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CIDADE CATÓLICA

CARTA DE DOM VIGANÒ: “FRANCISCO DEVE… RENUNCIAR”

PUBLICADO EM 26/08/201827/08/2018 por Jacques


Fonte: Riposte Catholique (h ps://www.riposte-catholique.fr/riposte-catholique-blog/un-temoignage-de-
premiere-importance-sur-laffaire-mccarrick) – Tradução: Cidade Católica.

Testemunho, por Sua Excelência Carlo Maria Viganò, Arcebispo titular de Ulpiana, Núncio apostólico.

Neste momento trágico para a Igreja em diversas partes do mundo – Estados Unidos, Chile, Honduras, Austrália,
etc. – os bispos têm uma gravíssima responsabilidade. Penso em particular nos Estados Unidos da América, onde
fui enviado como Núncio Apostólico pelo papa Bento XVI, em 19 de outubro de 2011, na festa dos primeiros
mártires da América do Norte. Os bispos dos Estados Unidos são chamados, e me incluo, a seguir o exemplo destes
primeiros mártires que trouxeram o Evangelho para as terras da América, a sermos testemunhas críveis do amor
incomensurável de Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida.

Alguns padres e bispos, abusando de sua autoridade, cometeram crimes horríveis em detrimento de seus fiéis,
menores, vítimas inocentes, e jovens desejosos de oferecer suas vidas à Igreja. Ou por seu silêncio, eles não
impediram que tais crimes continuassem a ser perpetrados.
Para restaurar a beleza da santidade da face da Esposa de Cristo, que está terrivelmente desfigurada por tantos
crimes abomináveis, e se quisermos realmente libertar a Igreja do pântano fétido no qual ela caiu, devemos ter a
coragem de derrubar a cultura do segredo e confessar publicamente as verdades que temos mantido ocultas.
Devemos derrubar a conspiração do silêncio pela qual padres e bispos se protegeram às custas de seus fiéis, uma
conspiração do silêncio que corre o risco, aos olhos do mundo, de apresentar a Igreja como uma seita, uma
conspiração do silêncio semelhante ao que prevalece na máfia. “Tudo o que disseres nas trevas será proclamado
sobre os telhados” (Lc 12, 3).

Sempre acreditei e esperei que a hierarquia da Igreja pudesse encontrar em si mesma os recursos espirituais e a
força para dizer toda a verdade, para se corrigir e se renovar. É por isso que, ainda que tenham me solicitado em
vários momentos, sempre evitei dar declarações na imprensa, embora fosse meu direito fazê-lo, a fim de me
defender contra as calúnias publicadas a meu respeito, incluindo por prelados de postos elevados da Cúria
romana. Contudo, agora que a corrupção atingiu o topo da hierarquia da Igreja, minha consciência me impõe
revelar estas verdades sobre o caso desolador do arcebispo emérito de Washington, Théodore McCarrick, quem
tive de conhecer ao longo da missão que me foi confiada por São João Paulo II, como delegado nas representações
pontifícias de 1998 a 2009, e, depois, pelo papa Bento XVI, como Núncio Apostólico nos Estados Unidos da
América, de 19 de outubro de 2011 até o fim de maio de 2016.

Enquanto delegado nas representações pontifícias junto da Secretaria de Estado, minhas responsabilidades não se
limitavam às nunciaturas apostólicas, mas incluíam também os colaboradores da Cúria romana (contratações,
promoções, processos de informação sobre os candidatos ao episcopado, etc.) e o exame de casos delicados,
incluindo aqueles relativos aos cardeais e bispos, confiados ao delegado pelo cardeal secretário de Estado ou pelo
substituto da Secretaria de Estado.

Para dissipar as suspeitas insinuadas em vários artigos recentes, direi imediatamente que os núncios apostólicos
nos Estados Unidos, Gabriel Montalvo e Pietro Sambi, ambos falecidos prematuramente, não faltaram em informar
imediatamente a Santa Sé assim que souberam do comportamento gravemente imoral do arcebispo McCarrick com
seminaristas e padres. Com efeito, de acordo com o que escreveu o Núncio Pietro Sambi, a carta do padre Boniface
Ramsey, O.P., datada de 22 de novembro de 2000, foi redigida a pedido do falecido núncio Montalvo. Nesta carta,
o padre Ramsey, professor no seminário diocesano de Newark, do fim dos anos 1980 até 1996, afirma que um
rumor recorrente no seminário dizia que o arcebispo “dividia sua cama com alguns seminaristas”, convidando
cinco ao mesmo tempo para passar o fim de semana com ele em sua casa junto da praia. E ele acrescentou que ele
conhecia certo número de seminaristas, entre os quais alguns foram mais tarde ordenados padres para a
arquidiocese de Newark, que tinham sido convidados a esta casa e dividiram a cama do arcebispo.

O escritório que ocupava na época não foi informado de nenhuma medida tomada pela Santa Sé depois que o
núncio Montalvo apresentou essas acusações, no fim do ano 2000, enquanto o cardeal Angelo Sodano era secretário
de Estado.

Do mesmo modo, o núncio Sambi transmitiu ao cardeal secretário de Estado Tarcisio Bertone um mémorandum de
acusação contra McCarrick pelo padre Gregory Li leton, da diocese de Charlo e, reduzido ao laicato por abuso de
menores, acompanhado de dois documentos do mesmo Li leton, no qual este contava a história trágica dos abusos
sexuais cometidos na época pelo arcebispo de Newark e por vários outros padres e seminaristas. O núncio
acrescentou que Li leton já tinha transmitido seu mémorandum a cerca de vinte pessoas, incluindo as autoridades
judiciárias civis e eclesiásticas, a polícia e os advogados, em junho de 2006, e que era muito provável que a
informação logo fosse tornada pública. Ele então apelou a uma intervenção rápida da Santa Sé.

Redigindo uma nota[1] sobre esses documentos que me foram confiados, enquanto delegado nas representações
pontifícias, em 6 de dezembro de 2006, escrevi aos meus superiores, o cardeal Tarcisio Bertone e o substituto
Leonardo Sandri, que os fatos atribuídos a McCarrick por Li leton eram de tal gravidade de tal baixeza que eles
provocavam no leitor um sentimento de confusão, desgosto, pesar profundo e amargor, na medida em que
constituíam crimes de sedução, solicitações de atos depravados da parte de seminaristas e padres, de modo
repetitivo e simultâneo com várias pessoas, de zombaria de um jovem seminarista que tentava resistir às seduções
do arcebispo diante de dois outros padres, de absolvição dos cúmplices destes atos depravados, de celebração
sacrílega da Eucaristia com os mesmos padres após terem cometido tais atos.

Em minha nota, que remeti no mesmo dia de 6 de dezembro de 2006 ao meu superior direto, o substituto Leonardo
Sandri, propus aos meus superiores os seguintes pontos:

sendo dado que parecia que um novo escândalo, de uma gravidade particular, na medida em que envolve um
cardeal, ia se juntar aos numerosos escândalos que atingiam a Igreja nos Estados Unidos,
e, visto que esse caso envolve um cardeal, de acordo com o cânon 1405 § 1, nº 2, “ipsius Romani Pontificis
dumtaxat ius est iudicandi”;
Propus que uma medida exemplar fosse tomada contra o cardeal, que poderia ter uma função preventiva,
prevenir futuros abusos contra vítimas inocentes e atenuar o escândalo gravíssimo para os fiéis, que, apesar de
tudo, continuavam a amar e crer na Igreja.

Acrescentei que seria salutar que, pela primeira vez, a autoridade eclesiástica interviesse junto das autoridades
civis e, se possível, antes que o escândalo explodisse na imprensa.

Isso teria podido devolver uma certa dignidade a uma Igreja tão cruelmente provada e humilhada por tantos atos
abomináveis da parte de alguns pastores. Se fosse feito, a autoridade civil não teria mais de julgar um cardeal, mas
um pastor com o qual a Igreja já tinha tomado medidas apropriadas para impedi-lo de abusar de sua autoridade e
continuar a destruir vítimas inocentes.

Minha nota de 6 de dezembro de 2006 foi conservada por meus superiores e nunca me retornaram com qualquer
decisão que fosse da parte dos superiores.

Na sequência, por volta de 21-23 de abril de 2008, Richard Sipe publicou na internet, no site richardsipe.com, a
declaração ao papa Bento XVI sobre a crise dos abusos sexuais nos Estados Unidos. Em 24 de abril, esse texto foi
transmitido pelo prefeito da Congregação para a doutrina da Fé, o cardeal William Levada, ao cardeal secretário de
Estado Tarcisio Bertone. Ele me foi transmitido um mês mais tarde, em 24 de maio de 2008.

No dia seguinte, remeti uma nova nota ao novo substituto, Fernando Filoni, que compreendia meu memorando
anterior, de 6 de dezembro de 2006. Aí resumi o documento de Richard Sipe, que concluía por esse apelo
respeitoso e sincero ao papa Bento XVI: “Abordo Vossa Santidade com respeito, mas com a mesma intensidade que impeliu
Pedro Damião a apresentar diante de vosso predecessor, o papa Leão IX, uma descrição da situação do clero em sua época. Os
problemas cujos ele falava são similares e tão importantes nos Estados Unidos quanto eram na época, em Roma. Se Vossa
Santidade o solicitar, vos submeterei pessoalmente uma documentação sobre esse assunto“.

Encerrei minha nota repetindo aos meus superiores que considerava que era necessário intervir o mais cedo
possível, retirando o chapéu cardinalício do cardeal McCarrick, e que ele deveria ser submetido às sanções
estabelecidas pelo Código de direito canônico, que prevê também a redução ao estado laical.

Essa segunda nota nunca foi retornada ao Escritório do pessoal e meus superiores me consternaram pela ausência
inconveniente de medidas contra o cardeal e pela falta de comunicação comigo desde minha primeira nota, de
dezembro de 2006.

Contudo, finalmente, tomei conhecimento, por intermédio do cardeal Giovanni Ba ista Re, então prefeito da
Congregação para os bispos, que a declaração corajosa e meritória de Richard Sipe tinha obtido o resultado
desejado. O papa Bento XVI tinha imposto ao cardeal McCarrick sanções similares àquelas que lhe impõe hoje o
papa Francisco: o cardeal deveria deixar o seminário em que vivia, e lhe era proibido celebrar a missa em público,
participar de reuniões públicas, ministrar conferências, viajar, com a obrigação de se consagrar à uma vida de
oração e penitência.
Não sei quando o papa Bento XVI tomou essas medidas contra McCarrick, se fora em 2009 ou 2010, pois nesse
meio tempo fui transferido ao governatorato da Cidade do Vaticano, assim como não sei quem era responsável por
esse inacreditável atraso. Não acredito certamente que seja o papa Bento XVI, que, como cardeal,
denunciara repetidamente a corrupção na Igreja e, nos primeiros meses de seu pontificado, se opôs firmemente à
admissão no seminário de rapazes com tendências homossexuais profundas. Acredito que fora devido ao primeiro
colaborador do papa na época, o cardeal Tarcisio Bertone, que era notoriamente favorável à promoção dos
homossexuais a postos de responsabilidade e estava acostumado a gerir as informações que ele considerava
apropriadas a serem transmitidas ao papa.

Em todo caso, o que é certo, é que o papa Bento XVI impôs as sanções canônicas supracitadas a McCarrick, e que
elas lhe foram comunicadas pelo Núncio apostólico nos Estados Unidos, Pietro Sambi. Dom Jean-François
Lantheaume, então primeiro conselheiro do núncio Sambi em Baltimore, me falou, quando cheguei a Washington –
ele está disposto a testemunhar -, de uma conversa tempestuosa que durou mais de uma hora entre o núncio Sambi
e o cardeal McCarrick, convocado à nunciatura. Dom Lantheaume me disse que “a voz do núncio podia ser ouvida
em todo o corredor”.

As mesmas disposições do papa Bento me foram também comunicadas pelo novo prefeito da Congregação para os
bispos, o cardeal Marc Ouellet, em novembro de 2011, durante uma conversa antes de minha partida para
Washington, e figuraram entre as instruções da mesma Congregação ao novo núncio.

Por minha vez, as repeti ao cardeal McCarrick durante meu primeiro encontro com ele na Nunciatura. O cardeal,
murmurando de um modo pouco compreensível, admitiu que ele talvez tivesse cometido o erro de dormir na
mesma cama com alguns seminaristas em sua casa à beira da praia, mas disse isso como se não tivesse nenhuma
importância.

Os fiéis se perguntam com insistência como foi possível nomeá-lo a Washington e torná-lo cardeal, e eles têm
perfeitamente o direito de saber quem sabia e quem escondeu seus graves malfeitos. Logo, é meu dever revelar o
que sei, a começar pela Cúria romana.

O cardeal Angelo Sodano fora secretário de Estado até setembro de 2006: todas as informações lhe foram
comunicadas. Em novembro do ano 2000, o núncio Montalvo lhe enviou seu relatório, transmitindo-lhe a carta
supracitada do padre Boniface Ramsey, na qual este denunciava os graves crimes cometidos por McCarrick.

Sabe-se que Sodano tentou esconder o escândalo do padre Maciel até o fim. Ele até demitiu o núncio no México,
Justo Mullor, que se recusava a se tornar cúmplice de seu projeto de encobrir Maciel, e nomeou em seu lugar
Sandri, então núncio na Venezuela, que estava disposto a colaborar com a dissimulação. Sodano chegou até a fazer
uma declaração no escritório de imprensa do Vaticano, na qual uma mentira fora afirmada, a saber que o papa
Bento tinha decidido que o caso Maciel deveria ser considerado como encerrado. Bento XVI reagiu, apesar da
vigorosa defesa de Sodano, e Maciel foi reconhecido culpado e irrevogavelmente condenado.

A nomeação de McCarrick a Washington e como cardeal seria obra de Sodano, quando João Paulo II já estava
muito doente? Não podemos saber.

Contudo, é legitimo pensá-lo, mas não acredito que ele fora o único responsável.

McCarrick ia frequentemente a Roma e constituia amigos por toda parte, em todos os níveis da Cúria. Se Sodano
protegera Maciel, como parece certo, não havia nenhuma razão para que ele não o fizesse para McCarrick, que, de
acordo com muitas pessoas, tinha meios financeiros para influenciar as decisões. O prefeito da Congregação para
os bispos, o cardeal Giovanni Ba ista Re, se opôs à sua nomeação à Washington.

Na Nunciatura de Washington, havia uma nota, escrita de próprio punho, na qual o Cardeal Re se dissocia da
nomeação e declara que McCarrick era o 14º na lista para Washington.
O relatório do núncio Sambi, com todas as peças unidas, foi enviado ao cardeal Tarcisio Bertone, enquanto
secretário de Estado. Minhas duas notas supracitadas de 6 de dezembro de 2006 e 25 de maio de 2008,
provavelmente lhe foram enviadas novamente pelo substituto.

Como já mencionado, o cardeal não teve nenhuma dificuldade em apresentar com insistência candidatos ao
episcopado conhecidos por serem homossexuais ativos – cito apenas o caso bem conhecido de Vincenzo de Mauro,
que foi nomeado arcebispo de Vigevano (Itália) e removido porque ele chocava seus seminaristas -, filtrando e
manipulando as informações que ele transmitia ao papa Bento.

O cardeal Pietro Parolin, o atual secretário de Estado, também se tornou cúmplice da dissimulação dos malfeitos de
McCarrick, que, após a eleição do papa Francisco, se gabou abertamente de suas viagens e suas missões em
diversos continentes. Em abril de 2014, o Washington Times publicou na primeira página uma reportagem sobre a
viagem de McCarrick à República centroafricana, e em nome do Departamento de Estado – nada menos! Enquanto
núncio em Washington, escrevi ao cardeal Parolin para lhe perguntar se as sanções impostas a McCarrick pelo
papa Bento ainda eram válidas. Ça va sans dire[2]: minha carta nunca recebeu uma resposta!

Pode-se dizer a mesma coisa do cardeal William Levada, antigo prefeito da Congregação para a doutrina da fé, dos
cardeais Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos bispos, Lorenzo Baldisseri, antigo secretário da mesma
Congregação para os bispos, e do arcebispo Ilson de Jesus Montanari, atual secretário da mesma Congregação.
Todos eles sabiam, por suas funções, das sanções impostas pelo papa Bento XVI a McCarrick.

Os cardeais Leonardo Sandri, Fernando Filoni e Angelo Becciu, enquanto substitutos da Secretaria de Estado,
conheciam em todos os detalhes a situação relativa ao cardeal McCarrick. Os cardeais Giovanni Lajolo e
Dominique Mamberti também não podiam não sabê-lo. Enquanto secretário para as relações com os Estados, eles
participavam várias vezes por semana das reuniões com o secretário de Estado.

Quanto à Cúria romana, vou me deter por aqui, por ora, embora os nomes de outros prelados do Vaticano sejam
bem conhecidos, incluindo muitos próximos do papa Francisco, tal como o cardeal Francesco Coccopalmerio e o
arcebispo Vincenzo Paglia, que pertencem à corrente homossexual em favor da subversão da doutrina católica
sobre a homossexualidade, uma corrente já denunciada em 1986 pelo cardeal Joseph Ra inger, então prefeito da
Congregação para a doutrina da fé, em sua Carta aos bispos da Igreja católica sobre a pastoral das pessoas
homossexuais. Os cardeais Edwin Frederick O’Brien e Renato Raffaele Martino também pertencem à mesma
corrente, mas com uma ideologia diferente. Outros membros dessa corrente residem até na casa de Santa Marta.

Passemos para os Estados Unidos. Obviamente, o primeiro a ter sido informado das medidas tomadas pelo papa
Bento fora o sucessor de McCarrick em Washington, o cardeal Donald Wuerl, cuja situação é agora completamente
comprometida pelas recentes revelações sobre seu comportamento como bispo de Pi sburgh.

É absolutamente impensável que o núncio Sambi, que era uma pessoa extremamente responsável, leal, direta e
explícita em seu modo de ser (um verdadeiro filho de Romagne) não lhe tenha falado disso. Em todo caso, eu
mesmo evoquei o assunto com o cardeal Wuerl diversas vezes, e não precisava certamente entrar nos detalhes, pois
estava claro para mim que ele estava perfeitamente consciente disso. Recordo-me em particular do fato de que tive
que chamar sua atenção quando me dei conta de que em uma publicação arquidiocesana, com capa em cores, havia
um anúncio convidando os jovens que pensavam ter uma vocação ao sacerdócio para um encontro com o cardeal
McCarrick. Imediatamente liguei para o cardeal Wuerl, que me exprimiu sua surpresa, dizendo-me que ele não
sabia de nada desse anúncio e que iria anulá-lo. Se, como continua a dizê-lo, ele não sabia de nada dos abusos
cometidos por McCarrick e das medidas tomadas pelo papa Bento XVI, como explicar sua resposta?

Suas recentes declarações, segundo as quais ele não sabia de nada, ainda que tenha feito inicialmente alusão à
indenização de duas vítimas, são completamente risíveis. O cardeal mente desenvergonhadamente, e persuade seu
chanceler, Dom Antonicelli, a mentir também.
O cardeal Wuerl também mentiu claramente em outra ocasião. Após um evento moralmente inaceitável autorizado
pelas autoridades universitárias da Universidade de Georgetown, chamei a atenção de seu reitor, o Dr. John
DeGioia, sobre esse evento lhe enviando duas cartas. Antes de transmiti-las ao destinatário, de modo a gerir as
coisas corretamente, enviei pessoalmente uma cópia ao cardeal com uma carta de acompanhamento que escrevera.
O cardeal me disse que ele não sabia de nada. Contudo, ele não acusou o recebimento de minhas duas cartas,
contrariamente ao que ele fazia habitualmente. Em seguida tomei conhecimento de que o evento de Georgetown
tinha ocorrido durante sete anos. Mas o cardeal não sabia de nada!

O cardeal Wuerl, bem consciente dos abusos constantes cometidos pelo cardeal McCarrick, e das sanções que o
papa Bento XVI lhe infligiu, transgredindo a ordem do papa, também permitiu que ele residisse em um seminário
em Washington. Ao fazê-lo, ele colocou outros seminaristas em perigo.

Dom Paul Bootkoski, emérito de Metuchen, e Dom John Myers, arcebispo emérito de Newark, dissimularam os
crimes cometidos por McCarrick em suas respectivas dioceses, e indenizaram duas de suas vítimas. Eles não
podem negá-lo e devem ser interrogados a fim de revelar todas as circunstâncias e responsabilidades no caso.

O cardeal Kevin Farrell, recentemente entrevistado pela imprensa, também declarou que ele não tinha a menor
ideia dos abusos cometidos por McCarrick. Levando em conta seu mandato em Washington, Dallas e, agora, Roma,
acho que ninguém pode acreditar honestamente nisso. Não sei se nunca lhe perguntaram se ele conhecia os crimes
de Maciel. Se ele tivesse de negá-lo, alguém acreditaria nele, visto que ele ocupava cargos de responsabilidade
enquanto membro dos Legionários de Cristo?

Quanto ao cardeal Sean O’Malley, direi simplesmente que suas últimas declarações sobre o caso McCarrick são
desconcertantes e ocultaram totalmente suas transparência e credibilidade.

***

Minha consciência exige também que revele fatos que vivi pessoalmente , a respeito do papa Francisco, que têm
um significado dramático, dos quais, enquanto bispo, compartilho a responsabilidade colegial de todos os bispos
sobre a Igreja universal. Não posso permanecer calado e apresento aqui, disposto a reafirmar sob juramento,
invocando Deus como minha testemunha.

Nos últimos meses de seu pontificado, o papa Bento XVI tinha convocado uma reunião de todos os núncios
apostólicos em Roma, assim como Paulo VI e São João Paulo II o tinham feito em vários momentos. A data definida
para a audiência com o papa era sexta-feira, 21 de junho de 2013. O papa Francisco manteve esse compromisso
marcado por seu predecessor. Seguramente, também vim a Roma, de Washington. Era meu primeiro encontro com
o novo papa, eleito três meses antes, após a renúncia do papa Bento XVI.

Na manhã da quinta-feira, 20 de junho de 2013, fui à casa de Santa Marta para me unir aos meus colegas que aí
estavam hospedados. Assim que entrei na sala, encontrei o cardeal McCarrick, que usava a batina púrpura. Saudei-
o como respeito, como sempre fizera. Ele logo me disse, em um tom situado entre o ambíguo e o triunfal: “O papa
me recebeu ontem, amanhã irei para a China”.

Na época, não sabia nada de sua longa amizade com o cardeal Bergoglio e do importante papel que ele
desempenhara em sua recente eleição, como o revelaria mais tarde o próprio McCarrick durante uma conferência
na universidade Villanova e em uma entrevista com o National Catholic Reporte. Também nunca pensei no fato de
que ele tinha participado das reuniões preliminares do último conclave e do papel que ele pudera desempenhar
enquanto eleitor durante o conclave de 2005. Consequentemente, não compreendi imediatamente o significado da
mensagem criptografada que McCarrick me comunicou, mas isso deveria se tornar claro para mim nos dias
seguintes.

No dia seguinte, ocorreu a audiência com o papa Francisco. Após seu discurso, em parte lido e em parte
improvisado, o papa quis saudar um a um todos os núncios. Em fila indiana, me lembro que estava entre os
últimos. Quando chegou minha vez, tive tempo apenas de lhe dizer: “Sou o núncio nos Estados Unidos“. Ele me
acossou com um tom de reprovação com essas palavras: “Os bispos dos Estados Unidos não devem ser ideologizados!
Devem ser pastores!” Seguramente, não fora capaz de pedir explicações sobre o sentido de suas palavras e o modo
agressivo com o qual ele me criticou. Tinha em mãos um livro em português que o cardeal O’Malley me enviara
alguns dias mais cedo, para o papa, dizendo-me: “para que ele possa rever seu português antes de ir ao Rio para as
Jornadas Mundiais da Juventude”. Imediatamente lhe entreguei, e assim me livrei daquela situação extremamente
desconcertante e embaraçosa.

No fim da audiência, o papa anunciou: “Aqueles que ainda estiverem em Roma no próximo domingo estão
convidados a concelebrar comigo na casa Santa Marta”. Naturalmente pensei em permanecer, para esclarecer tão
rápido quanto possível o que o Papa quisera me dizer.

No domingo, 23 de junho, antes da concelebração com o Papa, pedi a Dom Ricca, que, como responsável da casa,
nos ajudava a nos paramentar, se ele poderia pedir ao Papa para me receber durante a próxima semana.

Como poderia retornar a Washington sem esclarecer o que o papa queria de mim? No fim da missa, enquanto o
papa saudava alguns leigos presentes, Dom Fabian Pedacchio, seu secretário argentino, veio me dizer: “O papa me
encarregou de te perguntar se estás livre agora!” Estava à disposição do papa e o agradeci por me ter recebido
imediatamente. O papa me levou para o primeiro andar de seu apartamento e declarou: “Temos 40 minutos antes do
Angélus“.

Iniciei a conversa perguntando ao Papa o que ele queria me dizer com as palavras que ele me dirigiu quando o
saudei na sexta-feira anterior. E o Papa, em um tom bem diferente, quase afetuoso, me disse: “Sim, os bispos nos
Estados Unidos não devem ser ideologizados; eles não devem ser de direita como o arcebispo da Filadélfia (ele não
nomeou o arcebispo); eles devem ser pastores; e eles não devem ser de esquerda – e acrescentou, levantando os
dois braços – e quando digo esquerda, quero dizer homossexual”. Certamente, a lógica da correlação entre ser de
esquerda e ser homossexual me escapou, mas não acrescentei nada.

Logo em seguida, o papa me perguntou de um modo capcioso: “Como é o cardeal McCarrick?” Eu lhe respondi
com uma franqueza total e, se preferir, com uma grande ingenuidade: “Santo Padre, não sei se o senhor conhece o
cardeal McCarrick, mas se perguntar à Congregação para os bispos, existe um dossier dessa grossura sobre ele. Ele
corrompeu gerações de seminaristas e padres, e o papa Bento ordenou-lhe que ele se retirasse em uma vida de
oração e penitência”. O papa não fez o menor comentário sobre essas palavras gravíssimas e seu rosto não
manifestou nenhuma surpresa, como se já conhecesse o caso há muito tempo, e ele imediatamente mudou de
assunto. Mas, então, qual era o propósito do papa ao me fazer essa pergunta: “Como é o cardeal McCarrick?”
Claramente ele queria saber se eu era um aliado de McCarrick ou não.

De volta a Washington, tudo ficou claro para mim, graças também a um novo acontecimento vivido alguns dias
após meu encontro com o papa Francisco. Quando o novo bispo Mark Sei tomou posse da diocese de El Paso, em
9 de julho de 2013, enviei o primeiro conselheiro, Dom Jean-François Lantheaume, enquanto me dirigia a Dallas no
mesmo dia para uma reunião internacional sobre bioética. Na volta, Dom Lantheaume me disse que, em El Paso,
ele tinha encontrado o cardeal McCarrick que, tomando à parte, lhe tinha dito quase as mesmas palavras que o
papa me dissera em Roma: “Os bispos nos Estados Unidos não devem ser ideologizados, eles não devem ser de
direito, eles devem ser pastores…” Fiquei atônito! Logo ficou claro que as palavras de recriminação que o papa
Francisco me dirigiu, em 21 de junho de 2013, lhe foram colocadas na boca, na véspera, pelo cardeal McCarrick. A
menção do papa “não como o arcebispo de Filadélfia” podia ser atribuída a McCarrick, pois houve um grande
desentendimento entre eles sobre a admissão à comunhão dos políticos pró-aborto. Em seu comunicado aos bispos,
McCarrick manipulara uma carta do cardeal Ra inger que proibia que se lhes desse a comunhão. Com efeito, sabia
também que alguns cardeais, tais como Mahony, Levada e Wuerl, eram estritamente ligados a McCarrick; eles se
opuseram às nomeações mais recentes feitas pelo papa Bento XVI para postos importantes, tais como Filadélfia,
Baltimore, Denver e São Francisco.

Não satisfeito com a armadilha que ele armou para mim em 23 de junho de 2013, quando me interrogou sobre
McCarrick, o papa Francisco me armou uma segunda, alguns meses mais tarde, durante uma audiência que me
concedeu em 10 de outubro de 2013. Desta vez em relação a outro de seus protegidos, o cardeal Donald Wuerl. Ele
me perguntou: “Como é o cardeal Wuerl, bom ou ruim?” Respondi: “Santo Padre, não direi se ele é bom ou ruim,
mas contarei dois fatos.” São os dois fatos que já mencionei acima, sobre a negligência pastoral de Wuerl a
propósito dos desvios aberrantes na Universidade de Georgetown e sobre o convite da arquidiocese de
Washington aos jovens aspirantes ao sacerdócio para uma reunião com McCarrick! Novamente, o papa não
demonstrou nenhuma reação.

Também estava claro que, depois a eleição do papa Francisco, McCarrick, agora livre de qualquer restrição, se
sentiu livre para viajar de forma contínua para ministrar conferências e dar entrevistas. Em um esforço conjunto
com o cardeal Rodriguez Maradiaga, ele se tornou o “criador de reis” para a nomeações à Cúria e aos Estados
Unidos, e o conselheiro mais ouvido no Vaticano para as relações com a administração Obama. É assim que se
explica que, enquanto membro da Congregação para os bispos, o papa substituiu o cardeal Burke por Wuerl e
nomeou Cupich, logo após tê-lo criado cardeal. Com essas nomeações, a nunciatura em Washington estava agora
fora de cena na nomeação dos bispos. Além disso, ele nomeou o brasileiro Ilson de Jesus Montanari – o grande
amigo de seu secretário privado, o argentino Fabian Pedacchio – como secretário da mesma Congregação para os
bispos e secretário do Colégio de cardeais, promovendo-o de uma só vez de simples funcionário desse
departamento a arcebispo secretário. Algo inaudito para uma posição tão importante!

As nomeações de Blaise Cupich para Chicago e de Joseph W. Tobin para Newark foram orquestradas por
McCarrick, Maradiaga e Wuerl, unidos por um pacto vicioso de abusos, no caso do primeiro e dissimulação desses
abusos, no caso dos outros dois. Os nomes de Cupich e Tobin não figuravam na lista apresentada pela nunciatura
para Chicago e Newark.

Em relação a Cupich, não se pode constatar senão sua arrogância ostentatória e a insolência com a qual ele nega as
provas agora evidentes: 80% dos abusos constatados foram cometidos contra jovens adultos por homossexuais em
situação de autoridade sobre suas vítimas.

Durante o discurso que pronunciou na cerimônia de posse da sé de Chicago, onde estava presente enquanto
representante do Papa, Cupich fez um brincadeira sobre o fato de que não era certamente preciso esperar que o
novo arcebispo andasse sobre as águas. Talvez bastaria permitir-lhe permanecer com os pés no chão e não tentar
inverter a realidade, cego por sua ideologia pro-gay, como ele afirmou recentemente em uma entrevista para a
revista America. Louvando sua própria experiência no assunto, tendo sido Presidente do Comitê para Proteção de
Crianças e Jovens da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, ele afirmou que o principal problema da crise de
abusos sexuais pelo clero não era a homossexualidade, e que afirmá-lo é só uma forma de desviar a atenção para o
problema real, que é o clericalismo. Para confirmar sua tese, Cupich “estranhamente” fez referência aos resultados
de uma pesquisa realizada no ápice da crise de abuso de menores, no início dos anos 2000, enquanto ele
“candidamente” ignorava que os resultados daquela investigação foram totalmente negados pelas pesquisas
independentes feitas pelo John Jay College of Criminal Justice em 2004 e 2011, que concluíram que, nos casos de
abuso sexual, 81% das vítimas eram homens. De fato, o Padre Hans Zollner, S.J., Vice-Reitor da Pontifícia
Universidade Gregoriana, Presidente do Centro para a Proteção da Criança e membro da Comissão Pontifícia para
a Proteção de Menores, recentemente afirmou ao jornal La Stampa que “na maior parte dos casos trata-se de uma
questão de abuso homossexual”.

A nomeação de McElroy em San Diego também foi orquestrada pelo cardeal Parolin, com uma ordem
criptografada peremptória que me foi dirigida, enquanto núncio,: “Reserve a Sé de San Diego para McElroy”.
McElroy também estava ciente dos abusos de McCarrick, como pode ser visto em uma carta enviada a ele por
Richard Sipe, em 28 de julho de 2016.

Esses personagens estão estritamente associados a indivíduos que pertencem, em particular, à ala desviada da
Sociedade de Jesus, infelizmente, hoje, a maioria, que já havia sido uma causa de séria preocupação a Paulo VI e
seus sucessores. Devemos apenas considerar o Padre Robert Drinan, SJ, eleito quatro vezes para a Câmara dos
Representantes, e um grande partidário do aborto; ou Padre Vincent O’Keefe, SJ, um dos principais promotores da
The Land O’Lakes Statement de 1967, que seriamente comprometeu a identidade católica das universidades e
colégios nos Estados Unidos. Deve-se notar que McCarrick, então presidente da Universidade Católica de Porto
Rico, também participou dessa nefasta iniciativa que foi tão danosa à formação das consciências da juventude
americana, estritamente associada à ala desviada dos jesuítas. Padre James Martin, S.J., aclamado pelas pessoas
citadas acima, em particular por Cupich, Tobin, Farrell e McElroy, nomeado consultor do Secretariado para as
Comunicações, conhecido ativista conhecido que promove a agenda LGBT, escolhido para corromper os jovens que
em breve estarão se reunindo em Dublin para o Encontro Mundial das Famílias, é apenas um triste exemplo
recente desta ala desviada da Companhia de Jesus.

O Papa Francisco repetidamente tem pedido por total transparência na Igreja, e que os bispos e fiéis ajam com
franqueza. Os fiéis por todo o mundo também pedem isso a ele, de maneira exemplar. Ele deve honestamente
afirmar quando tomou conhecimento dos crimes cometidos por McCarrick, que abusou de sua autoridade sobre
seminaristas e padres.

Em todo caso, o Papa soube disso por mim, em 23 de junho de 2013, e continuou a acobertá-lo. Ele não levou em
consideração as sanções que o Papa Bento impôs a McCarrick e lhe fez um conselheiro de confiança, juntamente
com Maradiaga.

Este último está de tal forma convencido da proteção do Papa, que ele se permite descartar como “fofoca” os apelos
sinceros de diversos de seus seminaristas, que tiveram coragem para escrever-lhe, após vários terem tentado
suicídio por conta do abuso homossexual no seminário.

Agora, os fiéis compreenderam a estratégia de Maradiaga: insultar as vítimas para se salvar a si mesmo, mentir até
o fim para acobertar um abismo de abuso de poder, de má gestão na administração dos bens da Igreja, e desastres
financeiros, mesmo contra amigos próximos, como no caso do Embaixador de Honduras, Alejandro Valladares, ex
decano do Corpo Diplomático da Santa Sé. No caso do ex bispo auxiliar Juan José Pineda, após um artigo
publicado no semanário italiano L’Espresso no último mês de fevereiro, Maradiaga declarou ao jornal Avvenire:
“Foi meu bispo auxiliar Pineda que pediu por uma visitação, a fim de ‘limpar’ seu nome após ter sido submetido a
tanta calúnia”. Agora, acerca de Pinada, o único fato que foi feito público foi de que sua renúncia foi simplesmente
aceita, fazendo desaparecer, assim, qualquer responsabilidade de Maradiaga.

Em nome da transparência tão louvada pelo Papa, o relatório do Visitador, o bispo argentino Alcides Casare o,
entregue mais de um ano atrás diretamente ao Papa, deveria ser publicado.

Finalmente, a recente nomeação como Substituto do Arcebispo Edgar Peña Parra também tem relação com
Honduras, isto é, com Maradiaga. De 2003 a 2007, Peña Parra trabalhou como Conselheiro na nunciatura de
Tegucigalpa. Como delegado das Representações Pontifícias, eu recebi preocupantes informações a respeito dele.

Em Honduras, um escândalo tão grande como o ocorrido no Chile está para se repetir. O Papa defende o seu
homem, o Cardeal Rodriguez Maradiaga, até o fim, como fez com o bispo chileno Juan de la Cruz Barros, que ele
mesmo nomeou bispo de Osorno contra o conselho dos bispos chilenos. Primeiro, ele insultou as vítimas de abuso.
Depois, somente quando foi forçado pela mídia, e por uma revolta das vítimas e dos fiéis chilenos, ele reconheceu
seus erros e pediu desculpas, enquanto afirmava ter sido mal informado, causando uma situação desastrosa para a
Igreja no Chile, mas continuando a proteger os dois cardeais chilenos, Errazuriz and Ezzati.

Mesmo no trágico caso de McCarrick, o comportamento do Papa não foi diferente. Ele sabia pelo menos desde 23
de junho de 2013 que McCarrick era um predador em série. Embora soubesse que era um homem corrupto, ele o
acobertou até o fim; de fato, ele fez dos conselheiros de McCarrick seus, que, certamente, não foi inspirado por
intenções sadias e pelo amor à Igreja. Apenas quando foi forçado pelas denúncias de abusos de menores,
novamente por conta da atenção da mídia, ele agiu acerca de McCarrick para salvar sua própria imagem na
imprensa.

Agora, nos Estados Unidos, um coro de vozes está se levantando, especialmente dos leigos, e recentemente unidas
a de diversos bispos e padres, pedindo que todos aqueles que, por silêncio, acobertaram o comportamento
criminoso de McCarrick, ou que se usaram dele para promover suas carreiras e intenções, ambições e poderes na
Igreja, renunciem
Mas isso não será suficiente para curar uma situação de comportamento imoral extremamente grave pelo clero:
bispos e padres. Um tempo de conversão e penitência deve ser proclamado. A virtude da castidade deve ser
redescoberta no clero e nos seminários. A corrupção no mau uso dos recursos da Igreja e das ofertas dos fiéis deve
ser combatida. A gravidade do comportamento homossexual deve ser denunciada. As redes homossexuais
presentes na Igreja devem ser erradicadas, como Janet Smith, Professor de Teologia Moral no Seminário Maior do
Sagrado Coração em Detroit, recentemente escreveu: “O problema do abuso do clero não pode ser simplesmente
resolvido pela renúncia de alguns bispos, e menos ainda com diretrizes burocráticas. O problema mais profundo
está nas redes homossexuais dentro do clero que devem ser erradicadas”. Essas redes homossexuais, agora
difundidas em muitas dioceses, seminários, ordens religiosas, etc, agem sob a ocultação de segredos e mentiras
com o poder de tentáculos de um polvo, e estrangulam vítimas inocentes e vocações sacerdotais, e estão
estrangulando a Igreja inteira. Eu imploro a todos, especialmente aos bispos, que levantem suas vozes a fim de
abater essa conspiração de silêncio que está tão disseminada, e a relatar os casos de abuso que souberem à mídia e
às autoridades civis.

Imploro a todo mundo, em particular aos bispos, para que falem a fim de derrotar essa conspiração do silêncio tão
difundida e assinalar à imprensa e às autoridades civis os casos de violência que conhecem.

Ouçamos a mensagem mais poderosa que São João Paulo II nos deixou como herança: “Não tenhais medo! Não
tenhais medo!”

Em sua homilia na festa da Epifania, em 2008, o papa Bento nos recordou que o plano da salvação do Pai fora
plenamente relevado e realizado no mistério da morte e ressurreição de Cristo, mas que ele deve ser acolhido na
história humana, que é sempre uma história de fidelidade da parte de Deus e, infelizmente, também de
infidelidade, da parte dos homens. A Igreja, depositária da bênção da Nova Aliança, assinada no sangue do
Cordeiro, é santa, mas composta de pecadores, como escrevia Santo Ambrósio: A Igreja é “immaculata ex maculatis“.
Ainda que seja santa e sem mancha, em sua viagem terrestre, ela é composta de homens manchados pelo pecado.

Quero recordar essa verdade indefectível da santidade da Igreja às numerosas pessoas que ficaram tão
profundamente escandalizadas pelo comportamento abominável e sacrílego do antigo arcebispo de Washington,
Theodore McCarrick; pela grave, desconcertante e pecaminosa conduta do papa Francisco e pela conspiração do
silêncio de tantos pastores, e que são tentadas a abandonar a Igreja, desfigurada por tantas ignominias. No Angelus
de domingo, 12 de agosto de 2018, o papa Francisco disse estas palavras: “Todo mundo é culpado pelo bem que poderia
ter feito e não fez… Se não nos opomos ao mal, o alimentamos tacitamente. Devemos intervir lá onde o mal se difunde; pois o
mal se difunde lá onde falta cristãos audaciosos para se opor ao mal pelo bem“. Se isso deve ser considerado justamente
como uma responsabilidade moral séria para cada crente, quanto mais para o pastor supremo da Igreja que, no
caso de McCarrick, não se opôs ao mal, mas se associou para fazer o mal com alguém que ele sabia profundamente
corrompido. Ele seguiu os conselhos de alguém que ele conhecia bem por ser um perverso, multiplicando assim,
de modo exponencial, por sua autoridade suprema, o mal feito por McCarrick. E quantos outros pastores
diabólicos Francisco continua a apoiar em sua destruição ativa da Igreja!

Francisco abdica do mandato que Cristo deu a São Pedro para confirmar os irmãos.

Com efeito, por sua ação, ele os tem dividido, os tem conduzido ao erro e encorajado os lobos a continuar
dilacerando as ovelhas do rebanho de Cristo.

Neste momento extremamente dramático para a Igreja universal, ele deve reconhecer seus erros e, conforme o
princípio proclamado de tolerância zero, o papa Francisco deve ser o primeiro a dar o exemplo aos cardeais e aos
bispos que dissimularam os abusos de McCarrick, e renunciar com eles.

Mesmo na consternação e tristeza diante da enormidade do que está acontecendo, não percamos a esperança!
Sabemos bem que a grande maioria de nossos pastores vive sua vocação sacerdotal com fidelidade e devotamento.
É nos momentos de grande provação que a graça do Senhor é revelada em abundância, e torna sua misericórdia
ilimitada acessível a todos. Mas isso só é concedido àqueles que se arrependem sinceramente e propõem
sinceramente modificar suas vidas. É um momento favorável para que a Igreja confesse seus pecados, se converta e
faça penitência.

Rezemos todos pela Igreja e pelo papa. Recordemo-nos quantas vezes ele nos pediu para rezarmos por ele!

Renovemos nossa fé na Igreja, nossa Mãe: “Creio em uma Igreja santa, católica e apostólica!”

Cristo não abandonará jamais sua Igreja! Ele a engendrou por Seu Sangue e a reanima continuamente por Seu
Espírito!

Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós!

Maria, Virgem e Rainha, Mãe do Rei de glória, rogai por nós!

Roma, 22 de agosto de 2018, festa do coroação da Santíssima Virgem Maria.

[1] Todas as notas, cartas e outros documentos mencionados aqui estão disponíveis na Secretaria de Estado da
Santa Sé, ou na Nunciatura apostólica em Washington, D.C.

[2] Ndt.: Nem é preciso dizer.

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