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I. REGULAMENTO ADMINISTRATIVO
1. Noção e Fundamento
2. Tipos de regulamentos
Gerais: se dirigem a todos os particulares, em geral; não pressupõem uma
autoridade estatutária com a Administração.
Especiais: regulam as relações especiais de direito administrativo (ou
poder), i.é., relações de especial ligação ou subordinação dos particulares com
uma determinada entidade administrativa, com dimensões internas e externas.
Sectoriais: regulam um sector de actividade económica ou social.
Técnicos: emanados de organismos ou autoridades internacionais, públicas
ou privadas (âmbito de aplicação).
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esfera jurídica dos particulares;
2) Os órgãos administrativos podem não cumprir os regulamentos internos em
concreto – vale a regra da inderrogabilidade singular dos regulamentos (são
admitidas decisões concretas divergentes da regulação constante do
regulamento interno, desde que devidamente justificadas);
3) São susceptíveis de impugnação pelos meios administrativos no âmbito da
auto-tutela administrativa que permite o controlo dos vícios de mérito e, por
outro lado, podem fornecer indícios de ilegalidade dos actos administrativos
que os apliquem (os actos administrativos podem ser ilegais se aqueles o forem
e se não fundamentada a desaplicação no caso.
Assim, têm relevo indirecto na ordem externa, uma vez que denunciam
indícios de ilegalidade (mau uso do poder discricionário) ou de violação do
princípio da igualdade (incumprimento de directivas auto-vinculativas para o
exercício de poderes discricionários.
Diferenças de fundamento:
A competência regulamentar externa se funda na previsão legal expressa;
A competência regulamentar interna se funda num poder implícito de auto-
organização administrativa.
Os regulamentos especiais contêm normas internas, em regra, que dizem
respeito à relação orgânica (do trabalhador, militar, preso, internado) mas
devem considerar-se externos, na medida em que afectam posições jurídicas
subjectivas das pessoas envolvidas.
Diferenças de regime:
Os regulamentos internos não são judicialmente impugnáveis, nem vale
o princípio da inderrogabilidade singular (admitem-se decisões concretas
divergentes da regulação interna anterior, devidamente justificadas). Ao
contrário do que sucede com os regulamentos externos.
Relevância jurídica dos regulamentos internos (operacionais -
estabelecem directrizes auto-vinculativas para o exercício do poder
discricionário): são impugnáveis no âmbito da Administração (recursos
hierárquicos e tutelares); o seu incumprimento pode ser indício de
arbitrariedade, violação do princípio da igualdade ou de mau uso dos poderes
discricionários, susceptíveis de invocação perante o tribunal (na impugnação
de actos ou para efeitos de responsabilidade civil administrativa).
2. Regulamentos complementares:
Permitem à Administração completar um determinado regime legal,
nomeadamente aquelas que se limitam a estabelecer um quadro legal amplo.
Podem ser de 2 tipos:
de desenvolvimento: a Administração vai completar as leis que se limitam a
estabelecer as bases gerais, as directrizes para a regulamentação de uma
determinada matéria. A Administração inova, na medida em que estabelece as
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regras que disciplinam o objecto em causa, é uma inovação controlada, pois a lei
lhe fornece o quadro normativo cuja lógica tem de respeitar.
de integração: utilizam o quadro legal para regular situações especiais que
não estejam expressamente previstas.
3. Regulamentos independentes:
Não dispensam uma norma que fixe a respectiva competência (norma
habilitante) nem visam executar, completar ou aplicar uma lei específica; mas
dinamizar a ordem jurídica em geral (conjunto de leis), disciplinando (regulação
primária) certas relações sociais.
a. Regulamentos autónomos:
sentido amplo: abrange as normas administrativas emitidas por entes não
estaduais no uso de poderes de produção normativa primária. Os seus
fundamentos e limites se encontram na necessidade de prossecução das
atribuições próprias ou concedidas a esses entes públicos.
sentido mais estrito: normação primária emitida pelos organismos da
Administração autónoma como expressão da sua auto-administração e auto-
governo. São um instrumento de auto-regulação no âmbito da gestão de
interesses próprios e de responsabilidade própria.
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Se interpretarmos este preceito literalmente, excluiria qualquer dos
referidos regulamentos. Mas, segundo a maioria da doutrina, não é a única nem
a mais razoável interpretação. Vejamos quanto aos:
1. Regulamentos de execução:
O legislador constituinte pretendeu (com o art. 112.º/5) reagir contra os
abusos a que conduziu a prática legislativa de remeter para despachos
ministeriais a resolução de quaisquer dúvidas ou omissões suscitadas pela
aplicação da lei. o mencionado art. não proíbe os regulamentos em causa e,
estão expressamente previstos no art. 199.º/c) CRP quando elaborados pelo
Governo.
2. Regulamentos complementares:
Não são directamente proibidos por aquele art. apontando no sentido da
sua admissibilidade. Entre nós, não têm razão de ser.
a. de desenvolvimento: servem para completar as bases gerais
estabelecidas na lei. Tarefa atribuída aos DL de desenvolvimento (198.º/1/ c)
CRP).
Parece-nos possível interpretar amplamente o referido preceito,
admitindo-se, excepcionalmente, os regulamentos complementares de
desenvolvimento: para a complementação de leis-quadro, cujas bases ou
princípios gerais constituem reserva de lei parlamentar, podendo aquelas leis
situadas em domínios não reservados à lei ser desenvolvidos por regulamentos
que devem assumir a forma de decretos regulamentares.
b. de integração: aparentemente estão proibidos pelo art. 112.º/5 CRP,
mas devem considerar-se admissíveis quando se limitem a adaptar o quadro
legal a situações especiais, desde que estejam fora das zonas de reserva de lei
formal.
4. Regulamentos autorizados:
São admissíveis em casos particulares, p. ex: os regulamentos dos planos
urbanísticos podem considerar-se uma espécie de “regulamentos autorizados”,
em que se coordenam interesses de diversos níveis – nacionais, regionais e
locais, sejam gerais ou especiais.
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o Portaria genéricas – emanadas por um ou mais ministérios e em nome
do
Governo;
o Despachos normativos – ministeriais.
Regulamentos regionais – forma mais solene dos decretos regulamentares
regionais (233.º/1 CRP);
Regulamentos das autarquias locais – não têm forma típica, mas os
regulamentos de polícia adoptam tradicionalmente a forma de posturas.
Os restantes regulamentos emanados por entes institucionais e
corporativos (estaduais ou autónomos) não revestem formas específicas, salvo
quanto aos estatutos auto-aprovados (ex: universidades).
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Há um conjunto de regras e princípios de carácter material que
determinam o conteúdo na elaboração de regulamentos:
1) Os regulamentos não podem conter disciplina contrária aos preceitos
de valor normativo superior.
Os regulamentos têm de respeitar a CRP e as leis e, os regulamentos do
Governo. No caso dos regulamentos de autarquias locais têm de respeitar os
regulamentos das autarquias de grau superior ou das autoridades com poder
tutelar (Governo da República e seus representantes, governos regionais) –
241.º CRP.
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4) Cada órgão com competência regulamentar não pode invadir a
competência de outras autoridades administrativas (competência subjectiva) e
deve prosseguir o fim que lhe tenha sido atribuído (competência objectiva).
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O art. 119.º/2 CPA determina a necessidade de os regulamentos
mencionarem os regulamentos que revogam, de modo a garantir a certeza,
clareza e paz jurídicas ao permitir acabar com as enormes dificuldades que
existem relativamente à aplicabilidade de normas que se sucedem no tempo.
Parte da doutrina tem defendido que a exigência deste art. é uma
condenação legal para a emissão dos regulamentos novos e, a falta de menção
dos regulamentos que o novo regulamento revoga determina a invalidade deste.
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resolvidos, nos termos da CRP, de acordo com a regra da prevalência dos
regulamentos autárquicos de eficácia mais ampla ou da especialidade
tutelar (apenas quanto a matérias e a medida em que a lei determine a
existência de tutela regulamentar do Governo ou dos governos regionais).
Nas matérias de concorrência de competências entre o Estado e as
autarquias locais a prevalência é avaliada em cada tipo de situação, em função
das normas de competência, interpretadas de acordo com os princípios
constitucionais da subsidiariedade, da autonomia local e da descentralização
administrativa (6.º CRP) que limitam a prevalência do interesse nacional,
devendo ter em conta os princípios de cooperação e de coordenação dos
interesses nacionais e locais.
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II. O ACTO ADMINISTRATIVO
O acto administrativo é uma das principais formas da actividade
(jurídica) da Administração e a sua forma de actuação mais tradicional.
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No séc. XX passou a articular-se com a necessidade de criar garantias
que assegurassem a sua conformidade com a ordem jurídica no seu todo
(garantias de juridicidade) e que tutelassem a defesa dos direitos e interesses
dos cidadãos, com uma relação cada vez mais próxima da máquina
administrativa.
Actualmente, o acto administrativo não tem a função central que lhe foi
reconhecida durante anos. Mas, ainda hoje, continua a ter um papel relevante
em sistemas como o nosso, de administração executiva.
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O conceito adjectivo de acto administrativo definitivo e executório,
enquanto acto susceptível de “recurso contencioso” imediato, em que se exigia
uma tripla definitividade:
a. material ou substancial: definição da situação jurídica dos
particulares ou da Administração;
b. horizontal ou procedimental: acto final de um processo ou de um
incidente autónomo num processo;
c. vertical ou competencial: acto de um órgão supremo ou que constitua
a última palavra da Administração.
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Para os autores (Rogério Soares) que, defendiam um conceito mais
estrito de acto administrativo, não fazia sentido um conceito tão abrangente e
confuso de definitividade, na medida em que esta noção acabava por absorver
algumas vertentes da própria noção de acto administrativo. O acto
administrativo produtor de efeitos jurídicos externos regula uma situação
jurídica entre a Administração e um terceiro – não havia razão para juntar um
conceito de definitividade material.
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resolve todos os problemas em torno do conceito de acto administrativo. O
legislador foi cauteloso ao mencionar que tal definição é entendida “para
efeitos da presente lei”.
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(incapazes de produção autónoma de efeitos jurídicos, inclusive, pareceres
vinculativos) e os actos de comunicação ou de pura execução;
Inclui no conceito: actos destacáveis do procedimento que
produzem autonomamente efeitos externos, ainda que limitados – ex:
actos prévios – informação prévia favorável e aprovação de
projectos de arquitectura no licenciamento urbanístico;
actos parciais – licença parcial para a construção da estrutura;
actos de trâmite excludentes – actos de exclusão de
concorrentes
em procedimentos concursais;
medidas provisórias – 84.º CPA.
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Podia afirmar-se que a regra geral era a do indeferimento tácito (acto
silente negativo), valendo o silêncio como deferimento (acto silente positivo)
nas situações previstas nas diversas alíneas do art. 108.º/3.
Valia para os recursos hierárquicos interpostos pelos particulares:
175.º/3 o recurso é tacitamente indeferido se não tiver sido tomada nenhuma
decisão decorridos os prazos para decidir.
Nos termos do art. 108.º CPA acto tácito de deferimento é um acto
administrativo correspondente àquele que resultaria de o verdadeiro acto
administrativo, o particular pode exigir do órgão requerido e de terceiros o
respeito pelo acto tácito praticado ou produzido, i.é., pelos efeitos jurídicos
que decorrem daquele deferimento.
Se o órgão requerido quiser indeferir a pretensão formulada depois de
decorrido o prazo do art. 108.º/2, tal acto deverá ser considerado como uma
revogação do anterior acto que só pode ser retirado com fundamento em
ilegalidade e dentro do prazo previsto na lei para o efeito.
O acto de deferimento tácito é um acto administrativo para todos os
efeitos, o deferimento expresso posterior será considerado como um
verdadeiro acto confirmativo, sendo passível de impugnação contenciosa nos
termos definidos pelo CPTA.
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actos organizativos dos serviços ou de decisões relativas ao funcionamento de
órgãos colegiais que adquiram relevância externa ou intersubjectiva.
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Por falta deste elemento de imperatividade, excluem-se do conceito:
actos de direito privado, as declarações negociais, os actos instrumentais
externos e os meramente confirmativos (9.º/2 CPA).
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Assim, pode haver actos de sujeitos administrativos que se insiram
materialmente noutras funções. É o caso do Governo, cujo é o órgão superior da
Administração Pública (182.º CRP), dotado de competências administrativas
(199.º CRP) e detém competência política (197.º CRP) e legislativa (198.º CRP).
Todavia, há a possibilidade de o Governo praticar actos administrativos
sob a forma legislativa: 268.º/4 CRP assegura a impugnação contenciosa de
todos os actos administrativos “independentemente da sua forma”,
pretendendo acautelar tal possibilidade.
Só será acto administrativo a provisão emanada da Administração no uso
de poderes administrativos, excluindo os actos de órgãos administrativos que
pertençam materialmente a outras funções e todas as actuações jurídicas dos
agentes administrativos subordinadas ao direito privado (sector cada vez mais
vasto).
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Actos de indeferimento: que se traduzem na recusa, pelo órgão
administrativo, da prática de actos favorável requerido.
Concessões:
translativas: verifica-se a transmissão para o
concessionário de poderes administrativos já existentes na titularidade da
Administração concedente – concessão de serviços públicos.
Os poderes de manutenção de um serviço público passam da
Administração para os particulares que, conservam a sua natureza de sujeitos
privados e ficam investidos, simultaneamente, daqueles poderes. A
Administração entrega à competência e diligência de um particular uma tarefa
pública sujeita a um poder de controlo e fiscalização da autoridade
administrativa.
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A distinção entre autorizações constitutivas e autorizações permissivas
passa pelo maior ou menor constrangimento que a lei faça à actividade do
particular.
o Aprovações:
Se tratam de autorizações permissivas que têm por objecto actos cuja
eficácia desencadeia a produção de efeitos do acto administrativo aprovado
(depois de estar constituído), no quadro de um controlo preventivo. A falta de
aprovação gera a sua ineficácia.
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d) Os actos secundários ou de 2.º grau
Actos que têm por objecto actos administrativos anteriormente
praticados.
3 subcategorias:
actos que visam fazer cessar ou suspender a eficácia de
actos administrativos anteriores – anulação, revogação e suspensão;
actos que visam modificar, total ou parcialmente, o
conteúdo de actos administrativos previamente praticados:
revogação parcial, a reforma: consiste em qualquer substituição
do conteúdo do acto prévio;
rectificação: transformações no conteúdo do acto por expurgação
dos seus erros;
prorrogação: dilatação dos limites temporais de vigência do acto.
actos que visam consolidar actos administrativos
anteriores, quando inválidos:
o convalidação: nova declaração destinada a afastar o vício;
o conversão: se não for possível afastar o vício, a Administração
pratica um novo acto com o conteúdo do acto anterior.
Revogação Anulação
Fundamento:Ainconveniência
revogação é o acto através
actual para do
o qual a Administração
Baseia-se faz cessar
na invalidade efeitos
daquele primeiro
de outro
interesse acto,
público da por se entender
manutenção que não é conveniente
dos efeitos acto. para o interesse público.
A anulação é o acto através do qual a Administração pretende destruir
de um acto anterior.
os efeitos de um acto anterior, mas com fundamento na sua ilegalidade ou num
Tem efeitos ex tunc – destruindo os efeitos
vício que o torna ilegítimo e, por isso, inválido.
do acto desde o momento da sua prática.
Estes actos se distinguem dos actos contrários: o segundo acto não
incide sobre o mesmo caso concreto tratando-se da prossecução de diferentes
Implica o exercício
interesses de uma
públicos. Ex: função de Implica
a Administração o exercício
nomeia de uma e,função
um funcionário em de
administração activa
consequência (dispositiva),
de um i.é.,disciplinar,
procedimento do controlo – fiscalização.
demite-o.
mesmo tipo OdaCPTA função
não exercida para a
distingue expressamente a revogação da anulação: para
práticaactos
do 1.ºválidos
acto. – revogação propriamente dita; para actos inválidos – anulação ou
revogação
Pode incidir anulatória.
apenas sobre actos de eficácia Pode incidir sobre quaisquer actos
Principaiseficazes
duradoura enquanto diferenças
ou de regime
actos de jurídico:
administrativos.
eficácia instantânea, enquanto não sejam
executados. Em regra, actos praticados no
uso de poderes discricionários.
Pode ser determinada a todo o tempo. Só pode ser efectuada dentro do prazo da
respectiva impugnação contenciosa (141.º/1
CPA). 35
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Se uma lei prevê um parecer mas nada estabelecer em relação à
necessidade ou não de ser pedido e à obrigatoriedade ou não de ser seguido,
considera-se que o parecer é obrigatório e não vinculativo – 98.º/2 CPA.
Há uma modalidade complexa de pareceres obrigatórios que são
vinculativos num só sentido: os pareceres conformes. Estes podem ser:
o favoráveis: uma decisão positiva é possível se o parecer for no
sentido positivo;
o desfavoráveis: a decisão negativa do órgão administrativo só é
possível com o apoio de um parecer negativo.
São vinculantes num só sentido, na medida em que impedem uma decisão
positiva se o parecer for negativo (necessidade de parecer conforme favorável)
ou impedem uma decisão negativa se o parecer for positivo (necessidade de
parecer conforme desfavorável).
3. O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
É definido como a sucessão ordenada de actos e formalidades tendentes
à formação e manifestação da vontade da Administração Pública ou à sua
execução.
Para Rogério Soares o procedimento é um conjunto de actos
funcionalmente ligados com vista a produzir um certo resultado, um efeito
único.
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É o modo de formação das decisões administrativas e da sua
manifestação e execução, traduz-se numa sucessão ordenada de formalidades,
actos e factos.
O procedimento surge como momento principal de um procedimento
dirigido à prática do acto administrativo, o que não invalida o facto de o
regulamento e o contrato administrativos surgirem no contexto de
procedimentos administrativos dirigidos à sua elaboração ou celebração.
É uma figura que pode servir várias finalidades importantes:
Tem o efeito prático de permitir perceber em que condições
podem os particulares aceder aos tribunais, pois devem estar sujeitos a
impugnação contenciosa os actos do procedimento que sejam principais ou
aqueles que produzam efeitos jurídicos externos.
Não são susceptíveis de impugnação judicial os actos do procedimento
que não possuam eficácia externa mas visem auxiliar a produção do acto final,
produzindo os seus efeitos externos através desse acto e na medida em que o
influenciem.
Procura ordenar a actuação da Administração, no sentido
de esta praticar a melhor decisão para a prossecução do interesse público que
está incumbida de prosseguir.
Pode acrescentar-se que o juiz está acima das partes, actua de forma
imparcial e objectiva com o fim de resolver um conflito de interesses ou uma
controvérsia sobre a verificação ou não em concreto de uma ofensa ou violação
à ordem jurídica; a Administração é parte, prosseguindo o interesse público
que pode ser considerado um interesse “seu”, na medida em que está
legalmente incumbida de o satisfazer. Assim, a função administrativa se
distingue da de julgar.
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Os objectivos da procedimentalização da actividade administrativa: a
participação e garantia de interesses (públicos e privados), a eficiência, a
coordenação e racionalização de tarefas complexas – finalidades que se
combinam em proporções variáveis, conforme os tipos e as espécies
procedimentais, sendo exponencialmente complexo naqueles casos em que se
defrontam, para além de interesses privados conflituantes, interesses públicos
contraditórios.
3) Fase Constitutiva
O agente fará uma avaliação final de todos os elementos recolhidos,
produzindo o acto principal ou típico, cujo pode ser:
o um acto simples, em que a declaração é uma só (emana de um
órgão singular ou colegial); ou
o um acto compósito ou composto em sentido amplo, com várias
pronúncias dirigidas ao mesmo objecto e com o mesmo fim imediato.
Dentro destes últimos se distinguem:
actos complexos: contêm manifestações de vários órgãos, no
mesmo sentido;
actos continuados: um sujeito emite várias pronúncias sucedidas
no tempo, mas unidas como se de um acto se tratasse;
actos compostos em sentido estrito: existe uma colaboração
directa entre duas autoridades, uma com a função de decidir e a outra com um
papel secundário de servir a autoridade competente.
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Dos actos compósitos se distinguem os actos contextuais: actos que, por
razões de ordem prática são emitidos sob a mesma forma (reunidos no mesmo
documento).
Podem ser:
o simultâneos: quando vários actos, de distintos órgãos, aparecem
reunidos sob a mesma manifestação externa como ordens semelhantes de
vários ministros publicadas simultaneamente);
o múltiplos ou plurais: vários actos, do mesmo órgão, que podem ter
conteúdo diferente mas são reunidos numa mesma forma, como a nomeação ou a
notação simultânea de vários funcionários.
A nota mais importante dos actos contextuais se prende com o facto
de não perderem a sua individualidade: são actos funcionalmente autónomos, o
que tem grande relevo prático em face da possibilidade de impugnação
autónoma de cada um desses actos.
Em regra, o procedimento termina com uma decisão final expressa que
deverá ser praticada por escrito (122.º) com as menções expressas previstas
no art. 123.º e devidamente fundamentada nos termos dos arts. 124.º e ss.
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3.10. Situações de urgência – dispensas procedimentais (19.º, 46.º/2 e
103.º/1 a) CPA) e a coacção directa policial, sujeita aos princípios da
proporcionalidade (adequação, necessidade e proporção ou equilíbrio).
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o actos válidos mas eficazes: é possível no caso dos actos
anuláveis. Este tipo de invalidade é determinada por vícios menos graves, a
ordem jurídica consente que tais actos produzam os efeitos para que tendem
até serem anulados pela Administração ou tribunais administrativos.
O pedido de anulação está sujeito a um prazo (até 1 ano), findo, o acto
não deixa de ser inválido mas estabilizar-se-á na ordem jurídica, pois não pode
ser atacado, continuando a produzir os seus efeitos. Quando expira o prazo
para a impugnação contenciosa, o acto torna-se inimpugnável.
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operatividade efectiva sendo um elemento constitutivo do acto administrativo
em questão.
Vigora o princípio geral da não retroactividade dos actos (128.º CPA).
Retrotracção: exprime a situação da produção de efeitos desde a fase
constitutiva; não se trata de verdadeira retroactividade, pois desde a fase
constitutiva que os efeitos do acto estavam latentes, só depois é que se
manifestam abertamente. Segundo Rogério Soares, se trata de um regresso à
origem.
Retrodatação: actos que, por força da lei, tinham que ser praticados
num determinado momento mas só o seriam mais tarde. Assim, os efeitos do
acto serão contados desde a data em que o acto deveria ter sido praticado,
como se realmente tivesse acontecido.
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Eficácia diferida: há lugar a diferimento da eficácia na hipótese de o
acto depender de termo inicial (suspensivo).
Eficácia condicionada: a decisão, conforme as circunstâncias, a natureza
do acto ou a disposição da lei, produzir os seus efeitos no momento em que se
verifica o facto condicionante ou então reportá-los (retrotracção) ao momento
constitutivo do acto.
A eficácia de um acto pode ser simultaneamente:
o diferida ou condicionada: se depender de trâmite integrativo da
eficácia ou de cláusula acessória;
o retroactiva ou retrotractiva: quanto ao reporte ou à contagem da
produção dos efeitos.
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efeitos do acto ao qual está aposta cessem a partir de um certo
momento que poderá ser acontecimento, uma data ou um período de
tempo.
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caso demonstrem que a demora na execução causa um prejuízo insuportável
para o interesse público; ou
nos casos previstos expressa ou inequivocamente na lei (ponderação
abstracta dos interesses em presença) – execução que só deveria ser admitida
depois de passado o prazo de impugnação judicial do particular.
7.1. Sujeito
Órgãos administrativos como sujeitos do acto administrativo: pessoas
colectivas públicas a que a ordem jurídica atribui a prossecução de um ou vários
interesses públicos, atribuindo-lhe os poderes correspondentes.
As pessoas colectivas públicas actuam através de órgãos, dotados de
competências para a prática de actos administrativos. Os órgãos representados
pelos titulares desses mesmos órgãos (pessoas físicas) responsáveis pela sua
actuação.
7.2. Objecto
É o ente no qual se projectam directamente os efeitos jurídicos visados
pelo acto e que pode ser uma pessoa, uma coisa ou um acto administrativo
anterior.
Objecto mediato ou propriamente dito: ente que sofre as
transformações jurídicas que qualquer acto administrativo visa produzir.
Objecto imediato: conteúdo.
3) Idoneidade: uma vez que o objecto seja possível, mas a lei não o
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considera adequado a receber transformações jurídicas. Ex: não se pode
nomear como funcionário uma pessoa que não reúna os requisitos legais
7.3. A Estatuição
7.3.1. Aspectos Substanciais
A estatuição é constituída pelo acto propriamente dito, aquilo que é
declarado. É composta por 4 elementos: fim, conteúdo, procedimento e forma.
1) Fim
Corresponde às necessidades que o acto visa pacificar e será um fim
público tipificado na lei.
A lei indica, de forma abstracta, determinados pressupostos que, uma
vez verificados em concreto, indicam ao agente administrativo a existência de
um interesse público que justifica e impõe a sua actuação.
2) Conteúdo
Corresponde à transformação jurídica que o acto visa produzir, sendo o
comando ou a disposição jurídica propriamente dita.
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administrativo produtor de vantagens para o seu destinatário, implicando a
imposição de um dever de fazer, de não fazer ou de suportar pelo seu
destinatário.
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Verificados, em concreto, os pressupostos abstractos, o agente
administrativo deve actuar conforme o que está estipulado na lei.
2) Forma:
maneira através da qual se exterioriza o acto administrativo
(122.º CPA);
fundamentação: declaração contida no acto administrativo, em
que
o autor do mesmo expõe os fundamentos de facto e de direito da sua decisão
(125.º/1 CPA).
motivação:
só tem lugar nos actos discricionários e consiste numa declaração
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sobre os motivos, ou seja, os interesses que o agente considerou significativos
para atribuir um determinado conteúdo ao acto na parte em que este envolva
discricionaridade.
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A inexistência não é necessária enquanto tipo de invalidade (133.º/1
CPA).
Anulabilidade Nulidade
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Momentos Estruturais Vícios Consequências Jurídicas
Incompetência Anulabilidade
SUJEITO
Falta de legitimação grave Nulidade
Falta de
Legitimação Falta de quorum Nulidade
Outras Anulabilidade
Indeterminação Nulidade
Nulidade
Ilegitimidade Anulabilidade
III. O CONTRATO ADMINISTRATIVO
É admitida a figura de contrato administrativo nos termos do art. 278.º
CCP.
Em geral é admitida a figura do contrato sobre o exercício de funções e
poderes públicos (1.º/6 c), in fine CCP) – ex: contratos para planeamento.
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Os critérios materiais subjacentes a esta enumeração se reconduzem à
ideia de um regime substantivo de direito público por determinação legal, pelo
seu objecto ou pelo seu regime exorbitante do direito privado.
A administratividade do contrato resultante da sua qualificação legal ou
pelas partes deve ser controlada substancialmente pela verificação de
características que justifiquem objectivamente a sua pertença aos contratos
de direito público: se a prestação do co-contratante pode condicionar ou
substituir, de forma relevante, a realização das atribuições do contraente
público.
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serviços públicos; locação ou aquisição de bens móveis; aquisição de serviços e
contrato de sociedade.
A isto acresce que, quando se trate de contratos inter-administrativos
(celebrados entre pessoas colectivas públicas) e de contratos celebrados por
organismos públicos, só os contratos que abranjam as prestações típicas das
referidas espécies contratuais estão sujeitos às regras de formação previstas
na Parte II (6.º/1 e 2 CCP). Assim como os contratos de concessão de uso
privativo ou de exploração do domínio público, os de prospecção e pesquisa
geológica, ou os de aquisição, arrendamento ou alienação de bens imóveis.
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O direito nacional também determina a aplicação a todos os contratos
administrativos dos princípios gerais da actividade administrativa que
constituem ou decorrem de preceitos constitucionais – 5.º/6 a) CCP.
O CCP salienta como princípios especiais em matéria de contratação
pública os princípios da transparência, da igualdade e da concorrência (1.º/4
CCP).
Na perspectiva da U.E o valor predominante na regulação dos
procedimentos de contratação é o da concorrência no interesse do mercado,
que assim prevalece sobre outros interesses públicos dos EM, sobretudo os
interesses financeiros.
Esboça-se uma tendência para contrapor ao princípio da concorrência o
princípio da eficiência – considerando a concorrência como um custo
operacional.
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A doutrina tem estabelecido as seguintes classificações que são
relevantes para efeitos de regime substantivo:
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contratos-programa, contratos de investimento, contratos de
desenvolvimento, contratos de licenciamento.
Através destes se conferem posições não-precárias ou não
subordinadas, o co-contratante particular desenvolve uma actividade própria
que interessa ao contraente público.
c)
o Contratos com objecto passível de acto administrativo: a
Administração pode optar pela forma de acto administrativo ou contrato
administrativo;
d)
o Contratos com efeitos principais restritos às partes (a generalidade
dos contratos);
o Contratos com eficácia normativa externa: em especial, afecta a
esfera jurídica de terceiros. São estipuladas cláusulas que prescrevem deveres
para uma das partes que beneficiarão terceiros – Ex: concessão de serviços
públicos e de obras públicas.
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concessões de uso privativo do domínio público, concessão de exploração de
jogos de fortuna ou azar;
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diferenciação de regime em função dos diversos tipos contratuais ou das
espécies concretas que, não se esgota nos regimes dos contratos especiais
previstos no CCP e acima referidos.
5. Vicissitudes do Contrato
1) Modificação Objectiva do Contrato
As cláusulas contratuais podem ser objecto de modificações formais,
quanto ao conteúdo ou quanto ao modo de execução das prestações, que podem
resultar:
a) acordo escrito entre as partes;
b) decisão judicial ou arbitral;
c) acto administrativo unilateral do contraente público, com fundamento
em razões de interesse público (311.º CCP).
6. Extinção do Contrato
Causas de Extinção – 330.º CCP
7. Invalidade do Contrato
7.1. Invalidades derivadas (é sempre total)
As decisões e os documentos pré-contratuais relevantes
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São várias as decisões pré-contratuais susceptíveis de influenciarem a
validade do contrato e a adjudicação.
Vícios pré-contratuais potencialmente invalidantes do contrato: escolha
errada do procedimento, a admissão indevida de concorrentes, a violação dos
princípios da comparabilidade ou da estabilidade das propostas ou do princípio
da imparcialidade, a adjudicação, a proposta com preço anormalmente baixo.
Os vícios podem ocorrer no conteúdo dos documentos concursais:
anúncio, programa de concurso, caderno de encargos.
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Regra: anulabilidade dos contratos celebrados com ofensa de princípios
ou normas injuntivas (284.º/1).
É determinada a nulidade dos contratos quando o vício implica (por
determinação legal ou princípio geral de direito administrativo) a nulidade de
um acto administrativo em situação análoga (284.º/2) – o contrato será nulo.
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