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DIREITO
COMERCIAL
Volume 3
Falência e Recuperação Empresarial
1ª edição
2008
EDITORA
ESQUIZOFRENIA
HITS
DIREITO COMERCIAL III 29 de agosto
Aula n.º 01 de 2008
Ao se iniciar a análise da falência, depara-se, já, com certa dificuldade: ela, antes de
qualquer coisa, é uma espécie de processo de execução coletiva1. Sabendo-se que a falência
possui dimensões material e processual, é necessário saber, quanto ao último aspecto, qual
é a função que a falência exerce dentro do sistema processual brasileiro. Muitos dos institutos
e das regras da falência são explicados e legitimados em razão de sua finalidade; entender o
campo da natureza processual da falência, sob o ponto de vista da função que desempenha,
em muito auxilia à compreensão de toda a sua estrutura.
Para que se dê uma explicação adequada sobre esse sistema, é necessário visualizá-lo
– apenas com essa pretensão, sem buscar qualquer incursão muito profunda no Direito
Processual.
1.1. Jurisdição2
1.2. Ação
1
Mais adiante se verá que a falência tem duas naturezas: há a dimensão material – um sistema que regula o status
jurídico do falido, no que diz respeito às suas relações obrigacionais (ativas e passivas) no plano da
responsabilidade patrimonial –, e a dimensão processual, agora sob enfoque.
2
Que tal “drobar” e jogar fora o que o professor falou sobre jurisdição? É tudo tão ultrapassado que eu me sinto
no dever de transcrever o conceito modernoso de Fredie Didier Jr.: “é a função atribuída a terceiro imparcial de
realizar o Direito de modo imperativo e criativo, reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas
concretamente deduzidas, em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível”.
– não fazendo mais sentido a teoria imanentista, presente no artigo 75 do Código Civil de
1916 (“a todo direito corresponde uma ação, que o assegura”). Essa teoria retratava uma
vinculação indevida entre o direito material e o direito à ação. Hoje vigora a teoria eclética –
a ação é um direito abstrato, mas condicionado.
1.3. Processo
3
Hoje? Esse negócio era da época em que Gretchen ainda era gata.
4
Isso ocorre porque o CPC adota a teoria da asserção, baseada unicamente nas afirmações do autor. Achou besta?
Tem gente que concorda com você! Fredie Didier Jr. defende a abolição das condições da ação, pois, “ao menos
nos casos de legitimidade de agir ordinária e possibilidade jurídica do pedido, é impossível extremá-las do mérito
da causa [...] A falta de uma dessas condições, reconhecida liminarmente ou após instrução, deveria dar ensejo,
sempre, a uma decisão de mérito”. DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. v. 1. teoria geral do
processo e processo de conhecimento. 9. ed. Salvador: Jus Podivm, 2008. p. 174.
5
Chiovenda, de novo, NÃO, PELAMORDEDEUS!
6
Bom, acho que isso tem algum valor histórico... Embolorado, mas histórico.
7
Na concepção unitária, não há aplicação da norma abstrata à situação dada, mas sim da norma concreta; a
norma abstrata não atua, não possuindo eficácia até que se individualize por meio da sentença. É unitária porque
a sentença cria algo novo para o Direito, não sendo mera declaração (e, por isso, fora do ordenamento jurídico) da
norma abstrata – ainda que encontre nela os seus limites. É uma concepção arcaica, pois os limites da atuação
jurisdicional não estão na lei, mas na Constituição. A diferença está na atividade criativa do juiz, inexistente
quando se refere à legalidade formal da teoria caneluttiana, e que se manifesta somente quando o juiz é capaz de
criar a norma a partir dos princípios e regras (especialmente as cláusulas gerais) contidas em todo o sistema
jurídico, principalmente no texto constitucional. Confuso? Leia Marinoni!
8
Além de um tal de Alexandre Freitas Câmara.
9
Bom, para Pontes de Miranda é isso aí, mas, para Marinoni, não se deve distinguir essas duas espécies de ações
por critérios de direito material. O que deve diferir uma de outra é a finalidade de se obter a tutela específica do
direito, que só ocorre na ação executiva – a ação condenatória se resume ao ressarcimento pelo equivalente em
pecúnia. CHEGA DE PONTES DE MIRANDA!
10
Além disso, as ações executivas se referem a obrigações de dar, ao passo que as ações mandamentais dizem
respeito a obrigações de fazer ou não fazer.
declaratória, no que tange à declaração teria carga 5; ela cria, também, algo de novo no
mundo jurídico, pelo efeito da coisa julgada, tendo peso 4 na constituição; ela tem o efeito
anexo de condenação – no que se refere às custas processuais e aos honorários advocatícios –
, cujo peso é 3; há, na mesma sentença, mandamentos dados pelo juiz (intimar-se, publicar-
se, registrar-se) – logo, há peso 2 nesse aspecto11. Todas as demais sentenças sempre têm
peso 4 quanto ao efeito declaratório – porque toda e qualquer sentença sempre é uma
declaração; quando o juiz condena o réu, antes declara que o mesmo é devedor em face do
autor; quando profere decisão executiva em ação de despejo, antes declara que o réu é
inadimplente quanto às obrigações oriundas do contrato de locação.
Calmon de Passos, criticando essa teoria, batizou-a de “teoria do jegue” – pois é esse
animalzinho simpático que costuma carregar peso. Os efeitos anexos da sentença não lhe
outorgam natureza diversa – estar-se-ia confundindo o que é acessório com o que é
principal.
As razões de decidir nunca fazem parte da coisa julgada; o que é abarcado por este
fenômeno é somente a parte dispositiva da sentença. Por exemplo, se “A” sofre uma batida
de carro por culpa de “B”, e este é condenado à reparação do dano material, somente a parte
dispositiva – “julgo procedente o pedido formulado por ‘A’ contra ‘B’, razão pela qual,
condeno o réu, aos pagamentos, em parcela única, ao autor, do valor de R$ 0,75, a título de
danos materiais” – faz coisa julgada. Caso “A” resolva mover nova ação em face de “B”, desta
vez fundada em reparação de lucros cessantes, não poderá o juiz afirmar, com base no outro
julgado, que “B” tem culpa – pois as razões de decidir (a culpa de “B”, no exemplo) não
transitam em julgado, salvo se houver ação declaratória incidental ou incidente processual.
Num processo de execução, pode o réu dilapidar seu patrimônio (doando bens de
má-fé) para que o credor não se satisfaça – pois não haverá bens a serem penhorados. Cabe
ao autor, em ação cautelar, suscitar arresto (medida cautelar em que se antecipa a penhora, a
fim de se evitar as fraudes à execução e contra credores).
11
Otávio Augustus esqueceu onde entra o aspecto executivo da sentença declaratória...
No sistema anterior, o ônus tempo do processo sempre pesava contra o autor – que
deveria esperar o fim do processo para obter o provimento jurisdicional que lhe satisfizesse.
No entanto, moderna e otavio-augusticamente, se entende que o tempo do processo deve
correr contra aquele que tem, no plano da plausibilidade e da verossimilhança, uma situação
mais fraca.
* *
12
Traduzindo: fazer um “direito-alternativo-bom-pra-megaempresário”.
13
Hoje é só lascar uma ação inibitória e tá tudo resolvido.
14
Dizem as más línguas que isso, na verdade, era a desconfiança das pessoas em relação aos juízes do ancient
regime.
PROCESSO DE EXECUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
15
Aceite essa vontade concreta da lei com reservas.
16
Também é por conta disso que é uma impropriedade se incluir numa petição inicial de uma ação de execução o
famoso jargão “protesta por todos os meios de prova em direito admitidos”, uma vez que não se prova coisa
alguma em processo de execução – já que não há matéria controvertida submetida à cognição judicial, em razão
de já existir um título constitutivo, judicial ou extrajudicial.
execução porque, por exemplo, a execução judicial deixou de ser ação autônoma (passando a
ser fase processual), de forma semelhante ao que veio a ocorrer com os embargos à
execução de título extrajudicial.
3. ESPÉCIES DE EXECUÇÃO
Dentro do processo de execução, aquilo que mais interessa ao Direito Falimentar são
as espécies de execução: singular e coletiva.
O nome já denuncia muito de seu conteúdo: é a ação intentada por uma parte autora,
denominada exeqüente, em face uma parte requerida, denominada executada17. O processo é
movido unicamente pelo interesse do credor em receber a prestação, objeto da execução,
devida pelo executado18.
a) execução por quantia certa: se instrumentaliza pelo requerimento do autor, seguido pela
garantia do juízo – o ato de constrição judicial, que submete o bem à jurisdição de execução
–, o qual visa a apurar o valor do bem, vendê-lo em hasta pública, e entregar o produto ao
credor, satisfazendo o seu crédito (caso não tenha havido adjudicação).
O ato que implica a constrição judicial, na execução singular, é a penhora. Entre esse ato
e a alienação judicial do bem, pode haver resistência (nos limites que a cognição do processo
judicial permite) do executado – através de uma ação autônoma de conhecimento (pelos
embargos à execução), ou por expediente dentro do próprio processo de execução. Se a
resistência do executado é aceita integralmente, o processo de execução é extinto; se aceita
parcialmente, o valor da execução é reduzido, no montante que o juiz aceitou o questionamento
do réu. Ultrapassado o questionamento do réu, se a ação não foi extinta, o bem é alienado, pelas
formas que a lei prevê, e o produto da alienação é entregue ao exeqüente.
17
No entanto, sabe-se que é possível haver pluralidade dos sujeitos que compõem os pólos da relação jurídica
processual, sem que isso altere a dualidade de partes (há sempre parte autora e parte ré). As partes são
trabalhadas como pólos de interesses – ainda que haja vários autores, todos eles têm o mesmo interesse
processual. Já entre devedores, pode sim haver conflito, especialmente em se tratando de solidariedade passiva.
Da mesma forma que no processo, num negócio jurídico bilateral há somente duas partes (ex.: 150 pessoas são
proprietárias, em regime condominial, de um biscoito cream-cracker; ao vendê-lo a duas pessoas famintas, o
negócio foi celebrado entre uma parte vendedora e uma parte compradora).
18
E se, na hipótese de Wilma, no processo de conhecimento, o autor não só perde, como também é condenado?
O réu se torna exeqüente? Para Otávio Augustus, só no que se refere aos honorários de sucumbência (pois
reconvenções, denunciações da lide e outras coisas que tumultuam o processo, são demandas autônomas). Sim,
professor, e no caso de pedido contraposto? É a mesma coisa? Alguém aí me responda, por favor.
processo continua. Caso não se encontre o bem, ocorre a conversão em execução por
quantia certa; como a execução é, ainda, patrimonial, o que resta é a apuração do valor do
bem que seria entregue, e posterior homologação judicial dos cálculos – que embasam a
mencionada conversão.
EXECUÇÕES SINGULARES
RIHANNA: celebridades
também devem
19
Já o inverso não rola. Entregar um boi no lugar de R$ 500.000,00 pode ser uma dação em pagamento, mas isso
não muda a natureza da execução instaurada.
20
Antigamente, segundo relatos otávio-augústicos, o devedor era chicoteado, sob gritos de “toma, descarado”.
Hoje, isso virou música da Timbalada.
Se Rihanna possuir apenas um bem – o terreno no Salobrinho –, mas cujo valor seja
superior ao das cinco obrigações somadas, todas as penhoras incidirão sobre ele. Há,
portanto, um conflito de interesses entre os credores, que formam um concurso impróprio. O
problema é resolvido pelo critério cronológico – vendido o bem21, entrega-se, na totalidade,
o valor da obrigação do primeiro credor que realizou a penhora, depois o segundo, e assim
sucessivamente. Se o valor bem penhorado puder satisfazer a todas as obrigações, não há
problema, mas, em caso negativo, estará caracterizada a insolvência do devedor – pois há
obrigações não satisfeitas por insuficiência de seu patrimônio.
Nesse aspecto, o Direito Civil elenca os títulos legais de preferência, que se dividem em
privilégios e em garantias reais. Os credores destas possuem preferência (e seqüela) em razão
de seu direito real sobre determinado bem do devedor; os credores daqueles têm preferência
por conta da natureza do crédito (de natureza pessoal) – trabalhista, fiscal, entre outros.
* *
21
Mas, e se o bem for vendido como se fosse na promoção do Meira? Na primeira praça, os lances só podem ser
dados respeitando-se o limite mínimo do valor da avaliação. Na segunda, pode-se comprar por qualquer valor
que não seja considerado vil (<50%).
22
Tem que sair da boca do juiz: “olha, cara, tu tá insolvente...”.
23
Pois, aí, o processo “deixaria de ser processo, e passaria a ser corrida de cem metros rasos”. JAMAIS deva a Usain Bolt.
1. PRESERVAÇÃO DA EMPRESA
Esse princípio é tanto o mais importante como o mais citado pela doutrina, e, ainda, o
mais discutido nos debates provenientes da reforma legislativa de 2005, quando se
promulgou a nova lei de falências e recuperação de empresas24. Quando se discutia se o
projeto a ser votado contemplaria ou não tal dispositivo, o cerne do confronto se baseava na
preservação da empresa – que já foi abordada anteriormente, em especial na teoria geral do
Direito Comercial.
Seu conceito revela um valor, previsto na lei de falências, e norteador importante para
o Direito Comercial como um todo – campo onde houve uma adaptação, inclusive sob o
ponto de vista doutrinário e jurisprudencial, de várias de suas normas em função da
preservação da empresa. Na época do Código Comercial de 185025, poder-se-ia interpretar
que, numa sociedade celebrada por prazo indeterminado, um sócio, sozinho, poderia suscitar
a dissolução daquela, mesmo sendo minoritário. As legislações posteriores (incluindo o
Decreto n.º 3.708/1919, referente às sociedades limitadas) também contemplavam essa
possibilidade. A doutrina e a jurisprudência avançaram no entendimento de que a dissolução
requerida pelo sócio minoritário seria uma dissolução parcial – ele poderia se retirar da
sociedade, caso se tratasse de contrato por prazo indeterminado, cuja regra geral contempla
a denúncia ou resilição unilateral injustificada26. Assim, sem respaldo legal explícito, passou-se
a entender que a dissolução que pode o sócio minoritário requerer, nas sociedades sem
termo final, era a dissolução parcial – ou seja, a retirada do sócio dissidente. Evitava-se, assim,
24
Em 2005 também rolou: Dez anos do CD “Jagged Little Pill”, de Alanis Morissette; “Coração”, de Rapazolla, foi eleita
a música do Carnaval; foi lançado “Harry Potter and the Half-blood Prince” nas livrarias; este que vos fala passou no
vestibular de Direito e perdeu a matrícula; sub-celebridades do mundo pop foram fotografadas sem calcinha saindo
de limusines; “Tony Hawk’s American Wasteland” era o sétimo jogo da melhor série de games de skate da história;
“RBD” transformou as rádios em aterros sanitários e “Menina de Ouro” ganhou o Oscar de melhor filme...
25
Em 1850 eu não sei o que rolava.
26
Denúncia vazia ou resilição unilateral injustificada é uma forma potestativa de extinção do negócio jurídico. E DAÍ???
Tais manifestações se ligam à idéia dos perfis, elaborados por Asquini em 1943 –
empresário, estabelecimento e atividade. Empresa, enquanto fenômeno econômico, então,
engloba todo esse universo – uma pessoa, denominada empresário, que, por meio de um
conjunto de bens, exerce determinada atividade (de intermediação de bens e serviços de
maneira organizada e com fito especulativo). Dessa forma, o termo empresa pode se traduzir
para o direito enquanto pessoa, sujeito de direito (pouco importando se se trata de um
empresário individual ou coletivo) – quando, na Justiça do Trabalho, se declara que alguém é
empregado de determinada empresa, ou que certa empresa foi reclamada, está-se referindo
ao ente que é parte de uma relação jurídica, ou seja, o empresário27. O estabelecimento é a
dimensão patrimonial da empresa, a sua manifestação para o direito enquanto coisa – “a
empresa foi penhorada”, “a empresa foi vendida”28. Já a atividade é o elemento dinâmico e
funcional da empresa29.
27
Nessa operação de tradução, quem entra em falência é o empresário. Não é incorreto, porém, dizer que “a
empresa faliu”, desde que se interprete, no contexto, que está se referindo a um dos perfis da empresa. A propósito,
tente conjugar o verbo falir no presente do indicativo. Não conseguiu? Pois é, trata-se de um verbo defectivo.
28
Quando há “penhora do faturamento da empresa”, traduz-se o termo ambíguo como empresário, uma vez que
somente uma pessoa pode ser proprietária do estabelecimento, que engloba o faturamento.
29
Um lembrete que o professor fez questão de fazer: não confundir os conceitos de empresário individual,
sociedade e sócio. Só quem entra em falência é o empresário (pessoa natural ou sociedade), não o sócio. E não
tente confundir o empresário individual como se ele tivesse dupla personalidade, pois isso é o que batizou essa
editora, e se convencionou chamar de .
apenas os seus dois últimos perfis – uma vez que não há atividade sem estabelecimento e
vice-versa. Ainda que não subsista empresa sem empresário, pode-se substituí-lo. O que
interessa é impedir que se cesse a atividade, não se desagregando a unidade produtiva. A
falência implica a cessação da atividade de um empresário, que é suprido por outro.
30
E concluir hoje, com um leilão de calças boca-de-sino, camisas “volta-ao-mundo” e sapatos “cavalo-de-aço” – o
professor usava isso. Pois é, a virada dos anos 70 pros 80 foi mesmo trash...
31
É redundante falar em “estabelecimento que mantém sua unidade produtiva”, pois, sem essa característica, não
há estabelecimento algum.
32
O credor pode, também, na condição de qualquer interessado, participar do leilão do estabelecimento,
arrematá-lo, pagar o seu respectivo valor, e ficar com a propriedade desse conjunto de bens; é possível, ainda,
utilizar o crédito como pagamento total ou parcial do lance. Se a liquidação ocorrer antes da classificação dos
credores, não há possibilidade de isso vir a ocorrer – o credor terá que comprar o estabelecimento com outros
recursos, sem haver compensação.
33
¡Questão de prova!: é possível que os credores de uma S/A falida de Salvador decidam que a liquidação será
procedida mediante doação de todo o acervo objetivo da massa falida ao Esporte Clube Bahia? Otávio Augustus
fez suspense e NÃO respondeu. Droga!
34
Isso é o que você diz.
35
Não colou, professor. O empresário faz a besteira e põe a culpa no empregado. Bastante ético, não?
36
Exatamente... Se sem ocorrer processo de recuperação judicial tem empresinha famosa demitindo aos milhares,
imagina se já tivesse andando na prancha...
7. SEGURANÇA JURÍDICA
Há quem entenda que esse sistema pode ser objeto de pressões: um credor pode
concordar com a recuperação mediante recebimento antecipado de seu crédito por “caixa
37
Quantos bilhões mesmo o Bradesco lucrou no ano passado?
38
Nesse momento o professor começou a falar de uma historinha de um tal de “Mauá” (será o Visconde?), que só
faliu porque os credores não tiveram oportunidade de se reunir e deliberar sobre a moratória (pois eram muito
pulverizados), que, graças à credibilidade daquele empresário, certamente seria concedida. Para Otávio Augustus,
“Mauá, o empresário do império” é um dos grandes livros da história do Brasil. Sou mais Harry Potter and the
Deathly Hallows.
dois”. Dessa forma, doutrinadores entendem que, havendo recusa injustificada dos credores,
pode o juiz conceder a recuperação judicial contra a vontade daqueles. O problema que se
apresenta é a possibilidade de erro na avaliação do julgador, que, obviamente, não é expert.
Tal princípio se refere aos crimes falimentares. Ressalte-se que não é a “geografia” que
dá a natureza da norma. Os dispositivos que tipificam condutas ligadas à falência e à
recuperação judicial e cominam penas são normas de Direito Penal, não integrando a matéria
comercial.
* *
39
Não se vendendo, hoje, calça boca-de-sino, camisa “volta-ao-mundo”, e sapato “cavalo-de-aço”.
JUÍZO FALIMENTAR
A partir de agora, serão abordados institutos que são comuns tanto à falência quanto
à recuperação judicial; posteriormente, se enfocará o processo de falência propriamente dito,
e, depois, a recuperação judicial de empresas.
1. LIMITES SUBJETIVOS
A primeira questão que surge quando se estuda o sistema concursal é definir os seus
limites subjetivos, ou seja, quais são os sujeitos que são (ou podem ser) submetidos ao
sistema falimentar. Com os conhecimentos adquiridos na teoria geral do Direito Comercial,
conclui-se que, naturalmente, são os empresários, conforme o artigo 1º da Lei n.º 11.101:
Não se pode qualificá-lo, necessariamente, como insolvente, pois tal característica está
ligada à falência, embora nem sempre à recuperação judicial. Contudo, é possível se afirmar que
se trata, sempre, de empresários em crise financeira (que pode decorrer ou não da insolvência40).
40
No processo de falência, um dos pressupostos é a insolvência, que é presumida (averiguar-se a insolvência real
poderia levar anos). Como toda presunção pode ou não corresponder à realidade, é possível se constatar que o
empresário, no decorrer do processo, não é insolvente. Arrecadaram-se e avaliaram-se os bens e, após a listagem
dos credores e de seus respectivos créditos, verificou-se que o valor do ativo era maior que o do passivo – e que a
inadimplência decorria de iliquidez (inexistência de dinheiro – ou outros meios líquidos de pagamento – em caixa,
não de patrimônio para solver as dívidas). No entanto, nenhum efeito jurídico se opera por conta desse novo quadro
– o processo de execução coletiva prosseguirá normalmente; todos os credores serão pagos e haverá muito
menos incidentes processuais do que se o devedor fosse insolvente. No plano fático, porém, há efeitos: o
empresário VAI ter que pagar todo mundo, porque tudo venceu antecipadamente.
A discussão, a partir desse dispositivo, foi logo superada, pois em 2005 veio a lume a
nova lei de falência, estruturada conforme a teoria da empresa.
2. EXCLUSÃO
Sociedade de economia mista é aquela que tem mais da metade do capital com
direito a voto sob titularidade do Estado. Nesse ponto, há “uma das coisas mais interessantes
na história legislativa do direito brasileiro41”: durante várias décadas, se discutia a respeito da
justeza, da legitimidade e da racionalidade de se excluir a sociedade de economia mista do
sistema falencial; até o regime constitucional destas define a aplicação das normas de direito
privado (obedecendo-se a lógica de toda S/A – Petrobras, Banco do Brasil v.g.). A despeito
disso, dizia-se que, ao se tratar de falência da sociedade de economia mista, indiretamente –
apesar da separação das personalidades jurídicas entre ela e os demais entes do Poder
Público – estaria se falando em “falência do Estado”, que é o seu controlador. Era uma
discussão com forte carga ideológica e com argumentos bastante plausíveis, provenientes
tanto dos que defendiam a incidência do regime falimentar às sociedades de economia mista
quanto dos que rejeitavam tal idéia. Nas reformas legislativas referentes às S/As, suprimiu-se
o dispositivo da lei 6.404/76 (art. 242) o qual estabelecia que as sociedades de economia
mista não estariam sujeitas à falência. A revogação do artigo visou a incluir tais sociedades no
sistema falencial. “Inexplicavelmente”, três anos depois, a nova lei de falências voltou a excluir
a sociedade de economia mista de seu regime.
41
Essa é a de número 3.815.
42
Entidades submetidas às regras do sistema financeiro, fiscalizadas pelo Banco Central e sujeitas a intervenção e
liquidação promovidas por este.
43
Não vou transcrever o trecho (especialmente “o elo de ligação que une”) a respeito das sociedades
cooperativas, pois estas já estavam excluídas do sistema falimentar por óbvias razões: não são empresárias. Para
mais detalhes, voltem ao Comercial II. Mas atentem-se para o risco de Otávio Augustus tentar incluir um não-
empresário num processo de falência, só para zoar.
Esse adjetivo (“principal”) tem certa carga de subjetivação conceitual, mas leva a
algumas conclusões:
44
“Onde está Wally?”
45
Aliás, cada estabelecimento, em caso de pluralidade, é tratado como se fosse de titulares diferentes, sendo
necessário, por vezes, tratá-los como matriz e filial. Mas tudo isso ocorre somente no campo do Direito Tributário.
46
Otávio Augustus: “Não saiam por aí dizendo que eu disse que principal estabelecimento é a matriz. Isso foi só
uma correlação com o Direito Tributário”. Tá bom. Ninguém vai ler isso mesmo...
47
Se dois juízes se declararem competentes, o primeiro que tomou conhecimento da causa vence a briga, pelo
critério da prevenção. Sabe que eu não vi isso em Processo Civil?
Sendo decretada a falência do devedor, o parquet51 será intimado, sendo esse um dos
requisitos da sentença judicial, conforme o artigo 99 da Lei n.º 11.101:
O Ministério Público, assim como o próprio devedor ou seus sócios e os credores, tem
poder, também, para impugnar a relação de credores apresentada pelo administrador judicial
(art. 8º da Lei n.º 11.101).
* *
48
E o juízo do CONAC é o da unimultiplicidade.
49
Único, também, é o pólo ativo da demanda: não há litisconsórcio de credores. A falência forma duas massas (e
duas universalidades): a massa objetiva ou massa falida (o conjunto de bens arrecadados, que difere de
patrimônio, já que este contém bens impenhoráveis) e a massa subjetiva (o conjunto de credores, que formam um
pólo único de interesses – embora, internamente, haja outros interesses conflitantes, pois não há como se
saldarem as obrigações de todos).
50
Isso será abordado mais profundamente quando forem enfocados os pressupostos da falência, em especial a
decretação desta.
51
Eu coloquei isso só de onda. Nem sei como se pronuncia.
ASSEMBLÉIA-GERAL DE CREDORES
1. CONCEITO
52
Conhecido como síndico no sistema anterior.
2. FUNCIONAMENTO FACULTATIVO
A assembléia de credores tem existência facultativa: nem toda falência ensejará a sua
instauração. Há somente uma hipótese de obrigatoriedade54 de formação da assembléia: o
órgão é necessário para a aprovação do plano de recuperação judicial do devedor, por meio
de deliberação dos credores.
3. COMPOSIÇÃO55
Há três classes de credores na assembléia, que delibera com três votos. Considera-se
aprovada a proposta que obtiver voto favorável de duas das três classes. Internamente, cada
classe toma suas decisões conforme regras próprias. Eis as classes:
53
Só sei que tem discussão, mas pra que lado a vaca voou, eu não sei.
54
Mitigada, conforme a polêmica anterior.
55
Tem gente procurando o compositor do jingle de Marcos Flávio (é 23-2-2-2, é Marcos Flávio na para-a-da/Agora
se prepare para dar uma confirmada) para dar uma porrada.
4. COMPETÊNCIA
Competência na falência
Na falência, a assembléia tem competência para, além de outras hipóteses previstas em lei:
5. CONVOCAÇÃO E PROCEDIMENTO
Somente o juiz convoca a assembléia (art. 36 da Lei n.º 11.101). Pode ele fazer isso de
ofício, a requerimento dos credores que representem mais de 25% dos créditos de cada
classe, ou do administrador judicial (a solicitação deste submetida a deliberação do julgador).
Art. 36. A assembléia-geral de credores será convocada pelo juiz por edital
publicado no órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades
da sede e filiais, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, o qual conterá:
I – local, data e hora da assembléia em 1ª (primeira) e 2ª (segunda) convocação,
não podendo esta ser realizada menos de 5 (cinco) dias depois da 1ª (primeira);
II – a ordem do dia;
III – local onde os credores poderão, se for o caso, obter cópia do plano de
recuperação judicial a ser submetido à deliberação da assembléia.
56
A diferença da sociedade para o empresário individual nesse aspecto é a seguinte: a substituição do administrador,
no primeiro caso, não representa afastamento do empresário, mas sim troca do órgão da pessoa jurídica
encarregado da gestão; no segundo caso, há sim afastamento do empresário (individual), e não somente do órgão
administrador – pois o intuito é recuperar a empresa enquanto atividade e estabelecimento. Caso contrário, teríamos
uma cirurgia cerebral mal-sucedida. Se a “Farmácia Cabral”, por exemplo, fosse de titularidade de um empresário
individual, ao ser recuperada, deixaria de ser administrada por Pedro Manoel da Silva e passaria a ser dirigida por um
gestor escolhido pelos credores nomeados pelo juiz. Se a mesma Farmácia fosse de propriedade da Distribuidora de
Alimentos Ltda., esta não seria afastada da titularidade e da administração; os administradores, enquanto órgão da
sociedade, é que seriam trocados. Não se refiram a sócios, pelamordedeus, já que, se eles fossem afastados, haveria
algo parecido com desapropriação (embora esse termo não me pareça correto, já que os sócios não são donos do
estabelecimento em regime de co-propriedade, como se frisou no semestre passado).
Quorum de instalação
Quoruns especiais
57
Otávio Augustus discutiu se, no caso da classe dos credores trabalhistas, não seria metade dos credores em vez
dos créditos. Como a lei foi silente, parece que não há diferença entre as classes nesse aspecto. Ou será que se
aplica o § 2º do artigo 45 (“na classe prevista no inc. I do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada pela
maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seu crédito”)? O professor acha que não.
58
Pauta de hoje: vamo’ pro Mar Aberto ou pro Bataclan?
Para aprovação de forma alternativa de realização do ativo (diversa das opções previstas
na Lei n.º 11.101), na falência, é necessária a anuência dos credores que representem dois
terços do total de créditos, entre os presentes, independentemente de classe60.
São os “credores-perus” – não podem deliberar, e sua presença só atrapalha, pois não
é computada no quorum de instalação da assembléia e das deliberações por ela realizadas.
Estão elencados no artigo 43 da lei de falência:
Aqueles que têm vínculo societário com o devedor não têm direito a voto por razões
óbvias (não possuem interesse uno em relação aos demais credores). Na recuperação judicial,
também não vota aquele que não teve o seu crédito alterado pelo plano (artigo 39, § 1º); se
alguém não teve alterado o seu crédito quanto a redução do montante, postergação de sua
exigibilidade ou alteração de garantia, não possui interesse nas deliberações. Otávio Augustus
pondera esse argumento, afirmando que é do sucesso da recuperação que se darão as
chances de se receberem os créditos, alterados ou não. O fato de o crédito de alguém não ter
sido modificado pelo plano não lhe retira, totalmente, os efeitos da recuperação. Um plano
59
E se não tiver como conjugar a maioria dos créditos com a maioria das cabeças – ex.: um credor de R$
4.990.00,00, e quarenta e nove com os R$ 10.000,00 que restam – o que acontece? Se a situação não se encaixar
numa das hipóteses do parágrafo primeiro do artigo 58, os quarenta e nove não vão ver nada de bom na TV.
60
Investiguem a possibilidade de os credores decidirem doar todos os bens da massa ao Esporte Clube Bahia (o “Esquadrão
de Aço”) – ou seja, quais são os limites na deliberação dessa forma alternativa de liquidação. É questão de prova!
mal elaborado poderá elidir a possibilidade de o empresário solver suas dívidas. O legislador,
dessa forma, optou pela limitação visando a diminuir os conflitos da assembléia61.
8. PRESIDÊNCIA
9. DIREITO DO VOTO
Quem tem direito a voto, na assembléia, são os credores, mas quem são eles? A
depender do momento em que a assembléia esteja ocorrendo, há um tipo de lista de
credores. Quando o juiz decreta a falência requerida pelo próprio devedor (autofalência) terá
este que listar os seus credores; se foi requerida por terceiro, o julgador dará um prazo de
cinco dias, para que o devedor faça aquela lista (artigo 99, inciso III).
A depender do momento em que a falência se encontra, será utilizada uma das três – por
exemplo, se se tratar de uma assembléia convocada após a aprovação do quadro geral de
credores, a lista será a terceira; definir-se-á, assim, quem é credor, quem pode votar e por quanto
vota (se for da segunda ou terceira classes, em que o valor do crédito define o peso do voto).
Na recuperação judicial, ocorre o mesmo; a primeira lista, apresentada pelo devedor, pode
ser alvo de impugnações dos credores – que, após as deliberações do juiz, gerará a segunda lista63.
9.1. Credores, habilitados por força de decisão judicial, que obtenham liminar
O sujeito que diz ter a qualidade de credor, mas não está em qualquer das listas, pode
suscitar, junto ao Poder Judiciário, decisão liminar a qual garanta que, enquanto a decisão
61
Dizem por aí que uma assembléia de credores é um dos ambientes mais violentos do mundo. Mais ainda do
que um backstage de modelos sem ter onde vomitar.
62
Mas, na lista de Sabrina Sato, “tá tudo incluso!”.
63
As listas são publicadas em edital e na imprensa oficial. Os credores também podem formar comunidades no Orkut.
Aproveitando o ensejo, o devedor que confecciona uma lista fidedigna de seus credores não tem bonificação alguma
por isso. A lista diz muito mais respeito aos credores entre si do que ao devedor, por este vai perder tudo mesmo
(perder para dois credores ou para duzentos não vai fazer diferença). Já para os credores, a lista feita da maneira correta
garantirá a cada um a devida participação no rateio do produto da liquidação. Mas se Rihanna diz que seus credores são
seus amigos Timbaland e Timberlake só pra dar a eles alguns créditos fictícios, ela estará cometendo um crime
falimentar embaixo de seu guarda-chuva.
definitiva que declare seu crédito não seja prolatada, ele participe da assembléia. A Lei n.º
11.101 tem dispositivo que impede que o provimento de urgência se dê para fins de
suspensão da assembléia:
Credor de quantia ilíquida é aquele que não pode mover ação de execução, por não
ter título executivo65. Como a falência é um processo de execução, não pode alguém, sem
título, integrar o pólo de credores. Deve o credor entrar com ação de conhecimento, a fim de
tornar líquido o seu crédito, constituindo o seu título executivo, e, por meio dele, tornar-se
habilitado a participar do processo de falência.
A situação é mais difícil em se tratando de valor a ser apurado em liquidação que não
tenha parâmetros pré-fixados (ex.: dano moral). A quantia a ser reservada dependerá do
prudente arbítrio do juiz, pois não há critério estabelecido.
* *
64
Numa situação meio Bomberman, quando você morre e fica do lado de fora jogando bombas pra eliminar o
adversário.
65
Mas esse troço de nulla executio sine titulo não é absoluto, não.
66
Na falência, nem todo mundo recebe integralmente.
PRESSUPOSTOS DA FALÊNCIA
1. DEVEDOR EMPRESÁRIO
67
11.101 é um candidato falido nessas eleições.
2. INSOLVÊNCIA
68
Notando, aqui, o deslize de se falar em sociedade empresária e empresário; bastaria se mencionar o último, pois
aquela é o empresário coletivo. Quanto o texto legal fala, simplesmente, de empresário, está se referindo ao
empresário individual.
69
Um deles é um tal de Fernando Bezerra, o outro tem um nome indecifrável.
É o critério utilizado na maioria dos países da Europa, além da Argentina. Possui forte
carga de subjetividade, pois não há parâmetros objetivos de aferição; fica a critério do juiz
verificar se, na situação dada, o devedor estaria impossibilitado de adimplir suas obrigações. Não
se deduz a cessação de pagamento pelo número de títulos não-pagos, ou pelo montante da
dívida pendente; o critério se estabelece dentro de um contexto em que o julgador perceba,
mediante balizas fixadas pela doutrina, que o devedor cessou seus pagamentos. Mesmo sendo o
critério utilizado em várias legislações, tem o inconveniente de se expressar de maneira casuística,
gerando certa insegurança jurídica – a margem para se discutir a existência ou não de situação de
insolvência é muito maior do que nos países que adotam o critério da impontualidade.
3.2. Impontualidade
70
Otávio Augustus diz que esse conceito de passivo exigível no curso prazo não existe mais hoje. Antigamente, havia o
passivo não-exigível, que era o capital social (dívida da sociedade para com os sócios). Nos dias de hoje, o passivo não-
exigível integra o patrimônio líquido. Além disso, a expressão correta é “no curto prazo”, em vez de “a curto prazo”.
c) sem relevante razão de direito – as razões estão dispostas no artigo 96, que se referem,
basicamente, à inexistência de obrigação, pagamento e prescrição. Trata-se de mais uma
impropriedade técnica da lei de falência, pois, nesses casos, a obrigação não existe; a
relevante razão de direito viria quando, apesar da existência da obrigação, o devedor estaria
dispensado de adimpli-la, abrindo-se exceção à sua exigibilidade.
d) protesto do título – a legislação (Lei n.º 11.101/2005 e lei de protestos) menciona o protesto
especial para fim falimentar. Há, em regra, dois tipos de protestos: I) protestos cambiais (que
visam ao exercício de direito cambial em face dos obrigados de regresso, ou do sacado da
duplicata72); II) protestos especiais, para aqueles títulos que não precisam dessa formalidade
para serem exigidos, ou demais documentos representativos de dívida não submetidos a
protesto cambial73, mas apenas para fins falimentares – desde que se trate de título executivo.
71
Mas é o preço a se pagar pela facilidade, quando se compara com a aferição da insolvência real. Teoricamente,
seria possível afastarem-se os critérios de presunção da legislação falimentar, mas, faticamente, isso seria terrível
do ponto de vista da segurança jurídica e da celeridade processual.
72
Ô flashbackzinho ruim, viu!
73
Porém a legislação mudou, e hoje se admite protesto cambial para títulos não-cambiais. O professor que disse...
3.3. Confissão
Na legislação de 1945, havia uma sanção indireta ao empresário que, até trinta dias
após o fato que caracterizasse a impontualidade, não requeresse a autofalência: quem não
fizesse isso, não poderia requerer a concordata suspensiva – aquela requerida após a
decretação da falência, caso o ativo fosse superior a 50% do passivo (após a classificação dos
créditos). Essa sanção indireta deixou de existir junto com a concordata suspensiva; não há
uma “recuperação judicial suspensiva”, porque os princípios do direito concursal alteraram-se:
só se decreta a falência quando a recuperação for inviável – tanto que, para se obstar um
pedido de falência, pode-se requerer a recuperação judicial, se houver viabilidade. Mas se
houve falência, a empresa é inviável e, conforme a principiologia atual, devem-se retirar do
plano jurídico as empresas irrecuperáveis74.
O exeqüente deve solicitar certidão relativa ao fato, e, com base nela, requerer a
falência do devedor. Se decretada, a execução singular será suspensa, pois o crédito será
satisfeito via execução coletiva.
74
E mandar tudo pra um colégio de freiras.
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou
da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento
de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de
burlar a legislação ou a fiscalização para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem
ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes
para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de
seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de
recuperação judicial.
A lei menciona que, se tais atos estiverem no plano de recuperação judicial, não
ensejam o pedido de falência, numa ressalva simplesmente inútil no dispositivo. De maneira
geral, há situações que, por si sós, já caracterizam a insolvência, ou corroboram a sua
presunção; são atos que somente um empresário, espremido pela impossibilidade de
adimplir suas obrigações, pratica.
4. DECLARAÇÃO JUDICIAL
Empresarial”75, até hoje não resolvida, versa sobre o estado de fato ou de direito da falência –
ou seja, se o estado de falência antecede a decretação judicial ou nasce com ela (antes
haveria simplesmente insolvência). Essa discussão interfere na natureza jurídica da sentença que
declara procedente o pedido de falência, se declaratória – apenas declara a situação fática, que
corresponde à insolvência – ou constitutiva – constituindo o estado de falência, pois se trata de
situação de direito.
Por outro lado, o juízo falimentar é, também, universal, ou seja, é competente para
julgar todas as ações contra a massa – atraindo todas elas, salvo aquelas que demandem
quantia ilíquida (que visem a constituir crédito, bem como título executivo, por meio de ação
de conhecimento).
Observe-se que as ações em que a massa é autora não são atraídas pelo juízo da
falência, algo pouco discutido pela doutrina. Otávio Augustus entende que isso ocorre por
causa da teleologia da fixação de competência, que, em geral, leva em conta o réu, não o
autor. Assim, o deslocamento de competência que decorre da universalidade do juízo
falimentar não se aplica nessa situação.
• Ações possessórias;
• Reclamações trabalhistas, no que se refere à constituição do título (pois a fixação de
competência é de natureza constitucional). Na execução, há o efeito atrativo.
75
A de número 3.816.
76
Vide aula 05.
expressada anteriormente, que envolve seu meio e seu objeto. Se a falência decorre da
insolvência, e esta significa patrimônio insuficiente para adimplemento das obrigações, caso
houvesse execuções singulares noutros juízos, seria possível um credor trabalhista receber seu
crédito inteiro independentemente de rateio. Contudo, isso não ocorrerá: embora, em
princípio, todas as obrigações trabalhistas devam ser saldadas antes daquelas relativas aos
credores das outras classes, a situação deficitária do empresário pode ser tamanha que nem
mesmo os credores da primeira classe possam receber a totalidade de seus créditos77.
* *
77
Há, também, obrigações que devem ser pagas antes daquelas de titularidade dos credores das três classes; isso
(pedido de restituição) é assunto para a próxima novela das seis: “negócio da China”!
PROCEDIMENTO PRÉ-FALENCIAL78
1. NATUREZA
2. REQUERIMENTO
Além disso, deve-se frisar, mais uma vez, que o título não precisa ser do requerente –
pois ele pode se valer de um título de terceiro; o seu próprio título não precisa sequer estar
vencido. O requerente deve se submeter apenas ao crivo da legitimidade ad causam para que
a petição inicial seja deferida. Não se trata de ação de cobrança, porque, nesse caso, a
finalidade é somente a satisfação da pretensão (um direito líquido e certo não executado
voluntariamente pelo devedor) de determinado credor. O escopo da falência não é cobrar –
embora se dê o pagamento dos créditos durante o processo –, mas sim extinguir todas as
relações patrimoniais ativas e passivas do falido – ou seja, resolver aquele estado jurídica e
economicamente patológico de déficit patrimonial. Assim, não sendo a satisfação individual
do crédito a finalidade da falência, pois o que se busca é se instaurar o procedimento
concursal em face da insolvência, o credor de título não vencido possui legitimidade ativa,
78
Prova surpresa é uma &!$#@! Eu não vou sentir falta disso no semestre que vem.
79
A existência ou não de relevante razão de direito para a falta de pagamento é matéria para a defesa do réu, não
tendo relevância no que se refere ao requerimento. Na contestação é que o devedor deverá alegá-la.
Por conta disso, visando a repelir aquela conduta, a Lei n.º 11.101/2005 modificou
alguns elementos do sistema falimentar anterior, em duas vertentes:
b) na ampliação do prazo para defesa do devedor – de vinte e quatro horas82 (para apresentar
a defesa ou realizar o depósito elisivo) para dez dias.
3. CITAÇÃO E DEFESA
b) a existência de relevante razão de direito para que a dívida não tenha sido paga no
vencimento. A Lei n.º 11.101/2005 lista as hipóteses de relevante razão de direito,
80
Perguntinha interessante: por que a sociedade se extingue com a falência? Resposta “real”: “1º) Porque está
previsto na lei; 2º) A sociedade insolvente não tem meios para exercer sua atividade empresarial – se ela fosse
recuperável, não se decretaria a falência”.
81
Mais uma pérola estatística do Instituto Brasileiro de Geografia Esquizofrênica.
82
Só pra Jack Bauer mesmo...
83
Entre megaempresários inadimplentes e megaempresários agiotas, quer dizer, banqueiros, dá pra entender
quais fazem mais o tipo de Otávio Augustus.
Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inc. I do caput, desta Lei, não
será decretada se o requerido provar:
I – falsidade de título;
II – prescrição;
III – nulidade de obrigação ou de título;
IV – pagamento da dívida;
V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a
cobrança de título;
VI – vício em protesto ou erro em seu instrumento;
VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação,
observados os requisitos do art. 51 desta Lei;
VIII – cessação das atividades empresariais por mais de 2 (dois) anos antes do
pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de
Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato
registrado.
84
Otávio Augustus fez um drama, sugerindo que era óbvio que alguém iria dizer isso. Eu mermo que não! No semestre
passado ele não tinha enjoado com aquele negócio de inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé, nos
títulos de crédito em que há circulação? Exceção de contrato não cumprido em face de título cambiário é só pra
“desabafar” mesmo. Bom, mas, na verdade, o professor tinha em mente os outros títulos que ensejam a impontualidade –
não necessariamente títulos de crédito. Mas o “Imperador” ainda lançou uma possibilidade de se alegar a exceção mesmo
em caso de título de crédito: se, concomitantemente ao endosso, operou-se uma cessão de posição contratual – pois, nesse
caso, é como se o cessionário e o cedente fossem a mesma pessoa. Para mais detalhes, voltem ao volume 2 da coleção
mais esquizofrênica da literatura jurídica brasileira! Se você ainda não tem, e-meie já para... você sabe o e-mail.
se defesa e depósito ao mesmo tempo; se aquela for aceita, o requerimento será extinto e a
quantia depositada retornará ao devedor; se não for aceita, a falência não será decretada
pela existência do depósito (que é uma faculdade conferida ao devedor).
A Lei n.º 11.101/2005 trouxe, dentro das causas que impedem a decretação de
falência (por motivos desconhecidos por Otávio Augustus), a apresentação de pedido de
recuperação judicial (art. 96, inc. VII). Nessa hipótese, o pedido de falência será sobrestado, e
processado será o pedido de recuperação judicial; deferido o último se extingue o primeiro;
denegada a recuperação, a falência será decretada.
4. LEGITIMADOS
Dentre o rol do artigo 97, estão os dois grandes legitimados para requerer a falência: o
credor e o próprio devedor (em se tratando de autofalência, na qual não há todo esse processo
contencioso – mas não significa que todo pedido será deferido, ainda que ausentes seus
pressupostos, v.g. devedor empresário). As demais situações têm suas peculiaridades: está
legitimado o cônjuge supérstite ou qualquer herdeiro – tratando-se de espólio (e, obviamente,
de empresário individual) –, bem como o sócio do falido. Na última hipótese, não se trata de
autofalência, porque sócio e sociedade não são a mesma pessoa; só haveria autofalência de
sociedade se ela mesma, por meio de seu presentante, fizesse o requerimento.
Parte da doutrina (e algumas decisões judiciais) entende que, na hipótese do inciso III,
não basta a citação da sociedade; devem ser citados os demais sócios também, dado o
85
Para Otávio Augustus, ainda que o artigo 96 faça menção apenas ao inciso I do artigo 94, está claro que o
pedido de recuperação judicial suspende o procedimento pré-falencial baseado em execução frustrada. A
controvérsia se dá somente em relação ao inciso III do art. 94 – os tais fatos previstos em lei.
conflito que ocorrerá entre eles. Por exemplo, pode ser o sócio requerente o administrador
da sociedade, mas não enquanto seu presentante; quem responderia pela sociedade,
esdruxulamente, seria ele mesmo. Deve-se ressaltar, todavia, que a citação dos sócios deve se
dar apenas em caso de sociedade contratual; nas sociedades institucionais (anônimas, por
exemplo), não há essa possibilidade, por razões óbvias86. Se um dos sócios morreu, deverá ser
citado o seu espólio. Não há vedação à possibilidade de requerimento de falência por parte
de sócio de S/A87.
5. CONTEÚDO DA SENTENÇA
Essa é uma questão muito mais informativa – pois é simplesmente imposta pelo
direito positivo (por que 90 dias? Por que não 180?) – do que teleológica. O juiz, na sentença,
conforme o inciso II do artigo 99 da Lei 11.101/2005, fixa o termo legal da falência – um
período que pode retroagir até noventa dias contados do protesto que gerou o
86
Se as razões não são tão óbvias pra você, já pro volume 2, agora!
87
Há limitação no que se refere à participação do sócio em ações ou à quantia a ele devida – o professor quis
manter essa questão obscura. O prazo para interposição de embargos de declaração precluiu...
88
Pois é, quem diz uma coisa dessas tem celular Oi: “simples assim”.
Há, naquele dispositivo, uma presunção legal de que, com a fixação do termo, a
decretação da falência alcançaria o início da insolvência. Esse período dentro do termo tem
relevância no que concerne aos atos ineficazes e revogáveis (a serem estudados
posteriormente), que assim são considerados se praticados naquele interstício. Há ainda
outro, o período suspeito (de até dois anos antes da decretação da falência), específico para se
atestar a ineficácia de certos atos; o termo legal, no entanto, tem aplicação mais ampla.
5.2. Publicação
A sentença deverá ser publicada por edital; deve ter publicidade maior que as demais
decisões judiciais, dada a sua invasão na esfera jurídica de terceiros (ex.: prazo para
habilitação de créditos).
5.3. Recursos
89
Exceto os bandoleiros especuladores que se deram mal nesta crise. O senhor professor estava falando de um
cliente que tá querendo uma recuperação judicial porque se quebrou com o câmbio. Ele disse que o mais correto
para o importador (era essa a atividade do cliente), quando fosse fazer grandes negócios em outra moeda, seria
fazer uma operação de hedge – ou seja, outro negócio no sentido inverso, para neutralizar sua posição no plano
da variação cambial. Quando alguém celebra um contrato em que é devedor em dólar (ex.: US$ 1.500,00 para
pagar em 20 de novembro), e não quer correr risco decorrente da flutuação do câmbio, deve fazer outro contrato,
em que é credor do mesmo valor, na mesma moeda, e com crédito exigível na mesma data do primeiro contrato.
A posição está “zerada”, porque a mesma variação que desfavorece o importador num contrato lhe beneficia em
outro. Só que o cara foi com muita sede ao pote: além de sempre se beneficiar com a queda do dólar, a anta fez
uma operação de swap (não é swing – é um contrato de risco que tem como objeto um índice; é um “derivativo”,
porque, ao se constituir um débito de US$ 1.000.000,00 para o dia 20 de novembro, a R$ 1,50, o credor não
receberá dólares, mas reais naquela proporção avençada), ou seja, constituiu um crédito com o dólar a 1,60;
qualquer variação para baixo lhe beneficiaria, mas ele não contava com a subida repentina que fez o valor da
moeda americana chegar a R$ 2,50 no auge da crise. Resumindo: num contrato de US$ 1.000.000,00, o cara deixou
de ganhar R$ 900.000,00 – gerando uma iliquidez momentânea, porque grande parte de seus custos é cotada em
dólar, e só o seu passivo acompanhou a variação. A maior dor do cliente – além da financeira – foi o erro em
avaliar a situação (o cara ainda fez vários outros contratos em que vendia os seus produtos com o dólar a R$ 1,60...).
90
Seria mais simples, então, colocar “o termo legal da falência se estabelecerá 90 dias antes do protesto”, já que
juiz nenhum põe menos que isso.
91
Querem saber por que o recurso é interposto, e não “proposto” ou “apresentado”? Porque ele se infiltra entre a
decisão atacada e seus efeitos. Não é só do ponto de vista teórico que a terminologia faz sentido; no campo
prático, traz conseqüências importantes – como a gente viu (TÔ CEGO! TÔ CEGO!) em Processo Civil II.
qualquer decisão que não ponha fim ao processo – seja ela interlocutória ou sentença. A
sentença põe fim ao procedimento pré-falencial, e instaura o processo de execução coletiva.
* *
EFEITOS DA FALÊNCIA
O primeiro efeito sobre a pessoa do falido (que não deixa de dizer respeito, também,
aos seus bens92) é a perda que ele sofre em relação à administração de seus bens,
especialmente por conta da sua arrecadação. Esse ato de constrição judicial do patrimônio (e
submissão à relação processual da execução) transfere aquele poder ao administrador
judicial, e implica um desapossamento do falido em relação aos seus bens.
92
Aliás, não é possível separar de maneira absoluta que efeitos recaem somente sobre a pessoa ou sobre os bens,
ou, ainda, somente sobre os contratos do falido (pode-se, apenas, priorizar o enfoque). É que eles extravasam,
liberam e jogam tudo pro ar.
93
Ulhoa x Otávio Augustus: em quem você confia? Eu não acredito mais no primeiro depois dessa.
94
Quem poderia ser? Ulhoa – que, numa hora dessas, deve estar com as orelhas assando.
95
Fiat Stilo: ou você tem, ou você não tem.
O que incide, de fato, com o falido, não é uma semi-capacidade, mas ausência de
legitimação em relação àquela matéria. O sujeito é capaz, mas, em relação a determinados atos,
não tem legitimidade para praticá-los. Esse aspecto não traz ligação com a validade do ato (esta
se liga à capacidade; o ato praticado por um incapaz é nulo ou anulável), mas sim com a eficácia.
Os atos praticados em detrimento da massa são válidos, porém ineficazes em relação a ela. A
ineficácia, na teoria geral do direito, pode ser absoluta ou relativa. Quando o ato não gera efeitos
em relação a qualquer sujeito, está-se diante de ineficácia absoluta (ex.: ato submetido a
condição suspensiva; enquanto não advém o evento futuro e incerto, o ato é existente e válido,
ainda que não produza efeitos de imediato96). Já quando a não produção de efeitos se dá entre
pessoas determinadas, o fenômeno que ocorre é o da ineficácia relativa. Dessa forma, os atos de
oneração e alienação de bens do falido dentro do termo legal da falência são existentes, válidos,
mas ineficazes em relação à massa. Trata-se, pois, de ineficácia relativa97.
Esse efeito incide tanto sobre o empresário individual quanto sobre a sociedade
empresária. Porém, a limitação pode cessar para o primeiro, quando o processo de falência
for extinto, e for requerida a sua reabilitação98. Com o encerramento do processo e a extinção
das obrigações, a pessoa natural, reabilitada99, poderá, novamente, exercer atividade
empresarial. Todavia, o mesmo não ocorre com as sociedades, porque a falência implica a
extinção da pessoa jurídica. É sempre um dos casos elencados, seja qual for modelo societário
(desde que se trate de sociedade empresária), como causas ensejadoras de dissolução.
O artigo 104 da Lei n.º 11.101 estabelece uma extensa lista de deveres do falido
(incisos I a XII). O primeiro diz respeito a deveres de informação (qualificação do falido e dos
sócios, relação dos bens que compõem o estabelecimento, causas determinantes da falência,
quando requerida pelos credores – na autofalência é uma condição de procedibilidade da
ação –, informações atinentes à escrituração empresarial – que será importante na
classificação e na habilitação dos créditos, entre outros).
O inciso XI define que, no prazo estabelecido pelo juiz, o devedor terá que apresentar
sua lista de credores. Relembrando o que já foi mencionado anteriormente, a falência terá
três listas; a importância delas está em saber, em determinado momento, quem receberá seus
créditos, bem como quem está legitimado para a prática de certos atos (ex.: deliberar na
assembléia de credores). A depender do momento em que está o processo, haverá uma lista
que informará quem são esses credores. A primeira é aquela apresentada pelo falido (junto
100
“O tiro certeiro que a fulmina de morte”. Dá pra fazer um dicionário de metáforas infames que já foram ditas
nessas aulas...
101
O que restaria de óbice a isso seriam questões meramente pragmáticas, relativas ao nome, à perda de
credibilidade e referência de crédito. Operacionalmente seria mais fácil se constituir nova sociedade, com nova
denominação ou firma social (mas, nesse caso, fica difícil pôr um nome diferente...).
102
Quem poderia ser? Fábio Ulhoa Coelho...
103
É quase um sursis falimentar. Bom, mas pode um falido papa-jaca ir, de vez em quando, a Ilhéus, pra “pegá
umas onda” de vez em quando.
104
O rol é extenso e o professor comentou apenas alguns itens. Espero que você esteja, neste momento, com a
sua lei de falência do lado. Não tá? Se ferrou, não vou transcrever...
Em não cumprindo com os deveres do artigo 104, o juiz intimará o falido a prestá-los.
Se, ainda assim, não o fizer, incorrerá em crime de desobediência, conforme estabelece o
parágrafo único do mesmo artigo.
105
E desde quando comercialista sabe o que é Constituição? Tá todo mundo mais preocupado em torcer por
McCain, Hamilton e pro São Paulo do que pôr a mão na consciência.
106
Exemplo: cartinha rosa e perfumada daquela “totosa” chamada Nicole Scherzinger – a que tava rezando e
pulando quando Hamilton ganhou o campeonato. Sortudaço! A propósito, era ela a Mulher Mascarada daquela
aula de aval, de Comercial II.
107
Já violei uma, já violei duas, já violei três, hoje eu já violei, vou violar mais uma vez! E foi assim que o Cheiro de
Amor influenciou a doutrina do Direito Comercial brasileiro...
108
Pôxa, Massa, campeão até a penúltima curva...
foi causado pelo exercício da empresa, em regra, a sua continuidade implica o crescimento
do rombo nas finanças do empresário. Em havendo prosseguimento da atividade, esta terá
como limite o início da liquidação – pois, quando os bens começarem a ser alienados, ficará
difícil a compatibilização da realização do ativo com a continuidade do negócio.
Aqueles deveres que devem ser cumpridos, pessoalmente, pelo empresário individual,
devem ser impostos, por analogia, ao administrador da sociedade (ex.: não se ausentar da
comarca em que se processa a falência sem motivo justo109). O crime de desobediência,
previsto no artigo 104, parágrafo único, também é praticado pelo administrador (sócio ou
não). Só há responsabilidade penal da pessoa jurídica se o crime for praticado no exercício da
atividade inclusa no objeto social (salvo na questão ambiental, em que independe o ato
daquele requisito)110 – o que não é o caso aqui.
2.1. Arrecadação
109
PEGA! PEGA! A Farmácia Cabral tá fugindo!!!
110
Bom, essa nova incursão de Otávio Augustus pelo Direito Penal (risos) pode ser tipificada como um crime de
perigo abstrato (huahuahua!). Eu não li o que Cezar Roberto Bitencourt ensina no primeiro capítulo do volume II
do Tratado de Direito Penal, mas, se tiver alguma coisa a ver com o que o professor disse, foi um chute no ângulo!
111
Lembra dessa? Mais um motivo para você adquirir já o volume 2!
112
A impenhorabilidade só se refere ao empresário individual – afinal, sociedade não tem bens de família, nem bens
para guarnecer sua residência. Aliás, nem residência tem. Tadinha... Onde é que a Farmácia Cabral vai dormir hoje?
2.2. Guarda
Trata-se de questão mais alegórica113 do que pragmática. Tal ato simboliza a cessação
das atividades do estabelecimento. O lacre funciona, também, para impedir que um bem seja
subtraído de lá114. Deve-se perceber o lacre incide sobre o estabelecimento (aqui entendido
como o conjunto de bens e relações jurídicas ativas e passivas, com certa aptidão funcional, e
pertencentes a um empresário), não sobre bens individualizados. Caso haja necessidade de se
impedir que um bem ou outro seja desviado pelo devedor, pode-se pedir ao juiz da falência,
o seqüestro (ou outras medidas cautelares específicas dirigidas à submissão do bem à
responsabilidade patrimonial) da coisa.
2.4. Avaliação
Os bens arrecadados são devidamente avaliados. Há, nesse ponto, uma mudança em
relação à legislação anterior: a avaliação, que era feita depois da fase de habilitação e da
classificação dos créditos, hoje é feita antes dela. Quando o administrador arrecada os bens,
ele os avalia, seja em bloco (enquanto estabelecimento, ou seja, uma universalidade de
fato115), seja separadamente (enquanto bens individuados). O administrador pode, para a
consecução da tarefa, contratar profissional especializado.
Tendo ele mesmo feito a avaliação, lavrará o auto de arrecadação, que conterá o
inventário e o laudo da avaliação. Se contratou terceiro, ou houve necessidade de maior
tempo para se proceder o cálculo, fará apenas o inventário (o rol dos bens) – e, em trinta dias
(prazo estabelecido tendo em vista a celeridade processual), entregará o laudo. Em regra, o
auto de avaliação já vem com os dois documentos. Caso o juiz acredite ser errônea a
avaliação, pode ele mesmo, de ofício, corrigi-la ou mandar que se faça uma nova. Os
credores também têm poder para impugnar o laudo.
113
Para o professor, da mesma forma que as inscrições, nas pirâmides egípcias, de “você será amaldiçoado” – ou
algo parecido. Diga aí se essa não é outra metáfora horrível?
114
Uma questão suscitada: a lacração do estabelecimento não conflita com o princípio da preservação da empresa?
Segundo Otávio Augustus, não, porque a preservação se dará por meio de outro empresário, que adquirirá aquele
estabelecimento. Não se preserva o empresário ou a sua atividade, mas a atividade – podendo haver substituição da
pessoa que irá realizá-la. Além disso, não se deve confundir o princípio mencionado com a continuidade das
atividades do falido (conforme a conveniência) até a liquidação, pois ele não se materializa dessa forma.
115
Mais sobre o tema em: VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de direito comercial. v. 1. São Paulo:
Malheiros, 2004.
A literatura jurídica costuma fazer uma distinção entre efeitos sobre os contratos e
sobre os credores, ainda que todos se refiram a relações jurídicas estabelecidas com o falido;
no entanto, a intenção é a de, apenas, priorizar o enfoque – como já explicitado supra.
116
É como uma família barraqueira: só quem pode xingar os seus membros são eles próprios, mas cada um
defende o outro perante terceiros.
117
Otávio Augustus se recusa a considerar a possibilidade de sequer mencionar, nesse tópico, a execução singular
com praça já realizada. A alienação do bem penhorado em hasta pública (aliás, Nelson Rosenvald diz que não se
trata de alienação; eu fui dizer isso pro professor, e ele me respondeu: “vá ler Instituições de Direito Processual
Civil de Chiovenda”. Então, tá...) é o penúltimo ato “central” do processo (pois pode haver, incidentalmente,
embargos à arrematação). Depois dele, só há a transferência do produto da alienação ao exeqüente. Sendo assim,
o que é que tem pra suspender, pelamordedeus? Isso é tão esdrúxulo, que a não-suspensão de uma execução
singular nesse estágio, obviamente, deverá se operar; o legislador “ordinário” (no mau sentido) nem precisava se
dar ao trabalho de cogitar uma burrice dessas.
118
E só sairá dessa com meio copo de água na cara e uma sonoplastia ridícula quando voltar ao normal.
decisão for diversa, a praça será realizada, e o produto da alienação será encaminhado ao
juízo falimentar, para servir como meio de pagamento aos credores – na forma em que eles
forem verificados e classificados no processo de falência.
Uma questão surge daí: por que a praça já designada na execução singular não será
realizada no processo de falência? Por razões de economia processual – não na acepção de
“economia dos atos processuais”, mas no seu sentido literal, de redução de custas; a realização de
praça é um dos atos processuais mais caros que há, em virtude da necessidade de publicação de
editais, que representam um gasto significativo. É por conta disso que está a faculdade atribuída
ao julgador de suspender ou não a execução singular: se os editais já foram publicados (e as
demais despesas com a realização da praça já foram efetuadas), a praça deve ser mantida; se, não
obstante o ato já tiver sido designado, suas despesas ainda não se processaram, a execução
singular deverá ser suspensa – e o bem será alienado no processo de falência.
A falência implica o vencimento antecipado das dívidas, como visto em tópicos anteriores.
Esse fenômeno ocorre em função da própria estrutura do processo de falência – e, novamente,
por questão de lógica: a execução coletiva extinguirá todas as relações patrimoniais ativas e
passivas do devedor, isto é, arrecadará todo o seu patrimônio para se adimplirem todas as suas
obrigações. A falência tem como pressuposto a insolvência – a situação patrimonial deficitária; a
119
Xiii... tá mais fácil rolar o show do Linkin Park no Salobrinho...
Repetindo regra do sistema anterior, a falência não implica a resolução dos contratos
bilaterais do falido, conforme o artigo 117 da Lei n.º 11.101/2005120:
Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e
preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
120
Não é o artigo 117 do Código Tributário Nacional, para os desavisados... Isso é uma piada interna.
121
Como se trata de órgão facultativo, caso não haja Comitê, a decisão é somente do administrador judicial.
122
Otávio Augustus: “Leiam com cuidado os textos que dizem que o administrador judicial pode resolver o
contrato”. Que textos? Complete: Fá__o U_ho_ C_e_ho.
isso, pois, para ele, a principal finalidade da norma daí extraída é aquela já trabalhada: é
retirar do contratante a possibilidade de se exigir a tutela específica de sua obrigação.
O que foi tratado até agora se refere às regras gerais aplicáveis a contratos bilaterais e
unilaterais. Além dessas, a Lei n.º 11.101/2005 traz um extenso rol de tratamento de contratos
em espécie (ex.: efeitos sobre mandato, conta corrente, compra e venda da coisa entregue,
da coisa não entregue, contrato de câmbio, contrato de trabalho, contratos administrativos,
locação empresarial etc.). A legislação traz, dessarte, regras pontuais relativas a certos
contratos, cujos estudo, leitura, interpretação e aprofundamento são de responsabilidade
direta dos alunos125.
* *
123
Por quê? É fácil: mil sacas de cacau que a massa deve num contrato de mútuo, que é unilateral. O credor não
tem o direito de exigir a tutela específica (da mesma forma que o disposto no artigo 118, assim como no 117),
mas pode o administrador decidir pela entrega do bem em vez da conversão em pecúnia, caso haja um estoque
excessivo de cacau no estabelecimento.
124
Quem disse isso, professor? Vamo combinar então: eu leio Giuseppe Chiovenda e o senhor lê Gustavo Tepedino.
125
Ah, tá. Massa, né? Programaço pra um dia de domingo: vou estudar, autodidaticamente, o efeito da falência
sobre uma compra e venda cujo bem não foi entregue. Depois, vou limpar meus óculos fundo-de-garrafa e
espremer minhas espinhas, antes de jogar meu RPG.
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO
1. CONCEITO
É a ação que cabe ao proprietário de bem que foi, indevidamente, arrecadado pelo
processo de falência. Já foi visto que não são arrecadados apenas os bens de propriedade do
falido, mas também aqueles que, simplesmente, estejam em sua posse – sendo o devedor
dono ou não. O juízo de valor sobre a existência ou não de direito de propriedade do
devedor sobre os bens será objeto de cognição judicial por meio de procedimento próprio,
que é o pedido de restituição.
2. LEGITIMADOS
126
Ou prescricional... Alguém me ajude!
127
E após isso? Não cabe ação reivindicatória? Isso causa mais dúvidas do que uma temporada inteira de Lost.
A pretensão de quem está legitimado a mover essa ação não se funda em direito de
crédito (ou seja, em relação de direito obrigacional), mas em direito real. Na primeira
situação (relação creditícia), o objeto da prestação do devedor está em sua propriedade – e o
crédito operará a sua transferência do patrimônio do devedor para o do credor. Por exemplo:
se alguém deve R$ 10.000,00 e tem essa quantia embaixo do colchão, o valor pertence ao
devedor; a pretensão creditícia será a de transferir os dez mil reais do patrimônio do devedor
para o do credor. Da mesma forma, se alguém comprou, ainda que a crédito, cem sacas de
cacau, torna-se proprietário dos bens128. Esse mesmo raciocínio129 é utilizado para se
diferenciar uma ação para a entrega de coisa de uma ação reivindicatória. Nessa situação,
fundada em direito real de propriedade, o objeto da pretensão integra o patrimônio do
demandante – da mesma forma que no pedido de restituição. Não é correto, então, se falar
em credor, nesse último caso.
Assim, o credor do contrato de compra e venda em face da massa tem duas opções:
habilitar o seu crédito130 ou solicitar a restituição do bem. Não se está mais devolvendo ao
sujeito aquilo que lhe pertence, embora o regramento seja o mesmo que ocorre em face dos
bens indevidamente arrecadados131. O fundamento teleológico da norma é o seguinte: há
presunção de que o contrato, no interstício delineado pela lei, foi celebrado pelo falido em
função de ânsia por crédito (visando a impedir que se desse a insolvência) ou vontade de
lesar o outro contratante, pois a situação patrimonial deficitária já estava configurada. De um
128
São noções bem básicas que o professor está trazendo. Pode parecer babaquice, mas é só para reafirmar o
caráter real da pretensão daquele que pede a restituição do bem.
129
Ou melhor, argumento, segundo Antônio Balbino... Mas é uma metonímia... Então tá certo.
130
E, imediatamente, procurar um psiquiatra, porque tá, praticamente, rasgando dinheiro...
131
Veja se eu tô viajando: esse parágrafo único não seria uma condição resolutiva implícita, existente em todos os
contratos em que o comprador é um empresário? O vendedor teria o direito potestativo de, caso o comprador
entre em falência nos quinze dias seguintes à tradição, exigir que se retorne ao status quo ante. E aí?
132
“O que poderia gerar um suicídio ou um homicídio, a depender do perfil psicológico do vendedor”. Quem
ainda duvida que Otávio Augustus é esquizofrênico?
133
Ou aos bancos. Não entendi direito – houve ruído na comunicação, em qualquer acepção da palavra.
134
A propósito, nenhum exportador recebe em dólares – somente em reais. O contrato é celebrado em moeda
estrangeira, mas, quando o importador paga a quantia, esta é enviada à instituição financeira (e, depois, ao Banco
Central) e o exportador receberá o equivalente em moeda nacional (o exportador só pode receber em dólares no
exterior, mas, obviamente terá que declará-los, para não incorrer em evasão de divisas). Na importação, o contrato
também é celebrado em dólar, faz-se o câmbio inverso (compra de dólares); o importador entrega a quantia
equivalente em reais à instituição financeira, que remeterá os dólares para pagamento.
5. EMBARGOS DE TERCEIRO
Há, aqui, “uma das coisas mais interessantes do direito brasileiro”137: nas situações
trabalhadas acima, há, previstos em lei, tanto o pedido de restituição como o embargos de
terceiro, para se atingir a mesma finalidade. Na lei anterior, havia discussão a respeito da
possibilidade de o credor (ou proprietário) poder, indistintamente, utilizar o pedido de
restituição ou os embargos de terceiro previstos no Código de Processo Civil, no artigo 1.046:
Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofre turbação ou esbulho
na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de
penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação,
arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer lhe sejam manutenidos ou
restituídos por meio de embargos.
Art. 93. Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica
resguardado o direito dos credores de propor embargos de terceiros,
observada a legislação processual civil.
Dissipou-se, então, a dúvida sobre o caráter coincidente ou não das duas medidas.
Apesar de elidida a superposição que poderia haver, esse tratamento processual, decorrente
da divisão entre pedido de restituição e embargos de terceiro, nunca teve lógica. Poder-se-ia
elaborar um regime jurídico único, legitimando proprietário, possuidor e credor. Toda a
literatura falimentar, entretanto, ignora esse aspecto. A legislação atual reproduziu a
bipartição, certamente, por apego à tradição, por não querer inovar – incorporou o regime
antigo, modificando-o apenas no que era necessário para se evitar aquela superposição que,
pelo menos em sede doutrinária, ainda existia.
135
Além da possibilidade de “submissão do legislador pátrio à lógica do grande capital internacional”, como quis
ironizar o nosso professor.
136
As partes mais constrangedoras estão entre aspas.
137
A de número 11.101.
Se acolhidos os embargos (que, para Otávio Augustus, só são cabíveis para a defesa
da posse138), em caso de alienação do bem, pela massa, a terceiro (não aquele dos
embargos), o embargante será restituído na posse do bem. Como ficará a situação do
terceiro prejudicado, que adquiriu o bem da massa e perdeu a posse para o embargante? O
comprador terá que intentar ação de conhecimento, em face do alienante (a massa falida),
para se ressarcir dos prejuízos. O crédito será habilitado no processo de falência.
* *
138
Não tenho idéia de onde ele tirou isso. Vejam o § 1º do artigo 1.046: “os embargos podem ser de terceiro
senhor ou possuidor, ou apenas possuidor”. Senhor é proprietário...
139
Acho isso ridículo: se uma família viajou para a Disney, deixou o carro (um bem de família) em comodato por
quinze dias a um primo empresário – que faliu daí a pouco – e o bem foi arrecadado e vendido, não terá o
proprietário o direito de retomá-lo? Mesmo sendo impenhorável, Otávio Augustus? Essa justificativa sua de
preservação dos atos processuais, simplesmente, não cola. Código Civil, Código Civil, por favor, me dê um Código
Civil... achei. “Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que
a aquisição se tenha realizado em hasta pública”. É isso: a hasta pública não serve de escudo para venda a non
domino. A evicção pode rolar sim, professor, queira o senhor ou não. Se o título aquisitivo da propriedade (nesse
caso, a carta de arrematação) estiver viciado, babau. Quem “comprou” deve rezar para já ter corrido o prazo para
a usucapião. Ainda vem me dizer que “o direito optou por resguardar a coisa julgada do ato processual e a certeza
jurídica”. Pára de ler Chiovenda, professor!
1. INTRODUÇÃO
Ainda no âmbito da depuração (retirada do poder da massa sobre aquilo que não lhe
pertence, por meio de pedido de restituição ou embargos de terceiro) e da integração (ato
de trazer para a massa aquilo que não foi arrecadado, mas que deveria ter sido) da massa
objetiva, tratar-se-á, agora, dos atos praticados pelo falido, antes da decretação da falência e
que importaram a alienação ou a oneração de bens, reduzindo aquilo que poderia ser
constrito no processo de falência. Ressalte-se que esses são atos praticados pelo falido antes
da sentença judicial. Após a decretação da falência, há, também, ineficácia daqueles atos, mas
por falta de legitimidade140, quando se incidem os efeitos da falência sobre a pessoa, que
impedem que o falido aliene ou onere os bens de seu patrimônio.
Como visto, tal efeito não opera a incapacidade do devedor (que invalidaria os atos
praticados), mas sim a perda de legitimação para a prática daqueles atos específicos (o que
acarreta ineficácia relativa, ou seja, somente perante a massa falida). Contudo, há atos
praticados antes da decretação da falência que podem ser considerados, da mesma forma,
ineficazes – o enquadramento jurídico, no plano da ineficácia ocorre com os mesmos
pressupostos daqueles atos viciados pela falta de legitimidade (praticados após a sentença
judicial). Somente os atos listados nos artigos 129 (atos ineficazes) e 130 (atos revogáveis)
se tornam ineficazes se anteriores à sentença que julgou procedente o pedido de falência.
140
Vide aulas 11 e 12.
seu déficit. Seja visando a fraudar os credores ou a evitar a falência, por meio de prática de
atos que, normalmente, não seriam exercidos (em especial a alienação ou a oneração de
bens) os negócios praticados pelo devedor serão declarados ineficazes perante a massa
falida, a fim de que ela não sofra o prejuízo deles advindo.
2. ATOS INEFICAZES
Atos ineficazes são aqueles que, objetivamente, haja ou não o elemento subjetivo de
fraudar credores (consilium fraudis141, o acerto entre quem aliena e o suposto adquirente, no
sentido de causar prejuízo a outrem), estão arrolados nos incisos do artigo 129 da Lei n.º
11.101/2005. O rol daquele dispositivo, à semelhança dos fatos previstos em lei como pressupostos
à decretação da falência, refere-se a atos que não são comumente praticados, salvo em havendo
insolvência – há elementos comuns entre as hipóteses dos incisos daquele artigo, que são a
subtração de bens do patrimônio ou a tentativa de descaracterização da impontualidade142.
141
Graças a Deus, encontrei isso num livro – tava difícil decifrar!
142
Se o estado patológico já existe, a sentença declara ou decreta a falência? A existência de déficit patrimonial
não é a questão aventada pela literatura para se considerar declaratória a sentença – quanto à antecedência da
insolvência em relação à falência, não há dúvidas. No entanto, a primeira é situação fática, a segunda, uma
situação jurídica. Enquanto o juiz não se pronunciar a respeito da falência do devedor, há um sujeito insolvente
sem o status de falido. Há autores os quais afirmam que, por outro lado, como há fatos previstos em lei para a
caracterização da falência, essa situação precederia a sua declaração – a sentença, então, seria declaratória. Outros,
de outro turno, preferem considerar que o que precede a falência são os seus pressupostos, notadamente a
condição de empresário e a impontualidade – só a sentença criaria a falência, sendo, portanto, constitutiva. Sob
enfoque diverso, pode-se dizer que, já que os efeitos da sentença retroagem à sua publicação, sua natureza seria
de declaração. Mas, em sentido diverso, afirma-se que não há conteúdo simplesmente declaratório, porque o
efeito retroativo advém de determinação expressa da lei, o que não ocorre com as demais sentenças declaratórias.
Vários dos incisos, assim como o primeiro, mencionam o termo legal – constante na
sentença que decreta a falência, e que define até que momento os efeitos da decisão
retroagirão (segundo o inciso II do artigo 99, até noventa dias antes do pedido de falência ou
recuperação, ou do protesto do título). A hipótese do inciso I trata de pagamento de dívida
não vencida – algo muito incomum dentro da atividade empresarial. Tal situação acarreta
pagamento de credor sem a observância da regra estabelecida pelo sistema concursal do
processo de falência, plasmada na ordem de classificação dos créditos – ou seja, poderia
alguém ter adimplido o seu crédito por inteiro quando, na verdade, deveria se submeter a
rateio, ou não receber nada, caso figurasse nas últimas classes de credores, e não sobrassem
recursos suficientes para que estas fossem pagas.
A situação anormal trazida pelo inciso III é a constituição de garantia real de dívida já
existente. Em regra, a dívida nasce concomitantemente com a outorga da garantia143, caso
contrário, configura-se uma encenação em que um credor quirografário se torna,
subitamente, credor com garantia real. O conteúdo da segunda parte do inciso é, segundo
Otávio Augustus, simplesmente óbvio (“dois e dois são quatro”)144.
O inciso VI deve ser combinado coma as regras previstas no Código Civil relativas ao
trespasse, que exigem, para eficácia em relação a credores, a comunicação deles (por meio de
143
Você encontra o seu credor, seis meses depois de constituída a dívida, e fala: “Pô, cara, tu esqueceu da
hipoteca! Tá vacilando? Vamo lá no Cartório do Registro de Bens Imóveis pra resolver isso!”. Esse cara também
precisa de tratamento psiquiátrico, conforme diagnóstico do Imperador.
144
Não tenho a mínima idéia do porquê. Tô lendo Ulhoa mesmo...
145
Diferenças entre termo legal e período suspeito: um é definido pelo juiz, variável, podendo ser fixado em até
noventa dias antes do pedido de falência ou recuperação ou do protesto do título; o outro é estabelecido na lei,
em dois anos, não sofrendo variação.
146
Para o professor, o período suspeito, nesse inciso, deveria ser ainda maior.
A hipótese do inciso VII pode ser vislumbrada por meio de um exemplo: Uma
sociedade, sediada em Ilhéus, tem todos os seus bens imóveis situados no mesmo município
da sede. Caso deseje celebrar um contrato de compra e venda, poderá lavrar a escritura em
qualquer tabelionato do Brasil (ou, no exterior, nos consulados147). Suponha-se que a
escritura do contrato de compra e venda (ou de hipoteca, ou outro direito real de garantia de
bem imóvel – anticrese e alienação fiduciária) foi lavrada em Porto Alegre. Não se configurará
ineficácia por ilegitimidade, pois se trata de ato anterior à decretação da falência; também
não será a hipótese do inciso III (se se tratar de hipoteca, por exemplo), caso o direito real de
garantia tenha se constituído simultaneamente ao nascimento da obrigação principal. O
registro extemporâneo, se não houvesse disposição expressa, seria eficaz, funcionando como
blindagem para efeito de falência. Como a mera escritura não transfere a propriedade, o
empresário-vendedor celebraria o contrato simplesmente como forma de proteção: se entrar
em falência, pede para o seu “amigo” comprador registrar o título aquisitivo, para que o bem
não seja arrecadado148. A prenotação a que faz referência o inciso é o protocolo que prova a
apresentação do título aquisitivo perante o Cartório, que, por algum motivo, não fez o devido
registro – portanto, se o atraso na efetiva transferência de titularidade decorreu de mora do
tabelionato, não haverá ineficácia do ato.
A diferença entre fraude contra credores e fraude à execução, sob o ponto de vista
processual, é: na primeira, para ser declarada a ineficácia do ato, requer-se ação autônoma,
de rito ordinário, a fim de que se ateste a ineficácia do negócio perante o autor da demanda
– a ação pauliana. Na segunda, a declaração de ineficácia relativa pode ser dar de maneira
incidental no processo – momento em que o juiz se depara com a hipótese de uma alienação
de um bem superveniente à propositura daquela ação que ensejou a execução ou qualquer
outra cujo título esteja sendo executado. Haverá desconsideração do ato de alienação, e a
penhora será realizada, mesmo que o bem já esteja registrado em nome de outro sujeito.
147
Se o senhor diz que é assim...
148
“É tudo meu, já que tu não vai registrar. Mas se eu falir, corre pro Cartório pra o pessoal não levar a casa, viu?”.
Haja criatividade!
Portanto, em se tratando de qualquer dos atos previstos como ineficazes pelo artigo 129,
a declaração de ineficácia pode se dar incidentalmente no próprio processo de falência –num
tratamento processual semelhante ao da fraude à execução ou por meio de ação revocatória.
Art. 131. Nenhum dos atos referidos nos incs. I a III e VI do art. 129 desta Lei
que tenham sido previstos e realizados na forma definida no plano de
recuperação judicial será declarado ineficaz ou revogado.
3. ATOS REVOGÁVEIS
O dispositivo refere-se a qualquer ato que traga diminuição patrimonial para o falido,
com o intuito de prejudicar direito dos credores. Independentemente de sua modalidade, o
ato será considerado ineficaz, desde que movido pelo consilium fraudis entre o devedor e o
terceiro. A causa do negócio jurídico não é a alienção, e sim a subtração do bem em
detrimento dos credores.
4. AÇÃO REVOCATÓRIA
Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser
proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor, ou pelo Ministério
Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência.
149
Lembre-se: a fraude à execução está para o ato ineficaz do artigo 129 assim como a fraude contra credores
está para o ato revogável do art. 130.
150
“É uma clone da ação pauliana, só que com outro nome”. Que poder de síntese!
151
“Eu não decoro prazo!”. Apóio o Imperador!
4.2. Competência
5. EFEITOS DA DECLARAÇÃO
6. TERCEIRO DE BOA-FÉ
Àquele que, de boa-fé, teve que restituir o bem ou o pagamento, haverá resolução
do contrato, conforme o artigo 136:
Aquilo que foi entregue ao devedor, por conta de ato posteriormente declarado
ineficaz, terá que ser restituído ao contratante. Como a lei menciona “restituição”, os bens ou
valores devidos serão entregues em primeiro lugar, antes dos demais credores.
* *
É interessante notar que a preferência decorrente dos privilégios e dos direitos reais
de garantia incide ainda que não se tenha instaurado um concurso de credores.
Anteriormente, todavia, a literatura jurídica entendia que só se podia falar em títulos legais de
preferência se instaurado o concurso – caso contrário, os conflitos seriam resolvidos pelo
152
É nessa ordem que se dará o pagamento, também.
153
Independentemente do estudo da falência, o Imperador recomenda o estudo dos títulos legais de preferência.
É bom ler os artigos 955 a 965 do Código Civil.
154
“Sabe qual é o princípio mais vazio do direito? O princípio da dignidade da pessoa humana. Não significa,
absolutamente, nada! É completamente vazio de conteúdo normativo – tudo cabe nele. Em qualquer situação,
com a maior plausibilidade, pode-se encaixar esse princípio”. Estou enojado. Agora é um Tepedino e um Canotilho
para leitura de férias, viu, professor?
critério da anterioridade. Por exemplo, se, numa execução singular promovida por um credor
particular, penhorou-se um bem, e, posteriormente, o Fisco, exeqüente noutro processo,
suscitou a penhora daquele mesmo bem, o primeiro credor receberia, prioritariamente, o
produto da alienação – o que sobrasse ficaria com o credor fiscal.
Em primeiro lugar na classificação dos créditos, estão aqueles definidos no artigo 151
da Lei n.º11.101/2005 (créditos trabalhistas especiais):
Note-se que os créditos trabalhistas que não se enquadrarem no limite a que alude o
artigo serão pagos conforme as regras do concurso de credores da falência (artigo 83).
Extraconcursais, somente são os do artigo 151155, que independem de habilitação.
2. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO
3. RESTITUIÇÃO DO ARTIGO 84
Após os créditos trabalhistas do artigo 151 e as restituições do artigo 86, são adimplidas
as obrigações contraídas pela própria massa falida – posteriores à decretação da falência158;
pelo princípio da profissionalização do processo falencial, os credores delas devem ser pagos
155
Nota de Otávio Augustus com base no parecer da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado: “A
precedência de créditos extraconcursais [no art. 86] decorre de seu parágrafo único. Representam a única exceção
à regra sobre os contratos de adiantamento de câmbio, que determina a restituição do crédito entregue ao
exportador, na busca do equacionamento de princípios fundamentais do direito concursal falimentar. ‘De um lado
a necessidade de se proteger os trabalhadores e garantir-lhes a subsistência; de outro, o imperativo de se reduzir
o custo do crédito. Ponderar esses efeitos contraditórios não é tarefa simples, mas parece-nos que, no atual
momento histórico, nada pode ser mais deletério aos trabalhadores do que a eliminação de vagas de trabalho em
decorrência do arrefecimento do impulso exportador’”. Isso me dá sono. De qualquer maneira, os créditos
trabalhistas são pagos depois das restituições do artigo 86, exceto aqueles do artigo 151 (pelo menos isso, né?).
156
E Otávio Augustus continua em sua nota, citando o mesmo parecer: “’São as hipóteses em que, por razões
lógicas, ou em virtude de relevante motivo de ordem social e econômica’, alguns credores de obrigações
contraídas antes da decretação da falência recebem antes daqueles listados no artigo 84”.
157
O professor diz que só há restituição em caso de atos ineficazes do artigo 129, não havendo o mesmo benefício
em caso de ato revogável do artigo 130, por haver o consilium fraudis no último caso. Mas a lei não exclui o artigo
130, pois menciona expressamente, no inciso III do artigo 86, a revogação. Pobremático esse assunto, hein?
158
Obrigações do falido = antes da decretação da falência; obrigações da massa falida = após a decretação. Sacaram?
antes dos do falido, uma vez que as obrigações da massa só surgem no sentido de se viabilizar
a sua administração (locação de imóveis para armazenamento dos bens, contratação de
profissional especializado para a avaliação do patrimônio) ou de defendê-la em juízo. Trata-se
de medidas que visam à eficiência e à celeridade processuais, em benefício dos credores.
159
Síndico: - Cara, tu quer defender a massa?
Advogado: - Aí, tô dentro.
Síndico: - Só que tem uma parada...
Advogado: - Manda aí!
Síndico: - Talvez eu te pague.
Advogado: - É “Pegadinha do Mallandro”?
Síndico: - Hmmm... Não.
Advogado: (BANG! BANG! BANG!)
160
Meio copo de direito alternativo pra um megaempresário sedento, no capricho!
161
Mesmo 90% dos processos de recuperação judicial sendo infrutíferos, o professor ainda vem com essa. Para ele,
ou se acaba com a recuperação, ou se constroem meios de viabilizá-la (por exemplo, pagando os banqueiros bem
4. ORDEM DO ARTIGO 83
O inciso I do artigo 83 da Lei n.º 11.101/2005 trata dos créditos trabalhistas de até 150
salários mínimos164 e os decorrentes de acidentes de trabalho165:
depressa). Só que, nem com essa paparicação toda com os agiotas, as recuperações se tornaram mais eficazes.
Otávio Augustus entende que, se a recuperação não puder ser atingida, num sistema que fique no meio do
caminho, é melhor nem prevê-la em lei, para que não sirva de instrumento de defesa daqueles que querem se
eximir de suas responsabilidades (“a engenharia do calote”), em vez de preservar a empresa.
162
Por que as situações elencadas pelo artigo 84 são tratadas como “restituição”, quando se tratam de créditos?
Resposta: “Para ‘dourar a pílula’, pra facilitar o argumento da prioridade no pagamento – e de forma acertada”.
Tinha uma música da pílula na época das calças boca-de-sino, camisas volta-ao-mundo e sapatos cavalo-de-aço:
“pare de tomar a pílula, pare de tomar a pílula...”. É, Esquizofrenia Hits também é cultura brega!
163
Embora haja credores do falido inclusos nos artigos 84 e 86, por razões um tanto quanto lobistas.
164
Otávio Augustus tem um pitaco a dar sobre isso, citando, também o parecer da Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado: “O estabelecimento de limite para os créditos trabalhistas, ao lado da ‘superprioridade
das parcelas salariais vencidas nos três meses anteriores à falência ou ao pedido de recuperação judicial e a
votação por cabeça nas deliberações sobre o plano de recuperação’ são, no entender do relatório aprovado pela
CAE, no Senado, ‘inovações que representam vantagens diretas aos trabalhadores nos processos de falência e de
recuperação judicial’. A limitação da preferência teria por escopo evitar abuso ‘pelo qual os grandes
administradores, grandes responsáveis pela derrocada do empreendimento, pleiteiam, por meio de ações judiciais
milionárias – e, muitas vezes, frívolas, em que a massa falida sucumbe em razão da falta de interesse em uma
defesa eficiente –, o recebimento de altos valores com preferência sobre todos os outros credores, em prejuízo
aos ex-empregados que, efetivamente, deveriam ser protegidos, submetendo-os a rateio com os ex-ocupantes de
altos cargos’. Da modificação, longe de piorar a situação dos trabalhadores, garante a eles maior chance de
recebimento, pois reduz-se a possibilidade de perda de parte significativa do valor que deveriam receber,
destinada ao pagamento dos altos valores dos quais os ex-administradores afirmam ser credores trabalhistas. Na
tramitação legislativa, ‘as duas maiores centrais sindicais brasileiras pronunciaram seu apoio à limitação da
preferência do crédito trabalhista’”. O inteiro teor do parecer pode ser encontrado no site do tal de Ramez Tebet e
do outro cara, Fernando Bezerra. Um saquinho de vômito ao lado do PC é uma boa pedida! O professor ainda
afirma que, estatisticamente (sem provar isso), os créditos trabalhistas costumam estar dentro do limite legal (± R$
60.000,00); mais do que isso, não é crédito alimentar. Trabalhador só tem direito a sobreviver, não é? Se o dinheiro
que é emprestado pelos bancos é de “suma importância”, mais imprescindível ainda é a força de trabalho. CANSEI.
165
Percebam que os créditos decorrentes de acidentes de trabalho NÃO têm limite.
O credor com garantia real (inciso II) tem prioridade no pagamento no que se refere ao
produto da alienação do bem sobre o qual incide o gravame. Se alguém tem um crédito de R$
100.000,00 e o bem objeto da garantia foi alienado pelo mesmo valor, caso o produto não
tenha sido necessário para o pagamento das restituições e dos credores trabalhistas, a dívida
do credor com garantia real será paga por inteiro. Se o produto da alienação não for suficiente
para o adimplemento integral da obrigação166, o que sobrar se tornará crédito quirografário –
exceto se a relação jurídica pela qual a garantia real for outorgada não ensejar um privilégio
legal. Sendo assim, o que não for adimplido pelo produto da alienação do bem não se tornará
quirografário, mas crédito com privilégio especial ou geral, a depender da situação.
Há, aqui, uma ordem interna prevista para o pagamento dos créditos fiscais do inciso
III: a) tributos em que são credores a União, suas autarquias e credores parafiscais; b) tributos
de Estados, Distrito Federal, territórios e suas autarquias; c) tributos dos Municípios e das
autarquias municipais. É de duvidosa constitucionalidade essa ordenação, já que não há
hierarquia entre os entes federativos, conforme a Carta Magna.
166
Lembre-se que o bem vale aquilo que dão por ele. Se o credor achar que o bem será alienado por uma bagatela,
pode ele, segundo o professor, adjudicá-lo, para que não fique chateado. Vendo que o bem vale R$ 150.000,00 e
está saindo por R$ 100.000,00, e que o produto daquele bem vai para ele mesmo, o credor arremata o bem pelos
cem mil, que irão para o próprio (alienação esquizofrênica!). O que ele perdeu numa ponta (cinqüenta mil a menos
com o produto da alienação), ele ganhou em outra (comprou um bem por uma pechincha).
167
O que faltar se torna crédito quirografário, na mesma lógica da garantia real – a diferença está na natureza do
vínculo: é direito obrigacional, não real. Se o bem for alienado a terceiro, a garantia real ainda incide, o privilégio
especial, não.
168
Vulgo Código Civil.
pode-se dizer que credores dessa classe são destituídos de títulos legais de preferência.
Recebem, portanto, depois de todos os outros169.
4.6. Multas
* *
169
Nelson Rosenvald diz que eles são como Rubens Barrichello, enquanto os trabalhistas são como Michael
Schumacher.
1. INTRODUÇÃO
170
Quem são eles? Quem eles pensam que são? Não me pergunte. “Só Deus sabe a nota que eu vou tiraaaar...”.
com garantia real, com privilégio especial etc.). Essa classificação, contudo, não importa
pagamento na mesma ordem da falência, e possui influência, também, nas deliberações da
Assembléia-geral de credores e na eleição do Comitê de credores (os quais, como visto
anteriormente, são divididos em classes)171.
2. FINALIDADE
3. PROCEDIMENTO
4. COMPETÊNCIA
5. AS LISTAS DE CREDORES
171
“Poder-se-ia continuar com a velha expressão ‘verificação e classificação dos créditos’, mas a tentativa de
inovar fala mais alto”. Tanta coisa que poderia acontecer e não acontece, né? Por exemplo, ler as auto-avaliações...
172
Mas, professor, os verbos são verificar e habilitar, não classificar...
173
Quem comparece à assembléia? Os credores! Mas que credores? Os da lista! Mas que lista? A lista do momento! A
das mais tocadas tem Live Your Life, de T.I. e Rihanna, em primeiro, e Hot N’ Cold, de Katy Perry, em segundo.
174
A literatura jurídica prefere a primeira opção. Otávio Augustus: “Como não é possível que todo mundo esteja
errado e eu esteja certo, deve ser isso mesmo...”.
Publicada a primeira lista, os credores têm um prazo de quinze dias para apresentar
divergências quanto ao seu conteúdo ou habilitações, caso não conste o nome de algum
deles; no último caso, a reclamação perante a primeira lista é corporificada na habilitação, na
qual o credor manifesta a sua pretensão de ter o nome constante na relação de credores. Já
as divergências se referem ao valor do crédito (menor que o real175) ou à sua natureza (v.g.
quirografário em vez de trabalhista), que podem estar em desconformidade com a situação
fática. Se o nome do credor está corretamente listado quanto a valor do crédito e classe, não
há que se falar em habilitação ou divergência.
Art. 7º [...]
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º, ou no parágrafo único do art.
99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar
ao administrador judicial suas habilitações ou divergências quanto aos
créditos relacionados.
Art. 7º [...]
§ 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos
colhidos na forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital
contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias,
contado do fim do prazo do § 1º deste artigo, devendo indicar o local, o
horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei
terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração desta relação.
A impugnação do artigo 8º pode ter por objeto crédito tanto próprio (por constar valor
ou classe errada) como alheio, referindo-se à figuração de outro credor da lista, com o fito de
desconstituir seu crédito, reduzir o seu valor ou modificar sua classificação – por razões óbvias;
quando um credor exclui outro, aumentar-se-ão as chances de se receber o crédito em sua
totalidade. As impugnações são autuadas em separado, pois se trata de atividades cognitivas
distintas (salvo as que se refiram a um mesmo crédito, as quais são reunidas num auto só),
podendo haver instrução específica para cada uma delas. A melhor forma de se organizar essa
atividade procedimental, tendo em vista o material probatório, é a autuação em separado176.
175
Bom, quase sempre se reclama para ganhar além, só que é mais prudente falar a verdade, caso o seu crédito
apareça com um zero a mais, para se evitarem dores de cabeça futuras – em impugnações ou coisas parecidas.
176
Exceto se uma bagunça do tipo “esse documento é relativo à impugnação de fls. 25” parece legal para você.
Após a impugnação (e respectiva autuação), tem-se a contestação, que deve ser feita
no prazo de cinco dias pelo credor que teve o seu crédito impugnado.
Art. 11. Os credores cujos créditos forem impugnados serão intimados para
contestar a impugnação, no prazo de 5 (cinco) dias, juntando os documentos
que tiverem e indicando outras provas que reputem necessárias.
Como visto, se um credor quiser contestar o direito de outro, deverá fazê-lo por meio
de impugnação, após a publicação da segunda lista. Poderia ele fazer algo logo após a
publicação da primeira? Na verdade, sim, porém não há procedimento específico para isso –
como também não há vedação, já que, no momento de apresentação das divergências,
situações que envolvam outros credores poderão ser suscitadas, até como forma de auxiliar a
atividade do administrador judicial na confecção da segunda lista.
6. O QUADRO-GERAL DE CREDORES
Com base na segunda lista, se não houver qualquer impugnação, ou, caso haja, nos
termos das sentenças das impugnações, o administrador judicial comporá o quadro-geral de
credores, que é a relação definitiva da massa subjetiva (ainda que possa sofrer alguma alteração
posteriormente178). Verificaram-se quem são os credores e, mais precisamente, em relação ao
devedor, apurou-se o seu passivo. O ativo já foi calculado com a avaliação dos bens arrecadados.
177
“Esqueçam a regra de que ‘da sentença cabe apelação, da decisão interlocutória cabe agravo’”. Para o
professor, deve-se entender: da decisão que põe termo ao processo, cabe apelação; da que não causa esse
resultado, cabe agravo. Meio anacrônico esse macete, porque as situações do artigo 269 do Código de Processo
Civil nem sempre extinguem o processo, porém cabe apelação. Mas Otávio Augustus fez questão de citar a
decisão judicial que decreta a falência como exemplo de sentença atacável por meio de agravo. A propósito, até
agora, já se prolataram várias sentenças: a de decretação (ou declaração) da falência, a de possível pedido de
restituição ou de embargos de terceiro e as das impugnações. Ainda haverá mais duas, a de encerramento do
processo de falência e a de extinção das obrigações. Para fechar mais esta seção de comentários inúteis, o
processo falencial, com o regramento atual, deveria durar muito menos do que na época da legislação de 1945
(que, no entanto, estabelecia prazo para o término – dois anos – sob pena de responsabilização do magistrado,
entre outras conseqüências; para o professor, tratava-se de “uma regra despida de conteúdo normativo”).
Inquirido se já havia presenciado o término de um processo iniciado após a Lei n.º 11.101/2005, Otávio Augustus
respondeu “não”, e houve uma pequena sessão de risos.
178
Para efeito de comparação, Otávio Augustus relembra que a sentença também é definitiva, ainda que possa ser
alterada por ação rescisória ou anulatória.
realização do ativo. Havia três fases bem delineadas no processo: a fase pré-falencial, a fase
de informação (a de levantamento do ativo e do passivo) e a fase de liquidação (a de
realização do ativo para solver o passivo). Hoje, a situação é diferente, pois é possível se dar
início aos atos de liquidação desde o início do processo. O quadro-geral é o mapa do
pagamento dos credores, uma vez que nele consta quem são, quais são os valores e a ordem
de recebimento, conforme a classificação do crédito.
7. CREDORES RETARDATÁRIOS
Credores retardatários são aqueles que não atendem ao prazo para se manifestar
sobre a segunda lista, não fazendo a impugnação, seja para – mais freqüentemente – habilitar
o seu crédito, seja para – mais raramente – alterá-lo, caso figure com valor ou classificação
errôneos. Podem eles tentar habilitar ou modificar ou seu crédito a qualquer momento, até o
encerramento do processo de falência. Porém, há sanções indiretas aos credores
retardatários, uma vez que o processo caminha independentemente deles.
8. RESERVA
Não se pode, no entanto, alegar que não haveria prejuízo ao credor caso ele não tenha
tido conhecimento da falência do devedor, e, por isso, tenha se tornado retardatário. Deve-se
ressaltar que credor não tem intimação pessoal; o instrumento para lhe dar ciência do processo é
o edital. Na lei anterior, o síndico, na medida do possível, deveria proceder à intimação pessoal
dos credores que fossem localizados no processo. Atualmente, essa providência é inútil, pois, caso
tome conhecimento de algum credor que não conste na lista, o administrador judicial o incluirá.
No processo de falência, não é possível se trabalhar com a preclusão da mesma forma que em
outras execuções, já que o devedor pode, por exemplo, falir em Campinas e ter credores no
Salobrinho. O vencimento antecipado das dívidas como efeito da falência também justifica a
mitigação da preclusão em relação aos credores retardatários, já que poderiam eles estar alheios
ao andamento do processo por acreditarem que seu crédito ainda era inexigível180.
179
Se a galera trabalhista já recebeu o que tinha para receber, e, semanas depois, um zé mané tenta habilitar o seu
crédito naquela classe, não receberá nada. Nada.
180
Só para relembrar: o prazo final para habilitação retardatária é a sentença de encerramento do processo de
falência, não a de extinção das obrigações. Extinguindo-se o processo sem que se tenham saldado todas as
dívidas, poderá o credor promover execução singular – mas não será possível ingressar em juízo com novo pedido
de falência por inadimplemento, execução frustrada ou fatos previstos em lei. Bom, mas penhorar o que, nessa
execução singular? Os míseros bens que o devedor tenha adquirido após o encerramento da falência.
* *
181
É por isso que, caso a primeira lista contenha um valor creditício maior que o que lhe cabe, deve você alegar
isso nas divergências, para não ter que passar pelo constrangimento dessa ação de exclusão ou retificação. E só
para lembrar: qualquer modificação, para mais (na impugnação) ou para menos encontra limite no requerimento
do interessado. O juiz não pode fazer isso de ofício – o que seria julgamento ultra petita.
REALIZAÇÃO DO ATIVO
1. INTRODUÇÃO
2. PRESERVAÇÃO DA EMPRESA
182
Na verdade, é mais de um termo, segundo Antônio Balbino.
183
E isso não é legal.
A falência, dessa forma, busca preservar a empresa por meio da alienação dos bens do
falido enquanto estabelecimento ou conjunto de estabelecimentos. Há a alienação da
empresa, traduzida, aqui, como estabelecimento (e, de certa forma, atividade186). A
preservação se opera, então, em duas vertentes: a) no aspecto temporal (permitindo atos de
liquidação antes de se apurar o valor total do passivo do devedor – por meio de venda
antecipada e liquidação sumária); e b) na liquidação, facilitando-se (e essa facilitação não
decorre, simplesmente, do enunciado legal, quando se estabelece a ordem de prioridades na
forma da alienação187) a transferência do estabelecimento ou do conjunto de
estabelecimento por meio da ausência de sucessão, a ser abordada em tópico posterior.
3. FORMAS
A Lei n.º 11.101/2005 prevê dois tipos de alienação de empresas: a venda de bloco de
estabelecimentos ou de estabelecimentos isolados. Em ambos os casos, há transferência de
conjunto de bens enquanto unidades produtivas. A opção por uma ou outra é uma questão
casuística. Havendo estabelecimentos, do mesmo empresário, porém destinados a atividades
diferentes (ex.: uma fábrica de chocolates e outra de embalagens, ou um estabelecimento de
184
O que se venderia? Calças boca-de-sino, sapatos cavalo-de-aço e camisas volta-ao-mundo. Mó estaile, aí!
185
“I don’t like this part”.
186
Embora não se aliene atividade, em termos mais precisos.
187
Porque, ainda que não houvesse tal previsão persistiria a possibilidade de o juiz assim decidir, no caso concreto.
Em certos casos, pode o estabelecimento não ter qualquer valor agregado a mais,
dando margem à alienação de blocos de bens ou de bens individualizados.
Exemplificativamente, como informado em nota de rodapé, o bar ABC da Noite não vale
duzentos reais enquanto bens individualizados, mas gera fluxo de caixa exponencialmente
maior que aquela quantia. Porém, o que se observa é aviamento subjetivo – aquele que se
estabelece em função da pessoa do empresário, não da aptidão funcional dos bens em gerar
lucro. Nesse caso, poderia não haver interesse em prosseguir com uma atividade
personificada no titular do estabelecimento, que jamais produziria os mesmos resultados
econômicos obtidos pelo alienante.
empresa a outro empresário, sem sucessão das obrigações, os credores ficariam a ver
navios, assistindo a alguém adquirir um estabelecimento, por uma bagatela, sem que
alguém se responsabilize pelas dívidas, ainda que a atividade continue. Para Otávio
Augustus a questão é outra: alguém adquiriria um estabelecimento de um falido sem
sucessão das obrigações191?
5. MODALIDADES
5.1. Leilão192
O interessado lança sua proposta por meio de envelope lacrado; é possível se obter
ágio maior do que no leilão, pois o participante não tem como saber qual é a proposta do
outro, arriscando-se mais nessa modalidade193.
5.3. Pregão
É uma mistura das duas modalidades. A primeira fase do pregão se dá por meio de
proposta fechada. Na segunda fase, todos aqueles que deram lance superior a 90% da
melhor proposta, participam do leilão subseqüente.
6. PUBLICIDADE
A Lei n.º 11.101/2005 prevê a publicidade dos atos de alienação, por meio de
publicação de editais, com trinta dias de antecedência, em se tratando de bens imóveis, e
quinze dias, caso se refira a bens móveis.
7. IMPUGNAÇÃO
Depois de realizada a alienação, o ato ainda está sujeito a impugnação, por qualquer
credor, pelo devedor ou pelo Ministério Público, no prazo de 48 horas, numa figura
semelhante à dos embargos à arrematação da execução singular do Código de Processo Civil.
8. OUTRAS MODALIDADES
O juiz ou dois terços dos credores (independentemente de classe) podem decidir por
qualquer outra forma de alienação. Em se decidindo nesse sentido, devem-se respeitar dois fatores:
191
Isso mesmo: tem que paparicar esses empresários (vulgos abutres), senão eles choram...
192
Quem lembra de Mulheres Perdidas? “Eu vou fazer um leilão, quem dá mais pelo meu coração, me ajude a
voltar a viveeeeer...”. Além de Leilão, a banda emplacou “Juiiiiiz, inocente sou, pelo amor de Deus, não fui eu quem
matou Ester” e “Amor de rapariga”.
193
Um exemplo de ágio com “A” maiúsculo ocorreu na venda do Banespa, por meio de proposta fechada. O
segundo colocado ofereceu pouco mais da metade do primeiro – que pagou bilhões de reais a mais. Caiu
diretoria do banco adquirente, caíram as ações, caiu o popozão da secretária que tirou xerox do que não devia...
Foi um terremoto. Mas houve uma maximização gigantesca do valor do estabelecimento – mesmo que o exemplo
não trate de falência, e sim de trespasse.
a) já que o ativo não será realizado por meio de disputa entre os interessados, os bens serão
considerados, para efeito de ingresso de recursos na massa falida, pelo valor de sua avaliação,
realizada pelo administrador judicial (auxiliado ou não por empresa especializada), quando
da arrecadação dos bens. Se os credores decidiram doar todos os bens ao “Esquadrão de
Aço” (vulgo Esporte Clube Bahia), considerar-se-á ingressado na massa o valor
correspondente ao dos laudos de avaliação de cada bem, que já se encontram nos autos.
Quem pagará os credores dissidentes serão aqueles que concordaram com a forma
alternativa de liquidação. No entanto, a depender das circunstâncias, isso pode não ocorrer,
como já exposto – se todos os dissidentes forem quirografários, e o valor da avaliação dos
bens não fosse suficiente sequer para chegar à classe dos credores com privilégio geral, nada
será pago àqueles.
O valor do capital social será o da avaliação dos bens. A participação dos novos sócios
será tomada com base no recebível de cada um. Se “A”, credor trabalhista, tem crédito de R$
5.000,00, e sua classe tivesse direito a receber a totalidade, numa alienação ordinária, “A”
participará da sociedade, se o valor dos bens avaliados for de R$ 100.000,00, com 5% do
capital social. Se “B”, credor com garantia real, de quantia de R$ 30.000,00, tivesse direito a
rateio de 2/3, participaria da sociedade com R$ 20.000,00, ou seja, com 20% do capital.
Havendo dissidência, o mesmo se aplicará em relação ao tópico anterior.
* *
194
O que ganham os “credoadores”? O título de “sócio benemérito do Esporte Clube Bahia”.
195
Desse modo, é possível que a sociedade esteja desinfetada de credores quirografários.
1.2. Relatório
1.4.1. Pobreza
Trata-se da pobreza referida à massa falida, quando esta não comporta as próprias
despesas do processo de falência, ou o patrimônio excedente é mínimo.
Decretada a falência pelo juiz, o falido deve apresentar a sua lista de credores. Se esta
não contiver credor algum, e o administrador não encontrar elementos na documentação do
devedor para elaborar a segunda lista, e nenhum credor comparecer para apresentar
habilitações, a falência terá que ser extinta. O credor que requereu a falência, nesse caso,
também não compareceu à habilitação do seu crédito196.
1.4.3. Pagamento197
1.4.5. Renúncia
Encerrar o processo de falência não quer dizer extinção das obrigações. A falência
pode ter sido findada sem que as obrigações tenham sido saldadas – e elas persistirão,
mesmo com o fim do processo de execução coletiva, somente se encerrando (por meio de
requerimento do falido) nas situações abaixo elencadas:
2.1. Pagamento
196
Ele tem que ter existido: se fosse autofalência, esta seria denegada pelo juiz, por não haver credores.
197
“Isso é ficção. A lei só colocou isso para não perder a viagem”.
198
Pergunta: “Depende de anuência do devedor?”. Reposta: “Boa pergunta! Inicialmente eu diria que não, mas
tem que ver aí...”.
Havendo pagamento de, pelo menos, 50% dos créditos quirografários, abre-se a
possibilidade de o devedor requerer ao juízo falimentar a declaração de extinção das
obrigações. Nesse caso, praticamente todos os credores já foram pagos – pois para se passar
de uma classe a outra, é preciso se pagarem todos os credores de uma mesma classe, na
ordem prevista na Lei n.º 11.101/2005. Depois dos quirografários, há apenas os credores
subordinados (sócios do falido). Em geral, os credores quirografários não representam grande
parcela do total dos créditos, quando comparados às demais classes. Até se chegar à falência,
o empresário já estava rolando suas dívidas, e, para conseguir isso, outorgava garantia real
(que, ao lado da classe dos credores trabalhistas e a dos credores fiscais, respondem pela
maior fatia dos créditos devidos pelo falido).
Esse proporção de 50% pode ser completada pelo falido da seguinte maneira: durante
o processo de falência, se pagaram 40%, e, após o seu encerramento, com outros recursos o
devedor auferiu montante suficiente para chegar àquele patamar fixado em lei. Dessarte, as
obrigações se extinguem pela totalidade.
2.3. Prescrição
2.4. Processamento
199
E ainda tem aquela história de que, se o credor não protesta o título em 48 horas após o vencimento, perde o
direito de regresso perante os coobrigados indiretos.
pedido de declaração de extinção das obrigações, deve ele anexar à petição uma certidão de
inexistência de débitos tributários. No campo prático, não há muita razão nessa exigência: só
se declaram extintas as obrigações pelo pagamento total, pelo pagamento de 50% dos
credores quirografários ou pela prescrição. Se houve qualquer dos casos, obviamente, não
existe mais débito perante o Fisco.
2.5. Efeitos
* *
200
Tautologia pura!