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ESTUDOS DE CASO EM

MATEMÁTICA APLICADA

Séries não uniformes: conceitos e


aplicações

Embora a maioria das operações de empréstimo bancário tenha fluxo de caixa regular,
com saídas de mesmo valor e com um prazo determinado, no ambiente de negócios
nos deparamos com diversos exemplos de fluxos de caixa irregulares — seja porque os
valores de entrada ou saída são diferentes, seja em relação ao prazo de vencimento ou
pela diferença de prazo entre as parcelas, entre outros. O objetivo, aqui, é apresentar os
métodos de determinação de valor futuro e valor presente para cada um desses casos.

Camargos (2012) define que “um fluxo de caixa irregular (não uniforme) consiste na
sequência de entradas e saídas de caixa de intensidades, sinais e periodicidades diferentes”.
Quando temos fluxos de caixa irregulares, não conseguimos usar as fórmulas básicas de
fluxo de caixa nem as operações básicas da calculadora financeira. No entanto, essas
são operações financeiras muito comuns, realizadas tanto em nosso cotidiano quanto
no cotidiano das empresas. Entre essas operações há, por exemplo, depósitos mensais
variáveis em uma poupança, comparação de investimento de uma empresa com
faturamento mensal ou anual variável, entre outras. Nesse caso, a determinação do valor
presente ou do valor futuro deve ser realizada para cada um dos fluxos da operação.

Outros casos de fluxos de caixa irregulares são as anuidades perpétuas, por meio das
quais os valores são pagos (ou recebidos) por um prazo indeterminado sem o consumo
do valor principal. Mesmo nas operações com prestações iguais podemos encontrar
situações como o vencimento antecipado das anuidades ou, ainda, carência no pagamento
da primeira parcela.

Uma aplicação comum para esse tipo de operação é a comparação entre o valor investido
por uma empresa e o retorno desse investimento ao longo de um determinado período.
Como o investimento é realizado hoje (t0) e o retorno, na forma de lucro, vem algum
tempo depois (t1, t2, tn), é preciso considerar o valor do dinheiro ao longo do tempo para
comparar os ganhos, verificando se o investimento é interessante.

Assaf Neto e Lima (2012) definem que quando os pagamentos ou recebimentos de


determinada operação não forem uniformes no que concerne ao valor de seus termos ou
às periodicidades, o valor presente (PV) é obtido pela somatória de cada um dos fluxos
de caixa atualizados (descapitalizados) até o momento atual (presente). Ou seja, deve-se
trazer a valor presente, individualmente, cada um dos fluxos de caixa esperados.

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Exemplo 1

Vamos supor que uma empresa tenha investido R$ 250.000,00 em uma nova planta e
tenha as seguintes projeções de lucro para os próximos cinco anos:

Anos Lucros
1 50.000

2 75.000

3 95.000

4 125.000

5 198.000

Se os lucros projetados forem somados, obtém-se o valor de R$ 543.000,00, o que permite


concluir que o investimento é interessante, pois em cinco anos traria um retorno de mais de
100%. Porém, só é possível comparar esses lucros se trazidos a valor presente. Trata-se do
valor do dinheiro ao longo do tempo. Para isso, é preciso saber a taxa de juros, que seria o
custo de oportunidade do capital. Vamos supor uma taxa de juros de 25% ao ano.

Trazendo cada fluxo de caixa a valor presente pela fórmula, temos:

VP = VF
(1 + i )n

Ou seja, com essa projeção de faturamento, os lucros em cinco anos trazidos a valor
presente totalizariam pouco mais do que o investimento, demonstrando que o investimento
paga a taxa de juros e ainda sobra o valor de R$ 2.720,64. Para realizar a operação na
calculadora, as funções g são utilizadas da seguinte forma: cada prestação é inserida na
função g CFj para obter o f NPV.

Os valores poupados de forma autônoma pelos indivíduos geralmente não são


idênticos em todos os meses, o que dificulta a determinação do valor futuro a ser
resgatado. A maioria das pessoas tem dificuldade em reservar o mesmo valor
mensalmente, de forma que os depósitos acabam sendo diferentes a cada mês.
Sendo assim, só é possível identificar o montante a ser resgatado se levar cada um
dos valores mensais a valor futuro.

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Assaf Neto (2012) destaca que

[...] na determinação do valor presente [...] sempre foi admitido que os


fluxos de pagamento ou recebimento fossem limitados no tempo, ou seja,
apresentassem duração determinada. No entanto, em algumas situações
financeiras podem prever durações indeterminadas (perpétuas).

Samanez (1995) define que perpetuidade refere-se ao fluxo de duração infinita e sem
limite, ou seja, não se conhece o número de anuidades que constitui a operação, pois é
de longa duração. Um exemplo seria a manutenção de estradas e pontes, que exigem
investimentos para reforma periódica. Outro exemplo é o uso de uma poupança para
aposentadoria, pois o aposentado não sabe quanto tempo vai viver e, portanto, não pode
gastar todo o dinheiro guardado sob o risco de ficar sem renda.

A melhor estratégia é retirar somente os juros do valor investido, como veremos em seguida.
No caso de anuidades perpétuas, podemos determinar o valor presente ou o valor das
prestações. Para obtermos uma anuidade perpétua, utilizamos o juro gerado pelo valor
presente como prestação, isto é, não há uso do valor principal para o pagamento da
anuidade, tampouco um crescimento desse valor principal.

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A área financeira pode, por exemplo, avaliar o impacto econômico-financeiro de eventuais


necessidades de avaliar as anuidades perpétuas, como a contrartação de financiamentos
bancários a longo prazo e a empresa conseguir antecipar os pagamentos e, assim,
reduzir as últimas parcelas a vencer. Entretanto, a estratégia a ser implementada pela
organização abrange outros aspectos além do econômico-financeiro.

Por fim, podemos dizer que o sistema financeiro é essencial para o desenvolvimento
econômico de um país. Ele consiste em um conjunto de instituições que, por meio de diversos
instrumentos, operacionalizam a transferência de recursos entre agentes superavitários e
deficitários, ou seja, aqueles que têm recursos disponíveis e, por isso, pretendem remunerá-
los, e aqueles que precisam desses recursos para financiar suas atividades.

Percebe-se, portanto, que tais instituições devem buscar a otimização no uso dos
recursos financeiros, alocando os recursos excedentes para fomentar investimentos,
preferencialmente, em bons projetos de investimentos.

No próximo tópico, falaremos sobre as séries uniformes: conceitos e aplicações,


apresentando alguns exemplos para a melhor fixação do conhecimento.

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