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DECCA, Edgar Salvadori de. “O colonialismo como a glória do Império”.

In: REIS FILHO,


Daniel Aarão, FERREIRA, Jorge, ZENHA, Celeste (org.). O século XX. O tempo das
certezas. Da formação do capitalismo à Primeira Guerra Mundial. Volume Um. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. P. 151-181.
P.1/2  Jubileu de diamante da rainha Vitória em junho de 1897: O autor destaca
essa comemoração simultânea ao periodo em que a Inglaterra vivia sua riqueza
econômica, com os benefícios da sua industrialização chegando para mais
pessoas, e mesmo com os protestos da classe operária, os ingleses vivam num
ambiente de felicidade, ao passo que a Europa se encontrava num ambiente de
paz e harmonia, com os negócios capitalistas numa boa situação, calmaria essa
não vista desde o fim das Guerras Napoleônicas, e perturbada por alguns
conflitos como a Guerra da Criméia.

 O poder do espetáculo e a sua descrição: O autor diz que essa festa era voltada
aos envoltos do Império Britânico, visto que o único rival em termos de
comparação foi o Império Romano, na medida em que o primeiro alcançou um
¼ do globo, ou seja, era maior do que o segundo, contudo o autor salienta que a
expansão de cada teve motivos distintos entre si. Assim, a festa teve um efeito
simbólico de ostentar o poderio britânico naquele contexto. Além disso, o autor
descreve um pouco do evento a partir da autora Barbara Tuchman, por meio do
seu livro A torre do orgulho.
P.2/8 Na Política Imperialista a Expansão é Tudo.
 Inglaterra homenageava a si mesma, mas outros países, como França e
Alemanha, passavam por momentos de felicidade: todos tinham aumentado
seus domínios coloniais em fins do século XIX, ao passo que Inglaterra
aumentara os seus em 10 milhões de quilômetros quadrados, a França em nove,
e a Alemanha em 2,5. Ingleses e franceses eram os liderem nas anexações
territoriais, e mesmo com a presença estadunidense e nipônica, esse fenômeno
foi europeu.

 Traços da expansão européia: a principal, segundo o autor, teria sido a


expansão condicionada pela necessidade do aumento dos mercados
consumidores europeus, uma vez que eles já haviam alcançado seus respectivos
países, e isso impactava devido às fronteiras e limites territoriais, que agora
passaram a ser um obstáculo ao capitalismo monopolista. Além disso, ele
explica que a expansão européia na África e Ásia ocorreu por meio dos
interesses capitalistas acompanhados de burocratas e esses empresários e
burocratas tiveram a escolta de militares nas colônias. Outro traço dessa
expansão foi o fato dela se focar nos territórios africanos e asiáticos, esses
últimos banhados pelo Oceano Pacifico, enquanto que o continente americano
ficou afastado dos interesses do Velho Mundo, em virtude da Doutrina Monroe
“proteger” a América das intervenções européias, proteção essa levada a cabo
pelos EUA (o governo estadunidense apoiou a Venezuela contra a Guiana
Inglesa, e o autor coloca que o território americano serviria de palco para a
expansão dos EUA). É salientado que, segundo Eric Hobsbawn, não sobrou
nenhum Estado autônomo no Oceano Pacífico, totalmente nas mãos de ingleses,
franceses, alemães e holandeses, enquanto que a Inglaterra anexava a Birmânia e
a França dominava a Indochina.

 As causas da expansão e o poder dos envolvidos no Neocolonialismo: O autor


ressalta as causas que levaram até a expansão européia, a saber, a necessidade de
enriquecimento inerente do Capitalismo limitada pelas fronteiras do próprio
Estado-Nacional, ao passo que o lugar em que a Nação vai impor sua soberania
e ter a permissão dos súditos quanto às leis que vão vigorar tem suas próprias
fronteiras delimitadas, e não um lugar criado pela expansão econômica e
desprovido de leis impostas ao dominados. Por outro lado, a impossibilidade
dessa dominação se deu pelo fato dos dominados não aceitarem, em algumas
ocasiões, a dominação estrangeira, assim como esses dominados terem ficado de
fora dos pactos políticos realizados pelas potências do Velho Mundo, já que
tinham suas próprias leis e normas. Para além desse fato, os endinheirados e
capitalistas, junto dos militares, em virtude da expansão infinita dos mercados
consumidores ter ultrapassado as fronteiras nacionais, vão ter muito mais ação e
decisão em relação aos que vivem nos países europeus, o que explica a baixa
visibilidade dos opositores ao expansionismo europeu dentro das instituições
políticas de cada nação.

 O conceito de Imperialismo para explicar essa época: O autor salienta que


toda essa fase de troca de capitais, mercadorias, e pessoas da Europa foi tão
massiva que se ficou conhecida como “Imperialismo”, indo de 1870 até 1914,
quando eclode a Primeira Guerra Mundial. Contudo, ele notifica que tal conceito
gera embaraços, pois se de um lado, quando se usa tal termo, ele seria um
sinônimo para a formação de impérios, o que de fato ocorre ao ver que a França,
Alemanha, Rússia, Austria-Hungria e o Brasil queriam ser vistos como
“impérios”. Todavia, ele afirma que ser um engano usar esse termo como
sinônimo de “formar impérios”, visto que para acontecer de forma real, os
dominantes teriam que dar aos dominados as mesmas instituições e os mesmos
direitos aos povos colonizados, o que não procedeu. Os ingleses sempre viram
seus dominados como “inferiores”, salvo o Canadá e a Austrália, tampouco os
órgãos políticos e administrativos foram os mesmos da Europa nos âmbitos
coloniais, já que tinham uma “autonomia” quanto às instituições do Velho
Mundo. Assim, chegamos a definição de imperialismo do autor, que é uma
politica proposital de anexação de territórios por parte dos europeus,
consolidada pelo domínio militar e lograda em muitas partes do mundo, em que
os capitalistas tinham interesses no que tangem a mercado consumidor e
matéria-prima.

 Expansão capitalista sem uso da dominação física ou explicita: O Brasil


sofreu com o imperialismo, mas de outra forma, e nesse caso a presença
estrangeira se justifica pela presença do café. Com a produção cafeeira paulista,
aumentaram os investimentos adventícios em áreas como bancos e casas de
comércio, dominação de portos, serviços e meios de transporte urbanos, e em
ferrovias nas zonas produtoras de café. Os principais investidores eram ingleses,
franceses, alemães, holandeses e belgas, culminando na modernização de
cidades brasileiras até então pouco renovadas, tendo como exemplo a mudança
de ambiente as cidades de SP, Santos e Campinas, modernizadas com mais
meios de transporte, casas de comércios e bancos, assim como a chegada da luz
elétrica e a gás, e melhoramento nos serviços de água e esgoto.

 A necessidade de acumular capitais: essa é a maior demanda do capitalismo, e


este está preso aos limites nacionais, correndo risco de diminuir seus lucros, ao
passo que a Inglaterra é o maior expoente dessa situação. Os britânicos passaram
por grandes mudanças e avanços nos ramos tecnológicos e industriais, e em
1870 enfrentaram uma crise econômica em virtude da grande presença das
empresas em solo inglês, sem expansão, vendo seus lucros diminuírem, e, neste
sentido, os ingleses foram os que mais sentiam a necessidade de alargar seu
mercado consumidor em outros espaços que não os seus. Por meio isso, o autor
vê a causa da corrida armamentista das potencias européias e sua busca por áreas
de influencia, cujo produto lógico será a Primeira Guerra Mundial.

 A meta dos países europeus com essa dominação e vida nas cidades do
Velho Mundo: o autor vê que o objetivo era aumentar os limites para o avanço
do modo capitalista de produção, assim como aumentar a paisagem do individuo
através das mudanças das técnicas e dos valores. Com isso, ele descreve as
metamorfoses, quanto aos valores, comportamentos e atitudes européias, vendo
como aumento das metrópoles a principal característica da dessa época, mesmo
que nem sempre esses centros urbanos concentrassem as fábricas. Além disso,
ele coloca que o aumento abrupto dos centros urbanos se deu, principalmente,
pelos avanços nas melhorias das condições de vida levados a cabo pela medicina
e ciência desenvolvidas naquele momento. Porém a maior mudança
comportamental, para ele, está ligada a comercialização e distribuição de
mercadorias nas cidades, materializada na presença dos produtos nas vitrines e o
surgimento das lojas de departamento, ou magazines.

 O tempo para a diversão e o lazer: o homem da cidade teria percebido que o


tempo para se divertir alargou, e com isso passou a consumir e se entreter mais
ainda, então a abertura de negócios que seriam aproveitados em seu tempo livre
foi elementar, e estamos falando de Teatros, Casas de Espetáculos, Circos,
Panoramas, e Esportes, os quais começaram a aparecer cada vez mais para a
felicidade daqueles que podiam aproveitá-los. Os mais humildes também
puderam aproveitar um tempo de lazer devido as suas brigas sindicais que
visavam diminuir o tempo de serviço nas fabricas. (Os pubs vão ser muito
pertinentes no que tange ao lazer da classe operária).
 A comercialização de uma vida prazerosa e aventuresca: dentro da sociedade
industrial, as exposições universais tiveram grande mérito no que diz respeitos à
venda de promessas na realidade burguesa. Estiveram presentes na Europa e nos
EUA, viraram símbolos da modernidade ou do novo momento que emergia aos
indivíduos daquele contexto, por meio de monumentos como a Torre Eiffel, a
Estátua da Liberdade, e o Palácio de Cristal, na medida em que viraram os
símbolos da modernidade industrial em ascensão. O autor compara a visita a tais
exposições universais com uma visita a Disney nos dias atuais.

 As exposições universais industriais: eventos que causavam o fascínio dos que


as viam, pegando como exemplo a exposição de Paris em 1867, na qual o
projeto do Canal de Suez foi apresentado, assim como o escafandro também
esteve presente, como disse a autora Sandra Pesavento, e o elevador fez sua
aparição, como observou Hippolyte Gautier. Nessa exposição, a eletricidade teve
grande destaque, bem como o telégrafo, que causara impacto aos visitantes. Mas o
autor salienta, que, dentre tudo que poderia ser oferecido ao homem da cidade, nada
lhe chamou mais atenção do que a venda de viagens e aventuras mirabolantes pelo
mundo colonial. Ele explica que o desenvolvimento nas ferrovias e navios não
beneficiou somente o deslocamento mercadorias, mas também o de homens, e a daí
nascia o turista.
P.8/13 O turista Acidental e a Aventura Imperialista.
 Uso do filme Titanic como exemplo para falar dos sonhos e fantasias do
turista europeu: o autor aborda o micro universo social europeu presente no
navio, hierarquizado entre os andares superiores e inferiores (alta burguesia,
nobres decadentes e burgueses galopantes nas primeiras e trabalhadores pobres
nas segundas), o fato de que na tragédia os mais ricos terem prioridade e os
pobres não, tal como nas cidades da Europa, os desejos de cada um das classes,
a figura simbólica do navio enquanto triunfo da tecnologia e ciência, sobre o
qual se pensava que era indestrutível e não deixou seus tripulantes preverem
uma possivel tragédia, e o fato de poder-se resumir a experiência imperialista
européia por meio do Titanic.

 Imperialismo e a psicanálise de Sigmund Freud: O autor diz que o


movimento imperialista começa com sonhos e depois vira pesadelo quando
eclode a Primeira Guerra Mundial na Europa, usando como exemplo desses
sonhos mirabolantes Cecil Rhodes, um dos maiores expoentes do imperialismo
inglês e cujo nome foi dado a um país, a antiga Rodésia. Com isso, ele aborda a
personalidade do homem urbano europeu, suscetível a desejos e muita
disciplina, que começa a ser estudada pela psicanálise, ciência que emergia no
tratamento de transtornos mentais. Assim, chegamos a Viena, onde Freud
estudava como a mente humana funciona, tentando achar a origem dos traumas
e das loucuras advindas da repressão dos desejos. Neste sentido, o autor
estabelece uma relação entre o trabalho de Freud com os desejos e ambições de
expansão e anexação imperialistas dos homens ordinários europeus, ressaltando
como vivemos com esse sonho imperialista, usando como exemplo o cinema,
com o personagem Indiana Jones, antropólogo do imperialismo. Também
destaca a figura de Lawrence da Arábia, figura do serviço secreto inglês que
ajudou os árabes a se emanciparem dos turcos em plena Primeira Guerra.

 A persona de Lawrence da Arábia e análise de obras que lidaram com o


tema imperialismo: o autor descreve Lawrence como homem intrigante e
enigmático, ressaltando sua genialidade, ascendência nobre, disciplinado e
erudito, aventureiro, cujo ingresso ao serviço britânico se deu por desejos
emocionais, assim como uniu os povos árabes contra os turcos. Vemos suas
ações descritas em um livro acerca dele, tais como chefiar tribos, conquistar
cidades, e ludibriar turcos e alemães. Lawrence ficara mais notório que James
Bond, espião que compartilha a mesma nacionalidade de Lawrence. Então segue
para o estudo dos romances de aventura, visando uma compreensão da
personalidade dos personagens da aventura imperialista; estes são os que mais
povoam (romances de aventura) a imaginação das pessoas pelo mundo,
aparecendo neles todos os elementos da politica imperialista, das mais logradas
até as mais pessimistas.

 Os autores do imperialismo: alguns foram contra a expansão européia,


enquanto outros ajudaram a legitimá-la, como é o caso de Rudyard Kipling,
defensores do imperialismo, Nobel da Literatura em 1907, cujas obras têm como
alvos crianças e adolescentes, porém fascina adultos também. Mowgli fala da
obediência do cidadão em relação ao Estado, tal como criados por Thomas
Hobbes, O Homem que queria ser rei, em que dois aventureiros queriam ser reis
de um algum espaço colonizado, e Kim, que fala de um agente secreto britânico
com atitudes nem um pouco louváveis, como manipulação das leis históricas.
Outros se opuseram ao imperialismo, como George Orwell e E.P. Foster, mas é
Joseph Conrad, com o Coração das Trevas, por meio da qual fez uma síntese do
imperialismo europeu na África, falando da presença do homem branco na selva
africana, por meio da procura de um marinheiro, Marlowe, por um comerciante
que poderia colocar em risco os interesses da companhia que contratou o
protagonista. Marlowe deve subir um rio para poder achá-lo e durante seu
caminho, percebe a ação do europeu perante aos povos que julga inferiores.

 Mais um pouco acerca da obra de Conrad: o autor fala do rio em que o


marinheiro navega, que bem poderia ser o Tamisa, rio que banha Londres, cita
alguns excertos da obra para elucidar essa comparação, assim como pontua que
Conrad e Kipling abordaram de maneira comparativa os elementos paradoxais
do novo homem europeu, ao passo que suas obras são grandes expoentes do
cosmopolitismo em voga no fim do XIX, cujo mundo não tinha mais limites e o
homem europeu não acreditava nos limites da expansão européia, e este mesmo
poderia ter nos romances aventuresco a possibilidade de imaginar com uma vida
diferente da que vivia.

 Imperialismo: o autor define que essa fase que apresentou suas conseqüências
trágicas com a eclosão da Grande Guerra foi o Imperialismo, contudo ele diz
que tal conceito é um problema, se indagando da possibilidade de aglutinar uma
série de episódios históricos em um único termo. Neste sentido, ele prefere
colocar como “imperialismo” enquanto certos elementos culturais e políticos
produtores de uma vontade mordaz de expansão dentro do homem moderno.

 Os governos imperialistas e as aventuras imperialistas nas cidades: o autor


pontua que os governos impostos nos continentes africano e asiático, criados
pelos militares, burocratas e mercadores, tinham uma gestão autônoma,
selecionando para a gestão alguns nativos, enquanto que não houve nenhuma
tentativa de se instalar alguma instituição européia nas colônias. Neste sentido, a
gestão neocolonial funcionou por meio de seus próprios interesses, o que explica
as atrocidades que vão ocorrer futuramente. Em seguida, ele destaca o
conhecimento acerca do leitor dos romances dos autores anteriores, para
começar a suspeitar dos motivos pelos quais ele adorava demasiadamente as
aventuras em lugares na Índia e na África, enquanto que a imprensa nas cidades
já concentrava leitores que queriam receber as novidades imperialistas, o que
explica sua empolgação com as aventuras nas terras estrangeiras perante a sua
vida normal. Vemos o surgimento do turismo, como uma indústria que
aumentava as possibilidades de lazer aos mais ricos, ramo esse que vai estar
próximo ao imperialismo, ao passo que o sonho do europeu passa a ser uma
viagem cheia de surpresas e aventuras dentro de um navio. Por fim, o autor
explica que os relatos de viajantes e os romances vão fazer surgir a antropologia,
ciência que vai responder as dúvidas dos europeus acerca dos povos dominados.
P.13/1 Um Outro Sonho da Modernidade: O Socialismo.
8  O marxismo no fim do XIX na Europa: o autor aborda a pretensão
internacional do ideário marxista, chegando a Segunda Internacional Socialista em
1889, em 14 de julho daquele ano em virtude dos 100 anos da Revolução Francesa,
a qual contava com um hino prometendo a redenção internacional da classe
operária, e com diversas partidos e grupos socialistas, majoritariamente europeus
(Japão, EUA e Austrália estavam presentes), mostrando uma baixa visibilidade do
internacionalismo marxista na fase imperialista. Além disso, o autor relata os dois
símbolos daquele evento, uma bandeira vermelha que representava o sangue
daqueles que lutaram pelo socialismo, e Dia Internacional dos Trabalhadores, com
destaque para o lema “Trabalhadores do mundo, uni-vos”, assim como vemos
alguns países participantes, como a Inglaterra, Alemanha e França.

 A representatividade da Segunda Internacional: o autor aborda a


possibilidade dos trabalhadores industriais e de outros ramos de se sentirem
representados ou não, visto que a I.S não era composta por operários em si,
ressaltando a visibilidade que os trabalhadores tinham conseguido por meio da I.S,
segundo a visão dos militantes que participavam do congresso, a proeminência do
ideário marxista na reunião, o que vai acabar com a expulsão das alas anarquistas,
em 1896, no Congresso de Londres, ruptura cujo resultado será a divisão do
movimento socialista em todo o mundo em duas correntes, a anarquista preferia
uma legislação social que ajudasse os trabalhadores, ao invés das lutas, e era contra
a formação de agremiações políticas, e a marxista majoritária, que defendia uma
legislação social e uma formação de partidos dentro do Estado liberal-burguês.
 O medo causado por esse congresso: mesmo divido, esse congresso
apavorou as elites burguesas liberais da época, e um exemplo desse medo foi a
convocação, em Viena, de uma greve geral por parte do socialista Victor Adler no
primeiro de maio de 1890. As autoridades políticas e policias temiam que tal greve
começasse uma situação de caos e desordem, mas ele adverte que naquele contexto
de harmonia e ascensão da burguesia, trabalhadores viviam mal, com baixos
salários, em péssimas condições de saúde e moradia, cuja jornada de trabalho
chegava a 12 horas diárias. Ainda assim, o autor adverte que as conquistas
trabalhistas operárias não foram o tema da I.S, mas sim quais caminhos e trilhas os
socialistas deveriam seguir.

 As tendências marxistas e o revisionismo de Bernstein: com o


desenvolvimento da economia capitalista, uma vertente do marxismo defende o fim
do capitalismo e a revolução do proletariado, enquanto que uma ala reformista
defende que o capitalismo não estaria para findar assim como defendia um
socialismo que se ancorasse em reformas dentro do Estado Burguês por meio de
conluios com os partidos ditos “progressistas”. Um caminho revolucionário ou
reformista foi o grande impasse da I.S até a Primeira Grande Guerra e dividiu os
partidos marxistas como um todo. Além disso, a I.S fez com que os marxistas se
unissem em quatro pilares, que eram a jornada de trabalho em 8 horas, voto
universal masculino, um exército permanente no lugar no de cidadãos, e o Primeiro
de Maio como data para a confraternização de protestos e atitudes trabalhistas ao
redor do mundo. Dito isto, o autor quer explorar mais duas questões que aparecem
com pouca visibilidade, nesse caso a querela entre marxistas revolucionários e
reformistas, e a difusão do marxismo pelo mundo e seus desdobramentos dentro da
corrida imperialista. O primeiro deles vai criar uma briga politica entre os marxistas,
especialmente com a contribuição de Eduard Bernstein, um amigo de longa data de
Marx e Engels, que ficaria conhecido por fazer um revisionismo quanto ao ideário
marxista, deixando infelizes aqueles marxistas que preconizavam a revolução.
Bernstein acreditava, por exemplo, que o capitalismo não causava a concentração de
propriedades, o que acontecia segundo Marx, mas sim havia uma maior distribuição
delas, assim como não acreditava que o Capitalismo tornava a vida dos
trabalhadores pobríssima e afim. Assim, ele deixava de defender a revolução
socialista nos países industrializados capitalistas, crendo que o capitalismo poderia
suportar as crises econômicas e que o socialismo tinha que se voltar a reformas
políticas e sociais por meio de alianças, e, desta maneira, ele basicamente negava o
ideário marxista em sua plenitude, e ainda causara uma divisão entre os marxistas
tão grande quanto em relação aos anarquistas, e as mudanças ficaram mais
explicitas com o posicionamento do Partido Social Democrata Alemão, o maior
partido marxista da Europa naquele momento. Bernstein ainda disse que as classes
operárias não tinham uma homogeneidade entre si, dividida em virtude da
especialização do trabalho industrial, sem finalidade, e com algumas parcelas
avessas ao socialismo. Esse pensador causou um medo nos membros do I.S visto
que suas teses poderiam levar ao abando do ideário marxista e a descrença no seu
caráter inevitável na História (os socialistas deveriam, nesse caso, defender uma
sociedade justa com reformas ao lado de outros partidos para que melhorassem a
vida dos trabalhadores). Quanto a isso, o autor pontua que era complicado escapar
das teses revisionistas, devido ao avanço do capitalismo fora e dentro da Europa, o
aumento da força politica dos trabalhadores e a visibilidade politica dos socialistas
nos Parlamentos europeus. (PSDA vence as eleições alemãs em 1902 e grande força
do Partido Socialista na Áustria).

 Marxismo e Imperialismo: no segundo aspecto, o autor diz que, para


entender o papel do socialismo na fase imperialista, devemos tentar entender de que
maneira esse ideário, europeu e de origem não-operária e que ganhou visibilidade
com os trabalhadores de maneira paulatina, foi capaz de se “mundializar” entre
1889 e 1914. Neste sentido, ele explica que a sua expansão implica numa
alfabetização entre as classes operárias, seguida de um emprobecimento da teoria
marxista, ao passo que era a meta dos membros da I.S fazer com que os
trabalhadores do mundo entendessem as teses de Karl Marx acerca do Capitalismo e
Socialismo, e para tal, tiveram que usar uma linguagem popular e resumir ao
máximo o ideário marxista, e com isso, a própria I.S ficaria a cargo de banalizar as
teses marxistas. Em seguida, o autor explica que essa divulgação começou na
Europa, e ainda havia lugares nos quais o anarquismo era mais popular, como a
Espanha, e num espaço curto de tempo, a I.S, com a emigração de trabalhadores
para outras do globo, os marxista do congresso banalizaram tanto as idéias de Marx,
que qualquer trabalhador, não importando sua localização, sabia de cor todas as suas
idéias, sendo que essa banalização as simplificou, dando ao marxismo uma cara de
evolucionismo de Charles Darwin, e o tornou o marxismo um ideário determinista.
Por fim o autor salienta algo peculiar: o imperialismo e o marxismo se divulgaram
nos mesmos lugares, e assim, o primeiro teve que lutar contra uma força politica que
ele ajudou a difundir, que era o socialismo.

 O fracasso marxista contra a guerra: os marxistas não conseguiram,


mesmo se expandindo, parar a Primeira Guerra, sendo que sua maior tentativa
aconteceu em 1912, no Congresso Internacional Socialista de Bruxelas, no qual
figuraras marxistas expoentes como Jean Jaurès e August Babel estavam presentes.
O primeiro, francês, tentou impedir uma lei militarista de ser aprovada em 1913 em
seu país, mas fracassou, e com a morte de Franscisco Fernidando em 1914, os
socialistas chegaram a conclusão de que era preciso aumentar a campanha
antimilitarista, que poderia ser atingida com uma greve geral dos trabalhadores para
frear a produção bélica. Mas em 31 de julho de 1914, Jaurès é assassinado num café
parisiense, cuja morte simbolizava o fim da ultima persona pacifista, e, no dia
seguinte, franceses iam guerrear contra os alemães por causa do território da
Alsácia-Lorena perdido em 1871, e os germânicos, por sua vez, ao lado dos
austríacos, declaram guerra contra franceses, ingleses e russos: começava, destarte,
a Primeira Guerra Mundial, conflito que sepultou a paz européia.
P.18/2 A Belle-Époque ou a Alegria de Viver
1  Outras atividades humanas que sofreram com a expansão infinita dos
dejesos e ambições: como as ambições e os sonhos dos europeus tinham
ganhado escalas imensas, outras atividades também passarem pelas mesmas
coisas, assim se justifica o trabalho de Freud, que queria estudar o ser
ambicioso, mas infeliz por não materializar suas fantasias (Cecil Rhodes
chorou por não poder anexar os corpos celestes), assim como vemos que
existia uma sensação de expansão e com ela o possivel desaparecimento
daquelas certezas estabelecidas, especialmente a filosofia e a ciência, que
tinham garantido o pensamento europeu, e o avanço das matemáticas fora do
pensamento de Euclides e a teoria da relatividade de Einstein tiveram sua
parcela nesse processo. Assim, o autor explica que os impactos do
desenvolvimento científico são menores dos que os da tecnologia na
população, nasceu um ambiente de crise intelectual na Europa, estudada por
Max Weber em sua sociologia, mas também houve a procura de respostas
em outras áreas do saber, esquecidas, como as visões místicas, o ocultismo e
a quiromancia, as quais vão se espalhar nesse momento, antes contendo
pensadores socialistas autodidatas, por elas não terem respaldo na elite culta,
e depois vão passar a sustentar a crise intelectual do pensamento de direita, e
neste sentido, correntes como a frenologia, homeopatia e o espiritismo, em
suas origens, ganharam pessoas incrédulas perante os benefícios das ciências
tradicionais, passando, assim, de conhecimento contestadores a válvula de
escape do pensamento conservador. Além disso, houve a perda de espaço da
religião, em virtude do maior letramento entre os trabalhadores, relacionada
com a defesa do pensamento livre pelos anarquistas e socialistas, fazendo
com que a classe operaria acreditasse mais na ciência, mas isso não é um
fato geral, já que os EUA também se industrializavam massivamente nessa
epoca e a religião não foi relegada a segundo plano (Os sulistas
estadunidenses ainda possuem um grande apego ao criacionismo).
 As causas das descobertas e mudanças naquele contexto: mesmo sendo
complicado, o autor coloca o avanço tecnológico permitido pela
industrialização como catalisadoras de diversas descobertas, dando como
exemplo de desenvolvimentos a maior disponibilidade elétrica, mais
aparelhos de pesquisa e um ensino forte voltado para as ciências,
especialmente nas faculdades, porém seriam essas as causas concretas e não
metafísicas das mudanças. Então cita o desenvolvimento da bacteriologia
dentro da expansão imperialista, já que o europeu deveria estar imune as
doenças do mundo colonial e a higienização dos bairros operários na Europa,
assim como cita o surgimento da eugenia, que ganhava prestigio nessa
epoca, devido ao surgimento da genética em 1900, que queria reproduzir
cruzamentos na agricultura e na pecuária em seres humanos, e mais tarde
seria usada para o mal com a sua adoção por Hitler. O autor fala do papel
das descobertas da física e matemática e sua difícil relação com os fatos
narrados até aqui, já que seus teóricos tinham a impressão de estarem
desligados do mundo real, mas eles participavam da história mesmo com
suas descobertas tendo uma relação afastada da realidade. Contudo, esses
cientistas assim como outros indivíduos percebiam que os velhos
paradigmas e explicações já não mais bastavam dentro da nova realidade
mundial.
 As mulheres, artistas e outras descobertas: vemos como a mulher passa a
ter espaço na vida pública, num momento de mudanças, não ficando
somente no mercado de trabalho das fabricas e do comercio, mas também
nas escolas e hospitais, assim como tinham um papel maior dentro do
arranjo familiar burguês, e com a mudança dos papeis sociais, ela consegue
mais espaço em seu seio familiar e na vida pública, e na segunda, não ficou
restrita a desejos masculinos, seja na arte ou na prostituição, mas se engajou
nas manifestações pelo voto feminino, presente apenas Austrália, Nova
Zelândia, Noruega e Finlândia. Os artistas também passaram a aparecer mais
nos espaços públicos, tendo a arte mudado com a fotografia e o cinema,
enquanto que o pintor deixava sua vida privada com seus mecenas e fazia de
sua obra objeto ao público e negocio financeiro, ficando o artista, assim,
mais popular. Além disso, eles vão fundar o impressionismo, enquanto que a
fotografia vira o ícone da modernidade, seja na foto de alguém ou seu uso
para informar ou noticiar algo, datando dessa epoca as fotos dos mortos nos
fronts da Primeira Guerra, que davam uma sensação de verdade e realidade
ao jornalismo, o qual passou a fazer parte da vida urbana cotidiano, assim
como há os panoramas, prenunciadoras dos filmes de animação, que criavam
cenários de grandes cidades por meio de ilusões de ótica em ambiente
fechados, ao passo que o de Mesdag, na Holanda é um dos poucos ainda
sobreviventes.
 Existe algo de errado: o autor ressalta que a vida moderna e as ruas das
cidades eram inspirações de artistas como Baudelaire e Edgar Allan Poe,
enquanto que as figuras horrendas, os novos sentimentos e os novos
convívios sociais, gerados pela maior liberdade nos costumes, viraram temas
preferidos dos artistas, mas se existia uma euforia exagerada pelas altas e
medias burguesias, também havia um pessimismo implícito, especialmente
nas artes e na filosofia, como se estivesse anunciando a falta de
medicamentos para o mal-estar da civilização européia. Assim, o autor usa
Viena, capital burguesa, para elucidar esse incomodo europeu, cidade na
qual Freud vivia e escreveu Mal-estar na Civilização, e essa mesma que não
apresentava sinais de tristeza e pessimismo. Com isso, aborda a criação da
valsa destoante de Maurice Revel (Viena tinha muitas valsas românticas,
como as feitas por Strauss), para usá-la como contraponto àquelas felizes,
quando a valsa virou um dança macabra, anunciadora dos horrores que
apenas seriam compreendidos com a Primeira Guerra em 1914.

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