O trabalho abrange o espaço geográfico que envolve toda África Subsaariana, em geral e
Lesotho, em particular. A escolha desse território justifica-se pelo facto de a abertura comercial
norte-americana, através do African Growth and Oportunity Act (AGOA), beneficiar as
economias da África subsaariana na qual Lesotho é parte. Quanto ao tempo, a reflexão é feita no
período compreendido entre 2000 à 2015. A opção do intervalo justifica-se pelo facto de 2000
ser o ano da criação do AGAO, que marca uma nova roupagem nas relações Comerciais entre os
EUA e África Subsaariana. E 2015, por ser o ano que marca o fim da segunda fase de extensão
do AGOA e ano da realização do Décimo quarto (14°) Fórum AGOA, em Washington, e que
culminou com a sua extensão para 2025.
2. Contextualização
O trabalho enquadra-se num contexto internacional, no qual Lesotho é parte, caracterizado por
mudanças frequentes e significativas na configuração e natureza dos acordos de comércio.
Segundo IPEA (2013:27), entre os princípios de 1990 a 2000, a comunidade internacional
testemunhou a terceira onda de regionalismo caracterizado pela proliferação de acordos
preferenciais de comércio e a criação de regras e mecanismos de integração que vão além do
alcance do regime multilateral de comércio da Organização Mundial de Comércio (OMC).
1
É ainda no contexto Supracitado e da criação do AGOA que, em cumprimento com os requisitos
de elegibilidade, o governo do Lesotho estabeleceu o sistema de vistos e regulamentos para a
emissão de certificados de origem e validação das respectivas facturas de artigos têxteis e
vestuários para o controlo das mercadorias importada e exportadas impedindo ilegalidades. E em
2002 o presidente Bush aprovou o Lesotho como país beneficiário do AGOA passando a
exportar seus produtos ao mercado norte-americano através do AGOA.
2.1. Justificativa
O presente trabalho torna-se relevante na medida em que procura fazer uma reflexão em torno
dos desafios e das oportunidades que o AGOA oferece aos países da África Subsariana, em
geral, e do Lesotho, em particular. Sabido da escassez de pesquisas científicas, do
desconhecimento do AGOA e da necessidade de indagar-se sobre o mesmo, procura-se explora-
lo para, de certa forma, contribuir para o seu conhecimento e suscitar debates entorno do mesmo.
3. Problematização
O AGOA é controverso e divide opiniões entre os autores, havendo autores que defendem que,
os países da região não estão em condições de explorar eficazmente as oportunidades que o
AGOA oferece para a posterior materialização em desenvolvimento económico. De acordo
Stirling (2014:8-9), o AGOA esta longe de alcançar os objectivos de sua criação. Este facto
deve-se aos constrangimentos que impede na eficaz utilização do AGOA, uma vez que muitos
países beneficiários não têm capacidade para produzir e exportar aos EUA nas qualidades e
quantidades exigidas pelo mercado. Muitas empresas africanas têm infra-estruturas de produção
pobres, com recursos a tecnologias obsoletas e operando em pequenas escalas o que torna muito
difícil fazerem uso eficaz das oportunidades que o AGOA oferece e serem efectivamente
competitivas no mercado aberto norte-americano.
Em objecção ao supracitado, há autores que defendem que o AGOA constitui uma ferramenta
para a expansão da boa governação, a liberalização das economias nacionais e a subsequente
participação dos países africanos no comércio internacional. Segundo Scheideman e Lewis
(2012:13), a legislação do AGOA impõe o estabelecimento ou progressos em direcção ao
estabelecimento de uma economia de mercado, a eliminação das barreiras ao Comércio, políticas
2
económicas para a redução da pobreza e sistema de combate a corrupção como um dos requisitos
de elegibilidade. Ainda sobre as oportunidades, Jones e Williams (2012:26), afirmam que no
âmbito do AGOA, o Governo norte-americano canaliza, através das suas agências – como a
USAID, assistência técnica e capacitação comercial destinada a ajudar os governos dos países
beneficiários a fazerem uso eficaz do AGOA, na liberalização do comércio, a participarem nas
negociações da OMC e discutir questões de interesse e subsequente aumento da sua participação
no comercio internacional.
Esta ordem de ideias e fortalecida pela OMC, segundo a qual, quanto maior quantidade de
comércio um país fizer, ou seja, quanto maior participação no comercio um país tiver, mais
desenvolvido ele será (20021). Mas, tal afirmação não é tomada como verdade absoluta uma vez
que, o aumento do volume de comércio pode também atrapalhar o crescimento económico, se
não tomar-se em conta, algumas medidas de protecção dos sectores mais frágeis e sensíveis da
economia nacional. Diante dessas constatações urge questionar: Até que ponto o AGOA impõe
desafios e oferece oportunidades de desenvolvimento económico aos países da África
subsaariana?
4. Questões
5. Objectivos:
Objectivo Geral
1
Disponível em: http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/10088.pdf. Consultado no dia 28 de Dezembro de 2017
3
Específicos:
6. Hipóteses:
A teoria da interdependência é de tipo ideal e que, assim como o realismo, não reflecte fielmente
as Relações internacionais, pois ambas são modelos que buscam tornar a realidade inteligível
(Keohane e Nye,1989 citados por Bedin et al,2011:2182). Portanto, nas relações internacionais,
toda teoria usada carece de capacidade de explanação completa dos fenómenos práticos daí que
no presente trabalho usou-se a teoria da interdependência como a base de explicação do tema.
Para complementar, usou-se a teoria das Vantagens Comparativa de David Ricardo3.
2
Keohane, Robert e Nye, Joseph, (1989), Power and Interdependence, Harper Collins: New York.
3
A teoria das Vantagens Comparativas resulta do modelo das vantagens comparativas desenvolvida por David
Ricardo (1772-1823) publicado em 1817. Este, apregoa que as trocas comerciais ocorrem por causa das vantagens
comparativas entre as nações e a liberalização do comércio leva a especialização onde cada país vai se especializar
na produção do bem em que é mais eficiente (Namburete, 2012:12; Krugman e Obstfeld,2005:12 e
Carbaugh,2004:33).
4
1.1.1.Contexto de surgimento da Teoria da Interdependência
A teoria da interdependência surge nos anos 1960 como reacção e critica aos principais
pressupostos da teoria realista, segundo os quais: o Estado é o principal actor das relações
internacionais; sistema internacional é anárquico, pois não há uma entidade superior ao Estado; e
Uso recorrente e sistemático da força na resolução de controversas (Bedin et al,2004:208).
A mesma surge como um instrumento para encontrar respostas mais convincentes sobre as
relações internacionais num cenário de rápidas transformações e de múltiplas combinações entre
diferentes actores estatais e não estatais que dependem um do outro para a prossecução dos seus
interesses uma vez que o desenvolvimento e a globalização tornaram as relações entre os
diferentes actores no Sistema Internacional (SI) incapazes de gerir o seu próprio destino e são
estas que vêm ainda protagonizar uma luta constante com o fim de adquirir maior influência e
poder, (Ibidi 207).
1.1.2.Precursores
Bedin (Ibid. 218), faz bastante referência Joseph Nye e Robert Keohane. Estes publicaram
inúmeros trabalhos sobre a teoria da interdependência, nomeadamente the Transnational
Relations and International Organizations (19744), After Hegemon (19845), e Power and
Interdependence (19896). Para Nye e Keohane, a interdependência é definida como a
dependência mútua resultante dos tipos de transacções internacionais catalogados pelas
4
Keohane, Robert e Nye, Joseph, (1974), Transnational Relations and International Organizations, Vol. 27, World
Politics
5
Keohane, Robert e Nye, Joseph (1984), After Hegemon-Cooperation and Discord in the World Economy: Prince
University Press, Princeton.
6
Keohane, Robert e Nye, Joseph, (1989), Power and Interdependence, Harper Collins: New York
5
transnacionais ou multinacionais. Interdependência existe quando há efeitos recíprocos entre dois
Estados ou entre actores de diferentes Estados (Viotti e Kauppi: 1993: 131).
1.1.3.Pressupostos:
A teoria da interdependência apoia-se, de acordo com Bedin et all (2003: 256) nos seguintes
pressupostos básicos:
Os Estado não são os únicos actores proeminentes nas relações internacionais uma vez
que a crescente aproximação entre as fronteiras nacionais cria “canais múltiplos” de
contacto entre diferentes sociedades não necessariamente sob o controle estatal levando
ao surgimento de actores não-estatais que contrabalançam a importância do Estado nas
relações internacionais7;
A análise do tema é suportada pela teoria da interdependência que se adequa pelo facto de, seus
pressupostos permitirem a análise dos interesses dos actores em causa (EUA e Países da África
Subsaariana) que embora tenham dissemelhanças em termos culturais, históricos e económicos
vejam a atractividade de tecerem relações comerciais expandindo os seus mercados
consumidores e fornecedores. Este facto é reforçado pela ideia da interdependência, segundo o
qual, o aumento da interdependência económica e de outras formas de interdependência
transnacional possibilitara a cooperação entre os Estados (Sousa,2005:186).
7
Refere-se aqui tanto a organizações da sociedade civil, Organizações Internacionais Governamentais e não-
governamentais que são tão importantes quanto os Estados nas Relações Internacionais.
6
É do reconhecimento das vantagens comparativas existentes (os EUA em produtos
transformados, de alto teor tecnológico e de alto valor acrescentado; os países da África
subsaariana em mercadorias primas de alto valor no mercado internacional, em produtos
agrícolas, artesanais e manufacturados) que as partes se apercebem que podem maximizar seus
ganhos com a aproximação comercial e Fóruns de Cooperação Económica (Fórum AGOA) que
constitui o canal no qual as partes discutem questões de interesse. Ainda, os EUA têm vantagens
em termos de capacidade financeira e técnica para lidar com o ambiente comercial internacional
e, como tal, assiste a África subsaariana nos seus esforços para se enquadrar e participar no
mercado internacional, cada vez mais globalizado e competitivo.
8. Metodologia
Métodos
Técnicas
Bibliográfica: esta técnica abrange toda bibliografia tornada pública em relação ao tema
de estudo, designadas fontes secundarias, desde publicações avulsas, boletins, jornais,
revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc; fontes orais
como a rádio, gravações em fita magnética, e áudio visuais como filmes e televisão
(Marconi e Laktos,2003:174). Esta técnica permitiu a colecta de dados através de fontes
cujo conteúdo mostrou-se, de alguma forma, relevante ao tema em reflexão.
Documental: Trata-se de fontes primárias que são usadas como suporte para a pesquisa
em combinação com os métodos de pesquisa escolhidos (Baptista Lundin, 2016:147).
Esta técnica auxiliou na leitura e análise crítica e interpretativa da documentação, com
vista a garantir a credibilidade e autenticidade da informação. Este método auxiliou na
recolha, leitura e análise crítica e interpretativa da documentação, com vista a garantir a
credibilidade e autenticidade da informação à volta do tema;
o [E]ntrevista é um encontro entre duas ou mais pessoas, a fim de que uma delas
obtenha informações a respeito de um determinado assunto, mediante uma
conversa de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação
8
social orientada para a colecta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no
tratamento de um problema social (Marconi e Lakatos, 2003:195).
9. Resultados Esperados
9
Referências Bibliográficas
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a) Fontes primárias:
B) Fontes Secundárias
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Bedin, Gilmar et al (2004), Paradigmas das Relações Internacionais, 2ª ed, UNIJUĺ: Brasil
Bedin, Gilmar et al (2011), Paradigmas das Relações Internacionais, 3ª ed, UNIJUĺ: Brasil
Carbaugh, Robert J. (2004), Economia Internacional, Thomson Learning Editora, São Paulo.
10
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Brasil, IEDI, Brasil.
IPEA (2013), Tendências Regulatórias nos Acordos Preferenciais de Comércio no Século XXI:
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Lakatos, Eva Maria (1979) O trabalho temporário: nova forma de relações sociais no trabalho.
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Williams, Brock R. (2015), African Growth and Opportunity Act (AGOA): Background and
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12