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Manual de Tronco Comum

Antropologia

Cultural
Código: A0015

Universidade Católica de Moçambique (UCM)


Centro de Ensino à Distância (CED)
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Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Centro de Ensino à
Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação e/ou reprodução deste

manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos,
mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade
Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é
passível a processos judiciais.
Elaborado Por: Alamba Feliciano Napulula
Licenciado em Antropologia pela FLCS (Faculdade de Letras e Ciências Sociais) da UEM
(Universidade Eduardo Mondlane) de Moçambique

Bacharel em Ciências Sociais: orientação em Sociologia pela ex-UFICS (Unidade de Formação e


Investigação em Ciências Sociais) da UEM.
Universidade Católica de Moçambique (UCM)
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Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique (UCM) – Centro de Ensino à Distância (CED) e o autor do
presente manual, Alamba Feliciano Napulula, agradecem a colaboração de todos que directa ou

indirectamente participaram na elaboração deste manual. À todos sinceros agradecimentos.


Antropologia Cultural Código: A0015 i

Índice
Visão Geral do Módulo 1
Benvindo a Antropologia Cultural....................................................................................1
Objectivos do Módulo.......................................................................................................2
Destinatários do Módulo...................................................................................................3
Como está estruturado este módulo...................................................................................3
Habilidades de estudo........................................................................................................4
Precisa de apoio?...............................................................................................................4
Tarefas (avaliação e auto-avaliação).................................................................................5
Avaliação...........................................................................................................................5

Unidade N0 01-A0015 7
Tema: Antropologia como Ramo de Conhecimento.........................................................7
Introdução................................................................................................................7
História da Antropologia...................................................................................................7
Exercícios..........................................................................................................................9

Unidade N0 02-A0015 10
Tema: Definição do Objecto, Método e Técnica de Estudo em Antropologia................10
Introdução..............................................................................................................10
Sumário............................................................................................................................10
Objecto de Estudo da Antropologia…………………………………………………………..10
Método de Estudo em Antropologia………………………………………………………….11
Técnica de Estudo em Antropologia………………………………………………………….11
Exercícios........................................................................................................................12

Unidade N0 03-A0015 13
Tema: Teorias Antropológicas........................................................................................13
Introdução..............................................................................................................13
Evolucionismo.................................................................................................................13
Funcionalismo………………………………………………………………………………..13
Estruturalismo………………………………………………………………………………...14
Difusionismo………………………………………………………………………………….14
Antropologia Cultural Código: A0015 ii

Exercícios........................................................................................................................15

Unidade N0 04-A0015 16
Tema: Especificidade da Antropologia...........................................................................16
Introdução..............................................................................................................16
Sumário............................................................................................................................16
Antropologia Social e Cultural…….…………………………………………………………16
Antropologia Política…………………………………………………………………………17
Antropologia Económica……………………………………………………………………..17
Exercícios........................................................................................................................18

Unidade N0 05-A0015 19
Tema: Dinâmica Cultural................................................................................................19
Introdução..............................................................................................................19
Sumário............................................................................................................................19
Conceito de Cultura…………………………………………………………………………..19
Localização da Cultura………………………………………………………………………..19
Essência da Cultura…………………………………………………………………………...20
Estrutura da Cultura………….……………………………………………………………….21
Funções da Cultura……………………………………………………………………………22
Exercícios……………………………………………………………………………………..23

Unidade N0 06-A0015 24
Tema: Organização Social...............................................................................................24
Introdução..............................................................................................................24
Sumário............................................................................................................................24
Conceito de Família…………………………………………………………………………..24
Funções da Família…………………………………………………………………………...24
Tipos de Família………………………………………………………………………………26
Classificação quanto a Autoridade……………………………………………………………26
Exercícios……………………………………………………………………………………..27

Unidade N0 07-A0015 28
Tema: O Parentesco.........................................................................................................28
Introdução..............................................................................................................28
Sumário............................................................................................................................28
Definição de Parentesco………………………………………………………………………28
Filiação e Descendência………………………………………………………………………29
Antropologia Cultural Código: A0015 iii

Terminologia do Parentesco…………………………………………………………………..30
Exercícios........................................................................................................................31

Unidade N0 08-A0015 32
Tema: Casamento............................................................................................................32
Introdução..............................................................................................................32
Sumário............................................................................................................................32
Definição de Casamento........................................................................................32
Regras de Casamento………………………………………………………………………....33
Modalidades ou Tipos de Casamento………………………………………………………...34
Quanto a Residência…………………………………………………………………………..34
Quanto a participação na
Herança…………………………………………………………….35
Exercícios........................................................................................................................36

Unidade N0 09-A0015 37
Tema: Ritos e Cerimónias Tradicionais..........................................................................37
Introdução..............................................................................................................37
Sumário............................................................................................................................37
Rito de Iniciação....................................................................................................38
Rito de Passagem...................................................................................................38
Rito de Purificação.................................................................................................38
Funções do Rito......................................................................................................38
Exercícios........................................................................................................................39

Unidade Nº 10-A0015 40
Tema: A Questão da Religião………………………………………………………….40
Introdução…………………………………………………………………………………….40
Sumário……………………………………………………………………………………….40
Conceito de Religião…...……………………………………………………………………..40
Exercícios……………………………………………………………………………………..41

Unidade N0 11-A0015 42
Tema: A Sexualidade.......................................................................................................42
Introdução..............................................................................................................42
Sumário............................................................................................................................42
Perspectivas Naturalista ou Essencialista da Sexualidade.....................................42
Exercícios…………..…………………………………………………………………………43
Antropologia Cultural Código: A0015 iv

Unidade N0 12-A0015 44
Tema: Natureza das Raças...............................................................................................44
Introdução..............................................................................................................44
Sumário............................................................................................................................44
Da Raça ao Racismo..............................................................................................44
Efeitos do Racismo................................................................................................45
Exercícios........................................................................................................................46

Unidade Nº 13-A0015 47
Tema: Conceitos de Linhagem, Clã e Etnia...................................................................47
Introdução..............................................................................................................47
Sumário............................................................................................................................47
Conceito de Linhagem...........................................................................................48
Conceito de Clã......................................................................................................48
Conceito de Etnia......................................................................................................................48
Exercícios........................................................................................................................48

Unidade Nº 14-A0015 49
Tema: A Diferenciaçao Social………………………………………………………….49
Introdução…………………………………………………………………………………….49
Sumário……………………………………………………………………………………….49
Génese da Diferenciação Social…………………………………………………………..…..49
Diferenciação por Género…………………………………………………………………….50
Diferenciacao por Idade………………………………………………………………………51
Exercícios……………………………………………………………………………………..52

Unidade N0 15-A0015 53
Tema: O Mito..................................................................................................................53
Introdução..............................................................................................................53
Sumário............................................................................................................................53
Genese e Definicao do Mito...................................................................................53
Características do Mito……………………………………………………………...……54
Funções do Mito………………………………………………………………………….55
Exercícios…………..…………………………………………………………………………56

Unidade N0 16-A0015 57
Tema: Os Processos Identitarios......................................................................................57
Introdução..............................................................................................................57
Antropologia Cultural Código: A0015 v

Sumário............................................................................................................................57
Identidade Social....................................................................................................58
Exercícios........................................................................................................................60

Unidade Nº 17-A0015 61
Tema: Identidade Cultural na Epoca Contemporanea....................................................61
Introdução..............................................................................................................61
Sumário............................................................................................................................61
Epoca Contemporanea e Identidade Cultural.........................................................61
Exercícios........................................................................................................................64

Unidade Nº 18-A0015 65
Tema: A Constituicão da Etno Espacos em Contextos Urbanos……………………….65
Introdução…………………………………………………………………………………….65
Sumário……………………………………………………………………………………….65
Os Etno Espaços…..…...……………………………………………………………………..65
Exercícios……………………………………………………………………………………..67

Unidade N0 19-A0015 68
Tema: Representacoes Sociais de Saude e Doenca.........................................................68
Introdução..............................................................................................................68
Sumário............................................................................................................................68
Saude e Doenca......................................................................................................69
Representações de Saúde e Doença………………………………………………………70
Exercícios…………..…………………………………………………………………………73

Unidade N0 20-A0015 74
Tema: Natureza das Raças...............................................................................................74
Introdução..............................................................................................................74
Sumário............................................................................................................................74
Comunidades Rurais e Modo de Producao............................................................74
Modos de Producao das Comunidades Rurais.......................................................76
Exercícios........................................................................................................................77

Exercícios para Resolver……………………………………………………………………78

Referência Bibliográfica……………………………………………………………….……79
Antropologia Cultural Código: A0015 1

Visão Geral
Bem-vindo a Antropologia
Cultural
A Antropologia Cultural é um módulo integrante dos cursos ministrados
pela UCM – CED. De modo geral falar da Antropologia, é no fundo
discutir e situar a nossa condição humana entanto que produto cultural,
ou seja, é ver e perceber que o homem é simultaneamente produto e
produtor da sociedade, visto que os comportamentos, crenças, hábitos e
costumes do homem resultam da convivência deste dentro de uma
sociedade concreta e reflectem as aspirações de cada povo em
determinado momento.

Neste sentido, vemos que o homem biologicamente é um ser semelhante


e que culturalmente totalmente diferente, uma vez que a forma como cada
sociedade organiza e concebe o seu modo de vida não é o mesmo para
diferentes sociedades e nem mesmo para uma mesma sociedade em
tempos diferentes.

Moçambique, a semelhança de alguns países africanos possui uma


diversidade cultural bastante interessante, pois que representa um
mosaico cultural, em que diferentes povos interagem com os seus hábitos
e costumes ao longo do tempo dentro de um mesmo espaço, havendo
influências recíprocas em cada um destes grupos no que se refere aos
seus valores.

Neste sentido, o presente módulo nos ajudará a entender cada indivíduo


entanto que um produto cultural, olhando para aquilo que são as nossas
especificidades decorrentes da pertença a determinada sociedade, e a
partir destes valores estarmos em condições de interagir com os demais.

Iremos nos centrar essencialmente na definição da Antropologia, discutir


o conceito de cultura e sociedade, etnias sociais: parentesco, casamento,
família, etc., e questões tais como género e raça que se afiguram como
parte integrante da disciplina e de destaque no nosso dia á dia.
Antropologia Cultural Código: A0015 2

Objectivos do curso
Toda e qualquer acção humana têm em vista um determinado objectivo
que tanto pode ser geral ou específico. Assim, o presente módulo de
Antropologia Cultural, tem como objectivos
 Geral: Introduzir e dotar os estudantes de fundamentos da ciência
antropológica entanto que ramo de conhecimento científico,
social e cultural,
 Específicos: dar a conhecer os principais conceitos, escolas
teóricas e pensadores e problemas/questões tratadas pela
Antropologia como ciência;
 Analisar os diferentes fenómenos socioculturais das nossas
sociedades a luz dos conhecimentos antropológicos;
 Explicar a importância de se ter em conta as questões
socioculturais no processo de interacção entre indivíduos e
grupos em cada momento e época concreta a partir da
consideração das diferenças socioculturais; e
 Despoletar nos estudantes a reflexão sobre a importância do saber
antropológico na compreensão da sociedade Moçambicana.
Antropologia Cultural Código: A0015 3

Destinatários do Módulo
O presente módulo foi concebido, tendo em vista os estudantes que
frequentam os cursos de ensino à distância, oferecidos pela Universidade
Católica de Moçambique (UCM), através do seu Centro de Ensino à
Distância (CED). Assim, a organização, selecção dos materiais e
linguagem neles constantes têm em conta esta especificidade.

Estruturação do Módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos por UCM - CED encontram-se
estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo


O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um resumo da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


As tarefas de avaliação para o presente módulo encontram-se no final de
cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do módulo.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este módulo.
Antropologia Cultural Código: A0015 4

Habilidades de estudo
Caro estudante, para a realização de toda e qualquer actividade de forma
eficaz e eficiente é necessário antes de mais o planeamento, de forma a
poder-se determinar quais os passos a seguir e os recursos necessários
para tal, de forma a alcançar o objectivo da referida actividade. Assim, no
processo de estudo procure olhar para si em três dimensões
nomeadamente: o lado social, profissional e estudante, para que não haja
uma contraposição e colisão das mais diferentes tarefas por si realizadas.
Neste sentido, busque sempre reservar o maior número de horas possíveis
de estudo diariamente, incluindo aos finais de semana e outros tempos
disponíveis. Procure elaborar um plano de estudo individual, que inclui, a
data, o dia, a hora, o que estudar, como estudar e com quem estudar
(sozinho, com colegas, outros).
Evite o estudo baseado em memorização, pois é cansativo e não produz
bons resultados, use métodos mais activos, procure desenvolver suas
competências mediante a resolução de problemas específicos, estudos de
caso, reflexão, etc.
O manual contém muita informação, algumas chaves, outras
complementares, daí ser importante saber filtrar e apresentar a
informação mais relevante. Use estas informações para a resolução dos
exercícios, problemas e desenvolvimento de actividades. A tomada de
notas desempenha um papel muito importante.
Um aspecto importante a ter em conta é a elaboração de um plano de
desenvolvimento pessoal (PDP), onde você reflecte sobre os seus pontos
fracos e fortes e perspectivas do seu desenvolvimento.
Lembre-se que neste processo de ensino o sucesso depende acima de tudo
da entrega do próprio estudante, sendo ele o responsável pela sua própria
aprendizagem e cabe a este planificar, organizar, gerir, controlar e avaliar
o seu próprio progresso.

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza de que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc.). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacte-o pessoalmente.
Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção, em caso de
problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for da natureza
geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.
Antropologia Cultural Código: A0015 5

Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de


expediente.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem
a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar dúvidas, tratar questões administrativas, entre outras.
O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque
apoio com os colegas, discutam juntos, apoiem-se mutuamente, reflictam
sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu
próprio saber e desenvolva suas competências.
Juntos na Educação à Distância, vencendo a distância.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto-
avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante
que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período
presencial.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante.
Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser
dirigidos ao tutor/docentes.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os
mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor.
O plágio deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito) palavras
de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade , humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem marcar a realização
dos trabalhos.

Avaliação
O estudante será avaliado durante o estudo independente (80% do curso)
e o período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada
com base no chamado regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por si desenvolvidos, durante o estudo individual,
concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os testes são realizados durante as sessões presenciais e concorrem para
os 75% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões
presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média
Antropologia Cultural Código: A0015 6

de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a


cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de: (a) admissão ao exame,
(b) nota de exame e, (c) conclusão do módulo.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar: 3 (três) trabalhos; 2 (dois)
testes escritos e 1 (um) exame escrito.
Não estão previstas quaisquer avaliações orais.
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração: a apresentação; a coerência textual; o grau de
cientificidade; a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
indicação das referências utilizadas, o respeito pelos direitos do autor,
entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual.
Consulte-os.
Alguns feedbacks imediatos estão apresentados no manual.
Antropologia Cultural Código: A0015 7

Unidade N0 01-A0015

Tema: Antropologia como


Ramo de Conhecimento
Introdução
Caro estudante, seja bem-vindo ao estudo da Antropologia como ramo de
conhecimento. Nesta unidade, o estudante fará um incursão na história da
Antropologia, percebendo os aspectos que levaram a sua constituição e
bem como a origem etimológica.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Descrever a história da Antropologia, mostrando os vários aspectos


Objectivo que concorreram para sua constituição como disciplina científica e
bem como a origem etimológica do conceito.

História da Antropologia

A semelhança das demais disciplinas, o processo de constituição da


Antropologia entanto que disciplina com rigor científico foi algo bastante
sinuoso, isto vale dizer que esta passou por diferentes etapas até a sua
constituição como tal. Contudo, antes de entrarmos directamente para a
história desta disciplina convém explicar a origem do conceito, que
deriva de radicais de origem grega nomeadamente anthropos que
significa homem ou pessoa, e logos que é razão ou conhecimentos.
Assim, fazendo uma tradução directa destes termos a Antropologia seria
a ciência do estudo do homem. Contudo, tendo em conta que todas outras
disciplinas igualmente estudam o homem, optou-se por definir esta como
ciência do estudo do homem sob ponto de vista sociocultural; isto é, um
ser produtor material e espiritual.
De modo geral, podemos dizer que a história desta começa na
antiguidade, visto que o homem sempre pensou sobre si e os “outros” de
maneira antropológica; isto é, a humanidade sempre reflectiu sobre as
diferenças entre os povos, pese embora não de maneira muito elaborada.
É na Antiguidade Clássica que temos o início da Antropologia, quando
alguns pensadores gregos tais como Homero, Hesíodo e os filósofos pré-
Socráticos se questionavam a respeito do impacto das relações sociais
sobre o comportamento humano ou vendo este impacto como
consequência dos caprichos dos Deuses tal como enumera a Odisseia de
Homero e a Teogonia de Hesíodo, ou como construções racionais,
Antropologia Cultural Código: A0015 8

valorizando muito mais a apreensão da realidade no dia-a-dia da


experiência humana, como preferiam os Filósofos Pré-socráticos.
Portanto, foi na Antiguidade clássica que a medida humana surgiu como
centro de discussão acerca do mundo, posto que os gregos, chineses e
romanos produziram vários relatos sobre os povos com quem estiveram
em contacto, e nestes textos nascia por assim dizer a Antropologia. Um
aspecto a ter em conta nestes textos é o chamado “duplo aspecto” que
caracterizou o discurso sobre os gregos e não gregos/bárbaros, ou seja,
nós e os outros.
Este duplo aspecto ficou cristalizado pela exclusão ideológica (que era a
constatação das diferenças de hábitos e costumes com os outros povos e
não aceitar as mesmas, por considerar que resultavam de diferenças nos
estágios de desenvolvimento) e a inclusão científica (que é a aceitação
das diferenças culturais com os outros povos como objecto de estudo),
isto é, a civilização Grega considerava-se como a mais avançada em
termos de hábitos e costumes e por conseguinte, os seus hábitos eram
melhores comparativamente aos demais.
Dentre os romanos, vale destacar o poeta Lucrécio que buscou investigar
as origens da religião e das artes, e Tácito que analisou a vida dos povos
germânicos a partir de relatos dos viajantes e soldados. No catolicismo,
Santo Agostinho chegou a considerar os greco-romanos como
moralmente inferiores aos cristianizados. Embora não fosse uma
disciplina científica, o saber antropológico participou dos debates
filosóficos da época, emprestando seu saber ao longo dos séculos. Isto
mostra que apesar de vários autores considerar que passou a ser ciência a
partir da revolução Iluminista, vemos que a origem do saber
antropológico remonta antiguidade.

Portanto, já na antiguidade, ela aparecia como sendo a ciência do estudo


da diferença, isto é, Antropologia sempre buscou comparar diferentes
povos no que se refere aos seus hábitos e costumes. Contudo, esse estudo
da diferença na antiguidade era feito numa base comparativa hierárquica
e valorativa, em que os valores dos gregos e romanos eram considerados
melhores relativamente as demais culturais; pois se considerava que
existiam diferenças na escala de desenvolvimento humano entre os
povos. A partir do século XVIII a Antropologia adquiriu a categoria de
ciência a partir das classificações de Lineu, tendo como objecto de
análise as raças humanas.
Ainda durante este período temos os textos de iluministas, cronistas,
viajantes e missionários entre outros, tem a particularidade de
apresentarem uma tendência evolucionista (que é a consideração da
cultura greco-romana como a mais evoluída que as outras) e etnocêntrica
(colocar a própria cultura no centro de explicação das outras culturas).
Deste modo, entende-se perfeitamente o facto de povos diferentes dos
gregos e romanos serem considerados como uma série de termos
pejorativos tais como: exóticos, primitivos, atrasados, bárbaros,
selvagens, entre outros termos pejorativos e o que fez destas sociedades
objectos de estudo da Antropologia.
Assim, explicar as diferenças e semelhanças, origens e evoluções dos
povos surge como um dos objectivos primordiais dos pensadores da
Antropologia Cultural Código: A0015 9

segunda metade do século XVIII, de maneiras que foi por esta altura que
surge a etnologia (que era um ramo que se dedicava ao estudo das
características raciais dos povos) e etnografia (que é ramo que se dedica
ao estudo das características linguísticas dos povos).
Efectivamente a partir do século XIX é que esta se afirma como ciência,
tendo um desenvolvimento consciente e sistemático, tendo a sua
designação inicial sido a de Etnologia na França e Inglaterra, e só no final
deste século é que a etnografia e etnologia surgiram como partes
complementares de um mesmo processo. Apesar de já ser uma ciência,
ela continuou a enfatizar o estudo dos povos ditos primitivos ou exóticos,
uma vez que os pensadores europeus consideravam que Antropologia
apenas estudava pequenas sociedades.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Explique o princípio da exclusão ideológica e inclusão científica que


durante muito tempo foi dominante na antropologia?
Resposta: exclusão ideológica é a constatação das diferenças de hábitos e
costumes com os outros povos e não aceitar as mesmas, por considerar
que resultam de diferenças nos estágios de desenvolvimento. A inclusão
científica é aceitação das diferenças culturais com os outros povos, para
usar estas como objecto de estudo.
Antropologia Cultural Código: A0015 10

Unidade N0 02-A0015

Tema: Definição do Objecto,


Método e Técnica da
Antropologia
Introdução
Toda e qualquer ciência e disciplina que se pretende científica deve
necessariamente definir o seu objecto de estudo, método e técnica de
forma clara, para que se possa distinguir das demais. Assim, desde a
antiguidade e numa altura em que Antropologia ainda não era uma
ciência ou disciplina com rigor científico, ela teve que definir o seu
objecto, método de abordagem e técnica de estudo específica.
Neste sentido, ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Apresentar de forma sucinta a definição científica da Antropologia e


bem como o objecto, método e técnica de estudo da disciplina.

Sumário
Objecto
Recorrendo a etimologia do termo, podemos definir a Antropologia como
ciência que estuda o homem. Contudo, tendo em conta que todas outras
disciplinas igualmente estudam o homem em diferentes perspectiva,
vemos que esta definição é bastante imprecisa, daí que há uma
necessidade de se definir claramente o objecto desta, isto é, aquilo que ela
estuda objectivamente no homem. Por razões óbvias a Antropologia
durante os séculos XVII e XVIII teve como objecto de estudo as
sociedades ditas primitivas/exóticas ou atrasadas, que como sabemos a
partir da inclusão científica e exclusão ideológica deviam ser estudadas
por serem diferentes.

Este objecto de estudo, permitia distinguir a Antropologia da sua “irmã”


Sociologia que estava destinava somente ao estudo das sociedades
europeias. Um aspecto marcante deste período é o facto do investigador
se encontrar separado do seu objecto, daí que o saber antropológico neste
período foi incrementado graças as informações dos missionários,
cronistas, viajantes, soldados, etc.
Antropologia Cultural Código: A0015 11

Quando esta se transformou em disciplina científica por volta do século


XIX, é que definiu de forma clara e inequívoca como seu objecto
material o homem, e como objecto formal o homem e seu
comportamento. Assim, é legítimo afirmarmos que o objecto de estudo da
antropologia é o homem sob ponto de vista sociocultural, visto que o
homem é simultaneamente produto e produtor de cultura dentro de uma
determinada sociedade.

Método
Existe uma relação directa entre o objecto e método de qualquer
disciplina, uma vez que o método é o que nos permite dar conta ou
abordar o nosso objecto de estudo. Portanto, vale dizer que não existe
bons ou maus métodos, mais sim que é necessário escolher um método
adequado para determinado objecto. Assim, olhando para história do
surgimento da Antropologia, vemos que antes do século XIX ela tinha
como objecto de estudo as sociedades ditas primitivas ou seja, o homem
primitivo. O método adoptado foi a comparação dedutiva e
generalizada, em que o estudo das sociedades ditas primitivas era feita a
partir do exterior (sem contacto com os estudados) numa base
etnocêntrica, ideológica e valorativa em que os costumes dos ditos
primitivos eram necessariamente considerados inferiores.

A aparência exterior destas sociedades representava em si uma qualidade


específica, pois não convinha estudar estas em profundidade por já se
considerar que estas eram “atrasadas, primitivas, selvagens”, entre outros
termos valorativos e acima de tudo pejorativos. Já no século XIX esta
adoptou o actual método de trabalho de campo, por influência de
Malinowski. Este método consiste na presença do investigador no local
de estudo (sociedade que pretende estudar), a comparação de costumes
entre si e não numa base valorativa, ideológica e etnocêntrica, por forma
analisar os hábitos dentro do seu contexto, ou seja, ver o significado que
estes têm dentro da sociedade de onde provem.

Efectivamente, o método de trabalho de campo representa a marca da


antropologia visto que esta procura comparar hábitos e costumes
diferentes, isto é, busca compreender as práticas sociais, a luz da própria
sociedade de origem. Este método permitiu que se evitasse o olhar
ideológico e se passasse a ter em conta a diversidade cultural como
princípio válido, considerando que não existem melhores ou piores
costumes, visto que cada sociedade organiza as suas actividades da
maneira que julgar a mais apropriada a luz das suas práticas e aspirações.

Técnica
Pelo facto do método adoptado antes do século XIX ter sido a
comparação dedutiva e generalizada, a técnica era a Observação Directa,
visto que o estudo/análise das sociedades ditas primitivas era sempre feita
do exterior e numa base valorativa e ideológica, para chegar a conclusões
óbvias. Assim, a partir da mudança do método no século XIX, ela
Antropologia Cultural Código: A0015 12

igualmente adoptou a técnica de Observação Participante que consiste


na presença no local de estudo, interacção com a comunidade, a ponto de
ser aceite como um dos membros da comunidade, ou seja “ser um dentre
eles”, perceber o significado dos costumes dentro desta, participar de
algumas actividades do grupo, falar a língua local, entre outros aspectos.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – De forma clara, indique o objecto, método e técnica da Antropologia


numa perspectiva histórica.
Resposta: No passado o Objecto eram as sociedades ditas primitivas,
exóticas, atrasadas ou selvagens, e a partir do século XIX homem sob
ponto de vista sociocultural, Método era comparação dedutiva e
generaliza, e passou a ser trabalho de campo, Técnica era observação
directa e passou a ser observação participante.
Antropologia Cultural Código: A0015 13

Unidade N0 03-A0015

Tema: Teorias
Antropológicas
Introdução
A evolução da Antropologia para sua afirmação como disciplina
científica foi um processo complexo, e como tal ficou a dever-se a
contribuição de vários pensadores e correntes/teorias de pensamento que
marcaram esta disciplina
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos  Definir cada corrente de pensamento da Antropologia.


 Identificar os pensadores marcantes de cada uma destas correntes.

Evolucionismo
Esta corrente de pensamento aparece na Antropologia quando esta ainda
não se podia considerar como disciplina científica e foi a pioneira, tendo
se desenvolvida por influência de pensadores tais como Rosseau,
Condorcet, Montesquieu, entre outros iluministas; sendo que o expoente
máximo era James Frazer. O evolucionismo procurou aplicar o
evolucionismo desenvolvido na Biologia por Darwin, para estudar a
sociedade. Esta teoria dizia que existia uma unidade psíquica do género
humano, daí que toda humanidade teria necessariamente um
desenvolvimento histórico semelhante, ido da selvajaria, barbárie e
civilização.
Isto mostra que para esta teoria, as sociedades evoluiam de formas mais
simples e elementares para formas mais complexas, por conseguinte as
sociedades diferentes das europeias normalmente eram como atrasadas,
selvagens, exóticas, etc pelo facto de serem diferentes das ditas
civilizadas. Sendo assim, era útil e necessário que as sociedades atrasadas
passem por um processo tendo em vista alcance da civilização que era o
fim último de toda e qualquer sociedade.

Funcionalismo
Esta corrente surge como crítica ao evolucionismo, pois que eles
consideravam que nada numa sociedade acontecia por acaso, mais pelo
contrário tinha e desempenhava uma determinada função para a
subsistência da própria sociedade; ou seja, a sociedade era um sistema
Antropologia Cultural Código: A0015 14

integrado e coerente de relações sociais. Apoiados na noção de função,


considerava que os costumes tinham sempre uma função específica,
representavam uma parte indispensável da sociedade de onde provém.
Seu expoente máximo foi Malinowski que é igualmente responsável pela
difusão do método de trabalho de campo. Este considerava que a
sociedade é algo que não tem restos, pois tudo desempenha um
papel/função, tudo na sociedade faz sentido mesmo que este sentido não
seja facilmente localizado/explicado e por último o sentido de cada
costume deve ser buscado dentro da sociedade de que advém.

Estruturalismo
Adoptam o conceito de estrutura para entender a sociedade, e segundo
Lévi-Strauss que é maior pensados desta teoria, a noção de estrutura não
se referia a realidade empírica em sim, a modelos elaborados
relativamente ou em conformidade com esta realidadade. Para esta
corrente, a estrutura social não era a mesma coisa que as relações sociais,
mais pelo contrário algo bem distinto, apesar de só podemos perceber a
estrutura social a partir das relações sociais, visto serem estas que tornam
visível a estrutura social.
Para ter o nome de estrutura o sistema deveria satisfazer algumas
condições tais como:
1- Oferecer o carácter de um sistema, ou seja, consistir em
elementos de tal modo que uma alteração ou modificação em um
deles, leva necessariamente a alteração nos restantes,
2- A estrutura deve ser construída de modo que possa prever de que
maneiras reagirá o modelo em caso de modificação num dos seus
elementos, e
3- O modelo deve ser construído de modo que seu funcionamento
possa explicar todos os factos observados.

Ao introduzir a noção de sistema, Strauss considerou que esta


incorporava em si a de subsistema, de maneiras que um sistema podia
fazer parte de um sistema maior e mais complexo, de mesmo modo que
um sistema pode portar em si vários subsistemas menores e menos
complexos como unidades interdependentes. Ele ainda disse que num
sistema existem duas dinâmicas, sendo uma previsível que já está
prevista no funcionamento do sistema e outra imprevisível que acontece
por forças externas a estrutura em si.
Daqui conclui-se pelo estruturalismo que: os factos sociais são
independentes de outros planos da existência humana (o social é
autónomo), os factos sociais são solidários entre si, daí que eles não
podem ser estudados de forma isolada pois que são interdependentes, e
por último os factos sociais devem ser analisados a partir da totalidade,
ou seja, como um sistema.
Antropologia Cultural Código: A0015 15

Difusionismo
Esta corrente contrariamente as demais centrou-se na análise do
fenómeno da difusão cultural, isto é, ela limitou seu campo de análise as
questões ligadas a cultura. Identificaram 3 formas de difusão, sendo o
difusionismo Primário que resulta da migração de elementos de uma
sociedade para outra, e o difusionismo Secundário que tem a ver com o
facto dos valores de uma cultura serem levados e implementados em uma
outra sociedade. Por último temos o difusionismo Organizado em que há
uma intervenção intencional por forma a levar e implementar
determinados hábitos e costumes numa sociedade diferente da de origem
destes costumes.
Assim, baseado nestas formas encontramos 3 tipos de difusionismo
nomeadamente o Inglês que defende que existe uma única fonte dos
traços culturais no mundo e que com andar do tempos e que mais tarde
estes traços vão se espalhando pelo mundo. Deste modo, diziam que o
centro da cultura era o Egipto antigo. Difusionismo Alemão,
contrariamente ao anterior diz que existiam vários centros da cultura e
não apenas um único, pelo que não identificam uma cultura que fosse
melhor que as outras.
Por último há difusionismo Americano que não se preocupou com a
origem da cultura, mais pelo contrário sim com a difusão cultural em si
entanto que processo. Assim, a questão desta teoria era a existência de
traços comuns entre diferentes povos, ou seja, esta teoria se interessa em
perceber e explicar o facto de povos diferentes terem alguns e costumes
semelhantes.

Exercício

1 – Qual foi a crítica feita pelo funcionalismo ao evolucionismo?


Resposta: Funcionalismo critica ao Evolucionismo, considerando que
nada numa sociedade ocorria por acaso, pois que todos hábitos e
Auto-avaliação
costumes desempenham necessariamente uma função dentro da sociedade
de origem. Assim, não existiriam culturais superiores ou inferiores,
melhores ou piores.
Antropologia Cultural Código: A0015 16

Unidade N0 04-A0015

Tema: Especificidade da
Antropologia Cultural,
Social, Política e Económica

Introdução
Falar da especificidade da Antropologia cultural, social, política e
económica, é de dar conta do debate existente entre diferentes escolas e
pensadores, visto que não existe um consenso em torno desta questão.
Contudo, regra geral se reconhece que esta abordagem nos mostra a
classificação que esta recebe em determinados contextos por um lado e
por outro a relação que esta disciplina tem com as demais na análise do
seu objecto de estudo.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Distinguir a especificidade da Antropologia.


Objectivos  Perceber a pertinência desta especificidade e do processo de
interdisciplinaridade.

Sumário
Antropologia Social e Cultural
Falar da especificidade da Antropologia Cultural, é no fundo dizer que
esta tem como seu objecto ou material de estudo apenas a cultura,
enquanto que a Antropologia Social teria como objecto apenas a
sociedade. Ora, isto seria praticamente um truísmo na medida em que
estes campos encontram-se interligado por razões óbvias e lógicas, uma
vez que a sociedade é o agente produtor e consumidor da cultura. É o
homem quem produz e usa a cultura, e assim esta (cultura) não pode
existir fora da sociedade, do mesmo jeito que não pode existir uma
sociedade sem cultura.
Neste sentido, a suposta separação destas tem a ver com a designação que
esta recebe em cada sociedade e épocas concretas. Não existe uma
Antropologia Social e Cultural em separado, se não que uma única
Antropologia Cultural Código: A0015 17

Antropologia. Na Inglaterra, usa-se o termo Antropologia Social como


sinónimo de Antropologia Cultural, nos EUA o termo Antropologia
Cultural serve tanto para designar Etnografia e Etnologia.

Antropologia Económica
Falar da Antropologia económica não é o mesmo que falar da
Antropologia e Economia, ou seja, da fusão entre estas duas disciplinas
mais pelo contrário é referir-se a maneira como a Antropologia aborda os
fenómenos considerados económicos, uma vez que a Economia é
igualmente um produto da cultura, isto é, a forma como é organizada a
vida económica e os aspectos assim considerados varia de uma sociedade
a outra.
Este ramo busca analisar o funcionamento da vida económica das
sociedades ditas civilizadas e não civilizadas, ocidentais e não ocidentais,
uma vez que os actos considerados económicos encontram-se presentes
em toda e qualquer sociedade, havendo pontos semelhantes e não. O
aparecimento desta possibilitou compreender a relação existente entre o
domínio económico e os aspectos socioculturais em toda e qualquer
sociedade, contrariamente ao que se pensava, que a economia era um
campo independente/autónomo dos aspectos socioculturais.
A forma como cada sociedade organiza o processo de produção,
comercialização e consumo que perfaz o campo da economia, é algo que
está directamente ligado aos aspectos socioculturais, visto que varia de
uma sociedade a outra.

Antropologia Política
Antropologia política como uma especificidade da Antropologia, mostra
a relevância da compreensão dos aspectos considerados políticos na sua
relação com a vertente sociocultural, posto que estes se encontram
intrinsecamente ligados, contrariamente ao que se defendia nas
abordagens formais da política, por se considerar que as questões de
poder apenas eram do domínio da política, entendida como uma acção
exclusiva de um grupo de indivíduos e não de toda a sociedade, para além
de que depende profundamente dos aspectos sociais e culturais em
qualquer que seja o tipo de sociedade.
A partir da Antropologia política foi possível perceber que o poder é um
fenómeno presente em toda e qualquer sociedade, e que como tal este
pode por vezes ser regulado por questões tais como parentesco, religião,
entre outros aspectos tidos como socioculturais.
Este processo de relação entre duas ou mais disciplinas recebe o nome de
interdisciplinaridade, e acontece pelo facto de que por si só uma
disciplina não ser capaz de explicar taxativamente o seu objecto de
estudo, visto que a vida social não é feita de compartimentos estanques,
ou seja, fechados em si; para além de que o homem estudado pelas
diferentes disciplinas é necessariamente o mesmo. É pela necessidade de
complementaridade e melhor compreensão e explicação do seu objecto de
estudo que as disciplinas acabam tendo que recorrer as outras.
Antropologia Cultural Código: A0015 18

Exercícios

1 – Qual é a especificidade da Antropologia Social e da Cultural?


Auto-avaliação Resposta: Não existe uma Antropologia apenas social e outra cultural,
posto que não se pode estudar a cultura separada da sociedade, do mesmo
jeito que não há sociedade sem cultura. Assim, sempre que estudamos a
sociedade, estaremos automaticamente estudando a cultura, para além de
que esta divisão tem a ver com designação que a disciplina recebe em
cada escola ou sociedade.
Antropologia Cultural Código: A0015 19

Unidade N0 05-A0015

Tema: A Dinâmica Cultural


Introdução
É radicalmente impossível falar-se da Antropologia sem nos referirmos a
cultura, de tal sorte que é legítimo afirmarmos que esta é o objecto de
Antropologia, uma vez que quando se estuda o homem, olha-se para os
seus hábitos e costumes que necessariamente variam de uma sociedade a
outra.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Ter bem claro a definição antropológica da Cultura.


Objectivos  Perceber a questão da localização, essência, estrutura e função da
cultura

Sumário
Conceito de Cultura
Existem várias definições do conceito cultura e não havendo consenso
entre os vários pensadores. O termo provém do latim Colere que
traduzido significa cultivar. No passado entre os romanos, este foi usado
em diferentes sentidos tais como na agricultura que era cultivar a terra,
cultus para a religião e culto para pessoas com alta formação académica.
Por vezes tem se usado o conceito de civilização como sinónimo de
cultura, quando de facto não é pois que civilização refere-se a um
conjunto de culturas particulares que tem afinidades entre si ou a
mesma origem comum. No geral cultura representa formas de
comportamento, atitudes e crenças socialmente transmitidas e que
caracterizam certo grupo social. Assim, todo homem possui cultura, com
excepção dos bebés uma vez que estes não passaram ainda pela
inculturação.
Alguns autores que tentam ver a cultura numa perspectiva. Autores tais
como Tylor, Linton, Boas e Malinowski consideram a cultura como
sendo ideias, Kroeber, Kluckhohn, Beals e Hoijer olham a cultura como
sendo Abstracções de comportamento, Keesing e Foster concebem esta
como sendo Comportamento Apreendido, enquanto White olha a cultura
como Mecanismo de Controlo do Comportamento.
Antropologia Cultural Código: A0015 20

A partir destas diferentes visões, podemos então definir a cultura


como sendo um todo da vida global de povo e que como tal
comporta formas de ser, sentir, pensar e agir peculiar a um povo,
e que são transmitidas socialmente de geração a geração.
Portanto, ela porta simultaneamente ideias, comportamento,
crenças e artefactos, ou seja, ela é simultaneamente mente factos
(coisas não palpáveis tais como ideias, crenças, comportamento,
etc.) e artefactos (objectos físicos).

Localização da Cultura
Os elementos que constituem a cultura podem ser localizados no
tempo e espaço, isto é, podem ser vistos como partes de uma
sociedade concreta e num determinado tempo. Assim, podemos
agrupar e classificar estes em três grandes grupos que são: intra-
orgânico, inter-orgânico, e extra-orgânica. Ao nível Intra-orgânico
vemos que a cultura se encontra dentro dos organismos humanos
sob a forma de crença, conceitos emoções e atitudes.
Ao nível Inter-orgânico, a cultura se encontra nos processos de
interacção social entre os diferentes seres humanos. No nível
Extra-Orgânico a cultura se localiza fora dos seres humanos e se
encontra nos objectos materiais tais como machados, catanas,
vasos, etc.

Essência da Cultura
A cultura não possui uma essência entanto que tal em virtude desta
não ser pré determinada, mais pelo contrário feita a partir dos
diferentes elementos que a compõe tais como ideias, abstracções,
comportamento e artefactos/objectos. Ideia, corresponde as
concepções mentais de coisas concretas e abstractas, isto é, ela
engloba os vários conhecimentos crenças filosóficas, científicas,
históricas entre outras.
Abstracções, consiste em coisas que se encontram apenas ao nível
das ideias da nossa mente, por conseguinte todas as coisas
materiais são automaticamente excluídas deste grupo; ou seja, só
tem a ver com as coisas e acontecimentos não palpáveis e
observáveis.
Comportamento, refere-se a modos de agir que sejam comuns aos
grupos humanos, isto é, conjunto de atitudes e reacções dos
indivíduos em relação ao meio social em que se encontrem. Daí
que alguns antropólogos olhem a cultura como um comportamento
aprendido em sociedade e que é próprio dos homens, revelando
deste modo que esta se torna possível graças a aprendizagem e
comunicação.
Antropologia Cultural Código: A0015 21

Estrutura da Cultura
Falar da estrutura da cultura é essencialmente buscar os elementos
caracterizadores desta cultura tais como traços, padrões,
complexos, áreas culturais, entre outros, que nos ajudam a melhor
entender a cultura de grupos sociais ao longo dos tempos.
Traços culturais, constitui o menor elemento que permite a
descrição de determinada cultura. São elementos mínimos mais
acima de tudo significativos da cultura e que mesmo isolados da
sua cultura ainda nos ajudam a ter um conhecimento sobre o seu
contexto de origem. Regra geral os traços podem ser materiais
(caneta, vaso, loiça, tecidos, etc.) e imateriais (ideia, crença,
atitude, aperto de mão, beijo, etc.).
Complexo Cultural, entende-se como um conjunto de
características culturais ou traços associados de determinada área
cultural. Este representa um sistema interligado, interdependente e
harmónico, organizado em torno de um foco de interesse central.
Por exemplo, o casamento entanto que uma prática social, envolve
diferentes etapas ou fases anteriores até a consumação do acto
solene em si.
Padrões Culturais, considera-se como formas de ser adquiridas
pelos membros de uma cultura, ou ainda coincidência de condutas
individuais manifestadas pelos elementos de uma sociedade.
Assim, os padrões consistem em normas comportamentais
estabelecidas para membros de determinada cultura. Assim, a partir
da educação os homens e mulheres de uma sociedade passam a
manifestar um determinado comportamento específico para cada
um deles na sua sociedade.
Área Cultural, podem ser vistos como sendo espaços
físicos/territórios geográficos onde as culturas se assemelham, o
que faz com que pessoas diferentes possam partilhar os mesmos
padrões de comportamento, embora se encontrem em locais
geográficos político-administrativos diferentes. Por exemplo as
zonas fronteiriças do nosso país em que os indivíduos acabam
tendo hábitos e costumes dos países vizinhos.
Subcultura, entende se como sendo uma variação da cultura geral,
ou seja, ela não uma cultura inferior, mais sim uma variante
relativamente a cultura central, daí que ela seja diferente devido a
forma de organização e estrutura dos seus elementos. É o modo de
vida peculiar de um grupo menor dentro da sociedade maior.
Mudança Cultural, representa qualquer alteração da cultura, quer
seja dos traços, complexos, padrões ou de toda cultura como um
todo. Esta mudança pode ocorrer devido a diferentes motivos tais
Antropologia Cultural Código: A0015 22

como as migrações, contacto com outros povos, inovações


científicas, catástrofes, etc. Normalmente esta ocorre devido a
factores internos (descoberta ou inovação) ou externa (difusão
cultural).
Difusão Cultural, entende se como sendo um processo em que os
elementos de uma cultura ou complexos culturais se difundem de
uma determinada sociedade para uma outra sociedade.
Aculturação, é o processo de fusão de duas culturas diferentes,
criando mudanças nos padrões de ambas as culturas em maior ou
menor grau para uma delas. Representa a mudança de padrões,
complexos e traços culturais, ajustando este aos de uma outra
cultura diferente que tende a domina-la. Contudo, apesar destas
mudanças a cultura dominada mantém a sua própria identidade.
Desculturação é o processo de perda de cultura por parte de um
indivíduo, que se dá através da substituição dos traços, complexos e
padrões culturais, por outros novos. Portanto, em termos reais a
desculturação pura, ou seja, a perda total de cultura é que
impossível quanto mais crescida for a pessoa.
Endoculturação/Inculturação, processo de aprendizagem da
cultura de origem da pessoa, ou seja, é aprendizagem dos valores
do grupo de pertença do indivíduo, adquirindo as suas crenças,
valores e comportamento aceite pelo grupo logo a nascença e que
permite a sua aceitação como membro da sociedade.

Funções da Cultura
Falar de funções da cultura é antes de mais ter a noção
antropológica deste conceito, o que implica a percepção de que esta
é uma criação do homem no certo contexto (sociedade) e tempo
(época). Sendo assim, ela é uma resposta as demais necessidades
do homem, e nunca algo inato e abstracto desprovido de utilidade
em sociedade, ou seja, todo e qualquer hábito, costume, crenças e
objectos físicos desempenham uma função e é para isto que o
homem os cria.
Deste modo ela tem a função de orientar o homem na sua relação
com os outros homens e com o mundo a sua volta, pois lhe oferece
modos de comportamentos aceites e proibidos em cada sociedade;
para além de influenciar na maneira como este pode usar os
recursos disponíveis no seu habitat. A cultura tem ainda a função
de garantir a interacção entre pessoas de mesma cultura e bem
como de culturas diferentes a partir do conhecimento dos hábitos
de cada um.
Antropologia Cultural Código: A0015 23

Exercícios

1 – Estabeleça uma clara distinção entre civilização e cultura?


Resposta: Civilização é um conjunto de culturas que tem afinidades
entre si, ou seja, culturas que tem a mesma origem comum.
Enquanto que Cultura um todo da vida global de povo e que como
Auto-avaliação tal comporta formas de ser, sentir, pensar e agir peculiar a um povo,
e que são transmitidas socialmente de geração a geração.
2- Indique os elementos que constituem a essência da cultura?
Respostas: os elementos que constituem a essência da cultura são:
idéia, abstrações e comportamento.
3-Define traço cultural?
Resposta: É o menor elemento que permite a descrição ou
conhecimento de uma determinada cultura, normalmente pode ser
algo palpável (caneta, vaso, machado, etc) ou não palpável (forma
de pensar, crenças, etc).
4-Indique a função da cultura que conhece?
Resposta: ela tem a função de orientar o homem na sua relação com
os outros e o mundo a sua volta; dá ao homem os modos de
comportamentos aceites ou não em sociedade; influencia na
maneira como ele usa os recursos disponíveis no sua sociedade, e
garante a interacção entre pessoas de mesma cultura e bem como de
culturas diferentes.
Antropologia Cultural Código: A0015 24

Unidade N0 06-A0015

Tema: Organização Social


Introdução
Desde antiguidade, que o homem para poder viver em sociedade
com os seus semelhantes, teve que se organizar em grupos de
diferentes dimensões, que servem para responder a diversas
situações tais como a realização de tarefas e bem como garantir a
reprodução biológica e social da humanidade; e deste modo
garantir a perpetuação da espécie humana. Uma destas formas ou
grupos criados foi certamente a família e que para que pudesse
representar uma forma de organização da sociedade, teve que ser
devidamente estruturada e atribuída determinadas funções ou
papéis sociais.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos
 Definir o conceito de família na lógica da Antropologia,
 Indicar claramente as Funções desta,
 Identificar alguns dos tipos de famílias existentes e
preponderantes no mundo e,
 Classificação destas quanto a autoridade,

Sumário
Conceito de Família
Etimologicamente, este conceito deriva do latim FAMULUS que
significa escravo doméstico, e o mesmo foi criado na Roma Antiga
para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos
latinas ao ser introduzida a agricultura e a escravidão. É um
conceito bastante difuso e pouco específico, pelo que é comum
vermos um casal que juntos possuem filhos, falarem
simultaneamente da “minha, nossa e sua família”, de modo a se
referir a família que cada um pertence ou provém, a que juntos
construíram, e a do esposo ou da esposa individualmente.
Antropologia Cultural Código: A0015 25

Portanto, os termos meus, seus e nossos indicam simultaneamente


aproximações, cruzamentos e separações. Os aspectos que são
usados para indicar aquilo que entendemos como família varia
bastante no tempo e lugar. Esta dificuldade de definição, não é
apenas uma questão de imprecisão terminológica, pelo contrário
tem a ver com a complexidade das relações existentes e que
definem a família objectivamente em cada sociedade.
A definição da família tem estado associada a certos elementos
considerados quase que universais e perenes tais como sejam: a
convivência debaixo de um mesmo tecto, a reprodução biológica
(filhos), reprodução económica (renda para sustento), entre outros.
Isto acontece porque a família é vista como algo universal, ou seja,
existe em todos os agrupamentos humanos.
Murdock, define família como sendo “um grupo social
caracterizado pela residência comum, cooperação económica e
reprodução biológica”. Para Lucy Mayr é “um grupo doméstico no
qual os pais e filhos vivem juntos.” Hoijer e Beals é “um grupo
social cujos membros estão unidos por laços de parentesco”.
A partir destas definições de vários autores pode-se entender a
família como: um grupo social normalmente composto pelo casal e
seus filhos, que se caracteriza pela cooperação e simultaneamente
de conflito em que pessoas de diferentes gerações partilham um
espaço, orçamento, afecto e desafecto, trabalho, tendo em vista
reprodução biológica e social do grupo. Nele também podem ser
incluídos os parentes afins, dependo da sociedade.

Funções da Família
Para certos autores, não devemos falar das funções da família, uma
vez que esta não se encontra a funcionar, e sim actuando para
responder a certas necessidades de cada grupo num momento
específico. Além de que as ditas funções que normalmente
consideramos exclusivas da família podem ser entregues a outras
instituições, tais como as creches que educam as crianças devido a
ocupação dos pais, asilos para idosos que acolhem pessoas que são
vistas como encargos pelos seus familiares ou que não possuem
família, centros de acolhimento para pessoas desfavorecidas, etc.
Apesar desta posição de certos autores, é legítimo afirmarmos que
esta possui funções, e que tais funções guiam-se por dois principais
objectivos que podem ser consideradas de Nível Interno que é a
protecção psicossocial dos seus membros e o de Nível Externo que
visa acomodação (socialização ou educação) a uma cultura e sua
posterior transmissão a outras gerações. Assim, podemos então
indicar algumas das funções gerais da família que se enquadram
nestes dois grandes objectivos.
Antropologia Cultural Código: A0015 26

- Geradora de Afecto: faz com que entre os seus membros haja


sentimento de desejar bem ao próximo, - Proporcionadora de
Segurança e Aceitação Pessoal: ao dar segurança e aceitar o
próximo sem apontar possíveis defeitos naturais, promove um bom
o desenvolvimento pessoal natural, -Proporcionadora de
Satisfação e Sentimento de Utilidade: através da distribuição de
actividades que satisfaçam a cada um dos seus membros, sem
excluir ninguém, -Asseguradora da Continuidade das Relações,
isto através da promoção de relações duradouras entre os seus
membros, -Impositora da Autoridade e Sentimento do que é
Correcto, garante a aprendizagem das regras, normas e obrigações,
para saber o que deve ou não fazer na sociedade;
-Proporcionadora de Saúde aos seus membros, protege a saúde dos
seus membros dando apoio as necessidades dos seus membros em
possíveis situações de doença.

Tipos de Família
A divisão e classificação das famílias segundo tipos específicos,
mostra que as sociedades apresentam diferenças na maneira como
se organizam. Assim, encontramos os seguintes tipos de famílias
mais comuns no mundo. Elementar ou Simples: também é
conhecido como Nuclear, Imediata, Primária, ou Natal-Conjugal, é
definida como uma unidade formada por um homem, uma mulher e
seus filhos que vivem juntos em uma união reconhecida pelos
outros membros da sua sociedade. Constitui a base da estrutura
social de onde se originam as relações primárias de parentesco,
sendo contudo efémera já que ela pode desaparecer com o
crescimento dos filhos e a consequente saída do lar, e devido a
morte dos pais.
Extensa, também denominada de Grande ou Múltipla, é uma
unidade composta de duas ou mais famílias nucleares ligadas entre
si por laços consanguíneos ou série de familiares próximos tanto
pela linha masculina ou feminina, e geralmente não por ambas e
duas ou mais gerações. Este tipo de família pode abranger também
para além da nuclear, os avós, tios, sobrinhos, afilhados, etc.

Composta: também designada por Complexa ou Conjunta, é uma


unidade composta por três ou mais cônjuges e seus filhos. Este tipo
de família refere-se a um núcleo de famílias separadas mas ligadas
pela sua relação com um pai comum. Conjugada-Fraterna: refere-
se a uma unidade composta de dois ou mais irmãos, suas esposas e
filhos, sendo que o laço de união é consanguíneo.

Classificação da Família quanto a Autoridade


Antropologia Cultural Código: A0015 27

A família também pode ser analisada sob ponto de vista da


autoridade, ou seja, olhando para quem de facto detém e exerce o
poder dentro desta num determinado momento. Assim temos:
Patriarcal: em que a figura central é o pai, que possui autoridade
de chefe sobre a mulher e os filhos. Todas as decisões sobre
qualquer assunto cabem exclusivamente ao homem.
Matriarcal: é o inverso da patriarcal, ou seja, aqui é a mãe que é a
figura central, detendo deste modo toda autoridade e por
conseguinte todas as decisões cabem a própria mulher. Paternal ou
Igualitária: aqui encontramos uma diferença, que se traduz na
equidade de poder, ou seja, a autoridade é mais equilibrada entre
ambos os cônjuges de acordo com os assuntos e questões
específicas a decidir dentro da família, havendo aspectos que
devem ser decididos quase sempre pelo marido e outros pela
mulher.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define o conceito de família?


Resposta: é um grupo social normalmente composto pelo casal e
seus filhos e sem excluir os parentes afins, em que existe
cooperação e simultaneamente de conflito, onde pessoas de
diferentes gerações partilham um espaço, orçamento, afecto e
desafecto, trabalho, tendo em vista reprodução biológica e social do
grupo.
2- Nas funções da família, explique os dois principais objectivos
que têm sido considerados?
Resposta: Os dois principais objectivos são o de Nível Interno que
é a protecção psicossocial dos seus membros e o de Nível Externo
que visa acomodação (socialização ou educação) a uma cultura e
sua posterior transmissão a outras gerações.
3- Mencione os principais tipos de famílias por si estudados?
Resposta: os principais tipos de família são: Elementar ou Simples,
Extensa, Composta, e a Conjugada ou Fraterna.

4-Como é que podemos classificar a família quanto a autoridade?


Resposta: quanto autoridade a família pode ser classificada em
Patriarcal: em que a figura central é o pai, que possui autoridade
de chefe sobre a mulher e os filhos em todos assuntos. Matriarcal:
a mãe é que tem poder de decisão em todos assuntos. Paternal ou
Igualitária: aqui a autoridade é mais equilibrada entre ambos os
Antropologia Cultural Código: A0015 28

cônjuges de acordo com os assuntos, havendo aspectos que são


decididos pelo marido e outros pela mulher.

Unidade N0 07-A0015

Tema: Parentesco
Introdução
O debate a volta da questão do parentesco é algo complexo e
inacabado, por ser este um fenómeno organizador das sociedades e
estruturante das relações sociais entre os indivíduos. Não existe
indivíduo que não se considere como membro de determinado
grupo de parentesco na sociedade e de igual modo não existe
sociedade em que o parentesco não esteja presente e regendo as
relações entre os indivíduos.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Compreender o conceito de parentesco e a sua aplicação como


estruturante das relações entre indivíduos.
 Perceber a questão da filiação/descendência.
 Nomenclatura de Parentesco.

Sumário
Parentesco

Entanto que objecto de estudo o parentesco aparece na


Antropologia a partir da altura em que se pensava que entre os
povos ditos primitivos havia uma certa promiscuidade. Assim, no
século XX Lewis Morgan, ao fazer um estudo sobre os índios
Iroqueses, constatou que estes possuíam de certa maneira regras de
parentesco, e que não havia a suposta promiscuidade entre estes.

Radcliff Brown, é outro pensador que fez um estudo das sociedades


ditas primitivas e disse que para se ter um conhecimento sobre os
Antropologia Cultural Código: A0015 29

povos era necessário analisar as relações entre as pessoas, visto que


só a partir da compreensão destas, era possível apreender a
estrutura social.

Existe um grupo de autores que considera o parentesco como sendo


laços entre indivíduos consanguíneos, ou seja, entre pessoas que
descendem de um tronco comum, sendo filho, irmão, pai, primo,
etc. Por sua vez, Marc Augé, diz que o parentesco é essencialmente
uma relação social que nunca conscide completamente com a
consanguinidade, ou seja, o chamado parentesco biológico.

Esta posição de Augé tem a ver com o facto de que o parentesco


pertence a ordem da cultura e não da natureza; pois se fosse
considerado no sentido biológico cada indivíduo teria um número
elevado de parentes, ou seja, todos teríamos um número infinito de
parentes tanto do lado materno e paterno, uma vez que estes fazem
parte de outro grupo de parentesco.

Portanto, assim diluído e indiferenciado ele não poderia ser um


critério ou base de classificação dos indivíduos no seio dos grupos
de pertença e diferentes, e consequentemente não seria um meio de
organização social. Neste sentido, podemos entender então o
parentesco como sendo um princípio lógico de organização e
classificação social dos indivíduos dentro dos grupos de pertença
e diferentes, é um código, uma linguagem mais ou menos
manipulada e ideológica que pertence a ordem da cultura e não
da natureza.

Para que o parentesco seja de facto um princípio lógico de


organização e classificação social dos indivíduos, é necessário que
nem todos os parentes sejam reconhecidos como tal, isto é, algumas
categorias de parentes devem ser excluídas como tal.

Filiação e Descendência

A filiação e descendência surgem no domínio do parentesco


exactamente por este ser um princípio lógico de organização e
classificação social dos indivíduos e não coincidir necessariamente
com consanguinidade. Neste sentido, pode-se transmitir o
parentesco tendo consideração uma única linha, ou as duas, dando
assim origem a diferentes tipos de filiações.

Filiação Unilinear, é aquela em que se transmite o parentesco


tomando em consideração uma única linha com exclusão da outra,
podendo ser esta na linha da mãe ou do pai. Convém notar que não
Antropologia Cultural Código: A0015 30

existe uma filiação unilinear pura, e regra geral os grupos


reconhecem ambas as linhas.
Dupla Filiação Unilinear ou Bilinear, é aquela em que se
consideram as duas linhas (materna e paterna) mas atribuindo-lhe
funções distintas. Filiação Indiferenciada, Bilateral ou Cognática,
esta ocorre quando se reconhece o parentesco simultaneamente nas
duas linhas, em que os parentes são tratados de igual modo o que
lhe vai diferenciar da filiação bilinear. Aqui, o parentesco já não
tem a função claramente distintiva e os grupos sociais já não se
definem a partir de uma filiação específica, mas sim de critérios
que não os do parentesco tais como posse de terra, comunidade de
residência, entre outros.
Portanto, vemos assim que não existe uma filiação unilinear pura,
daí que as sociedades normalmente admitem as duas linhas, mas
que a tónica é normalmente posta numa única linha em detrimento
da outra. Os parentes maternos (num sistema dito patrelinear) e os
paternos (num sistema matrelinear) embora não constituam um
grupo em si, não deixam de desempenhar um papel importante nas
relações entre os grupos de parentes, de tal modo que os parentes
do lado não determinante influenciam em grande medida no
estatuto dos indivíduos, através da transmissão de funções, herança
de bens, entre outros aspectos.

Terminologia ou Nomenclatura do Parentesco


È o sistema simbólico de denominação de posições relativas aos
laços de afinidade e descendência. Regra geral encontramos dois
sistemas de parentesco que são: o sistema classificatório e o
descritivo.
Descritivo: em que se usa um único termo para designar cada
parente normalmente em linha directa de um descendente, quer seja
pai ou mãe. Classificatório: em que não se restringe a utilização de
um único termo para designar cada parente. Neste sistema, o
mesmo termo pode designar um grupo ou classe de indivíduos, por
exemplo: mães ou pais.
Antropologia Cultural Código: A0015 31

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Defina o parentesco


Resposta: Parentesco, é um princípio lógico de organização e
classificação social dos indivíduos dentro dos grupos de pertença e
diferentes, é um código, uma linguagem mais ou menos
manipulada e ideológica que pertence a ordem da cultura e não da
natureza.
2- Mencione os tipos de filiação que estudou?
Resposta: os tipos de filiação que estudei são: filiação unilinear,
dupla filiação unilinear ou bilinear, e filiação indiferenciada,
bilateral ou cognática.
3-Explique os sistemas de parentesco que estudou?
Resposta: são dois sistemas centrais, sendo o Sistema Descritivo:
em que se usa um único termo para designar cada parente
normalmente em linha directa de um descendente, quer seja pai ou
mãe. E o sistema Classificatório: em que não se restringe a
utilização de um único termo para designar cada parente. Neste
sistema, o mesmo termo pode designar um grupo ou classe de
indivíduos, por exemplo: mães ou pais
Antropologia Cultural Código: A0015 32

Unidade N0 08-A0015

Tema: Casamento
Introdução
É impossível falar-se da vida social sem fazer-se alusão ao
casamento, entanto que uma prática que existe em todas as
sociedades, pese embora seja realizada de diferentes formas e
actores sociais envolvidos, dada as diferenças sociais. Por outro
lado, o casamento afigura-se como importante na medida em que
ele muda o status social dos indivíduos e prestígio social. Portanto,
considerando que Antropologia estuda o homem sob ponto de vista
sociocultural obviamente que esta seria uma questão incontornável
neste módulo, para além da sua relevância social.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Definir objectivamente o casamento


 Identificar e explicar as regras e princípios que presidem ao
casamento
 Definir as Modalidades ou Tipos de Casamento
 Classificar o casamento quanto a residência
 Classificar o casamento quanto a participação na herança

Sumário
Casamento

Dentre as várias definições do casamento existentes, quase que toda


elas ressalvam a questão do facto deste ser uma união entre um
homem e uma mulher, tendo em vista a procriação, ou seja, a
geração de filhos no mesmo. Contudo, convém notar sobretudo no
contexto actual que esta definição apresenta várias limitações posto
que nem sempre ele é feito entre homem e mulher, mais pelo
contrário entre pessoas do mesmo sexo, e que nem sempre dele
resultam os filhos quando realizado entre homem e mulher.
Antropologia Cultural Código: A0015 33

O casamento representa o elemento exterior mais evidente do


parentesco, pois mostra que um grupo de filiação não pode existir e
perpetuar-se a menos que entre em alianças matrimoniais com
outros grupos de filiação que lhes forneçam as reprodutoras. Para
Bernardo, casamento “é uma relação sexual entre dois indivíduos
de sexos diferentes, socialmente sancionada em ordem a procriação
e inculturação dos filhos”. A partir desta definição, vemos que para
além da procriação este também tem em vista a educação das
crianças.

Lakatos olha o casamento como sendo “o modo como a sociedade


humana estabelece as normas para a relação entre os sexos”.
Olhando as diversas abordagens dos vários autores, concordamos e
adoptamos a definição de Augé que vê o casamento como “um
complexo de normas sociais que sancionam as relações sexuais
entre um homem e uma mulher e que os liga por um sistema de
obrigações e direitos mútuos; por meio desta união os filhos que a
mulher dá a luz são reconhecidos como progenitura legítima de
ambos os pais.

Consideramos esta como sendo a melhor pelo facto de ser uma


definição em aberta e realça o carácter social do casamento, com
direitos e obrigações para os cônjuges, para além de realçar que o
facto de que todos os filhos que a mulher dá a luz são
automaticamente reconhecidos como progenitura legítima de
ambos os pais. O casamento como elemento do casamento cria
novas relações de parentesco, uma vez que cada um dos cônjuges
passa a fazer parte de uma família diferente da sua.

Regras ou Princípios de Casamento

Entanto que uma prática social o casamento é para além de


complexo de normas, um acto que ocorre obedecendo a
determinados princípios que orientam os indivíduos na Escolha do
seus cônjuges. Assim, existem duas regras fundamentais que são:

Endogamia: é a regra de casamento que faz com que o indivíduo


escolha o seu cônjuge dentro do mesmo grupo de pertença, ou seja,
dentro da sua comunidade de origem.

Exogamia: vai ser o oposto da endogamia, e refere-se a regra em


que o casamento deve ser necessariamente com pessoas exteriores
ao se grupo de pertença.

É importante que estas regras ou princípios que se afiguram como


práticas normativas do casamento, nem sempre são cumpridas
Antropologia Cultural Código: A0015 34

estritamente, pois que os indivíduos com o desenvolvimento das


sociedades acabam criando outras práticas relativamente diferentes
para a realização do casamento.

Modalidades ou Tipos de Casamento

O casamento embora seja um fenómeno universal, não é de modo


algum uma coisa indistinta e única em todos os tempos e sociedade,
mais pelo contrário apresenta tipologia dentro de uma mesma
sociedade e fora desta. Objectivamente, falar de tipos de casamento
é no fundo referirmo-nos ao número de pessoas envolvidas nesta
relação que recebe este nome, podendo este ser denominado
monogâmico ou poligâmico.

Monogâmico, é a modalidade de casamento em que um homem ou


mulher pode ter apenas um único cônjuge.

Poligâmico, contrariamente ao primeiro é a modalidade de


casamento em que um homem ou mulher pode ter dois ou mais
cônjuges normalmente. Ela pode dividir-se em dois tipos
diferentes, sendo Poliginia e Poliandria. Aqui vale a pena ressalvar
o facto de que o casamento poligâmico quer sobre a forma de
poliginia ou poliandria, não se confunde de modo algum com
situações de amantismo, visto tratar-se de uma situação
reconhecida socialmente como que de conjugalidade. Portanto, os
homens e mulheres envolvidos neste tipo de relações são vistos
como cônjuges de facto.

Poliginia, é uma modalidade de casamento em que um homem se


casa com duas ou mais mulheres. Esta pode subdividir-se em dois
subtipos sendo a Poliginia Simples que corresponde exactamente a
definição da poliginia em geral. E a Poliginia Sororal que é a
modalidade de casamento em que um homem casa-se com duas ou
mais irmãs.

Poliandria, é o tipo de casamento em que uma mulher se encontra


casada com dois ou mais homens. Ela subdivide-se em por sua vez
em dois subtipos que é a Poliandria Simples que corresponde a
necessariamente a definição de poliandria em geral. E Poliandria
Fraternal ou Adelfa que corresponde ao casamento em que uma
mulher se casa simultaneamente com dois ou mais irmãos.

Casamento quanto a Residência


Antropologia Cultural Código: A0015 35

Também podemos classificar o casamento quanto a residência, o


que nos permite perceber quais os locais preferenciais para o casal
possa iniciar a sua vida logo após a oficialização da relação. Nem
sempre tais regras são seguidas as riscas, além de que podem existir
outros tipos. Assim, podemos encontrar diferentes tipos de
casamento nomeadamente:

Matrilocal, é o casamento em que a residência do casal é na


comunidade dos pais da esposa. Patrilocal, em que a residência é
na comunidade dos pais do esposo. Virilocal, onde a residência do
casal é a casa dos pais do esposo. Uxorilocal, onde a residência do
casal é a casa dos pais da esposa.

Avuncolocal, depois de casados o noivo leva a noiva para morar na


casa do seu tio materno, isto é, na casa do irmão de sua mãe.
Amitalocal, aqui o casal deve residir na casa do irmão da mãe da
nora, isto é na residência do tio materno da noiva. Neolocal, a
residência do casal é um lugar novo, ou seja, ambos vão constituir
um grupo doméstico novo.

Bilocal, é quando o casal tem a possibilidade de residir com os pais


de qualquer dos cônjuges. Patrimatrilocal, é quando o padrão de
residência inicialmente é matrilocal de forma passageira e
posteriormente e de forma definitiva a residência é patrilocal.

Casamento quanto a participação na Herança

Na análise do casamento quanto a participação na herança, nos


ajuda a perceber o processo de redistribuição dos bens ou da
herança do casal por parte dos seus descendentes. Portanto, a
semelhança das demais regras ou princípios é necessário
entendermos que nem sempre estes são observados estritamente,
havendo por vezes casos em que juntam-se mais do que um
princípio.

Assim, encontramos as seguintes formas: Primogenitura, em que


somente o primeiro filho, ou seja, o mais velho é que tem o direito
a herdar os bens do casal. Ultimogenitura, onde apenas tem direito
a herança o filho mais novo, sendo deste modo o inverso da
anterior.

Limitações de Sexo, em que só os filhos de um determinado sexo


quer seja masculino ou feminino é que tem direito a herança.
Participação Igual, tal como sugere o próprio nome, é um tipo em
que todos os filhos de ambos sexos e idades tem direito a igual
Antropologia Cultural Código: A0015 36

parte da herança. Este tem sido regra geral a situação mais comum
em quase todo mundo.
Antropologia Cultural Código: A0015 37

Exercícios

Auto-avaliação 1 – De forma clara e inequívoca apresente a definição de casamento


por si estudada?

Resposta: podemos definir casamento como um complexo de


normas sociais que sancionam as relações sexuais entre um homem
e uma mulher e que os liga por um sistema de obrigações e direitos
mútuos. A partir desta união os filhos que a mulher dá a luz são
reconhecidos como progenitura legítima de ambos os pais.

2- Indique e Explique as regras e princípios de casamento?

Resposta: temos a Endogamia: que é a regra de casamento que


obriga o indivíduo a escolher o seu cônjuge dentro do mesmo grupo
de pertença, e a Exogamia: que é a regra de casamento em que a
escolha é necessariamente com pessoas exteriores ao se grupo de
pertença.

3-Quais são as modalidades ou tipos de casamento?

Resposta: regra geral existem duas grandes modalidades ou tipos


que são: Monogamia, é a modalidade de casamento em que um
homem ou mulher pode ter apenas um único cônjuge, e a
Poligamia, que é a modalidade de casamento em que um homem
ou mulher pode ter dois ou mais cônjuges normalmente e pode
dividir-se em dois subtipos que são: a poliginia e a poliandria que
igualmente tem suas subdivisões.

4-Mencione apenas as classificações do casamento quanto a


residência?

Resposta: patrilocal, matrilocal, virilocal, uxorilocal, avunculocal,


amitalocal, neolocal, bilocal e patrimatrilocal.

5-Classifica o casamento quanto a participação na herança?

Resposta: o casamento quanto a participação na herança pode ser:


Primogenitura- somente o primeiro filho, isto é, o mais velho é
que tem o direito a herança. Ultimogenitura, o direito a herança é
do filho mais novo. Limitações de Sexo, só herdam os filhos do
sexo masculino ou feminino. E a Participação Igual, em que todos
os filhos de ambos sexos e idades tem direito a igual parte da
herança.
Antropologia Cultural Código: A0015 38

Unidade N0 09-A0015

Tema: Ritos e Cerimónias


Tradicionais
Introdução
Não existe sociedade humana em que não exista prática de ritos e
cerimónias tradicionais, que são bastante ricas em elementos
simbólicos e místicos da vida de cada povo. O ritos normalmente
revelam os valores mais profundos do ser humano e estão presentes
em várias cerimónias sociais tais como casamento, funeral,
nascimento, baptismo, entre outras cerimónias que são antecedidas
de certos procedimentos julgados necessários e sem os quais a sua
realização pode implicar a sua não realização.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Explicar o conceito de rito.


 Compreender a importância ou função do rito.
 Identificar e explicar determinados ritos presentes na sociedade.

Sumário

Rito
Não existe sociedade humana em que esta prática não exista, apesar
de variar na forma. Ela revela o modo como a sociedade prescreve
determinados passos a seguir para concretização de determinado
acto reconhecido como útil e necessário, quer seja para toda
sociedade, um grupo em particular e o próprio indivíduo.
Etimologicamente a palavra rito ou ritual vem do latim initium, que
traduzido para o português significa início, começo ou entrada,
entre outros termos.
Segundo Victor Turner, o “ritual é a confirmação periódica das
regras sobre como pessoas duma cultura particular têm que
interagir, se essas pessoas querem ter uma vida social coerente,
Antropologia Cultural Código: A0015 39

quer dizer ter ligações entre si e uma comunidade estável como


grupo social.”
Pode-se entender então de modo geral o rito como um sistema
cultural de comunicação simbólica, constituído de sequências
ordenadas e padronizadas de palavras e actos, em geral expressos
por múltiplos meios.
Encontramos diferentes tipos de ritos tais como de iniciação, de
passagem, de purificação entre outros. Vezes há em que estes se
encontram de algum modo interligados, pois que a transição de
uma situação á outra não é contrário a passagem a uma outra.
O rito de iniciação é um processo destinado a realizar
psicologicamente no indivíduo a passagem de um estado do ser
considerado inferior, para um estado considerado superior, ou
seja, a transformação do dito profano em iniciado/purificado;
através de uma série de actos simbólicos, provas físicas e morais,
em que se procura incutir neste a sensação de que o mesmo morre,
a fim de renascer para nova vida e daí o nome segundo
nascimento.
Rito de passagem, são consideradas fases ou etapas momentâneas
na vida dos indivíduos, tendo em vista uma necessidade específica
que pode ter a ver com vários assuntos da vida social, representam
sempre uma etapa passageira.
Rito de purificação, tal como o nome diz é um rito destinado a
reabilitar um indivíduo ou grupo ao convívio da sociedade, pela
ligação a um evento considerado negativo ou mau, que pode
afectar negativamente tanto o indivíduo e bem como a comunidade.
Ele é realizado tendo em vista a restauração da paz e harmonia
individual e da própria sociedade como um todo.

Funções do Ritos
Os ritos são importantes pois que tem uma função simultaneamente
psicológica, social e protectora.
Garantem a explicação de eventos considerados anormais ou sem
explicação lógica, fazem com que as pessoas vivam de acordo com
os modelos definidos pelos próprios rituais e alterando deste modo
seus comportamentos, ajudam a honrar e satisfazer os
antepassados, ajudam a lidar com eventos extremos tais como a
morte, nascimento, e bem como situações de insegurança resultante
de várias situações.
Antropologia Cultural Código: A0015 40

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define o rito?


Resposta: podemos ver o rito como um sistema cultural de
comunicação simbólica, constituído de sequências ordenadas e
padronizadas de palavras e actos, em geral expressos por múltiplos
meios.
2- Mencione os tipos de ritos que conhece?
Resposta: os ritos que conheço são: de iniciação, de passagem e o
de purificação. Normalmente estes podem estar interligados, tendo
em conta que não mutuamente exclusivos.

3-Indique pelo menos 3 funções dos ritos que conhece?


Resposta: Garantem a explicação de eventos considerados anormais
ou sem explicação lógica, ajudam a honrar e satisfazer os
antepassados, ajudam a lidar com eventos extremos tais como a
morte e nascimento.
Antropologia Cultural Código: A0015 41

Unidade N0 10-A0015

Tema: A questão da
Religião
Introdução
A religião é igualmente uma das questões que para além de fazer
parte de todas sociedades, integra o leque de debate teórico da
Antropologia e outras disciplinas. Ela pode representar em algumas
sociedades o ponto de partida da vida sócio cultural e da vida em
geral. Remontado a própria história do surgimento do mundo e da
humanidade, encontramos uma abordagem religiosa que atribui a
Deus a criação do mundo e todo universo.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Explicar o conceito de religião.


 Perceber a importância da religião no dia á dia de qualquer
sociedade.

Sumário

Religião
A importância da religião em toda e qualquer sociedade, pode ser
percebida a partir de uma análise simples ao debate entre religião e
a ciência durante o século XIX, visto que era normal contrapor a
razão (ciência) e a fé (religião).
Embora seja algo existente em todas as sociedades, existe uma
grande variedade de religiões no mundo a fora, havendo casos em
que dentro de uma sociedade existe apenas uma única religião e
bem como o contrário, ou seja, sociedades em que coabitam várias
religiões.
Dentre as várias definições sobre a religião a mais simples e
interessante é de Edward Tylor que vê como “uma crença no
Antropologia Cultural Código: A0015 42

sobrenatural”. Isto quer dizer que as pessoas tem fé/crença em algo


sobrenatural (tudo que está acima das leis físicas e naturais), ou
seja, na religião prevalece a fé e não a razão/conhecimento
científico, visto que os princípios religiosos são dogmas (verdades
que não se questionam).
Podemos definir a religião como sendo a crença baseada num
poder sobrenatural, aliada a noções de sagrado, profano e
crenças determinadas.
A religião é importante como um meio de organização da vida
social e atribuição de sentido a nossa existência como humanos. De
igual modo que e religião serve para regrar e organizar a sociedade
através das suas doutrinas que advoga, ou seja, ela é responsável
em parte pelo comportamento humano, dando práticas aceites ou
não, rituais que devem ser seguidos em determinadas cerimónias,
etc.
Garantem a explicação de eventos considerados anormais ou sem
explicação lógica, fazem com que as pessoas vivam de acordo com
os modelos definidos pelos próprios rituais e alterando deste modo
seus comportamentos, ajudam a honrar e satisfazer os
antepassados, ajudam a lidar com eventos extremos tais como a
morte, nascimento, e bem como situações de insegurança resultante
de várias situações.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define religião?


Resposta: a religião é uma crença baseada num poder sobrenatural,
aliada a noções de sagrado, profano e crenças determinadas.
.
Antropologia Cultural Código: A0015 43

Unidade N0 11-A0015

Tema: A Sexualidade
Introdução
A sexualidade, é um tema integrante da ciência antropológica, dado
o facto de que a constituição fisiológica dos indivíduos embora que
seja diferenciável biologicamente suscita em cultural diferentes
representações e papéis sociais diferentes. Isto significa dizer por
outras palavras que nem sempre o aspecto biológico é determinante
na denominação de cada indivíduo em cada contexto.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Perceber o conceito de sexualidade e a sua importância no dia á


dia.

Sumário

Sexualidade
O conceito de sexualidade tem sido analisado na Antropologia em
duas vertentes, sendo uma essencialista ou naturalista e a
construtivista. A partir destas duas abordagens vemos que a
definição do conceito de homem e mulher não é apenas em termos
biológicos.
A perspectiva Essencialista ou Naturalista, está mais ligada a
Biologia e considera que os indivíduos já nascem homens e
mulheres, sendo o sexo biológico em si o factor determinante para
esta distinção, isto, é as diferenças fisiológicas reais é que
distinguem homens e mulheres.
A Construtivista, considera que sexualidade é uma construção
social, em que a partir das diferenças fisiológicas reais entre os
indivíduos, criam-se os homens e mulheres. Portanto, como se pode
notar esta é de alguma forma mais completa pois vai buscar
explicar e fundamentar a base da diferença.
Antropologia Cultural Código: A0015 44

Olhando para ambas e as definições de vários autores tais como


Foucault, Bordieu, entre outros podemos ver que elas não são
mutuamente exclusivas, daí que podemos definir a sexualidade
como um dispositivo histórico complexo que inclui as relações
entre pessoas de sexo biológico diferente, que são atribuídos pela
cultura formas de ser, sentir, pensar e agir.
Ela é importante na forma de interacção entre pessoas de sexo dito
diferente, dando formas de conceber o mundo a nossa volta e que
estejam de acordo com fisiologia de cada indivíduo.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define a sexualidade?


Resposta: a sexualidade é um dispositivo histórico complexo que
inclui as relações entre pessoas de sexo biológico diferente, que são
atribuídos pela cultura formas de ser, sentir, pensar e agir.
Antropologia Cultural Código: A0015 45

Unidade N0 12-A0015

Tema: A Natureza das


Raças
Introdução
Ao falarmos sobre a natureza das raças, queremos no fundo chamar
atenção ao facto desta questão ser bastante antiga quanto delicada
em vários contextos, sendo que existem políticas concretas de
combate a este, por se considerar que o seu ponto máximo trouxe e
trás consequências nefastas para a humanidade. Foi este um dos
móbil do processo de colonização, a ideologia de apartheid, entre
outras formas de discriminação contra certos grupos sociais, tal
como nos mostra a história geral.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Perceber o debate a volta de raça e definir o conceito de racismo


 Perceber o advento do racismo entanto que ideologia e sua
manifestação, bem como possíveis implicações.

Da Raça ao Racismo
O debate a volta de raça é bastante antigo e tem fundamentos desde
a Biologia até as Ciências Sociais. Durante vários tempos esta era
vista como algo natural, dada as diferenças objectivas entre a cor da
pele dos indivíduos, daí que foi a Biologia quem dividiu e
classificou os grupos humanos em raças e para tal apoiou-se em
outros traços físicos tais como formato do nariz, altura, cor dos
olhos, o cabelo, dimensão do ombros, e aspectos mentais,
considerados específicos a cada grupo humano.
Regra geral, as teorias sobre as raças humanas sempre buscaram
fazer uma clara distinção entre superiores e inferiores, o que
representa uma perspectiva desigualitária e hierarquizada. Foi em
nome desta suposta superioridade de uns relativamente a outros que
se justiçou a colonização, posto que foram criadas teorias
justificativas desta situação.
Antropologia Cultural Código: A0015 46

Um dos debates destas épocas era a superioridade intelectual do


branco em relação ao negro, chegando ao ponto de se considerar
que o branco descendiam do chimpanzé que é o mais inteligente
dos macacos, e os negros dos gorilas que é inverso; já que se diz
que o homem descende de macaco.

Raça pode ser definida como sendo um grupo de indivíduos que


possuem vários traços hereditários comuns tais como cor de
cabelo, pele, etc., que os diferencia dos outros. Devemos perceber
que estes elementos não servem de “prova” desta distinção entre
raças, uma vez que a cor da pele tem a ver com a melanina que é
condicionada pelo clima e não por um pigmento diferente.
Assim, a raça não é uma questão natural tal como parece ser, pese
embora se justifique nestes termos, ela tem a ver mais com aspectos
de carácter visível e não genéticos. Ela é sim uma questão que
resulta da construção social que atribui significado a estas
diferenças fenotípicas.
Neste sentido, podemos ver o racismo, é uma teoria ou atitude
preconceituosa e discriminatória que considera a superioridade
de determinada raça sobre uma outra, baseada nas diferenças
hereditárias visíveis que possam existir entre indivíduos e grupos.

Efeitos do Racismo
Entanto que prática social o racismo afectou, afecta e afectará os
indivíduos, dado o facto de estar bastante enraizada ao longo dos
tempos nas sociedade, apesar da sua manifestação pública ser
veemente combatida por todos governos e alguns grupos sociais.
Esta luta contra esta prática tem a ver com os efeitos negativos
daqui resultantes tais como a limitação das possibilidades reais de
progressão social aos indivíduos, limite ao acesso a bens e serviços
numa sociedade em que esta seja prática vigente, leva ao
isolamento, marginalização, ostracização e em casos extremos ao
extermínio, etc.
Actualmente, o racismo tem se manifesta do de forma subtil ou não
aberta dada as medidas de combate neste sentido, ou seja, no dia á
dia os actos racistas ocorrem de forma camuflada dada o receio de
penalização, mais que em termos de atitudes podemos observar
comportamentos racistas, visto que esta ideologia ainda permanece
em algumas mentalidades que crê neste como algo natural.
Antropologia Cultural Código: A0015 47

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define racismo e raça?


Resposta: racismo, é teoria ou atitude preconceituosa e
discriminatória que considera a superioridade de determinada raça
sobre uma outra, baseada nas diferenças hereditárias visíveis que
possam existir entre indivíduos e grupos, enquanto raça pode ser
vista como um grupo de indivíduos que possuem vários traços
hereditários comuns tais como cor de cabelo, pele, etc., que os
diferencia dos demais.
Antropologia Cultural Código: A0015 48

Unidade N0 13-A0015

Tema: Linhagem, Clã e


Etnia
Introdução
Os conceitos de linhagem, clã e etnia são importantes tanto na
Antropologia e na sociedade, pelo que não existe sociedade em que
esta não esteja presente tais como a africana, asiática e americana.
Há contextos em que se criam departamentos específicos para lidar
com estas questões, em reconhecimento da sua sensibilidade e
importância para indivíduos e grupos sociais.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Definir claramente conceito de linhagem, clã e etnia.

Linhagem
Este conceito tem sido bastante associado ao de clã e outros
igualmente ligados de alguma forma ao parentesco. Pode-se
entender a Linhagem como um grupo sanguíneo que inclui apenas
os indivíduos que descendem de um ancestral comum conhecido (o
fundador) que tenha vivido pelo menos há cinco ou seis gerações,
e que pode ser tanto homem ou mulher. Nesta perspectiva, todos os
parentes afins ficam automaticamente excluídos da linhagem, por
fazerem parte de uma outra.

Clã
Por seu turno, o clã corresponde a um grupo de parentesco extenso
que acredita ter sua origem em um ancestral fundador que vivera
um passado tão remoto que chega a ser mitológico. O clã baseia-se
numa regra de descendência e de residência, em que alguns
parentes afins são incluídos e alguns consanguíneos excluídos, isto
é, no fundo um agrupamento constituído de várias linhagens.
Antropologia Cultural Código: A0015 49

Etnia
Durante muito tempo havia uma percepção errada segundo a qual a
etnia ou grupos étnicos eram realidades existentes apenas na
África, Ásia e América. A partir de alguns conflitos bélicos havidos
na Europa, ficou claro que a etnia existe em todas as sociedades,
sendo mais ou menos forte em cada um dos contextos.
Deste modo, apesar de várias definições devemos ver etnia como
um grupo de indivíduos que historicamente ou mitologicamente
possui um ancestral em comum, uma língua comum, mesma
religião, cultura comum, mesma cosmovisão, geograficamente
ocupam o mesmo espaço, e que os indivíduos que dela fazem parte
se identificam como tal e por conseguinte se diferenciam dos
demais, baseados numa crença.
Vezes há em que a etnia pode corresponder a nação e bem como o
contrário, em que uma nação possui várias etnias, tal como é o caso
de Moçambique.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define etnia e diferencie de linhagem?


Resposta: etnia é um grupo de indivíduos que historicamente ou
mitologicamente possui um ancestral em comum, uma língua
comum, mesma religião, cultura comum, mesma cosmovisão,
geograficamente ocupam o mesmo espaço, e que os indivíduos que
dela fazem parte se identificam como tal e por conseguinte se
diferenciam dos demais, baseados numa crença, enquanto
Linhagem é um grupo sanguíneo que inclui apenas os indivíduos
que descendem de um ancestral comum conhecido (o fundador)
que tenha vivido pelo menos há cinco ou seis gerações, e que pode
ser tanto homem ou mulher.
Antropologia Cultural Código: A0015 50

Unidade N0 14-A0015

Tema: Diferenciação Social


Introdução
A diferenciação social é uma prática presente em toda e qualquer
sociedade, pois serve para diferenciar os indivíduos entre si e bem
como entre os mais diferentes grupos sociais. Pode-se considerar
este processo como sendo essencialmente uma marca da sociedade
humana, pois que o homem age segundo o princípio de oposições
binárias, o que lhe permite identificar os seus semelhantes e
visualizar os outros.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Perceber a génese da diferenciação social entanto que processo


social,
 Identificar a diferenciação social de Género e Idade.

Génese da Diferenciação Social


Um facto interessante sobre a diferenciação social, tem a ver com o
ideal universal de que os homens são iguais entre si, pelo que eles
não devem ser tratados de forma diferenciada em decorrência da
idade, sexo e condição social; o que obviamente valorização do ser
humano entanto que indivíduo. Segundo Martinez, este
reconhecimento da igualdade, vem claramente plasmado em vários
documenos tais como a declaração universal dos direitos humanos
e bem como nas constituições de alguns países. Outro sim, é que a
prática social vigente é claramente contrária a este princípio, daí
que os grupos sociais procuram se diferenciar e discriminar a partir
da cultura e do direito positivo a partir da raça, género, idade e
condição social. (2003; pp-115 ).
Antropologia Cultural Código: A0015 51

A partir da perspectiva do mesmo autor, podemos perceber que a


diferenciação social é um fenómeno universal por estar presente em
toda e qualquer sociedade e serve como elemento funcional dentro
dos grupos sociais, aproximando e distanciando pessoas. “Em
primeiro lugar existe uma diferenciação natural entre pessoas,
baseada em factores físicos e psicológicos. A diferenciação etária
que evidencia a diversidade de funções próprias de cada sexo,
associadas a comportamentos mentais; a diferenciação etária que
evidencia a diversidade de funções próprias para cada idade, que
podemos chamar naturais (por exemplo, a força física, a habilidade
para uma determinada acção, o exercício da memória) e que
também estão associadas a comportamentos mentais...” (Martinez;
idem).
Ainda segundo este autor e outros que versam sobre a matéria da
diferenciação social, esta tem como base de sustenção a
componente fisiológica dos indivíduos, ou seja, a constituição
física/biológica surge como ponto de partida a partir da qual a
cultura se encarrega de atribuir significância, ou seja, o sentido
explicativo da diferenciação em si. Assim, é a partir da cultura que
a pertença a determinado sexo implica obviamente determinada
função e bem como papéis sociais. Podemos então perceber que a
diferenciação social é um processo dinâmico, visto que ela deve
necessaraimente dar conta das novas atribuições que indivíduos e
grupos categorizam em determinada época histórica.

Diferenciação por Género


Falar de género é fazer alusão a diferenças entre os indivíduos sob
ponto de vista de acesso a bens, serviços e posições sociais a partir
da pertença a determinado sexo biológico. Antropologicamente
género é uma relação social de poder, em que a pertença a
determinado sexo implica benifícios ou não. Olhando para aquilo
que é praxe em quase todas as sociedades vemos que existe
distribuição hierárquica de competências e funções entre homens e
mulheres, daí que se fica com a percepção de que homens e
mulheres nascem com valores diferentes. Em seu livro a “A
Dominação Masculina”, Pierre Bordieu diz que haver um aspecto
que parece ser universal é a dominação dos homens sobre as
mulheres.
Na mesma diapasão caminha Martinez que diz “é inegável o valor
que se atribui a homens e mulheres nas várias sociedades. Em
geral constatamos uma certa superioridade cultural masculina
sobre a feminina com um dado de facto, no status que o homem
tem e nas funções que exerce nas várias sociedades...”. (Martines,
idem; pp-116). Portanto, a partir destas acerções podemos perceber
o tipo de comportamento que se espera que homens e mulheres
tenham que necessariamente será diferente, visto que cada cultura
Antropologia Cultural Código: A0015 52

possui um padrão de comportamento para homens e mulheres. Esta


diferenciação de status entre pelo género inclui a questão de vida
sexual de cada um destes.
Objectivando a realidade patente nas diferentes sociedades notamos
que ao homem é normalmente atribuída uma maior liberdade
sexual relativamente as mulheres. No que se refere a posições de
prestígio e poder na esfera pública, vemos que só nos últimos
tempos é que as mulheres vem assumindo papéis relevantes.
Contudo, no que toca ao poder de decisão final este acaba estando
concentrado ainda nos homens e para além de que em termos
proporcionais é insignificante a percentagem de mulheres a
ocuparem posições de direcção e chefia; apesar de vários
instrumentos legais internacionais e não só apelam neste sentido,
como forma de reduzir este hiato.

Diferenciação por Idade


A idade é outro eixo relevante a partir do qual se pode analisar a
problemática da diferenciação social. A semelhança do género, a
idade é elemento distintivo e diferenciador entre indivíduos e
grupos sociais em todas as sociedades, servindo para atribuir ou
retirar privilégios aos indivíduos. Em quase todas as sociedades a
idade é elemento diferenciador e tem uma base biológica, daí que
os indivíduos são distinguidos em crianças, jovens, adultos e
velhos. É importante vermos também que a idade não se limita a
um aspecto meramente cronológico ou numérico, pois que este
mesmo número recebe da cultura determinado significado, daí que
toda e qualquer idade espera-se determinado tipo de
comportamento e bem como confiam-se desempenho de certas
funções na sociedade.
Neste sentido, em algumas culturas a condicao de jovem pode ser
mais valorizada do que a do velho, e bem como o contrario
dependo do contexto. O mesmo se pode dizer relativamente as
funcoes que cada um destes grupos pode exercer.
Para corroborar com o acima exposto podemos recorrer ao dito por
Martinez a este respeito“a este dado biológico, as sociedades dão-
lhe de facto connotacoes culturais, com associacao de ideias e
significados a cada um dos grupos etários considerados. Assim, as
crianças associam-se ideias de fragilidade, pequenez, bondade,
sincieridade, simplicidade e transparência de espírito, aos jovens
associam-se ideias de forca, ardoz, entusiasmo, generosidade,
alegria, inconstância, imaturidade, aos adultos madurez,
ponderacao, juízo, constância, responsabilidade, liderança,
coordenacao, ao ancião sabedoria, tranquilidade, paz interior,
capacidade de sofrimento e de compreensão, tradicao,
Antropologia Cultural Código: A0015 53

estabilidade. …há épocas para apreender, tempos para brincar,


tempos para assumir responsabilidades, tempos para se casar,
tempos para se aposentar.” (Martinez, ibidem; 118).
Por ser um processo que implica privilégios ou status social, esta
diferenciação social é também uma relação de poder, em que a
pertença a determinada faixa etária corresponde a certa posição na
estrutura da sociedade. Os antropólogos chamam a este processo de
relações gerontocráticas, que tem a ver com relações hierárquicas
entre pessoas mais velhas e mais novas, em que normalmente os
mais velhos detêm poder sobre os mais novos em quase todos os
aspectos da vida, podendo mesmo interferir directamente sobre o
destino dos mais novos. A luz da cultura de certos povos este acto é
visto como normal, por se considerar que os mais novos não
possuem ainda capacidade e habilidades necessárias para
conduzirem os seus destinos.
A idade entanto que elemento diferenciador, também pode ser
adicionado a vários outros tais como género, raça, etc para conferir
vantagens ou não aos indivíduos em cada sociedade e época
histórica concreta.
Antropologia Cultural Código: A0015 54

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Explique o contraste existente entre a teoria e pratica no que se


refere a diferenciação social entre homens e mulheres?
Resposta: o contraste existente tem a ver com o facto de que a
teoria emanada de diversos documentos tais como constituições dos
países defender a plena igualdade entre homens e mulheres a quase
todos os níveis. Contudo, em termos práticos as sociedades
adoptam condutas completamente diferentes a este respeito, sendo
que homens e mulheres acabam tendo um tratamento diferenciado,
em que normalmente os primeiros tem mais privilégios do as
segundas. Portanto, quer isto dizer que em quase todas as
sociedades a diferenciação social caracterizasse pela hegemonia
dos homens sobre as mulheres em quase todos os domínios da vida
social.
2- Estabelece a diferença entre diferenciação social de género e
idade?
Resposta: diferenciação social de género tem a ver com diferenças
entre indivíduos a partir do sexo biológico, que distingue homens e
mulheres, enquanto que diferenciação por idade tem ver com a
distinção cronológica entre crianças, jovens, adultos, e idosos ou
velhos.

Unidade N0 15-A0015

Tema:O Mito
Introdução
Não existe sociedade humana em que este fenómeno do mito não
esteja presente, quer seja sobre a forma de prática social, quer sobre
forma de conceito. Regra geral, o senso comum ou sentido vulgar
considera o mito como sendo um relato falso. Tendo em conta que
o contexto em buscamos analisar este, podemos entender como
sendo uma história tradicional.
Antropologia Cultural Código: A0015 55

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Perceber a razão e a génese do mito na sociedade;


 Identificar algumas das funções dos mitos.

Génese e conceptualização da
Mito
Existem muitos termos associados ao mito, tais como o de
mitologia que no fundo se refere ao estudo dos mitos ou então a um
conjunto de mitos. O termo em si vem do grego mitos, cuja a
palavra quer significar “palavra de afirmação.” (Martinez; ibidem;
153). Este autor refere que o mito surge como uma história
exemplar que tendo em vista estabelecer normas de comportamento
humano, ou seja, dita o comportamento desejável diante de certas
situações para os indivíduos.
Dependo do contexto em que se usa o conceito, o mito tem uma
origem diferenciada. Podemos também entender o mito como
sendo histórias baseadas em tradições e lendas feitas para explicar
o universo, a criação do mundo, os fenómenos naturais e qualquer
outra coisa a que explicações simples não são capazes de o fazer.
Contudo, nem todos os mitos tem exactamente o mesmo fim
explicativo, pelo que regra geral os mitos evocam forcas e seres
sobrenaturais ou divindades, podendo ou não conter algumas
figuras que são lendas, e mesmo assim são transmitidas de geração
em geração pela via oral e não só.
Dentre as varias definições que possam existir deste termo, temos
de Martinez que olha como “…uma historia exemplar que tem por
fim estabelecer normas para o comportamento humano. O mito é
pois uma forma literária e ritual com que os povos absolutizam as
normas do seu comportamento com respeito a Deus, aos outros e a
toda a realidade cósmica.” (Martinez; ibidem).
Considerando a abordagem acima e de outros pensadores, podemos
então definir o mito como uma forma de comunicação, a partir do
qual as sociedades humanas procuram orientar as condutas
comportamentais dos seus membros, indicando as condutas aceites
e não, além de ser tentativa de explicação de uma certa realidade
social, de forma julgada mais adequada aos seus membros.
Antropologia Cultural Código: A0015 56

Características dos Mitos


Podem-se avançar alguns aspectos mais comuns nos mitos que
perfazem o tipo ideal destes. Normalmente os personagens dos
mitos são deuses ou heróis sobrenaturais. Como historias sagradas
os mitos são por vezes endossados por governantes e sacerdotes,
pelo que quando divulgado o mito tende a ser visto como um relato
fiel da realidade.
Um outro aspecto que marca os mitos tem a ver com facto de que
estes se referem a épocas bastante antigas ou remotas como quando
o mundo ainda não possuía a forma actual, razão pela qual estes
tendem a explicar a como o mundo chegou a estágio actual e bem
como se estabeleceram os costumes, instituições e tabus.
Um aspecto igualmente comum nos mitos tem a ver com água que
regra geral representa a passagem dos seres mitológicos de um
mundo ao outro, ou seja, normalmente os mitos relatam a saída de
um espírito da água (normalmente mar) para a terra onde então
comete as suas façanhas que tanto podem ser malévolas ou
benéficas a sociedade.
Outro aspecto comum nos mitos tem a ver com criação a partir do
nada e esta regra geral tem a ver com acção de Deus ou deuses que
são os únicos seres com tal poder nos mitos. Escusado seria dizer
que o mito esta ligado a religião, pois que este meio esta prenhe de
historias míticas e bem como figuras que também podem ser
consideradas como tal.
Entanto que elemento de comunicação entre os indivíduos na
sociedade, o mito encontra-se directamente ligado a questão da
linguagem e da vida social em si, visto que ela reflecte no fundo a
narração de uma sociedade e sua tradicao.

Funções do Mitos
Não existe um acordo entre os diferentes pensadores na definição
ou indicação das funções do mito. Contudo, podemos de modo
muito geral indicar como funções do mito a religiosa, explicação
do incompreensível entre outros aspectos. Segundo Martinez
(Martinez; ibidem; 158-159), dentre as várias funções do mito
podemos indicar alguma tais como:
Função social- que consiste em fomentar a solidariedade do grupo e
bem como criar segurança diante de acontecimentos da vida, pois
que os mitos proporcionam um sentido a toda existência e bem
como coesão do grupo em si.
Antropologia Cultural Código: A0015 57

Função Religiosas- são enaltecidas as crenças do povo, mais


sempre mantendo estas codificadas tal como a várias gerações
anteriores.
Função Memorial- neste ponto o mito renova determinada
realidade que sucedeu anteriormente, sendo que surge como uma
repetição vivenciada através do mito de situações passadas.
Função Educativa- aqui diz-se que o mito tem a função de dar um
comportamento tido como desejável na sociedade. O exemplo vem
dos ritos de iniciação em que se busca moldar a conduta dos
membros de um grupo social, ainda durante a infância.
Função Psicológica- em que este surge-nos uma espécie de resposta
tranquilizadora e concreta de expectativas e receios dos indivíduos,
aliviando e respondendo aos seus questionamentos constantes e
profundos.
Portanto, ainda assim podemos encontrar na bibliografia outras
funções que são atribuídas aos mitos. Contudo, podemos considerar
que essas são essenciais.
Antropologia Cultural Código: A0015 58

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define o mito?


Resposta: Mito pode ser definido como sendo uma forma de
comunicação, com que as sociedades humanas procuram orientar as
comportamentos de seus membros, indicando as condutas aceites e
não e além de ser uma forma de explicação de uma certa realidade
social, de forma julgada mais adequada aos seus membros.
2- Indique algumas das funções do mito que conhece?
Resposta: dentre as várias funções que se atribuem aos mitos,
podemos destacar as seguintes: a função social que aumenta
solidariedade no grupo, função religiosa que enaltece as crenças
religiosas do grupo, função memorial que tem a ver com a
renovação de uma realidade social passada, função educativa em
que o mito dá aos indivíduos comportamentos ideias para o grupo,
e função psicológica o mito ajuda a tranquilizar as inquietações
constantes dos indivíduos.
Antropologia Cultural Código: A0015 59

Unidade N0 16-A0015

Tema:Os Processos
Identitários
Introdução

Falar sobre processos identitários é algo tão simples e tal como


complexo, dado o facto que no senso comum todo e qualquer
indivíduo possuir uma noção sobre a identidade e esta ser usada em
diferentes momentos pelos actores sociais para responder a
situações concretas. Não existe sociedade em que a sua noção
mesmo que de forma difusa não esteja presente e para além desta
ser vista como algo inerente ao ser humano e por conseguinte as
sociedades humanas.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Identificar os aspectos que concorrem para advento do


fenómeno identitário
 Definir o conceito de identidade social

Processos Identitários
As preocupações sobre o fenómeno remontam a antiguidade, visto
que desde os primórdios da humanidade esta se preocupou em se
agrupar em função de determinados aspectos considerados comuns
a um certo grupo de indivíduos. Este processo servia para
aproximar outros indivíduos com características tidas como
semelhantes, e obviamente implicou a separação ou diferenciação
de indivíduos que não possuíssem tais características. Neste
sentido, vemos que entanto que prática social o processo identitário
sempre esteve presente nos grupos humanos criando aproximações
e distanciações.
Durante a antiguidade e quando não se faziam estudos científicos
sobre este fenómeno, criou-se uma ideia geral segundo a qual a
Antropologia Cultural Código: A0015 60

identidade social era algo natural, ou seja, que haviam indivíduos


que nasciam com determinadas características que lhes permitiam
se distinguir em relação aos demais. Foi graças a este processo
identitário que basicamente centrou-se na diferenciação entre o nós
e os outros que se justicaram as guerras de colonização dos povos,
visto que os colonizadores consideravam-se superiores em relação
aos colonizados.
Quando se iniciam os estudos a volta deste processo identitário,
percebeu-se que no fundo não existiam povos superiores ou
inferiores tendo em conta as diferenças culturais, para além de que
a identidade não era algo natural mais pelo contrário cultural, sendo
que os grupos buscavam o fundamento desta diferenciação na
biologia e outros aspectos. Para dizer que era a cultura a causa da
diferenciação entre os indivíduos, pois que os traços identitários
considerados específicos de cada grupo eram seleccionados para
aparentemente se justificarem como naturais.
Estes estudos mostraram que a identidade social era um processo
social, visto que eram os grupos que seleccionavam determinadas
características consideradas peculiares a seu grupo e que
obviamente serviam para os distinguir dos demais. Isto implica
dizer que a identidade social é um processo correlativo do outro, ou
seja, um grupo fechado em si não tem como ter a noção de si
mesmo por forma a saber se é diferente ou não, dada a ausência de
outro grupo que lhe permita a comparação a volta de determinados
aspectos.
Estes aspectos distintivos entre grupos são seleccionados numa
base comparativa. Por exemplo, para que os moçambicanos
soubessem que eram diferentes dos europeus e árabes foi
necessário que entrassem em contacto com estes povos por forma
poder constatar diferenças e semelhanças com estes na forma de
realizar as várias tarefas comuns tais como formas de casamento,
rituais de nascimento e de morte, educação de seus membros,
formas de troca e interacção, residência e divisão de papéis sociais
entre homens e mulheres, entre outros aspectos.
Por conseguinte, vemos que a identidade social é um processo
social em que os grupos seleccionam determinadas características
por forma a sedimentar a solidariedades, coesão e colaboração
entre si e obviamente se distinguir dos outros. É uma forma de
estratégia no acesso aos bens e recursos, pelo que não pode ser de
modo algum natural e sim social. Surge também como elemento
catalisador na unidade dos grupos

Identidade Social

Existem várias definições do conceito de identidade, sendo que não


existe um acordo tácito a volta do mesmo entre os vários
Antropologia Cultural Código: A0015 61

pensadores e bem como áreas de estudo, tendo em consideração o


enfoque que se dá a este. De modo geral o conceito de identidade
aponta para um conjunto de caracteres próprios e exclusivos com
os quais se podem diferenciar pessoas, animais, plantas e objectos
inanimados uns dos outros, quer diante do conjunto das
diversidades, quer ante seus semelhantes. Assim, é legítimo
falarmos de uma identidade pessoal ou individual e colectiva, real
ou ideal, e bem como verdadeira ou falsa quando se trata de
documentos formais que servem para identificar os indivíduos,
entre outros aspectos.

O termo identidade é, hoje, um conceito de utilização generalizada


nos vários ramos das Ciências Sociais, facto que confere
complexidade à sua definição. Etimologicamente, o termo
identidade significa característica do que é o mesmo ou, numa
asserção mais propriamente ontológica, a essência do ser, aquilo
que permanece.

Existem duas abordagens a volta do conceito, sendo a Naturalista


ou Essencialista que considera que a identidade é algo natural, de
tal modo que as ditas características que os indivíduos portam se
encontra inscrita no seu aparato fisiológico. Em contraposição
temos a Construtivista que considera que a identidade é um
processo social a partir do qual os grupos sociais seleccionam
determinadas características que consideram peculiares e que lhes
permite distinguir dos demais grupos. Contudo, apesar desta
distinção é importante sabermos que a identidade social é um
processo simultaneamente naturalista e construtivista, uma vez que
entanto que processo social ela faz recurso a determinados aspectos
que são naturais que posteriormente são usados e explicados
socialmente.

A partir destas abordagens vemos que cada autor constrói um


conceito sobre as identidades social. É assim que Tajfel define este
como sendo “...a parte de um auto-conceito de uma pessoa, que
deriva do seu reconhecimento de pertença a um grupo social,
juntamente com significado emocional e valorativo associado a
essa pertença.” (Tajfel; 1978; op cit. In: Lima e Vala; sem data; pp.
78). O aspecto relevante nesta afirmação tem a ver com o facto de
que é o próprio indivíduo quem se auto define a partir do
reconhecimento de um conjunto de características de determinado
grupo social ou de pertença.

O factor que explica este auto categorização ou definição tem a ver


com utilização por parte dos grupos sociais (que podem ser etnias
ou tribos) de um nome comum (macondes, ndaus, ajaus, lomwé,
macuas, rongas, chopes, changas etc) que está associado a uma
cultura comum específica, mesmo passado histórico, mesma língua,
Antropologia Cultural Código: A0015 62

território comum, entre outros aspectos. É a volta destes e outros


aspectos considerados relevantes que os indivíduos podem definir a
sua identidade e reafirmar seu sentimento de pertença a
determinado grupo social.

Assim, diante desta diversidade de concepções a volta do termo,


podemos definir a identidade social como sendo a identificação de
um indivíduo a determinado grupo social, a partir da associação
de determinados aspectos socioculturais considerados específicos
a um grupo social e que o permite distinguir dos demais. É um
elemento que favorece a interacção, coesão entre os grupos e
acesso aos bens e recursos. É um aspecto social que tem a sua
origem no processo de socialização em que a sociedade dota os
seus membros de valores, crenças e padrões de comportamento que
o possibilitem interagir com os demais membros e por conseguinte
viver em sociedade, podendo distinguir claramente o nós e os
outros.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Quais as abordagens sobre identidade social?


Resposta: existem duas abordagens principais sendo a naturalista
ou essencialista em que a identidade é vista como algo natural em
que as características identitárias dos indivíduos e grupos é algo
contido na sua fisiologia. Em contrapartida temos a construtivista
que olha identidade como um processo social em que o grupo
escolhe alguns aspectos sociais e culturais que servem para
distinguir um grupo social dos demais.
2- Define o conceito de identidade social?
Resposta: existem várias definições do conceito de identidade
social, mais podemos entender este como a identificação de um
indivíduo a um grupo social, a partir da associação de determinados
aspectos socioculturais considerados específicos a um grupo social
e que o permite distinguir dos demais.
Antropologia Cultural Código: A0015 63

Unidade N0 17-A0015

Tema:Identidade Cultura
na Época Contemporânea
Introdução

A época contemporânea é caracterizada por imensidão de factores


efémeros e complexos que interferem profundamente na vida dos
indivíduos, afectando e determinando de alguma forma o curso de
suas vidas. É indubitavelmente o ritmo e volume de transformações
na sociedade em geral e particularmente na vida dos indivíduos que
faz com que esta constituía um objecto de estudo pertinente.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Identificar alguns dos aspectos que caracterizam e marcam a


época contemporânea,
 Identificar influência de alguns aspectos desta época sobre as
identidades culturais dos povos e indivíduos.

Época Contemporânea e
Identidade Cultural
A época contemporânea é algo de que nenhuma sociedade actual se
pode colocar de lado relativamente aos seus efeitos, sendo que os
mesmos se fazem sentir com maior amplitude nos centros urbanos,
ou seja, nas cidades e sobretudo em grandes centros urbanos
(metrópoles). Tais mudanças com impactos em quase todas as
sociedades e domínios da vida social são explicadas em grande
medida pelo fenómeno da globalização, que como se sabe tende a
uniformizar os modos de vida das sociedades, transformando o
mundo numa espécie de aldeia global.
Obviamente que as mudanças sociais sempre estiveram presentes
ao longo do desenvolvimento da humanidade, contudo o que causa
espanto actualmente é o volume destas transformações, a densidade
populacional e ritmo de crescimento, o valor atribuído a produção
Antropologia Cultural Código: A0015 64

económica, tipos de laços sociais existentes entre indivíduos, as


transformação dos hábitos e costumes e importância centralizada
no dinheiro como factor estruturante.
Como já vimos anteriormente a identidade social é um factor
essencial para distinguir os indivíduos e grupos sociais entre si a
partir de determinados traços sociais considerados peculiares a cada
grupo, sendo que igualmente é um factor de integração entre os
indivíduos e que os grupos sociais usam como estratégia no acesso
aos bens e serviços na sociedade.
Dada a intensidade e volume de contactos que os indivíduos
estabelecem entre si na época contemporânea, fica difícil falar de
identidade cultural entanto que algo objectivo ou dado obvio, visto
que os meios de comunicação com os quais os actores sociais
entram em contacto lhes permite assimilar outros valores, recriando
ou transformando deste modo as suas identidades culturais e
removendo as fronteiras não físicas entre os povos; fazendo com
que seja quase que impossível determinar objectivamente uma
identidade cultural concreta.
Tal como nos mostra Agier “…a circulação rápida de
informações, das ideologias e das imagens acarreta dissociações
entre lugares e culturas. Nesse quadro, os sentimentos de perda de
identidade são compensados pela procura ou criação de novos
contextos e retórica identitária.”. (Agier; 2001; pp. 7). Ainda
segundo o mesmo autor, quando falamos em identidade estamos a
nos referir a uma comparação como o outros, visto que só podemos
nos definir quando comparado com alguém ou algo que julgamos
diferentes; ou seja, que não sejamos nos.
E tendo em conta das sociedades contemporâneas podemos então
ver que este facto torna-se mais evidente em contextos
urbanos/cidades. A metrópole na época contemporânea surge como
sendo o espaço por excelência em que as identidades culturais se
tornam cada vez mais problemáticas. Aspectos ligados a mudança
cultural acabam criando a percepção de perda de identidade,
quando de facto esta não se perde pois tratasse de um processo
dinâmico, em que a partir de interacção social os indivíduos
influenciam e são influenciados por valores, crenças, hábitos e
costumes de outros contextos.
“… na cidade, mais que em outra parte, desenvolvem-se na
prática, os relacionamentos entre identidades e na teoria a
dimensão relacional da identidade. Por sua vez estes
relacionamentos trabalham alterando ou modificando os
referentes dos pertencimentos originais (étnicos, regionais,
faccionais, etc.). Essa transformação atinge os códigos de conduta,
as regras de vida social, os valores morais, ate mesmo a língua, a
educação e outras formas culturais que orientam a existência de
cada um no mundo.” (idem; pp. 9-10).
Antropologia Cultural Código: A0015 65

A partir do exposto acima e em outros manuais, observamos que a


identidade social é um processo inacabado e sobretudo em épocas
contemporâneas em que dado o ritmo de mudanças os indivíduos
são obrigados a rapidamente ajustarem tanto a sua identidade
individual como a colectiva por forma a se enquadrarem nesta
diversidade de manifestações culturais. Os meios de comunicação
na época contemporânea permite que os indivíduos ultrapassem as
barreiras físicas existentes e virtualmente estejam no mesmo espaço
partilhando um conjunto de valores, crenças, hábitos e costumes
comuns.

A partir daqui percebemos que na época contemporânea a


identidade social não pode ser visto como algo natural e imutável
uma vez adquirido, mais pelo contrário como um processo
dinâmico em constante transformação em que os indivíduos
possuem simultaneamente varias identidades em função das
necessidades reais de interacção com outros indivíduos e grupos
sociais. O facto de actualmente se considerar que os moçambicanos
e sobretudo s jovens e adolescentes perderam a identidade nacional
tem a ver com o facto de que estes se encontram num contexto em
que assimilam valores de outros contextos, o que não significa a
perda total dos valores nacionais.

Um aspecto relevante que serve para realçar a identidade cultural


dos grupos e indivíduos na época contemporânea são as
manifestações artísticas através de dança, pintura, cântico, entre
outros aspectos, realizados em metrópoles e centros urbanos que
servem para reafirmar a pujança de um grupo num meio marcado
pelo domínio de valores, crenças, hábitos e costumes ocidentais
que tendem a se homogeneizar em quase todo mundo.

A identidade social na época contemporânea e bem como no


outrora não ocorre no vazio, ou seja, a marcação da identidade
implica sempre uma relação com o outro pois implica um objectivo
que esteja em jogo. “Os processos identitários não existem fora do
contexto, são sempre relativos a algo especifico que esta em jogo
(Barth 1969, e Cohen 1974; op. cit. In: Agier, idem, pp. 9). A coisa
em jogo pode ser por exemplo o acesso a terra (caso em que a
identidade é produzida como fundamento das territorialidades), ao
mercado do trabalho (quando as identidades tem o papel de
exclusão, de integração ou privilégio hierárquico) ou as regalias
externas, publicas ou privadas, turísticas ou humanitárias…”
(Agier, ibidem).
Neste sentido, vemos que na época contemporânea as identidades
sociais tornam-se num processo dinâmico que exige do grupo e do
indivíduo capacidade permanente de negociar as suas identidades
diante de circunstâncias específicas. No contexto actual não se
pode falar da identidade como algo fixo e muito menos que
Antropologia Cultural Código: A0015 66

indivíduos e grupos sociais possuam uma única identidade tendo


em conta a multiplicidade de influências que recebem de outros
contextos ou sociedades com as quais se encontram interligados
sob diferentes formas. Assim, podemos de identidades reais que
corresponde a imagem que o individuo ou grupo social faz de si
mesma, e identidades por referência que tem a ver com aquela
identidade que tanto o individuo e bem como o grupo almejam
alcançar em determinado tempo por qualquer razão concreta, e que
pode corresponder a traços, valores, padrões e crenças culturais de
outros grupos e indivíduos.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Explique onde na época contemporânea a questão da identidade


social se torna mais problemática e razão desta?
Resposta: Na época contemporânea, a questão da identidade social
tornasse mais problemática na cidade ou metrópole, tendo em conta
que esta surge como sendo o espaço por excelência em que as
identidades culturais se tornam cada vez mais problemáticas dada a
imensidão e rapidez dos contactos que indivíduos estabelecem com
os outros e para além de que as barreiras físicas são postas de lado
devido a progressão dos meios de comunicação que colocam
indivíduos diferentes partilhando os mesmos valores, apesar de
separados geograficamente.
Antropologia Cultural Código: A0015 67

Unidade N0 18-A0015
Tema: A Constituição de Etno Espaços em
Contextos Urbanos
Introdução

Em sociedades desenvolvidas ou não podemos constatar com maior


ou menor intensidade a existência de determinados espaços que são
habitados por um determinada maioria étnica. Estes e outros
espaços são responsáveis pela dinâmica das próprias cidades em que se
encontram. A mobilidade populacional, impulsionada por vários factores
tais como os aspectos políticos, económicos, de desenvolvimento, etc.
criam um mosaico sócio culturais no mundo como um todo, África em
geral e o país em particular.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Identificar o etno espaço,


 Perceber o advento e importância do etno espaço.

Etno Espaço

A mobilidade populacional surge como um fenómeno antigo e que


acompanha o desenvolvimento da humanidade em diferentes épocas,
sendo motivada pelos mais diferentes factores. Entanto que factor
explicativo da mobilidade social da população encontramos o fenómeno
da migração que pode ocorrer dentro de um mesmo pais, do campo para
cidade, de um pais a outro e bem como continente a outro, tendo por
detrás diferentes fundamentos, tais como busca de melhores condições de
vida, guerras, calamidades naturais, questões profissionais/estudo, entre
outros.

O fenómeno migratório tem a ver com a decisão de um indivíduo ou


grupo que a partir de uma avaliação racional da sua situação individual e
colectiva opta ou não em migrar. Portanto, esta decisão racional é
explicada pela informação que o individuo ou grupo possui sobre o local
de chegada no que se refere aos atractivos possíveis e bem como as
possibilidades reais que o mesmo tem de realizar os seus anseios, e
Antropologia Cultural Código: A0015 68

existência de uma rede social que lhe possibilite ter enquadramento


adequado. Igualmente encontramos factores estruturais ou conjunturais
que obrigam os indivíduos a migrarem não lhes dando a possibilidade de
uma decisão racional. Isto acontece em situações de calamidades
naturais, guerras, obrigações profissionais, etc. Considerando que esteja
num meio que não seja o seu “habitat habitual” tal como a cidade e
considerando o estilo de vida aqui presente que se caracteriza por alto
individualismo, o etno espaço acaba sendo um lugar privilegiado para o
indivíduo poder se integrar na vida urbana e interagir com os seus.

Os estudos sobre as cidades têm dado primazia a questão da morfologia,


deixando de lado as relações sociais que os indivíduos estabelecem entre
si, e que no fundo são responsáveis pela morfologia das cidades ao longo
dos tempos. Segundo Wirth, não se pode dissociar a cidade das relações
sociais pois que “…o estabelecimento das cidades implica o surgimento
de uma nova cultura, caracterizada por papéis [sociais] altamente
fragmentados, predominância de contactos secundários sobre os
primários, isolamento, superficialidade, anonimato, relações sociais
transitórias e com fins instrumentais, inexistência de um controle social
directo, diversidade e fugacidade dos envolvimentos sociais,
afrouxamento nos laços de família e competição individualista. (Wirth
1987; op Cit In: Napulula; 2006, pp-2).”

Etnia entanto que categoria central, se caracteriza pela existência de


fortes laços de parentesco, relações sociais duráveis, grande
controle social directo, comunhão ou partilha, etc seriam aspectos
considerados peculiares ao meio rural e que necessariamente não
existiriam nas cidades, uma vez que esta se encarregaria os destruir.
As características citadas colocam a cidade como um meio
completamente fechado e isolado em que se desenvolve um modo
de vida completamente oposto ao do meio rural negando a
ocorrência de influências inter-espaciais, donde a constituição de
etno-espaços seria um dos resultados.

Etno espaço pode ser definido como sendo um espaço físico na cidade,
habitado maioritariamente por um determinado grupo étnico. Estes
constituem, assim, ambientes específicos de afirmação identitária e
integração comunitária. São por assim dizer, espaços através dos quais os
indivíduos interagem com os demais grupos sócio culturais existentes
nessas cidades, num complexo jogo de influências recíprocas. O etno
espaço permite ao grupo étnico e o indivíduo se integrar devidamente na
cidade, através de uma complexa rede social que lhe presta informações e
apoio necessário em diferentes situações.
Pode-se concluir que o etno espaço também serve como estratégia de
auto- defesa de indivíduos e grupos sociais quando se encontram num
meio que lhes seja “estranho”, pelo que esta junção acaba funcionamento
como mecanismo de integração no meio urbano, visto que parte dos seus
membros já se encontra algum tempo na cidade e detêm conhecimentos
Antropologia Cultural Código: A0015 69

que lhes permitem se acomodar a cultura urbana sem renunciar


plenamente os seus hábitos e costumes.
Em resultado desta estratégia de integração num meio diferente do seu, o
etno espaço surge como forma da etnia poder manifestar os seus hábitos e
costumes e reafirmar estes diante de outras etnias, num complexo jogo de
influências recíprocas.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define etno espaço?


Resposta: Etno espaço surge como um espaço físico na cidade, que
é habitado maioritariamente por determinada etnia.
2- Explique a importância de etno-espaco nas cidades?
Resposta: o etno espaço é importante por possibilitar aos indivíduos
e grupos sociais a sua plena integração no meio urbano, interagir
com os seus e as outras etnias num complexo jogo de influências
recíprocas, alem de permitir ao indivíduo superar determinadas
dificuldades devido a rede social e reafirmar a sua identidade étnica
o que eleva a coesão social.
Antropologia Cultural Código: A0015 70

Unidade N0 19-A0015

Tema:Representações de
Saúde e Doença
Introdução

Em toda e qualquer sociedade encontramos um debate a volta de


questões como saúde e doença, visto que a sociedade em geral
valoriza o bem-estar dos seus membros para a sua subsistência
entanto que sistema, sendo que a doença neste sentido representa
exactamente o oposto e por conseguinte algo que põe em causa a
sociedade na prossecução dos seus objectivos.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Distinguir os principais sistemas de saúde,


 Perceber os conceitos de saúde e doença,
 Perceber a questão das representações de saúde e doença na
sociedade.

Sistemas de Saúde
Antes de entrarmos objectivamente para discussão dos conceitos de
saúde e doença e bem como das representações a sua volta, é
importante discorrermos a volta das abordagens principais sobre a
saúde. É uma questão não só antiga mais também e acima de tudo
problemática, uma vez que não há consenso entre os autores a volta
deste debate que vai da definição do conceito, eficácia de cada
sistema, hegemonia de cada uma delas e os contextos de aplicação
de cada uma delas, o que obviamente abre o espaço a questão das
representações sociais.
No debate sobre os sistemas de saúde, temos duas perspectivas
distintas entre si sendo a biomedicina e a etnomedicina. Ambas
representam formas e sistemas de saúde existentes nas sociedades e
respondem em cada contexto a situações concretas dos indivíduos.
Antropologia Cultural Código: A0015 71

A Biomedicina é um modelo médico que tem seu fundamento em


conhecimentos técnicos científicos para cura de doenças ou
enfermidades que afectam os indivíduos. É considerado como
sendo o modelo vigente, formal e aparentemente hegemónico em
quase todos os países. Tem a particularidade de ser exercido por
indivíduos que fazem formação escolar para o efeito e em
instalações concebidas para o efeito seguindo um ritual que é
praticado da mesma forma pelos seus praticantes.
Em contraposição temos a Etnomedicina que é uma forma de
diagnóstico e cura de doenças baseada em saberes secular em cada
comunidade, que são transmitidos de geração a geração por pessoas
específicas detentoras deste conhecimento de modo informal e não
sistemático.

Saúde e Doença

Saúde e doença são dois conceitos indissociáveis, visto que os


mesmos obedecem ao princípio de oposições binárias, ou seja,
saúde é exactamente o oposto de doença isto tomado no senso
comum e do mesmo jeito que o inverso é válido. Pelo que pode-se
afirmar de algum modo que doença é o contraposto de saúde. A
doença é um conceito complexo e multifacetado, sendo que
etimologicamente deriva do latim dolentia, que significa
padecimento (sofrer de algum mal físico ou psicológico).

Na Medicina e em outras ciências é um distúrbio das funções de


um órgão, da psiqué ou do organismo como um todo que está
associado a sintomas específicos. Pode ser causada por factores
externos, como outros organismos (infecção), ou por disfunções ou
mal funções internas, como as doenças auto-imunes. Falar em
doença implica manifestação, desenvolvimento (estar doente), e
órgãos afectados. Portanto, esta definição médica localiza a doença
apenas no indivíduo, olhando esta como algo meramente biológico,
pelo que o tratamento se resume a medicamentos que são
administrados aos pacientes.

Na perspectiva Bio-Psicosocial a doença é fenómeno complexo


ligado a factores biológicos, psicológicos e socioculturais, afecta
não só o indivíduo mas também mas todas as pessoas que estão em
contacto com ele (família, amigos, etc.), além disso ela tem não
apenas consequências biológicas, mas sociais (isolamento,
preconceito, etiquetação, etc.) e provocam muitas vezes mudanças
no sistema social. Assim, ao falar de factores biológicos é como a
predisposição genética e os processos de mutação que determinam
o desenvolvimento corporal em geral, o funcionamento do
organismo e o metabolismo, etc.
Antropologia Cultural Código: A0015 72

Factores psicológicos - como preferências, expectativas e medos,


reacções emocionais, processos cognitivos e interpretação das
percepções, etc.

Factores socioculturais - como a presença de outras pessoas,


expectativas da sociedade e do meio cultural, influência do círculo
familiar, de amigos, modelos de papéis socias, etc.

Diante destas concepções podemos então definir a doença como


sendo um estado que se caracteriza por uma situação de mau estar
tanto físico, psicológico e socioculturais sentido por um indivíduo
ou grupo social, em decorrência de factores naturais ou
biológicos, económicos e socioculturais por um determinado
período.

Nos estudos sobre a doença um aspecto relevante tem a ver com a


etiologia que é o campo de estudo responsável pelo descobrimento
das causas das doenças, que tanto podem ser causas naturais ou não
naturais tais como económicas, sociais e culturais.

Na óptica da OMS (Organização Mundial da Saúde) pode-se


entender saúde como sendo “situação de perfeito bem-estar social
físico, mental, e social da pessoa”. (Segre, 1997; pp-538). Uma
outra definição da saúde trazida pela OMS considera que esta seria
um recurso diário para a vida.

Como se pode perceber, saúde é vista aqui não só como ausência


de doença, mais acima de tudo perfeito bem-estar social, físico e
mental do indivíduo, que objectivamente é quase que inalcançável,
e subjectivo visto que bem-estar é algo relativo aos indivíduos e
sociedade como um todo. Assim, adoptando parcialmente a
concepção da OMS podemos definir a saúde como sendo um
estado de vigor mental, físico e social de um indivíduo num
determinado momento e que inclui não só ausência de doença.

É importante percebermos que a saúde e doença não são estados ou


condições estáveis, mas sim conceitos vitais, sujeitos a constante
avaliação e mudança ao longo dos tempos.

Representações de Saúde e Doença

É um facto que as representações sociais sobre saúde e doença,


sempre estiveram ligadas a relação entre corpo dos indivíduos,
coisas e outros seres supostamente existente tais como deuses e
espíritos. É a necessidade de explicação dos fenómenos observados
e do mundo a sua volta que fez com que o homem sempre tivesse
essa necessidade de explicação do mundo a sua volta. Assim,
Antropologia Cultural Código: A0015 73

destas explicações sobre a saúde e doença que foi-se construindo ao


longo dos tempos, surgiram obviamente as representações a volta
destes, sendo que tais representações encontram-se tanto na
biomedicina como na etnomedicina.

Historicamente as representações sobre saúde e doença eram


Mágicas, visto que a humanidade ainda não possuía escrita e toda
acção maléfica era resultado da acção de um ser sobrenatural sobre
o ser humano que não tinha condições de se defender e por
conseguinte incapaz de contrapor esta. “As representações
primeiras sobre saúde e doença foram mágicas. Entre os povos
sem escrita, a doença era vista como o resultado da influência de
entidades sobrenaturais, externas, contra as quais a vítima
comum, o ser humano não iniciado, pouco ou nada podia fazer.”
(Sevalho, 1993; pp.352)

Posteriormente surgem as representações Religiosas em que a


doença surgia em decorrência das acções de deuses sobre os
humanos como forma resultado do amor dos deuses e pouco
importando a conduta dos humanos. Ainda ao nível destas
explicações religiosas, a doença resultava duma punição dos deuses
sobre comportamento humano. Transcorrido algum tempo, eis que
surgem as representações Científicas da doença, em que são
buscados vários elementos tais como o meio em que pessoa vive,
seu comportamento ou conduta, hábitos alimentares, estilo de vida,
exposição ao risco, entre outros como factores que originam
doenças.

Deste modo, a humanidade escapa as explicações religiosas e


mágicas para saúde e doença, pelo que os métodos de prevenção,
tratamento e diagnóstico tendem a ser sistemáticos e universais.
Contudo, é importante perceber que estas formas de representação
não fazem parte do passado tal como se pode supor, visto que as
mesmas ainda persistem em algumas comunidades e caminham de
forma recorrente com as explicações científicas em determinados
momentos.

Independentemente do tipo de representação que vigore numa


sociedade não quer isso dizer que as outras sejam inferiores, mais
pelo contrário tipos diferentes de explicação de uma determinada
realidade que neste caso é a doença. As representações sociais
sobre saúde e doença constituem uma componente essencialmente
cultural na medida que se associa a concepções sobre a vida e o
mundo que as comunidades possuem, e que esta explicação
obviamente nem sempre está de acordo com as explicações
científicas, mais que representam uma forma válida.
Antropologia Cultural Código: A0015 74

A partir destas representações, percebemos que saúde e doença são


fenómenos complexos que não se resumem a vertente biomédica,
mais pelo contrário conjugação de aspectos biológicos,
socioculturais, económicos, ambientais, etc. As representações
sociais da saúde e doença, mostram-nos que estas e tudo que com
elas se relaciona tal como a noção de risco, formas de prevenção e
causas, tratamento, formas de contágio, etc., são construídos
culturalmente

Portanto, a identificação das categorias das doenças de


determinado grupo, mostra que o que é definido como doença,
como estas são classificadas, e quais sintomas são identificados
como sinais das doenças, variam de cultura para cultura e não
necessariamente correspondem com as categorias da
biomedicina, ou seja, a medicina formal e tida como hegemonica
e melhor. Na representacao social da doença, temos alguns
passos que caraterizam esta como processo: (a) o
reconhecimento dos sintomas do distúrbio como doença, (b) o
diagnóstico e a escolha de tratamento, e (c) a avaliação do
tratamento.
Antropologia Cultural Código: A0015 75

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Indique os sistemas de saúde por si estudados?


Resposta: existem duas abordagens ou sistemas de saúde
nomeadamente a Biomedicina que surge como uma forma de
conhecimento especializado e sistemático, que tem seu fundamento
em conhecimentos técnicos científicos para cura de doenças ou
enfermidades que afectam os indivíduos. Etnomedicina é uma
forma de diagnóstico e cura de doenças baseada em saberes secular
em cada comunidade, que são transmitidos de geração a geração
por pessoas específicas detentoras deste conhecimento de modo
informal e não sistemático.
2- Define doença?

Resposta: podemos definir a doença como um estado caracterizado


por uma situação de mau estar tanto físico, psicológico e
socioculturais sentido por um indivíduo ou grupo social, em
decorrência de factores naturais ou biológicos, económicos e
socioculturais por um determinado período.

3-Define saúde?

Resposta: define-se saúde como um estado de vigor mental, físico e


social de um indivíduo num determinado momento, incluindo
ausência de doença.
Antropologia Cultural Código: A0015 76

Unidade N0 20-A0015

Tema:Comunidades Rurais
e Modos de Produção
Introdução

As comunidades rurais ou grupos humanos possuem formas


específicas de organizar o trabalho de forma a poderem
satisfazerem as suas necessidades de produção e consumo. Assim,
ao longo dos tempos estes grupos se organizam de forma a
responder satisfatoriamente as suas necessidades alimentares,
económicas e bem como a sua própria subsistência. Neste sentido
podemos então falar de modos de produção que são diferentes dos
ditos formais e para além de possuírem características próprias em
cada contexto de acordo com cada cultura.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

 Perceber o conceito de comunidade rurais e aspectos que o


caracterizam,
 Identificar o modo de produção tradicional patente em algumas
comunidades rurais.

Comunidades Rurais

Ao longo da história, o conceito de comunidade tem sido usado em


contraposição ao de sociedade, sendo que o último indica uma
realidade mais elaborada e complexa, enquanto que o primeiro algo
rudimentar e simplista. Esta distinção pejorativa tinha a ver com
razões meramente ideológicas que atravessaram por razões
anteriormente explicadas na história da Antropologia com o
etnocentrismo e evolucionismo que marcou esta disciplina durante
um longo período; além da oposição cidade e rural, ou seja, urbano
e suburbano.
Antropologia Cultural Código: A0015 77

De facto ambas não estão dissociadas, mais pelo contrário bastante


interligadas uma vez que a comunidade é o pressuposto para
existência de uma sociedade visto esta representar uma comunidade
interdependente. Etimologicamente o termo deriva do latim
communitas que é junção de cum e unitas que traduzido se refere
quando muitos formam uma unidade. Este conceito foi bastante
usado nas ciências sociais e não só no século XIX, como um dos
conceitos chave para a compreensão e a explicação da sociedade
tradicional e da sua transição para a sociedade moderna.

Um dos primeiros pensadores que se debruçou a volta deste termo


foi sem dúvidas Ferdinand Tonnies em 1887, ou seja, final do
século XIX estabelecendo um dualismo entre comunidade
(gemeinschaft) e sociedades (gessellschaft). Para ele, a
“comunidade assenta ora no território comum (casa, aldeia,
região, nação), ora na partilha da mesma língua, crença, etnia,
corporação eclesiástica ou profissional - representa uma entidade
social de identidade e interconhecimento, onde os atores sociais
são vistos no seu todo, onde se fundem as vontades e se entrelaçam
as relações sociais primárias face a face, relações estas
perpassadas de laços personalizados de intimidade e emoção, bem
como de regras adstritas de coerção e controlo sociais.

Já, porém, a sociedade, composta por associações de diversa


índole, na sequência dos conceitos jusnaturalistas dos séculos
XVII e XVIII, constitui um agregado social de base racional e
voluntária, cuja adesão pressuporia um ato voluntário e livre dos
indivíduos e cujas relações se definiriam como fragmentárias e
segmentárias, impessoais e secundárias”1.

Podemos dizer de modo simples que a sociedade tema ver com


uma vontade reflectida resultante da vontade dos respectivos
membros, enquanto a comunidade tem a ver com vontade que é
essencial ou orgânica a si mesma e sem a qual ela não subsiste.
Deste modo podemos definir a comunidade como uma forma
peculiar de associação em que os indivíduos se associam em
decorrência de imperativos profundos do próprio ser que diz
respeito mais á vontade dele enquanto ser e não como uma
escolha.
Na comunidade, prevalece o consenso que representa um modo
associativo de sentir comum e recíproco a vontade da própria
comunidade, ou a força e simpatia social que mantêm unidos todos
os seus membros como um todo. O consenso implica normalmente
posse, uso de bens comuns, inimigos comuns e bem como defesa e
protecção comum ou recíproca entre os membros. As

1
Extracto retirado do texto de apoio da disciplina de Antropologia Cultural em
uso no Ifapa-Beira da autoria do autor do presente manual.
Antropologia Cultural Código: A0015 78

características gerais que se podem indicar da comunidade são:


confraternidade como característica social, a relação dominante é o
parentesco, a forma de riqueza é a terra ou gado, tipo de direito
prevalecente é o familiar, entre outros aspectos.

Modos de Produção das Comunidades Rurais

Em grande parte das comunidades rurais de África e do mundo


geral, as população encontram-se ligadas a actividades meramente
produtivas com destaque para agricultura, pesca e caça conforme as
características de cada zona. Neste processo produtivo patente
nestas comunidades e particularmente em África encontramos
determinados aspectos que por assim dizer caracterizam o modo de
produção rural.

Regra geral, no processo produtivo as comunidades rurais


procuram organizar-se por forma a que cada indivíduo e grupo
social que implica homens, mulheres e adolescente desempenhem
um papel concreto ao longo deste processo em qualquer que seja a
actividade e para além da divisão de actividades em função do sexo
e idade dos seus membros. Portanto, o pressuposto segundo a qual
o modo de produção das comunidades rurais é rudimentar e
desorganizado ou não sistemático, representa uma falácia enorme.

É facto que cada grupo social a partir dos seus hábitos e costumes
encontra formas de realizar as tarefas que julga necessárias e
fundamentais para sua subsistência, igualmente cabendo a cultura a
definição de que tipo de produção a adoptar em cada período
específico. Um aspecto que nos salta a vista quando se fala do
modo de produção das comunidades rurais é sem dúvidas o facto
de que a unidade produtiva é a família entendida como sendo o
grupo doméstico.

É o grupo doméstico quem realiza as actividades produtivas tendo


em vista essencialmente o auto consumo e o remanescente é
deixado para troca ou comercialização dependendo do contexto e é
igualmente o grupo doméstico, o detentor dos meios de produção
debaixo de certas regras culturais específicas de forma a evitar
eventuais conflitos entre os seus membros. Embora pratica com
meios basicamente rudimentar, o modo de produção rural apresenta
algum nível elevado de produtividade e produção para
determinadas actividades, as quais elas mais valorizam ou
consideram que advém altas vantagens.

É assim, que não se pode considerar o modo de produção das


comunidades rurais como essencialmente desestruturado,
rudimentar, etc., uma vez que os fins que ela busca são diferentes
Antropologia Cultural Código: A0015 79

de um modo de produção das sociedades capitalistas, mais ávidas


pelo lucro e comercialização, etc. Nas comunidades rurais, notamos
que o grupo doméstico é simultaneamente a unidade de produção e
de consumo. O conhecimento secular que possuem é determinante
na definição das actividades produtivas a realizar e bem como as
técnicas e estratégias necessárias a adoptar por a forma a alcançar
os seus objectivos.

Embora não seja lucrativa e nem dota de muitos recursos, o modo


de produção das comunidades rurais tem a capacidade de persistir
no tempo, apesar das várias adversidades pelo que ano após ano ela
está produzir. A dimensão do agregado familiar é um factor
importante, posto que normalmente este é directamente
proporcional ao volume dos meios de produção patente nas
comunidades rurais.
Antropologia Cultural Código: A0015 80

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define a comunidade?


Resposta: a comunidade é uma forma peculiar de associação em
que os indivíduos se associam em decorrência de imperativos
profundos do próprio ser que diz respeito mais á vontade dele
enquanto ser e não como uma escolha.

2- Identifique a unidade de produção e de consumo na comunidade


rural?
Resposta: nas comunidades rurais, a unidade de produção é a
família ou grupo doméstico e esta é simultaneamente em maior
parte dos casos a unidade de consumo, ou seja, conscide com esta
visto que a produção visa o consumo em regra.

EXERCÍCIOS PARA RESOLVER


Desenvolva cada um destes temas em cinco (5) páginas no
mínimo:

 Trabalho1 para primeira sessão presencial – Código: T-AC-


01
Antropologia e sua divisão: indicação do objecto de estudo.
Antropologia Cultural Código: A0015 81

 Trabalho2 para segunda sessão presencial – Código: T-AC-


02
Pensamento Racial no passado e actualmente: factores de
construção da teoria racista.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 Agier, Michel, “Distúrbios Identitários em Tempo de


Globalização”, edições Mana; Brasil, 2001
Antropologia Cultural Código: A0015 82

 Copans, Jean, “Antropologia: Ciência das Sociedades


Primitivas?” edições afrontamento; Lisboa; 1989, 3ª edição.
 Cunha, Manuela Palmerim P, “ A Natureza da Raça”, in
Sociedade e Cultura 2; Cadernos do Noroeste, Série Sociologia,
vol. 13 (2) 2000.
 Iriart, Jorge Alberto B., “Concepções e Representações da
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 Lima, António Mesquitella, “Introdução a Antropologia
Cultural”, presença, Lisboa 1991, 9ª edição.
 Napulula, Alamba Feliciano Napulula, “A Constituicao de
Etno Espacos Makondes em Nampula”; In: Analise das
Dinamicas Socio-Espaciais em Mocambique; CEA (Centro de
Estudos Africanos) da UEM (Universidade Eduardo Mondlane)
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 Ribeiro, Eduardo M. Et al, “Agricultura familiar, Cultura Local
e Políticas Públicas: O Caso dos Lavradores do Alto
Jequitinhonha”, Universidade de Federal do Brasil, 2004; Rio
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 Sevalho, Gil, “Abordagem Histórica das Representações
Sociais de Saúde e Doença”, in Cadernos de Saúde Pública, Rio
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 Segre, Marco, “O Conceito de Saúde”, Revista Saúde Pública;
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 Uchoa, Elizabeth e Vidal, Jean Michel, “Antropologia Médica:
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 Woortmann, Klaas, “O Modo de Produção Doméstico em
Duas Perspectivas: Chayanov e Shalins; Brasília, 2001

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