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FONOAUDIOLOGICA PRE-OPERATORIA
• Carla Gonçalves Soares
• Elisangela Anselmo Figueiredo
• Elizangela Aparecida Barbosa
• Viviane de Carvalho
INTRODUÇÃO
Ao receber o diagnóstico de câncer, o paciente e sua família entram em um
processo de profunda angústia diante das sequelas do tratamento e da sua
possível cura.
O paciente pode ficar tão perturbado com a palavra câncer, e com o es-
tigma social que ela representa, que se, nesse momento, lhe forem dadas
orientações, como sequelas cirúrgicas na comunicação e na deglutição,
possíveis mudanças no estilo de vida e possibilidades de reabilitação, prova-
velmente ele não conseguirá assimilá-Ias. Por isso, consideramos que as
orientações pré-operatórias devam ser de acordo com a receptividade e o
interesse do paciente e da farnília'
giene, inalação, proteção e comunicação, quando esta for possível) e a ne- do paciente. Dificuldades do tratamento e hospitalização prolongados
cessidade do uso da sonda de alimentação (desde o processo cicatricial até aumentam a tristeza que, aliada a outros sentimentos, ocasiona a de-
o restabelecimento da função deglutição). A literatura aponta que a pressão. O paciente pode apresentar-se depressivo desde o pré-operatório.
ções, sem "razão plausível". Nesta fase o paciente pode apresentar agressi- será submetido pode gerar medo e incertezas futuras. Por isso é fundamen-
vidade tanto em palavras, quanto em atitudes. talo fonoaudiólogo reforçar as orientações e informar ao paciente e aos seus
· _ r tC?ali
funcionais, a possibilidade de reabilitação, além da importância e responsabi-
lidade do tratamento. Neste momento é imprescindível a presença da famí-
INSTITU"O 00 CÂNCER
lia, para dar apoio e encorajamento ao mesm03,8 i5"R."í\RN AL D O
Portanto, o vínculo entre paciente, terapeuta e toda a equipe responsá-
INSTITUTO DO CÂNCER Dr. ARNALDO VIEIRA DE CARVALHO
vel pode maximizar as respostas ao tratamento, tanto no aspecto físico,
como psíquico e emocional." SERViÇO DE FONOAUDIOLOGIA
A seguir serão apresentados os itens que compõem o protocolo de PROTOCOLO DE ORIENTAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA
de, profissão, escolaridade e estado civil): são fundamentais para SEXO: _IDADE: D.N.: .----l~-- -- ESTADO CIVIL: -
ESCOLARIDADE: PROFISSÃO AVALIADOR: ---
compor os dados epidemiológicos de pacientes com câncer de cabeça
e pescoço, favorecendo a criação de um perfil social, educacional e
2) TRATAMENTO MÉDiCO-CIRÚRGICO:
econõmico desse público. TIPO DE CIRURGIA:_____ - DATA: ~~--
2. Tratamento médico-cirúrgico: a informação a respeito do tipo de ci-
rurgia é obtida diretamente no prontuário do paciente ou por meio de 3) H.P.D.A.:
QUANDO INICIOU O prl°BLEMA:
discussão do caso clínico com a equipe médica. Esse dado serve para
QUAIS ERAM OS SINTOMAS: ~------------------------
orientarmos de forma adequada quais as estruturas que serão removi-
QUAIS AS PROVIDÊNCIAS TOMADAS: ------------
das no ato cirúrgico e os respectivos impactos funcionais gerados por
esse tratamento. Neste momento, o objetivo é esclarecer todas as dú-
----------------/~-----
----------------/ -----------------------------
vidas que o paciente apresenta com relação à cirurgia, ao pós-operató- 4) FUMO: ( ) Sim ( ) Não Início: Término: Quantidade:
rio imediato e tardio, como também à importância da aderência dele 5) BEBIDA: ( ) Sim ( ) Não Início: Término: Frequência: Tipo:
à reabilitação proposta. Quando o tratamento é realizado pelo proto- 6) RGE: ( ) Sim ( ) NãOInício: Frequência: Sintomas:
••
zes oe mctabolizar os agen-
ta do paclen te a LÓ o ate clrú: gico c tndlrctamen te Lê\llllll'l n II H Ilt t.l a
carcinogênicos, defeitos no mecanismo de reparo do DNA, carac-
localização do tumor e o seu tamanho. Ainda observamos se o pacien-
rísticas genéticas relacionadas com o gênero etário, bem como sín-
te apresenta disfonia, alteração na fala, especialmente no padrão arti-
dromes de suscetibilidade familiar ao càncer.l '
culatório. Em pacientes com tumores avançados, é comum o uso de
sonda de alimentação e traqueostomia, já no pré-operatório. Também
I. Tratamentos anteriores: esse item investiga se o paciente já foi sub-
metido anteriormente a algum tratamento oncológico na mesma re-
perguntamos se o paciente teve perda de peso e a partir de quando
isso ocorreu e se tem outros sintomas associados, como vômitos, fe- gião anatômica ou em outra.
bre, fadiga. A partir da apresentação dos sintomas, questionamos 8. Alterações funcionais: esse item tem como objetivo identificar prejuí-
quais as providências tomadas pelo paciente, qual foi o profissional da zos funcionais que o paciente esteja apresentando pela presença do tu-
saúde que ele procurou primeiro (médico, dentista, farmacêutico etc.) mor. Com relação à deglutição, questionamos se o paciente está apre-
e depois de quanto tempo do aparecimento dos sintomas. Também sentando alguma dificuldade para se alimentar, manifestada pela mu-
questionamos qual o serviço médico (hospital, posto de saúde, consul- dança na consistência alimentar, na quantidade ingerida, "engasgos"
tório médico), qual a especialidade procurada, o diagnóstico e a con- durante ou após a alimentação, odinofagia (dor para deglutir) entre ou-
duta desse profissional. Também é importante sabermos a respeito de tros. Com relação à fonoarticulação, perguntamos se o paciente tem
exames complementares, como realização de biópsia da lesão, tomo- observado modificação na sua qualidade vocal, no padrão articulatório,
grafia computadorizada entre outros. se as pessoas estão tendo dificuldade para compreender sua fala entre
tabágica, ou seja, quantos maços de cigarro/ano o paciente consome cuidador e observar a relação que este estabelece com o paciente, ou
ou consumiu e, com relação à bebida alcoólica, que tipo de bebida, se seja, se há agressividade, estresse, calma, paciência, nervosismo, pres-
destilada ou fermentada, e a quantidade e frequência. Quando perce- sa, medo, falta de atenção e interesse no paciente.
ORIENTAÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS DE ACORDO COM O da traqueostomia e da odusão desta para a comunicação oral, que poderá
TIPO DE CIRURGIA r realizada a partir do 3º dia. Em seguida, orientamos sobre o tratamento
fonoaudiológico e protético, quando este for indicado e possível.
As orientações pré-operatórias fonoaudiológicas com relação às alterações
funcionais e suas respectivas formas de reabilitação estão descritas nos pró-
Laringectomias
ximos capítulos e são fornecidas de acordo com tipo e extensão da cirurgia.
Os pacientes que serão submetidos à ressecção em laringe recebem in-
Cirurgias de cavidade oral e orofaringe formações da fisiologia normal da produção vocal e as mudanças funcionais
na respiração, voz e deglutição após a cirurgia. Utilizamos desenhos ilustrati-
Em praticamente todas as cirurgias, envolvendo a cavidade oral e orofaringe
(ressecção de lábios, ressecção de área retromolar, maxila, palato mole, vos a fim de facilitar o entendimento do paciente.
Para os pacientes que serão submetidos às laringectomias parciais verti-
mandibulectomia, glossectomia e pelvectomia), o paciente apresentará pre-
juízos nas funções orais: fala, voz/ mastigação e deglutição. cais enfatizamos que o principal impacto funcional será sobre a voz como:
redução do loudness; tipo de voz rouca, áspera e soprosa; incoordenação
É importante que o paciente esteja consciente que ressecções dessas
pneumofonoarticulatória entre outros. Também comentamos que pode
regiões anatõmicas não levam à perda da voz ou mesmo da fala, e sim que
haver cansaço em atividades físicas e dificuldade para se alimentar com lí-
ocorrerá um prejuízo principalmente articulatório e na ressonância vocal,
quidos no pós-operatório recente. Por isso, esse paciente necessitará do
pois tais estruturas (Iábios, língua, dentes, palato mole) são responsáveis
pela articulação e produção dos sons, como também participam da proje-
uso temporário de SNE, que normalmente é retirada em 5 a 7 dias com o
auxílio da reabilitação fonoaudiológica. Em seguida, orientamos sobre o
ção de voz. Assim, de maneira geral, com relação à comunicação oral, enfa-
uso da cânula de traqueostomia e odusão da mesma para se comunicar, a
tizamos que o paciente poderá apresentar redução na inteligibilidade de
qual será usada no máximo de 7 a 14 dias, nos casos em que essa for indi-
fala pela imprecisão articulatória, por alterações na produção de alguns fo-
cada. Já nas laringectomias parciais horizontais, o maior prejuízo será na
nemas, desequilíbrios ressonantais, como hipernasalidade e alterações na
deglutição, pois as estruturas supraglóticas, que têm um papel fundamen-
qualidade vocal.
tal na proteção das vias áereas inferiores, evitando a aspiração laríngea, se-
Com relação à deglutição, a maior parte dos pacientes fará uso de SNE
rão ressecadas. A qualidade é pouco afetada em tais cirurgias, pois
vocal
(Sonda Nasoenteral) de maneira temporária, sendo que o tempo de uso
normalmente a região glótica ou parte dela é preservada para a fonação,
normalmente está intimamente relacionado com a extensão cirúrgica. Paci-
como nas laringectomias horizontais supracricóideas e nas laringectomias
entes submetidos a cirurgias parciais, como glossectomia, mandibulecto-
Near-Total. As mudanças vocais normalmente estão relacionadas com a
mia, pelvectomia, ressecção de mucosa jugal e maxilectomia normalmente,
frequência fundamental, que pode tornar-se mais aguda, em virtude da
permanecem com SNE de 7 a 14 dias, pois tais cirurgias trazem mínimo ris-
redução do comprimento do trato vocal, pode haver ainda alterações resso-
co de aspiração laríngea e possibilitam um retorno rápido à alimentação via
nantais e qualidade vocal molhada, pela penetração laríngea de alimentos
oral com a reabilitação fonoaudiológica.
e de saliva.
De acordo com a cirurgia que será realizada, explicamos que fase da
Os pacientes submetidos à laringectomia total são orientados sobre as
deglutição será alterada e qual o tipo de prejuízo, abordamos também a
principais mudanças anatõmicas e fisiológicas após a cirurgia, que serão a
respeito das mudanças e restrições na consistência alimentar que, em al-
'I '1"1; Hilv\\ MJP, PU"HIII'; JI'~ Idclllincl\~~lto dllH fases do processo de morr
HIIHUld
uso de trequcostomlc d(1111111IViI. ouanto à ali plOl1"siolli\is clu 1~l1fcrnillgcll1. Arto Paul Enferm 2006b Abr.l]un.;19(2).
mentação, o paciente utilizará sonda de alimentação provisoriament tO. Wlm! ri L, Ilanson 'DC. Rcflux as an etiological factor of carcinoma of the Ia
1,1I1'Y/lgosrope 1988;98(11):1195-99.
(10-14 dias), pois normalmente estes não apresentam alterações na de- 11. Ilmsil OC, Manrique D. O câncer de laringe é mais freqüente do que se imag
glutição, que, quando ocorrem, são ocasionadas pela presença de com- I~'i/lstcin 2004;2(3):224.
. llchlau MS, Ziemer R. Reabilitação foniátrica do laringectomizado. In: Bran.
plicações pós-cirúrgicas ou pós-tratamento radioterápico, como fístulas tra- A R. Cirurgia de cabeça epescoço. São Paulo, Rocca, 1989. p. 371-83.
queoesofágicas, fístulas faringocutâneas e estenoses esofágicas. Também
informamos sobre as alterações no olfato, paladar e sobre a presença de
tosse e secreção nos primeiros meses. Ainda nesse momento, orientamos
sobre as formas de reabilitação da comunicação oral: voz esofágica, laringe
eletrônica e prótese traqueoesofágica, enfatizando as vantagens e as des-
vantagens de cada uma das opções.
Para todos os pacientes que serão submetidos às cirurgias de cabeça e
pescoço, explicamos sobre a importância do uso do protetor de estoma,
que permite o aquecimento e a filtração do ar, como também previne que
possíveis secreções provenientes de tosse e espirro atinjam outras pessoas.'
Cada uma das orientações realizadas no pré-operatório são reforçadas
para o paciente no pós-cirúrgico, quando de seu retorno para a avaliação
fonoaudiológica.
Após a orientação pré-operatória, em nosso serviço temos como rotina
o agendamento do retorno do paciente após 7-14 dias da cirurgia para a
avaliação fonoaudiológica e o início do processo de reabilitação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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fonoaudiologia e da psicologia a pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Reu Bras de
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cuidar em enfermagem. Rev Enftrm UER]2005;13(3):340-45.
8. Silva FAC etal. Representação do processo de adoecimento de crianças e adolescentes
oncológicos junto aos familiares. EscAnna Nery [online] 2009;3(2):334-41. ISSN
1414-8145. doi: 10.1590/S1414-81452009000200014. Acesso em: 02 Abr. 2011.
ROTOCOLO O_EAVALIAÇÃO CLíNICA
A DEG,LUTIÇAO EM PACIENTES
NCOLOGICOS DE CABEÇA E PESCOÇO
I uclana Pássuello do Vale-Prodomo
INTRODUÇÃO
I li xjlutiçào é o ato de transportar o alimento da boca ao estômago de forma
I '(jura. Ocorre aproximadamente 1.000 vezes ao dia e se altera de acordo
om a atividade.s-? É um processo altamente complexo e dinâmico, impor-
11I11l'C
para a nutrição do organismo como um todo." Envolve diversas estru-
dS da boca, faringe, laringe e do esôfago.12,
1111 13
assimetrias.
Millddul, llllli/dllc/U Ultll11lJVil, tlVtllid o lOIIU', nlll',1 111,ti do', I,'lbiu', CI
iI!lI,lIilHj(1 (I IhldL'IIIC1~suomotldos c'l rndiotompla são potenclelmont
das bochechas c o classifica em adequado, hipotóniw ou /lIpLIIIOl1ic.o. Jd
, I I),II! I d roduçêo nas medidas da abertura bucal máxima. Obviamen-
para a avaliação da tonicidade de língua, lábios e bochechtJ~, solicíta-
I 'd ''', i1I,'~t10destes pacientes, não se espera obter uma medida compa-
paciente que faça resistência aos movimentos realizados pelo avaliador, por
I/ f)lli" uormalidade. que ' encontra-se entre 40 e 55 mm. Em um estu-
exemplo, quando este estiver empurrando sua língua com uma espátul
11111.111 .ulo com pacientes com sequela de trismo após tratamento para o
para trás, para os lados, para cima ou para baixo.
111 "I ,1(1cavidade oral e orofaringe, encaminhados para fisioterapia, en-
Para a avaliação da mobilidade das estruturas, os movimentos solicita- lfllll 111',(' média de 20,7 mm, com variação de 4 a 34 mm, para a medida
dos devem ter sempre uma correlação com a função da deglutição. Por li ,illI'llllra bucal máxima".
exemplo, se forem solicitados ao paciente movimentos anteroposteriores
com a língua (língua para frente e para trás), objetiva-se avaliar a ejeção lIoção da comunicação oral
oral, essencial durante a fase oral da deglutição. No Quadro 3-3 encon- nlt~lIc1c·secomo comunicação oral a avaliação da compreensão e emissão
tram-se alguns exercícios e seus respectivos objetivos na avaliação da mobi- 1I1 "I, () qrau de inteligibilidade de fala e as características da articulação e da
lidade oral.16
A medida da abertura mandibular máxima ou interincisal, obtida atra- l'xcoto nos casos em que também são encontradas sequelas de comuni-
vés de paquímetros, é especialmente importante na avaliação de pacientes ,1I,tI" decorrentes de quadros afásicos ou demenciais, a compreensão oral e
oncológicos de cabeça e pescoço. Cirurgias da região posterior da cavidade I I ,lpc1Cidade de comunicação por meio da fala encontram-se totalmente
111' ",Nvadas nos pacientes com sequelas do câncer de cabeça e pescoço.
Quadro 3-3. Exercícios para avaliação da mobilidade d
- - -~~, ••.•••
~'-"I VIUlv
••••••••..• l nuctanto. essas já devem estar sendo avaliadas desde a entrada do pacien-
Estruturas Movimento
Função 1,\ I1r1sala de avaliação e submetidas a testes específicos, se necessário.
Lábios • Fechamento normal e
• Contenção e pressão intraoral be-se da correlação direta entre as funções de deglutição, voz e arti-
forçado
• Articulação de fonemas bilabiais (111,lÇão,pois as estruturas que desempenham estas três funções são as
• Estalo
• Articulação das vogais 1o, o, ul
• Bico aberto e fechado I nosmas. Dessa forma, alterações na qualidade vocal ou no padrão articula-
• Articulação de li, ch, jl
• Sorriso fechado
I()I io podem refletir ou acompanhar um possível problema de deqlutiçào.!"
Língua • Lateralização e rotação
• Manipulação e preparo do bolo O grau de inteligibilidade de fala poderá ser avaliado por quatro crité-
• Estalo, anteroposterior e
• Contato da língua com palato e
varredura I ios: inteligível (sem erros ou com erros), inteligível com atenção, difícil de
ejeçi:io do bolo
• Elevação, abaixamento, entender e ininteliqlvel.l'' Fúria 10 também propõe a classificação em inteligí-
• Diversos pontos articulatórios
sucção
Bochechas vel, inteligível com atenção, parcialmente inteligível e ininteligível.
• Sucção, inflar
• Higiene oral, ejeção,
mastigação Embora alguns pacientes com sequelas de deglutição pelo câncer de
• Articulação abeça e pescoço e seus tratamentos possam apresentar disfonias impor-
Véu palatino e • Emissão da vogal
Faringe • Isolamento das cavidades nasal tentes, a avaliação do comportamento vocal, durante a avaliação clínica,
sustentada li!
e oral
• Emissão alternada de Ia, ãl deve ser sucinta e englobar alguns parâmetros mais diretamente correlacio-
• Ressonância e articulação
• Emissão do fonema IX! nados com a deglutição. Nas cordectomias, laringectomias frontal e fronte-
Mandíbula • Abertura, fechamento,
• Mastigação lateral e na radioterapia exclusiva por tumores da laringe, as sequelas vocais
lateralização
• Articulação se sobrepõem às da deglutição, e, nesses casos, outros parâmetros da ava-
• Abertura máxima (medida
com paquímetro) • Loudness e projeção vocal
liação vocal, assim como da análise acústica, deverão ser também coleta-
dos.
Vélri rOlOCOIOS oe avaliação miofuncional.
li I i{l, (1Illldo~ t1 ptll Li!
Iguns que também poderão ser obtidos
ililtH rr fi';I' \'" podem-se
diferentes escalas para sua classificação. A existência de soprosldede e tem IVI1IIi1çtlocllnica da mastigação:
pos máximos de fonação reduzidos pode refletir alterações da cornpetên- 1/(11)clcl corte:3 anterior (realizado com os incisivos centrais e laterais),
cia glótica e estar relacionada com a penetração e/ou com a aspiração I..•• 11111'ldl (roalizedo pelos caninos e pré-molares), posterior (realizado pelos
ríngea durante a deglutição. A presença de secreção e/ou saliva durante a prl\ molnros e molares), com a mão (parte o alimento com as mãos antes
produção vocal caracteriza a qualidade vocal "molhada". Essas secreções rlt. po<,icioná-Io entre os dentes) e rasga (posiciona o alimento entre os
não necessariamente estarão localizadas sobre as pregas vocais, mas em dl'111(',,»,não realiza atividade de corte, utiliza os dentes para rasgá-Io).
qualquer ponto do trato vocal. A hipernasalidade reflete alterações do fe- I 1l11I"ortamento labial durante a mastigação:3 abertos ou fechados.
chamento do esfíncter velofaríngeo e pode ter relação com penetração de I, 'li 11'0 mastigatório: 11 utilizando-se um cronõmetro, mede-se o tempo
líquidos na cavidade nasal. A qualidade vocal pastosa é frequente nos paci- IC' o 1 Q e o último fechamento
1\111 da mandíbula durante a mastigação.
entes com sequelas do câncer oral ou orofaríngeo e está diretamente asso- ( /( I()s mastigatóriosY conta-se o número de ciclos mastigatórios, que
ciada a prejuízos articulatórios. Alterações na modulação vocal, especial- .to definidos por uma abertura mandibular seguida de um fechamento.
mente as dificuldades para se atingir tons agudos, podem estar associadas I ',/dse na cavidade oral: solicita-se ao paciente que abra a boca após a pri-
à alteração da elevação laríngea. A redução na amplitude, assim como no moira deglutição, observando-se a presença e o local onde ficam acumu-
tempo de elevação laríngea, pode causar impacto na deglutição como esta- l.ulos possíveis resíduos. Subjetivamente, pode-se graduar esta estase em
se, principalmente na região do esfíncter esofágico superior, e possibilida- (Ii,,»creta, moderada ou grave. É importante também notar se o paciente
des de penetração e/ou aspiração laríngea durante e/ou após a deglutição. itlrá deglutições múltiplas espontâneas para limpeza dos resíduos orais
A avaliação da articulação engloba aspectos gerais e específicos da pro- ou se deverá ser orientado para tal.
dução fonêmica. Deve-se observar o tipo articulatório do paciente e classifi- Número de deglutições/bolo:11 inclui o número de deglutições executa-
cá-Io como normal, preciso, indiferenciado, travado ou exaqerado? O tipo das para cada pedaço de bolo mastigado.
travado pode estar relacionado com a redução na abertura bucal (trismo), I ateralidade da mastigação:3 unilateral ou bilateral. Considera-se masti-
o que pode dificultar a entrada do bolo alimentar na cavidade oral, prejudi- ção unilateral quando a preparação do alimento ocorre exclusiva ou
cando a função mastigatória e a ejeção oral. A avaliação indireta da veloci- predominantemente em um dos lados da cavidade oral. De acordo com
dade de fala, durante a conversa espontânea, é de extrema importância. s autoras, a mastigação unilateral ocorre quando mais de 66% dos ciclos
Uma fala rápida compromete ainda mais a inteligibilidade de fala do paci- mastigatórios apresentam-se em um mesmo lado.
ente, especialmente daquele com sequelas do câncer da cavidade oral e/ou
orofaringe. Avaliação da deglutição
Anteriormente à colocação de alimentos na boca do paciente, faz-se neces-
Avaliação da função mastigatória ária a limpeza das secreções orais, faríngeas e traqueais, seja por movimen-
Em cabeça e pescoço, poucos são os estudos que exploram os parâmetros tos voluntários (tosse, pigarros, escarro), seja utilizando-se os procedimen-
ideais para a avaliação da função mastigatória, assim como sua caracteriza- tos de aspiração das vias aéreas superiores e/ou inferiores, sempre com au-
ram os parâmetros relacionados a seguir para a avaliação da função masti- mitindo-se a observação de alguns critérios para a seleção dos alimentos,
10WI1SiSL0I1c.id!"quuntld.tdc a utonslllos, que Il"'IH'IIIIIII, !",fl'IIIII'I\( luhnon Il'iI',I"1 \( 1.1lltili/tlcltl, pcH~(C.' 5Ct bastante razoável no quc se refere à fide-
te, o tipo de tratamento médico ao qual o paciente 101',llillll(llld .•., !I'!, IÍd,lI II" Ilt11l1é) Dvaliação da fisiologia da deglutição, sem comprometer,
I i I i Ifllll! 1',lei, O estado pulmonar, ainda que o paciente apresente uma im-
As consistências, os utensílios, as quantidades e os tipos ele allmentos uti
lizados na avaliação clínica da deglutição podem variar de acordo com cad 1 "I ,li 011111' d,->piraçãonessa primeira oferta.
instituição e protocolo. Pensando-se em ambiente hospitalar, faz-se necess...· I lI' ITlclI1Cirageral, os volumes de oferta podem ser divididos de acordo
ria a integração contínua da equipe multiprofissional, especialmente fonoau- 1111 \ "', ',('(.Iuintes alterações:
diólogos e nutricionistas, para que todos possam utilizar uma mesma lingua-
1'(lqllcna (1 a 3 mL):
gem, evitando-se confusões na seleção do "cardápio" do paciente. Possibilidade de aspiração laríngea grave.
Para o fonoaudiólogo, as consistências alimentares se diferenciam de Pncientes com comprometimentos pulmonares.
acordo com a habilidade exigida durante a mastigação/deglutição. Dessa Pt'lcientes com alteração no estado de consciência.
forma, um pedaço de banana, que somente poderá ser deglutido após tor-
li) Mc'dia (5 a 10 mL):
nar-se um bolo pastoso, precisa antes ser mastigado, porém em um tempo sibilidade de aspiração laríngea moderada.
menor e qualidade no preparo inferior, quando comparado com um peda-
Alterações na ejeção oral.
ço de filé de frango grelhado. Exemplos de consistências alimentares:
Alterações no fechamento laríngeo.
li Líquida: água, chá, leite, café, sucos mais finos (laranja, limão, caju). C) (Irande (acima de 20 mL):
11 Líquido-pastosa: iogurte, vitamina, sucos mais engrossados (mamão, Possibilidades de aspirações laríngeas discretas.
manga), sopa batida, mingau. Quando se deseja aumentar o input sensorial.
li Pastosa: purês, pudim, flã, frutas peneiradas ou amassadas. Pacientes que já fazem a alimentação por via oral.
li Semissólida: frutas em pedaços, sopinha de pão ou bolo, arroz com caldo lecionados os alimentos, utensílios e volumes, inicia-se a introdução dos
de feijão, carnes moídas ou desfiadas, bolachas. ,,111 nentos por via oral. Nesta primeira tentativa, deve-se estimular o paciente a
• Sólida: pão francês, carnes em pedaços, torradas. II'oIli/á-la da maneira o mais próximo possível do habitual. Com isso, objeti-
Em geral, a consistência líquido-pastosa tem sido utilizada como a con- v, \ ',e avaliar a dinâmica da deglutição o mais funcionalmente possível, elegen-
sistência de eleição para a primeira oferta por via oral. Entretanto, uma avali- (It) 'te as estratégias de compensação ou manobras de deglutição de acordo
ação clínica da deglutição o mais funcional possível deve utilizar, ao menos, ( um as dificuldades, sinais e sintomas observados. Deve-se, também, realizar,
quatro tipos de consistências. tiO menos durante uma tentativa, uma deglutição com o uso do comando ver-
Os utensílios que serão utilizados para a avaliação da deglutição são: 11,,1.O avaliador instruirá o paciente a iniciar a deglutição após um comando
colheres de plástico descartável (tamanhos 3 e 5 mL) e copo. O uso da se- vorbal. como, por exemplo, "Pode engolir". Buscam-se observar a contenção
ringa para a introdução do alimento, exceto como instrumento para o con- uml do paciente, assim como, através da ausculta cervical, a ocorrência de si-
trole do volume oferecido, não é recomendável, pois altera a fisiologia da nais indiretos de perda prematura e, portanto, alteração do controle motor
dinâmica da deglutição, facilitando a ocorrência de alterações do controle oral, assim como estase e penetrações e/ou aspirações laríngeas. Esseteste
motor oral com perda prematura, possibilidade de penetrações e aspira- não deve ser utilizado nos casos de glossectomia total ou paralisia biliteral da
ções laríngeas. Entretanto, pode ser útil nos casos em que se observam gra- IIngua, em que a falta de controle oral já é esperada.
ves comprometimentos da abertura bucal e da ejeção oral. Prossegue-se na avaliação da deglutição, aumentando-se o volume da
Embora não exista uma quantidade ou volume padrão para se iniciar a nsistência escolhida para o início da avaliação e, sempre que possível, tes-
avaliação da deglutição por via oral, a medida de 5 mL, independente da Lando-se outras consistências, em diferentes quantidades.
li.! cJegluliçcl(.l, o tlVdlitl
de penetr o/aspiração: presença de tosse.
paciente, visualizando possível estase na cavidade 01di L'/OU
irros, alterações respiratórias entre outros, antes,
anotando o local e a quantidade de alimento parado, lov
u aoós a deglutição.
em conta o volume total oferecido.
Durante todas as ofertas, o fonoaudiólogo deverá estar atento a sins], " , 111
(110 posicionamento da mão do avaliador no pescoço do paciente
iI'\.IIl rtllxilitlrá na detecção de possíveis alterações. Logemann 12 propõe
e sintomas sugestivos de disfagias. Deve-se traçar um roteiro de análise com
parâmetros que preconizam a avaliação da dinâmica, de acordo com as f i ilí n I II I', quatro dedos: dedo indicador posicionado na região anterior,
ses da deglutição. LlI,II"'TH'11te abaixo da mandíbula e dedo médio no osso hioide; dedos
1111
Itil 11 IIlll1imo na cartilagem tireoide. O uso da técnica da deglutição dos
A) Fase preparatória oral:
II I I df'clos auxilia na observação da presença e do grau de excursão larín-
1. Tipo de corte.
1'"" nlte também a inferência do momento da penetração ej ou aspira-
2. Comportamento labial.
I ((',o O paciente, durante essa técnica, apresente tosse ou pigarros, po-
3. Tempo mastigatório.
Itle iocinar da seguinte maneira:
4. Número de ciclos mastigatórios.
1111", do início da excursão laríngea: sinais de alteração do controle mo-
5. Estase: ausente ou presente, local e grau da estase.
111/ IlIdl ou sensibilidade.
6. Número de deglutições por bolo.
7. Lateralidade da mastigação. I ll/l./llte a movimentação laríngea: déficits na elevação, anteriorização
2. Início da fase oral: normal ou atrasado. I xwern-se solicitar ao paciente a emissão da vogal sustentada jaj e a
3. Ejeção oral: normal e alterada. ru Iltlgem de números de 1 a 10, antes e após a introdução dos alimentos.
4. Estase na cavidade oral: ausente ou presente, local e grau da es- 11111 .mte essas tarefas, podem-se observar a ocorrência de voz "molhada",
tase. IIIdl indireto de penetração ejou aspiração laríngea, assim como estase de
C) Fase faríngea: 11111 ionto ou secreções em todo o trajeto orofaríngeo.
1. Início da fase faríngea da deglutição: normal ou alterado. 1\ utilização de uma ficha de registro ou um protocolo de avaliação para a
2. Sinais de estase em recessos faríngeos: ausente ou presente. 1Ilotação dos resultados é de extrema importância, tanto do ponto de vista de
Solicitar ao paciente que aponte o local da possível estase, e, de .unrnpanharnerrto terapêutico, assim como um facilitador para possíveis pes-
acordo com esta, pode-se interpretar da seguinte forma: llllÍsas clínicas. Esseprotocolo, além de facilitar e direcionar a coleta dos dados,
• Região cervical anterior, inferiormente à mandíbula: sugere esta- I I( rrrate o acompanhamento da evolução clínica intra e intersujeitos.
• Há necessidade de exames complementares? Quais e por quê? tli!!ollias. São Paulo: Lovise, 1995. P: 68-138.
,I. Cav:Llcanti RVA, Bianchini EMG. Verification and morfofunctional analysis of mastigation
• Há necessidade de intervenção fonoaudiológica? rharactcristics in individuais using removable dental prosthesis Reo Cefac
2008;10(4):490-502.
1\. Dall' Anese APMS. Turismo em pacientes com câncer em cavidade oral e oroforinge: quantijicação
o fonoaudiólogo deverá também fornecer o seu diagnóstico, que
(' efeitos da fisioterapia. Dissertação de Mestrado - Fundação Antônio Prudente. São Paulo,
engloba a denominação das alterações encontradas na avaliação clínica,
2007.
<;. Dantas RO, Kern MK, Massey BT et ai. Effect of swallowed bolus variables on oral and
nas seguintes categorias: disfonias, alterações do sistema sensório-motor
pharyngeal phases of swallowing. Am ] PhysioI1990;258G675-81.
oral, disfagias. Nesta última, preconiza-se a classificação em: 6. Dodds WJ, Stewart ET, Logemann JA. Physiology and radiology of the normal oral and
pharyngeal phases of swallowing. A]RAm] RoentgenoI1990;154:953-63.
7. Dodds WJ. Physiology of swallowing. Dysphagia 1989;3:171-78.
CLASSIFICAÇÃO DAS DISFAGIAS SEGUNDO A CAUSA 8. Engelhardt R, Passuello L, Carrara De Angelis EC. Videofluoroscopic analysis of
mastigation in healthy adults. In: 19th Annual Meeting, dysphagia research society.
A) Disfagias mecânicas: podem ser decorrentes do câncer ou de seu
San Antonio: TX, 2011.
tratamento, traumas, infecções, próteses orais mal-adaptadas. 9. Faria AG, Vale LP, Carrara-de Angelis E. Efeito da oclusão da traqueostomia na deglutição
orofaríngea de pacientes submetidos à cirurgia de cabeça epescoço. Monografia - Fundação
B) Disfagias neurogênicas: relacionadas com alterações do sistema ner-
Antônio Prudente. São Paulo, 2002.
voso central ou periférico, podendo estar presentes como sequelas de 1.0. Fúria CLB. Reabilitação fonoaudiológica das ressecções de boca e orofaringe.
In: Carrara-de Angelis E, Fúria CLB, Mourão LF et ai. A atuação jonoaudiológica no câncer
acidente vascular encefálico, doença de Parkinson, traumatismo cranio-
de cabeça epescoço. São Paulo: Lovise, 2000. p. 209-20.
encefálico, paralisia cerebral, doenças degenerativas entre outros. 11. Hamlet S, Faull ], Klein B et ai. Mastication and swallowing in patients with postirradiation
xerostomia. lnt ] Radiat Oncol Biol Phys 1997 Mar. 1;37(4):789-96.
12. Logemann JA. Anatomy and physiology of normal deglutition. In: Evalution and treatment
CLASSIFICAÇÃO DAS DISFAGIAS SEGUNDO AS FASES DA
ofswallowing disorders. San Diego: College-Hill, 1983. P: 11-36.
DEGLUTIÇÃO 13. Marchesan 1QDeglutição: normalidade. 1n: Furkin AM, Santini CS. (Eds.). Disfogias
A) Disfagia oral: ocorre quando há comprometimentos, essencialmen- orofaríngeas. São Paulo: Pró-Fono, 1999. p. 3-18.
14. McConnel FM, Teichgraeber JF, Adler RK. A comparison of three methods of oral
te, dos eventos das fases preparatória oral e oral. Pode estar presente reconstruction. Arch Otolaryngol Head Neck Surg 1987;113(5):496-500.
15. Sonsin PB, Bonfim C, Silva ALND et al. Análise da assistência nutricional a pacientes
nos casos de apraxia oral, paralisia unilateral de língua, glossectomias
disfágicos hospitalizados na perspectiva de qualidade. O Mundo da Saúde 2009;33(3)310-19.
parciais, ou mesmo em indivíduos com próteses dentárias mal-adapta- 16. Vale-Prodomo LP, Carrara-de Angelis E, Barros APB. Avaliação clínica fonoaudilógica das
das. disfagias. In: Jotz GP, Carrara-de Angelis E, Barros APB. (Eds.). Tratado da deglutição e
disfagia: no adulto e na criança. Rio de Janeiro: Revinter, 2009. P: 61-67.
B) Disfagia faríngea: quando há comprometimentos, essencialmente, 17. Woda A, Foster K, Mishellany A et ai. Adaptation of healthy mastication to factors
dos eventos da fase faríngea, como nos casos de paralisias faríngeas pertaining to the individual or to the food. Physiol Bebao 2006 Aug. 30;89(1):28-35.
INTRODUÇÃO
câncer de cabeça e pescoço e seu respectivo tratamento (cirurgia, radiote-
rapia e/ou quimioterapia) podem acarretar diferentes tipos de disfunção da
deglutição em diferentes graus de gravidade que podem alterar desde a
nutrição e a hidratação do paciente, como também facilitar outros distúr-
bios respiratórios, quando na presença da broncoaspiração. Dessa forma, a
disfagia pode ser um fator complicador do quadro clínico do paciente e até
mesmo um fator que impede uma adequada proposta de tratamento onco-
lógico e sua respectiva resposta.
o objetivo deste capítulo é refletir a respeito da contribuição da video- cuidados com relação à exposição e à radiação não se limitam ape-
fluoroscopia da deglutição na abordagem da disfagia mecânica. 11,1', ao tempo de exposição, mas também aos equipamentos de proteção
1/11(' devem ser utilizados em todo o período da realização do procedimen-
VIDEOFLUOROSCOPIA \cl. É necessário que o profissional use a capa, as luvas, o colar protetor da
A videofluoroscopia da deglutição é uma avaliação completa no que diz res- tlrcoide de chumbo e os óculos de proteção, e quanto ao paciente, devem
peito à visibilidade de todas as estruturas e fases da deglutição. É um exame ',('r protegidas as regiões que não têm necessidade de exposição à radia-
que consiste em uma imagem radiológica dinâmica, registrada em fita de ~clo. Segundo a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (CIPRjOPS),
vídeo ou DVD.5,32,44 () radiodiagnóstico é a causa mais importante de exposição humana à radi-
Atualmente existem programas que podem auxiliar na interpretação .içêo de fonte artificial, e a CIPRjOPS relata que os efeitos temidos são os
das imagens - tanto do ponto de vista de qualidade, como da quantifica- sornáticos, que se manifestam no indivíduo exposto ao longo do tempo, e
ção de alguns eventos para que estes possam ser comparados com padrões os hereditários, que afetariam a descendência dos expostos35-38
de maior funcionalidade.
Dessa forma, desde a indicação até a realização da avaliação videofluo-
Indicações, vantagens e desvantagens roscópica é importante ser muito bem estabelecido o sistema de pondera-
ção dos riscos e dos benefícios.
A indicação deste exame ultrapassa o objetivo diagnóstico. Ele contribui
para o entendimento do grau da gravidade das alterações encontradas e
Equipamentos e materiais
suas respectivas etiologias, o que fortalece o planejamento terapêutico, que
passa a ser com base em imagens funcionais. Para a realização desse procedimento, os aparelhos necessários consti-
tuem-se do equipamento de raios X com monitor conectado a um videocas-
A principal indicação para a realização da videofluoroscopia é a necessi-
sete, DVD ou computador, possibilitando a gravação da imagem fluoroscó-
dade da descrição detalhada da fase faríngea da deglutição. Observar todo
pica e permitindo análises posteriores. A tecnologia que os aparelhos mais
o trajeto do bolo alimentar e compreender as causas e as repercussões das
modernos nos oferecem, como: quadro a quadro e câmera lenta, pode nos
alterações diagnosticadas são, sem dúvida, a indicação primária para um di-
agnóstico preciso e um planejamento terapêutico mais em foco. auxiliar em investigações minuciosas. É ideal conectar o equipamento a um
amplificador de som para registro de toda a parte falada do exame, desde a
Profissionais especializados nesta avaliação utilizam o momento do exa-
identificação (data, nome, sexo e idade) até história médica e de preferên-
me para um arsenal de perguntas e estratégias, como provas terapêuticas,
cia, toda a descrição das consistências, quantidades e as provas terapêuticas
para uma intervenção em foco. A adaptação de consistências, as quantida-
testadas (mudanças de postura, manobras de proteção das vias aéreas infe-
des, a viscosidade, a temperatura, as posturas e as manobras de proteção e
riores e manobras de limpeza) no decorrer do exame. A avaliação videofluo-
limpeza podem e devem ser avaliadas durante o exame, desde que o paci-
roscópica deve ser realizada por um médico especialista em radiologia e
ente não seja exposto por muito tempo à radiação.13,31,48
pode ser acompanhada também por um fonoaudiólogo.
rns C CJO grau moaerado ou qrave.
ra a reellzaçso desse proccdlmen to, os pdcit'lllt "~,'li lU Olll'II I nel j'llfll tlll
rrctar e justi'ficar a presença de odino'fagia e alteração do trânsito
permanecer sentados ou em pé nas posições lateral e ento.opostorlor. O !,ol!
ofágico do bolo, principalmente para as consistências mais espes-
foco da imagem do aparelho é definido ventralmente pelos lábios, cranial- 1111111
mente pelo palato duro, dorsalmente pela parede posterior da faringe e It"
caudal mente pela bifurcação de via aérea e esôfago (7ª vértebra cervical). A avaliação videofluoroscópica da deglutição pode ser realizada e inter-
Antes de iniciar o exame, explica-se ao paciente que ele deglutirá 4 (quatro) pl piada de acordo com a observação desde a captação do bolo até a entra-
consistências diferentes nas quantidades de 5 e 20 mL (5 mL apresentados li. I no estômago. O laudo do exame tem que descrever as alterações da
na colher e 20 mL apresentados no copo para avaliação da deglutição con- I tlolilidade orofaríngea, a presença das estases e das penetrações ej ou as-
tínua). Para a avaliação da consistência sólida, o paciente é instruído a mas- pll ações e a gravidade de todos esses eventos.
tigar bem a bolacha até que se sinta seguro para engolir. Toda a avaliação Em nosso serviço utilizamos o protocolo de Avaliação Videofluoroscópi-
8
deve ser feita primeiramente na visão lateral e depois na visão anteroposte- (.1 da Deglutição adaptado de Carrara-de Angelis et a/ Primeiramente, na
rior, em que se deve retestar a maior quantidade do liquidificado que o paci- visão lateral, orientamos o paciente que conte os números de 1 a 10 e repi-
ente conseguiu engolir com segurança, assim como do sólido. 1.1 por 3 vezes as seguintes sequências fonêmicas: jpa ta kaj; jfi si chij e
O material utilizado consiste em sulfato de bário nas seguintes quanti- jna Ia raj e observamos os diferentes pontos articulatórios (precisãojimpre-
dades e consistências: 5 e 20 mL de líquido (água e sulfato de bário em isão, ausência do contato, elevação do véu palatino e capacidade para a
uma proporção de 1: 1); 5 e 20 mL de líquido-pastoso (sulfato de bário diadococinesia). Na continuidade, solicitamos a emissão das vogais jij e
puro); 3 colheres de 5 mL de pastoso (sulfato de bário misturado com es- juj (vogais opostas quanto à altura vocal: agudo e grave) de forma melódi-
pessante - consistência de purê) e sólido (bolacha waffle misturada ao sul- a e a deglutição de saliva para a observação da posição da laringe no pes-
fato de bário puro). oço e o movimento vertical e anterior na fonoarticulação e deglutição.
Caso, durante o exame, exista dificuldade com relação a alguma consis- Alguns raciocínios são permitidos mediante algumas imagens, como:
tência e/ou quantidade, é dever do examinador adaptar o protocolo de
A) Quando é observada redução da elevação ejou anteriorização da la-
avaliação às condições do paciente para que seja feita a melhor avaliação
ringe, pode ser que ocorra alteração na abertura da transição faringo-
funcional possível. Se o paciente engasgar ou tiver a sensação de bolo para-
esofágica, que, consequentemente, pode acarretar estases alimenta-
do na boca ou na garganta, o mesmo é orientado a tossir, pigarrear ou reti-
res na hipofaringe; dependendo do grau dessa disfunção, pode-se ob-
rar o alimento.
servar penetração ejou aspiração após a deglutição.
Protocolo de avaliação e interpretação da videofluoroscopia B) Pode também ser observado o contato da epiglote com as aritenoi-
des, formando uma das barreiras de fechamento do vestíbulo larín-
É sugerido que, no primeiro momento, sejam gravadas imagens das estrutu-
geo, e este pode estar adequado ou inadequado, acarretando e justifi-
ras anatômicas, e, posteriormente, se faça a avaliação das funções, ini-
cando possível penetração durante a deglutição.
cialmente a fonoarticulação e, na sequência, a deglutição. Um bom exem-
C) Logo, na visão anteroposterior, pode ser solicitada a repetição pau-
plo é a observação da epiglote; em alguns indivíduos a mesma pode estar
mais horizontalizada, aumentando o espaço valecular e podendo facilitar
sada e curta da vogal jaj para a observação do movimento da laringe
durante a fonação. De acordo com a simetria neste movimento me-
estases alimentares, ou mais verticalizada, reduzindo o espaço valecular e
dial, podemos inferir se essa movimentação está adequada ou inade-
dificultando a limpeza das estases na valécula.
quada. Se for observada predominância do movimento de um lado da
Nos casos de pacientes oncológicos de cabeça e pescoço submetidos à
laringe, a imagem permite apenas que seja descrita no laudo a redu-
radioterapia é comum serem observados, na imagem radiológica, sinais de
ção do movimento de hemilaringe. Todas as UlIlltI', 111111111',0 d(l~cri Los no laudo como ocorrências durante o exame video·fluoroscópico.
feitas por médicos por meio de outras avaliações csuudlktlJ. O grau de gravidade (discreta, moderada ou intensa), a sistematicidade eo
momento (antes, durante e/ou após a deglutição) da ocorrência das pene-
Em seguida, inicia-se a oferta dos materiais conforme descrito anterior-
trações e/ou aspirações também devem ser descritos.
mente, e, sempre que possível, tentamos manter a seguinte ordem de apre-
Na visão anteroposterior, é possível a visualização desde o preparo e a
sentação: 5 e 20 mL de líquido, 5 e 20 mL de líquido-pastoso, 3 colheradas
lateralização do bolo como a simetria da descida do bolo para as vias diges-
de pastoso e sólido. São observados os seguintes eventos.
lórias inferiores, e pode ser observada estase na valécula e nos recessos piri-
A fase preparatória pode ser avaliada com relação ao controle motor rormes; se presentes, devem ser classificadas em uni ou bilateralmente eo
oral: continência oral, captação e formação do bolo, perda prematura e rau da gravidade. É nesta visão que podemos observar melhor a fase eso-
tempo do trânsito oral. Essas variáveis podem ser julgadas como adequa- íáqica, tanto a morfologia do esôfago, quanto a dinâmica da deglutição. As
das ou inadequadas; ausentes ou presentes e, quando inadequadas ou pre- disfagias esofágicas podem acarretar alterações nas fases anteriores em vir-
sentes, podem ser classificadas com relação ao grau de gravidade por meio Lude da resistência ao fluxo no esôfaqo.l-
de uma avaliação subjetiva, como discreta, moderada ou intensa. Como já sugerido anteriormente, para cada alteração significativa ob-
A fase oral pode ser analisada com relação à ejeção do bolo, amplitude servada, devem ser realizadas provas terapêuticas na tentativa de reduzir a
do movimento anteroposterior da língua e contato e tempo de contato da Iteração ou seu impacto.
base da língua contra a parede posterior da faringe. Todas essas variáveis A simples descrição dos achados no exame não oferece material sufici-
devem ser julgadas como adequada ou inadequada e, quando inadequa- ente para a compreensão da causa da alteração e não auxilia no planeja-
da, deve ser caracterizado o grau da alteração em discreto, moderado ou mento do tratamento. É necessário que seja compreendido o porquê das
grave. A estase na cavidade oral deve ser analisada como ausente ou pre- alterações. Não basta diagnosticar que o paciente apresente aspirações du-
sente e, se presente, ser classificada com relação ao grau de gravidade, rante a deglutição, mas, sim, compreender se o fator causal é a presença de
como discreta, moderada ou intensa. redução da elevação e anteriorização da laringe, ou, por exemplo, alteração
Em relação à fase faríngea, deve ser descrito o local que a mesma inicia, do fechamento glótico e/ou alterações sensoriais.
como: base da língua, valécula, epiglote, prega ariepiglótica, aritenoides, Alguns protocolos de avaliação e diagnóstico foram testados e publica-
recessos piriformes e/ou transição faringoesofágica. O fechamento do es- dos com a intenção de padronização. Obviamente todos os protocolos têm
fíncter velofaríngeo deve ser observado na visão lateral e caracterizado seus pontos fortes e fracos, o que não tira o valor e a contribuição dos mes-
como presente, reduzido ou ausente. No caso da presença de alteração mos. A dificuldade na padronização é fundamentada principalmente na ex-
tem que ser observada a presença ou não do regurgitamento para a naso- periência de cada Instituição que possui demandas de diferentes patologi-
faringe e/ou o refluxo nasal. A elevação e a anteriorização do complexo hio- as. Em nossa rotina utilizamos a escala de gravidade da disfagia traduzida e
laríngeo devem ser analisadas, como adequada, reduzida ou ausente e, adaptada de O'neil et al.37 (Quadro 4-1) e a escala de penetração e de aspi-
quando alteradas, devem ser caracterizadas em discreta, moderada ou gra- ração traduzida e adaptada de Rosenbek et al.43 (Quadro 4-2) para julgar
ve. Da mesma forma, se houver estases na orofaringe e/ou hipofaringe, as os referidos eventos.
mesmas devem ser classificadas conforme o grau de gravidade em discreta, Nos casos de pacientes que foram submetidos à laringectomia total, as
moderada ou intensa. escalas citadas são inadequadas, e para este grupo de pacientes, utilizamos
Na presença de penetrações e/ou aspirações, é necessário descrever se a escala criada por Zerbinatti56 (Quadro 4-3).
esses eventos foram silenciosos ou audíveis e se houve outra correlação clí-
nica, como desconforto respiratório e/ou sudorese. Os mesmos podem ser
Nível
-
Quadro 4·1. hlCnln du wnvltloclu do tllulmr!n
1'lIJIt IIÇf1(J
Descrição
C:nlllUllrltl Pontuoçilo Dosoriçilo
Disfagia intensa: via oral suspensa. O paciente pode apresentar estase
1'/111111rOçAo
- 1 Contraste não entra em via aérea
1 grave na faringe, sendo incapaz de clarear; estase ou perda do bolo grave
na fase oral, sendo incapaz de limpar; aspiração silente com duas ou 2 Contraste entra até acima das pregas vocais, sem
mais consistências com tosse voluntária funcional ou incapaz de deglutir resíduo
Disfagia moderada/intensa: máxima assistência ou uso de estratégias com 3 Contraste permanece acima das pregas vocais, visível
via oral parcial. O paciente pode apresentar: estas e grave na faringe, resíduo
sendo incapaz de clarear ou sendo necessários vários comandos; estase 4 Contraste atinge as pregas vocais, sem resíduo
2
grave ou perda do bolo na fase oral, sendo incapaz de limpar ou sendo
necessários vários comandos; aspiração com duas ou mais 5 Contraste atinge as pregas vocais, resíduo visível
consistências, sem reflexo de tosse voluntária fraca; ou aspiração de Anplracão
uma ou mais consistências 6 Contraste passa o nível glótico, mas não há resíduos
no nível subglótico
Disfagia moderada: total assistência, supervisão ou estratégias, restrição a 7 Contraste passa o nível glótico com resíduo no
duas ou mais consistências. Estase moderada na faringe, ciareada por subglótico apesar de o paciente responder
orientação; estase moderada na cavidade oral, limpa por orientação,
3 penetração ao nível das pregas vocais sem tosse com duas ou mais 8 Contraste passa a glote com resíduo na subglote,
consistências; ou aspiração com duas consistências com reflexo de mas o paciente não responde
tosse fraco ou ausente ou aspiração com uma consistência sem tosse
na penetração
• Alteração da elevação e anteriorização laríngea. prematura e estases na cavidade oral, orofaringe e hipofaringe.
• Estases na cavidade oral, orofaringe e/ou hipofaringe. Em estudo recente, realizado por Webster et al./50 a videofluoroscopia
da deglutição foi utilizada para avaliar pacientes submetidos à laringecto-
• Episódios de penetração e aspiração que podem ocorrer antes, durante
e/ou após a deglutição. mia horizontal supracricóidea (LHSC), os autores observaram alteração do
contato de base de língua com parede posterior de faringe, alteração da
Archontaki et aI. 2 descreveram os achados videofluoroscópicos após mobilidade faríngea, alteração da abertura da transição faringoesofágica,
reconstrução com retalho livre microvascular em variadas cirurgias de cân- estases na valécula e recessos piriformes, aspiração, sendo que a aspiração
cer de cavidade oral em que foram observadas alterações compatíveis com a silenciosa se mostrou presente na maioria dos indivíduos mesmo após 12
nossa observação, porém com redução da gravidade das alterações de meses do procedimento cirúrgico.
mobilidade da língua reconstruída, grau das estases e, consequentemente, A experiência do nosso serviço revelou, além das alterações encontra-
redução da frequência de penetrações e aspirações.
das nesse estudo, alteração da formação e da ejeção do bolo e estases na
1
.IV!c/tldl um! qll(1 PUdl'tn SUl jusllfic.ücJd~ lé.ltnUé'il1IH'/oI', '.I'I/IIl'/"" .tclvinc.ltl" trmnmentc não cirúrgico (radloteráplco/radloqulmloterápico)
radiolerapia pós-operatória. Observamos, 'lambéltl, /l'L",lI11~d do aspiral
!I'I H Il\ncia dentro do tratamento do câncer de cabeça e pescoço é a utiliza-
ção em 45,5% dos pacientes avaliados, porém 54,5% dos pacientes apr
~dll (/0 protocolos de preservação de órgãos. Vários são os trabalhos na lite-
sentavam deglutição normal ou dentro dos limites funcionais.41 Nossos d ..••
I'nlllll1, caracterizando a deglutição nos pacientes submetidos ao tratamen-
dos corroboram o estudo anterior e os achados de Simonel/i et a/.,45 qu
I11 , .rdioterépico/radioquirruoterápico em opção ao não tratamento cirúrgi-
analisaram um grupo de pacientes submetidos à LHSC com grupo controle.
ru.' I, 1(" 1/-20,35,40
Porém, os achados da videofluoroscopia da deglutição mostram que ItI'le faríngea - diversidade no local do início da fase faríngea (100%), redu-
podem ocorrer alterações em todas as fases da deglutição; essas alterações ~"o na elevação e anteriorização laríngea (65%), estases na hipofaringe
apresentam menor ou maior impacto de acordo com a extensão do proce- (BO%), penetrações (25%), penetrações seguidas de aspirações (40%).
dimento cirúrgico e com o tipo de reconstrução realizada. bservamos que 35% das aspirações foram silenciosas. Esses achados são
justificados pela presença de edema, fibrose e rigidez do sistema hiolarín-
Dados recentes do nosso serviço mostram que 64,3% dos pacientes Ueo após a radioterapia, associados à mucosite e xerostomia, que alteram a
submetidos a laringectomias totais/faringolaringectomias apresentavam al-
mobilidade dos órgãos fonoarticulatórios nas fases preparatória e oral e,
gum grau de disfagia. As alterações mais frequentemente encontradas fo- onsequentemente, acarretam alterações nas fases subsequentes.é?
ram: alteração da formação do bolo, aumento do tempo de trânsito oral, al-
Murphy & Gilbert-" referem que a aspiração silenciosa é frequente em paci-
teração do contato de base de língua com parede posterior de faringe/neo-
ntes irradiados, e que o reflexo de tosse não é efetivo ou está ausente em,
faringe, estases em orofaringe e hipofaringe, alteração da mobilidade de fa-
pelo menos, metade dos pacientes.
ringe/neofaringe, aumento do tempo de trânsito faríngeo e outras altera-
Observamos, entretanto, que a gravidade das alterações encontradas
ções anatômicas e funcionais menos presentes, mas que podem também
ocorrer42 na videofluoroscopia da deglutição tem correlação tanto com o sítio de le-
são, quanto com o tamanho do tumor. Frowen et al.18 realizaram estudo
A videofluoroscopia da deglutição também contribui para a observação com pacientes de câncer de cabeça e pescoço tratados por radioquimiote-
de algumas alterações anatômicas: bolsa na parede anterior da faringe, rapia e observaram que aqueles que apresentavam sítio de lesão na hipofa-
barra cricofaríngea, estenose na anastomose e fístulas, que podem ou não ringe apresentaram resultados funcionais de deglutição piores do que
ocasionar disfunções da deglutição, com ou sem impacto no dia a dia do aqueles que apresentavam sítio de lesão na orofaringe e laringe. Com rela-
42
paciente. A avaliação da presença de fistulas por meio da videofluorosco- ção ao tamanho do tumor, os pacientes T4 foram os que apresentaram pio-
pia da deglutição, no pÓs-operatório recente, com o objetivo de reintrodu- res resultados funcionais.
ção de dieta via oral já foi realizada por diversos autores; sua avaliação é Sem dúvida alguma, a videofluoroscopia da deglutição contribui de for-
mais bem realizada na visão anteroposterior. 11,24 ma significativa para caracterização das alterações da deglutição após o tra-
tamento oncológico, viabilizando, dessa forma, uma melhor contribuição
para o planejamento terapêutico das disfagias.
- ..
- -~
----- -
. Líquido Líquido-
l.stase na parede posterior da faringe
Visão lateral Penetração após deglutição
(mL) pastoso Pastoso Sólido
Fase preparatória Aspiração após deglutição
5 20 5 20 5 5 5
Aspiração silente
Incontinência oral
Estase nas aritenoides
Atraso no início da deglutição oral
Estase na transição faringoesofágica
Alteração na formação do bolo
Estase nos recessos piriformes
Perda prematura do bolo
Penetração após deglutição
Penetração antes da deglutição
Aspiração após deglutição
Aspiração antes da deglutição
Aspiração silente
Aspiração saliente
Fase oral Deglutição funcional
INTRODUÇÃO
/\ função da deglutição parece simples por ser um ato realizado desde o
período intraútero, mas, para que seja eficiente, envolve ações bastante
omplexas. Para tanto, depende da integridade das estruturas envolvidas
nesse processo e do funcionamento normal do sistema nervoso central e
periférico. Do mesmo modo, a avaliação da deglutição também abrange
uma complexidade em sua análise estrutural e funcional
A criação de um protocolo pode auxiliar o profissional nessa tarefa, pois
possibilita a comparação intra e intersujeitos, bem como a compreensão do
comportamento de grupos semelhantes e da inter-relação entre eles. Além
disso, padroniza a execução do exame, fazendo com que os achados e a
documentação sejam feitos de modo semelhante, facilitando a pesquisa ci-
entífica e a busca da sensibilidade e especificidade do teste aplicado.
AVALIAÇÃO NASOFIBROSCÓPICA DA DEGlUTIÇÃO I )('''COÇO no momento do exame é muito interessante em função da riqueza
11.1'1
discussões e da tomada de decisão em equipe. Além disso, o terapeuta
A avaliação clínica da deglutição pode determinar a conduta alimentar já de
I)()( ierá visualizar as imagens da deglutição do paciente e proceder com algu-
imediato, quando realizada por profissional especializado. No entanto, há
111+1
manobra de proteção de vias aéreas com maior acertação.
casos em que a nasofibroscopia é essencial para:
m 1988, Langmore publicou a primeira descrição do uso do nasofi-
• Verificar a possibilidade de indicação da válvula de fala. lnoscópio para avaliar o desempenho da deglutição. Definida como avalia-
~.10 funcional da deglutição por fibronasofaringolaringoscopia, é também
• Avaliar presença de estase alimentar ou microaspiração _ sinais não audí- ( onhecida como videoendoscopia da deglutição ou avaliação nasofibroscó-
veis à ausculta cervical.
pica da deglutição. Este método de avaliação segue os mesmo princípios de
realização da nasofibroscopia normal, porém é acrescida a administração
Quadro 5-1. Vantagens e desvantage de alimentos em diferentes consistências para se observar o desempenho
d - 1-' ~~~""""""''-'v UIJGI LU~ t; recnaoos
Vantagens das estruturas durante a deglutição.
Desvantagens
Abertos Existem disponíveis atualmente outros métodos para investigação das
• Há espaço para descrições
mais amplas • Depende da experiência do
profissional Iterações da deglutição, porém há algumas vantagens em se empregar
• Pode ser feita uma análise mais
individualizada • Pode não fornecer os mesmos ste:
dados em todas as avaliações,
dificultando a inter-relação • Pode ser realizado em pacientes ambulatoriais e restritos ao leito.
entre os grupos
• Aplicação pode ser mais • É capacitado para ser feito por períodos prolongados, como a observação
demorada de alimentação em maior volume.
Fechados
• Mesmos dados em todos os
Protocolos • Depende de um treinamento • Possibilidade de repetição do exame, com menor risco, pois não emprega
específico da equipe ou
• Aplicação mais rápida e objetiva profissional material radioativo, como o videodeglutograma, podendo ser realizado
• Possibilidade de comparação
• Tende a ser genérico, embora repetidamente para reavaliações frequentes.
intrassujeitos, nos períodos pré-
e pós-tratamento ou possa ser criado por grupo
• Pode limitar o raciocínio clínico, • Executado em posição semelhante a que ocorre durante a alimentação .
reabilitação
em especial para profissionais • Permite visualizar as estruturas do trato deglutofonatório, inclusive obser-
• Favorece a análise do grupo e a
com pouca experiência
comparação entre eles ou vando suas outras funções além da deglutição.
sujeitos de um mesmo grupo
• Maior facilidade para se realizar • Identifica a presença de secreções e de aspiração salivar, quantidade e
pesquisa científica local exato em que se encontra, sendo possível determinar o grau de risco
para a aspiração desse conteúdo.
/I to IIltlis ~ilnpl
de luz), sem a n
(UIiI ""',u I 11)/ O!lW
1~lt'Qll~ulc.l\-1 Si-llivclC.01 vldade oral ou oode- d-
,lllllllll1 hospitela:
ltillliJII, u pequena quantidade de líqutdo.
P/rl todas essas provas deve-se observar a movimentação do palato
EXAME 1111111' (I das paredes laterais da nasofaringe, constatando a direção e a am-
111111H 1(\do movimento e a intensidade de sua força de contração. Os movi-
Para a realização deste exame, o paciente deve ser posicionado sentado em
1I11~/lI()s do palato podem ter três direções distintas:
uma cadeira de exame otorrinolaringológico, com discreta flexão do tronco,
simulando uma alimentação normal. Os pacientes cadeirantes com déficit Anteroposterior ou coronal: quando há o predomínio da movimen-
de deambulação podem ser avaliados diretamente na cadeira de rodas, com ração do palato, encontrando a parede posterior da nasofaringe.
postura semelhante aos pacientes examinados na cadeira habitual. Aqueles Laterolateral ou sagital: quando há o predomínio de movimentação
pacientes restritos ao leito hospitalar devem ser examinados com elevação das paredes laterais da nasofaringe.
da cabeceira de cama ou da maca de, no mínimo, 45 graus. l, Circular: ocorre quando a contração das paredes laterais da nasofarin-
Neste exame, não devem ser usados medicamentos tópicos vasocons- ge se dá em intensidade e extensão semelhantes à contração antero-
tritores ou anestésicos para que não haja interferência na sensibilidade das posterior do palato. Nesse caso, observa-se um fechamento de forma-
estruturas faringolaríngeas e no desempenho da deglutição. to semelhante a um esfíncter. Em alguns pacientes, é observada, tam-
bém, a contração muscular da parede posterior da faringe, conhecida
O aparelho de nasofibroscopia é introduzido em uma das fossas nasais,
como prega de Passavant, e o fechamento é nomeado como circular
normalmente a mais ampla. Os pacientes com desvio septal, infecções e alte-
com prega de Passavant.
rações anatômicas devem ser avaliados pela fossa nasal menos acometida e
que apresente maior espaço para a passagem do aparelho. Nos casos em A movimentação do palato mole e das paredes laterais da nasofaringe
que há a presença de sonda, opta-se por introduzir o nasofibroscópio na fos- promove a separação completa entre a nasofaringe e a orofaringe. Essa
sa nasal contralateral, embora em algumas situações possa ser introduzido eparação é fundamental para que os mecanismos pressóricos relacionados
na mesma fossa nasal em que este se encontra.
om a propulsão do alimento durante a fase faríngea ocorram de maneira
Após a avaliação das fossas nasais, o nasofibroscópio deve ser posicio- eficiente. A presença de espaço ou gap entre a parede posterior da nasofa-
nado para avaliar a nasofaringe e o palato. Neste local, devem-se inicial- ringe e o palato mole, assim como a observação de borbulha de saliva ou
mente observar as estruturas de maneira estática para identificar alterações secreção, vindas da orofaringe em direção à nasofaringe, indicam que a
na anatomia e presença de saliva e secreções. Após esta fase, deve ser ob- separação entre as duas regiões está incompleta. Essa constatação pode
servada a movimentação do palato mole durante a deglutição, sopro e fo- indicar a redução pressórica com consequente piora no desempenho da
nação. O teste é realizado nessas tarefas a fim de verificar a diferença de fase faríngea da deglutição, o que propicia acúmulo de alimentos ou saliva
desempenho com relação à extensão do movimento e à força empregada em regiões do trato deglutofonatório.
para tal.
Em caso de observação de gap devem-se registrar o local onde ocorre e
Para a análise da sustentação da elevação do palato durante fonação, seu tamanho aproximado. Gap menor tende a melhorar com fonoterapia,
são empregadas as vogais consideradas mais orais do português li! e lu/, e enquanto gap maior pode não apresentar melhora com a reabilitação, sen-
as consoantes mais oc/usivas Isl e Izl, seguidas de frases foneticamente do necessário ouso de próteses obturadoras de palato ou ainda correção
balanceadas. Em seguida, pede-se ao paciente para assoprar de modo rápi- cirúrgica. As próteses palatais são muito utilizadas no pós- operatório de pa-
do e forte e depois de modo contínuo. Durante a deglutição, pode-se solici- cientes submetidos a cirurgias com ressecção de tumor em região de palato
duro, palato mole ou ambos. Em caso de manutenção do gap mesmo com
\\lqul\ podt\ variar. porém, com o Lempo, o examinador desenvolve sua téc-
UII equipe podo 11Wllllhllilllll (l f'XIIIIlU o "li
usar a mesma pressão durante o teste.
mentar o obturador na porção da prótese que não ~l\ npltlXlitkl das par
des da faringe, aumentando o contato da faringe com o obturador. I\lunlmente, a forma mais precisa de realizar este procedimento é feita
III1I1 (lquipamento que utiliza pulsos de ar para o estímulo. A pressão pode
Posteriormente, o nasofibroscópio deve ser posicionado inferiormente,
I I lilibrada e permanece constante durante toda a avaliação, entretanto o
em direção à orofaringe e à laringofaringe. Nesse momento, a visão estáti-
ca das estruturas dessas regiões permite identificar variações normais e pa- 11',10 elevado limita seu uso.
tológicas da anatomia. A dimensão laterolateral da oro e laringofaringe, a INminada esta fase, passamos a avaliar a deglutição. O paciente é tes-
profundidade das valéculas linguais e dos recessos piriformes, a altura e ex- IlIdo de forma mais semelhante possível às suas refeições habituais. São
tensão das pregas ariepiglóticas são características anatômicas que podem 1I".lddos alimentos em temperatura ambiente e nas consistências pastosa,
indicar uma propensão maior ou menor de alguns pacientes à aspiração liquida, líquida espessada e sólida, acrescidas de 5 gotas de corante alimen-
traqueal. Após laringectomias parciais, vertical ou horizontal, observa-se a 1111 em, aproximadamente 30 mL de pastoso e 80 mL de líquido. Embora
reconstrução realizada. l'xlsLam cmantes em diversas cores, optamos pela cor azul por se destacar
Deve ser observada, também, a presença de saliva, secreções e restos IH) alimento e não permitir a confusão com secreções corporais.
alimentares, assim como o grau e os locais de acúmulo. Normalmente, os A primeira consistência a ser administrada durante o exame é a pasto-
locais mais frequentemente acometidos são as valéculas linguais e os reces- por possuir maior viscosidade,
1111, o que favorece a ativação de um maior
sos piriformes, embora as paredes laterais e posteriores da laringofaringe,
Ilúmero de mecanorreceptores na língua, aumentando a propriocepção ea
região retrocricóidea, glote, região infraglótica e traqueia também possam
torça de contração muscular, reduzindo riscos de aspiração.
conter esses materiais.
No protocolo utilizado no Ambulatório de Disfagia da Santa Casa de
Após a análise estática das estruturas, segue-se a avaliação dinâmica.
_o Paulo (Anexo 1), utiliza-se um creme de frutas industrializado, com
Nesta fase investigam-se a mobilidade e a coaptação das pregas vocais ou da
reconstrução laríngea, além da aproximação entre as estruturas remanescen- onsistência cremosa e homogênea. Inicialmente é administrado volume
tes após a laringectomia parcial, solicitando ao paciente que vocalize as vo- onfortável quando o paciente é capaz de colocar na colher o volume que
gais /el e li/. Pode-se também avaliar a capacidade de proteção da via respi- habitualmente ele utiliza em sua refeição. Isso também pode ser feito pelo
ratória inferior, solicitando ao paciente que pigarreie ou tussa. É importante cuidador que oferta o alimento em casa. Caso essa situação não seja possí-
observar a presença de lesões, a capacidade de movimentação das pregas vel, são utilizados somente volumes controlados de 5 mL e 10 mL medidos
vocais ou estruturas remanescentes e a fenda respiratória. Em caso de imobi- em uma seringa e colocados em uma colher de sopa. Na primeira adminis-
lidade observável em uma ou em ambas as pregas vocais, falta de coaptação tração, o paciente é orientado a movimentar o alimento livremente dentro
das estruturas remanescentes após a reconstrução, determinar o lado lesa- da cavidade oral e deglutir em seu tempo usual. Porém, com os volumes
do, a presença de atrofia associada, mobilidade da(s) aritenoide(s), alteração controlados, ele só deverá fazê-Io após ordem do examinador. Esse tempo
na mobilidade da onda de mucosa ou desnivelamento. Cada uma dessas ca-
sem deglutir permite avaliar a capacidade de contenção do alimento dentro
racterísticas determinará uma ação imediata do profissional, incluindo a in-
da cavidade oral e visualizar possíveis escapes do alimento.
serção de manobras compensatórias de voz e/ou deglutição.
A próxima fase consiste na administração de líquidos. Primeiro o paci-
A seguir, realiza-se o teste da sensibilidade das estruturas laríngeas. Co-
ente é solicitado a ·tomar um líquido em volume confortável por meio de
mumente, esse teste é feito com o toque delicado da extremidade do naso-
um medidor graduado. O paciente é orientado a segurar o dosador e de-
fibroscópio na epiglote, nas pregas ariepiglóticas, aritenoides, supraglote e
glutir livremente. Após a deglutição, deve-se medir a quantidade ingerida.
pregas vocais. A reação obtida varia desde a leve adução das pregas vocais
Semelhante ao procedimento utilizado com o alimento pastoso, a degluti-
até a contração de toda laringe e faringe. Está claro que a intensidade do
1111111 AVALIAÇÃO FUNCIONAL DA DEGlUTIÇÃO
11,1(1111110: Sólido O não avaliado
__ -&;
liquido I 1não avaliado
{>ootoso
IDENTIFICAÇÃO -=-
I I creme de frutas --
==-
11colher 11seringa
Nome: Idade: DN: L--.l_ --~
Volume:
Volume:
Volume:
Tipo de cirurgia: _
li' di'
-- 1I < 3 0>3 0<3 u>3 0<3 0>3
Descrição cirúrgica:
111\lil IllçOOS Escape posterior
Escape posterior
Escape posterior osim __
~ osim __ O não Dsim __ O não
11não oapós __
Oapós __ O antes
oapós __ O antes
11 antes
Radioterapia: O com deglutição __
O com deglutição __
O não O sim O pré-operatória O pós-operatória nº de aplicações _ nº RADS _cGy O com deglutição __ O sem deglutição __
O sem deglutição __
O sem deglutição __
Quimioterapia: Estase/grau:
Estase/grau: OVl
O não O sim O pré-operatória O pós-operatória nº de ciclos: Estase/grau: OVI O não osim
oVl O não osim
O não osim oPPF ORP_URC
Traqueostomia: oRC O PPF ORP_ORC
O PPF ORP
O não O sim O cânula metálica nº _ O cânula plástica com válvula de fala nQ Penetração
Penetração
Penetração O não osim grau_
Prótese vocal: O não Osim grau_
O não osim grau_ O antes O durante
O antes O durante
O não O sim O colocação primária O colocação secundária O antes O durante O após
o após
Alimentação atual: O via oral O SNE O Gastrostomia O após Volume
Volume
Volume
Emagrecimento: O não O sim _ kg _ meses Peso atual: _ kg Altura: Aspiração
Aspiração
Aspiração O não O sim grau_
IMC:_ O não osim grau_
O não osim grau_ O antes O durante
Pneumonias: O durante O antes O durante
O antes O após
O após
Médico responsável: O após Volume
Volume
Volume
Avaliadores: osim O não
osim O não
Manobras [1 sim O não __ flexão cervical _ tosse
tosse __ flexão cervical __ tosse
-- flexão cervical -- __ rotação D _ rotação E
__ rotação D __ rotação E
__ rotação D __ rotação E _ degl. múlt. _ degl. dura
Qualidade vocal! __ degl. múlt. _ degl. dura
__ degl. múlt. __ degl. dura
grau de alteração VI == valécula; PPF == parede posterior da faringe; RP == recesso piriforme; RC == retrocricoide;
Voz
O não avaliado O adequada O aumentada I) == direita; E == esquerda.
Loudness
O reduzida
OBSERVAÇÕES: ------------
O adequada O eleva/não sustenta
Mobilidade
O paralisia D/E O paresia D/E
EVF O completo O incompleto O carona I
Fechamento
O sagital O circular 'protocolo utilizado na Santa Casa de São Paulo.
GAP O presente O ausente
qic1.
Ouadro 5-2. Escala de penetração/aspiração No entanto, o profissional deve estar atento para não ficar limitado às
Categoria Pontuação Descrição I)ossibilidades que um protocolo pode oferecer. O raciocínio clínico sempre
1 Contraste entra em via aérea
(leve acompanhar as discussões interdisciplinares, de modo a promover o
o
'<I: 2 Contraste entra até acima das pregas vocais, sem resíduo bem-estar e a qualidade de vida do paciente.
c..»
<I:
cc Contraste permanece acima das pregas vocais, visível
I- 3
w resíduo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
z Almeida ST. Detecção dos sons da deglutição através da ausculta cervical. In: Jacob JS, Levi DS,
w 4 Contraste atinge as pregas vocais, sem resíduo
o.
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5 Contraste atinge as pregas vocais, visível resíduo Horr C, Hie1scher-Fastabend M, Lücking A. Reliability and validity of cervical auscultation.
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I l'ibll i\'1l0Hda equipe da EMTN.
169
LIDADE DE VIDA EM DISFAGIA - SWAL-QOL
A disfaqie pode trazer limitações 'IUI)( lon, li', I (\I,H 1()lltldd
XO 1)
tação, hidratação e com a deficiência nutrldonul Iltll iorado por Mchorney et a/., 19,20 trata-se de uma ferramenta importante
vida em vários aspectos: emocionais, físicos e sociais.3,~), 1~,20 I" 1\ ti monitorar a eficácia da reabilitação do ponto de vista do paciente. É,
É fundamental conhecermos o verdadeiro impacto das alterações vi I,\lnbóm, sensível para diferenciar a deglutição de indivíduos normais de
venciadas no momento da alimentação, para, dessa forma, direcionar 01111 I h \I iontes disfágicos, independentemente da etiologia, e para diferenciar o
tamento e o empenho dos profissionais de saúde para os aspectos que COII
\1\' \u das alterações da deglutição.
tribuem para melhor reabilitação das disfaqias.l-" Constitui-se de 44 questões que avaliam onze domínios: deglutição
O impacto da disfagia nas funções sociais e psíquicas não deve ser SU 1\)\110 um fardo, desejo de se alimentar, duração da alimentação, frequên-
bestimado, como descreve um estudo multicêntrico europeu, que identi'1I I ItI de sintomas, seleção de alimentos, comunicação, medo de se alimentar,
cou que 61 % dos pacientes disfágicos acreditavam inicialmente que 5011 "tll'jde mental, social, sono e fadiga. O paciente responde sobre a frequên-
quadro clínico não poderia ser tratado, e 41 % referiram sintoma de ansi 11,\ com que ocorre cada pergunta de cada domínio (sempre, muitas vezes,
dade e pânico durante as refeições. Dessa forma, há um impacto na quali illqumas vezes, um pouco ou nunca). A pontuação varia de O a 100, e
dade de vida que pode ser consequência da disfagia e que, muitas vezes, quanto mais baixa a pontuação, pior a qualidade de vida relacionada com a
subdiagnosticado pelos profissionais de saúde em diversas doenças, dificul dcglutição. A pontuação do questionário está discriminada no Anexo 2.
tando o esclarecimento ao paciente sobre seu quadro e limitando a procur O questionário ainda conta com quatro perguntas complementares
pelo tratamento." que auxiliam tanto o direcionamento clínico, como serve de comparativo
Há inúmeras doenças que podem apresentar a disfagia como quadro intre a análise dos domínios e as variáveis clínicas: presença ou não de via
associado. Apesar disso, os questionários para cada enfermidade (doen- alternativa da alimentacão, consistência do alimento e dos liquidificados e
ça-específicos) não enfatizam as alterações de deglutição ou são breves, ge-
uma autoavaliacão sobre saúde geral.
neralistas e não avaliam o real impacto da alteração na vida do paciente. Atualmente, seis estudos utilizaram o 5WAL-QOL em diferentes popula-
Até o momento, a literatura oferece alguns questionários relacionados ões. Genden et al.11 compararam dados funcionais como mastigação, nasa-
com a disfagia: o "Deglutition Handicap Index",32 questionário francês, e o lidade e inteligibilidade de fala com o 5WAL-QOL após maxilectomia em qua-
americano, "Dysphagia Handicap índex"29 propõem-se a avaliar a desvanta- tro pacientes, utilizando obturador de palato, e em quatro pacientes, que re-
gem que o paciente com disfagia apresenta para se alimentar, porém ne- alizaram reconstrução com retalho livre (osso vascularizado). Os pacientes
nhum destes foi validado para a língua portuguesa. Existem dois questioná- utilizando obturador de palato apresentaram piores resultados funcionais e
rios validados na língua portuguesa brasileira que avaliam de forma especí- 18
piores escores de qualidade de vida. O estudo de Lovell et al. demonstrou
fica a qualidade de vida em disfagia: o Qua/ity of Life in Swa//owing Disor- que pacientes tratados por carcinoma de nasofaringe apresentaram maior
ders- -SWAL-QOL (Qualidade de vida em disfagia) e o The M.O. Anderson impacto nos domínios de duração da alimentação e seleção do alimento.
Oysphagia Inventory - MOAOI (Questionário de Disfagia M.D. Anderson). Roe et af.26 observaram que pacientes em tratamento paliativo para tumores
Há também o Qua/ity of Care and Patient Satisfation-SWAL-CARE (Satisfa- em outras localidades, que não cabeça e pescoço, apresentaram importante
ção do Paciente e Qualidade do Cuidado no Tratamento da Disfagia), outro impacto na qualidade de vida, principalmente nos domínios de frequência de
questionário de autoavaliação que tem como objetivo identificar o grau de sintomas, desejo de se alimentar e fadiga. Bandeira et al.,2 analisando a quali-
satisfação do paciente frente ao tratamento da disfagia. Os três questioná- dade de vida relacionada com a deglutição após tratamento para câncer de
rios estão descritos a seguir. língua em 29 pacientes, identificaram que os domínios de deglutição como
um fardo, desejo de se alimentar, frequência dos sintomas e seleção dos ali-
ANf)(O 1
,
Oualidade do Vida em Olsfnulll :1 Nu l'lltllno mOn, qlllllll JlIII I!li liI:ldlldll ql/U eproeoruou ceda um dQSlQSproblemas
SWAI.rlOL (J()1T10 I asulltldo do flOIl [lI nhlumn do doglutiçao 7
Nome: ~
1)(110: -.1--/_
Frequen- Algumas Dificil-
Este questionário foi feito para saber como seu problema de doglutição tem afetado
Sempre temente vezes mente Nunca
sua qualidade de vida no dia a dia. Por favor, tenha atenção para ler e responder cado
questão. Algumas questões podem parecer iguais às outras, mas cada uma é Imlse 1 2 3 4 5
diferente.
1 lIuosgo quando me
Exemplo de como as questões irão se apresentar neste protocolo 1 2 3 4 5
nlunsnto
1. No último mês, quantas vezes você sentiu os sintomas a seguir:
1 11gasgocom líquidos 1 2 3 4 5
Sempre
Muitas Algumas Um
Apresento saliva grossa
ou secreção
1 2 3
I.~ 4 5
vezes vezes pouco Nunca
Sentiu-se VOmito 1 2 3 4 5
fraco 1 2 3 4 5 I njoo 1 2 3 4 5
NOTA IMPORTANTE:Entendemos que você pode ter vários problemas físicos. Algumas \)i'ficuldades na
1 2 3 4 5
vezes é difícil separá-Iosdas dificuldades de deglutição, mas esperamos que você dê o seu mastigação
melhor parase concentrar somente nas dificuldades de deglutição. Obrigadapelo seu I xcesso de saliva ou
esforço em completar este questionário. 1 2 3 4 5
secreção
1. A seguir estão algumas questões gerais que podem ser mencionadas pelas
pessoas com distúrbios de deglutição No último mês, o quanto as questões a Pigarros 1 2 3 4 5
seguir têm sido verdadeiras para você? (circular um número em cada linha) A comida para na garganta 1 2 3 4 5
A comida para na boca 1 2 3 4 5
Muitas Algumas Um
Sempre vezes vezes Bebida ou comida
pouco Nunca 1 2 3 4 5
escorrem da boca
Lidar com meu problema de
deglutição é muito difícil 1 2 3 4 Bebida ou comida saem
5 1 2 3 4 5
pelo nariz
Meu problema de deglutição
é a maior perturbação de Tosse para retirar o líquido
1 2 3 4
minha vida 5 ou a comida para fora da
1 2 3 4 5
boca quando estes estão
parados
2. A seguir estão alguns aspectos sobre a alimentação do dia a dia que podem ser
mencionados pelas pessoas com distúrbios de deglutição. No último mês, o
4. Responda algumas perguntas sobre como os problemas de deglutição têm
quanto as questões a seguir têm sido verdadeiras para você?
afetado sua alimentação no último mês
As pessoas têm
dificuldade em me
entender
Tem sido difícil me
1 1 1 2 13 14 15
I iolxc de sair para
comer em virtude do
IIH3U problema de
Iloglutição
1 2 3 4 5
!
comunicar 1 1 1 2 13 14 15 Meu problema de
3 4 5
claramente tleglutição torna difícil 1 2
tor uma vida social
6. A seguir estão algumas preocupações que as pessoas com problema de Meu trabalho ou minhas
deglutição às vezes mencionam. No último mês, qual a periodicidade que ntividades de lazer 3 4 5
1 2
apresentou cada uma dessas preocupações? mudaram pelo problema
de deglutição
Quase I Frequen- I Algumas I Dificil- Programas sociais e
I
temente
2 13
vezes
14
mente
5
férias não me
satisfazem em virtude
do problema de
deglutição
1 2 3 4 5
Preocupo-me em ter
1 12 13 14 I 5 Meu papel com família e
pneumonia
amigos têm mudado por 2 3 4 5
1
Tenho medo de me causa do problema de
1 2 13 14 15
engasgar com líquidos deglutição
Nunca sei quando vou
1 12 3 14 15 9. No último mês, quantas vezes você sentiu algum destes sintomas físicos?
engasgar
Muitas Algumas Um
7. No último mês, quais afirmativas a seguir têm sido verdadeiras em razão de seu vezes pouco Nunca
Sempre vezes
problema de deglutição?
Tem problemas para dormir 3 4 5
1 2
I
Quase Muitas Algumas Um a noite toda?
2 3 4 5
sempre vezes vezes pouco Nunca Tem problema para dormir? 1
I~
Vômito 25 50 75
comunicar claramente
Enjoo 1 25 1 50 1 75 ~ 100
Dificuldades na Domínio do medo de se alimentar
mastigação
10 I 25 50 I 75 I 100
6. A seguir estão algumas preocupações que as pessoas com problema de
Excesso de saliva ou deglutição às vezes mencionam. No último mês, qual a periodicidade que cada
secreção
10 I 25 50 I 75 I 100
uma dessas preocupações apresentou?
Pigarros I O I 25 50 75 I 100 Dificil-
Ouase Frequen- Algumas
A comida para na vezes mente Nunca
10 I 25 50 75 I 100 sempre temente
garganta
50 75 100
A comida para na boca 10 I 25 50 I 75 I 100 Tenho medo de engasgar O 25
quando me alimento )
Bebida ou comida
escorrem da boca
10 I 25 50 I 75 I 100
Preocupo-me em ter 50 75 100
O 25
Bebida ou comida saem pneumonia
pelo nariz
10 I 25 50 I 75 I 100
50 75 100
Tenho medo de me O 25
Tosse para retirar o líquido engasgar com líquidos
ou a comida para fora da 50 75 100
10 I 25 I 50 I 75 I 100 Saber quando vou O 25
boca quando estes estão engasgar é muito difícil
parados
(Continua)
1t1l01T'l~19IIDlcos?
Domínio da saúde monta I
ILHI11\11f1Vil/Ilf' VIlIlO 11111\\\LI(\IUUI\1 tJ'"
7. No último mês, quanto as afirmativ Algumas Um
Muitas Nunca
pouco
seu problema de deglutição?
Sempre vezes vezes
75 100
\
Ouase Muitas Algumas Um 25 50
)\)Iemas para O
sempre vezes vezes pouco
Ii noite toda?
100
t
ill,
50 75 I'I~
Meu problema de 25
deglutição me deprime
O 25 50 75 I II)(} oblema para O 1111~
I 11'
"::1
100
\
50 75
Meu problema de O 25
10 I 25 I 50 I 75 I 100 ue-se cansado? 75 100
deglutição me frustra 25 50
Fico impaciente em lidar
11 te-se fraco?
O
I 25 ,
50 75 100
1
com meu problema de 10 I 25 I 50 I 75 I 100 nte-se exausto? 10
deglutição
ento
Domínio do social I",'ntos apresentaram piores resultados para os pacientes com estadiam
8. Pense em sua vida social no último mês. Como poderia concordar ou discordar
das afirmativas a seguir:
,1V,mçadoe para aqueles submetidos à radioterapia. Queija" realizou avalia·
l,\O videofluoroscópica da deglutição e correlaciono
u os resultados com o
Concordo Discordo WAL _ QOL em 15 pacientes submetidos à laringectomia total. e em 13
Concordo parcial- Não parcial- Discordo ut
totalmente mente sei mente totalmente ',ubmetidos à faringolaringectomia total, observou que as queixas de degl >
Deixo de sair para _o apresentaram associação ao questionário nos dominios do fardo e saúde
comer por causa de mental para os pacientes com disfagia de grau moderado/grave. Greenblatt
O 25 50 75 100
meu problema de
deglutição t ai, 12 avaliando 116 pacientes pré- e após a realização de tireoidectomia,
Meu problema de observaram uma melhora significativa da qualidade de vida relacionada com
deglutição torna difícil O 25 50 75 100
ter uma vida social a deglutição 1 ano após a cirurgia.
Meu trabalho ou
minhas atividades de SATISFAÇÃO DO PACIENTE E QUALIDADE DO CUIDADO
O 25 50 75 100 NO TRATAMENTO DA DlSFAGIA - SWAL-CARE (ANEXO 3)
lazer mudaram pelo
problema de deglutição
O 5wal- , questionário elaborado também por Mchorney et al.,19.21
Programas sociais e Care
ferias nao me I O
auxilia o paciente a expressar seu grau de satisfação com o tratamento da
25 50 75 100
satisfazem por causa do disfagia. No entanto, não se propõe a avaliar qualidade de vida, mas visa a
problema de deglutição
conhecer a qualidade dos cuidados com a deglutição e a satisfação do paci-
Meu papel com família
e amigos têm mudado I O
ente com relação às orientações recebidas em seu tratamento. Abrange
25 50 75 100
por causa do problema
de deglutição
questões com o objc tivo de cor111(,)( (Ir iI "I ,li lIi 11' (I" ir lc/lviclu
de dos cuidados com a deglutição (?~Uíl !1i1II.',lflÇ~IO com rei
ções recebidas. Engloba três domfnios: (1) inFormações clínic
POlltlluynu 8WAI.·CARE24
reflete sobre as informações sobre seu quadro clínico; (2) conselh
thlfoOfto do Paciente o Ounlldudo do Cuidado no Tratamento da Disfagia
o paciente avalia as informações recebidas do fonoaudiólogo sobr til' Data ---.1---.1 __
blema e seu tratamento (ruim, satisfatária, boa, muito boa, excall'''1 i IIumtlonário foi feito para saber como você se sente sobre os cuidados que
1111 plllfl seu problema de deglutição
maravilhosa); (3) satisfação do paciente - expressa a confiança qu
I I 'I ,li, do como as questões irão estar neste protocolo
no fonoaudiálogo e no tratamento oferecido por ele, em escala de ú"'I" i 1111 \I) você irá considerar a recomendação que recebeu sobre:
I'
~I
cia: nunca, às vezes, normalmente, sempre. A pontuação do questioii,ill
está discriminada no Anexo 4. I Ruim r~isfa- I I Muito I Excelen- I Maravi-
.
~,\
tória Boa boa te Ihosa
No Brasil, o SWAL· QOL e o SWAL ·CARE foram traduzidos e ada p I "d, I1II11111 tos que devo
cultu ralmente por Montoni e Alves" e validados por Portas et al em 11I11 2 3 4 5 6
24 I ill""'
amostra de 100 pacientes disfágicos. Em 61 % dos pacientes, a disragi" "I
decorrente do cãncer e de seu tratamento, 17% de causas neurogêniC!h I 1111 IlIfI(Ja por fazer parte deste estudo!
II 11"ioaudióloqo é o profissional de saúde que cuida do seu problema da deglutição.
para 22% de outras etiologias. A disfagia orofaríngea foi predominô"" \111 ;111 nendando como engolir de forma mais fácil e segura e observando-o enquanto
(78%). O g ra u foi considerado moderado em 41 %, e 61 % apresentaVi" 11 i 111111) Ou bebe. Ele pode utilizar um aparelho de raios X para isso. Contudo, essa
aspiração silente. IIw1t10a nunca prescreve medicamentos. Quando você responder às perguntas
IIIIIlIlle, por favor, pense nesse profissional. Pense nas recomendações que seu
1I 11ICl<ludiólogolhe fez
Oumo você considera as instruções que recebeu nas seguintes questões?
llill Guiar um número em cada linha)
(Continua)
-=
I~ -
~_-::
- .
ANIXU
Domínio satisfação do paciente
Nunca A. VOlOII
Nor",,,'.
11I01110 Sempre
Você confiou no fonoaudiólogo que PlllIlUIIVllO MDADP
tratou da sua deglutição O Ouoatlonórlo do Dlsfagla M. D. Anderson
33,3 66,6 100
O fonoaudiólogo explicou tudo Este questionário pergunta sobre sua habilidade de engolir (deglutir). Estas
sobre seu tratamento O informações irão nos auxiliar a entender como você se sente em relação à sua
33,3 66,6 100 deglutição
Seu fonoaudiólogo ficou tempo
suficiente com você O As questões que seguem foram preparadas por pessoas que têm problema com
33,3 66,6 100 sua deglutição Alguns dos itens podem ser relevantes para você
Seu fonoaudiólogo coloca suas
Por favor, leia cada questão e marque a resposta que melhor reflete sua experiência
necessidades em primeiro lugar O 33,3 66,6 na última semana
100
Minha capacidade de deglutição limita minhas atividades diárias
Exemplo:
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
Pontuação domínio das informações clínicas: 60 + 60 + 80 + 80 + 100 + 100 = 80 ( ) Discordo totalmente
6 (nº questões)
E2. Eu tenho vergonha dos meus hábitos alimentares
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
Pontuação domínio dos conselhos gerais: 80 + 80 + 80+ 100 + 100 = 88
6 (nº questões) ( ) Discordo totalmente
Fl. As pessoas têm dificuldade de cozinhar para mim
Pontuação domínio da satisfação do paciente: 60 + 60 + 80 + 80 + 100 + 100 = 83.3 ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente.
P2. É mais difícil engolir no fim do dia
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
QUESTIONÁRIO DE DISFAGIA M. D. ANDERSON _ MDADI E7. Sinto-me inseguro quando me alimento
(ANEXO 5)
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Desenvolvido por Chen et aV este é o único questionário específico para E4. Eu estou triste pelo meu problema de deglutição
avaliação dos efeitos da disfagia na qualidade de vida dos pacientes subme- ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
tidos ao tratamento do câncer de cabeça e pescoço. O MOAO/ tem como
P6. Deglutir é um grande esforço
objetivo ser uma ferramenta sensível às mudanças do processo de degluti. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
ção nos pacientes tratados do câncer de cabeça e pescoÇo e avalia como os ( ) Discordo totalmente
E5. Deixo de sair de casa por causa do meu problema de deglutição
pacientes veem os resultados da Sua função de deglutição após o tratamen-
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
to e o quanto essa alteração de deglutição afeta a Sua qualidade de vida. ( ) Discordo totalmente
Este questionário é constituído de 20 questões. sendo uma global, e as F5. Meu problema de deglutição tem me causado perda de rendimentos financeiros
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
outras, subdivididas em três domínios: emocional, funcional e físico. Sua ( ) Discordo totalmente
pontuação varia de O a 100, e quanto menor a pontuação, pior o efeito da P7. Eu levo mais tempo pra comer por causa do meu problema de deglutição
disfagia na qualidade de vida do paciente A pontuação do questionário ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
está discriminada no Anexo 6. ( ) Discordo totalmente
P3. As pessoas me perguntam: "Por que você não pode comer isto?"
No estudo inicial para elaboração do questionário, foram avaliados 100 ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
pacientes adultos com diagnóstico de câncer de cabeça e pescoÇo, a mai-
E3. Outras pessoas se irritam por causa do meu problema de deglutição
oria com localização na laringe e submetidos a tratamento combinado (ci- ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
rurgia e radioterapia e/ou qUimioterapia). Os pacientes também responde- ( ) Discordo totalmente
(Continua)
P8, Eu tenho tosse qUSlt1cJo
tO,1I0bobo, Irquidu ANEXO
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) 50'11 opi'lllln ( ) I llnDo,cl
( ) Discordo totalmente Pontuação MDADI
F3. Meus problemas de deglutição atrapalham minha vida pessoal e social Quoutlon{lrlo de Disfagia M, D, Anderson
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) questionário é composto por 20 questões, divididas em uma global, e as outras
( ) Discordo totalmente
ubdlvloidas em três doroínios: emocional (seis questões), funcional (cinco questões) e
F2. Eu me sinto à vontade para sair pra Comer com meus amigos, vizinhos e I/nlco (oito questões). Cada questão possui cinco possíveis respostas (concordo
parentes
totnlrnente, concordo, sem opinião, discordo e discordo totalmente) que são
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo pontuadas nesta ordem numa escala de 1-5. No domínio funcional, o item F2 (Eu me
( ) Discordo totalmente lnto à vontade para sair pra comer com meus amigos, vizinhos e parentes) possui
contagem inversa, sendo cinco pontos para" concordo totalmente" e um ponto para
P5. Eu limito minha alimentação por causa da minha dificuldade de deglutição
"cJiscordo totalmente" . A pontuação final de cada domínio varia de O a 100, e quanto
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo I nenor a pontuação, pior o efeito da disfagia na qualidade de vida do paciente
( ) Discordo totalmente
O valor de cada domínio é calculado separadamente, sendo a soma dos valores de
Pt Perco peso por causa do meu problema de deglutição
:ada questão dividida pelo número de questões e multiplicada por 20, tendo assim o
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo valor final de cada domínio
( ) Discordo totalmente
l-xernplo: Domínio funcional
E6. Eu tenho baixa autoestima por causa do meu problema de deglutição Fl . As pessoas têm dificuldade de cozinhar para mim
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo (x) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo totalmente
P4. Eu sinto que estou conseguindo deglutir uma grande quantidade de alimentos
Valor da questão: 1
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente F5. Meu problema de deglutição tem me causado perda de rendimentos financeiros
F4. Eu me sinto isolado por causa dos meus hábitos de alimentação ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião (x) Discordo
( ) Discordo totalmente
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente Valor da questão: 4
F3. Meus problemas de deglutição atrapalham minha vida pessoal e social
Obrigado por completar este questionário! (x) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
Valor da questão: 1
F2. Eu me sinto à vontade para sair pra comer com meus amigos, vizinhos e
parentes
ram um questionário genérico de qualidade de vida (SF-36). Quando com-
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião (x) Discordo
parado ao SWAL-QOL, o MOAO/ é específico para pacientes tratados por ( ) Discordo totalmente
câncer de cabeça e pescoÇo, sendo mais conciso e de fácil entendimento, Valor da questão: 2 (este item tem contagem inversa)
com menor sobrecarga para o paciente, o que facilita sua adesão ao mes- F4. Eu me sinto isolado por causa dos meus hábitos de alimentação
mo. Este questionário tem sido utilizado em diversos estudos, por ser sensí- (x] Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Sem opinião ( ) Discordo
( ) Discordo totalmente
vel, válido, de fácil aplicação e relacionado especificamente com a disfagia
Valor da questão: 1
em pacientes com câncer de cabeça e pescoçot?
Contagem do domínio:
O estudo de Iseli et aI., 16 realizado para avaliar os resultados funcionais Valor total domínio (9) = 1,8 x 20 = 36 (valor total do domínio funcional)
relacionados com o gerenciamento de vias aéreas, deglutição (medida atra- Total de itens domínio (5)
A questão global possui um escore que varia entre 20 (funcionalidade extremamente
vés do MOAO/) e alimentação alternativa em 54 pacientes submetidos ao baixa) e 100 (funcionalidade normal), e o escore total final do questionário (MDADI T)
tratamento de tumores primários de orofaringe e laringe, demonstrou pio- corresponde à média dos domínios multiplicada por 20.17 Segundo CHEN et al.,8 a
limitação para deglutir demonstrada pelo MDADI T varia da seguinte forma: 0-20:
res resultados no questionário para os pacientes com necessidade de ali-
limitação profunda; 21-40: limitação intensa; 41-60: limitação moderada; 61-80:
mentação alternativa, estádio avançado do tumor, tumores na laringe e limitação média; 81-100: limitação mínima
complicações clínlcas (edema de vlas é.lCl'Ud.!l,"',pll"I."!), '11 IIHJlilrrWlllo (I Ir,; ••.•...•.•.•PoNCIASBIBLIOGRAFICA
tula salivar). Schindler et a/.3D realizaram a ach.lpltl~tI() Ililll~c.ul'Lural e a villl 1Il1lllkirl\/\ KC. Q/llllitllldr ,Ir 111dlllr/", IIIIIIIt/fI f) voz o 11dcg/ll/irllo "pds tratnuuuuo parfl câncer
dação da versão italiana do MDADI com 50 pacientes c observaram qur dl! MOHl!'lIdo. 1,lulldaçfloAntônio Prudente. São Paulo, 2004.
,Ir Irll(~IIII.l)isacl'tIIÇn()
II110dciraAK, Azevedo 1':1I, Vnrtuniun JG et ai. Quality oflife related to swallowing after
esse instrumento é confiável e válido para avaliar a qualidade de vida reld
1II0I.I;lIC
canccr trcatmcnt, Dy.rphagia 2008;23:183-92.
cionada com a disfagia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Huchholz D, Robbins J. Ncurologic diseases affecting oropharingeal swallowing.
10: Pcrlman A, Schulze-Delrieu K. (Eds.). Deglutition and its disorders. San Diego: Singular,
autores recomendam a aplicação do questionário na prática clínica, o qU('
1')97. p. 319-42.
representa um importante modelo para auxiliar no gerenciamento e nd 1\1IsctM, Cremer M. Endoscopic palliation of malignant dysphagia. rlcta Gastroenterol Belg
pesquisa em câncer de cabeça e pescoço. 1992;55 :264-70.
.nrrara-de Angelis E, Bandeira AK. Qualidade de vida em deglutição. In: Jotz GP,
No Brasil, o MDADI foi traduzido e validado por Guedes et aI. 13 em urna 'urrara-de Angelis E, Barros APE. (Eds.). Tratado de deglutição e disfogia no adulto e na
amostra de 72 pacientes tratados do câncer de cabeça e pescoço. Destes, criança. Rio de Janeiro: Revinter, 2009. p. 364-68.
li, Ciconelli RM. Medidas de avaliação de qualidade de vida. Rev Bras ReumatoI2003;43:9-13.
maioria com diagnóstico de câncer de laringe (47,2%) e com média d
'I. Chcn AY, Frankowski R, Bishop- Leone J et ai. The development and validation of a
79,72 no domínio global do questionário, o que indica uma limitação mé dysphagia-specific quality-of-life questionnaire for patients with head and neck cancer: the
dia na função de deglutição. MD Anderson dysphagia inventory. Arch Otolaryngol Head Neck Surg 2001;127:870-76.
H. Chen PH, Golub JS, Hapner ER et al. Prevalence of perceived dysphagia and quality-of-life
Cabe aqui comentar sobre a aplicação dos questionários em nosso par impairment in a geriatric population. Dysphagia 2009;24:1-6.
e dentro do contexto sociocultural. Durante o processo de validação encon- 'I, Ekberg O, Hamdy S, Woisard V et ai. Social and psychological burden of dysphagia: its
impact on diagnosis and treatment. Dysphagia 2002;17:139-46.
tramos muitas vezes a necessidade de realizar as perguntas diretamente 10. Fleck MPA, Leal OF, Louzada S et al. Desenvolvimento da versão em português do
aos pacientes em razão de sua baixa escolaridade e dificuldade de entender instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-l00).
Reu Bras Psiquiatr 1999;21:19-28.
o que estava sendo questionado. Palavras como "deglutição" precisaram
11. Genden EM, Okay D, Stepp MT et ai. Comparison of functional and quality-of-life
em alguns momentos ser explicadas. Há algumas perguntas que podem outcomes in patients with and without palatomaxillary reconstruction: a preliminary reporto
parecer repetitivas, porém, na elaboração de um questionário, ajudam a A1"ChOtolaryngol Head Neck Surg 2003;129:775-80.
12. Greenblatt DY, Sippel R, Leverson G et ai. Thyroid resection improves perception of
testar a confiabilidade de resposta do instrumento e do próprio paciente. swallowing function in patients with thyroid. World] Surg 2009;33:255-60.
Ao aplicar o questionário, deve-se tomar cuidado para não influenciar as 1:1.Guedes RLV Validação e aplicação do questionário de disfogia MD Anderson (MDADI) em
respostas do paciente. pacientes tratados de câncer de cabeça epescoço. Dissertação de Mestrado- Fundação Antônio
Prudente. São Paulo, 2010.
A literatura atual carece de mais estudos sobre as dificuldades funcio- 14. Guyatt GH, Feeney DH, Patrick DL. Measuring health-related quality oflife.
Ann Intern Med 1993;118:622-29.
nais específicas e seu respectivo impacto na qualidade de vida e, principal-
15. Grudell AB, Alexander JA, Enders FB et al. Validation of the mayo dysphagia
mente, sobre a relação entre a qualidade de vida e a avaliação funcional da questionnaire. Dis Esophagus 2007;20:202-5.
deglutição. 16. Iseli TA, Kulbersh BD, Iseli CE et ai. Functional outcornes after transora! robotic surgery
for head and neck cancer. Otolaryngol Head Neck Surg 2009;141:166-71.
A validação e utilização desses questionários propiciam a oportunidade 17. Kazi R, Prasad V, Venkitaraman R et ai. Qucstionnaire analysis of swallowing-related
de avaliar os resultados de qualidade de vida relacionados com a disfagia, outcomes following glossectomy. ORL] Otorhinolaryngol Relat Spec 2008;70:151-55.
18. Lovell SJ, Wong HB, Loh KS et al. Impact of dysphagia on qualiry-of-life in
utilizando-se um instrumento considerado válido, conciso e eficaz e que
nasopharyngeal carcinoma. Head Neck 2005;27:864-72.
apresenta medidas relacionadas com a percepção do próprio paciente. E é 19. McHorney CA, Bricker DE, Kramer AE etal. The SWAL-QOL outcomes tool for
a partir desse ponto de vista que se construirá o processo de reabilitação. oropharyngeal dysphagia in adults: I - conceptual foundation and item deve1opment.
Dysphagia 2000a;15:115-21.
20. McHorney CA, Bricker DE, Robins J et ai. The SWAL-QOL outcomes tool for
oropharyngeal dysphagia in adults: 11-Item reduction and preliminary scaling.
Dysphagia 2000b;l5:122-33.
21. McHorney CA, Robins J, Lomáx K et ai. The SWAL-QOL and SWAL-CARE outcomes
tool for oropharyngeal dysphagia in adults: 111- Documentation of reliability and validity.
Dysphagia 2002;17:97-114.
I ('~lA, Vll'llu)< li I Ml'dllldllll 111'11"11111111 IIlIlItllll l'I-/"'IIIIUIp,lIlIlIdH,/II~ 11/,"
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IIJ(IHI)1'I',j77(6): 1005-26, No Ilbstl'lIl'(IIVIIIIIIIJlI', 11M11): ~724409 / PlIbMcd
/111 MI':I)J,INE/
INTERVENÇÃO FONOA~DIOLÓGICA
M PACIENTES COM CANCER DE BOCA
OROFARINGE
Viviane de Carvalho
t ica Arakawa-Sugueno
INTRODUÇÃO
o atendimento fonoaudiológico ao paciente com câncer de boca e orofarin-
e é comentado na literatura desde os anos 1960.10 A ênfase na década de
1970 era dada à fala de pacientes glossectomizados, especialmente com
indicação e adaptação de próteses orais. Posteriormente, principalmente a
partir da década de 1990, houve um direcionamento para os estudos rela-
cionados com a deglutição e, mais tarde, com a análise acústica da voz des-
ses indivíduos.
ção na presença do tumor, o tipo de ressecção, acesso, reconstrução o mN 1 h \ levar à inversão dos lábios, intensificando o prejuízo articulatório. Dessa
!i'~
ziamento cervical.
1111
"a, além da terapia fonoaudiológica que
11111 será comentada adiante, reco-
,~
1I\I'l\da-se o encaminhamento para a adaptação de próteses dentárias.
!
Ressecção. acesso e reconstrução
ssecção de bochechas
Ressecção de lábios 1\', bochechas são formadas pelo músculo bucinador e por um tecido adipo-
I l, Internamente a mucosa da bochecha é chamada de mucosa jugal.
Os tumores de lábios podem ser histologicamente de três tipos: carcinoma
As ressecções da mucosa jugal são mais comuns e podem ocasionar
basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma, sendo o primeiro tiPl1
mais comum e menos agressivo. Normalmente são provocados pela radl: illidas ou fibroses cicatriciais intensas, que limitam a abertura de boca, prin-
ção solar, sendo muito mais comum o acometimento do lábio inferior pl'ld i"lpalmente no sentido horizontal. Também dificultam a mastigação no lado
maior exposição dessa região aos raios ultravioletas. Os impactos funcionar. lfotado.
na fala e deglutição de pacientes com ressecções de lábios dependerão cltl O impacto maior na fala será com relação à articulação, que será do
extensão da cirurgia e da realização ou não de reconstrução cirúrgica e do lipo travada, se o paciente apresentar trismo.
resultado funcional obtido pela reconstrução. Ressecções parciais, com fo As ressecções do músculo bucinador são mais raras. O prejuízo estético
chamento primário ou com reconstrução, normalmente não trazem prejul funcional são marcantes. O paciente pode evoluir com paralisia dos mús-
zos funcionais importantes. ulos inervados pelos ramos zigomático e bucal do nervo facial, que podem
er ressecados ou manipulados durante o ato cirúrgico, gerando um prejuí-
Porém, nas cirurgias extensas, sem reconstrução ou com reconstrução
o no tônus e na mobilidade de lábios. A paralisia dessa região também
insuficiente para o vedamento labial, os impactos serão grandes. Dessa for-
ocorre por causa do retalho que é empregado, que não possui as mesmas
ma, é muito comum observarem-se vedamento labial incompleto, limitação
características de mobilidade do músculo bucinador, sendo normalmente
da abertura de boca no sentido horizontal ocasionada pela fibrose cicatri-
utilizado para o preenchimento da região. As principais alterações na deglu-
cial, redução da sensibilidade, redução da força e da mobilidade dos lábios
tição serão: mastigação prejudicada do lado afetado; incontinência de ali-
ocasionada por pelo menos, três fatores: tipo de reconstrução; paralisia ou
mentos proveniente da redução do tônus e da mobilidade labial do lado pa-
paresia do ramo mandibular do nervo facial; e fibrose cicatricial.
ralisado. Na fala, a articulação será imprecisa, principalmente dos sons pro-
Na deglutição, a ausência ou vedamento labial incompleto levará à in- duzidos pelos lábios e que necessitam de maior pressão intraoral.
continência salivar e do bolo alimentar. Consequentemente, haverá grande
perda de alimentos por via oral, comprometendo o aporte nutricional deste
Glossectomia
paciente, que acaba ingerindo menos do que o programado. A ausência de A língua desempenha um papel fundamental na fala, participando como
vedamento labial também reduz a pressão intraoral, podendo aumentar o principal articulador das vogais e de grande parte das consoantes. Também
tempo de trânsito oral e gerar estases alimentares em cavidade oral. A re- é uma das estruturas orais mais importantes da deglutição, participando do
dução da sensibilidade de lábios também dificulta a percepção e o controle controle e da ejeção do bolo alimentar, da lateralização do alimento durante
da saliva e do alimento pelo paciente.
rYi IcLtcllhosmlcrocirúl
mastlqaçao e da protcçao <.I,1S viu
funcionais. Porém, infelizmente, a recons-
mento da base da língua à epiglote.
11\ 1'.dO de estruturas rcssccaaa~ Od cavidade oral e orofaringe utilizando essa
O tratamento para tumores de língua normalmente é cirúrgico, é1C( un
11\( nica não é uma realidade para a maior parte das instituições brasileiras
panhado de radioterapia, quando necessária. Ressecções de língua m
1\111' realizam tratamento cirúrgico em pacientes oncológicos de cabeça e
res de 50% são classificadas como parciais, ressecções de três quarto
1 ",( aço, normalmente em virtude de problemas financeiros. O custo desse
denominadas de subtotais, e acima dessa extensão, de glossectomi 11
Ilpo de cirurgia, do material empregado, é alto, e o Sistema Único de Saúde
tais. É muito comum a associação das cirurgias de língua a outras ress«
('llJ)) não cobre normalmente as despesas com esses procedimentos.
ções como mandibulectomia, pelvectomia e palatectomia, podendo ac.lld
m cirurgias compostas com ou sem glossectomia parcial, a língua re-
var ainda mais as alterações na deglutição e na comunicação oral de
IlltlneScente ou normal pode ser utilizada como retalho para o fechamento
pacientes. 11(' ressecções de assoalho bucal ou de cirurgias retromolares. Isso leva a
Os prejuízos funcionais dependerão da extensão da ressecção de Irll IlIna redução da mobilidade da língua que compromete a articulação de
gua e do tipo de reconstrução realizada. (1('Lerminados sons, a deglutição e a higienização da cavidade oral. Feliz-
It\Cnte, em muitos serviços de cirurgia de cabeça e pescoço, em razão da
presença da equipe de fonoaudiologia e uma maior comunicação entre es-
Glossectomias parciais
',()S profissionais, a utilização da língua como retalho tem sido evitada, sen-
As glossectomias parciais podem ser divididas em anterior, lateral e post
(10 apenas utilizada quando não há outra possibilidade de reconstrução.
rior. As ressecções de língua dos terços anterior e lateral geram normalmen
te alteração na lateralização do bolo alimentar, prejudicando a mastigação
a higienização oral. Na fala, aparecem os prejuízos articulatórios nos sons /t, lossectomias totais
Nas glossectomias totais, o impacto na deglutição e na fala será imenso.
d, n, li quando a ressecção de língua é anterior, e prejuízo nos sons [s, z, ch,
todas as fases da deglutição estarão alteradas. A ausência completa da lín-
j/ nas ressecções laterais.
ua leva à falta do controle do bolo alimentar, provocando a perda prematu-
Logo, as ressecções posteriores, quando envolvem base de língua, ge·
ra desse alimento, gerando, assim, a aspiração antes da deglutição. Esse
ram impactos funcionais mais importantes. Na deglutição são observados: fator ainda é intensificado pela marcante redução da sensibilidade tátil, tér-
redução na propulsão do bolo alimentar, aumento no tempo do trânsito mica, dolorosa e gustativa da cavidade oral, já que a língua é um dos princi-
orofaríngeo, estase de alimentos em recessos faríngeos com aspiração
pais órgãos responsáveis por essa função.
após a deglutição, redução na proteção das vias aéreas inferiores com aspi- A mastigação também se encontra impossibilitada pela falta da laterali-
ração durante a deglutição. Na fonoarticulação, ocorrem prejuízos nos sons zação do bolo e da manutenção deste nas faces oclusais dos dentes, o que
/k/, /g/ e vogais posteriores jó, o, u/, voz pastosa e hipernasalidade, geran- é realizado internamente pela língua e externamente pela mucosa jugal.
do inteligibilidade de fala com prejuízo de leve a moderado. Portanto, esse paciente normalmente ficará restrito às consistências líquida,
As glossectomias podem ser reparadas por meio de fechamento primá- líquido-pastosa e pastosa. Sempre existem exceções, alguns pacientes aca-
rio, reconstruídas com retalhos locorregionais ou retalhos microcirúrgicos. bam descobrindo formas de manipular o alimento sólido, relatando o uso
O fechamento primário é realizado em glossectomias parciais pouco exten- de palitos de sorvetes, ou do hashí para realizar a função da língua de late-
sas, e normalmente o resultado funcional é bom. Em glossectomias mais ralização do alimento.
Também, ocorre redução da propulsão do alimento, levando a estases
extensas, como as subtotais ou totais, são utilizados normalmente retalhos
miocutâneo ou miofascial do músculo peitoral, sendo um dos mais utiliza- em boca e orofaringe. Isso gera menor pressão intraoral, o que consequen-
dos para a reconstrução do assoalho bucal nas ressecções totais da língua temente, junto com a redução da elevação hiolaríngea, pode prejudicar a
bertura do segmento faringoesofágico, gUI 11111lu r".ltI'lt'~
I'clvcclomi
ríngeos e na entrada de êsofago. Essesfatores podo r
a deglutição. I\s ressecçôes elo tl!JsOtili1o bucal são chamadas de pelvectomia. O assoalho
bucal é uma região importante da cavidade oral, porque nele se encontram
Na fonoarticulação haverá um prejuízo na produção de todos os 5011',
os músculos extrínsecos da língua (genioglosso, estiloglosso, palatoglosso e
que a língua participa. A articulação fici) lentificada, gerando a voz pastos.r
hioglosso) e alguns músculos supra-hióideos (genio-hióideo, milo-hióideo e
O paciente apresenta, muitas vezes, IOudness aumentada, provavelmel1ll'
digástrico ventre anterior). Os músculos extrínsecos da língua e os músculos
numa tentativa inconsciente de melhorar sua projeção vocal, que ficou PI(1
genio-hióideo e milo-hióideo são os responsáveis pela mobilidade lingual.
judicada pelas mudanças no trato vOcal. Podem apresentar voz molhada
em virtude das penetrações de saliva em pregas vocais. As pelvectomias podem ser parciais ou totais. As ressecções parciais nor-
malmente são realizadas nas regiões anterior e lateral do assoalho bucal.
Todas essas mudanças na configuri'lção e no volume do trato vocal 911
ram também alterações ressonantais, como mudanças nas frequências do', Normalmente, essas cirurgias estão associadas às ressecções de língua
formantes das vogais. Segundo Camargo,9 os dois primeiros formantes ai de mandíbula, em decorrência da invasão tumoral ou ainda das margens
teram-se significativamente nas ressecç<5esde língua por estar diretamente' cirúrgicas de segurança, que acabam incluindo essas estruturas que são vi-
associados à produção das vogais. Linhas da pelve lingual.
A ressonância vocal do paciente 910ssectomizado é constantementll Nas pelvectomias totais, os impactos funcionais se comportam de for-
classificada como hipernasal. Esse fato pode ser explicado porque, após il ma semelhante à glossectomia total, já que praticamente toda a mobilida-
ressecção de língua, o paciente inconscientemente direciona o foco da re de de língua depende da musculatura que foi retirada na ressecção do asso-
sonância para cavidade nasal como um ajuste compensatório, na tentativa alho bucal. É muito comum, nesse tipo de cirurgia, a utilização da língua
de melhorar a projeção vocal. Além disso, a imprecisão articulatória ou a ar como retalho, pela perda funcional deste órgão.
ticulação travada, acompanhada de urna velocidade de fala aumentad ...,
que é frequentemente encontrada nesses pacientes, também poderiam Mandibulectomia
contribuir para o direcionamento da res.sonância para a cavidade nasal em
A mandíbula é o único osso móvel da face. Apresenta um corpo horizontal
detrimento da ressonância oral. A hipo nasalidade também pode se mani
em formato de ferradura. Seus principais componentes são: processo condi-
festar nos pacientes glossectomizados, principalmente após adaptação do
lar, processo coronoide, ramo ascendente, corpo mandibular, onde se
rebaixador de palato que pode ter sido ~onfeccionarlo com uma dimensão
encontra a região mentoniana. Esse osso se liga ao crânio, mais especifica-
vertical maior, ocluindo a região posterior da cavidade orofaríngea, impe
mente na eminência articular do osso temporal, formando a articulação
dindo a transferência do som laríngeo Para a cavidade nasal." Behlau> de temporomandibular. Dessa forma, esta articulação é composta pelas se-
nomina esse tipo específico de hiponasa lidade como ressonância cul-de-sac
guintes estruturas: processo condilar, eminência articular do osso temporal,
(beco sem saída).
disco articular, cápsula e ligamentos. O movimento desta articulação depen-
Todos esses fatores podem interferir na inteligibilidade de fala desse de dos músculos mastigatórios: masseter, temporal, pterigóideo lateral e
pacientes, que podem se apresentar CC)m um comprometimento leve até
pterigóideo medial.
intenso. Porém, muitos apresentam um~ inteligibilidade de fala espontânea
A mandibulectomia pode ser do tipo marginal, quando a ressecção é
muito boa, provavelmente pelas num~rosas pistas contextuais que esse
realizada no sentido horizontal, e segmentar, quando é realizada no senti-
tipo de material de fala oferece.
12 do vertical, com retirada de um segmento. As ressecções da mandíbula po-
Carvalho-Teles observou que os son-, mais prejudicados em glossectomi- dem ser realizadas em qualquer parte de sua estrutura, podendo ser tanto
zados foram as sílabas "da", "nha", "ja", "ta", "cha". "ka" e "ra".
parcial, como total. A mandíbula faz parte da articulação temporomandibu-
dillculdlldl'
pt1'tIO'Hl; d\lI(II,I'lllolnl 1011111)1''111
1111ell) l!tl hiCli
lar, e qualquer ressecçêo mandibular n "II( 111(\111
pode Li11l1iJ('1 110oquillln I
11101\ e élrLiculi1ç.t\OIlilVddd,
dessa articulação. Também é comum a associação dtl rnandibulectornu
I\\óm do aspecto funcional, as mandibulectomias trazem prejuízos es-
ressecções de língua, assoalho bucal, área retromolar e glândula
II-Ih os faciais, já que o terço mferior da face é formado peta mandíbula. As
parótida.
Itll.'lllcções marginais, principalmente de corpo mandibular e da região
As alterações após a mandibulectomia dependerão da extensão e da \Oi I1
1I\I'I1toniana, alteram a altura vertical da face, reduzindo a harmonia entre
lização da ressecção, como também da realização ou não de reconstruçã
11ês terços faciais.
As ressecções da região mentoniana sem reconstrução óssea e com grf1ll A reconstrução da mandíbula com retalho microcirúrgico contendo
de perda tecidual trazem prejuízos semelhantes à ressecção de lábios: ve<ltl Il"'lD, como fíbula, crista ilíaca, pode trazer bons resultados funcionais e es-
alteran
mento labial incompleto, que gera incontinência salivar e de alimentos, I 1\ I kos superiores àqueles encontrados em pacientes sem reconstrução. Po-
do a fase preparatória oral da deglutição, porque impede que este pacientr- 11'1n,apesar disso, a função mastigatória pode apresentar alguma limitação
prepare o bolo alimentar antes de degluti-Io, em razão da perda deste alirnen IIIl lado afetado, principalmente se a língua estiver envolvida.
to. O gap no vedamento labial também altera a fase oral da deglutição, porqu«
reduz a pressão intraoral necessária para a ejeção adequada do bolo alimentar,
consequentemente, este paciente pode apresentar estases de alimento em c
Maxilectomia
1\ maxila é um osso par que participa da constituição do assoalho da órbita,
vidade oral e orofaringe, podendo aspirar após a deglutição. A fala também s
tio palato duro, da cavidade e das fossas nasais e da fossa intratemporal. A
encontra prejudicada, principalmente nos sons bilabiais ou naqueles que ne
maxila articula-se com o osso frontal, com os ossos nasais, os lacrimais, o
cessitam de uma maior pressão intraoral, como os fricativos e plosivos surdos.
('lmoide, os ossos do palato, o vômer, o osso zigomático e as conchas nasais.
Dessa forma, esse paciente pode apresentar uma imprecisão articulatória des-
As ressecções de maxila podem ser divididas em: infraestrutura, quando
ses sons, reduzindo a sua inteligibilidade de fala, que também pode estar bas-
há ressecção apenas em rebordo alveolar e em palato duro; em mesoestrutu-
tante prejudicada pela incontinência salivar.
ra. quando atinge o seio maxilar; e por fim, em supraestrutura, quando ocor-
As ressecções unilaterais de mandíbula geram desvio mandibular em
ressecção em assoa lho da órbita, com ou sem exenteração de globo ocu-
repouso e em movimento, normalmente para o lado da cirurgia, em virtude
da perda de força muscular causada pela ressecção ou modificação da in- lar.
A maxilectomia gera uma comunicação não fisiológica entre as cavida-
serção do músculo masseter ou ainda ressecção do processo condilar. Este
des oral e nasal, trazendo prejuízos tanto na deglutição, quanto na fonoar-
tipo de ressecção traz prejuízos na fase preparatória oral, porque o paciente
ticulação, quando a região não é reconstruída por meio de retalhos microci-
apresenta redução dos movimentos mandibulares, tendo dificuldades em
rúrgicos, enxertos ou prótese obturadora de maxila.
mastigar do lado afetado. A fala apresenta-se imprecisa pelo desvio mandi-
Com relação à deglutição, os pacientes maxilectomizados podem apre-
bular, que é mais intensificado durante a produção dos fricativos /s, z/, por-
sentar alterações na fase preparatória oral em virtude de mastigação defici-
que durante a produção desses sons há uma leve projeção mandibular, o
ente, em decorrência da dificuldade de acoplamento entre língua e palato
que pode evidenciar ainda mais esse desvio.
duro. Também pode ocorrer alteração na fase oral da deglutição manifesta-
Alguns pacientes mandibulectomizados podem evoluir com redução
da pela saída de alimento e líquidos pela cavidade nasal. As maxilectomias
da abertura de boca, em virtude de modificações da articulação tempo-
posteriores podem comprometer a mobilidade de palato mole, e, nesses
romandibular pela fibrose muscular gerada pela cirurgia e/ou radioterapia.
casos, o prejuízo na deglutição será maior, havendo alteração também da
Nos casos de trismos intensos, os pacientes apresentam dificuldade na in-
fase orofaríngea.
trodução de alimentos sólidos, ficando restritos à alimentação líquida e lí-
Pa/atectomia moi
')" "dC itqltl'~ aW!III";f,('\ ',()fI', dI' "d/dlu ttlolt\ pod(11tl iIPll",lllll(lI (lItUld-
o palato mole é um prolongamento fibromuscular do palato duro, I
posto por cinco músculos: músculo elevador do véu palatino, mLJ:,{ I" n,,'. 111sas oral O oro/,lt'rllCj(\(\ da
111()Irlrrngea ocorre o (ocharronto
c.Jeglutição. Em condições normais, na
dos es"fíncteres labial, velofaríngeo,
úvula, músculo tensor do véu palatino, músculo palatoglosso Q ItUl,
tl"I/!'(), com o objetivo de se gerar um aumento da pressão intraoral, su-
palatofaríngeo. Essa estrutura faz parte da unidade funcional, cI 1.11"
l" I\t li ,I encontrada no esôfago, facilitando, assim, a abertura do segmento
esfíncter velofaríngeo (EVF), que é delimitado anteriormente pelo /!d/
1,"llIljocsofágico. Assim sendo, após as palatectomias pode haver redução
mole, lateralmente pelas paredes laterais da faringe e posteriormenlt' /lt'1
li, I ossão intraoral,
111 redução do peristaltismo faríngeo, provocando esta-
parede posterior da faringe. O EVF é formado pelo músculo constritor ',1'/1
I'Jn valécula, seios piriformes e segmento faringoesofágico. Dessa for-
rior da faringe, músculo salpingofaríngeo, além dos músculos que c, '/I
lilol, () paciente pode apresentar penetrações e/ou aspirações após a deglu-
põem o palato mole. Desses músculos, o elevador do véu palatino e o Irl\j
I/I."(), A redução da pressão intraoral também gera um aumento importan-
culo da úvula são os que exercem maior atividade no fechamento I VI
durante a fonoarticulação. [li 110 trânsito oral e faríngeo. O paciente realiza múltiplas deglutições para
1/llltilr propelir o bolo alimentar até o esôfago, porém pela dissipação da
O EVF possui diferentes graus e tipos de fechamento de acordo COIr!
1'lIl'rgia para a nasofaringe, o alimento toma sentido ascendente ou retró-
função exercida. Os principais tipos de fechamento velofaríngeo são:
I jI .ido, aumentando ainda mais o tempo e o número de deglutições. Tam-
A) Coronal: maior participação do palato mole com relação às paredl ", I )I"1Y'ldurante as fases oral e orofaríngea o paciente pode apresentar escape
laterais da faringe.
,10 bolo alimentar para a cavidade nasal, que ocorre principalmente para
B) Sagital: maior participação das paredes laterais com relação ao palatu llquidos e grãos.
mole.
Tanto nas maxilectomias quanto nas palatectomias, a comunicação oral
C) Circular: participação similar entre as paredes laterais da faringe e p
lato mole. .ofre prejuízos em razão das mudanças nas características de voz e de fala
,1PÓS cirurgia. Com relação à fonoarticulação, o paciente pode apresentar
D) Circular com prega de Passavant: além das paredes laterais da fa
ressonância predominantemente hipernasal, loudness reduzida, tempos má-
ringe e palato mole, há contração da parede posterior da faringe.
ximos fonatórios reduzidos e incoordenação fonoarticulatória. Também,
Na deglutição, o fechamento deve ser sempre esfinctérico, com a parti- parecem as trocas articulatórias dos sons sonoros orais pelos sons nasais e
cipação de todas as estruturas: palato mole e faringe. Porém, na fala, nor- imprecisão articulatória, principalmente dos fonemas plosivos e fricativos
malmente se observa um maior predomínio do tipo de fechamento coronal surdos, porque necessitam de uma maior pressão intraoral. Todos esses fa-
em indivíduos normais e com alterações velofaríngeas. 1 Por isso, o impacto tores reduzem a inteligibilidade da fala desses pacientes.
após ressecções de palato mole na fala pode ser intenso para alguns indívi-
duos; já para outros que tiverem um predomínio do fechamento circular
Esvaziamento cervical
com prega de Passavant, muitas vezes, o prejuízo articulatório e vocal é
mínimo e facilmente corrigido por meio da adaptação de uma prótese obtu- A mudança do estado dos componentes cervicais após esvaziamento cervi-
radora faríngea. _./" cal é estudada pelos fisioterapeutas e pouco discutida entre os fonoaudiólo-
gos. No entanto, ao considerar as ações fonoaudiológicas na reabilitação da
Com relação ao grau de fechamento do EVF, este é mais intenso para a
deglutição, seguido de sopro, emissão de consoantes, tendo um menor fe- fonoarticulação e deglutição, fica clara a necessidade de aprofundar o co-
nhecimento com relação aos tipos de esvaziamento cervical, os sete níveis
chamento para vogais, sendo que para as vogais li! e /ul há um maior fe-
chamento do que para vogal Ia/. de esvaziamento, suas subdivisões, a cadeia linfática, os músculos extrínse-
cos da laringe, os vasos e os nervos que se localizam em cada nível.
I IUI1c.iOlhll, tlvoIlitl'r"11 tlli \\1" díl'; IUI1
o edemalinr~LicooulinlecJeméllacidll1((.IVII.1i (I 111
11ti COll!10QUC'IH
1,1
li\ 1"11;;
O impacto da traqueostomia na voz e deglutição já foi discutido intensa IIt~imagem são sugeridas para quantificar e qualificar o grau de disfagia, e,
11 partir dos dados obtidos, servem como ferramentas para melhor conduta
mente nas últimas duas décadas e quase sempre foi compreendido como
um fator direto na alteração funcional. Apesar disso, a análise crítica sob!" terapêutica.
os artigos mais recentes, com metodologia mais criteriosa e amostra d Já as sequei as na fala e voz nem sempre ganham o mesmo grau de va-
pacientes com tumor de cabeça e pescoço, evidencia que a cânula traqueal lorização durante a avaliação fonoaudiológica e a fonoterapia. Tal situação
não aumenta o risco para aspiração, e a decanulação não melhora a função pode ser atribuída a pelo menos dois fatores: a falta de consciência por par-
da deglutição. Revela, ainda, que os fatores determina ntes para disfagia OLl te dos profissionais da equipe interdisciplinar do impacto negativo sobre a
aspiração são os que levam à necessidade da traqueostomia, como os pro qualidade de vida, no que diz respeito às relações pessoais, sociais e profis-
blemas respiratórios, trauma entre outros.Z-? ionais desses pacientes, gerado pela limitação da comunicação oral; e o se-
undo fator, que poderia justificar o primeiro, seria a falta de rotina na práti-
ca fonoaudiológica no emprego de protocolos padronizados de avaliação
Diagnóstico funcional
a fonoarticulação que poderiam auxiliar na constatação e no grau de pre-
Para a avaliação fonoaudiológica em pacientes com câncer de boca e orofa-
ringe são utilizados protocolos de anamnese de investigação da história da juízo comunicativo desses indivíduos.
Inpn.lUllUl
'.ilj I\Hic..é.\l1 Lc.n. li Ildil \tI \ LOII\ It\U em qu
Tanto na literatura internacional quanto IliI Ili" IUIIUIIl!io há um.: \ml
mização quanto à forma de análise da 'fala e voz.12 De 'fato, uma pl1(lirml 11\
1\ nnálise da inteligibilidade de fala é normalmente realizada na maior
ção universal como é passível de ser realizada na avaliação da deglllll
1111111'
elos trabalhos com pacientes com ressecções de cavidade oral e orofa-
por ser uma função que se repete de maneira neurofisioloqicarnenf \ 11
gramada e de modo semelhante entre todos os indivíduos, não é do 111 I11\I iI'.I.~.14.51
mo modo executável para a fonoarticulação. Isso ocorre porque cada (lill
Ir()dicionalmente a inteligibilidade de fala tem sido avaliada de duas for-
A proposta deste subitem é reunir algumas estratégias de avaliação VI II 11\I\Ltlgem de estímulos corretamente identificados (0-100%). Essa avalia-
tadas para os principais prejuízos normalmente apresentados na comunlr I.no normalmente utiliza, como material de fala, lista de palavras, sílabas,
ção oral desses pacientes e, ao final, apresentar uma sugestão de protowl 1~IT1issão
de vogais ou ainda combinações de vogal-consoante-voga\.19 Para
de avaliação da fonoarticulação de fácil e rápida aplicação que poderá i,l'r "!l',Cl análise, sugere-se o emprego do mesmo material de fala utilizado na
utilizado como parte da rotina fonoaudiológica. Ivaliação do quadro fonêmico, classificando a inteligibilidade por meio da
\)t)rcentagem de sílabas corretamente identificadas.
A valiação da fonoarticulação A segunda forma de avaliar a inteligibilidade de fala é por meio de esca-
O protocolo da avaliação perceptivo-auditiva deve incluir a gravação de VaI I'
lilS que classificam o seu nível de comprometimento em categorias como:
fala desses pacientes de maneira padronizada e com equipamentos adequa O. inteligibilidade de fala normal, 1. inteligibilidade de fala com comprome-
dos. Umento leve, 2. inteligibilidade de fala com comprometimento moderado
Esse tipo de registro, além de demonstrar o impacto fonoarticulatóriu
. inteligibilidade com comprometimento grave .12
deste paciente, permite também acompanhar a evolução terapêutica desta
Os materiais de fala empregados para essa avaliação são: fala espontâ-
função.
nea, leitura de histórias ou frases. O material de fala espontânea também
Esta avaliação pode ser composta pelos itens a seguir.
pode ser padronizado. Para isso, recomenda-se o uso de uma figura mos-
Avaliação do quadro fonêmico trando, por exemplo, uma situação da vida diária (pessoas em um parque,
em uma cozinha) ou também é possível estabelecer um mesmo tema para
A avaliação de todo o quadro fonêmico é primordial para que, se alterações
que todos os pacientes comentem. Sugere-se a gravação de 30 segundos
forem encontradas, possam ser trabalhadas por meio da reabilitação fono-
terá pica e protética. de fala espontânea.
O padrão articulatório (preciso, impreciso, travado ou exagerado) e a
Sugere-se que para esse tipo de avaliação seja solicitada a repetição por
parte do paciente de todos os sons do português brasileiro acompanhados velocidade de fala (lenta, aumentada ou adequada) do paciente podem ser
da vogal faf, já que essa vogal, por seu posicionamento central na cavidade classificados durante a avaliação da inteligibilidade de fala.
oral, causa menor interferência na articulação das consoantes. Avaliar nes-
se momento a ocorrência de trocas, omissões e imprecisões articulatórias. Avaliação da qualidade de voz
Na área de Oncologia de cabeça e pescoço, a avaliação da qualidade de voz
Avaliação da Inteligibilidade de fala, tipo articulatório e
é comumente mais empregada nas ressecções de laringe e nas paralisias de
velocidade de fala
pregas vocais. São raros os trabalhos que classificam a voz dos pacientes
A medida padronizada da função comunicativa é a inteligibilidade de fala,
após cirurgias de cavidade oral e orofaringe, e, quando a descrevem, se limi-
porque a comunicação oral é um instrumento social, cuja maioria das medi-
'oeennêncla n
tam aos aspectos ressonantals e ertlculatórlos, que 'lclO mals cvith'1"1t. Ilnlntll\uul,!.lO embora a hipcrnasalidade possa ser
ses tipos de cirurgias. É importante lembrar que a voz o resultado d,', I
ó W,lll
H'lllJ
rcebida, os ouvintes apresentam di'ficuldade em caracterizar
ção entre fonte e filtro, e que alterações no filtro, também, podem III!,f'l ,I(' I
rceptivo-auditiva seus diferentes níveis, tendo dificuldade em
alterações na fonte. Essefato é comumente visto nos pacientes com 11'0 li 1111\,' P
limites entre os padrões normais e os vários graus de hiperna-
labiopalatinas, que desenvolvem disfonias funcionais e orqanofuru li 1I I.,III~\I'(ar
pelas diferentes variações e flutuações da ressonância
como nódulos vocais ou outras lesões benignas, provavelmente em vh 111 1\l1'11h.', talvez
de um mecanismo compensatório inadequado para produção de SOII tI"IIII' li fala.
()'. pacientes com ressecções de cavidade oral, orofaringe apresentam
fala (golpe de glote) ou ainda na tentativa de aumentar a loudness VII
lIihl Itluc.lança importante no filtro vocal, por isso a análise da ressonância
havendo a compressão de todo o vestíbulo laríngeo, levando a Uri1i1 v I
, 11 rllllove ser empregada para todos os pacientes, mas em especial para os
comprimida e tensa.' I~
I' \1 h,"Lcs com ressecções de maxila e palato mole.
Também é importante enfatizar que alguns dos pacientes com r~,·o·o 1\ ressonância nasal pode ser considerada como hiponasal ou hiperna-
ções de cavidade oral e orofaringe podem apresentar estases salivare', 1'1 I, I' c1mbas podem ser classificadas por meio de escalas de 4 a 5 pontos,
valécula, vestíbulo laríngeo ou em pregas vocais, podendo assim altor.u
III H 10 sugeri da a seguinte classificação:
tipo de voz, que normalmente, nesses casos, é molhada. Ainda, vale 11'111
brar que a laringe desses pacientes pode ter sido irradiada, levando, por eXI'11I Hessonância normal.
pio, a um comprometimento na vibração da mucosa das pregas vocais, 111.1 1 Grau leve .
dendo gerar uma voz do tipo tensa ou ainda áspera. . Grau moderado.
\. Grau grave,
O protocolo de qualidade de voz sugerido é o GRBASI, que é utilizarln
pela maior parte dos pesquisadores das comunidades nacional e internack I
O material de fala empregado nesse tipo de avaliação pela literatura
an
nal23 É um instrumento de avaliação de voz bastante prático e rápido. I,Imbém é variado, aparecendo desde vogais isoladas, vogal-conso -
li' vogal, consoante-vogal-consoante até fala espontânea,
Nesta escala, G corresponde ao grau global de alteração vocal, I (instabill
Sugere-se para essa avaliação o uso da fala automática como contagem
dadelinstability), R (rugosidadejroughness), B (soprosidadelbreathness),
de números de 1 a 20, meses do ano ou dias da semana. Também podem
A (estenia/asreny) e S (tensãolstrain). Esses tipos de voz podem ser dassif
'ler utilizadas frases que contenham apenas os sons orais, como os sugeri-
cados em quatro níveis, sendo O (ausente/normal), 1 (discreto), 2 (moder
los por Altmann,l e a emissão das vogais /iI e lul que são as vogais mais
do) e 3 (alteração intensa). Para a avaliação da qualidade vocal, normal
rais do português brasileiro. Se houver dúvida quanto à hipernasalidade,
mente, solicita-se a emissão sustentada da vogal/a/. Essa mesma vogal
podem-se oduir e desocluir rapidamente as narinas do paciente para verifi-
também é empregada para a contagem do tempo máximo fonatório 5
ar se ocorre diferença ressonantal.
(TMF), que é outra medida importante na triagem vocal dos pacientes com
ressecções de cavidade oral e orofaringe, pois pode indicar o quanto o trato
vocal influencia a fonte qlótica.? Avaliação da deglutição
A avaliação da deglutição prevê um check Iist inicial de itens elencados ante-
Devem ser avaliados também: pitch vocal (grave, agudo e normal);
riormente (intervenção no pós-operatório recente) como um critério mínimo
loudness vocal (aumentada, diminuída ou normal) e tipo de ressonância vo-
de enquadramento do paciente passível de avaliação dessa função. Além de
cal, classificada como com foco predominantemente laringofaríngeo, farín- a alteração no estado clínico de o paciente gerar falso diagnóstico funcional,
geo, oral, nasal ou equilibrado. A avaliação da ressonância nasal será mais
ela pode oferecer risco maior ao paciente com complicações.
bem discutida a seguir.
Na avaliação clfnica, são colctados dsdo, ttl UlIIlIi,tI 11'.IIIIClóriCil. Iltll ti tI'~ li";':I"'1
articulatórios, com descrição de estruturas ressecados, Li 111,11', segura, em VOIUllll'" cll' 2 c1 ~ rn•...
ventos presenles como escape oral, excursão laríng~a reduzida, re-
ção e estruturas remanescentes. A deglutição espontânea deve ser 01)\,1'1
1IIIxo nasal, engasgo, pigarro, tosse, ausculta cervical positivq resíduo oral,
vada nesse momento, caso ocorra. Posteriormente, solicita-se a degluti,tI
..seca", ou seja, sem alimentos, realizada com saliva. Se a cânula de traqur Ij\l('da de saturação, teste de azul positivo (saída de saliva o~ ~Iímento cora-
ostomia nesse momento for a plástica com balonete e estiver insutlad«, li!) com anilina pela traqueostomia) são registrados. As mali()bras de prote-
I.i\D de via aérea e as posturas facilitadoras para deglutição ~~o testadas.
pode permanecer dessa forma nesse primeiro momento. O objetivo é vellli
car estado de alerta, compreensão, possibilidade de resposta motora, COII A constatação da aspiração ocorre na saída de saliva ou Clli(Ylentos cora-
tinência oral, controle oral para saliva, presença de material (secreção (", dos pela traqueostomia na avaliação clínica (com risco de falsos positivos ou
pessa ou sanguinolenta) em oro e rinofaringe que obstrua ou dificulte ti IIC'gativos), mas o exame instrumental é essencial para cCJrnplementação
passagem e o refluxo nasal. \itlgnóstica. A aspiração silente ou silenciosa ocorre em 401'\ 69% dos disfá-
O leito elevado é quase sempre possível em pacientes com câncer d" qicOS.21
Vários instrumentos avaliam a deglutição, contudo o~ mais indicados
cabeça e pescoço e permite a avaliação do paciente em posição sentad ....
ão a videofluoroscopia e a nasofibroscopia.
É importante verificar a possibilidade de ausculta cervical, nem sempre
A videofluoroscopia oferece mais informações sobre a~fases mais com-
viável pela presença de curativos compressivos. A ausculta torácica pod
prometidas em pacientes com câncer de boca e orofaringe (T1as a nasofi-
ser utilizada como um recurso para identificar ruídos antes e depois da d
roscopia é mais indicada no período recente e também a~6s radioquimio-
glutição.
Lerapia, por analisar a função laríngea e o impacto do tratarY1ento sobre a
A saturação de oxigênio sanguíneo de base pode ser controlada pelo
ensibilidade nessa região.
oxímetro de pulso, e a queda acima de 4% é um indicador de risco para as-
piração. Mímica de terço inferior da face
Após instrumentalizar-se adequadamente para uma avaliação comple- A cirurgia de boca e orofaringe pode comprometer a mímicafé3cial, especial-
mentar à clínica, deve-se realizar investigação da função com balonete de- mente relacionada com o terço inferior. Há prejuízo estético e funcional, nos
sinsuflado, com saliva e depois com alimentos. movimentos labiais da fala e na contenção oral na deghJtiçãO.
Pacientes cuja reconstrução envolva retalho microcirúrgico ou que apre- Os protocolos de avaliação de mímica facial mais conh~cid05 são de Hou-
sentem fístulas comunicantes (orocutâneas, faringocutâneas) geralmente se e Brackmann, desenvolvidos em 1985, e Chevalier, de 1987 ~abordado em
aguardam um período prolongado até a liberação de alimentos via oral. A capítulo à parte). Ambos consideram a análise dos músculos faciais em re-
água pura, sem corante ou espessante, pode ser liberada em alguns casos, pouso e em movimento e utilizam classificações com grausq LJe identificam
e o início com essa consistência considerada menos segura é possível na desde a ausência do movimento ao movimento mais ampla.Dados objetivos
maior parte dos casos após cirurgia de boca e orofaringe. podem ser registrados com uso de análise de medidas dadist§lncia estática e
26 32
Nos demais casos (retalhos a distância ou regionais), a consistência ini- dinâmica de pontos marcados sobre a face. .
As principais técnicas fonoaudiológicas empregadas para o tratamento E) Exercícios de mobilidade de bochechas: inflar e sugar as bochechas.
de disfagia e de alterações fonoarticulatórias para os pacientes submetidos a Realizar 10 movimentos e repeti-Ios de 3 a 5 vezes.
ressecções de cavidade oral e orofaringe são listadas a seguir: F) Exercicios para tônus de bochechas: também podem ser solicitados
os exercícios de inflar e sugar bochechas com ar, porém agora tais
posturas devem ser sustentadas por 10 segundos com 3 a 5 repeti-
ções. Também pode ser realizado um exercício de contrarresistência,
apoiando-se com firmeza uma espátula de madeira na bochecha e em
seguida, solicitando PU! l, 11 '10 ,,! 'I) 1'1111(' il!' (",lillHlltI~I'HVIdt'WIT1
As principais técnicas seriarn.-? or e lateral, em palato duro e podem aumentar a propulsão do ali-
• Aumento da pressão da colher contra a língua ou contra o assoalhn mento e a pressão intraoral.
bucal reconstruído na oferta da comida. • Exercícios de força muscular para a língua com uso da contrarresis-
• Oferecer alimentos com temperatura gelada, sabor cítrico e COIIl tência: esseexercício associado ao exercício de mobilidade de língua
volume superior a 3 mL. pode levar a uma hipertrofia da língua oral e da base da língua, sendo
• Estimulação térmica e tátil. úteis na propulsão do alimento, na redução de estases e maior prote-
• Permitir que o paciente por si mesmo coloque o alimento. ção de vias aéreas29
• Apresentar uma consistência alimentar que exija a mastiçaçãn, • Sucção de bochechas: aumenta a pressão intraoral e diminui estases
quando a cirurgia em que o paciente foi submetido possibilitar ltll em vestíbulo bucal.
estratégia. • Cabeça para trás: tem como objetivos reduzir o tempO de trânsito
2. Exercícios de sensibilidade gustativa: orienta-se o emprego de qazc, oral e direcionar o fluxo de alimento para a orofaringe, evitando o
ou cotonetes umedecidos com diferentes sabores: doce, salgado, azo escape para a cavidade nasal. O princípio deste exercício se funda-
do ou amargo. Aplicar cada estímulo gustativo por até 1 minuto. menta em utilizar a gravidade para auxiliar na condução do alimento.
3. Exercíciospara o controle do bolo alimentar: inicialmente orientamos Todos esses exercícios podem aumentar a propulsãO do bolo ali-
exercícios de mobilidade de língua para todos os sentidos cardinai mentar, reduzindo o tempo de trânsito oral. Ao reduzir estases alimen-
(para cima, para baixo, para as comissuras labiais, para frente, par, tares em cavidade oral, podem evitar a aspiração após a deglutição.
trás e contra a mucosa jugal) com, no mínimo, 10 repetições, 3 veze 6. Redução do tempo de trânsito orofaríngeo e eliminação de estases ali-
de cada vez. Cada movimento deve ser feito da maneira mais ampl
mentares em recessosfaríngeos:
que o paciente conseguir. • Manobra postural de cabeça para os lados: solicita-se ao paciente
Pacientes após glossectomias parciais, pelvectomias podem apre-
virar a cabeça para o lado ruim. Esta manobra fecha a passagem do
sentar dificuldade no controle do bolo alimentar. Nessescasos é possí- alimento para o lado comprometido, direcionando o alimento para o
velo trabalho com gaze ou pedaço de garrote presos a um fio dental, lado não alterado, que realiza uma maior contração muscular, impul-
colocados em cima da língua do paciente, que deve fazer movimentos sionando o bolo alimentar para o esôfago. Também pode ser solicita-
de lateralização e de protrusão e retração lingual. da a cabeça para o lado ruim no intuito de estimular e aumentar a
4. Melhora do início da fase orofaríngea: a crioestimulação da cavidade
mobilidade da parede lateral faríngea comprometida.
oral e da orofaringe tem como objetivo melhorar o início da fase orofa-
• Manobra postura I de cabeça inclinada: solicita-seao paciente inclinar
ríngea. Nessatécnica são realizados toques de 3 a 5 toques com o es-
a cabeça para o lado bom com o mesmo objetivo proposto na
pelho de Glatzel (00) gelado nas seguintes estruturas: palato mole,
mudança postural de cabeça rodada para o lado ruim, ou seja, apro-
base de língua, pregas do palatoglosso e palatofaríngea. Os intervalos
MtI/lob/d ".111)/'/,,1111/1'/
veitar a contração muscular normal d,) PIII(\tlt· Idl('ltll d8 Itlrlll(j(',
rQspirélção, dl\(jlllld, pi~, ... _.- - -
conduzir o bolo alimentar até o esôfaço.
umentar O fechélmcnLo das pregas vocais, protegendo, vias aéreas.
• Cabeça para trás: ocorre a redução do espaço valecular,
Manobra supersupraglótica: o paciente é orientado a inspirar, pren-
estases nessa região.
der a respiração com força, deglutir, pigarrear e deglutir e soltar a res-
• Tongue Hold: o paciente é orientado a deglutir a saliva com
piração. Envolve um fechamento mais intenso das vias aéreas antes e
presa aos dentes. Este exercício aumenta a contração da pare
terior da faringe, reduzindo estases nessa região. durante a deglutição.
• Manobra supraglótica associada ao empuxo: é uma variação da
• Técnica de Masako: segue o mesmo princípio do exercício an'lc..'
I li II
manobra anterior que utiliza o empuxo para aumentar o fechamento
porém essa técnica é utilizada durante o treino da deglutição dl' ,,11
laríngeo. Nesse exercício o paciente deve inspirar, prender a respira-
mentos.
ção/ realizar o movimento de empuxo (mãos em gancho ou puxar a
• Exercício de protrusão lingual associada à emissão do /R/ com vo
cadeira para cima), deglutir, pigarrear, deglutir, soltar a respiração.
gais: utilizado para eliminação de estases em valécula.
• Manobra de Mendelson: solicita-se ao paciente que degluta e, quando
• Elevação laríngea: os exercícios utilizados para este fim são escala
sentir a laringe em elevação, mantenha-a nessa posição elevada por
musicais com as vogais, manobra de Mendelson e protrusão lingudl
alguns segundos e depois a relaxe. Esta manobra prolonga o tempo e a
Permite uma maior abertura e amplitude do segmento tarinqoesot.t
extensão da elevação laríngea e consequentemente aumenta o diâme-
gico, possibilitando, assim, a entrada do bolo alimentar para o esôí.:
tro de abertura do segmento faringoesofágico, evitando a aspiração
go, reduzindo estases em faringe, seios piriformes e transição farin
após a deglutição. Também a elevação laríngea permite maior fecha-
goesofágica.
mento de pregas vocais, reduzindo a aspiração durante a deglutição.
• Manobra de Shaker: este exercício foi criado para melhorar a elev
ção laríngea e aumentar o tempo e a amplitude da abertura do se
• Escalas musicais: solicitar que o paciente emita um !i/
ou lul em uma
escala musical ascendente ou ainda em dois tons, numa frequência gra-
mento faringoesofágico e consequentemente eliminar aspiração em
ve e outro numa frequência bem aguda. Os objetivos desse exercício são
pacientes com resíduos na faringe após a deglutição.43 O paciente é
os mesmos da manobra de Mendelson. Por isso, é importante que o
orientado a deitar e levantar apenas o pescoço até olhar as pontas
paciente mantenha a emissão do som agudo por alguns segundos.
dos pés. Deve manter essa postura por 30 segundos e repetir 6 vezes.
8. Exercícios para o aumento da mobilidade do esfíncter velofaríngeo:
O tempo de realização do exercício e o número de repetições podem
• Exercícios de sopro: aumenta a mobilidade do esfíncter velofaríngeo
ser dosados para cada paciente, já que alguns podem sentir alguma
fadiga no início do treino com essa manobra. Esse procedimento te- reduzindo estases em seios piriformes.
rapêutico fortalece a musculatura supra-hióidea e, consequentemen- • Emissão dos fonemas /kl e IR!: aumentam a mobilidade de base pos-
te, a elevação da laringe. terior de língua e parede posterior de faringe e o contato entre essas
• Deglutição dura e múltiplas deglutiçães: a deglutição com força e estruturas.
repetida várias vezes favorece também a descida do alimento em
direção ao esôfago. Estratégias para o tratamento das alterações fonoarticulatórias
7. Exercícios de proteção de vias aéreas superiores:
1. Exercícios para redução das alterações fonêmicas: é importante, após
• Manobra postural de cabeça para baixo: aumenta a participação da a avaliação do quadro fonêmico do paciente, realizar o trabalho isola-
epiglote no fechamento do vestíbulo laríngeo e melhora fechamento do de cada um dos sons que apresentaram algum tipo de alteração.
de pregas vocais em virtude da pressão extrínseca.
plo'Jlvt.>', ',111
dI )1" 1111
0\ \ IV(Y,';OIIUI 0'1, PIO'jIVlJ'1:"~J'
lU'" , '" I'il
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Inicialmenle Lrubdlhasc com srl , ...In ,,(ltjllld,1 1n p'-lltWl d'. ( ont balho com o', d(II1\I1I" 'IOI'~' Para que o pacienLe possa ter maior por-
do aquele som na posição inici I, depois nél I medial c 1111011 pção de que o ar está sendo deslocado para a cavidade oral, po-
depois são introduzidas frases.
de-se colocar uma 'folha de papel sulfite na frente da boca do pacien-
Para pacientes que apresentem omissão de sons, como 8colIII'( te ou utilizar aparelhos como scape-scope. Esse exercício tem como
frequentemente nos pacientes, submetidos à glossectomia Ptllllo'1' objetivo reduzir a hipernasalidade e aumentar a pressão intraoral.
total ou após pelvectomias, é importante o emprego de compor: Com o aumento da pressão intraoral há uma maior precisão articula- ','
,I,
ções articulatórias, como, por exemplo, as que são sugeridas a seÇJll1I tória dos sons fricativos e plosivos surdos, que necessitam de um flu-
• /t, d. n. 1/ = dentes superiores encostando ,li
em lábio inferior ou 1/11 xo de ar intenso para serem produzidos. Compensações e adequa-
superior apoiado em lábio inferior. ção de outros pontos articulatórios também podem ser trabalhadas
• [s, z/ = lábios estirados, em forma de sorriso. em conjunto com o trabalho de aumento do fluxo aéreo oral.
• /ch, j/ = lábios em forma de bico.
1\. Melhora do padrão articulatório:
• /k, g/ = contração faríngea. • Sobrearticulação associada à redução da velocidade de fala: propici-
• /r/ = retrusão mandibular. am clareza articulatória e, consequentemente, maior ênfase no com-
Também incentivar o paciente a manter esse mesmo padrão (li
ponente oral da ressonância.
fala durante a conversa espontânea, para isso é importante também (,
trabalho com frases funcionais e simulações de situações de fala do
Próteses restauradoras e rebaixadoras de palato ~
dia a dia.
A adaptação de próteses bucomaxilofaciais tem-se mostrado como uma
É melhor que o trabalho fonoarticulatório inicial seja realizado dI \
rande aliada da fonoterapia no auxílio da reabilitação da fala, ressonância
forma individual, mas depois que as dificuldades articulatórias particu
vocal e deglutição, reduzindo, assim, o impacto funcional negativo das cirur-
lares já foram enfocadas, a experiência mostra que o trabalho realiz
do em grupos pequenos (duplas ou trios) pode favorecer o aperfeiço gias de boca, cavidade oral e orofaringe.
As principais próteses intraorais indicadas nessas situações são:
mento da fala e voz desses pacientes pelo estímulo, apoio e desafi
criados neste tipo de situação. No trabalho de grupo é possível a reali
Prótese oburadora de maxila
zação de jogos do tipo imagem em ação, porém utilizando apenas
Os defeitos criados pela maxilectomia podem ser reparados por meio de
fala; de leitura de histórias com diferentes personagens; de jograis
próteses obturadoras, ou ainda por reconstrução, utilizando-se transplan-
entre outros.
tes livres, transplantes microcirúrgicos, enxertos ósseos e retalhos a distân-
2. Melhora da modulação vocal: a modulação vocal também pode ser cia ou regional. A escolha do tipo de reconstrução dependerá da extensão
trabalhada tanto de forma individual, quanto em grupo, por meio de
músicas ou de frases interrogativas, exclamativas e afirmativas, ou ain- da cirurgia.
A prótese é ainda considerada como um dos melhores meios de reabilita-
da utilizando-se frases com expressão de diferentes sentimentos (ale-
ção nas ressecções de palato, por sua rápida execução, redução de custos, pos-
gria, tristeza, raiva entre outros).
sibilidades futuras de modificação e melhor controle oncológico.
3. Redução da hipernalisadade.
As próteses obturadoras de maxila são indicadas nas ressecções de
• Aumento do fluxo aéreo oral: solicitar que o paciente emita um som palato duro e de maxila. Essas próteses são confeccionadas em resina acrí-
com aumento de fluxo de ar, como se fosse um sopro. Iniciar esse trei-
lica rígida. Compõe-se de duas partes. A intracavitária é confeccionada de
namento primeiramente com os sons fricativos surdos, que apresen- forma oca, a fim de diminuir o peso da prótese, e a extracavitária corres-
tam naturalmente um maior fluxo aéreo; em seguida passar para os
ponde ao rebordo alvoolar, lon_"" '''''''relU l':ill'll(tI C)C'll\:)ivtllo do '0111'
dos dentes.
Ibult\,
1'llIltlnLo, a prótcscmrli~ indicada para os glossectomizados é a prótese
lI' ti ,,,dara de palato, que é confeccionada a partir da prótese superior to-
11111
pt\rcial, sendo realizado um rebaixamento do palato a partir de uma
1.li" i -m acrílico, que é anexada à prótese. Os principais objetivos do rebai-
I1\I Ii ',50: reduzir o espaço da cavidade oral; reduzir o tempo de trânsito
I li\, i liminuir estases alimentares na cavidade oral; melhorar a produção ar-
Iltltld\6ria e modificar as características ressonantais (Figs. 13-8 a 13-10).
rn.r.cullno t'
ju ',I!XU
111111 111 submctl _
1,1111.( tomie parcial, 6, à hcmiglossectomia, e 4 à glossectomia subtotal.
,'lu',lttlS de "fala (conversa espontânea e repetição de 18 sílabas) de paci-
lilfl'. com e sem prótese foram randomizadas, e a ressonância e inteligibili-
l,dl1 de "fala foram julgadas por 2 fonoaudiólogos. Também foi realizada a
"'111',(' espectrográfica dos formantes das sete vogais do português brasile-
"U r om e sem prótese, extraindo-se as médias dos três primeiros forman-
Fig.13-1O. Prótese rebaixadora de palato em in" Os resultados demonstraram que houve melhora significativa na inteli-
posição.
'1lllllidade de fala e de sílabas após adaptação da prótese rebaixadora de
1lllItllo. Não houve diferença estatística nos julgamentos da ressonância
1\ adaptação da prótese rebaixadora de palato em pacientes gloSS(11II I IHT1 e sem prótese. Existiu diferença significativa na situação com e sem
mi/ados parciais exige um pouco mais de atenção. Esses pacientes, Ili " 1'lóLese para o primeiro formante nas vogais lal, lei, lul e tendência esta-
resentarem uma língua remanescente, necessitam apenas de um nlflll H'.Iica na vogal 101; para segundo formante nas vogais 101, lól, lul e ten-
mo apoio ou contato do rebaixador de palato, para que este não intet fli ,Iôncia estatística nas vogais lei e Ii/; e para o terceiro formante nas vogais
ou impeça a mobilidade de língua. Por isso, é necessário que a moldag!'11I Itl/e/ó/, Assim a prótese rebaixadora de palato melhorou a inteligibilidade
do rebaixador de palato seja funcional para se adequar às necessidades dr !lrl fala espontânea e das sílabas dos pacientes glossectomizados. Também
fala e de deglutição de cada paciente. Normalmente, nesses casos, o rebill .iumentou os valores de F2 e F3 para todas as vogais e de F1 para as vogais
xador de palato tem sido confeccionado de forma plana, reduzindo apen,,', 101,lól, lu/, Isso gerou uma aproximação dos valores dos formantes da
a concavidade do palato duro, que pode servir de depósito de resíduos ali maioria das vogais junto aos valores de normalidade.
mentares, difíceis de serem eliminados pela língua remanescente.
Além dos dados já apresentados, a prótese rebaixadora de palato tam-
A literatura tem demonstrado a efetividade funcional do uso das prót bém pode melhorar a deglutição, ao reduzir o tempo de trânsito oral, dimi- 'b'
t
ses rebaixadoras de palato. Os artigos mais recentes nessa área são de Ok nuir estases alimentares em cavidade oral e recesso faríngeos e facilitar a
yama et al, 37 que tiveram como objetivo usar a ultrassonografia para avali. formação do bolo alimentar.
ar os efeitos do rebaixador de palato nos movimentos linguais durante a de-
glutição de pacientes glossectomizados e sua efetividade nessa função. Os
Confecção protética
resultados demonstraram que a média de duração entre o contato da lín-
gua-palato foi de 805,4 ms em pacientes sem a prótese e de 621,8 ms com As próteses podem ser confeccionadas em três momentos, no pré-operató-
o rebaixador de palato. A duração total do movimento lingual foi de 1612,2 rio, no pós-operatório imediato e no pós-operatório tardio:
ms sem a prótese, decrescendo para 1245,6 ms com a prótese. 1. Pré-operatório: a prótese confeccionada nesse momento é chamada
de imediata e é voltada para pacientes com ressecções de maxila. Sua
Outro estudo realizado foi conduzido por Carvalho-Teles et el., 12 que
avaliaram a influência da adaptação da prótese rebaixadora de palato na in- indicação normalmente ocorre quando o cirurgião-dentista é parte in-
tegrante da equipe multidisciplinar que atende o paciente oncológico
teligibilidade e na ressonância de fala e nas características acústicas espec-
trográficas dos três primeiros formantes das vogais orais do português bra- de cabeça e pescoço. Dessa forma, o paciente é encaminhado ao ser-
viço de Prótese Bucomaxilofacial ou à Estomatologia pelo cirurgião de
\Irllo tll'loHI() ((lIr\ fi '.IIIHIII No\'.
beça e pescoço, que incJicc.l e dolln
volLlintl() hl'l" 11" \(.)1 tlPi.· - - -- -.,
facilitando a adaptação da prótese no in traopere torto 10 uma prótese, como ocorre nos casos de glos-
dentista realiza a moldagem e confecciona uma plac
o Itllnia total. Nessas cirurgias, a prótese pode facilitar o trânsito do ali-
instalada no intraoperatório. Os principais objetivos dessa prol. lIunlu de cavidade oral para a faringe, que é extremamente lentificado
prevenir fibrose tecidual, restaurar contorno do palato, proL('w',
cirúrgica e separar a cavidade oral da nasal, facilitando a dccilltlll
a comunicação oral. \llllção fonoaudiológica durante da adaptação da prótese
2. Pós-operatório imediato: por volta do 7º dia pós-cirúrgico Ó IPr,1I o
11\110
mte a adaptação da prótese bucomaxilofacial, o fonoaudiólog acom-
da a troca da prótese imediata por uma nova prótese, tarnbóm fi 1 1\1lha e auxilia o cirurgião-dentista na moldagem e na adaptação funcional
1
mada de intermediária, que foi instalada no paciente rnaxilecíonu til) paciente à prótese: obturadora de maxila, obturadora faríngea, elevado-
do. Essa prótese normalmente é utilizada até a liberação médicu 11 it\ de palato, rebaixadora de palato e próteses mandibulares.
a confecção de uma prótese definitiva. A moldagem funcional de todas as próteses segue as etapas a seguir.
3. Pós-operatório tardio: indicada para todos os tipos de ressec 1IIllém primeiramente serão detalhadas as principais etapas de confecção
cavidade oral e orofaringe. Após 3 meses de pós-operatório está li 1111
(10 obturador faríngeo:
cada a adaptação da prótese definitiva, período esse que corresporul
1il etapa: confecção e fixação de um tutor metálico na região posterior da
ao tempo de cicatrização dos tecidos. Nos casos de indicação de rwlh
prótese. Este tutor normalmente está localizado na região de maior con-
terapia pós-operatória, o tempo mínimo para a confecção dessa pl(11
se é de, pelo menos, 2 meses após o término desse tratamento. tração entre as paredes laterais e posterior da faringe.
2ª etapa: colocação de um arcabouço de cera. O objetivo deste é preen-
A atuação fonoaudiológica deve ser integrada à reabilitação protéllt ,I
cher a cavidade interna do tutor além dos limites deste.
bucomaxilofacial, sendo ativa antes, durante e após a adaptação protétic •.,
3ª etapa: colocação do material de moldagem sobre o arcabouço de cera.
Os materiais utilizados para este tipo de moldagem podem ser resina resi-
Atuação fonoaudiológica antes da adaptação da prótese liente ou resinas de condicionadores de tecido ou ainda resilientes para
Antes do encaminhamento para adaptação de uma prótese dentária, é m' reembasamento. Esses tipos de materiais apresentam um escoamento
cessá ria a abertura bucal vertical, no mínino de 30 mm, e uma adequad.i lento e gradativo, proporcionando um tempo adequado para a molda-
abertura horizontal de, pelo menos, 60 mm, para possibilitar a moldagern
gem da região do esfíncter velofaríngeo.
da prótese pelo dentista e uma boa adaptação desse aparelho pelo pacient
• 4ª etapa: realização da moldagem funcional. Com a prótese em posição,
durante as funções de fala e deglutição.
o paciente é solicitado a deglutir líquido, líquido-pastoso e saliva para que
Exceto nos casos de maxilectomia, em que a adaptação da prótese já seja avaliada a presença ou ausência do refluxo nasal e de estases alimen-
pode ser feita no intraoperatório, nas demais cirurgias é preferível que este tares em boca e orofaringe. Em seguida é realizada a avaliação da voz. O
paciente já esteja sem sonda nascenteral. Isso é extremamente necessário
paciente é solicitado a realizar a emissão de sons que apresentam uma
principalmente nos casos de palatectomia mole, em que o obturador farín- maior mobilidade das paredes laterais e posterior da faringe, como as
geo é moldado justamente na região que dá passagem para a sonda naso- vogais li!, lul, os fonemas Isl e [z], contagem de números e sílabas con-
enteral, ou seja, entre as paredes laterais e posterior da faringe. Além da
tendo os sons fricativos e plosivos surdos, que necessitam de uma maior
moldagem não ser adequada, o paciente pode sentir incômodo, odinofa-
pressão intraoral.
gia e até vir a apresentar ulcerações com o uso da prótese obturadora farín-
fnl
RODUÇÃO
fi IlilLamento do câncer de laringe acarreta mitos e preconceito relacio-
1111( Ias com a presença do traqueostoma, da sonda ou da gastrostomia para
illmcntaçâo. dificuldades respiratórias, disfagia e disfonia, que limitam o
III «iorrte temporariamente e trazem sequelas definitivas. Além disso, o diag-
I ióvtico de um câncer acarreta o enfrentamento das ansiedades relaciona-
I L \5 com a morte, incurabilidade e limitação. A equipe multidisciplinar deve
.irolher o paciente, informando-o sobre os tratamentos possíveis e suas con-
',cquências quanto à cura ou ao controle da doença e aos meios para reabili-
tação disponíveis, além do apoio nutricional, emocional, auxílio e orienta-
ções nos cuidados básicos de limpeza e curativo. Muito além de cada especi-
.ilidade isolada que compõe esta equipe (cirurgiões de cabeça e pescoço,
torrinolaringologistas, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e fonoaudió-
logos), o atendimento conjunto, desde o pré-tratamento, demonstra ao pa-
ciente a integralidade da equipe que o auxilia, isso lhe oferece recursos
sólidos de enfrentamento da doença.
O câncer de laringe é um dos tumores mais comuns na região da cabe-
ça e pescoço, representando cerca de 25% dos tumores malignos que aco-
metem essa área e 2% de todas as doenças malignas. Esses carcinomas
têm sua etiologia fortemente associada ao tabagismo e ao etilismo."
L •
Nas laringectomias borlzontsls é comum que o pdcicnLc inicie ti 11'1' Ntl'l Iclril\(J
fonoaudiológica com o traqueostoma e uma via alternativa de nuln 1111111 melhor
1\ IIlrlntém cooso, C tl visco~idade ImpeUl":!yuc: "'"'lU 1'"'-"-- ,
(sonda nasogástrica ou nasoenteral ou gastrostomia).
1"11',o alimento pastoso não escoa facilmente. Esta condução mais lenta
Para um efetivo planejamento terapêutico, é importante que sejflll
1II'IITIite maior sensibilidade e controle das manobras de proteção utiliza-
zada uma avaliação completa. Informações com relação à realização dI' r
dioterapia também são importantes, uma vez que pode influenciar doi: ..
fanto no treino com a saliva, quanto com o alimento, é importante a
neira negativa o desempenho na deglutição. Fatores como diminui
11\ lIiL.ação do corante para facilitar a observação da saída pelo traqueosto-
habilidade de formação do bolo, inabilidade em mover o bolo através dtl I
I "ti, se o paciente apresentá-Io. Para cada mudança de consistência ou ma-
ringe, estases (principalmente em valécula e segmento farinqoesofáçk 11)
I\obra, deve-se mudar a cor do corante. Alimento mais frio e de diferentes
redução da elevação laríngea que altera a abertura do esfíncter esofági' II
'illbores proporcionam aumento da propriocepção. A oclusão da cânula é
superior." odinofagia pela mucosite são comuns durante e após o tml.l
Inportantíssima durante a fonação e o treino de deglutição, pois a presen-
mento radioterápico.
fi da traqueostomia sem oclusão diminui a pressão subglótica durante o
A avaliação inicia-se com a observação do sistema sensório-motor-orul,
It~chamento laríngeo. A oclusão da cânula proporciona o aumento da pres-
mesmo que a cirurgia não envolva a região, pois é possível que uma altor"
,;50 subglótica durante a elevação e o fechamento da laringe na deglutição
ção que não influencie de maneira significativa a deglutição, previamente,
impede a entrada do alimento ofertado na laringe remanescente.
possa exacerbar as dificuldades após a cirurgia. Devem ser avaliadas a fOI
ça, a mobilidade, a sensibilidade e a simetria de lábios, bochechas, língua I' Durante a deglutição, observar a eficiência do vedamento labial, impe-
palato mole. Avaliam-se também a presença e o estado de conservação do', dindo o escape anterior do alimento, o tempo gasto para a propulsão do
elementos dentários. Se ausente, se há prótese dentária e se está ou n N
limento (aproximadamente 0,5 segundo),8 a efetividade da ejeção, obser-
Outro importante aspecto a ser avaliado é a eficiência da tosse, pois alimento pelo nariz, como sinal de ineficiência do fechamento velofaríngeo.
glutição em repouso e em movimento. Consiste numa imagem radiogrMlr s possíveis locais de estases citados podem, ainda, ser referidos pelo pa-
,1('llle. Assim, se o paciente apontar como local de estase a região cervical
dinâmica, em que é possível visualizar todas as fases da deglutição, disClIII
da no Capítulo 6. .uucrior. inferiormente à mandíbula, sugere estase em base de língua ou va-
I/'( ulas: se apontar a região cervical anterior, inferiormente à quilha da cartila-
A FEESé realizada com a passagem de uma fibra óptica pelo nariz nl
I)!'m tireóidea, sugere estase na região do esfíncter esofágico superior; se in-
sua chegada na laringe. Este exame oferece dados da deglutição, principtll
Ilic:ar a região cervical, lateralmente à cartilagem tireóidea, seja de um ou de
mente da fase faríngea e da função das vias aéreas superiores e do trato c/I
.unbos os lados, indica recessos piriformes23
gestório superior, possibilita a avaliação da sensibilidade.18 O FEEST,qw'
consiste em estímulos com pulsos de ar calibrados na mucosa de aritenoi Nos pacientes que passaram pela laringectomia parcial horizontal su-
pracricóidea podem ser observadas: perda prematura, estase em valécula e
des, também foi citado como um importante instrumento para avaliar 0"
pacientes PÓs-cirurgia supraglótica ou supracricóidea, com ou sem a realiZei ios piriformes e penetrações na neoglote.24,25 Isso pode ser explicado
pela perda da sensibilidade pela secção de um ou ambos os nervos larínge-
ção de radioterapia ou esvaziamento cervical, pois avalia a sensibilidade il1
tralaríngea (reflexo de adução glótica).22 s superiores, alteração anatômica da base de línguajvalécula após a remo-
ção da epiglote, incompetência do fechamento da neoglote ou uma combi-
Durante a avaliação, o paciente pode apresentar penetração ou aspir.
nação dos três fatores. Ainda podem ser observados: alteração na retração
ção. Considera-se penetração quando o alimento entra na laringe, porém
de base de língua, na contração faríngea, na inclinação da epiglote, na ele-
não ultrapassa o nível das pregas vocais; e aspiração, quando o alimento ul-
trapassa as pregas vocais. vação hiolaríngea e na abertura cricofaríngea24
A terapia pré-cirurgia, com o objetivo de fortalecer a musculatura envol-
O paciente pode apresentar penetração/aspiração em três momentos:
vida na prevenção da aspiração traqueal e de ensinar as técnicas de degluti-
• Antes da deg/utição: há escape posterior do alimento, e o paciente apre- ção, mostrou-se efetiva na retomada da deqlutição.'? Porém pode ser inviá-
senta penetração ou aspiração antes que seja eliciada a fase faríngea da vel de acordo com as condições do paciente, como, por exemplo: compres-
deglutição, ou seja, a laringe ainda encontra-se na posição de repouso e são tumoral que impede o fluxo do alimento da boca ao esôfago, dor para
desprotegida. Pode Ocorrer por falta de controle motor oral do bolo ali- deglutir, dificuldade respiratória etc.
mentar ou por dificuldade em eliciar a fase faríngea da deglutição por fal-
ta de sensibilidade. Reabilitação
• Durante a deg/utição: há pentração ou aspiração na fase faríngea da de- Para a reabilitação após as laringectomias, a terapia fonoaudiológica será
glutição. Ocorre por ineficiência no fechamento laríngeo. com base nos dados obtidos em avaliação. É importante que o paciente seja
reavaliado a cada sessão.
• Após a deg/utição: por estase do alimento e posterior penetração ou aspi-
ração após a fase faríngea da deglutição, ou seja, há penetração/aspira_ Como a maior dificuldade observada nas laringectomias parciais é na
ção após a laringe ter voltado a sua posição de repouso e as pregas vocais fase faríngea, pela perda das estruturas que promovem o fechamento larín-
encontrarem-se abertas para a respiração. geo e a redução na movimentação hiolaríngea, é importante iniciarmos o
treino, tanto de saliva, quanto de alimento, com manobras de deglutição.
% "Vi 11" d\IJlIl T1 qrilu
"pll".l '111 di' tl',pil.l\IIO, mil', qUI I1d()
I
As manobras modificam a fisiologia da fi.\~ü Irldl1yUd dt1 clC'tlll1li IId\~t\o pll\llHlIltll, nao ílprescntando pMumonia. Isso SU
rando o controle do paciente sobre essa fase.' ~ Pode-se inici 1 \
I)', pncientes tem um bom re'flexo de tosse
e uma e'ficiente ação oliar
a deglutição supraglótica ou supersupraglótica (principalmcnt 111
1\1111
(I lraqueobrÔnquica.20'?~
das laringectomias parciais horizontais supracricóideas), par
1I1.tnobras de proteção de vias aéreas inferiores são: supraglótica, su-
melhor fechamento laríngeo, associada às deglutições múltiplas O
1.111)1.
Ig\ótica, manobra de Mendelsohn e deglutiçã dura; elas podem
bras de limpeza, para prevenir aspirações durante e após a degluli,tlll
I 111\\lItldas isoladamente ou associadas umas às outras. A manobra su-
Na laringectomia parcial horizontal supracricóidea, especifica til'''
I 1IIIolica 'fecha a glote antes e após a deglutição. A supersupraglótica te-
deve-se iniciar o trabalho com exercícios indiretos de esforço a fim d, 1101 IIlolC e supraglote antes e após a deglutição. A manobra de Mendel-
mentar a ação esfinctérica da neoglote para a proteção de vias aérC'd\,III
\lIllnantém a laringe alta por mais tempo, e isso propicia que a abertura
rante a deglutição, contribuindo consequentemente para uma maio I til';
111 I 11l1.,cul cricofaríngeo se prolongue, e o alimento escoe para o esôfago,
ximação das estruturas durante a fonação. São indicados os exerckk )'. 11 o
11,llIdo estases. A deglutição dura aumenta a pressão de ejeção, e o ali-
empuxo ou a deglutição incompleta sonorizada com a produção de Ii II t
11\111\10
passa pela fase faríngea mais rapidamente com maior pressão.
mas plosivos sonoros seguidos de vogais. Em ordem crescente, os CX(I!II
uando na avaliação percebemos que o paciente não apresenta condi-
cios de em puxo que exigem maior esforço para estimular a supragloto '11111
fi\l) de iniciar o treino da deglutição, iniciamos a terapia indireta com deglu-
mãos de padre ou mãos em gancho, puxar a cadeira, socos no ar e, pOI l'illi
III,dO de saliva e exercícios que promovem contato entre estruturas rema-
mo, empuxo na parede.
I \I ",c'entes e reconstruções. Orienta-se o paciente a realizar os exercícios in-
Na terapia indireta podem ser realizados exercícios que trabalhem (lI,
ti li (\tos de 3 a 6 vezes ao dia, repetindo o movimento de 15 a 30 vezes.
vação e anteriorização laríngea (Mendelson, manobra de Shaker), conu.i
ção de parede faríngea (Tongue Holding), aproximação de aritenoidoç.)
FERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
com base de língua (sons hiperagudos) e força de ejeção. A rotação de CtI I. Abraão M, Santos RO, Cervantes O. Laringectomias parciais. ln: Carrara de Angelis E,
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ARINGECTOMIA
,... TOTAL- ,...
"
111'11Irllll'lI di' dtlKltlli\'No 1110diricada com bário panl
VALIAÇAO E REABILITAÇAO
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O câncer de laringe é um dos mais comuns a atingir a região da cabeça e
pescoço, representando cerca de 25% dos tumores malignos que acome-
I 1'/1/1. M IIllidimensionalassessmenr of voice after verticnl
Lem essa área e 2% de todas as doenças malignas do organismo. No Brasil,
"NOl! wlt 11 nnrmn] und total laryngectomy voice.] Voice200K
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metidos à laringectomia total pelo grupo de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
11H,II'/ 111. FUl1ctional outcornes after supracricoid
) I SC'JlI.; I 11 (9):1558-64. do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG,
tendo sido operados 40 pacientes no Hospital da Baleia, 32 no Hospital das
Clínicas da UFMG e 29 no Hospital São João de Deus em Divinópolis. Des-
tes pacientes 94 (93,1 %) eram do sexo masculino, e 7 (6,9%) do sexo femi-
nino, com média de idade de 59,8 anos. Com relação à localização do tu-
mor, foram encontrados 25 casos de tumor em supraglote, 19 em região
glótica, dois em subglote, 21 casos de tumores transglóticos, 21 em hipofa-
ringe e 13 em base de língua. Por fim, com relação às cirurgias realizadas,
48 pacientes foram submetidos à laringectomia total, 37 à faringolaringec-
tomia total, oito à glossectomia de base com laringectomia total e oito à
glossectomia total com laringectomia total, além do tratamento cirúrgico
do pescoço.
O câncer é uma das doenças mais graves que acometem a laringe, atin-
gindo principalmente o sexo masculino, entre 50 e 70 anos, tendo o taba-
285
gismo e o etilismo como o principal fator de risco." IJoc.JCIt1
como fatores de risco para o desenvolvimento de câncer nessa r 1\1.\11",110 ronotlucliolOUI'íI oeve:! ocorrer em dois momentos distintos -
tor genético, a exposição ocupacional, o refluxo qastroesotáçic 1I11"~ do proccdimenLo cirúrgico, a fim de verificar alterações estruturais e
111111Itll1élisdo sistema estomatognático, desempenho das funções neurove-
deficiência e o HPV.
1I111d11Vt1S, habilidade global e comportamentos de comunicação, assim
Na história clínica do paciente, o primeiro sintoma é indicativo
I 1111H) características de personalidade inerentes ao paciente, além da profis-
zação da lesão, sendo a odinofagia e a disfagia sugestivas de tumor '01'1 Ir
11111 \ 1\ tividades de lazer; e após a laringectomia total, quando se investigam
glótico; a disfonia, de tumor glótico; e a dispneia, de tumor infraqlótl: ()
,('quelas anatomofuncionais decorrentes do procedimento operatório.
sintomatologias apresentadas pelos pacientes do Instituto Alfa de (;,\',Ir
1\ avaliação das estruturas do sistema estomatognático envolve pesqui-
enterologia do Hospital das Clínicas da UFMG foram: 33% com di~ldql
\ d(' aspecto, sensibilidade, tônus. força, precisão e coordenação de movi-
70% com rouquidão, 33% por dispneia, 23% com otalgia e 40% com I )l1r 1111111l0S de língua, lábios, bochechas, mandíbula e palato mole. A avaliação
da de peso, sendo que cada paciente poderia apresentar mais de um !">illlI
11"'1 funções de sucção, mastigação e deglutição se faz necessária para pos-
ma.
"'11m comparação após a cirurgia, contudo não se devem valorizar as alte-
Apesar de ser uma técnica eficiente do ponto de vista oncológico O 1"lr Id(,,()CS em virtude da localização e do tamanho do tumor.
cerca de 60% dos pacientes com câncer de laringe sobreviverem apó. I Com relação à avaliação da habilidade global de comunicação, desta-
anos de tratamento, a laringectomia total resulta em um importante plll ..un se quatro aspectos a serem avaliados: articulação dos sons, em que são
blema social em virtude do impacto anatõmico, funcional, estético e elllll ()I)sideradas a precisão e a presença de sotaques e regionalismos; fluência
cional para o paciente, principalmente pelo traqueostoma definitivo e a 1,)('1 d,\ fala, no que se refere à velocidade habitual e aos estereótipos de apoio;
da da voz laríngea. Com o objetivo de desenvolver e recuperar a cornunk.i IIl1guagem oral, em que a preocupação concentra-se na clareza de ideias e
ção oral desses pacientes, houve motivação, nos últimos 100 anos, do d(' 111\ coerência do discurso; e na comunicação gráfica, os principais aspectos
senvolvimento das laringectomias parciais,15,16 e mais recentemente, d(1 'II~Oa habilidade e a rapidez do paciente em comunicar-se pela escrita.
desenvolvimento dos Protocolos de Preservação de Órgãos, para casos Quanto às características de personalidade, observa-se o modo de agir
pecíficos e selecionados. reagir, a expansividade e a capacidade de lidar com as situações; no que
As alterações causadas por este tipo de cirurgia podem envolver altera refere à profissão, identificar se faz uso profissional da voz. Sobre as ativi-
ções físicas temporárias ou definitivas, com comprometimento em maior dades de lazer, reconhecer se existirão algumas limitações, como instru-
2
ou menor grau da imagem corporal e das funções de respiração, degluti mentos musicais de sopro e atividades aquáticas. ,6,36
ção, digestão, gustação, olfato, fala, voz e, de acordo com a extensão do Na avaliação pós-operatória realiza-se a anamnese específica, que tam-
esvaziamento cervical, alterações na mobilidade de ombros e pescoço, com bém deve explorar as questões emocionais, sociais e ocupacionais após a
encurtamentos musculares que podem resultar em dor, alterações postu- laringectomia total, e qual o tipo de comunicação o indivíduo está utilizan-
rais e dificuldade de desempenhar tarefas do cotidiano, comprometendo do (articulação, gestos, escrita ou fala bucal). No exame, quanto às estrutu-
atividades sociais e profissionais. 21,30,34 ras do sistema estomatognático, mudanças no aspecto, simetria, postura,
sensibilidade, tônus, força e mobilidade serão investigados. Devem-se exa-
INTERVENÇÃO FONOAUDIOlÓGICA minar, ainda, sensibilidade e mobilidade da cintura escapular e presença de
edema facial, trismo, de dentes ou próteses dentárias parciais ou totais. Os
A atuação fonoaudiológica na laringectomia total compreende orientações
casos que apresentam sequelas cirúrgicas de mobilidade cervical e de
no pré- e pós-operatório imediato, avaliação e reabilitação fonoaudiológica
membros superiores e/ou edema da face, decorrentes de esvaziamento
propriamente dita, sendo que todo o processo de intervenção pressupõe o
cervical, devem ser encaminhados para o fisioterapeuta.
acompanhamento multiprofissional.
Na avaliação das 'funções, cuaruo à rospiraçdo, vCt'ificil
estoma, presença de cânula, de ruído respiratório e d ,',.1'. 111111"'" il~(J("1 pOd(lrt\ tül dill'lUIIl
bem como a sua coloração e estratégias de proteção e limp ,'} I\ICIlm~ estudos iõm evidenciado que, mesmo com o po-
Quanto à habilidade de comunicação, é verificado se o moi
lentes com sintomas de disfagia, na avaliação video-
I',e
1111' ópica da deglutição foram observadas alterações funcionais e ana-
do após a laringectomia total favorece a inteligibilidade do diálo
.1I ti. 01', na 'fase preparatória-oral e faríngea em 64,3% dos exames.5,32
rem mecanismos que interferem na compreensão, como ruído tlt' ,,,;[
associado, articulação travada, grafia ininteligível, ou se o paciente' 1'/1
f\'. mudanças na anatomia no trato aerodigestório superior, pós-Iarin-
,:Ifllnia total. além das alterações criadas na respiração e fonação, po-
tra-se em isolamento, não utilizando qualquer recurso disponível. 1\ 1I11
!t'lfl e "usar disfagia em 10 a 58% dos pacientes. Pelo fato de não haver
da de auditiva deve ser investigada, e, quando são identificadas qu('lxII
ditivas pregressas e/ou déficits auditivos, o paciente deve ser encaml/ li,
iilidade de aspiração do bolo alimentar
1111',',11 ou da saliva pela separação
ao otorrinolaringologista para avaliação mais detalhada. '/I,'. tr.itos aéreo e digestório, os pacientes não referem queixas relacio-
IIltl/oI', com a deglutição, sendo este um sintoma subvalorizado. No entan-
A habilidade de alimentação deve ser averiguada dil 'Ir'IH
com as
1'1,muitos pacientes realizam adaptações na alimentação que, na maioria
consistências, com objetivo não somente de verificar a possibilidade c/lI '"
iI,1', vezes, implicam em restrições alimentares.ê-
sença de disfagia, como também de avaliar a coordenação desses III!lvl
1\ queixa que o laringectomizado total pode apresentar quanto à deglu-
mentos, o que será importante para o desenvolvimento da nova fOrttlil d
1I',tlo refere-se geralmente à dificuldade de passagem do alimento da farin-
comunicação. Na avaliação da mastigação observam-se a captação, () ,Ir"
lI!' para o esôfago. Tal fato pode ocorrer por estreitamento da região do
plitude e os movimentos mastigatórios, o preparo do bolo e a contei I~,l.
ill'Jmento faringoesofágico (SFE) em consequência da retração cicatricial
oral e na deglutição, a ejeção do bolo alimentar, sinais de perda premé1tll/
e estases em estruturas remanescentes.3 .ipós a reconstrução cirúrgica da região ou da base da língua, ou por seque-
1,1da radioterapia.o'
A disfagia após a laringectomia total pode apresentar-se de forma !,III
A avaliação específica da disfagia se faz necessária, levantando-se ques-
tomática ou assintomática, dependendo do tipo e grau de alteração. OS c/I.
toes como o início e a evolução da dificuldade de deglutição, sinais e sinto-
túrbios da deglutição nesse grupo de pacientes podem ser caracterizadu-,
mas associados, como ocorre com a alimentação atual, se há utilização de
por diferentes causas, tanto anatômicas como funcionais, em virtude do
.ilqurna via alternativa de alimentação, qual a consistência e o volume utili-
tipo de reconstrução ou da associação dos efeitos da radioterapia e/ou c/li
lados, assim como especificar os utensílios usados. Durante a oferta de ali-
mento observa-se a integridade funcional das fases da deglutição, e, peran-
te alguma incerteza no diagnóstico, exames de imagem, como a videoen-
doscopia e videofluoroscopia da deglutição, devem ser solicitados para con-
tribuir na identificação da disfagia.
No pós-Qperatório são retomadas as informações dadas no pré-operatório, [unções de mastigação e deglutição, como ocorre nos casos das laringecto-
que, em virtude da grande ansiedade e da necessidade de preservação da saú mias totais. Para tanto, o fonoaudiólogo pode estabelecer mudanças de
de emocional, não foram bem compreendidas ou assimiladas pelo pacient~, consistências, volumes e temperatura dos alimentos, como também propor
necessitando de um enfoque secundário. Devem-se retomar as mudanças fun estratégias de reabilitação propriamente ditas, como exercícios funcionais e
cionais decorrentes da cirurgia e as possibilidades de reabilitação. manobras facilitadoras da deglutição.1,17
33
Adaptação de prótese dentária pode ser requerida para otimizar a dinâ-
No serviço de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas/UFMG, a reintro.
mica da mastigação. Nos casos de xerostomia, o paciente é orientado a in-
dução da alimentação por via oral é realizada no 7º dia após a cirurgia, caso
gerir alimentos mais úmidos e tomar líquidos durante as refeições. Vale lem-
o paciente evolua sem intercorrências, período este estimado para cicatriza-
brar que a xerostomia muitas vezes é irreversível, dependendo dos danos
ção da ferida cirúrgica. Assim que a ingestão por via oral tornar-se satisfató-
sofridos pela ação da radioterapia nas glândulas salivares, sendo necessá-
ria, retira-se a sonda de alimentação, e inicia-se a reabilitação vocal. Vale sa-
rio, em muitos casos, o uso da saliva artificial.
lientar que a decisão sobre a retirada da sonda de alimentação ocorre em
parceria com a equipe de Nutrição.
r.inlr.r~~rnnTI"'-' ~----
[jmukldo pUI Illl'io do 0111110,,1'.',lIfl ir nl\,\ IJ,II)(O', IIldi< (", d!' '.IIU"'.',1l d(T1Tli1nTrnl'1\7'''~'----~-----
gia que evita a passagem do alimento é a oclusão digital da 'frSlllllll , 111 '~\Ibmetidos à ressecção completa da laringe.
sos extremos, o fechamento da mesma pode ser necessário. A tlclillll \r~s últimas formas de comunicação expostas serão descritas com
uma prótese traqueosofágica na fístula reduz em muito a chance di' I,r •.,1001,1('lalhamento na que se refere ao ensinamento e aOS aspectos posi-
aspiração. Tal dispositivo será mais bem abordado neste capítulo '111111111 , " "0 ,. limitadores na aquisição e no desenvolvimento de um nova meio de
mencionada a reabilitação vocal por meio da voz traqueoesofáçku
11" \lllrlO vocal alaríngea.
É importante salientar que, apesar da ausência do risco de tl'd IIr
nas laringectomias totais, a reabilitação da disfagia cursa no sentido ti sofágica
nimizar as consequências da dificuldade de deglutição decorrentes cloIllr ",,'I'canism da produção da voz esofágica depende da passagem do ar
o
gia e/ou da radioterapia. 111 "",niente do meio externO para o esôfago, procedimento que exige con-
11',1<'motor e condições fisiológicas adequadas- O ar deve passar pelo seq-
Quanto à voz, a intervenção fonoaudiológica deve promover urn.: li'
11'1'11 to faringoesofágico (SFE),constituído pela musculatura constritora infe-
forma de comunicação efetiva e adequada para o laringectomizado l(lI,,1
,I[I(da faring , cricofaríngeo e esofágica superior, ser armazenado no esôfa-
fim de que este possa participar ativamente da conversação com os filllllll e
'1", entre as vértebras cervicais (5 e C7, e retomar vibrando o SFE, gerando
res e as demais relações sociais e profissional.
Os meios de comunicação podem ser a escrita, a fala bucal, a lallt IIJ V()I esofágica. s
A pressão do SFE em repoUso nos bons falantes esoiágico é descrita
eletrônica, a voz esofágica e a voz traqueoesofágica. r-m torno de 13,t mmHg e foi menor do que nos sujeitos que não adquiri-
A comunicação escrita é um recurso desenvolvido pelo próprio pacl('1 I I.,m a voz esofágica, que foi de 29,6 mm Hg, 41 indicando que a pressão me-
te, como forma mais rápida de comunicação no pós-operatório recente, <'i I nor facilita a passagem do ar pelo SFE. Durante a retenção do ar para a pos-
quanto os outros meios não são adquiridos. Todavia, por vezes, essa não I terior produçãO da voz, ocorre aumento da amplitude de contração da
uma forma de comunicação eficiente para alguns indivíduos, seja por dlll ressão intraesofágica (45,3 mmHg), sem a ocorrência de eructação ou
culdades com a ortografia ou por restrições na alfabetização.
ropagação em direção ao estômago" O reservatório de ar pode ser to-
do o esôiag ou a sua porção superior. Em um estudo observou-se, na
A fala bucal também é um recurso desenvolvido pelo próprio laring o o
maioria dos indivíduos, a insuflação da porção superior do esõfag '8 Já
tomizado total na tentativa de utilizar o mecanismo fonoarticulatório anti
durante a produção da voz esofágica, em outro estudo, a pressão do esô-
go. Articulação fechada, velocidade de fala aumentada e ambientes ruido- fago foi maior entre os falantes esofágicos do que naqueles não reabilita-
sos são condições que prejudicam a comunicação por esse meio. dos por esse meio, 24.6 mmHg e 12,9 mmHg, respectivamente." O com-
A laringe eletrônica é um aparelho que, ao tocar a região cervical, per- primento do SFEtambém foi investigado, e os estudos indicam que SFEcur-
mite ao paciente se comunicar, com aprendizado rápido, sem a necessida- to, entre 7 e 20 mm, promove qualidade vocal melhor do que segmento
de de muitas sessões fonoaudiológicas, em contra partida o custo e a quali- mais 10ngo.'.18 sendo necessário menor esforço de ejeção do ar para vibrar
dade vocal são fatores que restringem o seu uso entre os laringectomiza-
o SFE mais curto.
dos totais.
11\ I di" \I \ idol 01I 111111'11 'I 'li'" \0 UO I TI('( tllll!JIIIU ~' '" """ , , I" .. ' , . I\lt" dI\ I1\
Para a introdução dO ar n nsonan'nl, podu ocorrer ru(do de estoma. em razão da inspiraç"
do ar, aspiração e injeção. , interferindo na qualidade da emissão.
O método de deglutição de ar, descrito por Gutzmann (1908), conslst Vale destacar que, na 'fase inicial do ensinamento, é importante que o
em introduzir o ar por meio do mecanismo da deglutição, e assim que o 1,1 pllciente seja encorajado a treinar pelos três métodos de introdução do ar
ringectomizado total perceber sua introdução no esôfago, deve expulsá lu "O esôfago, já que os melhores falantes utilizam técnicas mistas. Com o de-
emitindo uma vogal. Para tanto, o paciente deve puxar o ar pela boca,
orrer do tempo, a escolha do melhor método a ser empregado em cada
deglutição deverá ser incompleta. Pistas proprioceptivas, como apoiar o
sso dependerá, exclusivamente, da facilidade do paciente.
dedos na região e ausculta cervical, podem auxiliar na percepção da enttll
O tempo de treinamento inicialmente deve ser pequeno, aproximada-
da do ar no esôfago e o momento de retornar para vibrar o SFE, evitando
mente 15 minutos por vez, repetido várias vezes ao dia, e gradativamente
que o ar seja deglutido totalmente e percorra até o estômago. A principal
umenta-se o tempo de acordo com o sucesso na aquisição da nova voz
vantagem do método é a facilidade de compreensão do mecanismo; POI
outro lado, a fala pode apresentar lentidão, já que a cada novo suprimento laríngea. As primeiras emissões conseguidas de vogais ejou sílabas logo
de ar o paciente precisa parar, inspirar pela boca e realizar os movimentos devem ser substituídas por interjeições e palavras monossílabas, a fim de
de deglutição. Outra desvantagem é o aparecimento dos c/uncks (ruídos d( promover funcionalidade à comunicação esofágica, o que auxilia na redu-
deglutição) e das grimaças faciais (movimentos com a face na tentativa d" ção da ansiedade do paciente. Durante o processo de reabilitação, deve-se
engolir o ar). progredir com o número de sílabas das palavras até chegar à conversa es-
O método de aspiração, de inalação ou de sucção do ar, descrito por pontânea.
Seeman (1926), consiste em introduzir o ar no esôfago por meio de movi O aumento do tempo máximo de fonação e a redução da latência en-
mento de sucção contínua e forçada com a boca aberta; ao passar o ar pelo tre a entrada do ar no esôfago e a emissão são metas a serem a\cançadas
SFE, o paciente deve retorná-Io emitindo uma vogal. Ressalta-se que a pres- no processo terapêutico. Tensão e esforço à fonação devem ser impedidos
são torácica influencia a pressão intraesofágica, dessa forma é indicado co- durante o treino a fim de não ocorrerem emissões com qualidade ruim ou
meçar a introdução do ar juntamente com uma inspiração pulmonar pro-
aquisição da voz faríngea, que possui como característica voz tensa, aguda
funda, para que a abertura do esôfago seja facilitada por meio da redução
da pressão no esôfago. O ar é sugado para dentro do esôfago pela diferen- e desagradável ao ouvinte.
A reabilitação da fala esofágica apresenta vantagens como voz mais fi-
ça entre as pressões da cavidade oral e esôfago. É o método que mais exige
siológica e natural e a não necessidade de manutenção ejou utilização das
controle muscular do paciente. A vantagem desse método é a não necessi-
dade de selamento dos lábios, promovendo fluência ao discurso do falante mãos. Como desvantagens destacam-se o tempo de aprendizado prolon-
esofágico. gado em comparação com outros meios, altos índices de insucessos, apro-
ximadamente 60% dos casos, e dificuldade para diferenciar o traço de so-
O método de injeção de ar ou método holandês, descrito por Moolena-
ar-Bijl (1953) e Damsté (1958), consiste em duas técnicas: injeção por pres- noridade dos fonemas. Um estudo sobre a reabilitação vocal de 65 larin-
são glossofaríngea e injeção consonantal Na injeção por pressão glossofarín- gectomizados totais revelou que 87,7% dos pacientes adquiriram voz eso-
gea a língua funciona como um pistão, comprimindo e injetando o ar no esô- fágica, embora 47,4% se comunicassem por esse meio, e o período de rea-
fago com um movimento forte e rápido. Já na injeção por pressão consonan- bilitação foi maior que 6 meses para 66,7% dos casos.'?
tal, utilizam-se as plosivas surdas jpj, jV, ou jkj, associadas à vogal jaj, emi- Vários fatores influenciam a aquisição da voz esofágica, como condições
tindo assim vários Ipaj de forma rápida, sendo que o ar deve ser inspirado relacionadas com o ato cirúrgico, alterações fisiológicas pós-operatórias, ra-
pela boca a cada nova emissão da sílaba; esse mecanismo produz maior tur- dioterapia, estado físico do paciente no pós-operatório, alterações psicológi-
bulência e pressão de ar, que é direcionado para o esôfago e, ao ser expulso, cas e adaptação psicossocial35 Dentre os fatores anatômicos destacam-se a
produz a voz esofágica. O método resulta em fala fluente e encadeada, mas
1:,1\11<''1('11\ 111 l\llllllllll IltI {IIvlli,HI
estenose do esôfago, barra do crlcolarfnçco. do
1161111tl hloto, ff~lllld,
são operatória e recidiva tumoral. Hipotonia, hipertonia e espasmos 110 1111111111\ctomizudo
lOI"\.
aparelho é movido
1111 b bateria ou à pilha, tem uma membrana na sua
são alterações funcionais que interferem na aquisição da voz esofáglc 111I
1II'Inidade superior que vibra quando ligado e, acoplado na região cervi-
A incapacidade de reter ar e de aumentar a pressão intraesofágica tlilh 1II
I, IJC'raa voz. Uma alternativa é posicionar o aparelho na bochecha para
ou impede o aprendizado da voz esofáqica.!"
II p"tientes com pescoço que não apresente condições anatômicas e/ou
Os fatores emocionais e sociais, como excesso de ansiedade, a fdl\.1 11
I1II\I lonais, como, por exemplo, fibrose (Figs. 15-4 e 15-5).
motivação, depressão, falta de apoio familiar, isolamento social, 011',111
mento inadequado, vergonha da voz esofágica, não aceitação da nova ( ("
dição e da nova imagem corporal, são aspectos que devem ser conskh»
dos durante o processo de reabilitação.
Laringectomizados totais que não conseguirem realizar emissões C~I("
gicas, em até 1 mês, devem ser reavaliados pelo cirurgião de cabeça c 111
último é para quem já se comunica. No total são seis níveis, e essa prática visd
a permitir intervir de forma precisa nas habilidades e dificuldades de cada
grupo, realizando estratégias coerentes e passíveis de serem realizadas no nf,
vel que o paciente se encontra no aprendizado. Outra vantagem que se pod
apontar quando se agrupam os pacientes de acordo com as suas habilidade
de aquisição da voz esofágica é que se minimiza a frustração daqueles com
maior dificuldade no aprendizado, e estes não são expostos perante os me
Ihores falantes.
fluência e velocidade de fala adequadas e eliminar qualquer tensão 11<11/ o ar pulmonar é direcionado para o esôfago por meio da oclusão do es-
vimento associado ao corpo ou à face. torna, facilitando a vibração do SFE. Contudo, o risco de broncoaspiração
de saliva e alimento é alto, uma vez que a passagem desses conteúdos é li-
Como o aparelho gera som em uma única frequência, frases interrou
vre/ não há barreiras mecânicas para impedir. Tais técnicas tiveram seu
tivas podem não ser reconhecidas pelo ouvinte, para tanto o falante deVl'I
.iuqe nas décadas de 1980 e 1990 e atualmente foram substituídas pela
utilizar algum recurso que indique ao interlocutor que ele está fazendo lIl''''
Ildaptação das próteses valvulares na fístula entre a traqueia o esôfago,
pergunta, tal como "eu gostaria de saber ...'', Outro aspecto que pode dI'
hamadas de próteses traqueoesofágicas, o que minimiza o risco de aspira-
mandar intervenção é quando o paciente apresenta articulação fechada (lIl
ção (Fig. 15-6). Para tanto, a prótese tem em sua extremidade uma válvula
imprecisa, comprometendo a inteligibilidade de fala. Nesse caso, trai lil
unidirecionallocalizada na parte que fica no esôfago, que impede a passa-
lha-se com exercícios de sobrearticulação e ampliação dos movimentos aru
culatórios, associados às pistas visuais, proprioceptivas e auditivas. gem do alimento do esôfago para a traqueia (Fig. 15-7).
As principais vantagens desse meio de comunicação são o aprendizado As próteses traqueoesofágicas tiveram seu uso mais difundido e amplia-
miliar, social e profissional em um curto período. Como desvantaqerr tador. A adaptação da prótese pode ser conseguida no momento da larin-
têm-se: a qualidade vocal, que é monótona e robotizada, chama atenção gectomia total (colocação primária) ou após a sua realização - adaptação
do interlocutor, exterioriza a mutilação, o ruído do aparelho pode mascarar tardia (secundária). Essa possibilidade a torna um recurso vantajoso, princi-
a fala, exige destreza manual e limita a movimentação de uma das mão ..•,
custo moderado e, quando danifica o aparelho, o usuário fica com o seu
meio de comunicação prejudicado momentaneamente.
É importante ressaltar que a escolha sobre o uso da laringe eletrônica
deve ser do paciente, e este deve ponderar sobre os benefícios que lhe po-
dem trazer nos convívios familiar e social, mas ele precisa se sentir confortá-
vel com o seu uso. A crença que a eletrolaringe impede ou atrasa o aprendi-
zado da voz esofágica não é verdadeira.
Esse recurso de comunicação não deve ser indicado para os pacientes
laringectomizados totais que apresentarem trismo, fibrose importante da
região cervical e se a bochecha não for um bom lugar de adaptação do apa- Fig.15-6. Prótese na fístula traqueoesofágica -
imagem cedida pelo MZ Medica\.
relho. Pacientes com alteração cognitiva que impossibilite aprendizagem
dbl'lld c..\\lri1i1
xpiração forçada para a íonação.
In1\ 11 xllndo que o or saa pnra o meio externo, possibilitando a sua passagem
p.lI" o esôfago. O custo alto e a dificuldade de adaptação da válvula por par-
li! de' alguns pacientes ainda têm sido as causas do pouco uso da mesma. In-
dlvlduos hipersecretivos e com problemas respiratórios não são candidatos à
tlddptação da válvula de auto-oclusão (Figs. 15-8 e 15-9).11
ções interdisciplinares.8
QUALIDADE DE VIDA A situação de trabalho em grupo constitui-se numa alternativa de inter-
venção ao atendimento individual,29 pois esse tipo de atendimento permite
Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualidade de vida refere-se à
troca de experiências, dificuldades e ajuda entre os participantes do grupo.
percepção do indivíduo acerca de sua posição na vida, no contexto cultural e
Toda e qualquer possibilidade de comunicação deve ser incentivada, já que
dos sistemas de valores em que vive, e com relação a suas metas, expectati-
111111'11" i\ 1'1\, ('111111111 .11 i\ IIp,l'lI~ I':, i\ kXlllld, I' .Il' M 1'I,tI, i\ lill YIlf',l'IIII'OI '"11111'11111111
a integração social fica muito dificultada quando há hmltcs tkl cOlrllllli( ,I 1'lIol'tlVCII\\HH IIIIIIIIIIIP, 11'1111 qllldlly 111' Ill'l:,IlfJPl (;111/1'
Nr.l' 20()1j;2S(4): I <)(), %.
oral. O trabalho em grupo proporciona troca de experiências qUQ 11jl Id,l 1\l\rl'OB i\ PII, 1'01'111" J< }, UIllll.1" t) 1\ 1'/ al. Auwperccpçi\o da desvanti\gem vocal (V LJJ) c
qUltlkllldc de vldll 1'('1I11'l0l1IUIII ~ dC!J;luliç:i\o(SWAL-QOL) de pacientes laringectomizados
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zar deve ser do paciente, e não do terapeuta. Também é importante salientar
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que a escolha de determinado meio de comunicação não implica necessari 18. Fouquet ML, Gonçalves JA, Behlau M. Relation between videofluoroscopy of the
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mente que essa será definitiva. Caso haja possibilidade ou desejo por part 19. Furia CLB, Mourão LF, Carrara-de-Angelis E. Reabilitação fonoaudiológica das
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fonoaudiologia no câncer de cabeça epescoço. São Paulo: Lovise, 2000. p. 227-38.
O fonoaudiólogo deve ser, portanto, um facilitador, auxiliando no co- 20. Gielow L Reabilitação fonoaudiológica da disfagia em pós-operatório de cirurgia de cabeça
nhecimento e na compreensão de todos os recursos disponíveis e ajudando e pescoço. In: Furkim AM, Santini CS. Diifagias orofaríngeas. Carapicuíba, SP: Pró- Fono,