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809-6298
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Vista aérea Letchworth, a primeira Cidade-Jardim
[www.letchworthgardencity.net]

Cottages projetadas em 1906 por Parker ed Unwin para a Garden City Tennants
Ltd [www.letchworthgardencity.net]

Diagrama de Howard. Os três imãs [LUCEY, Norman]


Diagrama de Howard. Planejamento (a cidade não podia ser desenhada até ser
selecionado o local) [LUCEY, Norman]

Diagrama de Howard. Distrito e Centro (a cidade dividida em 6 setores)


[LUCEY, Norman]

Diagrama de Howard. Constelação de cidades [LUCEY, Norman]


New Lanark, vila modelo de Robert Owen, 1813. Foto atual, 2003
[www.newlanark.org]

New Lanark, casa de Robert Owen [www.newlanark.org]

New Lanark, gravura do século XIX [www.newlanark.org]

Plano de Port Sunlight, 1887. Willian H. Lever [www.portsunligh.org.uk]


Welwyn, 1920. A segunda cidade-jardim [LUCEY, Norman]

Radburn, a idéia de superblocks Clarence Stein, 1928 [www.radburn.org]

Village Homes, 1973. Davis, Califórnia. Projeto com orientação norte-sul


para as moradias e rede de caminhos para pedestres e ciclovias [Community
Greens / www.web.mit.edu/course/11/11.328j/www/index.html]
O período pós-industrial do final do século XIX nos países industrializados
foi marcado pela expansão urbana e crescimento econômico e esse processo pode
ser comparado ao final do século XX nos países em desenvolvimento. Sob a ótica
do desenvolvimento sustentável, torna-se importante analisar propostas
urbanísticas que buscaram um equilíbrio entre o crescimento econômico e os
problemas sociais integrados ao desenho da paisagem, como os ideais Ebenezer
Howard para o movimento das Cidades-Jardins na Inglaterra.

É evidente que, essa análise é no sentido de fazer uma releitura de exemplos e


tirar lições para que novas soluções sejam aplicadas no ambiente urbano nos
países não-industrializados e não sejam repetidos os mesmos erros do passado.

As viradas dos dois séculos foram marcadas por similaridades e diferenças que
devem ser ressaltadas. As similaridades são mais evidentes no processo de
urbanização devido ao inchaço populacional nas grandes cidades e impactos
sociais e ambientais decorrentes do processo de crescimento. Tais problemas
urbanos podem ser considerados bem atuais como: pobreza, falta de moradia, de
coleta de lixo, de rede de água e esgoto, ruas estreitas que impediam a
circulação de ar e do sol, moradias amontoadas, poluição e falta de espaços
para lazer, uma degradação do ambiente urbano e dos recursos naturais.

As diferenças podem ser analisadas principalmente em relação ao progresso que,


de promotor de riqueza, passou a causador de impactos ambientais e sociais. De
acordo com Burstyn (1), o final do século XIX passou para o final do século
passado de uma interdependência de mercados para uma globalização e exclusão
de regiões desnecessárias por meio da tecnologia de informação e tem no
Mercado a instância reguladora ao invés do Estado. Além disso, de uma forte
crença no papel da ciência e tecnologia na resolução dos problemas, passou
para um desencanto e consciência da necessidade de precaução.

Outra grande diferença entre os finais de século é o aumento populacional do


planeta e a grande concentração desta população nos centros urbanos dos países
periféricos, que faz crescer as diferenças dos países do sul em relação aos
países desenvolvidos do norte e também as desigualdades sociais nos próprios
países.

Alva (2) afirma que essa acelerada expansão urbana acabou por criar
deseconomias de aglomeração e por inverter o sentido das externalidades, as
quais passam a ser negativas. Estas se apresentam materialmente como
degradação do meio ambiente urbano como a contaminação das águas, produção
excessiva de calor, uso irrestrito do automóvel queimando combustíveis
fósseis, gases e partículas que permanecem em suspensão e a produção de
resíduos industriais e domésticos não recicláveis pelos sistemas produtivos,
nem biodegradáveis pela natureza. Esses fatos põem definitivamente em cheque o
modelo metropolitano tradicional de ordenamento territorial que se limita a
indicar quais são as funções previstas e a compatibilidade entre elas.

As interações das cidades com o ambiente natural têm que ser consideradas como
lugares com recursos próprios com demandas necessárias para sua manutenção e
seu desenvolvimento. Portanto, o conceito de desenvolvimento urbano
sustentável passa por uma estratégia de ecologia urbana que coloca a cidade
como um meio ambiente construído não apenas como usuário do ambiente natural,
mas também como fontes de recurso.

De acordo com esta visão, os aglomerados urbanos deveriam ser analisados como
ecossistemas complexos, embora com um metabolismo mais intenso, onde o
metabolismo urbano deve ser analisado como um intercâmbio de matéria, energia
e informação entre o assentamento urbano e seu contexto geográfico. Conforme
coloca Rueda (3):

“... as cidades são ecossistemas interdependentes de outros sistemas que


constituem seu entorno, formando uma unidade íntima cidade-entorno ”.

O diagnóstico para intervenções futuras deve basear-se em princípios e regras


que organizam este ecossistema urbano de forma a minimizar a entropia
projetada para o entorno e reduzir os impactos locais e regionais. As
possibilidades para o planejamento devem caminhar na busca da sustentabilidade
de forma a manter os estoques de recursos não naturais e naturais para
benefícios futuros, prevalecendo, é claro, a lógica dos recursos irreversíveis
sobre os reversíveis.

O pensamento de Howard se torna atual na medida em que suas preocupações de


integração entre cidade-campo (os três imãs) eram uma estratégia de
planejamento regional para evitar o fluxo migratório em direção às grandes
cidades: cidades auto-organizadas interligadas por um sistema de transporte
público eficiente seriam formadas juntamente com o estabelecimento de
indústrias e cinturões agrícolas, que absorveriam os resíduos sólidos urbanos.

“... O lixo da cidade será utilizado nas parcelas agrícolas da propriedade,


possuídas por vários indivíduos na forma de grandes fazendas, sítios, lotes,
pastagens, etc...” (4)

Hoje, esse encontro de atividades rurais e urbanas, essa heterogeneidade


socioeconômica com fluxos de gente, de produção industrial e agrícola, de
mercadorias, de capital, de informação, de recursos naturais e resíduos, na
periferia dos grandes centros são vistas pelo planejamento regional dos países
ricos como uma estratégia importante nos processos de troca e oportunidades.

O planejamento das Cidades-Jardins

A visão utópica de Howard foi uma tentativa de resolver os problemas de


insalubridade, pobreza e poluição nas cidades por meio de desenho de novas
cidades que tivessem uma estreita relação com o campo. Ele apostava nesse
casamento cidade-campo como forma de assegurar uma combinação perfeita com
todas as vantagens de uma vida urbana cheia de oportunidades e entretenimento
juntamente com a beleza e os prazeres do campo;

“... cidade e campo devem estar casados, e dessa feliz união nascerá uma nova
esperança, uma nova vida, uma nova civilização”. (5)

Desta união, o movimento das pessoas de cidades congestionadas se daria


naturalmente como um imã para uma cidade próxima da natureza que ele
considerava ser fonte de vida, riqueza e felicidade. Além disso, a indústria
se deslocaria para o campo como estratégia de desenvolvimento econômico
simultaneamente a produção agrícola que teria mercados prontos da cidade
próxima ao núcleo rural.

Sua intenção não era criar um subúrbio jardim, mas uma entidade cidade-campo
em combinação permanente com dimensões controladas de 2.400 hectares para
32.000 pessoas, sendo 2.000 hectares para a área rural de 2000 habitantes e
400 hectares para a parte urbana de 30000 habitantes dividas em 6 partes ou
bairros com 5.000 habitantes. A zona agrícola agiria como um amortecedor
contra o crescimento incontrolável do centro populacional. Para Howard, quando
uma cidade atingisse a sua capacidade de suporte, novas cidades deveriam ser
formadas em torno de uma cidade central de 58.000 habitantes, um núcleo
cultural, formando uma constelação de cidades interligadas por meio de
ferrovias e rodovias.

Dentro dos ideais de Howard, o direito ao espaço era o mais defendido por ele,
por influencia do cooperativismo, onde as terras agrícolas adquiridas para a
instalação da cidade seriam registradas em nome de industriais de posição
responsável e honra indubitável que arrendariam para os futuros moradores. O
lucro comumente obtido pelo empresário loteador serviria para amortizar a
dívida do empréstimo e seria revertido para a comunidade, em forma de infra-
estrutura e edifícios públicos como patrimônio coletivo. O comércio e a
indústria seriam incentivados por meio de baixas taxas e longos prazos de
arrendamento para possibilitar a fixação de novos moradores.

Howard concebia sua Cidade-Jardim de forma a propiciar aos homens mais


liberdade em uma vida comunitária renovada, diferentemente de empreendedores
que pensam somente na eficácia e no rendimento. De acordo com Otoni (6), ele
tinha a síntese conciliadora entre o socialismo e o individualismo, pois não
acreditava no liberalismo do Estado Inglês e nem na atuação do Estado
socialista controlador de todas as atividades. Reduzia o papel do Estado ao
município e acreditava que sua cidade-jardim poderia ser uma empresa privada.
Por isso Howard teve apoio das mais variadas posições políticas com sua
posição moderadora.

Em 1903, a “Primeira Cidade-Jardim Ltda” foi registrada como propriedade mista


autorizada para vender ações para levantar o capital necessário. Isto
significa que nenhuma cooperativa formal foi estabelecida e não ficou claro
quando as posses de terras seriam transferidas para a comunidade. Isto só veio
a ser concretizado sessenta anos depois.

O desenho das Cidades-Jardins

Apesar de pertencerem a modelos diferentes de desenho urbano na fase pré-


urbanista classificados por Choay, o movimento das Cidades-Jardins teve como
fonte inspiradora as experiências de implantação de comunidades planejadas
para serem auto-organizadas do século XIX, como os empreendimentos de
industriais preocupados com a qualidade de vida de seus empregados. Além de
proporcionarem melhores condições de trabalho, acreditavam que os conjuntos
habitacionais junto às fábricas e implantados no campo poderiam ter um efeito
saudável sobre os trabalhadores e conseqüentemente retornaria em benefícios
para a indústria.

De acordo com Choay (7), esses modelos pré-urbanos do século XIX são
criticados por sociólogos, pois a cidade não era vista como um processo, mas
como um objeto reprodutível, extraída da temporalidade concreta, portanto,
utópica, apesar das preocupações realistas socioeconômicas do autor da Cidade-
Jardim. Para Choay, esse modelo é culturalista, expressado nos desenhos de
Unwin e Parker em Letchworth, pois prevalece a visão cultural sobre a
racionalista progressista, ou seja, as necessidades espirituais e artísticas
representadas por espaços com formas menos rigorosas com particularidades e
variedades prevalecem sobre a lógica racional dos espaços aplicados para
qualquer lugar do modelo progressista como a Vila de Owen e o Falanstério de
Fourier.

Bourniville e Port Sunlight, implantadas por Cadbury e Lever, respectivamente,


foram assentamentos situados próximos às industrias para proporcionar melhores
condições de vida aos trabalhadores.Todas as implantações e construções foram
custeadas pelos industrialistas sem expectativas de retorno financeiro. De
acordo com Newton (8), o desenho de Port Sunlight foi pensado em moradias com
jardins individuais e grandes áreas de espaços públicos abertos, com áreas de
estacionamento, talvez a primeira idéia de superblocks identificados
posteriormente em Radburn nos EUA.

Howard era um estudioso das idéias de Cadbury e Lever, que posteriormente


vieram a se juntar a ele, em 1902, na Associação da Cidade-Jardim com a
“Companhia Pioneira Limitada” para a futura construção da primeira cidade-
jardim.

A primeira Cidade-Jardim, Letchworth, foi projetada em 1903 com traçado


simples, claro e informal, diferentemente de configurações geométricas
rigorosas de tradição clássica renascentista, com um centro urbano elevado
composto de árvores de porte e edifícios municipais, próximo à estação. Essa
cidade foi dividida em regiões de 5.000 habitantes com suas próprias infra-
estruturas.

O desenho da cidade proposto pelos arquitetos Unwin e Parker segue o


pensamento de Camillo Sitte que propunha o traçado orgânico próprio à escala
humana com referência as cidades medievais que eram mais próxima ao campo.
As habitações para as diversas classes sociais formam blocos isolados entre
si, recuadas do alinhamento do terreno, com jardins fronteiriços. As ruas têm
acesso secundário com “ cul de sac” e passeios com gramas, arbustos e árvores
que dão continuidade ao verde dos espaços públicos. Além desses aspectos a
cidade foi pensada como auto-suficiente em termos de indústria e terras
agrícolas, diferente da idéia de subúrbio.

Welwyn, a segunda Cidade-Jardim projetada por Louis de Soissons em 1920, foi


uma ousadia de Howard de planejamento regional visto que havia uma
impossibilidade de se desenvolver uma política urbana abrangente e de âmbito
nacional. Uma das características mais felizes de Soissons para Welwyn foi o
cuidado com a preservação das condições ambientais, projetando amplos espaços
verdes para recreação, principalmente na periferia da cidade central, ao longo
dos limites dos cinturões agrícolas.

A Cidade-Jardim e o Ecourbanismo

Após a primeira guerra mundial, o movimento de Cidades-Jardins gradualmente se


tornou um movimento de planejamento de novas cidades para a reconstrução na
Inglaterra. Entretanto, a política habitacional aprovada era de cunho
imediatista e visava a construção de um maior número de casas, sem qualquer
visão abrangente. Somente após a segunda guerra aprova-se um programa com
grandes similaridades ao planejamento de Howard, o “ New Towns Act ” de 1946.
Embora o sucesso de Lethworth tenha sido concreto, a idéia de Cidade-Jardim
tornou-se amplamente incompreendida e era comum confundí-la com subúrbios-
jardins que se espalharam pelos arredores de Londres, o que Howard tinha
tentado eliminar com suas propostas.

Segundo Newton (9), posteriormente, nos EUA, foram produzidos exemplos muito
importantes e representativos baseados nos princípios de Howard, porém, as
primeiras vozes do planejamento não foram de industriais preocupados com os
trabalhadores e o desenvolvimento socioeconômico, mas de profissionais de
arquitetura da paisagem que davam ênfase ao desenho físico e os aspectos da
vida em comunidade como Olmested, Vaux e Cleveland.

Em 1928, Clarence Stein, em sintonia com as idéias de Howard, projetou


Radburn, com as moradias e jardins individuais, ruas em cul de sac com
separação de pedestres e veículos através dos superblocks. Os acessos ao
centro comunitário, à escola, aos playgrounds podem ser feitos por pedestres e
são compostos por um sistema de caminhos interceptados pelos parques,
repercutindo bem a idéia de unidades de vizinhança. Embora tenham sido
projetados, não tem indústrias e nem cinturão agrícola. Por isso, a partir
dessa época, os subúrbios jardins expandem-se nos EUA de maneira unilateral,
sem conteúdo social.

O efeito da suburbanização nos EUA com subdivisões residenciais, zoneamento


com faixas comerciais e parques industriais e comerciais, isolados
fisicamente, causam vários impactos ambientais, dentre eles: a dependência do
automóvel, o aumento da poluição, devastação de florestas e terras agrícolas,
a concentração de pobreza nas áreas centrais e altos custos de urbanização.
Além disso, causam também o enfraquecimento do espírito comunitário.

Apesar desse efeito e da memória de Ebenezer Howard e seu conceito de Cidade-


Jardim estarem enfraquecidos, a partir dos anos setenta, década da “Primeira
Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente em Estocolmo (1972)”,
começam a surgir alguns empreendimentos com preocupações ecológicas, motivados
pelo movimento ambientalista.

Um bom exemplo de um empreendimento que reforça a validade e a atualidade das


idéias de Howard,é o condomínio de Village Homes na cidade de Davis na
Califórnia. Este empreendimento, de visão de planejamento urbano ampliado,
começou a sua construção em 1973, em terras agrícolas próxima a Universidade
da Califórnia. O projeto foi idealizado pelo arquiteto ambientalista Michael
Corbett, cujo desenho urbano tem dimensões controladas, grandes cinturões
verdes e agrícolas, diversos usos da terra, como habitações, comércio,
empresas de pequeno porte e uma rede de caminhos para pedestres e ciclovias
que é interligado na rede da cidade.

O objetivo dos arquitetos empreendedores de Village Homes era criar uma


comunidade modelo, de vizinhança, visando às questões ambientais como:
conservação de energia, coleta seletiva de lixo, aproveitamento da compostagem
para hortas e pomares, reaproveitamento da água da chuva através dos canais de
infiltração, produção de alimentos no local e redução do uso do automóvel.

A partir do desenho urbano de uma comunidade de vizinhança foi possível criar


a integração dos moradores através de espaços comunitários a cada grupo de
oito casas. Além desses espaços, esta comunidade possui outras áreas de
convivência, como os pomares, áreas de lazer e um centro comercial
administrado pela própria comunidade. Tudo é interligado por uma rede de
ciclovias e caminhos para pedestres. Um estudo recente feito pela Universidade
da Califórnia revelou que em Village Homes os moradores conhecem em média 42
pessoas em sua vizinhança comparado à 17 pessoas de outros empreendimentos
convencionais. Isto torna o condomínio mais seguro fazendo com que se reduza a
taxa de crimes na região.

Os espaços residenciais são intercalados com espaços de usos comerciais e para


a agricultura, e áreas comuns promovem a interação social. Os residentes
cultivam vegetais, frutas, flores e ervas para uso doméstico
As ruas são estreitas no sentido leste-oeste com cul de sacs e compostas por
um alinhamento de árvores de forma a minimizar o uso de automóveis e reduzir a
temperatura. Todas as moradias são alinhadas no sentido norte-sul para melhor
aproveitamento energético.

O sistema de drenagem de águas pluviais foi resolvido por meio de canais de


infiltração como córregos sazonais com pedras, arbustos e árvores. A água que
corre das ruas vão diretamente para estes largos canais que pode vagarosamente
penetrar no solo para não interromper o ciclo hidrológico. Esse sistema teve
dificuldades para a sua aprovação no departamento de drenagem da cidade de
Davis, mas hoje, com as chuvas fortes ocorridas na região, provou sua
eficiência suportando uma capacidade superior ao sistema de drenagem
tradicional.

Além do desenho urbano inspirado em bairros da Cidade-Jardim, os


empreendedores de Village Homes buscaram no sistema cooperativismo defendido
por Howard a implantação da Companhia de Village Homes que detém a propriedade
dos espaços públicos, para que os lucros de venda de alimentos e aluguéis de
lojas sejam revertidos para a comunidade.

Considerações finais

Conforme analisado ao longo do texto, alguns princípios de desenvolvimento


urbano sustentável podem ser identificados no modelo de Cidade-Jardim tais
como: tamanho controlado com acessibilidade aos espaços verdes e aos
pedestres, transporte público adequado, uso misto (de-zoneamento),
reaproveitamento de resíduos sólidos em terras agrícolas e centros comerciais
com economia local. Porém, outros princípios precisam ser reformulados ou
completados.

Uma das grandes críticas ao modelo de Cidade-Jardim sob o ponto de vista da


sustentabiliade é o efeito da suburbanização que este causou, ou seja, a
expansão urbana com baixas densidades que ocupam terras agricultáveis. Este
efeito é melhor percebido nos EUA, e hoje no Brasil é representado pela
expansão de condomínios irregulares sem infra-estrutura econômica e
preocupações ecológicas.

Apesar desse efeito, deve-se considerar que o caminho para o desenvolvimento


urbano sustentável é justamente tentar completar as partes ausentes nos ideais
de Howard, um utopista do século XX, que acreditava na possibilidade de
planejamento de comunidades balanceadas com mistura de classes sociais,
desenvolvimento econômico, sistema de cooperativismo e bem estar social
atrelado ao desenho da paisagem.

Os ideais para a construção de Cidades-Jardins foram utópicos, da mesma forma


que a realização do condomínio Village Homes foi muito difícil em 1973 e seus
idealizadores tiveram que enfrentar a rejeição de, nada menos que, vinte
tentativas de financiamento. Além disso, naquela época nem existia o conceito
de desenvolvimento sustentável e as instituições públicas nem sequer
preocupavam com a questão ambiental. A comunidade de vizinhança de Davis não
só se tornou possível como virou modelo para o mundo inteiro. Mas ao mesmo
tempo ela é utópica pois são poucas comunidades urbanas do planeta que
conseguiram tal conquista.

notas
1
BURSZTYN, Marcel (org). Ciência, ética e sustentabilidade: desafios ao novo
século. São Paulo, Cortez Editora, 2001.
2
ALVA, Eduardo Neira. Metrópoles (in)sustentáveis. Rio de Janeiro, Relume
Dumará, 1997.
3
RUEDA, Salvador. Modelos de ciudad: indicadores básicos. Las escalas de la
sostenibilidade. Quaderns D’arquitetura e urbanismo. Barcelona, Collegio D’
Arquitetos de Catalunya, mar. 2000, p. 27.
4
HOWARD, Ebenezer. Cidades-Jardins de amanhã. Tradução: Marco Aurélio Lagonego,
Introdução: Dácio Araújo Benedito Otoni. São Paulo, Estudos Urbanos, Série
Arte e Vida Urbana, Hucitec, 1996, p. 116.
5
Idem, ibidem, p. 108.
6
OTONI, Dácio Araújo Benedito. Introdução. In HOWARD, Ebenezer. Op. cit.
7
CHOAY, Françoise. O Urbanismo – utopias e realidades, uma antologia. 5ª
edição, Editora Perspectiva SA, São Paulo, 1998.
8
NEWTON, Norman T. Design on the land. The development of landscape
architecture. The Belknap Press of Harvard University, Press Cambridge,
Massachusets, 1971.
9
Idem, ibidem.
bibliografia complementar
CORBETT, Judy e Michael. Designing sustainable communities: learning from
Village Homes. Washington, DC and Covelo, Island Press, 2000.
KEM F. TO. Transformation of our cities: new approaches in urbanism. London,
Architetural Association Graduate School.
LUCEY, Norman. The effect of Sir Ebenezer Howard and the garden city movement
of twentieth century town planning. Rickmansworth, Hertfordshire, 1973.
Internet: http://rickmansworthhertts.freeserve.co.uk
PIERCE, Margaret. Letchworth Garden City (1903-2003). Letchworth Garden City,
Yesterdays World Publications, 2003. Internet: http://letcworthgardencity.net
ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta.
Barcelona, Gustavo Gilli, 1997
RUANO, Miguel. Ecourbanism, sustainable human settlements: 60 case studies.
Barcelona, Gustavo Gili, 2a edição, 2000.
STRICKLIN, Carol. Adpating the garden cities concept. Florida, APA National
Planning Conference, Orange County Planning Divisons, 2000.
Websites de interesse
Community Greens. Srared Parks in Urban Blocks. http://communitygreens.org
Center of Excellence for Sustainable Development. Succes Stories.
www.sustainable.doe.gov
In Context – A Quarterly Of Humane Sustainable Culture – A model solar
community proves its worth by Bill Browning and kim Hamilton.
www.incontext.org
Rocky Mountain Institute. www.rmi.org/sitepages/pid209.php
Heroes for the Plannet Heroes Galleries.
www.time/reports/environment/heroes/heroesgallery/0,2967,Corbett,00.html
Davis CA. http://eslarp.uiuc.edu/la/la338-501/groups/c/DavisCA.html

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