PUBLICAÇÃO MENSAL DA AMALBA

ACADEMIA MAÇONICA DE LETRAS E ARTES

DA BAHIA

ANO II FEVEREIRO 2017 NÚMERO 6

Editorial — JOSÉ BERTOLDO CAVALCANTE

dar 2 (dois) anos para sua conclusão. Benefícios que proporcionam aos
Porque não se instalar Com um presos
custo bem menor, adquirindo
“dezenas de fazendas” em todos os 1º- Promove a auto estima do deten-
Estados da federação, inicialmente to, ele trabalhando sente-se como se
uma em cada estado e transferir os estivesse livre, concentrado no traba-
presos mais comportados para traba- lho ou estudo, não tem tempo de se
lhar e estudar nessas novas unidades? envolver com facções criminosas e
ao sair da prisão tem uma profissão
Esse trabalho já vem sendo realizado que trabalhar como empregado e por
com sucesso absoluto em alguns esta- conta própria.
dos tais como: o Estado de Alagoas
que tem uma horta cultivada pelos Hoje o custo mensal por preso é de
detentos e que colhe toneladas de cerca de R$ 2.000,00, com a im-
SISTEMA CARCERÁRIO produtos que são usados nas própria plantação desse sistema será reduzi-
penitenciarias, o Estado do Espírito do para aproximadamente R$ 500,00
NO BRASIL Santo, mantem mais de dois mil e ( quinhentos ) Reais.
quinhentos presos trabalhado na cul- José Bertoldo Cavalcante
O sistema carcerário atual estar fali- tura da lavoura que é consumida nas
do; há anos que o problema vem sen- unidade carcerárias, o Estado de Mi-
do colocado no plano secundário, nas Gerais, há anos que mantem esse
mas agora estourou no Norte, como trabalho em penitenciárias do interior
se diz no refrão popular e os gover- e que já houve casos em que o preso
nantes estão meio desnorteados. ao ser liberado após cumprir sua pe-
Mas tem solução o brasileiro é criati- na não quer deixar a prisão. NESTA
vo.
PAG
Essas áreas das Fazendas deverão ser EDIÇÃO
Muito tem se comentado e a mídia implantadas sempre na parte central
impressa e eletrônica tem atuado de de cada do estado tendo-se em vista 2 Ocaso
luminoso
maneira contundente, comentando, que hoje o tempo e a mobilidade ge-
criticando e exigindo solução rápida, ram custos elevados. 3 Grandes poetas
mas ninguém até agora foi capaz de
4 Goethe x Einstein
apresentar uma ideia ou projeto viá- Após a aquisição, cercar a área com
vel a curto prazo. arrame energizado e construir um
Galpão com três pavimentos, no tér- 5 A torrada
POIS BEM! Eu tenho uma ideia; reo construir salas de aulas didáticas queimada
um pré-projeto par a a solução defi- e cursos profissionalizantes, uma co- 6 O valor do
nitiva desse problema a curto e médio zinha grande onde serão preparadas silêncio
prazo. Consiste no seguinte: ao in- as refeições dos detentos e um salão Paz
vés de se construir quatro ou cinco para refeições e nos dois andares su-
7
penitenciarias a um custo que só periores construir 500 celas com es- 8 Em defesa da
Deus sabe quanto, e que vai deman- paço para 4 presos em cada maçonaria
NÚMERO 6 FEVERERO 2017 PÁGINA 2

Sabemos que o por do sol pode ser nublado ou res-

plandecente. Lembramo-nos desse rotineiro fenô-
meno da natureza, quando assistimos a despedida
do Presidente Barack Obama, dos Estados Unidos
da América, na Cidade de Chicago, na noite de 10
de janeiro de 2017.
Foi um longo discurso, em torno de 54 minutos, no
qual o orador foi pedagógico, profético, estadista e
humanamente sensível, quando agradeceu o apoio
da sua esposa, Michele Obama, suas filhas – che-
gando a verter furtiva lágrima – o apoio do Vice-
O OCASO presidente, Joe Biden, e respectiva esposa, além dos
numerosos companheiros de governo e dos fiéis
eleitores, que o mantiveram na presidência para um
LUMINOSO segundo
o
C mandato.
Proclamou, com firmeza, a confiança nos jovens
Cândido A. Vaccarezza – Cadeira nº 26. americanos, manifestando a certeza de que continu-
arão a preservar os valores transmitidos pelos ines-
quecíveis fundadores daquela pátria, traduzidos na
legislação austera, que somente se concretiza com a
atuação corajosa do seu povo. Lembrou a necessida-
de de combater a intolerância, o sectarismo e, man-
tendo os objetivos democráticos, lutar incessante-
PUBLICAÇÃO MENSAL DA AMALBA mente contra o autoritarismo. Os milhares de assis-
diretoria tentes que se encontravam na arena, onde o evento
foi montado, deliravam, o interrompiam com demo-
José Bertoldo Cavalcante
Presidente rados aplausos.
Cândido Augusto Vaccarezza Obama deixa o governo, tal qual o sol, ao fim de
Secretário Geral
um dia radioso, como se apresenta ao deitar-se por
José Alconso da Silva Filho trás da Ilha de Itaparica, iluminando de dourado a
Diretor de Relações Públicas
Baía de Todos os Santos, contemplado por deslum-
Fernando Gimeno brada plateia que, debruçada na balaustrada do Por-
Diretor de Imprensa e Comunicação
to da Barra, aplaude freneticamente o justo e belís-
simo repouso do Astro Rei.
ACADEMUS é uma publicação mensal da
AMALBA Roguemos ao Criador que a sucessão, nos Estados
Academia Maçônica de Letras e Artes da Unidos da América do Norte, se faça de forma civi-
Bahia
lizada e profícua, que o novo alvorecer não seja tão
Telefones
sombrio quanto as angustiantes expectativas, senão
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de todos, mas de muitos, pois a gestão do colosso
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americano, seguramente, terá reflexo nos destinos
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Os artigos assinados são responsabilidade de seus autores.
NÚMERO 6 FEVEREIRO 2017 PÁGINA 3

Manuel Maria
Antero
Barbosa du Bocage De Quental

Sonho
Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido e mirrado:
Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia:
“Eu venho terminar tua agonia;
Morre, não penes mais, ó desgraçado!”
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;
Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada, Quantas vezes, de súbito, emudeces!

Que armado de cruentos passadores Não sei que luz no teu olhar flutua;
Aparece, e lhe diz com voz irada: Sinto tremer-te a mão e empalideces

“Emprega noutro objeto teus rigores; O vento e o mar murmuram orações,

Que esta vida infeliz está guardada E a poesia das coisas se insinua
Para vítima só de meus furores.” Lenta e amorosa em nossos corações.

Fergi Cavalca— Escritor de romances de cunho místico e moral.

⇒ Trilhas convergentes — vencedor do prêmio Literarte 2014 como melhor
livro de psicologia e autoajuda.
⇒ Arcanos da Eternidade—lançado na Europa e países de língua portuguesa.
⇒ Os Doze Degraus—Verdadeiro guia que mostra os passos de uma iniciação.
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NÚMERO 6 FEVEREIRO 2017
FRASES
Pensar é fácil. Agir é difícil. Agir conforme o
que pensamos, isso ainda o é mais.
*** *** ***
Apenas é digno da vida aquele que todos os
dias parte para ela em combate.
*** *** ***
Ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais
conheci homem de valor que fosse ingrato.
*** *** ***
Se tomardes a vida com excessiva severidade,
que atração tem? Se a manhã não vos convidar
a novas alegrias e se à noite não esperardes
nenhum prazer, valerá a pena vestir-se e despir
-se?
*** *** ***
Seja o homem nobre, caridoso e bom. São as
únicas coisas que o distinguem dos demais se-
res.
*** *** ***
Só sabemos com exatidão quando sabemos
pouco; à medida que vamos adquirindo conhe-
cimentos, instala-se a dúvida.
"...É graças aos soldados, e não aos sacerdo- "(Barack Obama, em 30Mai11, Memorial Day, ao res-
tes, que podemos ter a religião que desejamos. ponder à pergunta “Para que servem os militares?”)
PÁGINA 4
FRASES
A imaginação é mais importante que o conheci-
mento.
*** *** ***
O mundo é um lugar perigoso de se viver, não
por causa daqueles que fazem o mal, mas sim
por causa daqueles que observam e deixam o
mal acontecer.
*** *** ***
Duas coisas são infinitas: o universo e a estupi-
dez humana. Mas, em relação ao universo, ain-
da não tenho certeza absoluta.
*** *** ***
A religião do futuro será cósmica e transcende-
rá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a
teologia.
*** *** ***
Deus é a lei e o legislador do Universo.
*** *** ***
A fé em Deus nos faz crer no incrível, ver o invi-
sível e realizar o impossível.
*** *** ***
Penso que a fé é a extensão do espírito. É a
chave que abre a porta do impossível.
É graças aos soldados, e não aos jornalistas,
que temos liberdade de imprensa. É graças
aos soldados, e não aos poetas, que podemos
falar em público. É graças aos soldados, e
não aos professores, que existe liberdade de
ensino. É graças aos soldados, e não aos ad-
vogados, que existe o direito a um julgamento
justo. É graças aos soldados, e não aos políti-
cos, que podemos votar...
NÚMERO 6
A TORRADA
QUEIMADA
Quando eu ainda era um
menino, minha mãe gostava
de fazer um lanche, tipo ca-
fé da manhã, na hora do jan-
tar. E eu me lembro especi-
almente de uma noite, quan-
do ela fez um lanche des-
ses, depois de um dia de
trabalho muito duro.
Naquela noite distante, mi-
nha mãe colocou um copo
FEVEREIRO 2017
com leite e um prato com
torradas bastate queimadas,
para o meu pai. Eu me lem-
bro de ter esperado um pou-
co, para ver se alguém nota-
va o fato. Tudo o que meu
pai fez foi pegar a sua torra-
da, sorrir para minha mãe, e
me perguntar como tinha si-
do o meu dia na escola.
Eu não me lembro do que res-
pondi, mas me lembro de ter
olhado para ele lambuzando a
torrada com manteiga e geléia
e engolindo cada pedaço.
Quando eu deixei a mesa na-
quela noite, ouvi minha mãe se
desculpando por ter queimado
a torrada. E eu nunca esquece-
rei o que ele disse:
– Amor, eu adoro torrada quei-
mada.
Mais tarde, naquela noite,
quando fui dar um beijo de boa
noite em meu pai, eu lhe per-
guntei se ele realmente gosta-
PÁGINA 5
va de torrada queimada. Ele
me envolveu em seus braços e
me disse:
– Filho, sua mãe teve um dia
de trabalho muito pesado e es-
tava realmente cansada. Além
disso, uma torrada queimada
não faz mal a ninguém. A vida
é cheia de imperfeições e as
pessoas não são perfeitas. E
eu também não sou o melhor
cozinheiro do mundo.
O que tenho aprendido através
dos anos é que saber aceitar
as falhas alheias, relevando
as diferenças entre uns e ou-
tros, é uma das chaves mais
importantes para criar relacio-
namentos saudáveis e dura-
douros.
E essa lição serve para qual-
quer tipo de relacionamento:
entre marido e mulher, pais e
filhos, irmãos e amigos.”
Autor desconhecido

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Bertoldo Cavalcante
NÚMERO 6
Olá, você aí, está me ouvindo? Tenho
algo pra te dizer! Pode me ouvir? Pode
não! Já sei, está com pouco tempo, né? Já
está tarde; mora longe; tem que se adian-
tar. Quem sabe é aquele grande compro-
misso que sempre quando alguém vai
falar o espera. Sempre diz assim, após
suas alongadas falas. Sei!
Essa é a pessoa do tipo “cale que eu agra-
deço”.
Ela é sempre assim: explana filosofias mil
com relação ao valor do silêncio. Não se
cansa de divulgar a ideia de que o silêncio
é muito importante, que se deve falar
muito pouco e ouvir bastante, principal-
mente Ela. Passa horas colocando as suas
ideias e a sua visão do mundo, olha nos
olhos dos ouvintes e larga o verbo. Lá vai
ela, feliz da vida, na sua explanação. Se
promove hora doce, hora não tanto; não
tem pressa pra falar. Fala devagar e com-
passado, pois está segura de que tem de
todos a atenção. Afinal, a palavra é dela, e
aí, quando a sua conveniência sinaliza a
sua hora de ir, simplesmente cessa a sua
fala, com uma bela frase quanto ao valor
do silêncio.
A pessoa do tipo: “cale que eu agradeço”
é muito bacana enquanto a atenção lhe é
auferida, dada, ou oferecida, mas quando
para a sua atenção a palavra é emitida, a
impaciência a abraça, e em equívoco con-
victa de que do outro o máximo a ser
expressado lhe é pouco, desinteressante e
não importante, faz mexer a cadeira em
que se banca; e quando, de pé, em seus
“saltos altos”, se aperta nos sapatos que
acalenta os seus calos, e tomada de plena
intolerância, em gestos dislexos se impõe
até perplexa, vendo no minuto pelo inter-
locutor falado, tempo por demais demasi-
ado, para que quaisquer elocuções lhe
detenha a atenção.
Sendo assim conhecida e afamada, que de
tal característica é dotada, os interlocuto-
res não lhe impõem objeção, deixa-a que
exercite a sua eloquência, e que o seu
rompante egocêntrico de bastante falar e
dos outros pouco querer escutar, cesse na
compreensão de que, numa relação, a
todos o igual direito, de pelo uso da pala-
vra, manifestar a sua opinião.
Hum... É. É mesmo? Verdade! Está certo.
Compreendo. Está bom. Vai dar certo.
Tomara. Bacana.
Em um diálogo, tais tipos de interroga-
ções e exclamações estão sempre a ex-
pressar a atenção que a locução, ao inter-
locutor, faz gerar. Normalmente, as pesso-
as que dialogam, ou seja, que escutam e
que se deixam escutar, podem ser enqua-
dradas como do tipo “fale que eu te escu-
to”, e trazem, como grande característica,
a capacidade de exercer a atenção a toda e
qualquer explanação que em um diálogo
convide a sua atenção.
FEVEREIRO2017
É claro que o silêncio é necessário. É bom
pra dormir, pra estudar, pra escrever, pra
meditar, pra ouvir... enfim. O silêncio tem
a sua importância, é claro! Mas, há muitos
equívocos de compreensão a respeito.
Algumas pessoas são tão incutidas na
máxima de que o silêncio tem valor de
ouro, que pouco se expressam pela pala-
vra, achando que estão agindo como um
grande sábio. Grande equívoco! O silên-
cio, numa relação de grupos de pessoas,
pode até se estabelecer em indiferença e
falta de consideração. Portanto, falta de
respeito.
Imagine se a torcida do Esporte Clube
Bahia e a do Esporte Clube Vitória entras-
sem no estádio com a máxima de que o
silêncio tem valor de ouro, e ficassem
todos em pleno silêncio, imagine que
chatice não seria a partida. Imagine você
aí, meu amigo, minha amiga, quando
conheceu aquela que hoje é a sua esposa,
ou aquele que hoje é o seu marido, e prati-
casse a máxima do silêncio como algo
sublime, e não se expressasse pela fala na
conquista do seu parceiro ou parceira.
Imagine!
Imagine os parlamentares, principalmente
os que se distinguem pela envolvente
oratória, se a esses, a máxima do silêncio,
como atitude de sabedoria, fosse uma
prática, certamente não seriam eleitos.
Imagine Jesus Cristo, quando na cruz
crucificado, em uma das suas célebres
frases, disse... “Pai, perdoai-lhes, eles não
sabem o que fazem”. Como saberíamos,
se Ele praticasse a máxima do silêncio
como atitude de sabedoria? Simplesmen-
te, não saberíamos! Como os pastores de
todas as religiões poderiam divulgar as
suas doutrinas, se não pela palavra? Bi-
lhões de exemplos poderia eu discorrer
aqui, quanto ao valor da palavra. O grande
comunicador já dizia: “Quem não se co-
munica se trumbica. ” E é uma verdade,
pois a palavra falada é, sem dúvidas, o
mais importante recurso que o homem
tem se utilizado para a sua evolução. Em
todos os sentidos imagináveis.
A verdade, meu amigo e minha amiga, é
que, o que realmente tem valor de ouro...
é a Palavra. Ela, sim, determina os cami-
nhos dos homens na terra. Cercear o direi-
to de falar a alguém é o mesmo que agredi
-lo na sua essência. Pode ser o mesmo que
torturá-lo. Não só no Brasil, mas em toda
parte, já ocorreram e, volta e meia, estão a
ocorrer reivindicações à liberdade de ex-
pressão. Pessoas já sofreram sansões,
simplesmente por ter falado algo que
alguém entendeu que não deveria ser
falado.
Às vezes, é claro, é melhor calar; afinal,
não custa muito. Fique em silêncio, ou-
vindo os trovões de quaisquer que lhes
arroguem prejuízos físicos ou morais, em
intolerância à sua fala, na certeza de que
os trovões têm vida curta. Na hora que
você entender oportuno que a sua fala não
vai determinar ou insinuar danos quais-
quer a você e a outrem, ou que não vai
contrariar nenhum código de conduta, não
deixe por menos: fale, meu amigo. Fale,
PÁGINA 6
minha amiga. Solte o verbo no uso da
mais nobre ferramenta que Deus te deu, e
que deves empregar para que te situes na
sociedade em que vive.
Muitos querem saber o que você pensa.
Não comungue da máxima de que “Quem
cala, consente! ” Muito pelo contrário do
que, normalmente, se prega na relação de
pessoas, ou grupos de pessoas. Aquele
que se cala, não está a consentir nada!
Está sim, no mínimo, a expressar necessi-
dade de maior reflexão sobre os assuntos
e as informações que a sua atenção se
fizeram, pois, na verdade, quem consen-
te... vibra, participa, fala, manifesta-se.
Quanto ao teor intelectual da sua fala, não
se intimide jamais, pois, por mais intelec-
tual que alguém seja, todos, indistinta-
mente, detêm alguma informação que se
faz novidade ao outro, queira ele admitir
ou não.
O bacana mesmo é o diálogo. Escutar e
convidar que te escutem; ouvir e convidar
que te ouçam; dizer e permitir que digam.
Afinal, todas as pessoas têm que ter, até
que por decreto que seja, o direito de se
expressar pela palavra. Aos descompassa-
dos com tal necessidade, dê-lhes o silên-
cio. Inclusive, a convicção de que o seu
silêncio deve se fazer unicamente para
ele, pois, se não tem tolerância para ouvir,
que, com o nosso exemplo de plena aten-
ção ao que diz, possa o mesmo aprender
que o monólogo pode dar ao eloquente
um sentimento de autopromoção, pois o
que realmente deve estar objetivado nas
relações humanas é o diálogo, ser escuta-
do e escutar com cordialidade aos que
falam.
Quando, expressando-se pelo verbo,
certamente ocorrerá o julgamento do
teor da sua fala, e tal ocorrência deve
ser admitida como um acontecimento
positivo, e de pleno dever de quem o
escuta, pois, qual importância a sua
expressão teria se não culminasse na
honra da reflexão e do julgamento dos
ouvintes? Eles, pelo princípio de que
a palavra deve ser sempre objetivada
para o fim maior da evolução harmô-
nica do homem, serão, pela atenção,
os sinalizadores de quando deveis
cessar ou mudar o rumo da prosa.
Condição a ser considerada? Sim!
Mas não de forma absoluta, pois a
verdade e a razão podem estar unica-
mente com você. Por que não? Então,
minha amiga, ou meu amigo, seguros
de tal premissa, enveredem conscien-
tes na manutenção da sua fala, mesmo
permitindo, até que por dever, apartes
de contestação, com a sua respeitosa
atenção.
Auto: José Alconso da Silva Filho
Da obra: Luzdibolso, do mesmo
autor.
NÚMERO 6
Não nos prendemos ao termo. O
sentido de paz é mais profundo do
que a palavra. A paz é um senti-
mento que se desenvolve a partir
de uma quietude interior, um bem-
estar memorável onde o corpo e o
espírito se espraiam na magnitude
de uma calma infinita.
Dizia o mestre dos mestres, o sá-
bio Jesus de Nazaré: “... ao che-
gardes a alguma casa saudai-a
com a frase: a paz esteja convos-
co. Mas se não vos receberem,
retirai-vos com a vossa paz e ao
deixardes o local batei o pó de
vossas sandálias para que nada
possa conspurcar a vossa paz inte-
rior...”
Atingir o nível de paz profunda é
alcançar a iluminação entrando
em um estado de êxtase que libera
a mente espiritual para uma per-
feita comunhão com o Cósmico,
que é o lugar onde se realizam os
desígnios de Deus. Portanto a con-
dição de paz é um estado que de-
ve, constantemente, ser procurado
pelo ser humano como ponto cru-
cial da sua evolução.
Mas o sentido de paz não perma-
nece apenas como num nível está-
tico dentro do próprio ser. Se ele
atinge vários indivíduos forma
uma comunidade pacífica com
ideais seguros de valores virtuosos
e corretos. E aí se concretiza a for-
ma-pensamento, concebendo e
juntando-se à egrégora da paz que
atua contra a violência, o monstro
feroz que avança perigosamente
sobre a humanidade.
Falando em paz não poderíamos
FEVEREIRO 2017
deixar de citar a Maçonaria: o ma-
çom é universalista e possui um
lema que é “tornar feliz a humani-
dade sem distinção de fronteiras
nem de raças”. Mas para isso é
importante plantar a semente da
paz no coração das pessoas.
O ser humano é beligerante por
natureza. O ensinamento cristão
de dar a outra face não encontra
eco nas atitudes da raça humana,
em sua maioria. Em seis mil anos
de história registrada através dos
documentos escritos, há aponta-
mentos de mais de dezoito mil
guerras, o que dá um índice de,
pelo menos, três guerras por ano
durante todo esse período. Para
não ficarmos devendo, apresenta-
mos como exemplos atuais, a Síria
se despedaçando em luta fratrici-
da, israelenses e palestinos numa
guerra sem fim e algumas nações
da África destroçando-se em com-
bates persistentes onde a conta-
gem dos mortos apontam números
estúpidos que ultrapassam a casa
dos milhões.
Desde a mais tenra idade devemos
educar nossos filhos para um pro-
fundo sentido de paz, nunca para o
revide e para a violência. Aquela
frase machista de que o filho não
leva desaforo para casa, deve ser
riscada e trocada pelo ensinamen-
to cristão do “amar ao próximo”.
Sabemos que é difícil, mas é pos-
sível e até provável que, se come-
çarmos a plantar tal semente, tal-
vez um dia, mesmo que ele demo-
re a vir, o pensamento humano
possa transformar-se e o mundo
PÁGINA 7
viver em paz.
A maçonaria procura fazer a sua
parte plantando tal semente nos
corações humanos. É um plantio
trabalhoso, duro, árduo, ingrato e
que não encontra eco na socieda-
de. Temos contra nós o pensamen-
to beligerante da maioria, dos fil-
mes, das novelas que propagam
temas de violência, vilões cruéis,
vinganças e outros similares en-
tendidos como virtudes que levam
o espectador a “torcer” pela morte
ou castigo do personagem “mau”
e achar justas as vinganças pesso-
ais.
O “herói” mata, destrói, arrasa,
degola sob os aplausos da plateia
ensandecida que grita pela destrui-
ção do hipotético inimigo criado
pela imaginação dos autores que,
sabendo dessa predisposição san-
guinária da humanidade exploram
-na maciçamente porque garante
sucesso de bilheteria. Mas se o
mesmo “herói” é ferido ou leva
um tiro, profusas lágrimas são
derramadas desejando que a vin-
gança seja alcançada a qualquer
custo. E quando o “mocinho” ex-
termina centenas de índios, solda-
dos, gângsteres, alemães, japone-
ses ou quaisquer outros estrangei-
ros rotulados de inimigos, os delí-
rios desvairados de espectadores
fanáticos mostra quão atrasados
ainda nos encontramos.
Vamos pensar na PAZ... rezar to-
dos os dias para que os povos se
unam, as nações encontrem solu-
ções para suas diferenças e que
abraços substituam tiros e violên-
cia, fazendo com que a PAZ se
espalhe na Terra entre os homens
de boa-vontade.
Vamos nos unir em torno dela.
“Ó quão bom é que os irmãos vi-
vam em união...”
Fergi Cavalca
NÚMERO 6 FEVEREIRO 2017
Em defesa da
Maçonaria
Este é um trecho do artigo que Fernando Pessoa
publicou no Diário de Lisboa, no 4.388 de 4 de fevereiro
de 1935, contra o Projeto de Lei, do deputado José Ca-
bral, proibindo o funcionamento das associações secre-
tas, sejam quais forem os seus fins e organização.
“A Maçonaria compõe-se de três elementos: o ele-
mento iniciático, pelo qual é secreta; o elemento fraternal
e o elemento a que chamarei humano – isto é, o que re-
sulta de ela ser composta por diversas espécies de ho-
mens, de diferentes graus de inteligência e cultura e o que
resulta dela existir em muitos países sujeita, portanto, a
diversas circunstâncias de meio e de momento histórico,
perante as quais, de país para país e de época para época
reage, quanto à atitude social, diferentemente.
Nos primeiros dois elementos, onde reside essencial-
mente o espírito maçônico, a Ordem é a mesma sempre e
em todo o mundo. No terceiro, a Maçonaria – como, ali-
ás, qualquer Instituição humana, secreta ou não – apre-
senta diferentes aspectos, conforme a mentalidade de
Maçons individuais e conforme circunstâncias de meio e
momento histórico, de que ela não tem culpa.
Neste terceiro ponto de vista, toda a Maçonaria gira,
porém, em torno de uma só ideia – a "tolerância"; isto é,
o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar
como entender. Por isso a Maçonaria não tem uma dou-
trina. Tudo quanto se chama "doutrina maçônica" são
opiniões individuais de Maçons, quer sobre a Ordem em
si mesma, quer sobre as suas relações com o mundo pro-
fano. São divertidíssimas: vão desde o panteísmo natura-
lista de Oswald Wirth até ao misticismo cristão de Arthur
Edward Waite, ambos tentando converter em doutrina o
espírito da Ordem. As suas afirmações, porém, são sim-
plesmente suas; a Maçonaria nada tem com elas. Ora o
primeiro erro dos Antimaçons consiste em tentar definir
o espírito maçônico em geral pelas afirmações de Ma-
çons particulares, escolhidas ordinariamente com grande
má fé.
O segundo erro dos Antimaçons consiste em não que-
rer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está ma-
terialmente dividida, como já expliquei. A sua ação soci-
al varia de país para país, de momento histórico para mo-
mento histórico, em função das circunstâncias do meio e
PÁGINA 8
da época, que afetam a Maçonaria como afetam toda a
gente. A sua ação social varia, dentro do mesmo país, de
Obediência para Obediência, onde houver mais que uma,
em virtude de divergências doutrinárias – as que provo-
caram a formação dessas Obediências distintas, pois, a
haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue
daqui, que nenhum ato político ocasional de nenhuma
Obediência pode ser levado à conta da Maçonaria em
geral ou até dessa Obediência particular, pois pode pro-
vir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de
momento, que a Maçonaria não criou.
Resulta de tudo isto que todas as campanhas antima-
çônicas – baseadas nesta dupla confusão do particular
com o geral e do ocasional com o permanente – estão
absolutamente erradas e que nada até hoje se provou em
desabono da Maçonaria. Por esse critério – o de avaliar
uma Instituição pelos seus atos ocasionais porventura
infelizes ou um homem por seus lapsos ou erros ocasio-
nais – que haveria neste mundo senão abominação? Quer
o Sr. José Cabral que se avaliem os Papas por Rodri-
go Bórgia, assassino e incestuoso? Quer que se conside-
re a Igreja de Roma perfeitamente definida em seu íntimo
espírito pelas torturas dos Inquisidores (provenientes de
um uso profano do tempo) ou pelos massacres dos albi-
genses e dos piemonteses? Contudo com muito mais ra-
zão se o poderia fazer, pois essas crueldades foram feitas
com ordem ou com consentimento dos Papas, obrigando
assim, espiritualmente, a Igreja inteira.
Sejamos, ao menos, justos. Se debitamos à Maçonaria
em geral todos aqueles casos particulares, ponhamos-lhe
a crédito, em contrapartida, os benefícios que dela temos
recebido em iguais condições. Beijam-lhe os jesuítas as
mãos, por lhes ter sido dado acolhimento e liberdade na
Prússia, no século dezoito – quando expulsos de toda a
parte, os repudiava o próprio Papa – pelo Maçom Frede-
rico II. Agradeçam-lhe a vitória de Waterloo, pois que
Wellinton e Blucher eram ambos Maçons. Sejam-lhe gra-
tos por ter sido ela quem criou a base onde veio a assen-
tar a futura vitória dos Aliados – a "Entente Cordiale",
obra do Maçom Eduardo VII.
Nem esqueçamos, finalmente, que devemos à Maço-
naria a maior obra da literatura moderna – o "Fausto" do
Maçom Goeth.
Acabei de vez. Deixe o Sr. José Cabral a Maçonaria
aos Maçons e aos que, embora o não sejam, viram, ainda
que noutro Templo, a mesma Luz. Deixe a Antimaçona-
ria àqueles Antimaçons, que são os legítimos descenden-
tes intelectuais do célebre pregador que descobriu que
Herodes e Pilatos eram Vigilantes de uma Loja de Jerusa-
lém.
Fernando Pessoa