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2013
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof. Abraão Junior Cabral e Santos
Prof.ªJackeline Maria Beber Possamai
Prof.ª Joseni Terezinha Frainer Pasqualini
028.5
S237l Santos, Abraão Junior Cabral e
Literatura infantojuvenil / Abraão Junior Cabral e Santos;
Jackeline Maria Beber Possamai; Joseni Terezinha Frainer
Pasqualini. Indaial : Uniasselvi, 2013.
175 p. : il
ISBN 978-85-7830-710-3
1. Literatura infantojuvenil.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Impresso por:
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!
UNI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano,
há novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
UNI
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA........................................................... 1
VII
TÓPICO 3 – GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II .................................................... 77
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 77
2 A COMPOSIÇÃO DOS TEXTOS LITERÁRIOS............................................................................. 77
2.1 A AÇÃO ............................................................................................................................................ 79
2.2 AS FALAS NA NARRATIVA.......................................................................................................... 80
2.3 O ESPAÇO.......................................................................................................................................... 84
2.4 O TEMPO........................................................................................................................................... 85
3 A PERSONAGEM E SEUS ASPECTOS............................................................................................ 85
3.1 A FÁBULA ........................................................................................................................................ 89
3.2 A LENDA .......................................................................................................................................... 90
3.3 A PARÁBOLA................................................................................................................................... 92
3.4 A PARLENDA .................................................................................................................................. 92
3.5 O ROMANCE.................................................................................................................................... 94
4 LEITURA E A DIMENSÃO COGNITIVA........................................................................................ 95
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 98
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 102
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 104
VIII
UNIDADE 1
CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), nesse tópico você entrará em contato com
algumas teorias e discussões, em torno das quais importantes relações se
estabelecem entre arte e infância. Para tanto, não só o presente texto, quanto os
demais tópicos desta unidade, estão construídos de modo a possibilitar-lhe não
apenas tecer considerações acerca da temática em questão, como também em
ajudá-lo(a) a colher implicações que, em alguma medida, possam auxiliá-lo(a) a
melhor observar, refletir e posteriormente opinar sobre a realidade da literatura
infantojuvenil no contexto atual das instituições de ensino.
3
UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
4
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?
UNI
5
UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
E
IMPORTANT
A partir das observações anotadas até aqui, você consegue imaginar o quanto
esse modo assimétrico de relação, que se estabelece entre a criança e o adulto, pode ir muito
além da relação familiar, adentrando quase todas as esferas de convívio social? Percebe também
que, como uma regra geral, quase sempre se dá a primazia do segundo modo de existência
sobre o primeiro, fazendo predominar os valores e os pontos de vista dos adultos?
UNI
Você deve concordar que, ainda nos dias atuais, é a escola, e não a obra
de arte, o principal espaço encarregado de transmitir e redimensionar a herança
cultural entre gerações. Se assim o for, também poderemos concordar que a sua
evolução na história se daria conforme a escola, na contramão do pensamento
platônico, não mais recusasse o saber apreendido pelas sensações, pelas emoções
e pela imaginação, e passasse a adquirir características de uma obra de arte,
desfazendo-se, portanto, dos modelos ideológicos vigentes que mantinham a
compreensão equivocada de que a infância fosse apenas uma fase aberta a toda
sorte de fantasia, crença no maravilhoso e em distorções da realidade palpável.
7
UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
8
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
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TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?
UNI
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
UNI
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TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?
Você recorda também de que modo esses jogos eram vistos, isto é, que valor
lhes eram atribuídos pelas próprias crianças e pelos adultos daquela época?
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_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________.
Vamos ler o texto Magia e Felicidade. Sublinhe o que você considerou mais
importante. Pense na relação jogo, ludicidade, criança e felicidade.
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
LEITURA COMPLEMENTAR
MAGIA E FELICIDADE
Giorgio Agamben
Benjamin disse, certa vez, que a primeira experiência que a criança tem
do mundo não é a de que “os adultos são mais fortes, mas sua incapacidade de
magia”. A afirmação, proferida sob o efeito de uma dose de vinte miligramas de
mescalina, não é, por isso, menos exata. É provável, aliás, que a invencível tristeza
que às vezes toma conta das crianças nasça precisamente dessa consciência de não
serem capazes de magia. O que podemos alcançar por nossos méritos e esforço
não pode nos tornar realmente felizes. Só a magia pode fazê-lo. Isso não passou
despercebido ao gênio infantil de Mozart, que, em carta a Bullinger, vislumbrou
com precisão a secreta solidariedade entre magia e felicidade: “Viver bem e viver
feliz são duas coisas diferentes, e a segunda, sem alguma magia, certamente não
me tocará. Para isso, deveria acontecer algo verdadeiramente fora do natural”.
Contra essa sabedoria pueril, que afirma que a felicidade não é algo que
se possa merecer, a moral colocou sempre sua objeção. E o fez com as palavras do
filósofo que, menos do que qualquer outro, compreendeu a diferença entre viver
dignamente e viver feliz. “O que em ti tende ardorosamente para a felicidade”,
escreve Kant, “é a inclinação, o que depois submete tal inclinação à condição de
que deves primeiro ser digno da felicidade é tua razão”. Mas de uma felicidade
de que podemos ser dignos, nós (ou a criança em nós) não sabemos o que fazer.
É uma desgraça sermos amados por uma mulher porque o merecemos! E como é
chata a felicidade que é prêmio ou recompensa por um trabalho bem feito!
14
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?
felicidade, porque a felicidade, embora ele saiba que a tenha, em certo sentido
não é sua. Assim, Júpiter, que se une à bela Alcmena, assumindo as feições do
consorte Anfitrião, não sente prazer com ela como Júpiter. Nem sequer, apesar das
aparências, como Anfitrião. Sua alegria pertence totalmente ao encanto, e se sente
prazer, consciente e puramente, só com o que obteve pelos caminhos tortuosos
da magia. Só o encantado pode dizer sorrindo: “eu”, e só a felicidade que nem
sonharíamos merecer é realmente merecida.
Essa é a razão última do preceito segundo o qual só existe sobre a terra uma
possibilidade de felicidade: crer no divino e não aspirar a alcançá-lo (uma variável
irônica é, em conversa de Kafka com Janouch, a afirmação de que há esperança,
mas não para nós). Essa tese aparentemente ascética só se torna inteligível se
entendermos o sentido do não para nós. Não quer dizer que a felicidade esteja
reservada apenas a outros (felicidade significa, precisamente: para nós), mas que
ela só nos cabe no ponto em que não nos estava destinada, não era para nós. Ou
seja, por magia. Nesse momento, quando a arrebatamos da sorte, ela coincide
inteiramente com o fato de nos sabermos capazes de magia, com o gesto com que
afastamos, de uma vez por todas, a tristeza infantil.
Há, porém, outra e mais luminosa tradição, segundo a qual o nome secreto
não é tanto a chave da sujeição da coisa à palavra do mago, quanto, sobretudo, o
monograma que sanciona sua libertação com relação à linguagem. O nome secreto
era o nome com o qual a criatura havia sido chamada no Éden, e, ao pronunciá-lo,
os nomes manifestos e toda a babel dos nomes acabaram em pedaços. Por isso, a
criança nunca fica tão contente quanto quando inventa uma língua secreta própria.
Sua tristeza não provém tanto da ignorância dos nomes mágicos, mas do fato de não
conseguir se desfazer do nome que lhe foi imposto. Logo que o consegue, logo que
inventa um novo nome, ela ostentará entre as mãos o passaporte que a encaminha à
felicidade. Ter um nome é a culpa. A justiça é sem nome, assim como a magia. Livre
de nome, bem-aventurada, a criatura bate à porta da aldeia dos magos, onde só se
fala por gestos.
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu que:
• Pôde refletir que para uma concepção diferenciada de escola faz-se necessária a
distância de pontos de vista exclusivamente lógicos e racionais e, tal qual uma
obra de arte literária, a escola passe a incorporar referenciais lúdicos em todas as
dimensões do ensino.
16
AUTOATIVIDADE
17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico buscaremos estabelecer uma aliança mais profícua entre
a literatura e a palavra a partir de uma breve fundamentação teórica acerca dos
modos de compreensão do objeto literário, para depois estabelecermos algumas
diferenças entre o literário e o não literário.
2 A ARTE E A PALAVRA
Certo autor famoso dividiu um livro seu em duas
partes: na primeira, contos reais; na segunda, contos
fantásticos. Resultado: tem-se a frustrada impressão
de que ficou cada uma das partes amputada da outra,
quando na realidade os dois mundos convivem. Por que
chamar de invisível ou fantástico a esse mundo que por
enquanto não conseguimos apreender, em contraposição
a este mundo que está na cara (...)? (QUINTANA,
1979, p. 73).
19
UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
UNI
Caro(a) acadêmico(a), observe que João Cabral de Melo Neto (1997, p. 287), por
meio de um poema transcrito a seguir, define a essência da arte e, de modo especial, de sua
própria literatura.
20
TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO
Façamos uma outra reflexão: você já observou o quanto é raro, no dia a dia,
utilizarmos uma via inesperada, fora do comum, de nossa rotina habitual? Pense,
por exemplo, no percurso que você faz de casa para o trabalho, do trabalho para
a universidade, ou vice-versa... Não é fato que geralmente repetimos o caminho
mais fácil, rápido e usual? Percebe que raramente nos questionamos sobre isso? É
como se, quem é canhoto, raramente experimentasse a mão direita; ou a esquerda,
para quem é destro.
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
Assim, enquanto na vida real não nos é possível explicitar nossas emoções
mais baixas ou indesejáveis, que de fato sentimos em relação aos outros, a exemplo
do fingimento, que passa a ser, também, uma das características mais marcantes de
nossa existência cotidiana, em uma história ficcional, por sua vez, as personagens
podem se expressar inteiramente, revelando suas raivas, baixezas, temores e, dessa
forma, agem de um modo mais autêntico do que o fazemos na vida real.
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TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO
UNI
Eis, portanto, uma das razões pelas quais a arte é tão necessária ao homem:
embora ela esteja constantemente variando de modo de expressão, seja na pintura,
na literatura, no cinema etc., ela acaba por ser uma fonte autêntica – e, talvez, uma
das mais seguras – de compreensão da realidade.
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
Azevedo (2007) afirma que, embora não faça sentido discorrer sobre a
função da literatura, sua importância é indiscutível, pois é por intermédio dela
que entramos em contato com os temas humanos como a paixão, a amizade, o
autoconhecimento, a angústia, o ciúme, a mentira, a existência de diferentes pontos
de vista sobre determinado assunto. Além disso, para o autor,
o contato com temas da vida concreta e com vozes diferentes das nossas
pode, por meio da identificação, constituir um extraordinário recurso de
humanização e sociabilização. Em tempos de consumismo sem limites,
individualismo doentio e coisificação do homem – com efeitos nefastos
numa sociedade desequilibrada como a nossa –, a leitura de ficção e
poesia pode ter um papel regenerador e insubstituível. (AZEVEDO,
2007, p. 66).
Nós possuímos – mesmo que, como vimos, por vezes tolhida – a capacidade
de fantasiar e, para Candido, essa modalidade, possibilitada também por meio da
ficção, é muito rica. É o que ele nomeia de função psicológica. Ainda segundo o
autor, a fantasia tem uma estreita relação com a realidade, e é por meio dessa
ligação com o real que a literatura passa a exercer outra função: a formadora, que
atua como instrumento de formação e educação do ser humano, por exprimir
realidades permeadas pelas ideologias. Nas palavras de Candido (2002, p. 85), a
literatura “[...] não corrompe nem edifica, mas, trazendo livremente em si o que
chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo,
porque faz viver”.
24
TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO
NOTA
25
UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
Significa dizer que a escola deve proporcionar aos jovens contato com as
mais variadas produções literárias, favorecendo uma atitude de curiosidade, de
interesse pela descoberta, com vistas à formação de um leitor capaz de dialogar
com textos e neles reconhecer-se e distinguir expressões estéticas e artísticas.
UNI
Umberto Eco enfatiza que a literatura possui e mantém a língua como patrimônio
coletivo e contribui para a sua formação, na medida em que intensifica um modo de expressão
de um grupo.
[...] Isso confirma que ler pela primeira vez um grande livro na idade
madura é um prazer extraordinário: diferente (mas não se pode dizer maior
ou menor) se comparado a uma leitura da juventude. A juventude comunica
ao ato de ler como a qualquer outra experiência um sabor e uma importância
particulares; ao passo que na maturidade apreciam-se (deveriam ser apreciados)
26
TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO
muitos detalhes, níveis e significados a mais. Podemos tentar então esta outra
fórmula de definição:
Portanto, conforme o autor: usar o verbo ler ou o verbo reler não tem
muita importância. De fato, poderíamos dizer:
6. Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para
dizer.
7. Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas
das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram
na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na
linguagem ou nos costumes).
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
9. Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer,
quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.
Se a centelha não se dá, nada feito: os clássicos não são lidos por dever
ou por respeito, mas só por amor. Exceto na escola: a escola deve fazer com que
você conheça bem ou mal um certo número de clássicos entre os quais (ou em
relação aos quais) você poderá depois reconhecer os "seus" clássicos. A escola é
obrigada a dar-lhe instrumentos para efetuar uma opção: mas as escolhas que
contam são aquelas que ocorrem fora e depois de cada escola.
[...]
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TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO
12. Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu
antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia.
A esta altura, não posso mais adiar o problema decisivo de como relacionar
a leitura dos clássicos com todas outras leituras que não sejam clássicas. Problema
que se articula com perguntas como: "Por que ler os clássicos em vez de concentrar-
nos em leituras que nos façam entender mais a fundo o nosso tempo?" e "Onde
encontrar o tempo e a comodidade da mente para ler clássicos, esmagados que
somos pela avalanche de papel impresso da atualidade?".
É claro que se pode formular a hipótese de uma pessoa feliz que
dedique o "tempo-leitura" de seus dias exclusivamente a ler Lucrécio, Luciano,
Montaigne, Erasmo, Quevedo, Marlowe, O Discours de la méthode, Wilhelm
Meister, Coleridge, Ruskin, Proust e Valéry, com algumas divagações para
Murasaki ou para as sagas islandesas. Tudo isso sem ter de fazer resenhas
do último livro lançado nem publicações para o concurso de cátedra e nem
trabalhos editoriais sob contrato com prazos impossíveis. Essa pessoa bem-
aventurada, para manter sua dieta sem nenhuma contaminação, deveria abster-
se de ler os jornais, não se deixar tentar nunca pelo último romance nem pela
última pesquisa sociológica. Seria preciso verificar quanto um rigor semelhante
poderia ser justo e profícuo. O dia de hoje pode ser banal e mortificante, mas é
sempre um ponto em que nos situamos para olhar para a frente ou para trás.
Para poder ler os clássicos, temos de definir "de onde" eles estão sendo lidos,
caso contrário tanto o livro quanto o leitor se perdem numa nuvem atemporal.
Assim, o rendimento máximo da leitura dos clássicos advém para aquele que
sabe alterná-la com a leitura de atualidades numa sábia dosagem. E isso não
presume necessariamente uma equilibrada calma interior: pode ser também o
fruto de um nervosismo impaciente, de uma insatisfação trepidante.
14. É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a
atualidade mais incompatível.
29
UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
Depois deveria reescrevê-lo ainda uma vez para que não se pense que os
clássicos devem ser lidos porque "servem" para qualquer coisa. A única razão
que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos.
E se alguém objetar que não vale a pena tanto esforço, citarei Cioran (não
um clássico, pelo menos por enquanto, mas um pensador contemporâneo que
só agora começa a ser traduzido na Itália): "Enquanto era preparada a cicuta,
Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. 'Para que lhe servirá?',
perguntaram-lhe. 'Para aprender esta ária antes de morrer' ".
FONTE: CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. Ed. Cia. das Letras. 2004.
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:
• A literatura é uma linguagem especial que tece a palavra, que atua no pensamento
humano, à qual são atribuídas natureza e funções distintas, de acordo com a
realidade cultural e social de cada época, assunto sobre o qual refletiremos a
seguir.
• Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem
como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória,
mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual.
• Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas
das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na
cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem
ou nos costumes).
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AUTOATIVIDADE
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UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Você, certamente, ao ler o texto de Calvino, inferiu que o autor delineia o
que é um clássico, defendendo a ideia de que ler clássicos é melhor do que não os
ler. Nosso objetivo de escolher este texto é o de que você reflita sobre livros já lidos
e sinta vontade de reler e ler tantos outros livros, conforme afirma Calvino: ler
aquele livro sobre o qual você escutou pessoas comentando “estou relendo”, nunca
“estou lendo”. Mas, afinal, o que é a linguagem literária contida nos clássicos? É o
que veremos neste tópico.
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
(Fernando Pessoa, 1977).
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TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA
E
IMPORTANT
Você poderá ler mais sobre o formalismo e literatura no livro de Terry Eagleton,
intitulado Teoria da Literatura: uma introdução. Tradução de Waltensir Dutra. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
UNI
Texto 1
Bullying: é preciso levar a sério ao primeiro sinal
Esse tipo de violência tem sido cada vez mais noticiado e precisa de
educadores atentos para evitarem consequências desastrosas. [...] Para evitar o
bullying, as escolas devem investir em prevenção e estimular a discussão aberta
com todos os atores da cena escolar, incluindo pais e alunos. Para os professores,
que têm um papel importante na prevenção, alguns conselhos dos especialistas
Cléo Fante e José Augusto Pedra, autores do livro Bullying Escolar (Artmed).
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TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA
Texto 2
Catar Feijão
37
UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
O texto não literário prioriza a informação, tem uma função utilitária para
convencer, explicar, responder e ordenar. São exemplos de textos não literários:
manuais de informação ao usuário, notícias e reportagens jornalísticas, textos
de livros didáticos de história, filosofia, matemática, textos científicos em geral,
receitas culinárias, bulas de remédio.
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TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA
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UNIDADE 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA
realidade. Assim, o que quer que seja repetido no texto não visa a denotar o
mundo, mas apenas um mundo encenado. Este pode repetir uma realidade
identificável, mas contém uma diferença decisiva: o que sucede dentro dele não
tem as consequências inerentes ao mundo real referido. Assim, ao se expor a si
mesma, a ficcionalidade assinala que tudo é tão só de ser considerado como se
fosse o que parece ser; noutras palavras, ser tomado como jogo.
FONTE: Texto adaptado de ISER, W. “O Jogo do Texto”. In: JAUSS , H. R. et al. A literatura e o leitor:
textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 105-107.
40
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:
• Para a dimensão literária o autor faz uso específico e complexo da língua, explora
sons, as rimas, as metáforas, as metonímias, o sentido das palavras e a organização
frasal.
• O texto não literário prioriza a informação, possui função utilitária para convencer,
explicar, responder e ordenar. Exemplos de textos não literários: manuais de
informação ao usuário, notícias e reportagens jornalísticas, entre outros.
41
AUTOATIVIDADE
42
UNIDADE 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• refletir sobre alguns dos fatores que contribuem para a formação do jovem
leitor;
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
43
44
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Há palavras verdadeiramente mágicas. O que há de
mais assustador nos monstros é a palavra “monstro”. Se
eles se chamassem leques ou ventarolas, ou outro nome
assim, todo arejado de vogais, quase tudo se perderia
do fascinante horror de Frankenstein... (QUINTANA,
1979, p. 21)
45
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
Entretanto, vejamos:
46
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
47
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
UNI
Que tal? Recordou? Então, atente para o fato de que, neste conto, Perrault
descreve a preocupação dos convidados quanto ao vestuário, os salões de festa,
as danças, a carruagem, enfim, o glamour da nobreza contrapondo-se à vida dos
camponeses, marcada pela privação devido ao agravamento das contradições
econômicas. Enredos com aspectos que provinham do povo humilde, elementos
da corte, a vida e as festas nos palácios.
Quando Ulisses, rei de Ítaca, partiu para a Guerra de Troia, deixou seu
filho Telêmaco aos cuidados de seu fiel e amigo Mentor. Mesmo tendo a guerra
terminado, Ulisses não retorna ao seu lar. Telêmaco cresce vendo o patrimônio de
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TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
seu pai ser dilapidado pelos pretendentes de sua mãe. Indignado com tal situação,
parte em busca de notícias do pai e leva consigo Mentor para orientá-lo e encorajá-lo.
UNI
O escritor Fénelon foi tutor do neto de Luis XIV e seu livro fez grande sucesso,
inspirando muitos pedagogos.
La Fontaine, por sua vez, imortalizou-se através das fábulas, entre outros
escritos.
A Raposa e a Cegonha
- Você não está gostando de minha sopa? - Perguntou, enquanto a cegonha bicava
o líquido sem sucesso.
Dias depois foi a vez de a cegonha convidar a Raposa para comer na beira
da Lagoa, serviu então a sopa num jarro largo embaixo e estreito em cima.
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
A Raposa não achava nada nem podia achar, pois seu focinho não passava
pelo gargalo estreito do jarro. Tentou mais uma ou duas vezes e se despediu de
mau humor, achando que por algum motivo aquilo não era nada engraçado.
Carrol explora elementos dos contos de fada, animais que falam, reis
e rainhas, personagens enigmáticos que em um passe de mágica aparecem,
desaparecem e mudam de tamanho. A história se passa dentro de um sonho, é
marcada pelo recurso do nonsense - termo que indica ausência de sentido. No
caso da narrativa em questão, os episódios são permeados por algum recurso de
ligação, garantindo, assim, uma coerência interna. Além disso, o enredo de Alice
no país das maravilhas não exige uma lógica total dos acontecimentos, uma vez
que se passa no “mundo dos sonhos”, um universo no qual coisas mais insólitas
são aceitas como naturais.
Alice é uma obra que permite várias interpretações. Uma delas é a de que as
mudanças, os conflitos da adolescência à maturidade podem estar representados
na obra. Além dessa interpretação, podemos considerar questões históricas, como,
por exemplo, críticas à sociedade inglesa vitoriana.
50
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
Podemos ainda juntar a esta lista obras como: As mil e uma noites, Dom
Quixote de la Mancha (de Miguel de Cervantes), Os três mosqueteiros, O Conde
de Monte Cristo, e um rol interminável de leituras.
52
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
53
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
Ao perceber que não poderá mais contar com a renda propiciada pelas
lavouras de café que estão arruinadas, “adere ao ideal de Lobato (não por acaso
tem o nome do próprio escritor, José Bento): patrocina a prospecção de petróleo
em suas terras, obtendo grandes lucros e promovendo o progresso não apenas na
área, mas em todo o país” (ZILBERMAN 2005, p. 28).
Dona Benta é quem geralmente narra as fábulas, fato este que, na opinião
dos críticos, é um recurso do próprio escritor para demonstrar a reflexão e
ponderação das pessoas mais vividas. Tia Nastácia se mostra bastante inclinada a
aceitar a moral das fábulas. Já Pedrinho e Narizinho fazem comentários, de acordo
com seu espírito irrequieto de crianças curiosas, e Emília tenta, a cada momento,
contestar a lição de moral que a fábula encerra.
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TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
Podemos dizer que com Lobato a nossa literatura infantil atingiu projeção
universal. Criou uma concepção para a fabulação infantil, suas personagens vivem
tipos que integram o cenário literário, a exemplo de Emília, boneca admirável,
misto de fada e ser humano.
55
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
A Formiga má
Mas a formiga era uma usurária sem entranhas. Além disso, invejosa.
Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os
seres.
56
RESUMO DO TÓPICO 1
Caro(a) acadêmico(a), neste tópico você viu que:
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AUTOATIVIDADE
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Quando ensinaremos aos nossos alunos que eles não precisam se
esconder diante das ameaças, porque todos nós temos capacidade de alçar voo
às alturas, ultrapassando as nuvens carregadas de tempestade e perigo? Temos
ensinado às nossas crianças a se arrastar como vermes, e porque se arrastam
como vermes, elas se tornam incapazes de reclamar se lhes pisam na cabeça.
Agora responda:
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UNIDADE 2 TÓPICO 2
GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA
ESTRUTURA I
1 INTRODUÇÃO
As narrativas, sejam elas contos de fada, lendas, fábulas, romance, entre
outras, constituem-se em objeto de leitura. Propiciam ao leitor ou ouvinte uma ou
várias interpretações, de acordo com seus referenciais. Há que se considerar que
tais textos possuem características pertinentes, que provocam efeitos diferentes
em diversas pessoas. É, em parte, a história de vida de cada um que determinará
sua significação. O encontro com essa literatura favorece a liberdade, a satisfação
e desperta o imaginário.
Assim, após considerações que situam a literatura como arte envolvida com
a palavra descompromissada com a verdade lógica, com a racionalidade utilitária,
e sua inclusão no universo infantil, interessa-nos agora definir uma de suas formas
de manifestação mais praticadas, a saber: o texto narrativo.
2 AS NARRATIVAS E O ESTILO
Pessoas das mais variadas condições socioculturais têm prazer de ouvir
e contar histórias. O romancista e ensaísta Forster (1998) cita a obra As mil e uma
noites, na qual a protagonista Sherazade narrava, diariamente, histórias ao sultão
e as interrompia em momentos de suspense. Essa atitude da jovem contadora de
histórias motivava sempre mais a curiosidade do sultão. Tal fato livrou Sherazade
da morte, visto que o sultão enamorou-se da habilidosa narradora. Para Forster,
nós também somos como o sultão, pois, quando nossa curiosidade é aguçada,
permanecemos muito atentos ao desenrolar de um fato.
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
UNI
Você já parou para pensar o quanto a nossa vida é marcada pela presença da
narrativa? A todo instante estamos contando – para alguém ou, silenciosamente, para nós
mesmos – fatos e episódios que nos acontecem ou que poderiam vir a acontecer em nosso dia
a dia. Basta levantarmos da cama e começa a se desenhar mais uma história, mais uma forma de
narrativa que vamos indefinidamente tecendo até a nossa morte. Alguns de nós, mais talentosos,
conseguem transformar o essencial desses relatos em textos literários, por isso são escritores.
Estilo pode ser entendido como uma forma mais ou menos constante,
que varia de acordo com as qualidades e as expressões que persistem na arte
de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. “A esse conjunto de textos de
determinada nação, que se singulariza pela presença de determinados valores
estéticos, dá-se, nas palavras de Diderot, o nome de arte” (apud SILVA, 1986, p. 6).
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
3 NARRATIVAS: O CONTO
No mundo dos contos de fadas não devem ser despertados
sentimentos de angústia, e tampouco sentimentos
inquietantes. (...) Quanto ao silêncio e escuridão, tudo
o que podemos dizer é que são realmente os fatores a que
se acha ligada a angústia infantil, que na maioria das
pessoas nunca desaparece inteiramente (FREUD, 2010,
p. 376).
Segundo Leal (1985), nas coletâneas de Câmara Cascudo há, nos textos, um
estilo, revelando um contorno peculiar de composição oral marcada pela escritura.
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TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
O conto difere de outras formas de narrativa de ficção, não somente por sua
brevidade, que oferece um episódio, uma amostra da vida, mas por conter outras
características. É o que procuraremos elencar.
UNI
Fada. Palavra derivada do latim fáta,ae ‘a deusa do destino, Parca’ (HOUAISS; VILLAR,
2009, p. 867).
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
E
IMPORTANT
Nelly Novaes Coelho (2000, p. 173) distingue conto maravilhoso do conto de fadas.
Segundo a autora, o conto maravilhoso foi difundido pelos árabes. São narrativas nas quais a
aventura é “de natureza material/social/sensorial”, ou seja, no enredo aparece a satisfação do
corpo e busca pela riqueza e poder. Ainda de acordo com a autora, isto o diferencia do conto
de fadas, uma vez que este é de origem celta e é permeado por uma natureza “espiritual/ética/
existencial”, com aventuras ligadas ao sobrenatural, daí a aparecerem os seres dotados de poderes,
como as fadas com extraordinários encantos.
Além disso, exploram o bem como tudo o que corrobora para com os
objetivos do herói ou da heroína. Ao contrário, o que prejudica ou atrapalha é
denominado de mal. Em outras palavras, é uma moral relativa, determinada por
situações do contexto.
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TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
São narrativas que pressupõem sempre uma voz que conta, até porque,
como já sabemos, nasceram na oralidade, são textos lineares, com começo, meio e
fim.
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
exemplo, conquistar a pessoa amada e/ou o trono de algum reino. São enredos
voltados a problemáticas existenciais, nos quais, de acordo com Bettelheim (2007,
p. 15):
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TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
A criança se apropria de certas habilidades que não realizava, mas que, por
força do seu natural desenvolvimento, é desafiada, como as mudanças de relações e
hábitos. Esse fato pode causar desapontamentos, frustração, desespero e decepção
especialmente em relação aos seus pais, seus provedores. Segundo Bettelheim
(1992, p. 157), “esse é o momento em que a criança começa a fantasiar e acreditar
nas fantasias que forma e vive mais presa ao futuro, fugindo das angústias de um
presente que não a agrada”.
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
UNI
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TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
UNI
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico apresentamos:
• A narrativa poderá ser conceituada como uma história imaginária, composta por
uma pluralidade de personagens, com episódios que se entrelaçam num tempo e
num espaço.
• O conto de fadas apresenta uma estrutura, com início, meio e fim. A história
inicia-se com uma situação de equilíbrio, alterada por um conflito. No decorrer
dos acontecimentos, a tranquilidade é retomada, efetuando-se, assim, o desfecho
da história.
• O mito, em sua origem, acena para uma forma de narrativa ficcional, que versa
sobre divindades e a interferência delas na vida e no comportamento humanos;
foi criado por uma coletividade, não possuindo uma autoria específica. Há,
entretanto, os mitos literários, criados por autores específicos e que buscam
exprimir valores de vida pessoais, obedecendo assim a um encadeamento mais
lógico e subjetivo.
73
AUTOATIVIDADE
1 Dos livros que você já leu, qual deles você indicaria para um amigo? Por quê?
( ) Humor.
( ) Ficção científica.
( ) Terror.
( ) Poesia.
( ) Autoajuda.
( ) Mistério.
( ) Ciência e saúde.
( ) Policial.
( ) Filosofia.
( ) Esoterismo.
( ) Outros____________________________________.
( ) Ouvir música.
( ) Dançar.
( ) Ler.
( ) Ir ao cinema.
( ) Praticar esportes.
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( ) Assistir TV.
( ) Ir ao teatro.
( ) Viajar.
( ) Namorar.
( ) Navegar na internet.
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76
UNIDADE 2
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Você já observou a tripartição das ações que aparece nas narrativas? É o
caso dos filmes sobre piratas, em que se apresenta, nos primeiros minutos, uma
ilha paradisíaca na qual vive uma linda moça, que geralmente é filha de um
governante ou rei. Após ser mostrada essa situação inicial harmônica, inicia-
se o conflito, quando a linda jovem, ao passear distraidamente em uma praia, é
raptada por um grupo de piratas malfeitores. Organiza-se, então, uma expedição
em busca de recuperar a moça indefesa, momento em que um belo e valoroso
jovem, encarnando o papel de herói da trama, salva a filha do governante e, por
ter restituído a harmonia inicial, recebe a mão dela em casamento como forma
de compensação por sua bravura. Não será assim a estrutura da maior parte dos
filmes hollywoodianos? Pense nos que vêm à mente e reflita se eles estão ou não
voltados para agradar ao senso comum.
Atente para o fato de que existe uma técnica literária conhecida como In
media res, expressão latina que significa no meio dos acontecimentos. O escritor
omite personagens, cenários e conflitos no início da narrativa e os retoma adiante,
por meio de uma série de flashbacks ou por intermédio de personagens que
discorrem entre si sobre eventos passados. Essa forma de iniciar a narrativa não no
início temporal, mas a partir de um ponto médio de seu desenvolvimento, pode
ser encontrada nas obras clássicas, como a Eneida de Virgílio, e a Ilíada de Homero.
77
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
NOTA
O escritor Luís de Camões, a exemplo dos clássicos, lançou mão dessa técnica em
Os Lusíadas.
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
UNI
2.1 A AÇÃO
Ação, história, trama, assunto, tema ou o enredo são alguns dos termos
usados para designar o que sucede na narrativa.
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
No que tange às falas das personagens, estas podem ser classificadas em:
Discurso direto: o discurso direto, nas palavras de Ulisses Infante (1999, p. 116), “é
a reprodução direta das falas das personagens e um recurso que imprime maior
agilidade ao texto”.
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
(...)
Seu major!
Seu major suspendeu as instruções, ficou esperando.
- Seu major! Deu-se!
- O quê?
- A coisa!
- Hein?
- A coisa! O Washington!
- Não percebo, homem!
- A REVOLUÇÂO VENCEU!
- Estás doido!
O chefe da estação ficou possesso:
- Eu, doido? O senhor é que está maluco! Se não é analfabeto leia isto!
FONTE: MACHADO, Antônio de Alcântara. Contos avulsos: as cinco panelas de ouro.
Disponível em: <http://www.biblio.com.br/conteudo/alcantaramachado/mcontosavulsos.htm>.
Acesso em: 12 nov. 2012.
Felicidade Clandestina
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança,
chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que
éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres.
Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler,
eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-
lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma
tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía as Reinações de
Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com
ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-
me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava
num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem
para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que
eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em
breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar
pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez
nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes
seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei
pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo
indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já
começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho.
Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer
esteja precisando danadamente que eu sofra.
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde
e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a
aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações
a nós duas, houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco
elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar
entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com
enorme surpresa exclamou: “Mas este livro nunca saiu daqui de casa e você
nem quis ler!”.
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia
ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio:
a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em
pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se
refazendo, disse firme e calma para a filha: “Você vai emprestar o livro agora
mesmo”. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser."
Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é
tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para
depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas,
fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com
manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns
instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que
era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que
eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em
mim. Eu era uma rainha delicada.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu
amante.
FONTE: LISPECTOR, Clarice. Coleção Literatura em Minha Casa: seleção e organização de Maria
Clara Machado. Rio de Janeiro: 2002.
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
2.3 O ESPAÇO
O espaço é o ambiente, o cenário, por onde se desenvolve a trama e circulam
os personagens. Seu meio familiar, social, tipo de habitação, clima, vestuário,
são elementos do espaço que corroboram para a significação e verossimilhança
da narrativa. Existem basicamente três tipos de espaço: o natural, aquele não
modificado pelo trabalho do homem (planície, deserto, mar); o espaço social,
constituído de elementos da natureza ou do ambiente, modificados pela civilização
(casas, castelos, casebres, meios de transporte e outros); e, finalmente, o espaço
transreal, criado pela imaginação do homem. No dizer de Nelly Coelho (2000,
p. 77), “[...] é um espaço não localizável no mundo real”. Através dele podem se
configurar traços dos personagens e até mesmo a própria história.
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
2.4 O TEMPO
85
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
Diante disso, vale salientar que o ambiente no qual vivemos requer que
estejamos atentos aos diversos sentidos: luz, som, cor, movimento, imagens nos
atraem. Muitas vezes somos leitores passivos, aceitamos, sem questionamentos,
certos modelos impostos por uma sociedade marcada pela desvalorização do
ser. Que saibamos, na escola ou em outros momentos de leitura, promover e
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
Para tanto, é conveniente que estejamos atentos aos vários textos que
circulam em nossa sociedade, e em especial nas formas clássicas de narrativa,
sua estrutura, imagens e o engendramento das personagens dos textos literários
e sua evolução no tempo. Dentro das diversas modalidades que acabariam por
tornar-se a base de desenvolvimento do gênero literatura infantil, entre as quais
destacamos os mitos e as lendas, as fábulas, os contos, parábolas, parlendas, entre
outros gêneros fixados nas diversas culturas da humanidade.
NOTA
3.1 A FÁBULA
É uma narrativa curta, geralmente com animais como personagens que
agem como seres humanos e apresentam sentimentos. Tem um caráter prático,
destina-se a ilustrar um preceito. Sua conclusão oferece uma lição, diz como o leitor
ou ouvinte pode melhorar sua conduta e convivência social, a partir de exemplos
de outros seres. A intenção é ensinar o melhor comportamento e fazer refletir,
haja vista que possuem um caráter moralizante. As fábulas nasceram no Oriente
e foi no Ocidente, no século IV a.C., que Esopo, escravo grego, as reinventou,
utilizando-as para mostrar como agir com sabedoria. Além deste, La Fontaine
foi um dos maiores responsáveis pela divulgação dessa forma de narrativa. No
Brasil, destacamos Monteiro Lobato, que reescreveu e traduziu muitas das antigas
fábulas e criou outras tantas.
UNI
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
3.2 A LENDA
A lenda surge na Idade Média, com o intuito de narrar a vida dos mártires
e dos santos da Igreja Católica e, ao contrário das histórias míticas – que se ligavam
geralmente a entes sobrenaturais –, na lenda o herói é humano e religioso e situa-se
em um acontecimento de fato, na existência real de alguém ou de um episódio que a
imaginação popular encarregar-se-ia de desviar do fato de origem. Assim, embora
o fato histórico gerador da lenda não possa ser provado, ele pode, ao contrário do
mito, ser situado geograficamente e em um período de tempo cronológico, como,
por exemplo, na lenda da fundação de Roma por Rômulo e Remo.
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
A Vitória-régia
91
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
3.3 A PARÁBOLA
3.4 A PARLENDA
Composição literária tradicional, que se caracteriza por apresentar forma
versificada, ritmo fácil e rápido. É entretenimento garantido, em especial entre as
crianças, o que significa dizer que sua finalidade é ensinar algo através da diversão.
É comumente chamada de trava-língua, quando recitada de maneira rápida e
repetidamente. É uma importante aliada para despertar na criança os sentidos, a
sensibilidade e a musicalidade.
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
A ARANHA E A JARRA
Debaixo da cama tem uma jarra.
Dentro da jarra tem uma aranha.
Tanto a aranha arranha a jarra,
Como a jarra arranha a aranha.
CAJU
O caju do Juca
E a jaca do cajá.
O jacá da Juju
E o caju do Cacá.
LUZIA E OS LUSTRES
Luzia listra os
Lustres listrados.
NÃO CONFUNDA!
Não confunda ornitorrinco
Com otorrinolaringologista,
Ornitorrinco com ornitologista,
Ornitologista com otorrinolaringologista,
Porque ornitorrinco é ornitorrinco,
Ornitologista é ornitologista,
E otorrinolaringologista é otorrinolaringologista.
O DESENLADRILHADOR
Essa casa está ladrilhada.
Quem a desenladrilhará?
O desenladrilhador que a desenladrilhar,
Bom desenladrilhador será!
ATRÁS DA PIA
Atrás da pia tem um prato
Um pinto e um gato
Pinga a pia, apara o prato
Pia o pinto e mia o gato.
SEU TATÁ
O seu Tatá tá?
Não, o seu Tatá não tá,
Mas a mulher do seu Tatá tá.
E quando a mulher do seu Tatá tá,
É a mesma coisa que o seu Tatá tá, tá?
FONTE: Disponível em: <http://www.qdivertido.com.br/verfolclore.php?codigo=22>. Acesso em:
5 out. 2012.
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
3.5 O ROMANCE
O gênero romance deriva da expressão latina romanice, que significa “falar
romântico”, ou seja, falar num dos vários dialetos europeus em oposição à língua
culta da Idade Média. Nesses dialetos populares contavam-se histórias de amor,
de aventura, transmitidas oralmente. Dependendo da importância ou do destaque
dado à personagem, à ação, ou ainda, ao espaço, foram classificados como romances
de costume, psicológico, policial, regionalista, histórico, de cavalaria, de aventura.
UNI
Diante do exposto, podemos afirmar que na sala de aula deve existir muita
leitura, de vários gêneros literários, a fim de induzir o aluno a melhor refletir,
compreender, problematizar e questionar os textos lidos, fazendo uso de sua
criticidade e, também, da habilidade em lidar com as regras estabelecidas para
a leitura. Lembre-se: ler significa aprender a produzir sentidos inseridos em um
tempo e um espaço, tornando o exercício de leitura ativo.
94
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
95
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
Nesta fase:
Neste período,
A presença do adulto, nessa fase, é ainda muito importante, nos livros deve
predominar a imagem e pouco ou quase nada de texto escrito. Os textos devem
ser significativos e atraentes, a fim de levar a criança a perceber, cada vez mais, a
relação entre o mundo que a cerca e a palavra escrita. O colorido, a graça, o humor,
a sonoridade e a repetição de elementos são fatores importantes para prender a
atenção dessa criança.
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
Segundo Coelho (2000, p. 37), nesta fase a criança “[...] já domina com
facilidade o mecanismo da leitura [...]. Seu pensamento lógico organiza-se em
formas concretas que permitem as operações mentais. Atração pelos desafios e
pelos questionamentos de toda natureza”.
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
LEITURA COMPLEMENTAR
EM CASA
Anton Tchekhov
– Vieram da parte dos Grigóriev buscar não sei que livro, mas eu disse
que o senhor não estava em casa. O carteiro trouxe os jornais e duas cartas. A
propósito, Ievguêni Pietróvitch, eu lhe pediria que prestasse atenção no Seriója.
Hoje e anteontem eu reparei que ele fuma. Quando eu comecei a repreendê-lo, ele,
como de costume, entupiu os ouvidos e pôs-se a cantar alto, para abafar a minha
voz...
– Sete anos. Ao senhor isto não parece coisa séria, mas na sua idade o fumar
representa um hábito mau e pernicioso, e é preciso erradicar os maus hábitos desde
o começo.
– Na escrivaninha do senhor.
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TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
(...) “Mas afinal, o que é que eu vou lhe dizer?”, pensou Ievguêni Pietróvitch.
Mas antes que ele pudesse lembrar alguma coisa, já entrava no gabinete o seu filho
Seriója, menino de sete anos.
(...) – Boa noite, papai! – disse ele com voz macia, encarapitando-se nos
joelhos do pai e dando-lhe um rápido beijo no pescoço. – Você me chamou?
– Pois não, só que, depois da história, direto para a cama. (...) Era uma vez,
num reino muito distante, um velho rei, muito velho de longa barba grisalha e...
(...) o velho rei tinha um filho único, herdeiro do reino. Um menino, assim como
você. Ele era um bom menino. Nunca fazia manha, ia dormir cedo, não mexia em
nada na mesa e... e era um menino sensato e bonzinho. Ele só tinha um defeito. Ele
fumava...
Quando ele se despediu e foi dormir, seu pai ficou andando silenciosamente
de um canto para outro e sorrindo.
“Dirão que o que funcionou aqui foi a beleza, a forma artística”, refletia ele.
“Que seja, mas não é consolo. Mesmo assim, isto não é um recurso verdadeiro...
Por que a moral e a verdade dever ser apresentadas não na sua forma crua, mas
com misturas, inevitavelmente de forma açucarada e dourada, como as pílulas?
Isto não é normal... Falsificação, enganação, truques...”
100
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
FONTE: TCHÉKHOV, Anton Pavlovitch. Um homem extraordinário e outras histórias. Porto Alegre:
L&PM, 2010, p. 38-49.
101
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você viu que:
102
• A parábola expressa uma moral, por isso é frequentemente confundida com
a fábula. Porém, diferencia-se desta pelo fato de ser protagonizada por seres
humanos.
• A parlenda caracteriza-se por apresentar forma versificada, ritmo fácil e rápido.
É uma importante aliada para despertar na criança os sentidos.
• O romance, gênero que deriva da expressão latina romanice, que significa “falar
romântico”, ou seja, falar num dos vários dialetos europeus em oposição à língua
culta da Idade Média.
• Na primeira e na segunda infância (15/17 meses aos três anos), a criança começa
a nomear a realidade à sua volta, sendo crescente o interesse pela comunicação
verbal.
• O leitor crítico - a partir dos 12/13 anos – entra na fase de total domínio da leitura
e da linguagem escrita. Capacidade de reflexão em maior profundidade, ou seja,
costumamos dizer que ele consegue ler nas entrelinhas.
• Cada criança tem seu próprio limite, definido por muitos fatores; é necessário
conhecer o estudante, sua história, sua experiência e sua ligação com o livro.
103
AUTOATIVIDADE
1 Você observou que, ao contrário do que ocorre nos contos de fadas, que
geralmente veiculam uma verdade moral e imparcial, nos contos literários
ou eruditos, como o de Tchekov, há uma indecisão entre quem tem e quem
não tem a razão?
104
UNIDADE 3
O PAPEL DA ESCOLA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará atividades que contribuirão para a apropriação dos conteúdos.
105
106
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico verificaremos que uma das questões principais dentro de uma
abordagem literária, formal ou informal, reporta-se não tanto ao lugar “onde” se
lê o mundo, ou seja, se na mídia cinematográfica, na mídia impressa, na internet
etc., mas sim o que propriamente se deveria ler. Quer dizer, a questão seria
descobrir como estabelecer uma relação de obras literárias que dê pistas de como
aprimorar o espírito crítico da criança, ajudando-a em sua inserção no mundo e
na transformação da realidade social em que vive, sem que, para isso, tenha que
abandonar o espaço interior de sua infância – que atravessará toda a sua vida.
UNI
Subliminar é a definição para o tipo de mensagem que não pode ser captada
diretamente pela porção do processamento dos sentidos humanos que está em
estado de alerta. É tudo o que está abaixo do limiar, a menor sensação detectável conscientemente.
Toda mensagem subliminar pode ser dividida em duas características básicas, o seu grau
de percepção e de persuasão. (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 1780).
107
UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
Assim, parece-nos que, mais relevante do que determinar onde se deve dar
a leitura, é precisar quais obras têm, e quais outras não a possuem, a complexidade
e a abertura necessárias para ao mesmo tempo instruir e fazer do leitor um sujeito
ativo e coparticipante de sua realidade/destino, já que a formação do indivíduo
não cessa quando ele termina a fase escolar, prolongando-se por toda a vida e,
nesse sentido, não resta dúvida: os bons textos literários são potencializadores
eficazes de significação existencial:
108
TÓPICO 1 | O DIVERTIDO PRAZER DE LER
Nesse momento, uma boa saída teórica seria pensar com o escritor Mikhail
Bakhtin, que, a partir de uma releitura dos clássicos de Rabelais e de Dostoievski,
conseguiu redefinir os códigos culturais da tradição ocidental, a seu ver estruturados
a partir da alternância de duas tendências estéticas distintas:
por ser a expressão dos anseios de um grupo social que acredita nos
valores humanos e na possibilidade do conhecimento da verdade, bem
como no triunfo do complexo de virtudes que compõem a ideologia
social (ordem, beleza, justiça, amor etc.); o código natural, por sua vez,
109
UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
Ora, se a essa altura tivéssemos que sintetizar o tipo de literatura que seria
conveniente à sala de aula, não hesitaríamos em optar pela obra clássica e dialógica,
pois os clássicos aportam significações não inteiramente previstas no texto original,
portanto que poderão ainda ser construídas a partir da interação da singularidade
do leitor com a singularidade da obra em questão. Esse entrecruzamento, ou jogo
de singularidades, é o que definiria, segundo Barthes (2007, p.16), as qualidades de
uma verdadeira literatura: “Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico
que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução
permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura”.
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TÓPICO 1 | O DIVERTIDO PRAZER DE LER
UNI
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
3 INVERTENDO A TRADIÇÃO
Os livros são enfadonhos de ler. Não há livre circulação. Somos
forçados a ler. O caminho está traçado único. Muito diferente é o quadro
imediato total. À esquerda, à direita, em profundidade, à vontade.
Nada de trajeto, incontáveis trajetos, e as pausas não são indicadas. Se o
desejarmos, o quadro inteiro. (MICHAUX, 1994, p. 38).
112
TÓPICO 1 | O DIVERTIDO PRAZER DE LER
113
RESUMO DO TÓPICO 1
• A escola é um espaço que pode promover o contato dos indivíduos com textos e
capaz de estabelecer uma interação diferenciada entre os leitores e essas mesmas
obras, tornando-os mais críticos a partir do contato e do acesso socializado aos
textos clássicos.
• Em sala de aula, melhor seria optar pela obra clássica e dialógica, pois os clássicos
aportam significações não inteiramente previstas no texto original, portanto que
poderão ainda ser construídas a partir da interação da singularidade do leitor com a
singularidade da obra em questão.
114
AUTOATIVIDADE
115
116
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
As que tinham vida, que convenciam, que agiam dum modo verdadeiro
(não importa se gente, se bicho, se fada, se vampiro) e aquelas que
reagiram de repente, sem mais nem por quê – dum modo que não
tinha nada a ver com elas, como vinham atuando desde o comecinho
da história...E aquelas que foram esquecidas pelo autor (o que acontece
muito), que aparecem no começo e nunca mais... ou aquelas que não
tinham a menor importância pro desenrolar do conto e que ficaram só
enchendo as páginas, sem função, sem razão, sem opinião. E tanta coisa
mais que foi percebida pelo leitor e que merece ser discutida.
A capa (se bonita, feia, atraente, boba, sem nada a ver com a narrativa...),
o título - que, afinal, são o primeiro contato que se tem com o volume: o
impacto visual e a curiosidade despertada ou adormecida... E por que
não discutir a encadernação, do desprazer que é ver um livro amado
desfolhado, descolando, não dando nem mais para virar a página?... E
o jeito como o volume foi paginado, olhando muito do bem olhado se
a ilustração corresponde ao que está escrito na página ao lado, se está
tudo muito compactado, muito apertado, sem espaço para respirar... ou,
ao contrário, se ficou muito pouca coisa escrita ou desenhada em cada
folha, sobrando partes em branco demais da conta, só para engrossar
o livro?? E se as letras eram grandonas, gostosas de ler, ou pequenas,
apertadinhas, sendo necessário um binóculo para poder seguir apenas
letras tão mínimas?? E quanto havia de espaço na passagem dum
capítulo para outro, mostrando que já era outro momento, outro dia,
outra situação ou que fosse – estava tudo apertado, estreito e até difícil
118
TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA
Literatura é arte, literatura é prazer (...) Que a escola encampe esse lado.
É apreciar - e isso inclui criticar. Se ler for mais uma lição de casa, a
gente bem sabe no que é que dá. Cobrança nunca foi passaporte ou
aval para a vontade, descoberta ou para o crescimento de ninguém
(ABRAMOVICH, 1989, p. 148).
A escola lida com a palavra arte como se ela fosse informação, sem pensar
em estratégias de trabalho diferentes entre o texto artístico e o texto informativo.
Há a necessidade urgente de priorizar o caráter artístico do texto literário. Deve-se
constituir em exploração e vivência, caso contrário incorre-se no risco de reduzir
o texto à categoria de instrumento, contribuindo para a alienação do processo
educativo.
120
TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA
Outro fator a ser observado é o de que a literatura nos lares ocupa pouco
espaço, muitas casas sequer possuem um material de leitura. O adulto diz que
não tem tempo para a leitura; a família, de modo geral, não possui livros de
literatura, preferindo livros didáticos, de culinária, de textos sobre atualidade,
textos práticos, receitas de emagrecimento, livros de autoajuda, revistas de moda
e outras. A literatura cumpre na vida de muitos adultos o papel secundário, não
significa prazer, não é uma opção de lazer.
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
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TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
Para Nelly Novais Coelho (2000), os livros com ilustrações exercem forte
atração por meio da capa, do colorido, dos desenhos das personagens, favorecendo
o exercício da capacidade inventiva, pois possibilitam associações e inferências. As
imagens materializam a palavra do artista. Ao ser estimulado a observar detalhes
das imagens, cores, traços, distribuição dos elementos no papel, relação entre
imagem e escrita, estará o adulto ajudando o jovem leitor a apurar sua percepção
e reestruturar o modo de ver, reconhecer e julgar.
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TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA
Vejamos, agora, o livro A caligrafia de dona Sofia, de André Neves, cujo texto
se constitui em uma narrativa poética, e as ilustrações, elementos que favorecem
a recepção.
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
A narrativa assim se inicia: “Na mais alta colina entre as colinas que
guardam a cidade, existe uma casa diferente de todas as outras, com paredes
decoradas com poemas” (NEVES, 2006, p. 2).
Dona Sofia mora sozinha e sua paixão pela leitura leva-a a escrever os
poemas preferidos a fim de que não ficassem escondidos nos livros. “Os anos
foram passando e um belo dia Dona Sofia percebeu que não havia mais espaço
para escrever. O que faria, então? Não queria deixar as poesias escondidas nos
livros” (NEVES, 2006, p. 2).
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TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
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TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA
para atividades ligadas à cultura visual. O diferencial é fazer sempre a relação com a
realidade do aluno:
1) Descrever
Para aproveitar tudo o que uma imagem pode oferecer, os olhos precisam
percorrer o objeto de estudo com atenção. Então o professor deverá solicitar
de todos um relato do que veem, elaborando um inventário, descrevendo
detalhadamente o que estão vendo. As observações podem ser elencadas no
quadro.
2) Analisar
3) Interpretar
4) Fundamentar
5) Revelar
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
FONTE: Extraído e adaptado de: Revista Crescer e publicada na edição do mês de junho
de 2007.
130
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu:
• Uma das metodologias que pode ser utilizada em sala de aula envolve o contato com
os livros e, geralmente, a criança quer repeti-la. Essa relação forma a opinião da criança,
que passa a estabelecer critérios de seleção do que quer ler.
• A criança, frente ao livro de imagens, poderá contar e recontar histórias, criar roteiros,
cenários, personagens, cenas e espaços, sem necessariamente a intervenção do adulto.
• Os livros com ilustrações exercem forte atração por meio da capa, do colorido, dos
desenhos das personagens, favorecendo o exercício da capacidade inventiva, pois
possibilitam associações e inferências.
131
AUTOATIVIDADE
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UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A leitura – enfatizamos – é um meio de descoberta do mundo. O ser
humano, ao longo da vida, se desenvolve através da leitura. Mas ler não significa
apenas identificar as palavras, significa compreender e interpretar. É nesse sentido
que destacamos a importância da literatura na infância, pois é neste período que
inicia uma relação especial com o livro.
Alunos e professores falem com suas vozes o discurso das suas vidas,
que lhes dá chance de somar suas falas às dos colegas, para contestar,
concordar, sair do mundo escolar a partir do texto, buscando outras
referências, colhidas na TV, na música, no humor, nas histórias e fatos do
bairro, no trabalho, no namoro, enfim, nesse todo que é o conhecimento
que eles dominam. (SANTA CATARINA, 2005, p. 41).
133
UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
l A atualidade do tema.;
l A moral destacada na contemporaneidade;
l Mudanças ocorridas;
l Contrapontos com textos escritos recentemente.
137
UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
Outra categoria editorial que vem ganhando força são livros nos quais
prevalece a função referencial, transmitindo a informação objetivamente, de forma
precisa e denotativa. É a linguagem do jornalismo, dos noticiários. Está centrada
no referente, ou seja, naquilo de que se fala, geralmente escrita em terceira pessoa,
com frases estruturadas na ordem direta.
c) os demais parágrafos deverão relatar a sequência dos fatos, até finalizar a notícia.
Importante também é abrir espaço para falar desinteressadamente sobre
leituras, recomendação de leituras, promover júris, audição de músicas, sessões
de vídeos e de filmes de interesse do grupo, e, de acordo com a idade dos alunos,
estabelecer relações e provocar neles a curiosidade para que investigue o momento
histórico e social no qual autor e obra estão inseridos, fazê-los observar possíveis
intenções do autor, o gênero, a escola literária, o momento político, o pensamento
filosófico predominante (SANTA CATARINA, 2005).
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
Vejo uma velha senhora, com os cabelos retintos, [...] toda ela torpemente
pintada e vestida de roupas juvenis. Ponho-me a rir. [...]. Assim posso,
à primeira vista e superficialmente, deter-me nessa impressão cômica.
[...] advertimento do contrário. Mas se agora em mim intervém a reflexão
e me sugere que aquela velha senhora [...] pensa que, assim vestida,
escondendo assim as rugas e as cãs, consegue reter o amor do marido,
muito mais moço do que ela, eis que já não posso mais rir disso como
antes, porque precisamente a reflexão, trabalhando dentro de mim, me
leva a ultrapassar aquela primeira advertência, ou antes, a entrar mais
em seu interior: daquele primeiro advertimento do contrário ela me fez
passar a esse sentimento do contrário. E aqui está toda a diferença entre o
cômico e o humorístico. (PIRANDELLO, 1999, p. 147).
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
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FONTE: Adaptado de: Encontro e confronto do (in) visível na tradução do romance Il fu Mattia
Pascal de Pirandello. PASQUALINI, Joseni Terezinha Frainer, 2005, p. 50-53.
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
Para Nelly Novaes Coelho (2000, p. 222), “[...] o jogo poético, além de
estimular o olhar de descoberta nas crianças, atua sobre todos os sentidos,
despertando um sem-número de sensações visuais, auditivas, gustativas, olfativas,
tácteis, comportamentais e outras”.
3 A DESCOBERTA DA POESIA
Além disso, é importante reconhecer que a partir da escrita nos meios
eletrônicos - informação digital ou hipermídia - surgem novas formas de leitura.
O aluno, diariamente, está em contato com a televisão, o rádio, as revistas, o
computador e a internet, recursos que respondem mais facilmente às necessidades
imediatas dos jovens e crianças. No meio digital não existe a obrigatoriedade imposta
de prazos, das fichas de leitura, títulos, como “garantia” de leitura realizada. O
acesso a essa nova tecnologia é atrativo e, também, propicia conhecimento.
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
Falando de livros
O livro é a casa
do tempo,
é a casa de tudo.
Mar e rio
no mesmo fio,
água doce e salgada.
O livro é onde
a gente se esconde
em gruta encantada".
FONTE: Roseana Murray. in Carteira de identidade, ed. Lê, 2010.
Embora não nos demos conta, a criança recebe ainda no berço o primeiro
contato com a poesia e seus elementos: o ritmo e a rima, manifestados na voz que
acalenta, nas cantigas de ninar e, mais tarde, na musicalidade das parlendas, das
brincadeiras de roda, nos trava-línguas, nas adivinhas, jogos da tradição oral.
145
UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
poética no aluno, através de textos diversificados, com ou sem rima, curtos e mais
longos, temas, autores e épocas variados, poesias complexas e/ou simples. E ainda,
oportunizar novas formas de expressar seu “entendimento” de poesia, através de
desenhos, colagens, pintura, bem como a tentativa de criação de novos poemas.
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
INFÂNCIA
Um gosto de amora
Comida com o sol. A vida
Chamava-se "Agora".
AQUELE DIA
Borboleta anil
que um louro lafinete de ouro
espeta em Abril
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
Um | gos | to | de a | mo | ra (5)
Co | mi | da | com | sol. | A | vi | da (7)
Cha | ma | va |-se “A | go | ra”. (5)
Conforme Miguel Almir L. de Araújo (2002, p. 60), “[...] a poesia une o lúdico
e o lúcido nos processos de aprendizagem, no desenvolvimento de inteligências
meditativas e sensíveis, flexíveis e audaciosas”. Ultrapassa as dimensões ordinárias
da linguagem instrumental retilínea – que tem exercido predominância na rotina
da sala de aula - , levando aos horizontes do extraordinário que renova, transmuta
e vivifica.
3.1 O TEATRO
149
UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
A arte teatral era tão popular na Grécia Antiga que anualmente eram
promovidos concursos de textos teatrais. Os autores escreviam as peças, as
encenavam para o público e para uma comissão julgadora, que premiava o melhor
trabalho. O teatro grego, além de retratar o cotidiano do homem, evidenciava
costumes, personalidades, deuses e belezas da Grécia. Desde os tempos mais antigos
é fonte de cultura, educação, diversão e lazer. Da Grécia foi levado para Roma e dela
para o mundo.
E
IMPORTANT
FIGURA 27 - TEATRO
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
É arte realizada pelo ator que, por meio do movimento das mãos, o
manipula e narra as histórias, conduzindo a realidade para a magia. O boneco,
com sua expressividade, movimento e sonoridade, encanta e atrai o público.
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
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A Comédia da Arte foi uma forma de teatro popular. Teve início no século XV na Itália.
Eram companhias itinerantes, nas quais os atores montavam um palco ao ar livre e proviam
o divertimento através de malabarismo, acrobacias e, mais tipicamente, peças de humor
improvisadas, baseadas num repertório de personagens preestabelecido e que envolviam
temas como: adultério, ciúme, velhice, amor. Faziam uso de um figurino com máscaras, e
até objetos cênicos. O diálogo e a ação poderiam facilmente ser atualizados e ajustados
para satirizar escândalos locais, eventos atuais ou manias regionais, misturados com piadas e
bordões.
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
Os que são elaborados por uma vara são simples e de fácil confecção,
podendo ser feitos com cartolinas, bolinhas de isopor, de papel, colher de pau,
palitos de churrasco, garfos vestidos com roupas de pano, palitos de picolé,
copinhos de plástico sustentados por palitos. Os que são produzidos com mais
de uma vara são mais complexos e requerem a habilidade de um titereiro para
movimentá-los.
Outra prática que poderá ser explorada é o teatro de fantoches. Assim como
os demais bonecos, é uma atividade que envolve os alunos desde a confecção até
o desenvolvimento de habilidades motoras e apropriação do texto. Além disso, é
uma atividade associada ao lúdico, cujo assunto abordamos na Unidade 1.
Ao jovem leitor agrada muito o jogo teatral, que é realizado por cenas de
ação dramática e que se caracterizam por explicação da ação por meio do gesto,
de caricaturas, dramatização (imitação de uma pessoa famosa), descrição de algo
com características fortes sem utilizar palavras, um contexto social, comumente
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
FIGURA 31 - PANTOMIMA
Caro(a) acadêmico (a), como foi o seu contato com o teatro, enquanto aluno(a)?
E as escolas, desenvolvem atividades relacionadas ao fazer teatral? Comente em
poucas palavras.
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__________________________________________________________________________.
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
É necessário que a escola propicie o contato com a arte teatral, não apenas
dirigindo algumas peças passivamente, mas que reflita sobre o possível espetáculo
a ser encenado. Para Machado, no que se refere à escolha de um espetáculo, o
professor deverá indagar-se:
O teatro na vida do jovem leitor inclui benefícios que vão desde o aprender
a improvisar, desenvolver a oralidade, a expressão corporal, a impostação de
voz, o vocabulário, até o desenvolvimento das habilidades para as artes plásticas
(pintura corporal, confecção de figurino e montagem de cenário), oportunizando
a pesquisa, o trabalho coletivo e, assim, contribui para o desenvolvimento da
expressão e comunicação, favorecendo a percepção da arte como manifestação
cultural.
4 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
As histórias em quadrinhos despertam o interesse do público infantojuvenil,
oferecendo uma diversidade de propostas que podem ser exploradas em proveito
do jovem leitor. O texto associado à imagem, característica presente nas histórias
em quadrinhos, como afirma Nelly Novaes Coelho (2000, p. 242), atinge “[...]
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
Acredita-se que as pinturas realizadas nas paredes das cavernas foram uma
das primeiras formas gráficas a serem criadas pelo ser humano como elemento
de comunicação. O homem retratava histórias a partir de imagens que ficaram
conhecidas como pinturas rupestres, em uma época muito anterior à invenção
da escrita. Por isso, alguns especialistas insistem em afirmar que os primeiros
exemplos conhecidos de histórias em quadrinhos foram feitos por homens pré-
históricos.
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UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
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TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
Esse humor crítico encontrado nas charges é muito apreciado pelo jovem
leitor, tornando-se um relevante trabalho, que poderá provocar discussões que
envolvem criticidade, dinamismo e leitura de mundo apresentadas pelos diversos
sujeitos que compõem a escola.
LEITURA COMPLEMENTAR
Acompanhe a entrevista:
159
UNIDADE 3 | O PAPEL DA ESCOLA
160
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS
161
RESUMO DO TÓPICO 3
• A literatura no ambiente escolar tem como objetivo a formação do leitor. Para tanto,
o professor deverá adotar uma postura que privilegie a polissemia, o dialogismo.
Deve adotar uma prática pautada no contato com os diversos gêneros textuais
e contemplar histórias do dia a dia, contos, fábulas, lendas, parlendas, músicas,
poesia, novela, crônica, piadas, filmes, romances, histórias em quadrinhos.
• Outra possibilidade que não poderá ser ignorada é a visita à biblioteca, para
que o aluno possa ver e tocar os vários volumes, as várias ilustrações, escolher a
leitura, o livro que lhe agradar, desenvolvendo a leitura sensorial.
162
AUTOATIVIDADE
A menina não sabe se essa é uma pergunta do tipo que precisa ser
respondida ou é daquelas que a gente ouve e pronto. Prefere não responder.
“Nada, não cresceu nada”, ela conclui, guardando a fita. E já tem uma
semana!
Depois volta para onde está a mãe, que agora lustra os móveis.
- Mãe, existe alguma doença que faz o cabelo da gente não crescer?
- Mas de novo essa conversa de cabelo! Não tem outra coisa pra pensar não,
criatura?
Sobre essa pergunta não há dúvida: é do tipo que você não deve
responder.
163
A mãe continua trabalhando. Precisa se apressar. Dali a pouco a patroa
chega da rua e o almoço nem está pronto ainda.
- Mãe!
- O que foi?
- É que eu estava aqui pensando.
- Pensando o quê?
- Não liga, não. Cabelo de boneca é assim mesmo, cresce devagar, viu?
E com um carinho:
164
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Fernanda Lopes de. A fada que tinha ideias. São Paulo: Ática,
1971.
ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
165
______. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 2004.
______. A psicanálise dos contos de fadas. Trad. A. Caetano. São Paulo: Paz e
Terra, 2007.
______. A psicanálise de contos de fadas. 15. ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra,
2001.
______. Psicanálise dos contos de fadas. 9. ed. Trad.: Arlene Caetano. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1992.
______. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
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______. A literatura e a formação do homem. In: DANTES, V. (Org.). Textos
de intervenção. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2002. p. 77-92.
167
______. Teoria do texto: prolegômenos e teoria da narrativa. São Paulo: Ática,
1990.
ISER, Wolfgang. O jogo do texto. In: LIMA, Luiz Costa. A literatura e o leitor:
textos de estética da recepção. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. p. 105-
118.
168
_____. O texto não é pretexto. In: ZILBERM AN, Regina (Org.). Leitura em
crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1982.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
MELO NETO, João Cabral de. Ideias fixas de João Cabral de Melo Neto.
ATHAYDE, Félix de. (Org.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
NEVES, André. A caligrafia de Dona Sofia. São Paulo: Editora Paulinas, 2006.
NICOLA, José de. Literatura brasileira: da origem aos nossos dias. São Paulo:
Scipione, 1998.
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PALO, Maria José de; OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura Infantil: Voz de
Criança. São Paulo: Ática, 1986.
PIRANDELLO, Luigi. Um, nenhum e cem mil. Trad.: Mauricio Santana Dias.
São Paulo: Cosaf & Nacif, 2001.
______. O finado Matias Pascal. Trad.: Helena Parente Cunha. São Paulo:
Opera Mundi, 1970.
PESSOA, Fernando. Obra poética. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1977.
SANCHES Neto, Miguel. O prazer de ler. Carta na Escola, São Paulo, n. 15,
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170
VERÍSSIMO, José. Estudos de literatura brasileira. São Paulo: Tatiaia, 2001.
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2005.
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ANOTAÇÕES
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