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Vice-Reitor
Pe. Francisco Ivern Simó, S.J.
Decanos
Prof. Paulo Fernando Carneiro de Andrade (CTCH)
Prof. Luiz Roberto A. Cunha (CCS)
Prof. Luiz Alencar Reis da Silva Mello (CTC)
Prof. Hilton Augusto Koch (CCBM)
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia
e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão
escrita da Editora.
ISBN: 978-85-7478- -7
7 Apresentação
Everardo Rocha e Cláudia Pereira
13 De guaraná, namoro e gente moça: interpretação
antropológica e narrativa publicitária
Everardo Rocha e Cláudia Pereira
41 Os anúncios nas revistas ilustradas: imaginário
e valores brasileiros no início do século XX
Everardo Rocha, Cláudia Pereira e Bruna Aucar
69 O dinheiro anunciado: notas sobre a publicidade
bancária no Brasil
Everardo Rocha e Bianca Dramali
97 Cariocas não gostam de dias nublados: comunicação,
consumo e lifestyle no discurso da Farm
Cláudia Pereira e Carla Barros
113 O Brasil é cool: comunicação, consumo
e o novo luxo da Osklen
Everardo Rocha e William Corbo
149 A forma perfeita: o bem-estar e o modelo
da mulher de revista
Everardo Rocha e Marina Frid
173 Templos e shoppings: a sacralização do consumo
na contemporaneidade
Everardo Rocha, Cláudia Pereira e Lívia Boeschenstein
201 Sobre os autores
Um brinde à razão
O “outro” na publicidade
1
Estes anúncios do Hilton e do Regulador Gesteira são analisados no livro Magia
e capitalismo (Rocha, 2010).
2
Publicado em http://revi-vendo.blogspot.com.br em 4/10/2012.
O curioso na noção de ser “um cara livre, que faz o que quer
em qualquer situação” é que a liberdade é definida pelo desejo
do confronto, da briga, do enfrentamento e da submissão do
“outro” em metade das situações. A outra metade do ser livre
se define pela compra de um quadro, pela gíria da moda e por
beber guaraná.
Passe este verão com um frio no estômago. Para fazer isso, é sim-
ples: suba num vôo de esqui aquático, “surf ” ou caia de queixo
no Drinkão de Verão. Drinkão de Verão é a pedida deste calor:
copo cheio de gelo e Guaraná Antarctica por cima. Fica lindo de
ver. Fica divino de beber. Aí, v. parte de novo para o seu esporte
favorito. E se o seu esporte favorito for mulher, melhor. Porque
com mulher e Guaraná Antarctica, v. já tem duas das três melhores
coisas da vida. Antarctica. (1970)
3
Publicado em http://www.flickr.com/photos em 8/10/2012.
4
Publicado em http://cdn.mundodastribos.com em 13/10/2012.
Ele parece ser mais relaxado do que aquele dos anos 1970,
pouco afeito a brigas e confusões, menos preocupado com a opi-
nião alheia, ou ainda mais romântico do que aquele de 1971,
que vê a mulher apenas como um “esporte”:
5
Revista Exame, 11/06/2012. Guaraná Antarctica apresenta “Ex.lover blocker”
no Dia dos Namorados. Publicado em http://exame.abril.com.br em 4/10/2012.
around the clock (EUA, 1956), que a gravação original de Bill Ha-
ley e seus cometas contribuiu para incluir o Brasil no rol dos países
consumidores da indústria cultural norte-americana. A cultura
de massas se consolidou, sobretudo, no governo do presidente
Juscelino Kubitschek (1956-1961), com a abertura do mercado
para os produtos importados. Segundo Caldas (2008), chegaram
aqui, entre outros produtos como a Coca-Cola, os rádios portá-
teis de pilha – talvez os primeiros gadgets que permitiram uma
mobilidade incorporada até hoje pelo estilo de vida dos jovens.
O rádio portátil se associou a outros bens simbólicos específi-
cos e se instalou, especialmente, nos centros urbanos brasileiros,
tornando-se, paulatinamente, a referência cultural do país (Cal-
das, 2008). Podia-se desde já se identificar uma “nova cultura da
juventude” (Caldas, 2008: 76), facilitada, sobretudo, por sua
relação direta com o processo de urbanização daquela sociedade
brasileira. E, como tal, contribuiu, paralelamente, para a sedi-
mentação de uma cultura de massas definitiva. Até mesmo as
emissoras de rádio rurais passaram a ser solicitadas para também
incluírem em sua programação musical o rock’n’roll. Estes jo-
vens, no entanto, eram tão conservadores quanto seus próprios
pais. Sempre estiveram de acordo com o status quo, alinhados
com as expectativas da família e do Estado (Caldas, 2008: 76).
E é este, enfim, o jovem representado no anúncio do Guaraná
Antarctica de 1960.
Nos anos 1970, a publicidade analisada parece indicar que a
marca desejava, naquele momento, atrair a preferência do jovem
do sexo masculino e seu discurso é totalmente pautado na afir-
mação de sua masculinidade. Ele deve ser “forte” e ter personali-
dade. Deve ser, também, “livre” para decidir beber, por exemplo,
um Guaraná Antarctica no balcão de um bar, a despeito da rea-
ção alheia (Figura 1).
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Introdução
1
Todos os anúncios mencionados neste trabalho foram retirados da Coleção 100
Anos de Propaganda. Anúncios publicitários de 1875 a 1980. São Paulo: Abril
Cultural, 1980. Foram selecionados anúncios representativos do período 1900
a 1931 dos seguintes periódicos: Revista da Semana (30/06/1900; 05/07/1924;
23/01/1926; 01/10/1927 e 26/10/1929), A Vida Moderna (25/12/1907), Arara
(29/04/1905; 07/10/1905; 29/01/1906; 21/10/1906 e 26/01/1907), Fon-Fon
(26/06/1909; 23/04/1910; 08/04/1911; 20/04/1918 e 05/09/1925), O Malho
(06/12/1902), Revista A Ilustração Brasileira (01/08/1909), Careta (02/02/1918 e
02/10/1920), Revista Eu Sei Tudo (1919), Cruzeiro (15/02/1930 e 11/07/1931);
do jornal O Estado de São Paulo (18/05/1902 e 30/04/1905) e do Guia Artístico
do Rio de Janeiro (1922).
A alma do negócio
2
Fluxo modernista teve facetas e locações distintas. Publicado no jornal O Globo
em 04/02/2012.
Considerações finais
Referências bibliográficas
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1
Almanaque IBOPE. Setores econômicos – 1º Semestre 2010. Data de Publi-
cação: 11/ago/2010.
2
Almanaque IBOPE. Categorias – 30 Maiores – 2006 – Ano. Data de Publica-
ção: 06/mar/2007.
3
Almanaque IBOPE. Categorias – 30 Maiores – 2008 – Ano. Data de Publica-
ção: 19/fev/2009.
citárias dos bancos parecem indicar que ele pode fazer tudo isso
ao mesmo tempo ou enfatizar uma ou outra dessas virtudes em
harmonia com o contexto, porém independentemente de qual-
quer coisa poderá cuidar de todos nós – sociedade e planeta.
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Introdução
“Para a Farm, não tem tempo feio: é verão o ano inteiro!” Esta
frase, retirada do site de uma das mais bem-sucedidas lojas fe-
mininas do Rio de Janeiro, sintetiza o que se espera do “carioca
típico”, ou seja, uma predisposição “natural” para expor seu cor-
po, sua beleza e sua alma aos olhos do Outro. O sol que brilha
para todos, democratizando “cariocamente” as faixas de areia,
das ruas, das ciclovias e de quaisquer outros lugares de circulação
a céu aberto, no entanto, é o mesmo que, simbolicamente, de-
limita espaços sociais, aproximando e distanciando coisas e pes-
soas, iluminando um sistema de classificação que se realiza pelo
consumo e que se consolida através do discurso publicitário.
O objetivo deste trabalho é fazer revelar, a partir do discurso
de uma marca de moda feminina do Rio de Janeiro, a Farm,
algumas representações sociais do que é “ser carioca”. Para tanto,
serão observados três pontos de vista “nativos” que concorrem
para a construção de sua imagem institucional: 1. o site oficial,
2. o discurso do executivo de marketing e 3. os esquemas de
branding, a partir de um mapa de associações com outras marcas
atuantes na cidade.1 Sendo assim, a metodologia baseia-se na
1
Contribuíram para a pesquisa exploratória e para o trabalho de campo os bol-
sistas do PECC (Programa de Estudos em Comunicação e Consumo – Aca-
demia Infoglobo/PUC-Rio), Luana de Souza Martins e Raphael Oliveira da
Cultura carioca
Farmrio.com.br
3
Publicado em http://www.farmrio.com.br em 25/06/2012.
A voz do marketing
4
Idem.
5
Em palestra ministrada como parte da programação do PECC, no dia 26 de
abril de 2012, na PUC-Rio.
Complementaridades e classificações:
um mapa e muitos significados
6
Durante a palestra proferida na PUC-Rio, conforme mencionado em nota
anterior.
A marca abre sua 13ª loja, dessa vez em São Paulo, convidada
pelo Shopping Iguatemi. Em apenas um mês de funcionamento,
o espaço tem a maior venda por metro quadrado de moda jovem
feminina da história do shopping. Incrível, né?7
7
Publicado em http://www.farmrio.com.br em 28/06/2012.
8
Publicado em http://www.nosdacomunicacao.com.br em 28/06/2012.
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Jorge Zahar Ed., 1995.
2
A sigla BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – foi cunhada pelo economista
Jim O’Neill (2001). Em 2011, a sigla se transformou em BRICS pela adição da
letra S referente à África do Sul.
3
“Consumo no Brasil será de R$ 3 tri em 2013.” Publicado em www.meioe-
mensagem.com.br em 15 de abril de 2013.
4
“Gasto de brasileiro no exterior sobe 11,5% e soma US$ 6 bilhões no 1º tri.”
Publicado em www.globo.com em 24 de abril de 2013.
5
“Depois da falada compra, Alpargatas cria com Osklen conglomerado de ‘novo
luxo’”. Publicado em www.colunas.revistaepoca.globo.com em 23 de outubro
de 2012.
6
Frase retirada da página oficial da marca no Facebook.
7
Retirado da página oficial da Osklen no Facebook.
8
“Brasileiros gastaram mais de R$ 15 bilhões em artigos de luxo em 2010.” Publica-
do em www.epocanegocios.globo.com em 27 de maio de 2011.
9
“Classe média: eles querem (e compram) o luxo.” Publicado em www.exame.
abril.com.br em 4 de junho de 2011.
10
“Número de milionários cresce no Brasil e chega a 165 mil.” Publicado em
www.exame.abril.com.br em 20 de junho de 2012.
11
“País terá 118 milhões na classe C até 2014, prevê FGV.” Publicado em www.
globo.com em 7 de março de 2012.
Eu acho que isso foi uma das coisas mais legais que eu fiz para a
sociedade brasileira. Colocar a autoestima do que nós somos, os
nossos valores, dentro de uma linguagem de expressão de moda,
como a europeia e a americana. Não é só a roupa não, é a campa-
nha e toda a comunicação. A cultura midiática europeia e ameri-
12
Todos os depoimentos de Oskar Metsavaht nesta parte do trabalho, salvo
indicações explícitas, foram retirados do capítulo cinco “Osklen por Oskar –
as entrevistas” da Tese de Doutorado de Luciane Robic que, generosamente,
diz: “As entrevistas (...) foram transcritas aqui praticamente na íntegra, com o
objetivo de permitir ao leitor imergir também no universo da marca e, assim,
aprofundar seu conhecimento, tirar suas próprias conclusões e, caso desejado,
estender novos estudos a partir desse material” (Robic, 2011: 97).
cana são fortes porque elas são boas! Mas eu vou escrever a nossa
essência, o que tem por traz disso, que eu chamo de brazilian soul
e que é inatingível.
13
Essa capacidade brasileira de seduzir e encantar também tem destaque na
reflexão de Sérgio Buarque de Holanda (2000) sobre as percepções e avaliações
dos primeiros estrangeiros que pisaram em solo brasileiro na época do desco-
brimento.
14
“O Instituto-E é uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público – que acredita que compartilhar informações é o primeiro passo para
promover o desenvolvimento humano e sustentável. A partir dessa concepção
e do desejo de inovar, recorre a uma linguagem alternativa e multimídia para
canalizar a energia da sociedade e direcioná-la para a defesa da nossa biodiversi-
dade, do direito à informação e à educação e do patrimônio histórico e cultural
do Brasil. O Instituto-E visa cumprir sua missão por meio da criação e gestão
de uma rede que potencialize sinergias entre diferentes iniciativas e agentes da
sociedade. O Instituto surgiu a partir do e-brigade, um movimento de ativismo
ambiental que transforma conceitos em atitudes. Sua atuação se concentra em
áreas que compõem o ideário dos seis “e”s: earth, environment, energy, educa-
tion, empowerment e economics” (www.institutoe.org.br).
15
“‘Se o luxo vem da Europa, o novo luxo vem do Brasil’, diz Oskar Metsavaht.”
Publicado em www.ffw.com.br em 15 de junho de 2012.
Referências bibliográficas
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MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: EPU/Edusp,
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Suas mensagens não fazem outra coisa senão dialogar com a socie-
dade, existindo articulada ao seu desenho ideológico. Sua signifi-
cação é fruto de uma inscrição na ordem social, mantendo com ela
uma relação de múltiplo e complexo rebatimento. Este destino –
reflexo e espelho da cultura – acontece em um jogo sistemático de
trocas, envolvendo valores, estilos de vida, emoções, heróis, rituais,
mitos, representações e o que mais se queira nela ver impresso (no
duplo sentido) e reproduzido (Rocha, 2002: 36).
pura questão estética, pois emagrecer deve ser sim uma preocupa-
ção de saúde, conforme indicado na revista Claudia (ano 51, no2):
ções que, como vimos no caso das revistas analisadas, tem por
objetivo central disciplinar os corpos e engendrar um sistema
de amplo consumo de produtos e serviços médicos para a saúde
e o bem-estar. Nesse sentido, Banet-Weiser e Portwood-Stacer
(2006) indicam a construção midiática de uma consumidora
pós-feminista que embarca em um projeto de autorrealização
através de cirurgias plásticas e diversos tratamentos de beleza, en-
fatizando ideias de escolha pessoal e individualização, ao invés das
tradicionais causas do feminismo de liberdade e mudança social.
Ao folhear as revistas, encontra-se um verdadeiro arsenal de
produtos e serviços para o bem-estar, prevenção e juventude,
tanto em publicidades quanto em reportagens jornalísticas. As
partes do corpo feminino nas representações midiáticas devem
ser destacadas e tratadas, uma a uma, com seus devidos remé-
dios, cosméticos, alimentos, técnicas e acessórios. São sugeridas
bebidas, comidas e suplementos alimentares, loções e cremes
para os dentes, corpo e cabelos, além de medicamentos, exames,
terapias, e tudo mais que se possa imaginar. Como Rocha (2006)
já havia observado, a individualidade feminina é traduzida nas
narrativas publicitárias principalmente como um ser em frag-
mentos, uma mulher aos pedaços, que entrega a propriedade de
seu corpo e suas partes aos mais variados bens de consumo que
tomam o lugar da sua subjetividade. Sendo assim, o corpo é o
bem essencial da mulher, que deve receber cuidados, realces e
adornos específicos para cada um de seus pedaços. O discurso mi-
diático então delega a saúde feminina para produtos e serviços ca-
pazes de satisfazer suas necessidades e anseios. A boa forma plena
e a beleza desejada só podem ser obtidas através do consumo de
tratamentos adequados ao corpo em cada um de seus fragmentos.
Finalmente, esse estudo buscou identificar traços significati-
vos na composição do ideal contemporâneo da saúde e do bem-
-estar da mulher. A análise do material selecionado revelou que
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want to be me again! Beauty pageants, reality television and post-
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midiatização das marcas de alimentos nas vidas de algumas fa-
mílias. Matrizes, São Paulo, ano 6, n. 1, p. 77-96, jul./dez. 2012.
(...) convém não perder de vista que há coisas sagradas de todo tipo
e que há aquelas diante das quais o homem se sente relativamente
à vontade. Um amuleto tem um caráter sagrado, no entanto o
respeito que inspira nada tem de excepcional. Mesmo diante de
seus deuses, o homem nem sempre se encontra numa posição de
acentuada inferioridade, pois muitas vezes exerce sobre eles uma
verdadeira coerção física para obter o que deseja (2009: 21).
1
Publicado em www.g1.globo.com em 16/06/2007.
2
Publicado em www.estilo.uol.com.br em 23/11/2010.
7
Publicada em http://br.noticias.yahoo.com em 18/12/2012.
8
A ideia de sagrado já aparece claramente nas descrições dos grandes magazines e do
próprio consumo no romance Au Bonheur de Dammes de Émile Zola, publicado
em 1882.
9
Émile Zola, em mais de um momento do seu referido romance Au Bonheur de
Dammes, descreve as liquidações que assombraram a Paris do século XIX reali-
zadas pelo grande magazine que dá título ao livro.
10
A tradução para o Brasil não é muito adequada, ainda não faz muito sentido
em nossa cultura, mas seria algo como “feriado de compras” (piores ainda seriam
“Dia da Caixa” ou “Sexta-feira Negra”).
11
Publicado em http://tecnologia.terra.com.br em 15/03/2012.
12
Publicado em www1.folha.uol.com.br em 23/02/2010.
13
Os itálicos nos textos dos blogs abaixo são nossos.
linha Amarela... nossa blindagem é Deus, mas você tem que ter
o melhor. Você é filho do Rei. (…) Tá entrando (na IURD) com
Fiat Uno e vai sair com um Corolla. (…) Você lá, numa cobertura
do Recreio, Barra, Leblon, fazendo um churrasco. – Ai pastor, eu
só quero uma casinha. Casinha quem tem é joão-de-barro, você
merece o melhor (Mattos, 2008: 13 e14).
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Jornal O Globo, edição de 30 de julho de 2013, página 14.
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Coluna “Negócios & Cia”. Jornal O Globo de 31/07/2013, página 33.
Referências bibliográficas
DOUGLAS, Mary e ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens. Rio
de Janeiro: Ed. UFRJ, 2006.
DAMATTA, Roberto. Vendendo totens, prefácio prazeroso para
Everardo Rocha. In: ROCHA, Everardo. Magia e capitalismo.
São Paulo: Brasiliense, 1985.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São
Paulo: Martins Fontes, 2009.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro:
PUC-Rio, 1974.
MATTOS, Rosa. Consumo no templo. Rio de Janeiro, 2008. Relatório
PIBIC/CNPq Departamento de Comunicação Social, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Orientador: Everardo
Rocha.
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify,
2003.