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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA


CURSO DE TURISMO

VICTOR WILLIAM REZENDE DOS SANTOS

POSSIBILIDADES DE TURISTIFICAÇÃO DO BAIRRO DE SÃO


LOURENÇO/NITERÓI: A PERCEPÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS

NITERÓI
2016
VICTOR WILLIAM REZENDE DOS SANTOS

POSSIBILIDADES DE TURISTIFICAÇÃO DO BAIRRO DE SÃO


LOURENÇO/NITERÓI: A PERCEPÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Turismo da Faculdade de Turismo e
Hotelaria da Universidade Federal Fluminense
como requisito parcial para obtenção do Título
de Bacharel em Turismo.

Orientador: Prof. Dr. Aguinaldo Cesar Fratucci

NITERÓI
2016
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá

S729 Santos, Victor William Rezende dos.


Possibilidades de turistificação do bairro de São Lourenço/Niterói :
a percepção dos agentes sociais / Victor William Rezende dos Santos.
– 2016.
120 f. : il.
Orientador: Aguinaldo Cesar Fratucci.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) –
Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Turismo e Hotelaria,
2016.
Bibliografia: f. 114-116.
1 Turismo cultural. 2. Hospitalidade. 3. São Lourenço dos Índios
(Niterói, RJ). I. Fratucci, Aguinaldo Cesar. II. Universidade Federal
Fluminense. Faculdade de Turismo e Hotelaria. III. Título.
POSSIBILIDADES DE TURISTIFICAÇÃO DO BAIRRO DE SÃO
LOURENÇO/NITERÓI: A PERCEPÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS

Por

VICTOR WILLIAM REZENDE DOS SANTOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Turismo da Faculdade de
Turismo e Hotelaria da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para
obtenção do Título de Bacharel em Turismo.

BANCA EXAMINADORA

Niterói, 13 de dezembro de 2016.


À Laura Teixeira Rezende
Minha avó e maior incentivadora.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus, por ter me dado perseverança para alcançar meus objetivos,
a confiança de que em um momento as coisas sempre darão certo, a minha intuição
que considero uma das coisas mais fortes que possuo e pelas oportunidades que
tive ao decorrer da minha vida.

À minha avó Laura, por todo amor, apoio e carinho nessa e em todas as etapas da
minha vida, sempre me incentivando e torcendo pelo meu sucesso. Aos meus pais,
Dharclay e Sergio Murilo, pela dádiva da vida e por terem me ensinado muito dos
princípios que possuo. As meus irmãos Phillipe e Elayne pelos momentos felizes
que compartilhamos juntos desde nossa infância. Aos meus sobrinhos, Sophya,
Eduarda e Ygor e, ao meu afilhado Arthur, que me enchem de felicidade em todos
os momentos que estamos juntos. Obrigado por tudo. Eu amo vocês!

À minha companheira de vida, Stephany, por todo amor, cuidado, compreensão, por
me fazer acreditar no meu potencial e que posso ser uma pessoa melhor. Além de
compartilhar comigo todos os desafios e a rotina de uma vida a dois. Você é
maravilhosa, te amo!

Ao professor Aguinaldo Fratucci, orientador do presente trabalho, por acompanhar


toda trajetória desde as ideias que surgiram em suas disciplinas de Gestão de
Destinos Turísticos I e II. Muito obrigado por ter acreditado na realização desta
conquista, pelo apoio, parceria e experiência compartilhada.

Aos professores da Faculdade de Turismo e Hotelaria que colaboraram com minha


história acadêmica. Em, especial ao Carlos Lidizia, além de professor, grande
amigo, sempre buscando oportunidades para seus alunos, que no meu caso,
consegui conquistar meu primeiro emprego! À Telma Lasmar, minha supervisora de
estágio no Laboratório de Eventos – LEVE. Além disso, nunca irei me esquecer de
suas aulas maravilhosas e de nossa viagem à Ouro Preto! À Erly Maria, o “anjo da
guarda” dos alunos em conclusão de curso, uma pessoa muito querida e de empatia
sem igual. Sou muito grato por ouvir as minhas dúvidas, por revisar meus textos e
por ter sido muito prestativa comigo.

Aos gestores públicos que participaram da minha pesquisa: Rubens Branquinho


(NELTUR), Antônio Egídio (Secretaria Municipal de Cultura) e Maurício Vasquez
(Secretaria Municipal de Cultura e um dos autores do livro “Memória dos Bairros –
São Lourenço”, obra de suma importância para o referencial teórico sobre meu
bairro). Ao Flavio (presidente da associação dos moradores do Morro de São
Lourenço) e ao amigo Ludson Areia. Muito obrigado por terem se disponibilizado a
participar de minhas entrevistas. Além disso, agradecer aos amigos que ajudaram
na pesquisa de campo: Bianca Viegas, Igor Mattos, Iasmim Oliveira, Lettycia Vidal, e
Mariana Carneiro.

Às minhas companheiras de trabalho na Secretaria de Estado de Turismo do Rio de


Janeiro: Valéria Lima por toda amizade, carinho, compreensão e preocupação
comigo durante esse processo. Além disso, tem acompanhado minha trajetória
desde o período de estágio até minha contratação. Sou muito grato por tudo que fez
e tem feito por mim. À Letícia Telles, por ter sido como uma irmã mais velha, por
meio da cumplicidade que construímos, pela paciência, parceria e suporte nas
tarefas rotineiras. E por último, mas não menos importante, Eduarda Farrapo, sem
dúvidas, a pessoa que mais me apoiou nesta etapa. Sem você eu não teria
começado e tampouco terminado este trabalho! Serei eternamente grato pela
amizade, apoio com os textos, revisões, paciência nos momentos difíceis, alguns
“puxões de orelha” e por ter me mostrado que eu poderia ser capaz de concluir essa
etapa da minha vida. Muito obrigado, família PRODETUR-RJ, amo vocês!

À Mariane Cigognini, minha amiga de infância e da vida inteira. Se eu não tivesse


escutado sua ideia de prestarmos o vestibular de 2010, eu não teria vivenciado
grandes momentos no curso de Turismo da UFF. Nesta etapa, fiz amigos incríveis
em minha turma, que acompanharam toda minha evolução na faculdade: Angela
Pereira, Gilnei Mücke, Jessica Siqueira, Lessandro Encarnação e Thais Insuela.
Com o apoio de vocês não teria chegado até aqui, vocês foram minha família na
UFF! Não posso esquecer-me dos meus outros amigos de turma, Fabricio Vieira,
Matheus Knauer e Rafael Oliveira que também foram muito importantes pra mim.

Nessa etapa, também fiz amigos em outras turmas, dos quais não poderia deixar de
agradecer: Bruna Calil, Érica Afonso, Fernanda Marteleto, Gabriela Gayoso, Juliana
Pereira, Larissa Mattos, Letícia Santos, Lívia Nyaradi, Lucas Fischer, Mayara Lima
de Abreu e Thayrine Pacheco. Além disso, por ter participado do Programa de
Acolhimento ao Intercambista, tive a oportunidade de conhecer meus amigos
estrangeiros Hiraku Ando e Victor Romero. Obrigado por tudo, amigos!!
“There are places I remember
All my life though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain…”
The Beatles – In My Life
RESUMO

O presente trabalho analisa as possibilidades de turistificação do bairro de São


Lourenço - Niterói - marco zero da cidade - a partir da percepção dos moradores e
gestores públicos. Para tanto, busca identificar como os aspectos culturais (materiais
e imateriais) presentes no local, bem como a atuação da gestão pública municipal
são percebidos pelos moradores. Para atender a estes objetivos, optou-se por fazer,
ao lado da pesquisa bibliográfica necessária para a fundamentação teórica deste
estudo, a aplicação de entrevistas estruturadas com a população niteroiense e a
realização de entrevistas livres com alguns gestores públicos dos âmbitos da cultura
e do turismo. Os resultados obtidos indicam que a maioria dos moradores não tem
conhecimento de que o bairro é o marco de fundamento da cidade e, que os fatores
que envolvem a gestão pública, parecem mesmo fazer parte de uma grande teia de
interesses políticos. No entanto, notou-se uma percepção positiva no que se refere à
possibilidade de inserção do turismo em um espaço urbano com características tão
peculiares em comparação com restante da cidade.

Palavras chaves: Turistificação. Hospitalidade Urbana. Turismo Cultural. São


Lourenço dos Índios. Niterói-RJ.
ABSTRACT

This work analyzes the possibilities of touristification of the São Lourenço district –
Niterói – the city’s ground zero – based on the perception of the residents and public
administrators. Therefore, it seeks to identify how the cultural (material and
immaterial) aspects present on the site, as well as the performance of the municipal
public management are perceived by the residents. To meet these goals, we chose
to do, along with the bibliographical research necessary for the theoretical basis of
this study, the application of structured interviews with the residents of Niterói and the
conduct of free interviews with some public managers of the fields of culture and
tourism. The results indicate that most of the residents are not aware that this district
is the foundation of the city and that the factors that involve public management
seem to be part of a great web of political interests. However, there was a positive
perception regarding the possibility of insertion of tourism in an urban space with
such peculiar characteristics when compared to the rest of the city.

Key words: Touristification. Urban Hospitality. Cultural Tourism. São Lourenço dos
Índios. Niterói-RJ.
RESUMEN

El presente trabajo analiza las posibilidades de turistificación del barrio de São


Lourenço – Niterói – marco cero de la ciudad- a partir de la precepción de los
residentes y gestores públicos. Por lo tanto, buscan identificar los aspectos
culturales (materiales e inmateriales) presentes en el lugar, además de la actuación
de la gestión pública municipal que son percibidos por los residentes. Para atender
estos objetivos se decidió hacer junto con la búsqueda bibliográfica necesaria para
la fundamentación teórica de este estudio la aplicación de entrevistas estructuradas
a la población niteroense y la realización de entrevistas libres con algunos gestores
públicos de los ambientes de la cultura y el turismo. Los resultados obtenidos indican
que la mayoría de los residentes no tienen conocimiento de que el barrio es el marco
fundador de la ciudad y que los factores que envuelven esta gestión pública parecen
ser parte de un gran grupo de intereses políticos. Por lo tanto, se nota una
percepción positiva en lo que se refiere a una posibilidad de búsqueda de turismo en
un espacio urbano con características tan peliculares en comparación con el resto
de la ciudad.

Palabras claves: Turificación. Hospitalidad Urbana. Turismo cultural. São Lourenço


dos Índios. Niterói-RJ.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Melhorias na infraestrutura de transporte no Porto Maravilha 21


FIGURA 2 Ciclo dos Destinos Turísticos de Butler 22
FIGURA 3 MAC 25
FIGURA 4 Patrimônio Material 31
FIGURA 5 Patrimônio Imaterial 31
FIGURA 6 Mapa interativo dos atrativos turísticos de Niterói 34
FIGURA 7 Mapa do estado do Rio de Janeiro 35
FIGURA 8 Bairros e regiões administrativas de Niterói 36
FIGURA 9 Brasão Niteroiense 37
FIGURA 10 PIB do município de Niterói 45
FIGURA 11 Principais setores econômicos do município 47
FIGURA 12 APAUs do município de Niterói 49
FIGURA 13 Regionalização Turística do estado do Rio de Janeiro 51
FIGURA 14 Praia de Itacoatiara 52
FIGURA 15 Fortaleza de Santa Cruz da Barra 54
FIGURA 16 Folder “Niterói em três Dias” 55
FIGURA 17 Vista a partir do Parque da Cidade 56
Percentual dos visitantes (turistas e excursionistas) de Niterói
FIGURA 18 57
durante a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014
Tipo de hospedagem utilizado pelos turistas durante a Copa do
FIGURA 19 58
Mundo FIFA Brasil 2014
Visitantes domésticos/estrangeiros durante a Copa do Mundo
FIGURA 20 59
FIFA Brasil 2014
Vista panorâmica do bairro de São Lourenço e suas
FIGURA 21 61
imediações
FIGURA 22 Localização do bairro de São Lourenço 62
FIGURA 23 Palacete da Soledade/Seminário São José 63
FIGURA 24 ECG do TCE-RJ 65
FIGURA 25 Vista aérea do Porto de Niterói 66
FIGURA 26 Prédio do antigo Mercado Municipal de Niterói 66
FIGURA 27 Igreja de São Lourenço dos Índios 68
FIGURA 28 Detalhes do interior da Igreja de São Lourenço dos Índios 71
FIGURA 29 Igreja de São Lourenço da Várzea 73
FIGURA 30 Casa de Oliveira Vianna 75
FIGURA 31 Casarios seculares localizados o Ponto Cem Réis de Santana 77
FIGURA 32 G.R.B.C. Araribloco 78
FIGURA 33 Evento de lançamento do Araribloco 79
FIGURA 34 G.R.E.S. Império de Araribóia 80
FIGURA 35 Desfile no Carnaval de Rua de Niterói 2016 80
FIGURA 36 Pesquisa de campo com moradores da cidade de Niterói 85
FIGURA 37 Percentual dos bairros de residência dos moradores 86
participantes da pesquisa
FIGURA 38 Tempo de residência 87
FIGURA 39 Renda familiar 88
Percepção do morador quanto ao bairro de origem do
FIGURA 40 90
município de Niterói
O bairro de São Lourenço no panorama geral dos bairros
FIGURA 41 91
citados
Como os participantes da pesquisa fundamentaram seu
FIGURA 42 92
conhecimento quanto ao bairro de origem da cidade
Fonte de informação referente aos três principais bairros
FIGURA 43 94
elencados
FIGURA 44 Respostas complementares 96
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 15
OS PROCESSOS DE TURISTIFICAÇÃO E SEUS
1 17
DESDOBRAMENTOS
1.1 TURISTIFICAÇÃO DE ESPAÇOS 17
1.2 ASPECTOS DA HOSPITALIDADE URBANA 23
1.3 A ATIVIDADE TURÍSTICA E SEU CONSUMIDOR 26
1.4 O SEGMENTO DO TURISMO CULTURAL E SUAS VERTENTES 28
2 O MUNICÍPIO DE NITERÓI 35
2.1 A HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE NITERÓI 36
2.1.1 Período Colonial 38
2.1.2 Período Imperial 40
2.1.3 Do Início do Período Republicano aos Dias Atuais 42
2.2 ECONOMIA NITEROIENSE 44
2.3 OS ÂMBITOS DA CULTURA E DO TURISMO EM NITERÓI 47
2.3.1 Aspectos Culturais 48
2.3.2 Atividade Turística 50
2.3.2.1 Oferta Turística 52
2.3.2.2 Demanda Turística 56
3 O BAIRRO DE SÃO LOURENÇO E SUAS IMEDIAÇÕES 61
SÃO LOURENÇO APÓS A DECADÊNCIA E EXTINÇÃO DA ALDEIA
3.1 62
DE ARARIBOIA
3.2 PATRIMÔNIO MATERIAL DO BAIRRO E SUAS IMEDIAÇÕES 67
3.2.1 Igreja De São Lourenço Dos Índios 68
3.2.2 Seminário São José/Palacete Da Soledade 72
3.2.3 Igreja De São Lourenço Da Várzea 73
3.2.4 Casa De Oliveira Vianna 74
3.2.5 Ponto Cem Réis 76
3.3 PATRIMÔNIO IMATERIAL DO BAIRRO E SUAS IMEDIAÇÕES 77
Festas Religiosas no Morro de São Lourenço, Ponto de Cem Réis
3.3.1 77
e no Seminário São José
Grêmio Recreativo Escola de Samba (G.R.E.S.) Império de
3.3.2 78
Araribóia
3.3.3 Projeto Musical Samba na Praça 81
A PERCEPÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS SOBRE O POTENCIAL
4 84
TURÍSTICO DO BAIRRO DE SÃO LOURENÇO, NITERÓI
4.1 DADOS SOBRE A PERCEPÇÃO DO MORADOR DE NITERÓI 84
4.2 A PERCEPÇÃO DOS GESTORES PÚBLICOS 98
4.2.1 Entrevista com o Diretor de Turismo da NELTUR 99
Entrevista com o administrador da Igreja de São Lourenço dos
4.2.2 102
Índios
4.2.3 Entrevista com o Coordenador da Divisão de Documentação e 105
Pesquisa da Secretaria Municipal de Cultura
Entrevista com o Presidente da Associação dos Moradores do
4.2.4 106
Morro de São Lourenço
4.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS PESQUISAS 109
CONSIDERAÇÕES FINAIS 112
REFERÊNCIAS 114
APÊNDICES 117
ANEXOS 120
15

INTRODUÇÃO

A temática deste estudo surgiu a partir da relação do autor com o Morro de


São Lourenço – Niterói, onde nasceu e viveu até o início da sua vida adulta. Nesse
período de vivência foi possível observar diversas mudanças positivas e negativas
ocorridas no bairro. Após seu ingresso no curso de turismo e a identificação com a
disciplina Gestão de Destinos Turísticos (I e II), ministrada pelo Professor Dr.
Aguinaldo Cesar Fratucci, orientador deste trabalho, o autor intensificou o seu
interesse em desenvolver a temática em questão.
Segundo informações da obra “Memória dos Bairros de Niterói – São
Lourenço” de Maria Rosalina de Oliveira e Maurício Vasquez (Niterói Livros, 2006),
O bairro de São Lourenço se estruturou a partir do ano de 1568, quando Martim
Afonso, o índio Araribóia, recebeu as terras conhecidas como Banda D’Além, após
colaborar com os portugueses no combate à invasão francesa. Devido à sua
localização estratégica que proporciona uma vista panorâmica da Baía de
Guanabara, o Morro de São Lourenço foi escolhido para abrigar o primitivo núcleo
indígena do líder temiminó, de onde se pode afirmar que a cidade de Niterói
originou-se a partir deste marco.
Atualmente localizado na Zona Norte de Niterói, o bairro abriga em seu
território características peculiares que destoam da atual realidade do município,
tendo em vista seu crescente desenvolvimento urbano. Nesse contexto, foram
erguidos em suas limitações e proximidades diversos monumentos que fazem parte
da história niteroiense. São eles: Casa de Oliveira Vianna; Igreja de São Lourenço
dos Índios; Igreja de São Lourenço da Várzea; Seminário São José/Palacete da
Soledade; entre outros.
Diante dos aspectos históricos, observa-se o potencial para o
desenvolvimento da atividade turística, bem como a valorização e conservação do
patrimônio histórico, identidade e memória. Contudo, sempre existiu um fator que
causava estranheza ao autor quanto à percepção dos moradores da cidade. Nesse
sentido, era perceptível uma divergência de informações, uma vez que, alguns
moradores não tinham conhecimento sobre essa parte da história ou até mesmo não
sabiam da existência do bairro. Sendo assim, o território no qual São Lourenço
localiza-se muitas vezes era confundido com seus bairros limítrofes: Barreto, Centro,
Fátima e Fonseca.
16

Deste modo, surgiu a questão-problema do presente trabalho: Os agentes


sociais (moradores e gestores públicos) percebem a possibilidade de turistificação
no bairro de São Lourenço, especialmente como sendo o marco zero da cidade de
Niterói? Para atender a este questionamento, optou-se por fazer, ao lado da
pesquisa bibliográfica necessária para a fundamentação teórica deste estudo, a
aplicação de entrevistas estruturadas com a população niteroiense e a realização de
entrevistas livres com alguns gestores públicos dos âmbitos da cultura e do turismo.
O objetivo geral foi estudar as possibilidades de turistificação no bairro de São
Lourenço, marco zero do município de Niterói, a partir da percepção dos moradores
e gestores públicos. Os objetivos específicos foram: identificar o patrimônio material
e imaterial da área de estudo; analisar o que compreende os âmbitos da cultura e do
turismo no município e; compreender a percepção dos moradores e gestores
públicos sobre a importância histórica do marco zero, bem como as possibilidades
de turistificação.
A partir do levantamento bibliográfico e dos dados coletados na pesquisa de
campo, foi possível estruturar este trabalho em quatro capítulos, além desta
introdução e das considerações finais.
O primeiro capítulo é utilizado para apresentar o referencial teórico para apoiar
os elementos mais presentes no desenvolvimento do trabalho: turistificação,
hospitalidade urbana, cultura, memória e identidade. No segundo, relatam-se por
meio de uma pesquisa bibliográfica, os aspectos que abarcam os dados
socioeconômicos de Niterói, bem como o seu desenvolvimento histórico. Em
seguida, o bairro de São Lourenço e seu patrimônio material e imaterial são
abordados no terceiro capítulo com uma contextualização histórica. Por fim, no
último capítulo é feita a apresentação das pesquisas realizadas com os agentes
sociais - moradores e gestores públicos, assim como o processo descritivo de
análise dos dados.
17

1 OS PROCESSOS DE TURISTIFICAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS

O planejamento turístico ocorre quando um território é preparado para


desenvolver a atividade turística, contribuindo com orientações aos agentes locais,
principalmente do ponto de vista mercadológico, relativas ao bem receber dos
turistas. Tal fato permite que parte do território seja apropriada pelos agentes sociais
responsáveis pelo turismo, visto que poderá haver mudanças no cenário em
consonância com a preservação e a conservação dos elementos naturais, culturais e
históricos. Segundo Knafou (1996), esse processo é definido como turistificação.

1.1 TURISTIFICAÇÃO DE ESPAÇOS

Ao fundamentar as relações entre turismo e território, Knafou (1996) utiliza


como referência três fontes responsáveis pelo processo de turistificação dos
espaços: os turistas; o mercado (criação e comercialização de produtos turísticos) e;
os planejadores e promotores territoriais (gestores públicos e moradores).
Entretanto, há que se acrescentar outras considerações a partir do ponto de vista do
autor Fratucci:

O turismo manifesta-se através de diversas formas, modalidades e


escalas dentro de um mesmo território. Está subordinado tanto às ações
da iniciativa privada quanto do Estado e até mesmo das pequenas
comunidades organizadas; todo esse movimento ocorrendo de forma
sincrônica num mesmo estado, região ou país. Sua velocidade de
reprodução está acima da maioria das atividades humanas, não respeitando
fronteiras ou limites territoriais, alimentando-se, quase sem escrúpulos, dos
mais variados setores do conhecimento humano, especialmente daqueles
ligados aos avanços tecnológicos e informacionais (FRATUCCI, 2000, p.
121) (grifos nosso).

Em consonância com tais referências, é possível compreender que existe


uma cadeia de agentes necessária para que o fenômeno turístico, em um
determinado território em processo de turistificação, ocorra de forma alinhada com
as estratégias propostas. De acordo com Fratucci (2000), os agentes sociais
produtores do turismo compõem-se de pessoas, grupos sociais, empresas/firmas e
instituições com poder de gerar um efeito sobre o fenômeno e/ou sobre a atividade
turística, com capacidade de intervir, modificar e influenciar o seu curso.
18

No que tange a elaboração de políticas públicas para o setor, é necessário


que se observe o fato de as estratégias diferenciadas serem fatores decisivos para a
gestão dos territórios turísticos. Neste âmbito, são elaborados planos estratégicos
cujo intuito é atrair cada vez mais o turista, tendo em vista que sua avaliação pode
classificar quais partes do espaço são turísticas ou não. Vale ressaltar que nem todo
espaço é turístico, o que faz com que os planos estratégicos não sejam garantias
para que ocorra um processo de turistificação.
Nesse contexto, a comunidade local faz parte dos agentes envolvidos em tal
processo. Vale destacar que a sua segregação pode ser um fato capaz de gerar
conflitos, sendo mais agravante quando se dá por agentes vindos de fora da
comunidade, isto é, iniciativas público-privadas com ações pouco inclusivas.
Pessoas que compartilham um mesmo espaço e uma mesma história, ainda que
possam ter relações divergentes, tendem a apresentar um equilíbrio maior
decorrente dessa herança cultural comum. Com isso, possuem mais discernimento
para somar ao processo de turistificação do que grupos que não partilham dessa
mesma história. Como afirma Cruz (2001),

A importância do turismo reside menos nas suas estatísticas que mostram,


parcialmente, seu significado e mais na sua incontestável capacidade de
organizar sociedades inteiras e de condicionar o (re)ordenamento de
territórios para a sua realização (CRUZ, 2001, p. 9) (grifos nosso).

Tal relevância do território para o turismo fez com que o conceito de


sustentabilidade fosse inserido ao processo de planejamento da atividade turística.
Vale ressaltar que esse conceito não se restringe à questão territorial, mas, também,
às questões socioculturais. Desenvolver um turismo sustentável contribui para a
prevenção e minimização dos impactos negativos por meio de uma gestão que
abarque o meio ambiente urbano e natural, somado aos seus elementos histórico-
culturais. De modo geral, pode-se fazer uso dos recursos naturais e promover fonte
de renda para localidade pela preservação e/ou conservação do seu conjunto
patrimonial.
O interesse maior do processo de turistificação consiste na realização de um
turismo desenvolvido de forma sustentável o qual traga benefícios para todos os
envolvidos. Assim como afirma Fratucci (2000, p. 18) “Esse processo de
desenvolvimento deve ser sustentável, equilibrado, justo e objetivar mudanças”,
19

mudanças essas, que devem atender e compreender as diversas necessidades de


cada um de seus envolvidos de forma digna, para que todos sejam beneficiados.
Para Knafou (1996) existem divergências entre as duas primeiras fontes
participativas da atividade turística quando se trata de inserção no território: o turista
não pertence ao local e o mercado que possui diversas opções para direcionar suas
estratégias de venda e comercialização. Contudo, isso não ocorre com a terceira
fonte (planejadores e promotores), pelo fato de estar inserida diretamente no
território e fazerem parte da identidade em si.

Sabe-se que, quando o processo de implementação turística em uma


região é elaborado a partir de uma visão integrada, que se preocupe com
os aspectos econômicos, mas também socioculturais, e incorpore a ampla
participação da comunidade, o turismo se revela como uma atividade
responsável e incentivadora da própria dinâmica das memórias e da
identidade local (GODOY, 2011, p. 3) (grifos nosso).

Diante do que foi exposto, a turistificação pode ser entendida como o


processo de implementação e incentivo da atividade turística em espaços com
potencialidade para atrair a atenção de turistas potenciais. O planejamento do
turismo deve ser compreendido como fator intrínseco ao seu desenvolvimento e,
associado a isso, o planejamento estratégico integrado a atividade turística.
Nas últimas décadas, diversos governos implementaram intervenções
urbanísticas com o intuito de revitalizar espaços públicos degradados,
principalmente em regiões centrais e portuárias. Com isso, foram observados
diversos fatores atrelados à melhoria da qualidade de vida da população local, bem
como a valorização dos espaços. Alguns exemplos são: Puerto Madero, em Buenos
Aires (Argentina); Port Vell de Barcelona (Espanha) e; Kop van Zuid, em Roterdã
(Holanda):

Em Puerto Madero as intervenções começaram no início da década de 90


e, após a criação de uma sociedade anônima para gestão de serviços
locais, enquanto o governo cuidava da parte de regulamentação dos
projetos, Puerto Madero se tornou um bairro nobre da cidade de Buenos
Aires. Os investimentos atraídos pela proposta de recuperação econômica
da região permitiram a recuperação de diversos armazéns, que foram
transformados em escritórios e residências. Após a construção de hotéis,
salas de cinema, teatros, bares e restaurantes, e da Universidade Católica
Argentina, o porto transformou-se em um polo gastronômico e cultural que,
hoje, é visitado por turistas de todo o mundo. Em Barcelona, a partir de uma
parceria público-privada, e no embalo dos Jogos Olímpicos de 1992, a
20

cidade superou o desafio de ter uma região portuária muito próxima do


centro histórico e conseguiu restabelecer a relação entre as duas áreas,
dignificando espaços públicos, usando tecnologia e valorizando os prédios
históricos da cidade. Um de seus marcos foi a reconversão do Port Vell,
considerada até hoje uma iniciativa extremamente moderna, arrojada e
muito inspiradora para diversas cidades do mundo. Barcelona se
transformou em uma cidade aberta ao mar, com amplas áreas livres e
parques públicos. A segunda maior cidade da Holanda, Roterdã conseguiu
se reinventar a partir de uma nova centralidade urbana desenvolvida às
margens do rio Maas: a Kop van Zuid. Executado em 1980, o plano previa
integrar e criar conexões físicas e sociais entre as duas margens do rio,
melhorar a imagem da margem sul, contribuir para o desenvolvimento
econômico da cidade e garantir retorno social às comunidades da região.
operação urbana exigiu um forte comprometimento dos entes públicos e
privados já que seria impossível para o município arcar sozinho com a
quantia total dos investimentos necessários para a requalificação. Os
investimentos públicos em infraestrutura urbana e a mudança de prédios
públicos para a área do projeto serviram como catalisadores para o
desenvolvimento do Kop van Zuid. Desde então, há um alto grau de
confiança entre os investidores privados, aumentando consideravelmente
sua disposição para investir na área e nos bairros do entorno
(PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2013, sp.).

Um exemplo nacional pode ser observado nas obras do Porto Maravilha 1, na


cidade do Rio de Janeiro. Por meio do projeto foram realizadas diversas obras que
englobaram a recuperação da infraestrutura urbana, dos transportes (figura 1), do
meio ambiente e dos patrimônios histórico e cultural da Região Portuária. Cabe
ressaltar que o projeto também visa estimular o crescimento da população e da
economia naquele local. Algumas projeções de adensamento demográfico indicam
um possível salto dos atuais 32 mil para 100 mil habitantes em 10 anos na região
que engloba na íntegra os bairros do Santo Cristo, Gamboa, Saúde e trechos do
Centro, Caju, Cidade Nova e São Cristóvão (PORTO MARAVILHA, 2016).

1
Mais informações no link: <http://www.portomaravilha.com.br>.
21

Figura 1: Melhorias na infraestrutura de transportes no Porto Maravilha.

Fonte: Porto Maravilha, 2016.

Entretanto, dar início a esses tipos intervenções em uma destinação sem um


plano que organize e regulamente as ações da gestão publica-privada sobre o setor
turístico, pode sujeitar a localidade ao enfrentamento de inúmeras situações
prejudiciais, como por exemplo, a desqualificação do local, fazendo com que a
atividade turística corra riscos.
Segundo Butler (1980), as áreas turísticas são dinâmicas e evoluem com o
tempo. Esse autor elaborou um modelo sobre o ciclo de vida dos destinos turísticos,
no qual discrimina as fases da evolução turística de um determinado local. Tal
modelo compreende as seguintes fases: exploração, investimento, desenvolvimento,
consolidação, estagnação e declínio ou rejuvenescimento. Como pode ser
observado na figura 2, é possível um melhor entendimento do que pode ocorrer em
um destino e assim, servir de auxílio no planejamento e gestão dos recursos
turísticos.
22

Figura 2: Ciclo dos Destinos Turísticos de Butler.

Fonte: Butler, 1980.

Como observa Cruz (2001, p. 17), “as paisagens turísticas derivam da


valorização cultural de determinados aspectos das paisagens, de modo geral, e,
nesse sentido, toda paisagem pode ser turística”. Muitos locais e atrativos foram e
ainda são descobertos como lugares turísticos devido à prática espontânea de
alguns turistas, sem a intervenção direta do mercado. Nesse contexto, o turista pode
ser considerado o principal e mais importante agente de turistificação, pois é capaz
de criar, divulgar e produzir um lugar turístico. Sendo assim, sem o turista não há
turismo e sua presença é imprescindível.
Diante de tais considerações, é possível perceber que o planejamento
turístico intervém no espaço e na paisagem. Como afirma Cruz (2001, p. 57), a
paisagem “é a porção visível do espaço geográfico”. Sendo assim, o espaço
abrange alguns aspectos relevantes como os objetos da natureza e os
socioculturais, podendo ser acrescido de equipamentos específicos para a
ocorrência da atividade turística, interferindo na adequação da paisagem de acordo
com o as demandas sociais vigentes.
Conforme afirma Rodrigues (1997, apud SANTOS, 2016), a formação do
espaço turístico é composta por nove componentes que atuam de forma conjunta:
oferta turística, demanda, serviços, transportes, infraestrutura, poder de decisão e de
informação, sistema de promoção e de comercialização. Santos (2016) em seu
Trabalho de Conclusão de Curso, defendido junto ao Departamento de Turismo da
23

UFF, afirma que tais componentes sintetizam as necessidades que os agentes


sociais possuem ou utilizam no espaço urbano/turístico.
Examinando tal panorama, pode-se indicar ser necessária a existência de
uma infraestrutura urbana eficiente e/ou eficaz, uma vez que a atividade turística
necessita desse requisito para seu funcionamento e manutenção contínua. Ao
analisar os espaços urbanos turísticos é necessário levar em conta todas as
relações espaciais e sociais, pois o turismo necessita de infraestrutura básica local
para seu pleno funcionamento. Portanto, o desenvolvimento do turismo no espaço
urbano pode proporcionar a reestruturação e a revalorização do mesmo para
atender as necessidades tanto dos moradores quanto dos turistas.
Para que a demanda turística seja atendida, é preciso que no território
visitado exista um sistema conectado e produtivo que agrupe bens e serviços
diversificados com intuito de ofertar emprego e renda para os residentes como
retorno do turismo receptivo. Se isso ocorre, o turismo dispõe condições de
contribuir para o desenvolvimento local. “De pouco adianta que o município entre na
frente turística se, simultaneamente, não estiver combatendo seus adversários, a
pobreza, a degradação do território, as tecnologias erradas ou o mau uso da
memória” (YÁZIGI, 1999, p. 155).
O processo de turistificação decorrente de tais condições e elementos permite
a identificação dos elementos que remetem à hospitalidade urbana. Disto resultam
perspectivas que abrangem a relação dos agentes sociais com as características do
território em que vivem. Contudo, é importante ponderar que não existe uma ideia
única de hospitalidade em relação ao espaço, pois ela poderá variar de acordo com
a percepção e necessidade de cada agente social do turismo.

1.2 ASPECTOS DA HOSPITALIDADE URBANA

A hospitalidade, segundo Camargo (2004, p. 52) se caracteriza como "o ato


humano, exercido em contexto doméstico, público e profissional, de recepcionar,
hospedar, alimentar e entreter pessoas temporariamente deslocadas de seu habitat
natural". Assim, pode ser observado que a hospitalidade ocorre em ambientes
diversificados por meio do acolhimento daquele que está fora do seu local de
origem.
24

A Hospitalidade é, portanto, uma relação espacializada entre dois atores:


aquele que recebe e aquele que é recebido; ela se refere à relação entre
um, ou mais hóspedes, e uma instituição, uma organização social, isto é,
uma organização integrada em um sistema que pode ser institucional,
público ou privado, ou familiar (GRINOVER, 2007, p. 31).

Nesse campo de estudo, nota-se que é importante preparar o destino para


que as expectativas dos turistas sejam atendidas em sua visita e que isso seja
estabelecido como uma das principais metas do planejamento. A partir desse
entendimento, pode-se considerar que a hospitalidade não ocorre de maneira
natural, e sim como resultado do planejamento turístico. De acordo com Camargo
(2004, p. 74), "a hospitalidade e o turismo terão de se ocupar do campo da recepção
turística e estudá-lo conjuntamente, sob pontos de vista diferentes".
No que se refere ao conceito da relação entre a hospitalidade e o turismo, é
preciso que sejam criadas condições e regras de convivência que possam permitir
trocas sociais, tanto no convívio diário da sociedade quanto na relação existente
entre visitante e visitado, cujo intuito é ser satisfatório para todas as partes
envolvidas nesse processo.
De acordo com Milton Santos (1996), lugar é um espaço no qual se confere
um grau de afetividade resultado das vivências. Sob tal ponto de vista, um lugar
pode ser aquele que constrói toda uma história e, geralmente, constitui-se como
ícone da identidade de uma comunidade, de uma nacionalidade, de uma cultura.
Além disso, o mesmo autor qualifica o lugar como um espaço produzido por duas
lógicas - a do saber (vivenciado pelas pessoas em suas atividades cotidianas de
trabalho, lazer, estudo, convivência familiar, etc.) e a dos processos que constituem
a globalização, tais como economia, política e sociedade.
É válido considerar a relevância dos estudos sobre a hospitalidade e de sua
utilização nos meios sociais e/ou profissionais como um fator distintivo de
receptividade nos lugares. Existem diversos aspectos que são determinantes para
que um local seja considerado como hospitaleiro. Esses aspectos podem ser
observados a partir das categorias de hospitalidade propostas por Grinover (2006):
acessibilidade, legibilidade e identidade.
Em sua abordagem, Grinover (2006) indica que uma política urbana
adequada preocupa-se com o acesso à cidade por parte de qualquer indivíduo, a
determinadas atividades e/ou serviços disponíveis. Além disso, ressalta que a
25

acessibilidade pode ser considerada como a oferta de instalações ou meios físicos


que permitam essa acessibilidade, ou, ainda, atentem para a questão
socioeconômica, tendo em vista ser um direito de todos.
O conceito de legibilidade está diretamente ligado à qualidade visual de um
determinado espaço urbano, analisada por intermédio do imaginário de seus
habitantes em relação às paisagens locais. Seu intuito é apontar como uma cidade
pode ser organizada e compreendida por meio de seu patrimônio, bairros e vias. Um
ambiente urbano integrado fortalece o conceito de legibilidade (GRINOVER, 2006).
A identidade de uma região, cidade, bairro, é ao mesmo tempo o passado
vivido por seus agentes sociais e um futuro almejado pelos mesmos (GRINOVER,
2006). Portanto, considera-se que a identidade é um processo de reconhecimento e
apropriação de elementos que um sujeito consolida ao viver em uma determinada
cultura. Sendo assim, um atrativo turístico de grande simbologia para a cidade, pode
ser considerado um signo apropriado à identidade da mesma.
Um exemplo tangível a esta afirmação é o Museu de Arte Contemporânea
MAC (figura 3), localizado na cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. De
acordo com informações obtidas no website da Niterói - Empresa de Lazer e
Turismo S/A (NELTUR), o MAC foi inaugurado em dois de setembro de 1996. O
museu é considerado o atual símbolo da cidade de Niterói, além de ser utilizado em
diversos logotipos institucionais do governo municipal, órgãos adjacentes, empresas
locais, entre outros. A arquitetura futurista e peculiar criada por Niemeyer tornou-se
um marco da arquitetura moderna mundial, sendo considerada uma das sete
maravilhas do Mundo em museus pela mídia especializada (NELTUR, 2016).

Figura 3: MAC.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura de Niterói, 2016.


26

O turismo compreendido como atividade socioeconômica, torna-se um


potencial transformador dos territórios. Logo, é pelo processo de produção e
consumo que o turismo gerencia e organiza os espaços turistificados. Por isso, a
presença de infraestrutura urbana eficiente e/ou eficaz atrelada aos fatores
fundamentadores da hospitalidade tornam-se requisitos necessários para a
construção do espaço turístico e de uma imagem positiva, fazendo com que a
comercialização dos espaços seja franqueável.

1.3 A ATIVIDADE TURÍSTICA E SEU CONSUMIDOR

De acordo com os fatores abordados na seção anterior, pode-se observar que


o turismo interfere de forma direta e indireta na economia, nos destinos turísticos e
no cotidiano da população local. Com isso, pode-se dizer que o mesmo se
estabelece como um fenômeno econômico, social, e cultural. A prática de sua
atividade dispõe de uma cadeia produtiva complexa, composta por diversos gêneros
mercadológicos, tais como alimentos e bebidas (A&B), deslocamento/transporte,
hospedagem, lazer e recreação, roteiros, entre outros. A fim de formalizar este
conceito, a Organização Mundial do Turismo (OMT) define o turismo da seguinte
maneira:

O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas


viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um
período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou
outras (OMT, 2001, p. 38).

Com base nessa consideração, é importante o entendimento da classificação


do indivíduo que viaja. A OMT (2001, p. 40) define viajante como “qualquer pessoa
que viaje entre dois ou mais países ou entre duas ou mais localidades em seu país
de residência habitual” e visitante como “todos os tipos de viajantes relacionados ao
turismo”.
Porém, a OMT define turista como “passageiro que permanece uma noite,
pelo menos, em um meio de alojamento coletivo ou privado do país visitado” e
excursionista como “viajante que não pernoita num meio de alojamento coletivo ou
privado do país visitado” (2001, p. 40). Nesse contexto, a divergência entre estas
terminologias está relacionada com a ocasião de ocorrer ou não a permanência em
27

um determinado lugar em forma de pernoite, podendo exercer interferência em


resultados de pesquisas e dados estatísticos da atividade turística.
Segundo Beni (2001), o objetivo da viagem, sua duração e a distância
percorrida caracterizaram-se como os três principais elementos para a construção
de diferentes definições de turistas. Atualmente, as pessoas que viajam são
percebidas como clientes de serviços turísticos, não importando quais fatores as
motivam. Porém, de acordo com a OMT, esses consumidores podem ser
classificados em turistas, excursionistas e visitantes.
A globalização proporcionou diversos benefícios à atividade turística, dentre
eles o acesso a informações prévias a respeito dos destinos turísticos. Ao acessar
internet, os turistas podem tomar conhecimento sobre os destinos que pretendem
visitar. No website TripAdvisor2, os usuários podem trocar diversas dicas e
feedbacks a respeito de atrativos, restaurantes, meios de hospedagem, entre outros.
Com isso, a competitividade influencia fortemente o turismo exigindo das localidades
turísticas.
Tendo em vista o perfil dos consumidores e seus desejos por novas
experiências, as políticas de planejamento e gestão para os destinos turísticos, em
conjunto com diversas estratégias de propaganda e marketing, são formuladas a fim
de desenvolver as melhores opções entre oferta (características da região,
equipamentos e serviços turísticos) e demanda (fator comum entre os turistas reais e
os que ainda visitarão a localidade). Em 2010, o Ministério do Turismo (MTUR), com
o objetivo de atingir os mercados-alvo, estabeleceu os seguintes segmentos
turísticos considerados prioritários para o desenvolvimento do turismo no país:
cultural; negócios e eventos; rural; sol e praia; ecoturismo; aventura; pesca; saúde;
náutico; estudos; e social.

Com enfoque na demanda, a segmentação é definida pela identificação de


certos grupos de consumidores caracterizados a partir das suas
especificidades em relação a alguns fatores que determinam suas decisões,
preferências e motivações, ou seja, a partir das características e das
variáveis da demanda. Os produtos e roteiros turísticos, de modo geral, são
definidos com base na oferta (em relação à demanda), de modo a
caracterizar segmentos ou tipos de turismo específicos (BRASIL, 2014, p.
3).

2
Mais informações no link: .<http://www.tripadvisor.com>.
28

Há que se acrescentar que, conforme a necessidade do viajante consumir


produtos cada vez mais diferenciados e inovadores, outros segmentos de turismo
podem surgir no decorrer do tempo. Ao que se percebem, tais classificações existem
por uma estratégia de mercado, mas isso não influencia, necessariamente, um
indivíduo que esteja praticando turismo de sol e praia não possa frequentar uma
feira de eventos ou outra atividade que não esteja diretamente relacionada à
principal naquele destino. Sendo assim, o turista tem a possibilidade de usufruir de
diversos segmentos em uma única viagem.
Essa ideia difunde o ponto de vista de que o planejamento turístico pode ser
um processo participativo envolvendo os agentes sociais de uma determinada
localidade, pois incentiva a geração de empregos, crescimento da economia,
investimentos em infraestrutura, conservação do patrimônio histórico, entre outros
benefícios.

A participação é uma questão importante do planejamento turístico.


Ela é o preparo das comunidades para administrar o turismo, porém, são
produtos dos arranjos institucionais, dos indivíduos, das estruturas de
poder, dos interesses e valores que afetam o processo de tomada de
decisão em diferentes escalas. Além disso, é produto de um conjunto de
relacionamentos que se desenvolvem entre os envolvidos no
planejamento turístico e no processo político. A participação é, portanto,
o relacionamento existente dentro do sistema político (HALL, 2001. p. 92)
(grifos nosso).

De acordo com essas definições, foi visto que o desenvolvimento turístico tem
a capacidade de envolver os agentes de seu âmbito, além de proporcionar uma
troca de cultura a partir do conhecimento e vivência obtidos. Disto resulta a
promoção e valorização dos bens materiais e imateriais, o que faz com que a cultura
seja um fator de importância para este processo.

1.4 O SEGMENTO DO TURISMO CULTURAL E SUAS VERTENTES

O Turismo Cultural pode ser relacionado com a motivação do turista em visitar


patrimônios histórico/culturais, participar de eventos do mesmo segmento, ter
contato direto com alguma sociedade distinta de sua vivência, agregar
conhecimento, entre outros. Tal prática tem contribuído para a consolidação
econômica e cultural em diversas localidades e, em consequência, a preservação
29

das mesmas. Nesse âmbito, além de impedir a deterioração dos bens culturais, o
segmento também tem contribuído para o tombamento3 do patrimônio. Barreto
(2007) observa que:

O turismo cultural surge como uma alternativa por tratar-se de um turismo


de minorias, cujos protagonistas, que seriam turistas não institucionalizados,
experimentais, experienciais e existenciais, são mais educados e respeitam
o meio ambiente natural e cultural. O turismo cultural, de acordo com essa
premissa, teria menos efeitos negativos nos núcleos receptores, e durante
um tempo seu aumento proporcional foi bem recebido. Por outro lado, trata-
se de pessoas que procuram um contato íntimo com a população local,
respeitando seu modo de vida, sem pretender impor seus padrões; são
pessoas que se adaptam com facilidade à cultura local e consomem
estados e espírito em lugar de coisas materiais (p. 84) (grifos nosso).

O MTUR, junto ao Ministério da Cultura (MINC) e o Instituto de Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), caracteriza o turismo cultural como “[...]
atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos
do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo
os bens materiais e imateriais da cultura” (BRASIL, 2008, p. 16). O órgão ainda
pondera que o desenvolvimento deste tipo de segmento deve prezar pela
valorização e promoção das manifestações culturais locais/regionais, preservação
do patrimônio histórico e cultural e geração de oportunidades de negócios no setor,
respeitando os princípios, símbolos e significados dos bens materiais e imateriais da
cultura local.
Informações obtidas junto ao portal da Secretaria de Cultura do município de
Niterói - Cultura Niterói4 (2013) indicam que o tombamento de um bem pode ser
realizado em âmbito nacional, por intermédio do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), estadual, por intermédio do Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Cultural do Rio de Janeiro (INEPAC), ou municipal, por
intermédio da Secretaria Municipal de Cultura. Em Niterói, o tombamento está
regulamentado na Lei n.º 827de 25 de junho de 1990.

3
Conforme os dados disponibilizados no site do IPHAN (2016), o tombamento é o instrumento de
reconhecimento e proteção do patrimônio cultural mais conhecido, e pode ser feito pela administração
federal, estadual e municipal. Em âmbito federal, o tombamento foi instituído pelo Decreto-Lei nº 25,
de 30 de novembro de 1937, o primeiro instrumento legal de proteção do Patrimônio Cultural
Brasileiro e o primeiro das Américas, e cujos preceitos fundamentais se mantêm atuais e em uso até
os nossos dias. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 25 abr. 2016.
4
Mais informações no link: <http://www.culturaniteroi.com.br>.
30

O que se procura preservar são as características do bem, impedindo sua


destruição ou descaracterização. Como visa ao reforço da identidade
através da preservação da memória, uma das preocupações do
tombamento é com a visibilidade do bem tombado. Assim, no caso de bens
imóveis, procura-se delimitar uma área de entorno do imóvel tombado, para
impedir a construção de novas edificações que impeçam a sua visibilidade
(SECRATARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013) (grifos
nosso).

Como afirma Edward Tylor (1958 apud LARAIA, 2005, p. 25) cultura “é este
todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma
sociedade”. Esta consideração amplia o conceito de cultura e abre um leque de
possibilidades para se caracterizar o turismo cultural, uma vez que este comporta
diversas especificações, associando-se a aspectos que podem ser representados
pelo patrimônio material e imaterial. O conceito constitucional de patrimônio cultural
pode ser verificado no artigo 216 da Constituição Federal de 1988:

Art. 216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico–culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988).

De acordo com informações obtidas no website oficial do IPHAN (2016), os


bens culturais materiais (figura 4) podem ser caracterizados como núcleos urbanos,
sítios arqueológicos e paisagísticos, coleções arqueológicas, acervos museológicos,
documentais, bibliográficos entre outros.
31

Figura 4: Patrimônio Material.

Fonte: IPHAN, 2016.

Já os bens culturais imateriais (figura 5), segundo a mesma fonte, são as


práticas e domínios da vida social manifestada em saberes, ofícios e modos de
fazer, celebrações, formas de expressões cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas
(IPHAN, 2016).

Figura 5: Patrimônio Imaterial.

Fonte: IPHAN, 2016.

Por meio da preservação dos patrimônios materiais e imateriais, evita-se o


esquecimento de fatos passados e características tradicionais e/ou peculiares de um
determinado povo ou território. Outro ponto relevante é a relação existente entre o
conceito de patrimônio histórico e os aspectos de identidade e memória.

A identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de


processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no
momento do nascimento. Existe sempre algo “imaginário” ou fantasioso
sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre “em
processo”, sempre “sendo formada” (HALL, 2011, p. 38).

Tratando-se de memória, esta se relaciona com a experiência vivenciada no


destino, tantos dos residentes quanto dos turistas, e a forma na qual se propaga no
imaginário das pessoas. Nesta direção, Barreto (2000, p. 47) afirma que
“inexoravelmente à recuperação da cor local e, num ciclo de realimentação, a uma
procura por recuperar cada vez mais esse passado”.
32

A cidade é um sistema de signos, um vocabulário dominado pelo cidadão.


Os lugares vivos constituem referências para a memória e as culturas
locais. É essencial o cultivo da memória urbana. O historiador, o poeta, o
músico fazem do todo e dos fragmentos da cidade, o foco da organização
de lembranças e da liberação de emoções. A emoção impregna o meio
ambiente popular urbano. A cidade é um composto de pedras e tijolos
acumulados, e de costumes e afetos praticados pela população urbana
(CANEVACCI, 1998 apud GRINOVER, 2007, p. 46).

Pode-se considerar que a memória e a identidade corroboram na


conservação e disseminação de características, costumes e relatos locais. Isso pode
permitir que os residentes e turistas sintam-se parte dessa construção histórica,
absorvendo a identidade e a memória local e promovendo uma forma de legado
para outras gerações.

Uma memória coletiva se desenvolve a partir de laços de convivências


familiares, escolares e profissionais. Ela entretém a memória de seus
membros, que acrescenta, unifica, diferencia, corrige e passa a limpo.
Vivendo no interior de um grupo, sofre as vicissitudes da evolução de seus
membros e depende de sua interação (BOSI 1994, apud OLIVEIRA;
VASQUEZ, 2006, p. 18) (grifos nosso).

Além disso, há de se pensar que o patrimônio por meio de sua interpretação,


pode ser um instrumento de sensibilização para a sociedade, contribuindo com sua
percepção e, consequentemente, melhor entendimento dos processos que ocorrem
em um destino turístico. A interpretação patrimonial de acordo com Albano e Murta
(2002, p. 19-20) “não é um evento em si, mas um processo contínuo que envolve
comunidade com o passado, o presente e o futuro de um acervo, de um sítio ou de
uma cidade. Seu objetivo é apresentá-los, promovê-los e atualizá-los, como marcos
importantes e como atrações”.
Considerando tal afirmação, pode-se afirmar que a interpretação patrimonial é
um instrumento elementar para o turismo cultural, podendo ser utilizada como
propagador de diversas informações e curiosidade sobre os patrimônios culturais, e
como resultado, mostrando seu significado. Ademais, uma educação patrimonial
pode incentivar a sustentabilidade de utilização dos bens patrimoniais por meio de
indivíduos conscientes a respeito dos elementos que constituem uma localidade.
Porém, necessita-se ter em vista diversos aspectos importantes a fim de
contribuir de forma positiva com os objetivos esperados em uma visita. Sendo assim,
verificam-se os benefícios da interpretação em dois aspectos: valorização da
33

experiência que o turista tem ao visitar o local/atrativo; e valorização o próprio


patrimônio, se tornando uma atração turística (ALBANO; MURTA, 2002).

A história de um povo não é feita apenas pelos grandes personagens, nem


é guardada ou registrada apenas por documentos escritos. Ela é construída
e reconstruída no cotidiano, sendo reinterpretada através do tempo
(OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p. 17).

Diante de diversos aspectos e instrumentos que auxiliam o planejamento do


turismo, cabe observar que um dos desafios dos gestores no âmbito do turismo
cultural, é selecionar os patrimônios sem privilegiar uns em detrimento de outros.
Isso pode acarretar um sentimento de inferioridade de alguns grupos sociais.
Ademais, tal fato pode influenciar na ideia de pertencimento dos moradores de uma
determinada localidade.
A construção do MAC em Niterói fez com que a cidade se apropriasse de um
grande símbolo associado à sua imagem, cultura e arquitetura urbana. Com isso, o
turismo da cidade foi privilegiado com um importante chamariz para o turismo local
que, individualmente recebe centenas de milhares de turistas de toda parte do país e
do mundo anualmente.
A despeito deste fato, a gama de atrativos, culturais, naturais e arquitetônicos
(figura 6) que a cidade oferta foi ofuscada pelo sucesso e popularidade do Disco
Voador - apelido associado ao museu na linguagem popular. Isso fez com que o
processo de modernização da cidade se tornasse mais importante do que a
preservação de sua identidade e memória.
34

Figura 6: Mapa interativo dos atrativos turísticos de Niterói.

Fonte: NELTUR, 2016.

No próximo capítulo serão abordados dados econômicos e históricos sobre


Niterói. O principal enfoque baseia-se no processo de criação e desenvolvimento do
município, desde um primitivo aldeamento indígena no Morro de São Lourenço, (em
sua região central) em meados do século XVI, até se tornar uma das cidades com
representativos índices socioeconômicos nos cenários estadual e nacional.
35

2 O MUNICÍPIO DE NITERÓI

De acordo com informações e dados estatísticos registrados pelo Instituto


Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), Niterói é um município localizado às
margens da Baía de Guanabara no estado do Rio de Janeiro (figura 7), região
Sudeste do Brasil. Sua população é de aproximadamente 496.696 habitantes
(equivalente apenas a 3% da população total do estado) inseridos em uma área de
133.916 km² (equivalente apenas a 0,3% do território total do estado), resultando
uma densidade demográfica de 3.640,80 habitantes/km². Seus municípios limítrofes
são: Maricá, Rio de Janeiro e São Gonçalo (IBGE, 2016).

Figura 7: Mapa do estado do Rio de Janeiro.

Fonte: Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores


Públicos do Rio de Janeiro – CEPERJ, 2014.

Segundo informações contidas no Plano Estratégico “Niterói que Queremos”


(PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2013), em sua atual administração
territorial, o município possui 52 bairros distribuídos entre cinco regiões de
planejamento, subdivididas em secretarias regionais - Praias da Baía, Norte,
Pendotiba, Leste e Oceânica (figura 8). “É uma cidade densamente povoada e suas
regiões mais populosas estão concentradas a noroeste. Entretanto, vale destacar
que nas últimas décadas o seu grande desenvolvimento urbano deu-se
36

principalmente na direção das praias oceânicas” (PREFEITURA MUNICIPAL DE


NITERÓI, 2013, p. 13).

Figura 8: Bairros e regiões administrativas de Niterói.

Fonte: Google Imagens, 2016.

2.1 A HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE NITERÓI

De acordo com a obra “Memória dos Bairros de Niterói – São Lourenço” de


Maria Rosalina de Oliveira e Maurício Vasquez, Niterói só foi estabelecida de fato
como município em 1834/35 (na época intitulada como Vila Real da Praia Grande),
quando a Corte do Império do Brasil a concedeu o título de capital da província do
Rio de Janeiro. Tal fato reafirmou o poder da Corte sobre as terras conhecidas na
época como Banda D’Além. Porém, sua origem antes de se tornar vila e depois
cidade está imbricada com a fundação da cidade do Rio de Janeiro em 1565,
37

quando suas terras foram concedidas ao índio Araribóia (cobra feroz, em tupi) após
período das invasões francesas na Baía de Guanabara (OLIVEIRA; VASQUEZ,
2006).

A Banda d'Além, neste século, por duas vezes socorreria o Rio de Janeiro:
a primeira em 1710, quando Duclerc ataca a cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro, sendo rechaçado pelos canhões da Fortaleza de Santa
Cruz. Duclerc desembarcou em Sepetiba e pôs-se a caminho da cidade do
Rio de Janeiro atravessando os morros. Ele e seus homens chegaram na
cidade exauridos pela difícil travessia e foram facilmente derrotados pelas
forças da capital. Num ano depois, os franceses enviam outra expedição,
comandada por Duguay-Trouin. Desta feita, entraram na baía, dominaram e
saquearam a cidade do Rio de Janeiro. Para se verem livres dos franceses
foi acertado um resgate totalizando 610.000 cruzados, 200 bois e 100
caixas de açúcar. Os cariocas pagam os cruzados exigidos, mas os bois e o
açúcar foram fornecidos pela população da Banda d'Além (SECRETARIA
MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013, sp.).

Em consonância com seu processo histórico, o brasão do município (presente


em sua bandeira, figura 9), possui três datas em destaque como indica a figura 8:
1573, a data da fundação do município; 1819, a data da elevação da região à
condição de Vila, com o nome de Vila Real da Praia Grande e; 1835, a data da
elevação da Vila à condição de cidade.

Figura 9: Brasão Niteroiense.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura de Niterói, 2013.

Segundo informações contidas no website da Secretaria Municipal de Cultura,


o município é o único do Brasil fundado por um índio e, ao que se verifica, Araribóia
38

tornou-se um personagem de notoriedade no período colonização portuguesa no


Brasil nos âmbitos nacional, estadual e municipal. (SECRETARIA MUNICIPAL DE
CULTURA DE NITERÓI, 2013).

2.1.1 Período Colonial

No Rio de Janeiro, durante os primórdios da colonização portuguesa no


Brasil, Mem de Sá concedeu a sesmaria conhecida na época como Banda D’Além
ao índio Araribóia e diversos bens como prêmio por ter liderado sua tribo junto aos
portugueses na batalha de expulsão dos franceses, em 1565. Naquela época, uma
exigência fundamental para a corte portuguesa conceder uma sesmaria no Brasil,
era o favorecido ser cristão e possuir bens que possibilitassem o desenvolvimento
das terras recebidas. Devido a tais exigências Araribóia foi batizado e adotou o
nome cristão de Martim Afonso de Souza (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006).

As terras da Aldeia haviam sido doadas a Antônio de Marins Coutinho,


provedor da Fazenda do Rio de Janeiro. Não tendo demonstrado qualquer
interesse nas terras, concordou em cedê-las para a instalação da Aldeia de
São Lourenço. A cessão foi oficializada através da Escritura de Renúncia
que Antônio de Marins e sua esposa, Isabel Velha, fizeram em favor do
capitão Martim Afonso de Souza, nosso Araribóia (SECRETARIA
MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013, sp.).

Em 22 de novembro de 1573, foi fundado o aldeamento de São Lourenço dos


Índios, o mais antigo do Rio de janeiro. A aldeia instalou-se no morro de São
Lourenço, local estratégico por proporcionar uma vista panorâmica da Baía de
Guanabara. Além da proximidade com a baía, o atual bairro de São Lourenço era na
época um grande mangue de difícil acesso, principalmente durante a maré baixa
(OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006).

Já neste primeiro século, a região começa a receber outros colonos.


Sesmarias são instaladas em Icaraí e Piratininga. Os jesuítas mantêm, aqui,
a Fazenda do Saco, destinada à produção de alimentos para o Colégio, no
Rio de Janeiro. Essa colonização, incentivada pela coroa portuguesa,
visava a incrementar a ocupação das Bandas d'Além, uma vez que os
portugueses não confiavam no desenvolvimento das terras entregues aos
índios. Em 1583 é estabelecida a primeira armação; local de
esquartejamento e beneficiamento de baleias. As baleias eram presas
fáceis, já que entravam na baía para acasalamento e procriação. A
quantidade de armações construídas e a importância econômica da
atividade para a colônia tornaram aquela região conhecida como Ponta da
39

Armação. Autores dão conta de que muitos índios da Aldeia trabalharam na


pesca da baleia (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI,
2013, sp.).

É importante destacar a presença dos jesuítas no assentamento indígena, o


qual tinha o intuito de converter os índios ao catolicismo e educá-los. Além disso, foi
estabelecido no local um centro de produção ceramista que se destacou na região
da Baía de Guanabara. “Sob a supervisão dos padres, tornaram-se mestres na
feitura de lajotas, telhas e objetos decorativos” (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p.32).

A Aldeia de São Lourenço contava com a proteção dos jesuítas, que lá


encenaram a primeira representação teatral em terras fluminenses, o
Mistério de Jesus, mais conhecido como Auto de São Lourenço. Escrito por
Anchieta, o Auto é um típico exemplo do teatro jesuítico, com forte caráter
pedagógico e doutrinador. Nele, três demônios do folclore indígena,
Guaixara, Savarana e Aimbiré, procuram destruir a Aldeia incentivando o
pecado, mas são vencidos por São Sebastião e São Lourenço. A alegoria
parece indicar que os demônios representariam os franceses e os
tupinambás e os santos representariam a cidade do Rio de Janeiro e a
Aldeia. Assim, a união entre os temiminós e os portugueses seria o fator
que possibilitaria a vitória sobre os inimigos. Além disso, ficavam implícitos
na representação os perigos que traria para a Aldeia o retorno dos antigos
costumes pagãos. A salvação seria conseguida através do respeito e
observância às práticas cristãs e à direção da Igreja (SECRETARIA
MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013, sp.).

Em relação à escolha de São Lourenço como o padroeiro da aldeia, supõe-se


toda uma analogia simbólica. Naqueles tempos a antropofagia e o consumo de uma
bebida alcoólica conhecida como cauim estavam entre os maiores problemas que os
jesuítas enfrentavam no processo de evangelização. A forma como São Lourenço foi
morto no ano 258, assado numa grande grelha, pôde ser relacionada com a grelha
do moquém na qual os indígenas assavam seus reféns em rituais canibalescos
(OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006).
Segundo Oliveira e Vasquez (2006), diversas e interessantes considerações
puderam ser traçadas sobre a coincidência entre a história do martírio do santo e a
do moquém. Assim, após a escolha do padroeiro, foi demandada a construção de
um templo religioso, com o intuito de fomentar o processo de evangelização dos
indígenas. No entanto, tal construção sofreu diversas intervenções no decorrer do
tempo conforme a cronologia abaixo:

 1570: Construção de uma singela capela de taipa;


40

 1586: Reforma da capela seguindo a mesma estrutura, porém, com


características mais modestas;
 1627: Realizada a obra de uma capela em pedra, cal e óleo de baleia e;
 1769: Após a expulsão dos jesuítas do Brasil, houve uma reforma que deu
origem à sua atual estrutura. Os principais aspectos de sua arquitetura são:
fachada no estilo jesuítico clássico; nave única de salão com paredes
despojadas sob telha vã; pia batismal com concha para água benta e lavabo,
ambas em pedra de Lioz; coro de forma e acabamento simples e; rigoroso
retábulo barroco, considerado por inúmeros estudiosos uma das obras mais
importantes da primeira fase dos retábulos jesuíticos.

A conclusão da obra deu formato à Igreja de São Lourenço dos índios, que
permanece até os dias atuais como o principal marco de fundação da aldeia
indígena de Araribóia e consequentemente, marco da primeira ocupação portuguesa
no território que deu origem ao município de Niterói. Supõe-se que o falecimento do
índio chefe do aldeamento data-se em 1589, supostamente causado por doenças
graves que atingiram a aldeia naquela época. Sua dinastia esteve à frente da aldeia
até extinguir-se por volta do século XVIII, mesmo período em que as crises dos
colonos com os indígenas pela posse da terra se tornaram mais frequente
(OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006).

2.1.2 Período Imperial

A paulatina desestabilização do primitivo aldeamento de São Lourenço dos


Índios fomentou a ocupação de diversos espaços da Vila Real da Praia Grande,
como por exemplo, regiões mais facilmente alcançadas por mar: Icaraí, São
Domingos, Itaipu, entre outras (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006). De certa forma, tal fato
propiciou o desenvolvimento da Vila, principalmente no período imperial:

Desde a abdicação de Dom Pedro I, em 1831, o Império brasileiro vinha


sendo governado por uma Regência Trina; ou seja, composta por três
regentes. Em 12 de agosto é promulgado o Ato Adicional à Constituição de
1824, determinando, entre outras coisas, que a Regência seria, a partir dali,
Una e que a cidade do Rio de Janeiro, capital do Império, seria considerada
Município Neutro, separada, portanto, da Província do Rio de Janeiro
(SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013, sp.).
41

Devido a tal acontecimento, o título de capital do estado do Rio de Janeiro foi


transferido para a Vila da Praia Grande (já sem o título de Real, que remetia aos
tempos do Brasil Colônia). Porém, a escolha da capital provinciana gerou diversos
debates entre os governantes da época, como por exemplo, transferir a capital da
Província para uma região mais central ou interior, mas tal fato foi vetado. Com isso,
José Joaquim Rodrigues Torres (futuro Visconde de Itaboraí), presidente da
Assembleia Provincial, assinou a Carta de Lei nº 2, de 26 de março de 1835,
decretando que a Vila da Praia Grande seria a nova Capital da Província do Rio de
Janeiro (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).
Após a titulação, a Vila foi elevada a categoria de cidade. Posteriormente, em
28 de março, foi assinada a Carta de Lei nº6, que estabeleceu que a antiga Vila Real
da Praia Grande passaria a chamar-se Nictheroy5, nome sugerido por Joaquim
Francisco Vianna (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).

Em 22 de agosto de 1841, através do Decreto nº 93, Niterói recebe seu


segundo título de nobreza, passando a ser "Imperial Cidade". O jovem
imperador, Dom Pedro II, demonstrou sempre certo apreço pela cidade,
visitando-a várias vezes, tanto para assistir peças no Teatro Santa Teresa;
atual Teatro Municipal João Caetano; quanto para participar de cerimônias e
inaugurações. Em 1845 inaugurou o Chafariz da Memória, na atual Praça
do Rink; em 1854 a Matriz de São João Batista, mais tarde catedral.
Também foi inaugurado pelo Imperador o Asilo Santa Leopoldina, mais
tarde transferido para Icaraí. Na ocasião, Dom Pedro doou cinco contos de
réis ao asilo e, mesmo durante a República, no exílio, a família imperial
continuou contribuindo com o asilo (SECRETARIA MUNICIPAL DE
CULTURA DE NITERÓI, 2013, sp.).

Em relação ao aldeamento de São Lourenço dos Índios, com o início do


processo de aculturação, os que lá habitavam aos poucos foram se apropriando da
cultura e as profissões dos descendentes europeus. Com isso, a população da
aldeia foi se reduzindo progressivamente, até que em 1866, o Governo Provincial
decide extinguir o povoado (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI,
2013).
No entanto, verifica-se que o período imperial foi um período muito próspero
para a consolidação de Niterói como peça fundamental para o estado do Rio de

5
Algumas traduções indicam que Niterói significa “água escondida”, outras indicam “baía ou porto
sinuoso” (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013, sp.). Disponível em:
<http://www.culturaniteroi.com.br>. Acesso em: 25 abr. 2016.
42

Janeiro. Sua titulação como capital ascendeu o interesse do Império em promover


melhorias em infraestrutura urbana, construção de monumentos que incentivassem
lazer e entretenimento, prosperidade econômica, entre outros benefícios. Porém,
conflitos presentes no início da república no Brasil fizeram com que Niterói pudesse
sofrer consequências que abalassem o que foi instituído durante aquela época.

2.1.3 Do Início do Período Republicano aos dias atuais

Os conflitos que ocorreram no início do Brasil República atingiram Niterói de


maneira significativa. As manifestações que ocorreram durante a Revolta da
Armada6, promoveram a ocupação do Laboratório Pirotécnico da Marinha, no bairro
Ponta d'Areia. Devido a tal fato, diversos bombardeios à cidade propagaram o caos,
a destruição das ruas e fizeram com que parte da população fugisse para o interior.
Tal fato propiciou a transferência da capital do estado, já estabelecida desde 1890. A
princípio, Teresópolis havia sido selecionada para receber o título, no entanto, no
ano de 1894, auge da Revolta, a capital foi transferida para a cidade de Petrópolis
(SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).

Passado o perigo da Revolta da Armada, a população niteroiense pede a


volta da capital. Em 1902 a Assembleia Legislativa solicita ao presidente do
Estado, Quintino Bocaiúva que estabeleça, novamente, a capital em Niterói.
Em 04 de agosto o governo declara que Niterói volta a ser capital e autoriza
o governo a transferir as repartições públicas o mais breve possível. A
instalação definitiva do governo em Niterói dá-se, por fim, em 20 de junho
de 1903. Em 1903, uma reforma constitucional faz com que a situação
administrativa da cidade seja modificada. Até então, o presidente da
Câmara de Vereadores era responsável pelas funções executivas e o
Estado responsabilizava-se pelos serviços de águas e iluminação pública da
capital. Com a reforma, esses serviços, anteriormente a cargo do Estado,
deveriam ser realizados pela própria municipalidade. É criada, então, em 4
de janeiro de 1904, a Prefeitura Municipal de Niterói e Paulo Alves,
engenheiro, é escolhido como primeiro prefeito da cidade. Paulo Alves
deixou a Prefeitura no mesmo ano, assumindo em seu lugar Pereira Nunes.
Até hoje, Niterói contou com 52 prefeitos que governaram a cidade em 61
mandatos (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013,
sp.).

Nas primeiras décadas do século XX, Feliciano Sodré (primeiro atuando como
6
Foi um conflito armado transcorrido em duas fases, fomentado pela Marinha brasileira em
represália, inicialmente, ao governo do Marechal Deodoro da Fonseca e à atuação de seu vice,
Marechal Floriano Peixoto. Com duas fases, teve seus indícios no ano de 1891 e término no ano de
1894. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/revolta-da-armada>. Acesso em: 25 abr.
2016.
43

prefeito, posteriormente como governador do estado do Rio de Janeiro) propiciou ao


município diversas intervenções urbanísticas, tais como: a Praça da República, bem
como o monumento do Triunfo da República nela instalado; as obras de aterramento
e saneamento da Enseada de São Lourenço; a modernização do Porto de Niterói; a
instauração de bondes elétricos em substituição aos bondes puxados a burro; o
Estaleiro Rodrigues Alves (Cia. Cantareira de Viação Fluminense); nova estação das
barcas (futuramente destruída em um incêndio em 1959, no episódio conhecido
como "A Revolta da Cantareira"); entre outras (SECRETARIA MUNICIPAL DE
CULTURA DE NITERÓI, 2013).

As décadas que se seguiram à Revolução de 30 trouxeram novos ventos de


desenvolvimento: abriu-se o túnel ligando Icaraí a São Francisco; ruas
foram pavimentadas; jardins e parques foram construídos e, a exemplo de
Getúlio Vargas, Amaral Peixoto manda abrir uma avenida que leva seu
nome, no centro da cidade. A capital segue próspera e agitada. O novo
prédio do Cassino Icaraí é inaugurado, dispondo de hotel, grill e salão de
jogos. Grandes nomes da música brasileira e latino-americana apresentam-
se ali e o movimento rivalizava com o do Cassino da Urca. Em 1946 o
presidente Dutra proíbe o jogo no país e o prédio passaria a abrigar, muitos
anos depois, a Reitoria da UFF. A década de 70 traz um novo túnel e a
ponte Presidente Costa e Silva, mais conhecida como Ponte Rio-Niterói.
Traz, também, a fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara. O
novo Estado do Rio de Janeiro passa a ter como capital a cidade do Rio de
Janeiro e Niterói perde, de vez, a condição de capital (SECRETARIA
MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013, sp.).

A perda da titulação de capital, em 1974, fez com que Niterói passasse a ser
considerada, simplesmente, uma "cidade-dormitório". Tal crise de identidade teve
uma duração de aproximadamente 15 anos. No entanto, no fim dos anos 80 do
século passado, a cidade redescobriu sua vocação cultural e começou a recuperar
sua autoestima, principalmente em relação aos seus moradores que renegavam
suas origens quando eram indagados sobre o assunto (SECRETARIA MUNICIPAL
DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).
Contudo, entre os anos 1990 e 2000, espaços culturais foram criados e locais
importantes para a história da cidade foram restaurados como, o Teatro Municipal
João Caetano, a Igreja de São Lourenço dos Índios e o Solar do Jambeiro. O Museu
de Arte Contemporânea (MAC), projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, firmou-se
como um atrativo turístico de grande potencial, recebendo um expressivo número de
visitantes, muitos deles estrangeiros (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE
NITERÓI, 2013).
44

O portal da Secretaria Municipal de Cultura de Niterói ainda ressalta a


ascensão dedo município citando o aumento de diversos índices econômicos: quarto
lugar nacional em qualidade de vida; o primeiro lugar no estado em renda per capita;
o menor índice de analfabetismo; entre outros indicadores de progresso
(SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).

2.2 ECONOMIA NITEROIENSE

Conforme abordado anteriormente, nota-se que a cidade de Niterói


consolidou-se no cenário estadual e nacional, servindo de referência em diversos
aspectos culturais, econômicos e sociais. No ano de 2011, um estudo elaborado
pela Fundação Getulio Vargas (FGV) elencou um ranking das classes econômicas
abrangendo diversas cidades do Brasil, baseando-se nos dados do censo
demográfico de 2010 do IBGE. De acordo com os resultados desta pesquisa, Niterói
aparece em primeiro lugar, com 30,7% de sua população inserida na classe A, e ao
considerar as classes A e B juntas, o município se mantém no topo da lista, com
42,9% de sua população total (O GLOBO, 2011).
Além do mais, deve-se destacar o fato de que a cidade possui um IDHM 7
considerado muito alto, destacando-se na primeira posição em relação às cidades
fluminenses e na sétima posição, se considerado todos os municípios brasileiros
(PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2013).
Segundo dados da Fundação CEPERJ (2013), formulados em seu Centro de
Estatísticas, Estudos e Pesquisas (CEEP) junto ao IBGE, cinco municípios tiveram
destaque nas participações no Produto Interno Bruto (PIB) estadual, além de terem
concentrado 64,0% da economia fluminense, contra 64,9% em 2012. São eles: Rio
de Janeiro com 45,1%, em 2013 e 43,9%, em 2012; Campos dos Goytacazes com
9,3% e 10,4%; Duque de Caxias com 4,0% e 3,8%; Niterói (figura 10) com 3,2% e
3,1%; e Macaé com 3,1% e 3,0% (CEPERJ, 2013).

7
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Niterói é de 0,837. Este índice permite
conhecer a realidade do desenvolvimento humano a partir de uma síntese das suas principais
dimensões: educação renda e longevidade (PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2013).
45

Figura 10: PIB do município de Niterói.

Fonte: IBGE, 2016.

Como quarto colocado no ranking, o município manteve-se nessa posição


desde 2009. Seus principais setores econômicos são: Administração Pública;
Extrativa – petróleo; Atividade Imobiliária; Atividades Profissionais, Científicas e
Técnicas, Administrativas e Serviços Complementares; e Comércio, Manutenção e
Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas, onde se destaca o comércio
varejista (CEPERJ, 2013). O estudo ainda concluiu que:

O resultado positivo de Niterói é influenciado por diversos setores, dentre os


principais estão a indústria de transformação e indústria extrativa, no
primeiro caso o aumento no setor de máquinas e equipamentos ajudou ao
desempenho positivo da economia, no último pode-se ressaltar o aumento
de produção no campo Lula que tem seus royalties partilhados entre alguns
municípios incluindo Niterói. Além desses dois setores houve crescimento
na construção civil e no setor serviços (CEPERJ, 2013, p. 13).

Segundo o documento “Niterói que Queremos – Plano Estratégico 2013–


2033” nota-se o destaque da cidade como um dos principais centros financeiros,
comerciais e industriais do estado Rio de Janeiro. No período de 2001-2011, o
crescimento econômico da cidade foi 20% superior ao do estado, tendo as
atividades administrativas, de comércio e serviços (que representam 50% da cidade)
como agentes impulsionadores deste resultado. No período de 2006-2013, os
setores mais tradicionais, como construção civil, indústria naval e turismo8, tiveram

8
De acordo com o documento “Niterói que Queremos – Plano Estratégico 2013–2033” (2013), o setor
turístico está relacionado aos empregos em agências de viagens, operadores turísticos e serviços de
reservas.
46

uma taxa de variação dos empregos em 9,6%, 4,8% e -2,2% respectivamente. Por
outro lado, as atividades relacionadas ao ramo hoteleiro tiveram uma expansão de
2,7% neste período (PREFEITURA MUNIPAL DE NITERÓI, 2013).

Sendo assim, Niterói tem a oportunidade de adensar a cadeia naval a partir


da diversificação de serviços, como reparos, fornecimento de insumos,
equipamentos, mão de obra e tecnologia, haja vista a existência de diversos
estaleiros na costa marítima, os quais já têm recebido encomendas de
navios petroleiros, apesar da necessidade de modernização das suas
instalações (PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2013, p. 43).

Com base em informações disponibilizadas no website da Niterói - Empresa


de Lazer e Turismo S/A – NELTUR (2016), a cidade encontra-se no ranking das 100
melhores para negócios no âmbito nacional. Além disso, é possível notar cinco
tendências econômicas regionais que impactam diretamente sobre o cenário do
município: a cidade do Rio de Janeiro como hub logístico do país; intensificação da
interiorização do crescimento; consolidação e desenvolvimento da base industrial;
intensificação da economia de serviços, principalmente nos setores de turismo e
esporte e fortalecimento da indústria naval (PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI,
2013).

O setor de serviços, com destaque para o turismo e o esporte, também


deve ser fortalecido, principalmente diante da realização dos Jogos
Olímpicos 2016 no Rio de Janeiro. Quanto ao turismo, há duas grandes
oportunidades: uma a partir da preparação da mão de obra para os
Jogos e outra por meio de atração de empresas para eventos
internacionais, com aproveitamento e dinamização do turismo de
negócios a partir da criação do Centro de Convenções da Cidade, à
beira mar (PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2013, p. 167) (grifos
nosso).

O Plano Estratégico considera que “a prosperidade econômica depende


dentre outras coisas, de um ambiente institucional favorável aos negócios, com
desburocratização das atividades produtivas, apoio ao empreendedorismo,
principalmente em setores inovadores como a economia criativa, suporte à gestão e
linhas de financiamento” (PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2013, p. 174).
Nesse sentido, ressaltam-se as possibilidades de aumentar o valor agregado
da atividade empresarial da cidade e, consequentemente, fomentar a expansão
econômica com base nos principais setores da economia local - comércio, serviços e
47

turismo, indicados na figura 11 (PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2013).

Figura 11: Principais setores econômicos do município de Niterói.

Fonte: O Globo, 2016.

Diante desse panorama, as principais metas estabelecidas para alcançar os


objetivos vinculados às perspectivas de futuro são: explorar as potencialidades
turísticas e culturais; transformar Niterói em um polo integrador do desenvolvimento
no Leste Fluminense; fortalecer a indústria naval e offshore; estimular um ambiente
propício à inovação; fomentar o empreendedorismo com foco em áreas de baixa
renda; aumentar a oferta de qualificação profissional e técnica; inclusão do município
na agenda nacional de eventos corporativos e; consolidar projetos e ações
integradas com organismos internacionais (PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI,
2013).

2.3 ÔS ÂMBITOS DA CULTURA E DO TURISMO EM NITERÓI

Em relação ao desenvolvimento histórico e a representatividade na


construção do estado do Rio de Janeiro e também do Brasil, Niterói surge nesse
cenário por ter adquirido características culturais e naturais peculiares. Tais
aspectos possibilitam à sua gestão pública oportunidades no gerenciamento dos
recursos materiais e imateriais em prol da cultura e do turismo. Os setores da cultura
e do turismo na esfera da economia municipal possuem órgãos que elaboram e
executam políticas públicas nos âmbitos nacional, estadual e municipal.
48

2.3.1 Aspectos culturais

As práticas de preservação do patrimônio na cidade iniciaram com a


promulgação da Lei 827, de 1990, que institui o instrumento do tombamento
municipal e criou órgãos de proteção – o Conselho Municipal de Proteção do
Patrimônio Cultural (CMPC) e o Departamento de Preservação do Patrimônio
Cultural (DEPAC). Ao abordar o fato de que a preservação deve ser inserida em um
contexto mais amplo de planejamento urbano, naquele período, a administração
municipal abordou a questão do patrimônio cultural no Plano Diretor de Niterói (Lei
1.157/92), apontando diretrizes para as Áreas de Preservação do Ambiente Urbano
– APAUs (figura 12) e para os bens tombados totalizando aproximadamente 2.921
imóveis (tabela 1) até o ano de 2007 como mostra a tabela 1 (SECRETARIA
MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2007).

Tabela 1: Número de Imóveis das APAUs do município de Niterói (estimados).


Imóveis de
Imóveis de Imóveis de Total de
APAUs Preservação
Preservação Renovação Imóveis
Parcial
Centro 473 119 1210 1802
São Domingos/
Gragoatá/ 237 23 220 480
Boa Viagem
Ponta D’Areia 261 5 230 496

São Lourenço 26 3 114 143

TOTAL 997 150 1660 2921


Fonte: Niterói, 2007.

No ano de 1995, por meio da Lei 1.451, as regiões do Centro; Ponta d’Areia;
São Domingos/Gragoatá/Boa Viagem foram regulamentadas como as três primeiras
APAUs, assim como foi definida a listagem dos imóveis de preservação na Lei
1.446. Posteriormente, estas leis foram revogadas e substituídas pela Lei 1.967 de
2002 que dispõe sobre o Plano Urbanístico das Praias da Baía. Já em 2005, no
âmbito do Plano Urbanístico da Região Norte (Lei 2.233) foi criada e regulamentada
a quarta APAU (São Lourenço) e foram listados os imóveis de preservação, como
pode ser observado (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2007).
49

Figura 12: APAUs do município de Niterói.

Fonte: A Preservação do Patrimônio Cultural em Niterói, 2007.

Instituída pela Lei 1447 de 20 de novembro de 1995, a Comissão de Análise


das Áreas de Preservação do Ambiente Urbano (CAAPAU) tem como principais
atribuições: aplicar as políticas de preservação das APAUs; analisar processos de
obras; instalar letreiros; emitir certidões e descontos de IPTU e; prestar orientação
técnica aos requerentes. Sua estrutura é composta por profissionais selecionados da
Secretaria de Cultura e da Secretaria de Urbanismo. (SECRETARIA MUNICIPAL DE
CULTURA DE NITERÓI, 2013).
Nessa perspectiva foi criado, pela Lei 827 de 25 de junho de 1990, o CMPC,
órgão de assessoramento do Poder Executivo de caráter consultivo, gestor do
patrimônio cultural de Niterói e cuja constituição compreende representantes dos
Poderes Legislativo e Executivo e da sociedade civil (SECRETARIA MUNICIPAL DE
CULTURA DE NITERÓI, 2013).
Da mesma forma que o CMPC, pela Lei 827 foi instituído o DEPAC.
Ministrado pela SMC, o DEPAC atua desenvolvendo um conjunto de iniciativas
50

visando à administração e conservação dos bens materiais e imateriais do


município. Suas atividades são executadas de acordo com as seguintes
perspectivas: atividades técnico-administrativas; documentação; intervenção em
espaços urbanos; e divulgação e educação patrimonial (SECRETARIA MUNICIPAL
DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).
No atual cenário, o setor da cultura é administrado pela SMC por intermédio
da Prefeitura Municipal, localizada no endereço Rua Presidente Pedreira, número
98, no bairro Ingá. Suas atribuições ficam a cargo de cumprir leis e decretos nos
âmbitos federal, estadual e municipal; elaboração e execução de políticas públicas;
conservação dos patrimônios culturais; promoção de atrativos, centros e eventos;
documentação e pesquisa; entre outras no âmbito da cultura e patrimônio
(SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).

2.3.2 Atividade turística

Conforme o mapa turístico (figura 13) de 2009 da Companhia de Turismo do


Estado do Rio de Janeiro (TurisRio), Niterói está inserido na Região Turística
Metropolitana, junto à cidade do Rio de Janeiro. A plataforma virtual da Companhia –
Cidade Maravilhosas9 disponibiliza informações básicas sobre a atividade turística
da cidade, bem como informações geográficas, imagens interativas e algumas
opções de esporte e ecoturismo.

9
Mais informações no link: <http://www.cidadesmaravilhosas.rj.gov.br>.
51

Figura 13: Regionalização Turística do estado do Rio de Janeiro.

Fonte: Arquivo TurisRio, 2009.

Atualmente, a atividade turística da cidade é coordenada pela NELTUR, uma


sociedade anônima de economia mista, de capital autorizado, constituída,
originariamente na forma da Lei n° 33 de 12 de dezembro de 1975, com
personalidade jurídica de direito privado, patrimônio próprio e autonomia
administrativa. A atual sede (figura 13) está localizada na Estrada Leopoldo Fróes,
número 773, no bairro de São Francisco, funcionando de segunda à sexta, no
período das 9h às 17h. Sua estrutura gestora é composta pelo Presidente, Diretor
Financeiro, Diretor Administrativo, Diretor de Lazer e Diretor de Turismo (NELTUR,
2016).
A empresa tem por objetivo promover, coordenar, executar e estimular o
desenvolvimento do lazer, do turismo e das atividades correlatas, bem como,
fomentar eventos e valorizar equipamentos turísticos atrelados à política de
desenvolvimento econômico e social do município, delimitada em Estatuto. Sua
visão é ampliar continuadamente o grau de importância da cidade como destino
turístico nos cenários nacional e internacional junto à sua visão e valores
(notoriedade, ética, labor, transparência união e respeito ao cidadão) (NELTUR,
2016).
52

2.3.2.1 Oferta Turística

O website da NELTUR possui uma estrutura dinâmica e interativa, que


permite ao visitante encontrar informações fundamentais sobre atrativos,
gastronomia, hospedagem e serviços. Além disso, encontra-se disponível uma
seção para envio de dúvidas e localização dos atuais Centros de Atendimento ao
Turista (CAT’s): Sede da empresa, Caminho Niemeyer, Parque da Cidade, MAC, e
praça XV (NELTUR, 2016).
Na seção de atrativos, nota-se que foi elaborada a seguinte categorização:
Centros Culturais; Caminho Niemeyer; Casas de Samba; Fortes e Fortalezas; Igrejas
Históricas; Museus; Parques; Praias (Praias da Baía e Praias Oceânicas), como por
exemplo, a praia de Itacoatiara (figura 14) e; Teatros (NELTUR, 2016).

Figura 14: Praia de Itacoatiara.

Fonte: NELTUR, 2016.

Ao abordar os esportes, a empresa ressalta a tradição do município em


formar esportistas, já que diversos campeões olímpicos e mundiais, nasceram,
foram criados ou adotaram a cidade para viver. No cenário atual, o município sediou
eventos como: campeonatos brasileiros de classes olímpicas, Copa Brasil de Vela,
além de competições de stand up paddle (SUP), canoagem, canoa havaiana, remo,
dentre outras (NELTUR, 2016).
Ao consultar a seção de gastronomia, é possível observar as especialidades
disponíveis na cidade (bar, bistrô, churrascaria, cozinha internacional, delicatessen,
53

fast food, frutos do mar, pizzaria, sorveteria, entre outros) em seus diversificados
polos gastronômicos: Zona Norte; Centro – Ponta D’areia, São Domingos - Gragoatá
– Ingá - Boa Viagem; Icaraí – Jardim Icaraí - Santa Rosa; São Francisco – Charitas;
Jurujuba e Região Oceânica (NELTUR, 2016).
Ao se tratar da oferta hoteleira municipal, o website disponibiliza apenas
informações dos principais meios de hospedagem situados no município, de
diversos segmentos: apart hotéis, hotéis, hotéis de trânsito, hostels e pousadas.
Além disso, é oferecida uma consulta fácil por bairros. Os únicos dados contidos
nessa seção são informações de endereço, contato (telefone e/ou e-mail) e dica de
como chegar (NELTUR, 2016).
A seção mais completa e diversificada (serviços) oferece ao turista uma gama
de informações. Tais como: contato das principais agências de viagem (emissivo e
receptivo), com busca personalizada por bairro e modalidade, além de agências de
câmbio; guias de turismo por bairro e área de atuação; hospitais públicos e privados
e unidades de pronto-atendimento; aeroportos, locadoras de veículos, transfer, entre
outros serviços de transporte por bairro e categoria (rodoviário, marítimo, aéreo,
turístico e táxi); casas noturnas; e equipamentos de lazer (parques, pista de skate,
entre outros), como por exemplo, o Campo de São Bento, localizado no bairro de
Icaraí (NELTUR, 2016).
Ainda na seção de serviços, são referenciados os principais passeios
turísticos existentes na cidade: Caminho Niemeyer, passeio de saveiro pela Baía de
Guanabara, realizado pela empresa Saveiros Tour com ponto de partida na Marina
da Glória10, Caminho dos Museus, Caminhos de Darwin e Complexo dos Fortes.
Além disso, a NELTUR menciona a antiga Linha Niterói Turismo, que oferecia
passeio de van aos sábados, domingos e feriados nacionais de 10h às 16h, partindo
do Caminho Niemeyer e ia até a Fortaleza de Santa Cruz da Barra (figura 15)
(NELTUR, 2016).

10
Mais informações no link:
<http://www.niteroiturismo.com.br/var/www/html/neltur.com.br/web/attractives/atrativo/1>.
54

Figura 15: Fortaleza de Santa Cruz da Barra.

Fonte: NELTUR, 2016.

Em resposta a esse cenário, a empresa de lazer e turismo tem como principal


produto o roteiro Niterói em três Dias (figura 16), no qual é proposto ao turista uma
experiência completa em seus atrativos turísticos de maior visibilidade. No primeiro
dia, é sugerida uma programação cultural para o turista visitar o segundo maior
conjunto arquitetônico de Oscar Niemeyer (perdendo somente para Brasília), que
abriga sete monumentos: o Teatro Popular, o Museu de Ciência e Criatividade, o
Memorial Roberto Silveira, o CAT (Caminho Niemeyer), a Praça JK (homenagem ao
presidente Juscelino Kubitschek), o centro Petrobras de Cinema e o MAC. Em
complemento, o roteiro propõe visita aos museus localizados nas proximidades do
MAC - Museu do Ingá, Solar do Jambeiro e Museu Janete Costa de Arte Popular, o
Centro Cultural dos Correios e bairros como Boa Viagem, Ingá, São Domingos e
Icaraí.
55

Figura 16: Folder “Niterói em três Dias”.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.

O segundo dia do roteiro é dedicado ao Complexo dos Fortes no município,


segundo a NELTUR, o maior conjunto contíguo de fortes e fortalezas do Brasil
partindo do bairro Gragoatá e até Jurujuba. Ao final do passeio, é sugerida a visita
aos bairros São Francisco, Charitas e Jurujuba, onde é possível encontrar
restaurantes que oferecem em seu cardápio uma culinária especializada em frutos
do mar.

Niterói possui o segundo maior complexo de Fortes e Fortaleza do país.


Datada do ano 1555, a Fortaleza de Santa Cruz foi a 1ª fortaleza erguida no
entorno da Baía de Guanabara. Os Fortes Rio Branco e Imbuí localizam-se
em mar aberto e dispõem de uma série de atrativos naturais. Dos Fortes
São Luís e do Pico tem-se uma visão deslumbrante do Oceano Atlântico, de
Niterói, da Baía de Guanabara (NELTUR, 2016, sp.).

No terceiro e último dia, o visitante pode apreciar os diversos atrativos


naturais como ter uma vista panorâmica do município, da cidade do Rio de Janeiro e
da Baía de Guanabara no Parque da Cidade (figura 17), no bairro de São Francisco
e também conhecer algumas das praias localizadas na região oceânica: Piratininga,
Sossego, Camboinhas, Itaipu e Itacoatiara. Também é viável a prática de ecoturismo
no Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET) e experiência histórica/cultural
visitando o Museu de Arqueologia de Itaipu.
56

Figura 17: Vista a partir do Parque da Cidade.

Fonte: NELTUR, 2016.

Ao analisar o panorama turístico da cidade de Niterói, é possível observar o


leque de atrativos de vários segmentos, ofertando, ao turista, diversas formas de se
entreter ao visitar a cidade. Contudo, é válido analisar o perfil da demanda turística
para que se identifique a relação do visitante com a oferta presente, e suas
necessidades de consumo.

2.3.2.2 Demanda turística

Tratando de dados sobre a demanda turística do município, de acordo com o


website da NELTUR, a pesquisa mais recente que aborda essas informações foi o
estudo sobre o perfil e o impacto econômico do Visitante da Cidade de Niterói
durante a Copa do Mundo 2014, realizada pelo Observatório do Turismo da
Faculdade de Turismo e Hotelaria (FTH) da Universidade Federal Fluminense (UFF),
sob coordenação dos professores doutores Osiris Marques e João Evangelista. Foi
realizada entre os dias 13/06 a 15/07/2014, com as informações levantadas nos
seguintes locais: Caminho Niemeyer, CAT das Barcas, MAC, e Hotéis selecionados
contando com a participação dos alunos do curso de Turismo da UFF
(OBSERVATÓRIO DO TURISMO, 2014).
De acordo com os dados a respeito da metodologia, foram abordados 1.266
entrevistados, totalizando 638 questionários completos. As informações levantadas
pelo projeto foram: gasto e impacto econômico do visitante durante seu período de
estadia na cidade durante o período do evento; informações sobre sexo,
escolaridade, renda e estadia relacionados diretamente ao perfil socioeconômico do
entrevistado e; sua percepção em relação à atividade turística de Niterói
(OBSERVATÓRIO DO TURISMO, 2014).
57

O quantitativo total estimado em relação aos visitantes da cidade no período


do evento foi de 119.064 (excursionistas e turistas). Desse quantitativo avaliado,
ficou constatada a presença de 77.392 excursionistas, que representou 65% do total
de visitantes (figura 18) (OBSERVATÓRIO DO TURISMO, 2014).

Figura 18: Percentual dos visitantes (turistas e excursionistas) de


Niterói durante a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014.

35%

Excursionistas
Turistas

65%

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Observatório do


Turismo, 2016.

Em relação aos turistas hospedados no município (41.672), os mesmos


distribuíram-se da seguinte maneira: apartamento ou casa alugada (1.625); meios
de hospedagens (12.752) e; casa de amigos e parentes (27.295) tendo a maior
representatividade (figura 19) (OBSERVATÓRIO DO TURISMO, 2014).
58

Figura 19: Tipo de hospedagem utilizado pelos turistas durante a Copa


do Mundo FIFA Brasil 2014.

4%

Apartamento ou casa
31% alugada
Meios de Hospedagem

Casa de Amigos e
65% Parentes

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Observatório do Turismo,


2016.

Vale ressaltar a estadia média/gasto médio dos turistas naquele período: 6,9
dias / R$ 441,36 em meios de hospedagem (hotel/pousada/hostel); 7,9 dias / R$
174,9 em casa de amigos e parentes e; 12,4 dias / R$ 213,4 em apartamento ou
casa alugada. Tal experiência resultou em um impacto econômico total direto de R$
86.897.167,00 (OBSERVATÓRIO DO TURISMO, 2014).
O panorama geral, levando em conta ter sido um período de um grande
evento esportivo, teve como perfil socioeconômico 59,7% de visitantes do sexo
masculino com uma média de 35 anos e escolaridade de nível superior. Como
mostra a figura 20, em relação aos turistas domésticos (52%), o estado de São
Paulo obteve a maior notabilidade (24,2%) em comparação às outras federações.
Quanto aos turistas estrangeiros em sua maioria, da América Latina, foram os
chilenos com maior destaque (15%) seguidos dos norte-americanos e argentinos,
empatados logo em seguida, com 10,4% de representatividade (OBSERVATÓRIO
DO TURISMO, 2014).
59

Figura 20: Visitantes domésticos/estrangeiros durante a Copa


do Mundo FIFA Brasil 2014.

Fonte: Observatório do Turismo, 2014.

A despeito de informações sobre a relação do visitante e o turismo, o público


alvo respondeu ter visitado a cidade, em média duas vezes, em grupo familiar
(34,6%) ou amigos (32,8%), tendo como principal motivação conhecer a cidade a
lazer (58,6%). Quando perguntada sobre a especificação deste quesito, 41,6% dos
respondentes afirmaram possuir interesse em conhecer as obras do arquiteto Oscar
Niemeyer e, 31%, com interesse em cultura. Analisando os dados obtidos nesse
levantamento, tendo nota 0 como péssimo e 10 como excelente, o turismo
niteroiense recebeu uma avaliação de 8,3, com 95,1% afirmando que retornaria à
cidade e a indicaria para amigos e familiares (OBSERVATÓRIO DO TURISMO,
2014).
Ao analisar o perfil do visitante em um período de relevância para a atividade
turística, nota-se a presença de excursionistas em destaque. Em relação aos turistas
que pernoitam na cidade, nota-se que tal público opta em sua maioria pela
hospedagem em casa de amigos e/ou familiares. Ao considerar esse tipo de
acomodação, o papel do morador como agente disseminador do turismo local pode
oferecer ao visitante diversas experiências para além do senso comum e fomentar a
diversificação de roteiros turísticos diferenciados. Vale ressaltar também a aptidão
60

de tal demanda por atrativos arquitetônicos ligados ao universo cultural.


De modo geral, sobre os setores da cultura e do turismo no município, pode-
se indicar a necessidade de reorganização da gama de atrativos turísticos culturais e
naturais disponíveis, bem como a criação de novos produtos e roteiros. Com isso,
supõe-se que as necessidades de sua demanda possam ser atendidas e renovadas,
além de incentivar o aumento da estada do visitante na cidade. Vale mencionar
ainda, a ausência de um trabalho que dê ênfase para a região do primitivo
aldeamento de Araribóia - o morro de São Lourenço e suas proximidades, associado
diretamente à memória e identidade da cidade de Niterói.
61

3 O BAIRRO DE SÃO LOURENÇO E SUAS IMEDIAÇÕES

Coforme o referencial histórico abordado no capítulo anterior, o bairros de


São Lourenço, bem como o município de Niterói se desenvolveram a partir do
primitivo aldeamento estabelecido pelo índio Araribóia, no morro de São Lourenço. A
partir da localização geográfica, considerada estratégica pelos colonizadores
portugueses, o desenvolvimento da cidade foi se disseminando pelo atual território
niteroiense. Situado na Zona Norte do município:

O bairro de São Lourenço é um polígono limitado de um lado pelas ruas


Feliciano Sodré, Benjamin Constant, Carlos Maximiano e Magnólia Brasil, e
Andrade Pinto, Marquês de Paraná e Jansen de Melo, do outro. Uma linha
imaginária, ligando a Andrade Pinto à Magnólia Brasil, completa suas
fronteiras (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p. 25).

Segundo dados do Censo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -


IBGE (2010), sua população é de aproximadamente 9.685 habitantes (2% da
população total do município) inseridos em uma área de 1,31 km² que equivale a 1%
do território municipal (figura 21).

Figura 21: Vista panorâmica do bairro de São Lourenço e suas imediações.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.

Como podem ser observados na figura 22, seus bairros limítrofes são: Centro,
Fátima, Cubango, Fonseca e Santana. Com isso, nota-se que São Lourenço possui
uma pequena representatividade territorial e populacional, comparado aos outros
62

bairros mais tradicionais da cidade.

3.1 SÃO LOURENÇO APÓS A DECADÊNCIA E EXTINÇÃO DA ALDEIA DE


ARARIBÓIA

Segundo informações contidas no website da Secretaria Municipal de Cultura


de Niterói (2013), a extinção definitiva da aldeia de São Lourenço dos Índios ocorreu
no final do século XIX, em 1866, quando o Governo Provincial decidiu extinguir o
povoado. Naquele período, o aldeamento era o único local nas proximidades do Rio
de Janeiro, onde ainda existiam resquícios de povoamentos indígenas. O sustento
naquela época era baseado na caça, coleta de frutos e pesca na baía de São
Lourenço, além da produção de artefatos cerâmicos e tecidos.

Figura 22: Localização do bairro de São Lourenço.

Fonte: Google Maps, 2016.

Há que se acrescentar que no largo em frente à Igreja, atualmente Praça


General Rondon, os aldeões sepultavam os mortos e, devido a este fato, o local foi
batizado pelos habitantes da época como Cemitério dos Caboclos. Após a extinção
da aldeia, no decorrer do tempo, os antigos habitantes foram indenizados com lotes
de terra para moradia e cultivo. Com isso, a Freguesia de São Lourenço se
desenvolveu por meio de fazendas que produziam: cana-de-açúcar, mandioca,
63

fumo, entre outros. Contudo, o progresso proporcionado pela ascensão da Capital


ocorria, preferencialmente, em locais planos e próximos à margem da baía
(SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).

[...] se a aldeia decaía, o bairro crescia. Na Rua São Lourenço, que, antes
do aterro ficava tão próxima ao mar que permitia a atracação de
embarcações de pequeno, calado, um comércio bastante razoável florescia,
inclusive com uma pequena agência de aluguel de escravos na Rua da
Soledade. Em 1870 foi construída a capela de Santo Antônio, que, até a
construção da igreja de São Lourenço da Várzea, foi a sede da paróquia.
Nos últimos anos do século XIX, a área era bastante movimentada, com
armazéns, depósitos, trapiches e oficinas. Além disso, a Rua São Lourenço
abrigava um pequeno núcleo industrial, com três fábricas: a de licores, de
Domingos Gomes Cunha, a de cigarros, de Manuel Correa e a do gás, da
The Nitheroy (Brazil) Gas Company, Limited, que fornecia o combustível
para a iluminação da cidade (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p. 56-57).

Vale ressaltar a construção do Palacete da Soledade (figura 23), em 1844,


importante patrimônio arquitetônico presente no bairro. O projeto com características
neoclássicas, do italiano Antonio Forchini, foi construído para ser a residência de
Francisca Elisa Xavier, a baronesa de Soledade. Porém, posteriormente, sofreu
algumas modificações no estilo eclético (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006).

Figura 23: Palacete da Soledade/Seminário São José.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura de Niterói, 2013.

O Palacete acabou sendo vendido ao Comendador José Duarte Galvão


Júnior, vereador e presidente da Câmara Municipal e filho do Barão de Sapucaia,
Manoel Antônio Ayrosa. Em 1897, foi cedido ao Bispado de Niterói e desde então
64

abriga o Seminário São José (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006).

O século XX trouxe ventos mais benfazejos ao bairro de São Lourenço. As


obras de aterramento da enseada de São Lourenço, necessárias para a
modernização do porto, resultaram um acréscimo de terras ao bairro. As
obras para o porto já estavam nos planos de Feliciano Sodré desde seu
primeiro mandato como prefeito de Niterói. Já em 1911, em sua primeira
mensagem à Câmara, Sodré manifestava o desejo de se aterrar a enseada,
mas, dada a grandiosidade do projeto, o plano só pôde ser realizado anos
mais tarde. O plano de Sodré era aterrar-se a enseada, que já vinha sendo
assoreada pelo despejo de lixo, e para tanto utilizaria o próprio lado dragado
da enseada e terra obtida com o desmanche de morros, de forma a que, na
parte aterrada, uma grande avenida pudesse ser construída, ligando-se com
a Alameda São Boaventura. No aterro se construiria, também, uma praça
semicircular. O novo porto permitiria a atracação de navios de maior calado,
com um cais onde a água, no mínimo, oito metros de profundidade. Uma
estação de trens seria também construída no local. O porto e a estação
estão localizados no Centro, mas metade da Praça Renascença pertence a
São Lourenço. Os planos para a urbanização da região previam a
arborização da alameda e a construção de diversos prédios, tanto ao redor
da praça quanto na Avenida Feliciano Sodré. Infelizmente, dos prédios
projetados pela Comissão do Porto de Niterói, apenas o do Tribunal de
Contas foi Construído (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p. 58-60).

A edificação supracitada, inaugurada em 2 de outubro de 1929, foi construída


para abrigar o Instituto de Fomento e Economia Agrícola do Estado do Rio de
Janeiro. Deve-se salientar que o monumento “foi o primeiro arranha-céu destinado à
gestão pública existente na cidade e, também, o primeiro edifício de grande porte
(figura x) construído em concreto armado, em Niterói. Além disso, apresenta uma
composição de linhas pré-modernistas, originalmente revestida por pó de pedra,
com ornamentos de tardia feição eclética” (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p.58-60).
Com a extinção do Instituto de Fomento, em 1931, diversos órgãos tomaram
posse administrativa do local: a Secretaria Estadual de Agricultura e Trabalho; o
Conselho de Contas do Estado; o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro e,
por fim; o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Sua última (e
atual) função (figura 24) foi abrigar a Escola de Contas e Gestão - ECG do TCE
(OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006).
65

Figura 24: ECG do TCE-RJ.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.

Já a Praça da Renascença, construída após o término das obras do porto


(figura x), está relacionada com o plano de governo de Feliciano Sodré – a
Renascença Fluminense. No local, foi colocado o seu busto em bronze junto ao
obelisco comemorativo das obras do aterro da enseada de São Lourenço
(OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006). Na figura 25, é possível identificar a Praça
Renascença e a Igreja de São Lourenço dos Índios ao fundo e, à esquerda, o
Seminário São José e a Igreja de São Lourenço da Várzea na perspectiva aérea do
Porto de Niterói.
66

Figura 25: Vista aérea do Porto de Niterói.

Fonte: SMC de Niterói, Autor: Manoel Bastos, 1959.

Cabe destacar que nas proximidades da Praça, localiza-se o prédio do antigo


Mercado Municipal, que teve início de sua construção por volta de 1932 - 1935
(NITERÓI, 2006). Porém, as obras para a conclusão do prédio de grande porte
(figura 26) não foram totalmente executadas. Desde então, encontra-se embargado
e aguardando futuros projetos de reformas e reestruturações (OLIVEIRA;
VASQUEZ, 2006).

Figura 26: Prédio do antigo Mercado Municipal de Niterói.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.

Os autores supracitados também abordam o viés fabril que o bairro possuiu


naquele próspero período de obras de infraestrutura urbana que ocorreram no
município:
67

Durante certo tempo existiu, na Travessa do Cunha, atual Padre Augusto


Lamego, a Fábrica de Fósforos Sant’Ana, sobre a qual, infelizmente, não há
maiores informações. Pouco depois, confirmando a tradição industrial do
bairro, seria instalada a fábrica do refrigerante Mineirinho. Criada em Ubá,
Minas Gerais, em 1942, com o nome de Sociedade Industrial de
Refrigerantes Fusaro, mudou-se para Niterói em razão de seu crescimento.
Um de seus sócios era o famoso compositor e radialista Ari Barroso, autor
de “Aquarela do Brasil”. Em 1946, já instalada na Rua Padre Augusto
Lamego, número 70, alterou sua denominação para Sociedade Industrial de
Refrigerantes Flexa. Mais tarde, em 1979, mudou-se para São Gonçalo. O
prédio hoje está abandonado, como nada e em ruínas estão as instalações
da Indústria e Comércio São Pedro, cuja chaminé, ainda de pé parece
atestar que o bairro já viveu tempos mais movimentados (OLIVEIRA;
VASQUEZ, 2006, p. 61-62).

Nesse contexto, os autores Oliveira e Vasquez (2006) concluem que “o bairro


hoje é referência em serviços para automóveis e materiais de construção, sendo que
algumas de suas marmorarias, serrarias e serralherias estão lá estabelecidas há
vários anos” (p. 62). Com isso, nota-se que o bairro passou a se vincular a um
contexto comercial e consequentemente desvinculou-se de sua referência histórica.

3.2 PATRIMÔNIO MATERIAL DO BAIRRO E SUAS IMEDIAÇÕES

Diante dos aspectos históricos do bairro de São Lourenço, é possível


quantificar uma diversificada gama de monumentos seculares que foram erguidos
em suas limitações e proximidades. A este fato, encontram-se variadas construções
importantes para a história da cidade e tombadas nos âmbitos federal, estadual e
municipal. Segundo a obra “A Preservação do Patrimônio Cultural em Niterói”
(PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2007), podem-se identificar os seguintes
patrimônios:

 Antiga sede do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (tombamento


municipal);
 Antigo Abrigo de Bondes (tombamento municipal);
 Casa de Oliveira Vianna (tombamento municipal);
 Corpo de Bombeiros (tombamento municipal);
 Igreja de São Lourenço dos Índios (tombamento federal municipal);
 Igreja de São Lourenço da Várzea (tombamento municipal) e;
68

 Seminário São José/Palacete da Soledade (tombamento municipal).

Dos sete patrimônios tombados, mencionados acima, quatro se encontram


fora das limitações do bairro: Antigo Abrigo de Bondes na Rua Marquês do Paraná,
Centro; Corpo de Bombeiros, na Rua Marquês do Paraná, Centro; Igreja de São
Lourenço da Várzea, na Rua Benjamin Constant, Santana e; a Casa de Oliveira
Vianna, na Alameda São Boaventura, Fonseca. Contudo, é importante salientar a
presença do Ponto Cem Réis, ponto de encontro dos bairros São Lourenço, Santana
e Fonseca, onde se localizam a Igreja de São Lourenço da Várzea e Casa de
Oliveira Vianna e diversos casarios seculares.

3.2.1 Igreja de São Lourenço dos Índios

A Igreja de São Lourenço dos Índios (figura 27) pode ser considerada como o
mais significativo marco da fundação da aldeia de São Lourenço, além de ter sido o
primeiro símbolo da colonização portuguesa no território niteroiense. Documentos
históricos como “A carta do Padre Gonçalo de Oliveira”, de 1570, referenciavam a
presença de uma pequena capela construída em taipa, que se localizava no alto de
um morro da aldeia de Araribóia (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE
NITERÓI, 2013).

Figura 27: Igreja de São Lourenço dos Índios.

Fonte: Mapa de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, 2016.


69

A construção primitiva, referenciada na carta do padre, foi reformada e


reinaugurada em 10 de agosto de 1586, com a representação do Auto de São
Lourenço. No ano de 1627, os jesuítas a substituíram por um templo mais
apropriado, construído em pedra e cal. A igreja foi incorporada ao patrimônio do
Estado Português pelo alvará de 8 de maio de 1758, em decorrência da contenda
entre a Coroa Portuguesa e a Ordem dos Jesuítas. Finalmente, em 1769, a capela
(figura 26) foi totalmente reconstruída, dando forma a sua atual estrutura com
características jesuíticas (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI,
2013).
De acordo com Oliveira e Vasquez (2006), sua estrutura interna compõe-se
da seguinte maneira:

A planta da igreja é característica do espaço arquitetônico criado pela


Contra-Reforma e, sabiamente, aproveitado pela Companhia de Jesus, no
qual a atenção do fiel é dirigida para a capela-mor e o púlpito, locais da
ação pragmática de catequese por aqueles religiosos. Possui nave única de
salão com paredes despojadas sob telha vã. Na entrada principal, acha-se,
à esquerda de quem entra uma pia batismal e à direita uma concha para
água benta, ambas em pedra de Lioz. Sobre a entrada, encontra-se o coro,
de forma e acabamento simples. O púlpito é único, situado do lado do
evangelho, contendo uma taça de madeira em gomos. A entrada parte para
o púlpito dá-se por uma escadaria externa. O espaço fronteiriço ao arco-
cruzeiro é ligeiramente alteado, contendo uma teia com balaustrada de
madeira. O arco-cruzeiro é revestido de madeira e a capela-mor, de largura
e pé-direito menores que os da nave, contêm um vigoroso retábulo barroco:
a sacristia está disposta lateralmente à capela-mor. Encontra-se na
sacristia, entre duas janelas, um lavabo em pedra de Lioz. Outra sacristia,
contígua e mais estreita, ladeia a nave da igreja. Nela estão expostos
achados arqueológicos encontrados no terreno da igreja, durante as obras
de restauração. Um campanário-arcada se encontra ao lado esquerdo da
fachada da igreja, contendo duas fenestrações em arco pleno onde estão os
sinos. Esse campanário quebra a postura austera da fachada, quando
interpenetra o espaço do corpo da igreja, colocando-se no local usualmente
ocupado pelo cunhal ou pilastra. (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p. 44-45).

Quanto à estrutura externa, notam-se as características abaixo:

As linhas de composição da fachada mostram que ela se encontra inscrita


num quadrado subdividido em três retângulos iguais, sendo o primeiro
definido pela altura da porta principal, o segundo passando pela pare
inferior da cimalha e o terceiro tangenciando vértice do frontão. A fachada
da Igreja de São Lourenço dos Índios, de composição clássica, é
construída, no térreo, por porta almofadada, e tem, na altura do coro, três
janelas retangulares, contornadas por cercaduras em cantaria. O seu
coroamento se faz por meio de um frontão triangular, marcado por cimalha
e frisos, no qual se encontra um óculo circular. A sineira apresenta duas
aberturas em arco pleno, dando acesso ao coro por meio de uma escada.
70

Essa parede sineira quebra a austeridade e simetria da fachada da igreja. A


cobertura, disposta em duas águas, é arrematada por beiras-seveiras e se
desenvolve em três diferentes níveis. O madeiramento da cobertura é
composto por quatro tesouras de linha alta, com estribos metálicos,
encaibramento e ripamentos aparentes. O piso da nave foi alterado ao
longo dos anos, tendo sido em tijoleiras, soalho de madeira e cerâmica e
finalmente de madeira. D acordo com o que a pesquisa histórica realizada
para a restauração da igreja apontou, o pároco pedia este tipo de piso para
evitar sepultamentos no interior da igreja no século XIX. O altar-mor guarda
ainda hoje as importantes tijoleiras indígenas, da época da construção
jesuítica (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p. 47).

Conforme atestam informações do website da Secretaria Municipal de Cultura


de Niterói (2013), é importante dar destaque ao retábulo-mor, datado do final do
século XVI ou início do século XVII, que pode ser considerado a obra de arte mais
antiga da cidade. A estrutura é um trabalho de talha em madeira, de primorosa
composição maneirista. Inúmeros estudiosos de arquitetura do Brasil consideram tal
obra como uma das mais representativas da primeira fase dos retábulos jesuíticos
no país (figura 28). Oliveira e Vasquez (2006) ressaltam que:

[...] é um vigoroso trabalho em talha em madeira brasileira (canela, louro e


cedro), de primorosa composição estilística. Não se pode afirmar que tenha
sido esculpido no Brasil ou se já veio pronto de Portugal, embora o Colégio
de Santo Inácio, no Rio de Janeiro, possuísse uma oficina de entalhadores
e escultores sob direção de Francisco Dias. Sua composição é inspirada à
maneira dos tratadistas renascentistas italianos, reportando-se aos
esquemas dos arcos triunfais romanos. As colunas duplas têm, no seu
primeiro terço, grotesques, cabeças de anjos e folhas de acantos; os dois
terços seguintes apresentam fustes com estrias dispostas em diagonal,
prenunciando a fase das movimentadas colunas salomônicas do barroco;
por fim, capitéis coríntios “um tanto repolhudos”, como afirma Lúcio Costa,
sustentam um entablamento recortado, profusamente ornado de ramicelos e
arabescos. Esses elementos emolduram o nicho que recebe a imagem de
São Lourenço, de expressiva qualidade. [...] Pablo Santos considera-o como
de “flagrante semelhança” com os retábulos de Guimarães, no norte de
Portugal, indicando, ainda que eles representem os primeiros sintomas do
surgimento do barroco na arte luso-brasileira. O coroamento do retábulo é
constituído por uma pintura central de motivo sacro, ladeada por colunas,
volutas e contravolutas de formas livres e arrojadas, e arrematadas por um
dossel de madeira fixado na parede. Há que notar, entretanto, que o corpo
do retábulo e o seu coroamento são de características distintas.
Arrematando o altar, um grande painel de tábuas de madeira recobre a
parede do fundo da capela-mor com uma pintura decorativa em tom
vermelho. O coroamento do retábulo é complementado por uma pintura
central de motivo sacro, ladeada por pilastras e volutas de formas livres e
arrojadas, arrematadas por um dossel de madeira. Esses elementos
emolduram o nicho dourado que recebe a imagem de São Lourenço,
esculpida em madeira de expressiva qualidade, contemporânea ao retábulo.
Arrematando o altar, uma pintura decorativa em painel recobre a parede do
fundo da capela-mor. Sua fachada-templo, de composição austera e
clássica, é constituída, no térreo, por portada única de verga reta e
cercadura de cantaria, dotada de esquadria de madeira almofadada; três
71

janelas de vergas retas e cercaduras de cantaria à altura do coro: o seu


coroamento se faz por um frontão triangular, marcado por cimalha e frisos,
no qual se encontra um óculo circular (OLIVEIRA; VASQUEZ, 2006, p. 48-
49).

Com o decorrer dos séculos, nota-se que a posse administrativa do


patrimônio passou por diversas apropriações. Com a independência do Brasil, a
igreja foi incorporada como propriedade do Estado Brasileiro conforme atestava a
Constituição. Ainda nesses primeiros anos republicanos, o título de posse foi
transferido para a Mitra de Niterói. No ano de 1915, o prefeito Manoel Otávio de
Souza Carneiro ordena que a Mitra se desaproprie da igreja devido ao péssimo
estado de conservação em que ela se encontrava. A lentidão do processo estendeu-
se por 19 anos e somente em 1934 a igreja foi cedida à prefeitura municipal após
entendimentos com a Mitra. Após esse período, a edificação passou por um
processo de restauração: substituição do madeiramento do telhado, caiação e
pintura dos altares (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).

Figura 28: Detalhes do interior da Igreja de São Lourenço dos Índios.

Fonte: Mapa de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, 2016.

Tendo em vista tal relevância cultural para a história do país, do estado do


Rio de Janeiro e para o município de Niterói, o monumento foi tombado pelo IPHAN,
(processo nº. 163-T, no Livro Belas Artes, p.37, inscrição nº. 213 de 23 de agosto de
72

1938), e, em 12 de janeiro de 1948, inscrito no livro Histórico, folha 41, nº. 247. No
âmbito municipal, a prefeitura determinou seu tombamento por meio da Lei 1.038, de
1992. A partir de 1999, foi restaurada sob coordenação do Núcleo de Restauração
de Bens Culturais de Niterói, sendo reaberta em 2001 (SECRETARIA MUNICIPAL
DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).

3.2.2 Seminário São José/Palacete da Soledade

Localizado na Rua Dr. Genserico Ribeiro, 59, a antiga sede da Fazenda da


Soledade foi construída para ser a residência de Francisca Elisa Xavier (1786-1855),
a Baronesa da Soledade. O território da fazenda abrangia grande extensão de terras
(do bairro de São Lourenço até o Fonseca). Sua antiga proprietária nasceu em Paty
do Alferes e foi casada com João Carlos Torres Moraes, o Barão de Soledade. Após
a morte de seu marido, a viúva assumiu a gestão da propriedade, porém, pouco
tempo depois, foi vendida ao Comendador José Duarte Galvão Júnior, então
vereador e presidente da Câmara Municipal, filho de Manoel Antônio Ayrosa, o
Barão de Sapucaia (ARQUIDIOCESE DE NITERÓI, 2016, sp.).

Trata-se de uma edificação datada de 1844, sob risco do arquiteto italiano


Antônio Forchini, de caráter neoclássico, com algumas modificações
posteriores de cunho eclético classicizante. Possui características de uma
arquitetura urbana construída em área rural. A edificação compacta
apresenta traços de inspiração na arquitetura renascentista italiana,
construída sobre porão alto. O palacete tem uma composição marcada por
forte simetria em todas as suas fachadas. O corpo central possui, no
pavimento térreo, o acesso principal precedido por uma escada de convite;
quatro janelas, dispostas duas a duas, ladeiam essa porta No pavimento
superior, cinco janelas francesas se abrem para um pequeno balcão sacado
e corrido. Todos os vãos do pavimento térreo possuem cercadura de
granito, com arco pleno; no piso superior, as vergas são retas com
sobrevergas de pequenos frontões triangulares, sustentados por mísulas.
Estas sobrevergas, provavelmente, são de colocação posterior, já que
rompem com a elegância da composição. A fachada principal se completa
com a presença de dois corpos dispostos simetricamente, contendo, cada,
duas janelas por pavimento. Todo o prédio é encimado por entablamento,
platibanda e um frontão triangular situado na fachada principal. Pilastras e
cunhais de massa com capitéis nas ordens clássicas arrematam a
composição (ARQUIDIOCESE DE NITERÓI, 2016, sp.).

Conforme informações contidas no website11 da Arquidiocese de Niterói


(2016), no ano de 1897, os proprietários cederam o palácio e suas limitações

11
Mais informações no link: <http://www.arqnit.org.br>.
73

territoriais ao Bispado de Niterói. Com isso, no início do século XX, o padre


Agostinho Francisco Benassi, bispo da cidade, fundou o Seminário São José. Desde
então,

O Seminário conta com um complexo formativo: propedêutico localizado no


município de Tanguá, o Seminário Maior com o Triênio Filosófico (Instituto
de Filosofia) o Quadriênio Teológico (Instituto Teológico) que estão situados
ao mesmo endereço de sua fundação no município de Niterói
(ARQUIDIOCESE DE NITERÓI, 2016, sp.).

O Seminário disponibiliza o contato telefônico para agendamento de visitas,


informações sobre datas festivas, informações sobre o curso de seminarista, entre
outras.

3.2.3 Igreja de São Lourenço da Várzea

Localizada na Rua Benjamim Constant, s/n°, precisamente no Ponto Cem


Réis (bairro Santana), a Igreja de São Lourenço da Várzea (figura 29) foi construída
para substituir a Igreja de São Lourenço dos Índios, que estava em péssimo estado
de conservação, como sede da freguesia (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA
DE NITERÓI, 2013).

Figura 29: Igreja de São Lourenço da Várzea.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.


74

O terreno onde foi construída a igreja foi obtido por meio de subscrição
popular, já que na época era posse do general Castrioto. As obras foram iniciadas
em 1873 e concluídas em 1892 (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE
NITERÓI, 2013).

O projeto original, em estilo eclético, de tendência neoclássica, era do


engenheiro Miranda Freitas, que, em 1882 foi substituído no comando da
obra por Heitor de Cordoville, que alterou o projeto do formato da torre, em
forma de uma flecha aguda, por um zimbório encimando os dois corpos
decorados de colunas jônicas. Sua fachada principal é dominada pela torre
central que avança em relação ao resto da construção e divide-se em três
níveis de ordens (dórica, jônica e coríntia). Todo o embasamento da igreja é
de pedra. Em 1891, foram colocados na torre dois sinos, o maior doado por
José Pereira de Souza e o menor pelo fazendeiro João Lopes Bastos. Na
pintura do interior da igreja, predominam as cores branca e dourada.
Lustres de cristal pendem de seu teto e merece destaque o órgão,
localizado no coro, no qual, durante muitos anos, tocou o maestro José
Botelho (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013,
sp.).

Além de ter sido uma obra de grande porte, vale ressaltar que a demora de
sua construção também foi influenciada pela Revolta da Armada que ocupou a igreja
e instituiu-a como quartel pelo 34º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional de
Niterói. No decorrer dos anos, o monumento passou por diversas reformas: em
1915, com diversas doações dos moradores; em 1933 e; em 1956 quando foi
inaugurado o novo altar do padroeiro em comemoração aos 43 anos da primeira
missa. Na data de 4 de junho de 2001, a Igreja foi tombada pela Lei municipal nº
1.835 (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013).

3.2.4 Casa de Oliveira Vianna

Localizada no início da Alameda São Boa Ventura, no bairro Fonseca, o


bucólico casario que pertenceu ao sociólogo Oliveira Vianna, que viveu entre 1883 e
1951, foi construído no ano de 1911 por José Mariano de Oliveira, mestre carpinteiro
e pai de Alberto de Oliveira (poeta e um dos melhores amigos de Oliveira Vianna).
Sua estrutura interna e externa é mantida preservada e repleta de móveis, quadros e
objetos originais, que refletem a personalidade do sociólogo que sempre se dedicou
à produção intelectual: atuava como professor, jurista, etnólogo, historiador e
escritor. Oliveira Vianna viveu neste local até o período de sua morte, em 28 de
75

março de 1951 (SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DO RIO DE JANEIRO,


2016).

De estilo eclético, típico do final do século XIX e começo do XX, a casa de


quatro quartos, duas salas e admirável biblioteca reúne elementos artísticos
de diversos estilos e tempos históricos. Mobiliário, pinturas, porcelanas,
cristais e objetos de uso pessoal do escritor são mantidos como foram
deixados. Um exemplo disso são a cadeira e a máquina de escrever onde
Oliveira Vianna escrevia. Máquina esta comprada a pedido de Monteiro
Lobato (através de uma carta que hoje faz parte do acervo da casa), que
tinha dificuldades para entender a caligrafia do amigo. Da varanda lateral,
com piso decorado, abrem-se portas que dão acesso à sala de jantar, à sala
de visitas e à biblioteca, com uma coleção que chega a 12 mil exemplares e
pode ser considerada a parte principal da casa. Além de livros, folhetos e
periódicos, este acervo contém correspondências do sociólogo com
personalidades do contexto político da época, como Gustavo Capanema,
Monteiro Lobato e Getúlio Vargas. Uma curiosidade extra do acervo são os
chamados papagaios, anotações enfeixadas e atadas em grupos que
faziam parte do processo de reflexão de Oliveira. Esse fichário de ideias do
escritor era matéria-prima para seus livros e ensaios, mas alguns deles
contêm até mesmo críticas a obras de outros autores (SECRETARIA DE
ESTADO DE CULTURA DO RIO DE JANEIRO, 2016 sp.).

Adquirida pelo Governo do Estado do Rio, em 1955, alguns anos após a


morte do sociólogo, o patrimônio (figura 30) foi inicialmente transformado em
“Fundação Oliveira Vianna”. No ano de 1975, passou a integrar a Fundação Anita
Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ), que é vinculada à
Secretaria do Estado de Cultura (SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DO RIO
DE JANEIRO, 2016).

Figura 30: Casa de Oliveira Vianna.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.


76

A visita ao local para consulta aos documentos e livros só podem ser


realizadas por pesquisadores brasileiros e estrangeiros interessados na obra de
Oliveira Vianna. Os horários disponíveis por meio de agendamento prévio são de
terça a sexta-feira, de 11h às 17h. Vale mencionar que por conta de sua
preservação, o local não possuiu adaptações acessíveis para portadores de
necessidades especiais (SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DO RIO DE
JANEIRO, 2016).

3.2.5 Ponto Cem Réis

De acordo com o website da Secretaria Municipal de Cultura de Niterói


(2013), após a construção da Igreja de São Lourenço da Várzea, no local conhecido
na época como Largo de Santana, aquela área tornou-se o principal ponto de
referência dos três bairros que lá se encontram: Fonseca, Santana e São Lourenço.
Posteriormente, o largo passou a ser conhecido como Ponto dos (ou “de”) Cem Réis
(figura 31), em referência ao valor da passagem cobrada para o uso do bonde que
ali fazia parada:

No Ponto de Cem Réis instalaram-se estabelecimentos comerciais que


serviam a diferentes bairros. Posteriormente iria ocorrer a instalação de
indústrias como estaleiros de reparos navais, refinaria de açúcar, fábrica de
vidros e fábricas de beneficiamento de pescado. Muitas destas atividades
deixaram de existir, mas algumas sobrevivem até hoje. Na década de 20
são feitas as obras do aterrado de São Lourenço, no mangue que ali existia.
Este aterro tinha com objetivo de facilitar a construção do Porto de Niterói,
da Estação Ferroviária e de uma nova avenida, a Feliciano Sodré no limite
do bairro com o Centro e São Lourenço. Já na década de 70, a construção
da Ponte Rio-Niterói, traz novas mudanças: prédios são derrubados
(inclusive onde funcionava o Centro Pró-Melhoramentos Santana/São
Lourenço), viadutos são construídos dividindo o Ponto de Cem Réis
(SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE NITERÓI, 2013, sp.).

Com a conclusão dessas obras, o fluxo de veículos se intensificou de forma


significativa nas vias do Ponto de Cem Réis, principalmente em relação a
deslocamentos intermunicipais e interestaduais. Tal fato fez com que o local
ganhasse referência como um ponto de passagem (SECRETARIA MUNICIPAL DE
CULTURA DE NITERÓI, 2013).
77

Figura 31: Casarios seculares localizados no Ponto Cem Réis de Santana.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.

No decorrer dos anos, nota-se a progressiva substituição de determinadas


atividades funcionais em alguns prédios e casarios seculares. No entanto,
patrimônios que não passaram por esse processo de reapropriação atualmente
encontram-se abandonados ou em ruínas (SECRETARIA MUNICIPAL DE
CULTURA DE NITERÓI, 2013).

3.3 PATRIMÔNIO IMATERIAL DO BAIRRO E SUAS IMEDIAÇÕES

De acordo com o conhecimento adquirido na vivência do autor, foram


elencados alguns eventos e manifestações culturais que englobam o patrimônio
imaterial da região do bairro de São Lourenço e seus arredores. São eles: festa do
padroeiro no Ponto de Cem Réis e no Morro de São Lourenço; Grêmio Recreativo
Escola de Samba (G.R.E.S.) Império de Araribóia; Projeto Samba na Praça e; datas
festivas no Seminário São José.

3.3.1 Festas Religiosas no Morro de São Lourenço, Ponto de Cem Réis e no


Seminário São José

Segundo Oliveira e Vasquez (2006), a festa do santo padroeiro do bairro


mobilizava e ainda mobiliza a comunidade todos os anos, na data de 10 de agosto,
no fim de semana mais próximo à data comemorativa. No morro de São Lourenço,
após a cerimônia da procissão, inicia-se a festa realizada pela parceria entre a
Associação de Moradores, membros da paróquia e moradores voluntários. Na festa
ocorrem diversas atrações musicais com shows de diversos ritmos e a venda de
alimentos típicos do período das festas juninas, julinas e agostinas.
Concomitantemente, no Ponto Cem Réis, ao lado da Igreja de São Lourenço
78

da Várzea, também é realizada uma festa em homenagem ao padroeiro, porém, de


maior porte, atrativos e número de visitantes. Vale ressaltar que em todo primeiro fim
de semana de junho, a paróquia prepara sua tradicional festa junina.
Após informações cedidas por contato via telefone, teve-se conhecimento que
o Seminário organiza diversos eventos festivos em datas religiosas, tais como: festa
de São José (19 de março); festa de João Maria Batista Vianney (primeiro fim de
semana de agosto) e; Festa do Leigo (em novembro).

3.3.2 Grêmio Recreativo Escola de Samba (G.R.E.S.) Império de Araribóia

Para o levantamento das informações a respeito do G.R.E.S. Império de


Araribóia foi realizada uma entrevista com o músico e morador do Morro de São
Lourenço, Ludson Areia. Segundo o entrevistado, em uma reunião de amigos em
2008, foi veiculada a ideia de criar um bloco de bairro para se tornar um projeto para
que crianças da própria comunidade e de comunidades vizinhas pudessem aprender
a tocar instrumentos carnavalescos (caixa, chocalho, repique, surdo e tamborim).
Com sua experiência musical (principalmente no carnaval, rodas de samba e
pagode), Ludson se tornaria então o professor do projeto, que começou com
aproximadamente 15 percussionistas que utilizavam instrumentos doados,
confeccionados e consertados pelo músico. Desta forma, formou-se o Grêmio
Recreativo Bloco Carnavalesco (G.R.B.C.) Araribloco (figura 32).

Figura 32: G.R.B.C. Araribloco.

Fonte: Acervo pessoal, 2008.

Coincidentemente, no ano de criação do bloco (2008) ocorreram as eleições


79

municipais. Tal fato propiciou subsídios para a compra de instrumentos, devido a


uma parceria acordada entre um candidato a vereador daquela época e o diretor
presidente do projeto, Wanderley Lopes. Com isso, as atividades do projeto
puderam ser expandidas e consequentemente, a quantidade de participantes do
projeto também. Após o período de eleições, em 22 de novembro de 2008, o Bloco
foi lançado oficialmente em um grande evento realizado na Praça General Rondon
no Morro de São Lourenço (figura 33), com a participação da bateria e mestres da
Portela.
De acordo com o que foi relatado, após um convite da NELTUR, em 2009 o
bloco teve a oportunidade de participar do desfile de Carnaval de Rua de Niterói,
realizado todos os anos na Rua da Conceição, no Centro da Cidade. A partir do
primeiro desfile, o Araribloco conquistou os seguintes títulos:

 2009: 1º lugar na categoria “Bloco de Embalo”;


 2010: 2º lugar na categoria “Bloco de Embalo” que promoveu a ascensão de
categoria para “Bloco de Enredo”;
 2011: 1º lugar na categoria “Bloco de Enredo” e;
 2012: 2º lugar na categoria “Bloco de Enredo” que promoveu a ascensão para
“Escola de Samba” no grupo especial de escolas de samba de Niterói.

Figura 33: Evento de lançamento do


Araribloco.

Fonte: Na Cadência da Bateria, 2012.

Ludson afirmou que a participação e empenho de toda a comunidade com a


80

organização e preparação dos desfiles e ensaios resultaram na ascensão do bloco


para a categoria de escola de samba. Com isso o G.R.B.C. Araribloco transformou-
se em G.R.E.S. Império de Araribóia (figura 34), ao fim do carnaval de 2012.

Figura 34: G.R.E.S. Império de Araribóia.

Fonte: Acervo pessoal, 2012.

Como escola de samba, Ludson informou que nos desfiles (figura 35)
realizados em 2013 e 2016 (figura x), o Império de Araribóia manteve-se entre 3ª e
4ª colocação. Porém, ele não soube informar precisamente em quais anos essas
posições foram conquistadas. Atualmente, a escola de samba conta com o apoio e
participação de aproximadamente duas mil pessoas, incluindo a comunidade,
percursionistas, apoio, entre outros. Os ensaios para o carnaval começam em
setembro e vão até fevereiro, realizados todas as segundas-feiras no Morro de São
Lourenço.

Figura 35: Desfile no Carnaval de Rua de Niterói 2016.

Fonte: Facebook – Império de Araribóia, 2016.


81

Vale ressaltar que a NELTUR é o órgão responsável pelo repasse de


subsídios para a organização, manutenção de instrumentos, compra de materiais
artesanais para a confecção das alegorias e fantasias das escolas e blocos que
desfilam no Carnaval de Rua de Niterói. No entanto, Ludson alertou que esse
repasse orçamentário é efetuado quase às vésperas da semana carnavalesca. Tal
empecilho faz com que a comunidade trabalhe em conjunto para que não atrapalhe
a preparação do grande desfile. Quanto à realização de eventos, Ludson informou
que desde a criação do Araribloco foram realizados diversos eventos, tais como:

 Araribloco Convida: com a participação das baterias da Portela, Viradouro,


Grande Rio e Estácio de Sá;
 Araribloco (2010/2012) Império Folia (2013/2015): bloco de rua com trio elétrico
realizado uma semana antes do carnaval, tendo o Moro de São Lourenço como
ponto de partida e encerramento no Ponto Cem Réis e;
 Feijoada do Império: realizada uma vez ao mês na quadra do Fluminense
Atlético Clube, no Centro da cidade. O músico relatou que esse é o único evento
realizado fora o Morro de São Lourenço, por questões de segurança
relacionadas às comunidades do Morro da Boa Vista e da Favela do Sabão,
ambos no bairro.

Além desses eventos, vale ressaltar que a bateria da escola de samba já fez
participação em diversos eventos por Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro. Além
disso, sua bateria era responsável pelo encerramento do evento Samba na Praça,
projeto criado por Ludson e outros amigos músicos moradores do Morro de São
Lourenço, também em 2008.

3.3.3 Projeto Musical Samba na Praça

Quando questionado sobre o evento Samba na Praça, Ludson respondeu que


se tratava de um projeto criado em 2008 por sua falecida mãe e por sua tia em que
ele e mais cinco amigos reuniam-se em uma roda de samba na Praça General
Rondon. O entrevistado relatou que naquela época o evento era sempre realizado
no segundo domingo de cada mês. Além da atração musical, o público tinha à
disposição barracas que vendiam comidas, como feijoada, caldos, churrasco,
82

bebidas, entre outros.


Ademais, foi comentado que o evento idealizava um samba rústico de raiz, de
forma intimista, onde todos podiam se reunir para cantar e bater palma próximos à
roda de samba, na qual os músicos tocavam instrumentos como pandeiro,
cavaquinho, reco-reco, violão sete cordas e tantã. Naquela época, os membros do
evento buscavam sempre trazer músicos convidados para agregar valor ao projeto.
Inclusive, Ludson enfatizou que a ideia do samba de rua de Niterói surgiu por meio
desse projeto, que incentivou a realização de outros eventos similares pelos bairros
da cidade.
No período de realização de um ano e meio (início de 2008 a meados de
2009), o evento reunia um público com capacidade para lotar grande parte do
espaço da praça. No entanto, com o decorrer do tempo, foi perdendo sua força
devido à falta de patrocínio ou apoio, principalmente por parte da prefeitura. Após
dois anos sem atividades, o evento teve algumas realizações isoladas e sem a
representatividade como de costume.
Questionou-se o entrevistado a respeito de sua percepção como morador do
bairro, em relação às questões ligadas ao pertencimento, à memória, à valorização
do local, entre outros. Ele afirmou que possui uma relação de “amor e ódio”, devido
ao esquecimento que o local sofre com a falta de visibilidade e investimentos.
Quando questionada sua opinião em relação à gestão pública, ele ressaltou que só
identifica algo sendo feito no período de aniversário da cidade, 22 de novembro, no
qual é realizada uma missa de celebração na Igreja de São Lourenço dos Índios
com a presença de políticos e gestores públicos do município. Tal fato isolado não
impede que a localidade se mantenha estagnada ou sem algum progresso
significativo.
Sobre a possibilidade da atividade turística para a promoção da região de
estudo, foi apontado que outros elementos também podem contribuir para esta
finalidade, tais como a música e a cultura, como já ocorre em comunidades do Rio
de Janeiro, como por exemplo, no Morro do Vidigal. Dessa maneira, foi mencionada
a possibilidade de utilizar o local para a realização de eventos que possam trazer
visibilidade para as manifestações culturais do Morro de São Lourenço, como
acontece no caso da escola Império de Araribóia.
Em síntese, o entrevistado revelou que apesar dos problemas existentes na
comunidade do Morro de São Lourenço, causados também pelo pouco engajamento
83

dos moradores, ainda existe uma esperança de melhorias por meio da música e da
cultura, atrelados ao turismo, com possibilidades de investimentos para o local com
a captação de recursos públicos e privados.
Tendo em vista a abordagem dos aspectos patrimoniais (materiais e
imateriais) ao longo deste capítulo, bem como a entrevista apresentada, pode-se
perceber a importância de incluir a percepção dos outros agentes sociais
(moradores da cidade de Niterói e os gestores públicos) com a finalidade de agregar
o maior número possível de informações para o preenchimento das lacunas
existentes. Dessa forma, surge o seguinte questionamento: Os agentes sociais
(moradores e gestores públicos) percebem a possibilidade de turistificação no bairro
de São Lourenço, especialmente como sendo o marco zero da cidade de Niterói?
84

4 A PERCEPÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS SOBRE O POTENCIAL TURÍSTICO


DO BAIRRO DE SÃO LOURENÇO, NITERÓI

Com o intuito de verificar a percepção dos moradores e gestores públicos


quanto ao bairro de São Lourenço e o seu entorno como sendo o Marco Zero do
município de Niterói, foram adotadas metodologias de investigação de acordo com
perfil dos dois tipos de agentes sociais investigados nesta pesquisa. Buscando
lançar luz à questão, com os moradores do município de Niterói, foi realizada uma
pesquisa de campo com a aplicação de formulários com perguntas estruturadas e
semiestruturadas e, com os gestores públicos, foram realizadas entrevistas livres
com o propósito de conhecer melhor o que tem sido feito para a região. Com
resultado, foram coletadas informações que pudessem ser trabalhadas por meio de
uma análise crítica a fim de preencher a questão problema que compreende o
presente trabalho.

4.1 DADOS SOBRE A PERCEPÇÃO DO MORADOR DE NITERÓI

Para a realização da pesquisa de campo, foi estruturado um grupo composto


por 13 alunos do curso de turismo da UFF (figura 36), com o intuito de identificar a
percepção do morador de Niterói em relação ao bairro de São Lourenço e suas
imediações. A investigação ocorreu no período entre 9 a 14 de maio de 2016 em
locais estratégicos e de grande circulação de pessoas pela cidade, tais como: Praça
General Gomes Carneiro (conhecida como Praça do Rink), Terminal Rodoviário
João Goulart, Campo de São Bento, arredores da Ilha de Boa Viagem, Praça César
Tinoco, Horto do Fonseca, Horto do Barreto, entre outros.
Vale mencionar que a amostra definida previamente foi de 385 12 formulários
válidos (APÊNDICE A). Para o critério de validação da amostra de pesquisa, foi
estabelecida a pergunta filtro: “Você reside em Niterói?”. Dessa forma, moradores de
cidades da Região Metropolitana do RJ (Duque de Caxias, Itaboraí, Maricá, Rio de
Janeiro e São Gonçalo) que trabalhavam ou frequentavam a cidade durante o
período de aplicação dos formulários foram excluídos por não se encaixarem na
perspectiva da investigação.

12
O cálculo amostral desta pesquisa utilizou como base a população atual de 487.562 habitantes,
margem de erro de 3% e nível de confiança de 99%. Disponível em:
<http://www.publicacoesdeturismo.com.br/calculoamostral>. Aceso em: 25 abr. 2016.
85

Figura 36: Pesquisa de campo com moradores da cidade de


Niterói.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.

Ao dar continuidade à pesquisa após a pergunta filtro, foi questionado o bairro


em que os entrevistados residiam. Observando os resultados, notou-se o alcance de
35 do total de 52 bairros existentes no município. Neste cenário, os bairros que
tiveram maior representatividade de entrevistados foram: Icaraí (13,2%), Ingá (13%),
Fonseca (12,7%), Santa Rosa (10,1%) e Centro (9,6%), visto que, são os bairros
com os maiores índices populacionais do município. Vale mencionar que no âmbito
regional, todas as regiões administrativas foram contempladas na amostra coletada.
A região das Praias da Baía com maior representatividade (60%), e em seguida,
Norte (31,4%), Pendotiba (4,9%), Oceânica (3,4%) e Leste (0,3%), como demonstra
a figura 37.
86

Figura 37: Percentual dos bairros de residência dos moradores participantes da pesquisa.

Fonte: Elaboração própria, 2016.


87

Posteriormente, o participante deveria informar a quanto tempo residia no


município de Niterói. Nessa vertente, a maior notoriedade percentual foi para os
moradores que residem na cidade desde que nasceram (37,1%) e a menor foi
para os moradores que residem por menos de um ano (1,8%). As variáveis
restantes como acima de 20 anos, de 11 a 20 anos, de 6 a 10 anos e de 1 a 5
anos tiveram o alcance de 23,1%, 11,2%, 8,3% e 18,4% respectivamente (figura
38).

Figura 38: Tempo de residência.

2%

19%
Menos de um ano
37%
De 1 a 5 anos
De 6 a 10 anos
8%
De 11 a 20 anos
Acima de 20 anos
11% Desde que nasceu

23%

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Em relação ao gênero, não houve nenhuma predominância, assim sendo:


feminino com percentual de 51,2% e masculino com 48,8%. No que tange a faixa
etária dos entrevistados, as categorias e resultados revelaram-se em: “entre 12 e
18 anos”, com 2,3%; “entre 19 e 29 anos”; com 36,1%; “entre 30 e 45 anos”; com
24,4%; “entre 46 e 60 anos”, com 22,6% e; “acima de 60 anos”, com 14,5%.
Sobre o nível de escolaridade, entrevistados que possuíam o ensino médio
completo foram representantes do maior quantitativo abordado: mais da metade
com 55,3%. Esse resultado foi seguido de entrevistados com nível superior
(26,8%), com nível fundamental (11,2%) e por último, com pós-graduação (MBA,
mestrado e doutorado – 6%). Vale dar nota ao fato de que alguns entrevistados
(0,8%) preferiram não declarar seu nível de escolaridade.
Cabe mencionar que a ocupação principal também foi utilizada para compor
a estrutura do perfil dos entrevistados. Sendo assim, as categorias e resultados
88

distribuíram-se da seguinte maneira: emprego no setor privado, com 24,2%;


estudante, com 21,8%; emprego no setor público, com 14,8%; profissional
liberal/autônomo, com 11,7%; aposentado/pensionista, com 11,4%;
desempregado, com 7,3% e; empresário, com 7%. Neste caso, também tiveram
entrevistados que não declararam sua ocupação principal (1,8%).
Há que se acrescentar que, o quesito de renda foi utilizado para concluir a
lista de “critérios base” para o formulário. A partir dos resultados obtidos, nota-se a
coincidência com os indicadores de renda que a população niteroiense apresenta
com diversas pesquisas referenciadas no Capítulo 2. Tendo como base o salário
mínimo de 201613 no valor de R$880,00, as categorias estipuladas tiveram os
seguintes resultados: entre 3 e 5 salários mínimos (R$ 2.641,00 até R$ 4.400,00)
com a maior expressividade de 24,7%; “entre 5 e 10 (R$ 4.401,00 até R$
8.800,00) com 20,3% seguido de; entre 1 e 3 salários mínimos (R$ 881,00 até R$
2.640,00) com 19,7%; acima de 10 salários mínimos (acima de R$ 8.801,00) com
13% e, por último; até 1 salário mínimo (R$ 880,00) com 4,7%. Este quesito do
formulário foi o que apresentou o maior percentual de entrevistados que não
declararam a resposta: 17,7% (figura 39).

Figura 39: Renda familiar.

Não declarado
13%
17%
Até 1 salário mínimo (até
R$ 880,00)
5%
20% Entre 1 a 3 salários
mínimos (R$ 881,00 até
R$ 2.640,00)
20% Entre 3 a 5 salários
mínimos (R$ 2.641,00 até
R$ 4.400,00)
Entre 5 a 10 salários
25%
mínimos (R$ 4.401,00 até
R$ 8.800,00)

Fonte: Elaboração própria, 2016.

13
Informações sobre o valor do salário mínimo em 2016 obtidas no portal G1, disponível em:
<http://www.g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/salario-minimo-em-2016-saiba-o-valor.html>.
89

De um modo geral, pode-se concluir que o perfil do público participante da


pesquisa é oriundo do bairro de Icaraí; residente da cidade desde que nasceu;
pertencente aos gêneros feminino e masculino devido ao equilíbrio das respostas;
adulto jovem na faixa dos 19 aos 29 anos; com ensino médio completo;
empregado no setor privado e; inserido na classe média, com renda familiar
mensal entre 3 a 5 salários mínimos (R$ 2.641,00 até R$ 4.400,00).
Depois de concluída a apresentação das variáveis básicas que englobam o
alcance de dados sociodemográficos, foram elencadas perguntas que serviram de
subsídios para compor a estrutura do formulário, bem como a análise sobre a
percepção do morador do município de Niterói em relação ao bairro de São
Lourenço, como pode ser observado a seguir:

 “Qual bairro você acredita que seja o local de origem da cidade de Niterói?”;
 “Como você obteve conhecimento desta informação?”;
 “Você conhece o bairro de São Lourenço?”;
 “Já visitou algum destes locais históricos: Igreja de São Lourenço dos
Índios; Igreja de São Lourenço da Várzea (Igreja Santana); Seminário São
José (Palacete da Soledade); Ponto Cem Réis e; Casa de Oliveira Vianna”;
 “Em sua opinião, a gestão pública tem tomado as medidas e ações
necessárias para o bairro de São Lourenço?” e;
 “Em sua opinião, a estruturação e preparação do bairro de São Lourenço
para o turismo poderiam trazer benefícios para o local e para a cidade?”.

Vale mencionar que no momento da penúltima pergunta (apresentada


acima de acordo com a ordem no formulário), o participante da pesquisa poderia
complementar sua resposta com ponderações pessoais. No âmbito das respostas
negativas, o participante poderia sugerir medidas que proporcionassem melhorais
para as precariedades observadas de acordo com sua percepção. No caso da
resposta positiva, o interrogado era orientado a indicar o que ele percebia que foi
e/ou tem sido feito pela gestão pública municipal naquele local. É importante
salientar que, durante o planejamento do formulário, foi estabelecido pelo autor
que somente a primeira ponderação informada pelo participante seria incluída
para a tabulação dos dados.
90

Quanto à percepção relacionada à qual bairro o morador acreditaria que


fosse o local de origem de Niterói, curiosamente, 20 bairros (figura 40) foram
citados para a titulação de marco zero do município:

Figura 40: Percepção do morador quanto ao bairro de origem do município de Niterói.

Centro 42,1%
Icaraí 14,3%
São Lourenço 13,5%
Não soube responder 11,7%
Jurujuba 4,2%
Boa Viagem 3,4%
Ponta D'Areia 2,9%
São Domingos 1,8%
Ingá 1,8%
Fonseca 1,0%
São Francisco 0,8%
Itacoatiara 0,5%
Barreto 0,5%
Rio do Ouro 0,3%
Largo da Batalha 0,3%
Ititioca 0,3%
Itaipu 0,3%
Engenhoca 0,3%
Cubango 0,3%

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Nessa variável verifica-se o destaque para o Centro da cidade, que teve a


primeira colocação isolada em relação aos outros bairros, com o alcance de 42%
do resultado final, seguido pelo bairro de Icaraí com 14,3%. A resposta correta que
seria o bairro de São Lourenço ocupou o terceiro lugar de acordo com a
percepção dos participantes, totalizando apenas 13,5% do total de respostas
(figura 41). Um fator que merece ser destacado com relação a essa questão foi
identificado quando as respostas dos moradores do bairro de São Lourenço (3,4%
do quantitativo total) foram analisadas isoladamente. Nesse contexto, 31% dos
interrogados que residem no local não identificaram o bairro como sendo o marco
zero da cidade.
Em continuidade aos resultados, bairros como Jurujuba, Boa Viagem, Ponta
D’Areia, São Domingos e Ingá, também englobaram a lista dos bairros
referenciados pelos entrevistados. É válido ressaltar que estes são bairros que
91

tiveram alguma expressividade no decorrer da história de Niterói. No entanto, a


frente desses bairros, 11,7% dos entrevistados não possuía uma ideia
fundamentada sobre qual seria o bairro de origem do município.

Figura 41: O bairro de São Lourenço no panorama geral dos


bairros citados.

13,5%

São Lourenço
Outros

86,5%

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Em relação ao questionamento sobre como o participante fundamentou seu


conhecimento quanto ao bairro de origem da cidade, é importante ressaltar que os
dados retratados a seguir na figura 42, resultaram-se por meio de uma perspectiva
geral em relação a todos os bairros mencionados como o marco zero.
92

Figura 42: Como os participantes da pesquisa fundamentaram seu conhecimento


quanto ao bairro de origem da cidade.

Suposição 36,6%

Sempre soube pelo fato de ser morador 17,4%

Amigos e/ou Familiares 12,7%

NA* 11,7%

Meios de comunicação digitais e/ou… 10,6%

Escola e/ou Universidade 8,8%

Percepção 1,6%

Não se recorda 0,3%

Curso de Guia de Turismo 0,3%

NA* = Não se Aplica. Dados relacionados ao quesito “não soube responder”, da pergunta
anterior.
Fonte: Elaboração própria, 2016.

Para o alcance de esclarecimentos mais precisos em relação aos três


principais bairros mencionados com o marco de fundamento da cidade (Centro,
Icaraí e São Lourenço), é necessário que cada uma dessas variáveis seja
averiguada isoladamente. Sendo assim, quando perguntados como foi
fundamentada a percepção em relação ao Centro da cidade, 50% dos
participantes justificaram sua resposta de acordo com sua suposição ou
conhecimento empírico. Em segundo lugar, 15,4% afirmaram que sempre
souberam pelo fato de serem moradores e, em terceiro, 13% afirmaram que
obtiveram esta informação por meios de comunicação digitais e/ou impressos.
No que tange as sondagens relacionadas ao quesito de suposição, vale
mencionar que os interrogados relacionaram tal resposta ao fato de que diversas
cidades do Brasil e do mundo instituíram-se por meio de sua região central. Além
dessa afirmação, os respondentes também relacionaram sua suposição com os
seguintes fatos: a localização do bairro à beira-mar; a presença da estátua de
Araribóia na praça de nome homônimo e; pela representação de diversos casarios
e palácios históricos naquela região.
O bairro de Icaraí obteve um percentual supositivo de 61,8%. O principal
fator que influenciou a justificativa dos participantes foi a consideração de que o
bairro possui o título de mais conhecido da cidade, de acordo com a mídia,
residentes e moradores de cidades vizinhas. Outras suposições listadas foram o
93

status de desenvolvimento e qualidade de vida que o bairro possui e os


investimentos de infraestrutura por parte da gestão pública que são realizados
constantemente no local. Em segundo lugar, 20% afirmaram que sempre
souberam pelo fato de serem moradores e, em terceiro, 10,9% afirmaram que
obtiveram esta informação por meios de comunicação digitais e/ou impressos.
A despeito dos bairros supracitados, São Lourenço foi o único bairro que
teve a maioria afirmando que sempre soube pelo fato de ser morador (43,1%). Em
segundo lugar, 27,5% afirmaram que obtiveram essa resposta por meio de
escolas e/ou universidade e, em terceiro, 19,6% afirmaram que obtiveram esta
informação por meios de comunicação digitais e/ou impressos. Ao analisar as
principais fontes de informação citadas pelos participantes que responderam o
bairro de São Lourenço como sendo o marco zero de Niterói, nota-se a
importância da participação do morador na preservação e propagação da cultura
local, além da abordagem da história do município em redes de ensino locais.
É importante ressaltar que as justificativas quanto ao quesito de suposição
não estavam em forma de pergunta no formulário de pesquisa. Esse levantamento
foi feito por meio das percepções em campo informadas pelos pesquisadores. Os
gráficos com todos os dados referentes à fundamentação da percepção dos três
principais bairros elencados pelos participantes da pesquisa estão indicados na
figura 43.
Quando questionados quanto ao conhecimento do bairro, 62% informaram
ter visitado o local alguma vez em sua vida. Nessa perspectiva, ao observar
isoladamente a percepção (de qual bairro seria o marco zero de Niterói) desses
participantes foi averiguado que apenas 18% reconhecem como o local como o
marco de fundamento da cidade. Com isso, é possível identificar mais uma
vertente que comprova a precariedade de informações por parte dos moradores,
bem como o distanciamento com a memória da cidade.
Nesse ponto, entra em pauta a relevância do fator de ter conhecido o local
para o prosseguimento da entrevista, já que as perguntas posteriores eram
direcionadas a aspectos específicos sobre a região em estudo. Sendo assim, as
próximas análises abordam apenas os dados relacionados aos 62% dos
participantes que afirmaram conhecer o bairro de São Lourenço.
94

Figura 43: Fonte de informação referente aos três principais bairros elencados.

Fonte: Elaboração própria, 2016.


95

No que se refere à questão dos atrativos existentes no bairro e seu entorno,


com o intuito de alinhar os objetivos do presente trabalho, vale mencionar a
exclusão daqueles que se encontra em atividade sem alguma relação com a
cultura e/ou turismo. Como por exemplo, o prédio histórico localizado nos
arredores da Praça da Renascença, que atualmente está em posse administrativa
do TCE-RJ. Com isso, na continuidade do questionário, foi perguntado ao público
se já havia visitado os patrimônios elencados. Como demonstra a tabela 2, os
resultados foram:

Tabela 2: Respostas em relação às visitas aos patrimônios elencados para a


pesquisa.
Patrimônios Elencados Já visitou Nunca visitou

Casa de Oliveira Vianna 10,6% 89,4%


Igreja de São Lourenço dos Índios 24,2% 75,8%

Igreja de São Lourenço da Várzea 35,3% 64,7%


Ponto Cem Réis 62,6% 37,4%
Seminário São José 13,2% 86,8%
Fonte: Elaboração própria, 2016.

Após análise dos dados expostos na tabela acima, com a exceção do Ponto
Cem Réis, os resultados apontaram que mais de 60% dos niteroienses nunca
visitaram o conjunto patrimonial da região. Vale ressaltar que diversos fatores
propiciaram ao Ponto Cem Réis o percentual maior do que a metade, como por
exemplo, o fato de ser um local de grande fluxo de veículos no itinerário municipal
e intermunicipal, além de ser um local de referência para o comércio de peças
automobilísticas na cidade.
Em continuidade à pesquisa de percepção dos residentes, foi inserido o
questionamento quanto à atuação da gestão pública municipal na área de estudo.
Com isso, o seguinte questionamento foi feito: Em sua opinião, a gestão pública
tem tomado as medidas e ações necessárias para o bairro de São Lourenço e seu
entorno? Por exemplo: Preservação, manutenção e divulgação do patrimônio
histórico/cultural do local?
Em resposta a esse questionamento, 72,3% dos entrevistados informaram
que “não”, 19,7% não souberam responder e 8% responderam que sim. Em
complemento, foi pedido aos entrevistados que citassem as medidas executadas
pela gestão pública no local de acordo com sua resposta anterior.
96

Nessa perspectiva, os participantes que responderam sim (8%) eram


orientados a responder quais medidas executadas pela gestão pública municipal
foram observadas no local, de acordo com sua percepção. Já os participantes que
informaram não (72,3%) eram orientados a elencar sugestões de intervenções que
pudessem trazer melhoria para a região em foco. Com isso, foi feito um
agrupamento das respostas sugeridas. Por exemplo: “obras no local”, “melhorias
na estrutura local”, “melhorias para o lazer”, “saneamento básico”, etc., foram
correlacionadas e transformadas em único quesito: Obras de Infraestrutura Básica
e/ou Lazer. Dessa maneira, a figura 44 indica como se organizaram esses dois
vieses:

Figura 44: Respostas complementares.

Fonte: Elaboração própria, 2016.

Finalizando a entrevista, foi perguntado aos entrevistados se na opinião


deles, “a estruturação e preparação do bairro de São Lourenço e seu entorno para
o turismo poderiam trazer benefícios para o local e para a cidade” isto é, turistificar
97

o local. Neste exame, 81,9% dos participantes responderam que “sim”, 11,7% não
souberam responder e 6,5% responderam que “não”.
Em relação ao percentual de respostas negativas (6,5%), os entrevistados
justificaram com as seguintes ponderações: ser uma zona insegura da cidade e
rodeada de favelas; ser apenas uma área comercial da cidade e; o fato de Niterói
possuir atrativos mais interessantes para serem explorados. Por fim, aqueles que
responderam que sim (81,9%), eram orientados a informar em uma escala de alta,
média e baixa relevância os possíveis benefícios (estabelecidos pelo autor durante
o planejamento da pesquisa) que seriam oferecidos pela possibilidade de
turistificação no bairro de São Lourenço e suas imediações (tabela 3).
É importante justificar também, que o motivo da escolha dos quesitos acima
para compor a tabela de análise de relevância estão relacionados principalmente
com o referencial teórico abordado no capítulo 1: melhorias em infraestrutura
básica (hospitalidade urbana); valorização do patrimônio histórico/cultural (cultura,
memória e identidade); geração de empregos (turistificação e agentes sociais);
aumento na autoestima dos moradores da região (agentes sociais, memória e
identidade) e; inserção dos atrativos do bairro em roteiros turísticos (segmentação
turística).

Tabela 3: Nível de relevância para os possíveis benefícios oferecidos pela


turistificação no bairro de São Lourenço e seu entorno.
Possíveis Benefícios Oferecidos Relevância
pela Turistificação no bairro de
São Lourenço e Imediações Alta Média Baixa NS*
Aumento na autoestima dos
81,8% 13,8% 2,5% 2,0%
moradores da região

Geração de emprego 84,2% 13,3% 2,0% 0,5%

Melhorias na acessibilidade ao
83,3% 15,3% 1,0% 0,5%
local
Melhorias em infraestrutura básica 88,2% 10,3% 0,5% 1,0%
Valorização do patrimônio
87,2% 11,8% 0,5% 0,5%
histórico/cultural
Inserção dos atrativos do bairro
em roteiros turísticos e/ou culturais 72,9% 24,1% 0,5% 2,5%
municipais e regionais
NS* = Não Sabe.
Fonte: Elaboração própria, 2016.

É possível observar que todos os quesitos propostos apresentaram uma


concordância acima de 70% perante a opinião do público abordado. Ordenados
98

por relevância, os benefícios avaliados acima se organizaram da seguinte


maneira: Melhorias em infraestrutura básica (88,2%); Valorização do patrimônio
histórico/cultural (87,2%); Geração de Empregos (84,2); Melhorias na
acessibilidade ao local (83,3%); Aumento na autoestima dos moradores da região
(81,8%) e por último; Inserção dos atrativos do bairro em roteiros turísticos e/ou
culturais municipais e regionais (72,9%), que porventura, alcançou o maior índice
de média relevância (24,1%) e baixa relevância (2,5%). Cabe mencionar, que os
entrevistados não mencionaram nenhum outro benefício em complemento aos
elementos supracitados.

4.2 A PERCEPÇÃO DOS GESTORES PÚBLICOS

Para a realização dessa etapa, foi preciso compreender alguns conceitos


básicos sobre metodologias de entrevistas, para que assim, pudesse ser utilizada
aquela mais adequada com o propósito da pesquisa. Dessa maneira, de acordo
com Gil (1999, apud BRITTO JÚNIOR; FERES JÚNIOR, 2011, p. 240), as
entrevistas podem ser classificadas em: informais, focalizadas, por pautas e
formalizadas:

O tipo de entrevista informal é o menos estruturado possível e só se


distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a
coleta de dados. É recomendado nos estudos exploratórios, que visam a
abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador, ou então
oferecer visão aproximativa do problema pesquisado. A entrevista
focalizada é tão livre quanto a anterior; todavia, enfoca um tema bem
específico, quando, ao entrevistado, é permitido falar livremente sobre o
assunto, mas com o esforço do entrevistador para retomar o mesmo foco
quando ele começa a desviar-se. É bastante empregado em situações
experimentais, com o objetivo de explorar a fundo alguma experiência
vivida em condições precisas. Também é bastante utilizada com grupos
de pessoas que passaram por uma experiência específica, como assistir
a um filme, presenciar um acidente etc. O tipo de entrevista por pautas
apresenta certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de
pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu
curso. As pautas devem ser ordenadas e guardar certa relação entre si.
O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar
livremente, à medida que reporta às pautas assinaladas. No caso da
entrevista estruturada, ou formalizada, se desenvolve a partir de uma
relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariáveis
para todos os entrevistados que geralmente, são em grande número. Por
possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista
torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de levantamentos
sociais (grifos nosso).
99

Ao analisar as possibilidades categorizadas por Gil, no presente trabalho


optou-se por utilizar o método de entrevista focalizada, por permitir dar maior
enfoque aos âmbitos do turismo e da cultura. Além disso, sua metodologia
proporcionou ao pesquisador a possibilidade de discutir livremente sobre os temas
abordados.
Nessa perspectiva, foram entrevistados os seguintes agentes sociais:
Rubens Branquinho (diretor de turismo da NELTUR); Antônio Egídio (colaborador
da Secretaria Municipal de Cultura de Niterói e atual responsável pela Igreja de
São Lourenço dos Índios); Maurício Vasquez (um dos autores da obra “Memória
dos Bairros de Niterói – São Lourenço” e atual coordenador da Divisão de
Documentação e Pesquisa da Secretaria Municipal de Cultura) e; Flavio Cabral
(Presidente da Associação dos Moradores do Morro de São Lourenço).

4.2.1 Entrevista com o Diretor de Turismo da NELTUR

Durante a entrevista realiza em junho de 2016, foi mencionado pelo


entrevistado, senhor Rubens Branquinho, diretor de Turismo da Empresa de
Turismo de Niterói (NELTUR), que as diretrizes voltadas para a atividade turística
são estipuladas pelo “Plano Estratégico 2013-2033 - Niterói que Queremos”, um
plano participativo no qual os diversos agentes envolvidos no planejamento
mencionaram o turismo como uma das principais atividades de desenvolvimento
econômico sustentável para o município. De acordo com aquele planejamento
estratégico, trimestralmente ocorrem reuniões de alinhamento nas quais os
gestores apresentam suas metas alcançadas. Ao todo são cinco metas que
seguem as diretrizes do plano estratégico: uma de ajuste fiscal, uma de
modernização e gestão e três metas de entrega para a população.
Ao serem retratadas as diretrizes para melhorias de infraestrutura urbana, o
diretor de turismo mencionou as propostas do Projeto de Requalificação do Centro
de Niterói. Além disso, o entrevistado citou que diversas obras de reestruturação
que, de certa forma, favorecem o turismo. São elas: a obra da Via
Transoceânica14, para aproximar a população de bairros distantes e visitantes aos

14
Mais informações no link: <http://www.oglobo.globo.com/rio/bairros/veja-imagens-de-como-sera-
transoceanica-em-niteroi-11611494>.
100

atrativos naturais localizados na região oceânica; revitalização de parques, como


os hortos dos bairros Fonseca e Barreto; construção do Marina Skate Park; entre
outros. Além disso, ele acredita que as melhorias na infraestrutura de transportes
da cidade do Rio de Janeiro também podem fomentar a ida de turistas para a
cidade.
Foi salientada também pelo entrevistado, a oportunidade propiciada pelos
grandes eventos esportivos e a tradição esportiva da cidade. Beneficiada pela
proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, Durante os Jogos Olímpicos Rio
2016, Niterói abrigou postos de estacionamento de motorhomes e trailers, 15
delegações de vela e equipes de TV internacionais.
Tratando-se da administração dos atrativos turísticos da cidade, foi
mencionado que a NELTUR atua somente com a divulgação, operação de
receptivo, sinalização turística, entre outras. Sendo assim, cada atrativo de seu
respectivo segmento é administrado por uma secretaria municipal e esse trabalho
ocorre em sinergia entre ambos os órgãos. Por exemplo, o Parque da Cidade que
é divulgado nos roteiros turísticos da cidade é administrado pela Secretaria
Municipal de Meio Ambiente.
Em relação aos eventos municipais, a NELTUR apoia institucionalmente
grande parte dos eventos realizados por outras secretarias municipais e empresas
privadas. Foi citada como uma das metas do ano, a criação de um calendário
único para disciplinar, propor eventos de larga escala em baixa temporada, e
organizar as datas para que eventos de mesmo gênero não coincidam no mesmo
dia. No momento esse é um processo que ainda está em curso, mas que grande
parte dos eventos está a par do conhecimento da empresa.
Atualmente, os eventos fixos realizados pela NELTUR são nos períodos do
carnaval, natal e do réveillon. Além disso, a empresa também apoia o aniversário
da cidade, festas juninas e outros, caso haja captação de recursos. Quanto ao
carnaval, foi mencionado que 50% do orçamento anual da empresa é direcionado
somente para o evento, que tem crescido cada vez mais. Além disso, a subvenção
das escolas é distribuída adequadamente para todas que participam do desfile de
rua. Em relação às festas religiosas é oferecido apenas o apoio institucional, já
que o Estado é laico e a prefeitura não pode financiar eventos de tal cunho. No
entanto, o órgão tenta rever formas de modificar essa perspectiva por conta da
significância de alguns eventos religiosos existentes no município.
101

Quando questionado sobre eventos realizados em bairros mais específicos,


o entrevistado explicou que a NELTUR auxilia principalmente com a divulgação,
principalmente se o evento for gratuito. Também ocorre o fornecimento de
infraestrutura (palco, grades e banheiros químicos) quando cabe no orçamento da
empresa. Para que esse apoio seja fornecido, é necessário que a associação de
moradores local entre com uma solicitação formal por meio de um ofício.
Na perspectiva do turismo, os principais roteiros divulgados pela NELTUR
têm em vista os atrativos com melhor infraestrutura e potencial de atratividade.
São eles: o “Orla da Baía de Guanabara”, que propõe ao turista percorrer do
Caminho Niemeyer até o Caminho dos Fortes; o “Orla Oceânica”, com enfoque
nas praias desta região e; o “Niterói em 3 dias”, já relatado no capítulo 2.
Em relação aos projetos em curso para o turismo que o órgão tem
trabalhado no projeto Bike Tour em conjunto com o projeto “Niterói de Bicicleta”
para que as operadoras turísticas proponham ao turista o uso de bicicleta na
cidade. Vale mencionar também que alguns guias de turismo têm trabalhado com
a proposta de walk tour pelos roteiros mencionados acima.
No quesito de infraestrutura, os atuais projetos financiados com recursos
federais e que estão em curso são: Melhoria da Iluminação do Caminho Niemeyer;
Melhoria do Acesso ao Caminho dos Fortes e; Reestruturação e Construção de
Cinco Centros de Atendimento ao Turista (CAT). No âmbito estadual, o município
é contemplado pelos projetos do Programa Nacional de Desenvolvimento do
Turismo do Estado do Rio de Janeiro (PRODETUR-RJ)15.
Ao ser interrogado sobre o bairro de São Lourenço, o atual diretor de
turismo afirmou que sempre incentivou a visita à Igreja de São Lourenço dos
Índios por conta de sua importância para a história da cidade e suas
características arquitetônicas únicas. Porém, por conta do crescimento acelerado
do processo de urbanização da cidade o local foi se degradando. Atualmente, o
órgão tem receio em divulgar algum roteiro para aquele local por conta de sua
falta de infraestrutura para receber o turista, violência, entre outros fatores. Isso
ocorre somente com a intermediação de um guia de turismo que ou alguém que
conheça os detalhes do local, como por exemplo, o gestor patrimonial da igreja
pela Secretaria Municipal de Cultura, o senhor Antonio Egídio.

15
Mais informações no link: <http://www.prodetur.rj.gov.br/oprograma.asp>.
102

Como gestor público de turismo, Rubens Branquinho informou que


infelizmente não possui perspectiva de curto prazo para o local nem projetos
turísticos que contemplem aquela área. Ele acredita que no local poderiam ser
inseridas propostas de turismo com base comunitária, ou manifestações culturais
como um sarau que dê ênfase para o processo de criação da cidade na época de
Araribóia. No entanto, segundo sua opinião, uma potencial possibilidade para o
fomento do turismo naquela área poderia ocorrer por meio da retomada das obras
do Mercado Municipal de Niterói16.

4.2.2 Entrevista com o administrador da Igreja de São Lourenço dos Índios

Na atual conjuntura, a Igreja de São Lourenço dos Índios encontra-se sob a


administração da Secretaria Municipal de Cultura de Niterói, sob o intermédio do
funcionário Antonio Egidio desde o ano de 2009. Durante a entrevista realizada
em julho de 2016, o mesmo alegou não possuir um cargo específico; no entanto,
pode-se considerar que ele atua como um administrador da edificação.
O entrevistado alegou que fica em uma posição difícil por fazer parte da
instituição e ao mesmo tempo ser cidadão da cidade, mas que realiza suas
próprias análises a respeito do assunto relacionado à igreja. Seu primeiro
estranhamento ao assumir sua atual posição foi observar como um patrimônio tão
importante para a história do município não é reconhecido por grande parte dos
moradores de Niterói.
Vale ressaltar o fato de que segundo ele, Niterói é uma das poucas cidades
brasileiras que possuem um núcleo de restauração de bens patrimoniais. Esse
núcleo teve uma atuação muito forte na época em que o Teatro Municipal João
Caetano foi restaurado e, se fortaleceu ainda mais no período de restauração do
Solar do Jambeiro e da Igreja de São Lourenço dos Índios. Nessa época ele
atuava como diretor do solar.
No período de transição de cargos, quando ele foi transferido para a
administração da Igreja de São Lourenço dos Índios, os cuidados do local estavam
sob a supervisão de uma moradora da comunidade do Morro da Boa Vista, Dona
Mirinha. Além de ser a responsável pela limpeza do local, a zeladora tinha seu

16
Mais informações no link: <http://www.centro.niteroi.rj.gov.br>.
103

contato telefônico disponibilizado em folders e folhetos turísticos para


agendamento de visitas.
Um fato curioso relatado pelo Sr. Egídio em sua vigência de trabalho
ocorreu após o contato telefônico de uma pessoa solicitando o agendamento de
uma visita para um casal de turistas alemães, que estavam hospedados na cidade
do Rio de Janeiro. Marcada para um domingo, gentilmente ele se ofereceu para
buscar os turistas na estação das barcas, já que nesse dia da semana a linha de
ônibus local não opera em nenhum horário.
Quando questionado sobre o domínio do idioma alemão ou do inglês, Sr.
Egídio disse que sua nora se disponibilizaria para ajudá-lo a realizar a visita junto
aos turistas. Ao término da visita, ele contou que ficou curioso para saber qual
fator despertou o interesse dos turistas europeus para instigá-los a conhecer uma
pequena igreja em Niterói. Segundo eles, por meio de uma pesquisa foi verificado
que aquela é uma das primeiras igrejas do Brasil que possui um retábulo com
aquelas características tão singulares. Essa confissão fez com que sua percepção
sobre importância a importância da Igreja de São Lourenço se elevasse ainda
mais.
Foi mencionado que ele já escutou de diversos moradores do bairro que
aquela é uma das primeiras igrejas do país. Porém, segundo ele, os registros
históricos sobre os períodos iniciais do Brasil como colônia portuguesa são
instáveis, além de tudo ter começado no estado da Bahia e só depois chegar ao
Rio de Janeiro. No entanto, após o relato dos turistas alemães, ele percebeu que a
Igreja de São Lourenço dos Índios pode ser realmente uma das primeiras com as
suas características arquitetônicas no país.
O entrevistado também informou que atua como um agente de receptivo da
Secretaria Municipal de Cultura. Nesse contexto, ele é responsável pelo
agendamento de visitas e por abrir e fechar a igreja nesses dias. As principais (e
poucas) visitas realizadas ao local são excursões realizadas por escolas de ensino
fundamental do município. Geralmente, essas visitas técnicas são acompanhadas
de um guia de turismo, mas, caso não haja a participação deste profissional, ele
mesmo realiza o guiamento. Hoje em dia, quase nenhuma escola pública visita o
local, somente instituições de ensino privadas. Ele ressalta a importância das
visitas dos alunos do ensino de base: se a história de Niterói contada por meio do
104

Morro de São Lourenço chamar a atenção de um em cada dez alunos, esse aluno
poderá ser um intermediador do assunto.
Sr. Egídio percebe alguns fatores que interferem na demanda de visitação
ao local: o fato de Niterói sofrer pela proximidade com o Rio de Janeiro (com uma
oferta de atrativos em maior escala); turistas que estão hospedados no Rio de
Janeiro e visitam a cidade apenas para conhecer o MAC (o perfil excursionista); o
fato de o MAC receber 20 mil turistas ao mês, o Solar do Jambeiro receber apenas
mil e a Igreja de São Lourenço quase nenhum; entre outros.
Quando questionado sobre a percepção dos gestores públicos, foi relatado
que percebe a presença da igreja em pautas de reuniões, no diálogo de
planejamentos. Além disso, acredita que com o tempo os gestores públicos e
moradores foram apropriando a identidade niteroiense ao MAC, permitindo que
Niterói ganhasse mais visibilidade e propiciasse um orgulho por residir no
município.
Foi mencionado também que o desenvolvimento irregular que causou o
processo de favelização em alguns pontos do bairro também pode ser um fator
que acarreta esse tipo de esquecimento. As pessoas acabam tendo receio de
conhecer o local porque o consideram perigoso. Um exemplo citado foi o fato de
que vários taxistas se recusam a transportar passageiros para o local. Ele
realmente percebe que o morro possui esse tipo de problema e que em alguns
períodos isso está mais evidenciado. Contudo, por ser próximo de alguns
moradores, procura estar sempre se informando sobre a segurança do local.
Atualmente as pequenas manutenções feitas no local são de iniciativa
pessoal. No entanto, Sr. Egídio relatou que ele tem recorrido constantemente para
a captação de novas obras estruturais. Já foram realizados alguns relatórios sobre
a atual situação do imóvel, mas infelizmente o orçamento da secretaria é baixo e
muitas vezes direcionado para outros projetos. Tal fator reforça a atual ausência
de projetos para o local.
105

4.2.3 Entrevista com o Coordenador da Divisão de Documentação e Pesquisa


da Secretaria Municipal de Cultura

Para complementar as informações sobre o âmbito da cultura na gestão


pública municipal, em agosto de 2016 foi realizada uma entrevista com Maurício
Vasquez, um dos autores da obra “Memória dos Bairros de Niterói – São
Lourenço” e atual coordenador da Divisão de Documentação e Pesquisa (DPP).
Foi mencionado que a principal função de divisão é cuidar do acervo,
documentações e pesquisas existentes sobre a história da cidade. No momento,
além das tarefas rotineiras, a principal meta da divisão é reativar e reorganizar a
disponibilização do conteúdo histórico da cidade no website do órgão.
Ao ser iniciada a entrevista, foi relatado pelo entrevistado que, em parceria
com Maria Rosalina de Oliveira, também autora do livro, surgiu a ideia de serem
escritas algumas obras para que o passado e a memória dos bairros históricos e
tradicionais da cidade fossem relatadas de uma maneira que toda a população e
interessados pudessem tomar conhecimento sobre o tema. Além disso, tal
iniciativa promoveria a criação de conteúdo literário sobre o objeto de enfoque,
que até os dias de hoje é muito escasso.
O projeto de 2006 foi financiado pela Prefeitura Municipal de Niterói
intermediado pela Niterói Livros, tendo seu lançamento realizado na festa do
padroeiro, no Morro de São Lourenço, naquele ano. Foram lançados apenas mil
exemplares do livro, sendo cem para cada autor e o restante distribuído para
moradores do bairro, escolas públicas, bibliotecas, entre outras instituições de
ensino. Um fator curioso mencionado pelo autor foi o fato de existirem exemplares
distribuídos em Mônaco e na Biblioteca do Congresso Americano de Washington.
Ao se recordar sobre as entrevistas realizadas com os moradores da época,
Mauricio se recorda que estes demonstravam estar desanimados e sem
perspectiva para o local. Isso ocorria (e ainda ocorre) pelo fato dos gestores
públicos municipais só aparecerem no local na missa solene de aniversário da
cidade, celebrada todos os anos na Igreja de São Lourenço dos Índios.
Foi relatado também, que existia a intenção de serem criados Centros de
Memória nos bairros contemplados pelo projeto “Memória dos Bairros de Niterói”.
Contudo, para a execução desta ação seriam necessários agentes capacitados e
recursos para o funcionamento destes centros. Devido à impossibilidade advinda
106

de falta de recursos financeiros a ideia não se iniciou. Outra proposta vinda de


Maria Rosalina, que também iria demandar financiamento de recursos, seria a
criação de cursos de guiamento para os moradores do local.
Em relação à potencialidade turística do bairro, ele acredita que vale a pena
valorizar algumas tradições locais. Para fomentar a atividade turística no local, foi
mencionada a possibilidade de sua inclusão do local em roteiros de transporte
turístico, porém, ele reconhece que tem que existir demanda para que isso ocorra.
Para que o morador seja um agente disseminador da história da cidade, ele
considera que a história de Niterói deva ser mais bem abordada nas instituições
de ensino (públicas e privadas) de base do município.
Ao escutar do pesquisador sobre as manifestações culturais e musicais que
já ocorreram no bairro, o coordenador de documentação e pesquisa demonstrou
bastante interesse pelo projeto Samba na Praça. Inclusive, sugeriu possíveis
encontros para que a ideia do projeto fosse mais bem articulada entre os
organizadores e a Secretaria Municipal de Cultura.

4.2.4 Entrevista com o Presidente da Associação dos Moradores do Morro de


São Lourenço

Com o intuito de conhecer como funcionam as ações e projetos que


ocorrem por intermédio da Associação dos Moradores do Morro de São Lourenço,
em setembro de 2016 foi realizada uma entrevista com Flavio Cabral, atual
presidente do órgão. Sua função junto aos moradores associados é identifica
existentes no local e levá-los para o conhecimento do poder executivo do
município. Além disso, existe a permanente busca por medidas e projetos que
possam proporcionar melhorias para o bairro, tais como: estruturais, de
segurança, educacionais, de saúde, entre outras.
Seu engajamento com a associação começou em 2008, na mesma época
em que a escola de samba Império de Araribóia estava iniciando suas atividades
com o Araribloco. Devido ao fato da escola ter começado como um projeto que
tinha o propósito de envolver crianças e jovens da comunidade com a música
carnavalesca. Como membro da diretoria do bloco, ele utilizou seus contatos com
a maior escola de samba da cidade, a Unidos do Viradouro. Por meio deste
intermédio ele e a diretoria conheceram alguns membros da Liga Independente
107

das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA) que ofereceram cursos de


percussão e aderecista para capacitar os envolvidos com o projeto.
Em relação à busca por projetos sociais, o presidente relatou que existe
uma distribuição desigual e, que muitas vezes, alguns projetos acabam não sendo
captados devido ao interesse individualizado dos organizadores, seja o projeto
governamental ou privado. Nessa perspectiva, bairros mais populares e
conhecidos são escolhidos pelo fato de oferecerem mais visibilidade para o
projeto, principalmente projetos em nível nacional. Muitas vezes, o presidente
tentou trazer projetos ligados à cultura do bairro, porém, muitos dos idealizadores
dos projetos de interesse não se interessam pela história local.
Atualmente, a associação oferece aulas de reforço escolar, cursos musicais
do projeto Semente17 da Secretaria Municipal de Cultura, dança de salão, jiu-jítsu,
capoeira e, temporariamente, curso de fotografia e um de produção de conteúdo
audiovisual com o intuito de produzir um mini-documentário relatando a história do
bairro para ser enviado para a prefeitura municipal. Contudo, ele ressalta que a
participação da comunidade é muito importante para que os projetos se continuem
e também fomentar a captação de outros. Um fator curioso, é que a maioria dos
participantes dos projetos ofertados pela associação é oriunda de comunidades
localizadas nas imediações.
Em relação ao projeto Semente, foi mencionado o interesse de captar o
curso de teatro para o local a fim de referenciar as primeiras manifestações
teatrais do Brasil realizadas na aldeia de Araribóia. No entanto, ele não pode
escolher a inclusão deste curso, pois a Secretaria Municipal de Cultura decide
quais cursos serão enviados para as locações contempladas pelo projeto.
Outro projeto que ele considera de grande importância é o de reforço
escolar, oferecido de segunda à sexta-feira, nos turnos da manhã e tarde para
alunos que estejam cursando o ensino fundamental. Sem qualquer tipo de
patrocínio, foi realizada uma consulta aos moradores do bairro sobre a indicação
de uma professora particular que teria disponibilidade para oferecer o reforço

17
O Projeto Semente tem o intuito de desenvolver o processo de iniciação às linguagens artísticas
e manifestações culturais em distintos polos regionais do município de Niterói, por meio de oficinas.
Além disso, o projeto visa alcançar a população de locais com menor índice de acesso aos bens
culturais da cidade, articulando suas demandas e potencialidades com atividades artísticas que
podem influenciar na realidade local. Disponível em:
<http://www.culturaniteroi.com.br/blog/?id=1799&equ=semente>. Acesso em: 25 abr. 2016.
108

escolar com um custo acessível em troca da utilização do espaço da associação.


Com isso, foi criada uma minibiblioteca para auxiliar os alunos.
Quanto à realização de eventos, a associação se responsabiliza pela festa
do santo padroeiro do bairro, sempre comemorado no fim de semana mais
próximo à data de 10 de agosto, na praça do local. Geralmente, a festa conta com
patrocínio de parcerias pessoais ou políticas e a própria atuação dos moradores. A
festa já teve seus tempos de notoriedade, mas, atualmente, ela tem um propósito
mais comunitário, com o intuito de prestar homenagem ao santo padroeiro junto
de seus simpatizantes, reunir os moradores do bairro e também aqueles que já
residiram no local.
Em sua opinião, Flávio acredita que a data da festa de São Lourenço
deveria estar presente nos calendários oficiais da cidade, pois é realizada no local
onde a cidade se originou e a missa na igreja mais antiga de Niterói. Ele considera
que tal fato se dá porque o único interesse de realizar algo no Morro de São
Lourenço ocorre na data do aniversário da cidade (22 de novembro), quando é
celebrada a missa solene na Igreja de São Lourenço dos índios em homenagem à
fundação da cidade.
Foi relatado em sua opinião, que apesar de sua simplicidade, a festa de
São Lourenço é maravilhosa: tem a procissão em homenagem ao santo padroeiro;
diversas barraquinhas com comidas típicas; o mini-parque de diversões e
brincadeiras para as crianças; atrações musicais com DJ e shows ao vivo e; ao
término da festa, a tradicional queima de fogos. Apesar dos problemas que
dificultam a realização do evento, a associação e os moradores engajados
seguem dando continuidade a essa tradicional festa.
Quando perguntado sobre sua percepção em relação à atividade turística
no local, foi relatado que a maioria das visitas é realizada por colégios,
principalmente instituições de ensino católico. Em sua observação, o maior
interesse da visitação é mostrar para os alunos a influência que a Igreja exerceu
no território niteroiense ofuscando a verdadeira importância da aldeia indígena de
Araribóia. O restante dos colégios que não realiza visitas, principalmente
instituições públicas de ensino, acaba não propiciando aos seus alunos esse
conhecimento sobre a história da própria cidade e, por isso, muitas crianças que lá
residem não sabem que brincam no local onde a cidade se formou. Com isso, ele
109

acredita que isso seja um dos motivos que faça as crianças desrespeitarem o
patrimônio.
Segundo sua percepção, a cidade como um todo não se importa muito com
a data mais importante para a comunidade, bem como o próprio local. Foi
levantada a suposição de que aproximadamente mais de 70% da população
niteroiense não possua o conhecimento de que no bairro de São Lourenço tenha
se estabelecido a aldeia de Araribóia que deu origem à cidade de Niterói.
Para somar com iniciativas que favorecessem o turismo no local, foi
enviada à Prefeitura Municipal uma proposta de um projeto que oferecesse um
curso de guia de turismo para os moradores, principalmente para a formação de
guias mirins. Contudo, o entrevistado informou que a Prefeitura não demonstrou
muito interesse para colocar o projeto em prática. Durante algumas reuniões do
projeto, foi informado que ele cederia o espaço físico da Associação para que os
profissionais cedidos pela prefeitura pudessem capacitar os alunos.
Posteriormente, com a instalação de um ponto de informações, poderiam ser
vendidos souvenirs religiosos e referentes à cultura local.
Com essa iniciativa, os moradores e turistas poderiam conhecer o local e
espalhariam o conhecimento adquirido na visita para amigos e familiares. Dessa
forma, ele acredita que o bairro ganharia mais visibilidade e que isso poderia
trazer crescimento e investimentos para o Morro de São Lourenço. Ele concluiu
que um exemplo claro sobre a falta interesse da gestão pública pelo local, se deu
pela recente restauração da Ilha de Boa Viagem a reforma do MAC além da larga
escala de divulgação desses atrativos. Enquanto isso, a Igreja de São Lourenço
dos Índios, o patrimônio mais antigo de Niterói, recebe apenas uma “maquiagem”
para a tradicional missa do dia 22 de novembro - aniversário da cidade.

4.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS PESQUISAS

Analisando a descrição dos dados referentes à pesquisa de percepção do


morador de Niterói, nota-se a precariedade de informações quanto à cultura local
bem como a falta de interesse da população, o que contribui para a divergência
conceitual de sua própria história, visto que, apenas 13,5% reconhecem o local
como o marco de fundamento da cidade. Ao que se notam, esses fatores podem
implicar em diversas questões, especialmente àquelas relacionadas ao conceito
110

de identidade e memória, fazendo com que um local histórico torne-se esquecido


ou desvalorizado.
Ademais, vale salientar a importância do morador como agente propagador
da atividade turística, principalmente em um município como Niterói, onde a
maioria dos turistas hospeda-se em residência de amigos e familiares. De acordo
com os resultados apresentados na pesquisa de demanda (abordada no capítulo
2), este perfil de visitante apresenta maior quantitativo de pernoite em comparação
àqueles que se hospedam em hotéis, hostels ou pousadas. Quanto maior o
número de pernoite para o turista de lazer demanda-se um número maior de
atrativos para entretê-lo.
Apesar da atual falta de infraestrutura local, algumas ferramentas poderiam
ser utilizadas para incentivar a criação de um roteiro turístico piloto na região
histórica da cidade para complementar a oferta atual. Uma dessas ferramentas
seria a interpretação patrimonial, que poderia oferecer aos visitantes em geral a
possibilidade de construir ou enriquecer o conhecimento sobre a história do
município. Essa ação poderia ser supervisionada pela Secretaria Municipal de
Cultura e/ou pela NELTUR. No processo do guiamento interpretativo, os atrativos
que seriam incorporados pelo roteiro poderiam ser os mesmos abordados na
pesquisa de campo: Igreja de São Lourenço dos Índios, Seminário São José,
Igreja de São Lourenço da Várzea, Ponto Cem Réis e Casa de Oliveira Vianna.
Ao finalizar a análise dos dados oriundos da pesquisa de campo, foi
possível constatar que o niteroiense não percebe o bairro de São Lourenço como
sendo o marco zero da cidade, e sim o Centro. Além disso, mesmo após ter
visitado o bairro de São Lourenço e suas proximidades, o morador não conhece a
maioria dos atrativos históricos presentes no local (com exceção do Ponto Cem
Réis). Vale mencionar também que o morador não verifica que a gestão pública
municipal executa as medidas necessárias na região em análise. Contudo,
considera a possibilidade de ocorrer uma série de benefícios advindos de um
possível processo de turistificação.
Tendo em vista a divergência de informações e a predominância do senso
comum, poderia haver uma reorganização da abordagem histórica do município
no ensino de base a fim de contribuir com o aumento da disseminação da
identidade e memória de Niterói fundamentada ao bairro de São Lourenço. Esse
foi um quesito abordado principalmente nas entrevistas com os gestores públicos
111

da Secretaria Municipal de Cultura. De fato, é importante também que o aluno


possa ter a oportunidade de vivenciar em campo a experiência com o patrimônio
histórico local.
Outro fator apontado pelos agentes locais foi a utilização dos eventos e
projetos musicais existentes na região em enfoque, como a festa de São
Lourenço, o evento “Samba na Praça” e os ensaios carnavalescos da escola de
samba Império de Araribóia, para fomentar a divulgação sobre o local, bem como
trazer infraestrutura adequada para a realização destes eventos. Inclusive,
verificar a possibilidade de incluí-las em agendas culturais oficiais da cidade.
Verifica-se também, a necessidade de integrar agentes públicos dos
âmbitos do turismo e da cultura junto aos moradores mais engajados com os
propósitos do local por meio de oficinas dinâmicas de sensibilização. Nesses
encontros, as percepções e propostas dos participantes poderiam ser alinhadas à
atual situação do município e do bairro quanto à possibilidade de criação de
projetos voltados para as áreas em foco. Vale mencionar, a inclusão de outros
órgãos que agregassem valor e sinergia à idealização de cada proposta, de
acordo com a necessidade.
Contudo, apesar dos gestores públicos reconhecerem o bairro de São
Lourenço como sendo o marco zero de Niterói, suas percepções parecem mesmo
fazer parte de uma grande teia de interesses que são contingenciais e não podem,
portanto, serem vistas isoladas das situações e sem considerar a infinidade de
variáveis que as envolvem, principalmente, aquelas de interesses políticos.
De modo geral, supõe-se que algumas medidas como estas poderiam
contribuir para que o local pudesse ganhar visibilidade por meio da valorização da
cultura e desenvolvimento da atividade turística. De certa forma, como nos
princípios básicos do processo de turistificação, essa experiência poderia propiciar
aos moradores a oportunidade de tornarem agentes disseminadores do turismo na
região do marco zero.
Nesse sentido, vale mencionar a importância da atuação do Bacharel em
Turismo, no âmbito do planejamento turístico atrelado à cultura local, contribuindo
com a gestão das potencialidades de locais com relevância histórica, a fim de
pensá-lo também como um lugar turístico por meio de ações compartilhadas entre
áreas correlacionadas (geografia, história, museologia, entre outras).
112

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os territórios são compostos por elementos que possuem relações


intrínsecas desenvolvidas a partir de hábitos culturais, processos urbanos,
participação da sociedade, intervenções turísticas, entre outros fatores. Lugares
que, ao decorrer do tempo, são capazes de construir sua história associando-se
aos seus patrimônios materiais e imateriais a fim de permitir uma identidade no
imaginário coletivo.
Diante desta perspectiva subjetiva, o presente trabalho teve como elemento
norteador investigar a percepção dos agentes sociais (moradores e gestores
públicos) em relação ao referencial histórico do bairro de São Lourenço – o marco
zero do município de Niterói, bem como a possibilidade de desenvolver a atividade
turística no local. Para chegar a este objetivo, além da pesquisa bibliográfica, foi
realizada uma análise por meio de aplicação de entrevistas estruturadas com os
moradores da cidade de Niterói e a realização de entrevistas livres com os
gestores públicos municipais das áreas de turismo e cultura.
Na revisão da literatura em relação ao município de Niterói, verificou-se que
o turismo possui um papel relevante na construção do desenvolvimento
econômico da cidade, junto aos setores de serviços offshore e comércio. No que
se refere à oferta turística, comercializada pela NELTUR, notou-se uma
diversificada gama de atrativos culturais e naturais, tendo o MAC como o atrativo
indutor com destaque nos cenários nacional e internacional.
Quanto à demanda turística, observou-se que Niterói recebe visitantes de
todas as regiões do Brasil e de vários países (principalmente dos continentes
americano e europeu), tendo como principal motivação o lazer com interesse em
conhecer os atrativos culturais locais. Ademais, constatou-se que a cidade recebe
em sua maioria, excursionistas e, em menor quantidade, turistas que se
hospedam em casa de amigos e parentes.
No âmbito da cultura, averiguou-se que a Secretaria Municipal instituiu
políticas públicas estruturadas para a preservação do patrimônio, nas quais foram
instituídas as APAUs. Para tanto, foram instituídas quatro regiões que concentram
diversos patrimônios históricos importantes para a cultura local: Gragoatá/São
Domingos/Boa Viagem; Centro; Ponta D’Areia e São Lourenço.
113

Ao consolidar as informações pertinentes entre os dois órgãos foi possível


perceber que os patrimônios históricos inseridos na região do bairro de São
Lourenço e suas imediações não se encontram incluído nos roteiros turísticos
municipais. O que se verifica, são apenas informações superficiais nos websites
da NELTUR e da Secretaria Municipal de Cultura.
Assim, como proposto inicialmente neste estudo, foram reunidas
informações a partir dos resultados das pesquisas que possibilitaram compreender
como os moradores e os agentes sociais de Niterói percebem o bairro de São
Lourenço como sendo o marco zero, bem como a relevância da cultura local para
um possível desenvolvimento do turismo naquela área.
A pesquisa realizada revelou que os moradores identificaram a
possibilidade de turistificação na região, entretanto, não reconhecem a importância
histórica do bairro no processo de formação da cidade de Niterói. Além disso,
foram sugeridas, pelos entrevistados, diversas intervenções que propiciariam
melhorias para o local, como por exemplo, a divulgação e promoção dos atrativos
na mídia e, consequentemente para a população.
No que tange ao cenário da gestão pública, apurou-se que atualmente não
existem projetos para o desenvolvimento da atividade turística na localidade e,
para que isso ocorra, necessita-se da intervenção de fatores como a sinergia
entres alguns órgãos públicos para que São Lourenço estruture-se
adequadamente com intuito de incluir-se nos roteiros turísticos fluminenses.
No entanto, apesar do exposto acima, constatou-se que existe o
engajamento de alguns moradores que buscam a realização de projetos que
propiciem melhorias na qualidade de vida da comunidade e que possam trazer
alguma visibilidade para a importância que o bairro possui. Além disso, foram
citadas medidas simples, como por exemplo, a realização de oficinas de
sensibilização com os agentes sociais abarcados por essa pesquisa.
Deve-se salientar que a temática abordada foi um recorte mediante às
complexidades que envolvem este objeto de estudo e, com isso, muitos aspectos
deixaram de ser trabalhados. Sendo assim, após esta iniciativa, almeja-se que
outras pesquisas possam preencher as lacunas existentes, com a finalidade de
contribuir com a disseminação e a valorização da história do bairro de São
Lourenço, com vista a sua turistificação.
114

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YÁZIGI, E. Turismo: uma esperança condicional. São Paulo: Global, 1999.


117

APÊNDICE A – FORMULÁRIO DE PESQUISA COM OS MORADORES

Filtro: Reside em Niterói?

 Sim (prosseguir)
 Não (encerrar)

1) Bairro de residência:

2) Tempo de residência no município:

 Menos de um ano
 De 1 a 5 anos
 De 6 a 10 anos
 De 11 a 20 anos
 Acima de 20 anos
 Desde que nasceu

3) Gênero:

 Feminino
 Masculino

4) Faixa etária:

 Entre 12 a 18 anos
 Entre 19 a 29 anos
 Entre 30 a 45 anos
 Entre 46 a 60 anos
 Acima de 60 anos

5) Escolaridade:

 Ensino Fundamental
 Ensino Médio
 Ensino Superior
 Pós-graduado
 Não declarado

6) Ocupação Principal:

 Empresário
118

 Emprego no Setor Privado


 Emprego no Setor Público
 Profissional Liberal/Autônomo
 Estudante
 Aposentado/Pensionista
 Desempregado
 Não declarado

7) Tendo em vista que o salário mínimo em 2016 é de R$ 880,00, qual o seu


perfil de renda mensal familiar?

 Até R$ 880,00 (até 1 salário mínimo)


 Entre R$ 881,00 até R$ 2.640,00 (1 a 3 salários mínimos)
 Entre R$ 2.641,00 até R$ 4.400,00 (3 a 5 salários mínimos)
 Entre R$ 4.401,00 até R$ 8.800,00 (5 a 10 salários mínimos)
 Acima de R$ 8.801,00 (acima de 10 salários mínimos)
 Não declarado

8) Qual bairro você acredita que seja o local de origem da cidade de Niterói?

9) Como obteve conhecimento desta informação?

 Amigos e familiares
 Escola/Universidade
 Meios de comunicação digitais e impressos
 Folhetos turísticos e/ou culturais
 Sempre soube pelo fato de ser morador
 Outro:

10) Conhece o bairro de São Lourenço?

 Sim
 Não

11) Visitou algum destes locais históricos?

 Igreja de São Lourenço dos Índios


 Igreja de São Lourenço da Várzea (Igreja Santana)
 Seminário São José (Palacete da Soledade)
 Ponto Cem Réis
 Casa de Oliveira Vianna
119

12) Em sua opinião, a gestão pública tem tomado as medidas e ações


necessárias para o bairro de São Lourenço? Por exemplo: Preservação,
manutenção e divulgação do patrimônio histórico/cultural do local?

 Sim
 Não
 Não soube responder

12.1 (Se sim). Em sua opinião, quais seriam?

12.2 (Se não). O que você acredita que poderia ser feito?

13) Em sua opinião, a estruturação e preparação do bairro de São Lourenço


para o turismo poderiam trazer benefícios para o local e para a cidade?

 Sim
 Não
 Não soube responder

14) Se sim, classifique o nível de importância de cada um dos benefícios


indicados na tabela abaixo:

Alta Média Baixa Não sei


BENEFÍCIOS
importância importância importância responder

Aumento da autoestima dos


moradores do bairro

Geração de emprego

Melhorias na acessibilidade ao
local

Melhorias em infraestrutura
básica

Valorização do patrimônio
histórico/cultural

Inserção dos atrativos do bairro


em roteiros turísticos/culturais
municipais e regionais

Outro, Qual?
120

ANEXO 1 – TERMO DE RESPONSABILIDADE PELO USO DE REPRODUÇÕES


DE IMAGEM – DDP SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE
NITERÓI

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