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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Química – Departamento de Química Orgânica


Alunos: Daniele Araujo e David Pereira
Disciplina: Química Orgânica Experimental II
Professores: Carlos Vinícius e Márcio Mattos

Introdução

Os ésteres são compostos orgânicos que apresentam como característica estrutural um oxigênio
ligado a uma carbonila. Encontrados na natureza e frequentemente utilizados como intermediários em
síntese de compostos orgânicos, os ésteres desempenham papel importante em indústrias como a
farmacêutica, de polímeros e cosméticos e estão presentes na composição de produtos alimentícios
para realçar e conferir sabores e aromas. Em geral, sua síntese é proporcionada por um ácido
carboxílico e um álcool ou um éster e geralmente catalisadas por ácidos de Bronsted-Lowry.1
Um éster de importância significativa para a indústria farmacêutica é a o ácido acetilsalicílico,
popularmente conhecido como AAS, devido ao seu efeito biológico, atuando como analgésico,
antiinflamatório e antipirético, além de outras aplicações. Sua síntese e utilização para fins medicinais
teve como principal motivação a obtenção de um medicamento com as mesmas propriedades
medicinais do ácido salicílico, reduzindo-se, no entanto, suas características indesejáveis, como a baixa
tolerância, irritação gástrica e o gosto ruim.2

Objetivo

Realizar a síntese do acetato de n-butila e do ácido acetilsalicílico através de reações de adição


à carbonila por heteroátomo, catalisadas por ácido.

Procedimento Experimental

A síntese do acetato de n-butila foi realizada conforme recomendado na apostila de Química


Orgânica Experimental II, com pequenas alterações. A extremidade fechada do aparelho de Dean-Stark
foi preenchida, até a altura da junta de retorno, com álcool n-butílico (reagente escolhido para o
experimento) ao invés de água.
Para o procedimento de extração e separação das fases orgânica e aquosa, foi realizada
primeiro a lavagem com solução aquosa saturada de NaCl (aproximadamente 40mL) e, após o descarte
da fase aquosa, foi realizada uma segunda lavagem com aproximadamente 50mL de solução aquosa
saturada de NaHCO3.
O procedimento de síntese do ácido acetilsalicílico foi realizado de acordo com o descrito na
apostila de Química Orgânica Experimental II.

Resultados e discussões

Os experimentos realizados consistem em reações de adição à carbonila realizada por um


heteroátomo (nestes casos, pelo oxigênio) fazendo uso de catálise ácida, obtendo-se como produtos de
interesse moléculas com pelo menos uma função éster em sua cadeia. Conforme proposto pelo
esquema de intermediários 1, o ácido sulfúrico atua como catalisador pois, ao protonar o oxigênio do
grupo carbonila, provoca uma redução da densidade eletrônica sobre o carbono da carbonila, o que
facilita um ataque nucleofílico pelos elétrons não-ligantes do oxigênio da hidroxila.
Esquema 1 – Proposta de intermediários para as reações de síntese do acetato de n-butila e
ácido acetilsalicílico

Em ambos os casos a reação foi realizada sob aquecimento e fazendo-se uso de condensador, a
fim de evitar a perda de reagentes por evaporação. Para a síntese do acetato de n-butila, foi utilizado
ainda um equipamento de Dean-Stark (com sua extremidade fechada preenchia com álcool n-butílico) a
fim de que retirar-se a água formada do meio reacional e, ainda, possibilitar a adição de mais álcool à
reação, a fim de deslocar-se o equilíbrio no sentido de formação dos produtos. Através do uso dessa
vidraria, a água (d=0,9970/cm³ a 25°C) evaporada e recondensada, por ser mais densa do que o álcool
n-butílico (d=0,8095g/cm³ a 20°C) 3, depositou-se na parte inferior da extremidade fechada do Dean-
Stark, provocando o deslocamento do volume de álcool, que era conduzido para o balão, contribuindo
para uma maior formação dos produtos.
Quanto à síntese do acetato de n-butila, a mistura de ácido acético e álcool de n-butila,
inicialmente bifásica, tornou-se homogênea, incolor e translúcida com a adição do H2SO4 concentrado.
Após aproximadamente 35 minutos de refluxo, notou-se que o nível da interface água-álcool (do Dean-
Stark) parou de variar e considerou-se o fim da reação pois, a partir daquele momento, não havia mais
produção de água e, consequentemente, de acetato de n-butila pela reação.
Ao final da reação obteve-se uma mistura líquida, homogênea e de coloração amarelada e foram
recolhidos, aproximadamente, 4,1mL de água no Dean-Stark. Após verter a mistura reacional sobre
água gelada e transferência para o funil de separação, foi observada a separação de fases com
formação de emulsão na fase aquosa.
A adição de solução aquosa saturada de NaCl (salmoura) teve como objetivo quebrar a emulsão
formada e proporcionar uma melhor separação de fases. Isso ocorre porque, devido às fortes interações
iônicas entre NaCl e a água, esta interage preferencialmente com o sal, o que leva à saturação da fase
aquosa e reduz a solubilidade do éster na água. Após a adição da solução salina foi observada uma
maior separação de fases, porém com a persistência de leve turvação da fase aquosa, indicando a
presença de substâncias orgânicas.
A persistência de substâncias orgânicas na fase aquosa pode ser explicada devido à presença
do acetato de n-butila, que atua como surfactante do meio, conferindo certa estabilidade à emulsão e
facilitando a dispersão de moléculas hidrofóbicas no meio aquoso.
Após a extração, a fase orgânica foi lavada com solução aquosa saturada de NaHCO3, a fim de
eliminar os ácidos residuais, o que, consequentemente, acarreta na neutralização de substâncias
orgânicas que poderiam estar protonadas e, portanto, solubilizadas na fase aquosa.
Após a segunda extração, a fase orgânica obtida foi tratada com Na2SO4 anidro, a fim de retirar-
se possíveis resíduos de água. Outros sais anidros que não provoquem a alcalinização do meio, tais
como MgSO4 e CaSO4 também poderiam ser empregados para esse fim. Por outro lado, agentes
secantes como KOH e CaO não são adequados por atacarem a função ácida da molécula e/ou
provocarem a hidrólise do éster.4 Após filtração do produto, obteve-se o volume final de 23mL.
No que diz respeito à síntese do ácido acetilsalicílico, a mistura de ácido salicílico e anidrido
acético formou uma suspensão esbranquiçada que se tornou líquida, incolor e translúcida após a adição
de H2SO4 concentrado. Ao final da reação, obteve-se uma mistura heterogênea (uma suspensão) com
sólido branco. O sólido obtido foi filtrado e seco ao ar e foram obtidos 3,9g.
Nesta reação, o tipo de catálise (ácida ou básica) utilizada possui forte ligação com o produto
final obtido. Ao utilizar-se de catálise ácida, o ataque pelo par de elétrons não ligantes do oxigênio do
fenol é favorecido, visto que o par de elétrons não-ligantes da hidroxila da função ácido carboxílico está
comprometido em ressonância com a carbonila. Entretanto, numa catálise básica, devido ao fato de o
ácido carboxílico (pKa 4-5) possuir menor pKa do que o fenol (pKa 9,89) 1, este seria desprotonado mais
facilmente, o que o torna fortemente nucleofílico e mais propício a realizar o ataque ao anidrido acético.
Para determinação do final da reação foi realizado teste de algumas gotas do produto obtido com
solução de FeCl3 a fim de identificar a presença de ácido salicílico no meio reacional, comparando-se
com um controle positivo de ácido salicílico e FeCl3, que possuía coloração violeta.

Conclusão

Ao final da síntese do acetato de n-butila, uma amostra do produto obtido foi injetado em
equipamento CG-EM (cromatografia gasosa de fase reversa acoplada à espectrometria de massas) com
uso de rampa de aquecimento e obteve-se um cromatograma com um único pico (vide anexo),
indicando a pureza do produto obtido. Ao calcular o rendimento da reação através do volume de éster
obtido e de água coletada no Dean-Stark e utilizando o álcool n-butílico como reagente limitante, foram
obtidos, respectivamente, 102,7% e 134%.
A partir destes resultados é presumível que tenham ocorridos erros de medição dos reagentes
para a síntese, além de uma possível adição acidental de álcool n-butílico ao balão no momento do
preenchimento do Dean-Stark, o que provocou um rendimento superior a 100%.
Já quanto à síntese do ácido acetilsalicílico, obteve-se um rendimento de 59,8%. Ao avaliar as
condições sob as quais a reação foi realizada, o procedimento experimental e a solubilidade do ácido
acetilsalicílico em água 3, é possível supor que parte do produto obtido manteve-se dissolvido líquido
filtrado, o que resulta na perda de produto e, portanto, num menor rendimento do que o valor teórico
esperado.

Referências Bibliográficas

1 SOLOMONS, T. W. Graham; Fryhle, Craig B. Química Orgânica, vol. 2. 6 ed. p. 86, 100, 268.
LTC, 1996.
2 BRICKS, L. F. Uso de anti-inflamatórios não hormonais em crianças com doenças virais
vs. risco potencial de síndrome de Reye e doenças invasivas graves pelo Streptococcus do
grupo A. J Pediatr. 2000;22:35-43.
3 CRC Handbook of Chemistry and Physics, 97th Edition (2016-2017), p.(3-8), (3-78), (4-94).
Boca Raton: CRC Press Taylor & Francis. London, New York, 2016.
4 MANN, F.G., SAUNDERS, B.C.; Practical Organic Chemistry, p. 24. Longman Inc. Nova
York: EUA, 1960.

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