “brasileiros” pecuaristas da Campanha (v. estes contrastes em determinados momentos do filme O Quatrilbo), ou migrou para as cidades. Um dos instrumentos mais eficazes para reforcar os mi- tos do gauchismo (cujas rafzes podem ser encontra- das nas guerras de fromteira ¢ na Revolugto Farrou- pilha [1835-45]) esta na musica popular (ou “popu- laresca’), como nestes versos de um dos cantores mais populares do Sul, “Mano Lima’, que meu pai, por exemplo, nado cansa de escutar: Eu fui nascido neste torrdo brasileiro ras minba patria cle garanto €0 Rio Grande sou gatcbo, ja bem qu sso €uma raga por qualquer lugar que eu ande se por acaso um dia a morte me vier sum companbeiro que puder me faga cruzar o Butut pois toda fruta do fica longe do pé HHEG 122170210, porsia ientioave imc levem pro Mbororé ‘me plantem de novo ali O “poeta” estaria de tal forma vinculado & tera € especialmente a "patria gaticha", que, mesmo apés a morte, deseja nela ser "plantado”. E 0 que muitos tradicionalistas gaichos denominam telurimo, 0 ape- go & terra € & sua paisagem. Por mais criticos que ‘sejamos com relagdo a esse tipo de apologia da “p- tra’, € inegavel que ela mantém lagos de solidarie- dade e estimula a vivéncia comunitaria: uma “roda de chimarrao” ao redor de um “fogo de chao", por exemplo, ainda que regada de “causos', poemas ¢ est6rias miticas, € um momento Itidico em que o ho: mem de alguma forma revive um ritual de confraterni- zago com seus semelhantes ¢ utiliza a liberdade de uma imaginagao que preenche o vazio ¢ a solidi dei- aados, muitas vezes, pelo drduo wabalho cotidiano FISCHER (1992), utilizando a distingo feita por Arnold Hauser em Sociologia del pablico (Barcelona, Labor, 1977) entre arte popular, arte sublime ¢ arte de massa (ou popularesca), afirma que a arte subli- me ou simplesmente a “arte” se distingue da arte popularesca porque: investena reclaboragi dos dadosofeecidas pelo imagindrio ¢ pela tradicao nao na diregao de alorificar 0 pasado (..), nem no sentido de en- deusar os ber6is convenientes ou de amortecer as consciéncias, labora para expressar um ponto de sista bumano, fragilmente bumano, interessado em especular sobre coisas radicais como o sentido da vida, ¢ nao em elogiar 0 que quer que sta principalmente os narcisismos, a que tanto stem afeigoado a gaucbesca tradicional, na poesia ¢ a cangao (p. 107). ‘A mesma poesia/misica que serve para enaltecer ‘0 “pago” e a “queréncia’ tal qual estao estruturados, ou seja, com a desigualdade s6cio-espacial que con: rape sem-terras e grandes latifundiarios, pode ser uuilizada para satirizar,ironizar, eriticar essa situa ‘fo. A répida proliferacio de eventos musicais na tivistas’ por todo 0 Rio Grande do Sul, acompa- nhando a abertura politica e o refortalecimento da identidade gaticha a partir do final dos anos 70, ‘evidenciou logo as miltiplas virtualidades e facgbes denteo do movimento regionalista ‘Tomando por base as varias poesias letras de ‘angBes analisadas por FISCHER (1992), podemos perceber essa dupla face com que a identidade ter- ritorial/regional gaicha vai sendo (re)construida 20 longo do tempo. No final do século passado, porexemplo, a sociedade"Partenon Literério”(1868- 1885), cuja figura mais destacada foi a do roman- cista€ poeta Apolindrio Porto Alegre, teria sido fun- damental para a criacao de uma identidade gatcha através do fortalecimento de um regionalismo lite- rio, em geral romantico ¢ ufanista, Muitas poesias acabaram se tornando relativamente populares, pro- pagando ideais de igualdade ("identidade”) entre patrdes, estancieios e seus pedes, empregados, numa visio a0 mesmo tempo idealizada e naturalista (0 gaicho visto em grande parte como “produto do Pampa’, como j@ evidenciara claramente José de Alencar em seu romance O Gaticho, de 1870). Mesmo questionando o ‘resultado poético” des sas obras, FISCHER (1992.23 e 25-26) reproduz al: qumas poesias que primam pelo ufanismo regiona lisa Aqui sow rei. Se lango a fronte dos cus Tenbo por teto 0 azul da imensidade, Se desco logo, vejo a soledade, O pampa a desdobrar em escarctus ‘Meu companbriro és tu, meu corce Seescutas 0 clarim, - es-me a teu lado, Aos vento dizes tu, desassombrado = Parem: Que desertooiga o meu trope (O gaticho, de Apolindrio Porto Alegre) Na mina tera, 14. quando (O luar baba 0 potrcro, Passa cantando o tropeiro, Cantando... sempre cantando Depois,descobr-se 0 bando Do gado que muge adiante, E um cdo ladra bem distante Li. bem distante, na serrar = Nunca foste a mina terra (La..., de Lobo da Costa) Hoje, ao lado dos “tradicionalistas", mais con- servadores ¢ muito bem representados na maioria dos Centros de Tradigoes Gatichas, aparecem os “nativistas’, que “no aceitam o controle do Movi- mento Tradicionalista Gaticho, a cujos membros eles apelidaram de aiatolis da tradicao’ acusando-os de (...) ‘patrulhamento folclorico” (OLIVEN, 1993:405). No oeste baiano os “xiitas" do gauchis- mo si tratados como "bombachistas’ (por sempre usarem bombachas, muito representativas na iden- tificagao do gatcho). A leitura poética do gauchis mo alcanga assim, hoje, todas as verses possiveis: a Ifrico-romantica, ainda ufanista em torno de uma ‘terra pampeana’ cada vez mais distante da realida- de vivida, a critica, levantando temas como a refor- ma agraria e denunciando a miséria € 0 racismo, ¢a irOnica, brincando com os mitos eriados em torno da figura herdica ¢ nobre do gaticho. Para exemplificar, fica evidente uma linha criti- ca no olhar para com os despossuidos em “Ladai. ‘aha dos tempos idos’, de Dilan Camargo. ESPAGOE CULTURA *N*3 + ANEIRO DE 1997 EEA Churrasco ¢ cbimarrdo sao tempos ios? Expulsos dos campos mal divididos migram colonos seduzidos para novos paraiss prometidos, {ndios, povo de banidios ouaguciam doentes, prseguidos enquanto meninos ricos,entorpecidos matam, ferem, ndo so punidos estes amargos tempos vividos (apud FISCHER, 1992.417) A presenga do negro, t8o importante na forma- «0 da sociedade sulina (v. CARDOSO, 1977) mas renegada pela maior parte do tradicionalismo, in- clusive numa visio racista, quando da criagao de CTGs para negros (até ha pouco tempo a distingao entre “clubes para brancos" e “clubes para negros" no interior do Rio Grande do Sul era tida como norma), € retomada pelo poeta Oliveira Silveira em “Terra de negros". Terra de estancia charqueada grande negro se salgando terra quilombo choca ¢ mocanbo gro lutando ¢ resistindo se libertando terra favela morro ¢ mistria 0 negro nela (breque) até quando> Para finalizar, a visio irénica, em geral muito sal recebidae talvez por isso muito pouco freqiente naleitura do gauchismo - nas palavras de FISCHER (1992: 110) Caso mais raro, as vezes a gauchidade étratada com ironia. Hat alguns anos, Kleiton ¢ Kledir foram ao sucesso nacional com “Maria Fuma- 2, cangao que enfoca com ar brincalbao ndrias caras-feias do patriménio rio-grandense, numa relodia nada taciturna, de ritmo sacudido, sm noivo reclama da lentdao do trem que 0 leoa até Pedro Os6ri, onde vai casar com a filba de un Sazendeiro. Lé pelas tantas, ele relembra No dia alegre do meu noivado Padi a mao todo emocionado A mae da noiva me garantin = E virgem s6 que morow no Rio. O pai falow: - E carne de primeira, ‘Mas st abre a boca s6 sai bestia Eu disse: - Fico com essa guria, $6 quero mesmo pra tirar cia.” Embora reduzida por alguns @ mero instru mento de dendncia € por outros a simples enalteci- mento do narcisismo individual/regional ou nacio- nalista, a dimensao poética extrapola em muito es: tas vi s simplistas, Para 0 poeta irlandés Seamus Heaney, prémio Nobel de literatura em 1995, por exemplo, a poesia € sobretudo liberdade de senti rmentos ¢ imaginacao: A fig podtca eo sonve de mundos diferentes wutren os _governes¢ 0s revolucionarios. Exceto que governos € re voluciondrios forgam a sociedade a adaptar-se as formas de sua imaginacao enquanto que habitual mente os poetas se dedicam sobretudo a fazer ma- Tabarismos com seus proprios sentimentos -¢ os de seus leitores -, com aquilo que é posstvel, desejével ou ‘Kleiton¢ Kledr gam aqui tanto comes mares do gnuchtto (o machismo da “eame de primir”« doy quero memo pratirarer') quanto comm evereSpe identitine extero, do carioes vgen 6 que moreu no Ria") ERRITORIO, POESIAE IDENTIDADE mesmo concebivel. A nabreza da poe- sia, dia Wallace Steons, € que cla ‘Exma ialcia do interior ewes protege desma violencia do exterior’ Ea imaginagao re- cbacando as pressies da realidade (HEANEY, 1995: 36, grifo nosso) A realidade do homem moder no € recheada de solidao, indivi- QUE SUFOCA CADA VEZ A REALIDADE DO HOMEM MODERNO E RECHEADA DE SOLIDAO, INDIVIDUALISM E DE UMA LOGICA. MERCANTIL-CONSUMISTA, Segundo uma concepgao mui- toantiga cencontradaem qua se todos os povos, este espaco to seo centro do mu do, 0 'umbigo' do wniverso. As vezes, 0 paraso se identifica com este lugar ¢ ambos, com 0 local deorigem, mtico ou real MAIS O SEU LADO dualismo e de uma légica mercan- til-consumista que sufoca cada vez mais o seu lado postico, a sua ima- ginagao criadora. Solitério como nunca, o homem moderno perdeu POETICO, A SUA IMAGINAGAO CRIADORA, SOLITARIO COMO NUNCA, do grupo. Entre os astecas, os mortos regressavam a Mic- than, lugar stuado ao norte, de onde tinham emigrado (Quas odos osritos de funda © HOMEM MODERNO assim 0 sentido do comunitério, do solidério, do fraterno. E quan- 0.0 busca, o faz sem critério, a- crticamente, através de identida- des as mais disparatadas, ¢ nas mais diversas escalas (fundamentalismos religiosos, gangues neonazistas, mafias ilegais, extremismos na- ionalistas). Quando estas identidades sao elabora- das ou se reforgam através de um teritério, ou seja, de um espaco “sob controle’, delimitado e domina- do (além de simbolicamente apropriado), surgem fron- teiras que, na defesa de uma alteridade negada ou qua- se inteiramente cooptada pelo capitalismo e a moder: rizagao tecnol6gica da sociedade de consumo, imp. dem qualquer dislogo es vezes até mesmo 0 contato como outro, Tiatado como mero nero de uma massa ‘ou narcisisticamente encerrado em seu casulo preten- samente ‘auténtico’, o homem se desteritorializa, se desqualifica e perde inclusive sua identidade com a natureza, alimento maior para a recriagdo simblico- pottica do/com o mundo. O sentimento de solidao, nostalgia de um corpo do qual fomos arrancados, énostalgia de espaco. PERDEU ASSIM © SENTIDO DO COMUNITARIO, DO SOLIDARIO, DO FRATERNO 0, de cidade ou de moradas aludem & busca deste contro sagrado do qual fowos expui- sos. Os grandes santudrios - Roma, Jerusalém, Meca - en- contran-se no centro do mundo ow osimbolizam eprefiguram. As pergrinagics a estes santudrios sao rpetigdes rituais do que cada povo fez num passado mica, antes de stabelecer-se na terra prometida. O costume de dar uma volta ao redor dia casa ou da cidade [no caso dos tibetaras, do morastéro ou do “chorten’), antes de transpor suas portas, tem a mesma origem. (PAZ, 1984.187-188) O mundo contemporaneo perdeu seu(s) centro(s) € nossos espacos de referencia identtaria se torna ram fluidos, desconectados, ou simplesmente desa- pareceram. Onde encontré-los quando os muros do. Kremlin e do Pentégono nao representam mais do que 0 poder de um grupo seleto, a corrupcao € 0 sgerenciamento da guerra Jé desde o Racionalismo Iluminista haviamos sido “expulsos do centro do mundo’ € “condenados 2 procuré-lo por selvas © ESPAGOE CULTURA +N 3 + JANEIRO DE 1997 EE desertos subterraneos’ como no mito do Labirinto (PAZ, 1984:188), Muitos buscam, num retorno a natureza € a0 esoterismo, 0 encontro de um novo ‘centro do mundo” (vide 0 papel de espagos tidos como “de emanacio espiritual’ como Visconde de Maud e Lumiar no Rio de Janeiro, Sao Tomé das Letras em Minas Gerais € 0 Vale do Amanhecer em Brasilia, lugares que representam muito mais do que a realidade fisica que manifesta). Dicotomizamos Histéria © Mito, Ciéncia ¢ Poesia. Estamos pagan- do.o preco sob a turbuléncia e a fragmentagao de tum "pés-modernismo” muitas vezes reacionério € unilateralmente mitico-pottico. Precisamos restaurar a interpretaco poética na Geografia (como a Historia, as vezes com certo exagero, hé muito vem retomando). DARDEL. 1990[1952]}, considerado um dos precursores da Geografia Humat ica, j8 suge- ra que a Terra era com um livro a decifrar - seja como uma obra clentifica, eu diria, seja como um romance ou um poema. Porque cada cultura, cada grupo e as ve- zes até mesmo cada individuo preenche seu espago nao apenas REACIONARIO E com um conjunto de instrumen- tos “utilitrios” mas também de emocao ¢ de sensibilidade ‘Como disse Dardel, uma profun- ae misteriosa gngrafcidadese desenha entre 0 ho ‘mem e a Terra. Decifré-la apenas com os instrumentos a razto, da objetvidade e da critica, apesar de im. prescindivel, nunca sera, contudo,suficiente, Ou, como se expressou mais recentemente Armand Frémont E uma nova geografia que hd que imventar, rom pendo ainda divisorias entre disciplinas, com EGE 18: 70210, poesia e wenTionde eaves PAGANDO O E A FRACMENTACAO DE UM “POS-MODERNISMO" MUITAS VEZES UNILATERALMENTE MITICO-POETICO. _geSgrafs aberts a literatura ea arte comers de letras apar da geografia. As especializagoes atu- ais progridem muito pouco neste sentido, Em al- tima andlise, a pedagogia do espaco deve str ci- ata (. sobretudo quando se mpd como obe- tivo a elaborado de documentos de sites que ‘fazem apeloa uma ceria imaginagio, ao mesmo tempo que ao espirito de andlise. Mas é preciso it mais longe,incitar a critica do que existe, recusar «tordem do standard’, suscitar a claboragio de rojtos que déem aos lugares babitados, aos e- pacos de reumiao, as regibes a vive, as cores eas formas, asnecessidades 0s sonbos das imag $8 joven. Descobrir 0 espaso, pensar 0 espaso, sonbar 0 espago, criar 0 espago... Uma pedagogia nova para um espago voido deve tomar em conta esas quatro exigéncias. (FRE- MONT, 1950[ 1976]:262) Sem cairmos numa nostalgia PRECO SOB A TURBULENCIA inécua, precisamos reler classi cos como Humboldt, Reclus e Vidal de La Blache com othos mais abertos para a riqueza de seus discursos, de suas lingua. gens, Plenos de sensibilidade e raz, muitas vezes eles eram menos dicotdmicos do que n6s, que tanto criticamos essas dico: tomias, Talvez justamente por nao valorizarmos a beleza de um texto bem escrito, que ajude nao ape- ras a explicar mas também a compreender, ¢ que onquiste 0 leitor nao apenas pela razao mas tam: bbém pela sua riqueza estética, € que estamos to distantes do grande pablico que, ainda assim, con. tinua um apaixonado por novas paisagens, pelo novo, desenho geopolitico do mundo, pelo ressurgimento e pelo con- fronto de identidades (numa (RE) PRODUZIR, MAS época em que, mesmo com mul tas dreas de acesso restrito, 0 tu- rismo € a segunda maior fonte de renda do planeta). Nao custa nada fazer um esforgo ¢ levar PARA NAO SE RESTRINGIR nossa mensagem para além do circuito académico ¢ université- fio, Trata-se de restaurar aquilo que Paz, num sentido muito amplo de poesia, considera “a metade perdida do homem! Ainda € uma quimera reconciliar poesia € ato, “palavra viva e palavra vivida, criago da comuni- dade e comunidade criadora’, como diz PAZ (1982:309). Na utopia comunicativa de Jurgen Ha beemas haveria uma "situagao ideal” em que 0s ho- mens poderiam chygara wm enendimento mito sobre ques- thes vinculadas ao mundo objetivo das coisas (céncia), a0 mundo social das vormas (moral) ¢ a0 mundo subjcivo das cis mops (ate). Nao seria ma uso dos irs ma dos como ocoria nas sociedades tradiconais, pois ualquer sola ind ferenciagdaarcaica prioariao bomen dos ganbos de antonomia proporcionados pela modeidadecultual, mas uma interpreta das diferentes esferas, que preservariam sua identdade, mas deixariam de ser estanques. E a wtpia tumi- vista da vida guiada pala arte e pela cincia Ea wapia dt ‘modernidade incompleta (ROUANET, 1988: 227-228) Utopias parte, nao custa, entretanto, batalhar por um mundo em que rompendo com os dualism, se assuna um projeto profurdamente rexooador, que munca se pretends acabado, que rspete a dversidade (as identida- des easimile, a lado daiguadade edo “bom senso, acon- vinéncia com o conflita [que $6 € possivel frente & dif. 0 HOMEM E DOTADO NAO APENAS DO PODER DE SOBRETUDO DE CRIAR, E QUE A CRIAGAO E SUFICIENTEMENTE ABERTA AS DETERMINAGOES DA RAZAO_ renga do Outro, 8 alteridade] ea consegiente busca permanent de novas aiternatioas para uma socedade menos press econdicionadora - onde samen se actite quo bomen €dotado do apenas do poder de (re)produci. ‘mas sobretudodecriar, que criagio€ suficentomentaberta para nao se res- tringir as deteminasses da razto (HAESBAERT, 1990: 84) O temiténo, af, nao seria um simples instrumento de doménio politico e/ou espaco piiblico de exercicio de uma (pretensa) cidadania, mas efetivamente um espaco de identificagao € (reJeriagao do‘com 0 mundo, a “natureza’ [REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BERQUE, A. 1985, Milieu, tnjet de paysage et determin ime acographique, Lapace sasrapingue 7 2/1988: 99: 1990, Médsance demi cn aysags, Montpelier CIP. Reclos. (CARDOSO, FH. 1977. Captalamo ¢ Esra no Bra Md nal Rio de Janeiro, Paz Terra ‘CASTORIADIS, C. 1982. A astiaido magni daca Rio Ae Janeiro, Paz e Tera cele es cnr bs iakyrtie 1 1992. O mando fapmetalo ‘crbadas do brit IT. Rio de Janeiro, Paz Tera) DARDEL, E. 1990 (1952), Lbomme ela ore, Pais, CTHS. FISCHER, L. 1992. Um pasado pea fete psa gach ot ¢ he Pore Alegre Ea. da Universidade FREMONT, A. 1980 (1976). A rit, opage sede Coimbra ‘Almedins. HABERMAS, J 1981, Thane de agi communication (2 vols) Pans, Fayard HAESBAERT R. 1988, RS Latin « etiade Reon Porto Alegre, Mercado Aberto 1990, Filosofia, Geosrafia«ense da Modemida E Tara Lee, 7, p. 63:92, Sdo Paulo, AGBMarco Zero. 1991. Baianos & gadchos,JomalTribna de Babi, Salvador, 24.07.1991 1995. “Gaéchos” no Nordeste: Modernidade, Des Terrtonalizago Identidade, Tere de Doutorado, Si0 Paulo, USP HEANEY, S. 1998. “La potste, le edresement’. Cur Ie ‘tna! n° 261, 28 8.11-1995 (traduzido do joral The Guardian, ESPACO E CULTURA #N°3 + JANEIRO DE 1 HOLLANDA, §. B. 1986, Nowe Distro Aur du Lingua Pore ‘usuea Rio de Janeiro, Nova Frontera, LALANDE, A, 1993, Vochulio Ténc «Cite da Fifa Sto Paulo, Martins Fontes. NERUDA, P. 1972, Geografa Infuctiosa Buenos Aires, Lo- sada, LIVEN, R. 1993. Sto Paulo, © Nordeste © Rio Grande do Sul. Enis FEE ano 14, 2 Porto Alegre, Fundagio de Economia © Estatstica, PAZ, O. 1989 (1956). O Arco ca Lina Rio de Janeino, Nova Fronteira HREER ter 76210, poesia 1oeNTIDADE 1984, O brits de solide postscrptum Rio de Js: eire, Paz eTera POCHE, B. 1985. "La région comme espace de reérence ‘densitaire” Epes Soc nr 42 3-12, jun, ROUANET, P1988. As rax60 do laminin, Rio de Janeito Companhia das Letras SANTOS, BS. 1995. Pua mio de Alte: sail» poltico na i rederidade Sto Paulo, Cores YUDICE, G. 1990. © pés-modemo em debate (entrevista Citeia Hoye vol, 11, n 62, p. 46-57. Sto Paulo, Soc Bras. para o Progresso da Ciencia

Você também pode gostar