Você está na página 1de 9

Academia Militar Marechal “Samora Machel”

Dércio João Matusse


Demeldino Remigio Aleixo
Diamantino Paulo Gabriel
Edson Fernando Gimo
Edson Dique Magaia
Ernesto Amisse Junior
Eduardo Salomão Cuambe

Cadeira: História Militar

Tema: A Organização dos exércitos do norte de Moçambique

Nampula, Abril 2012


Índice
Índice ……………………………………………………………………………….…….2

Introdução…………………………………………………………………………………3

A organização dos exércitos do norte de Moçambique……………………………………4

Equipamento…………………………………………………………………………….…4

Organização e técnica de combate………………………………………………………....5

Aprendizagem e treino……………………………………………………………………..6

Amplitude das operações…………………………………………………………………..7

Conclusão……………………………………………………………………………….….8

Bibliografia…………………………………………………………………………….…...9

2
Introdução

No presente trabalho abordar-se-á aspectos inerentes a organização dos exércitos no norte de


Moçambique no período colonial, faremos citação do comportamento dos povos do norte perante
os portugueses, como é que eles travavam as guerras, isto é, com que meios ou equipamentos
eles o faziam, como é que estavam organizados e que técnicas de combate utilizavam, ora na luta
contra os moçambicanos, ora na luta contra os portugueses, far-se-á menção também do processo
de aprendizagem e treino dos combatentes, e por fim debruçar-se-á sobre a amplitude das
operações, isto é, a grandeza das operações.

3
1. A ORGANIZAÇÃO DOS EXÉRCITOS DO NORTE DE MOÇAMBIQUE

1.1. Equipamento

De acordo com Santos (1609, I:255) Stucky, Pires e Gamito 1850) na Zambézia as armas usadas
eram arcos, flechas, machadinhas, lanças, com cabo longo para arremesso de azagaias de cabo
curto para luta corpo a corpo, espingardas, mocas, catanas.

Em Nampula, os guerreiros pelejavam com as armas que consistiam em lanças de arremesso,


dardos, setas envenenadas, bem como espingardas que compravam aos portugueses e árabes para
caça aos elefantes.
Em cabo delgado, o arco, a flecha, o machado, a faca comprida, moca de madeira dura e pesada,
lança, e escudo foram as armas primitivas mais usadas nesta região. Depois ocorreu a introdução
da espingarda.
Como equipamento defensivo, importa realçar a utilização de fortificações em algumas áreas do
norte. Na costa entre Angoche e Quelimane, existiam no século XVII aldeias cercadas com
tranqueiras, “grossos espinhos”e portas bem protegidas pela floresta.
Fortificações especiais, as aringas, (embora não muito divulgadas nesta região, como no centro)
foram usadas pela aristocracia de Angoche.
Na Zambézia construíram-se fortificações muito simples, ora outras mais complexas, as
“aringas”, estas últimas especialmente na Maganja da costa.

Mais para o norte, em Cabo delgado no contexto da defesa e resistência a penetração colonial
portuguesa, em Nangade e planalto de moeda, as aldeias dos nativos eram protegidas pela
vegetação cerrada e espinhosa nos locais mais densos do mato e cercando-as com fortes
paliçadas, cujas entradas trancavam todas as noites. Havia aldeias com cercas intrasnponíveis
feitas de árvores e arbustos espinhosos. Os aldeões abriam covas no mato, ao fundo das quais
colocavam estacas ponteagudas, disfarçadas com ramos e capim e transformavam os trilhos de
acesso as aldeias em autênticos labirintos onde os estranhos se perdiam. Em suma, em cabo
delgado, os bravos guerreiros do planalto de moeda opuseram aos portugueses a vegetação
cerada, o terreno, a embuscada e as suas fortes paliçadas.

4
1.2. Organização e técnica de combate

- Nas lutas entre Moçambicanos

No norte, o passado do tráfico de escravos e a caça ao elefante, permitiram o domínio de armas


de fogo. Quer nas lutas entre moçambicanos ou contra os portugueses os guerreiros do norte
nunca praticaram o combate a descoberto em planície ou guerras das aringas. A sua táctica
combinava o factor surpresa no combate, embuscada e o aproveitamento (dos objectos) do
terreno.
Raramente só podiam atacar em campo descoberto se estivessem certos da superioridade das
forças.
Uma descrição da organização militar foi feita por Lupi no seu trabalho sobre angoche.
Ele destinguiu dois tipos de guerras: a grande e a pequena. Numa e noutra (grande e pequena) as
tropas concentravam-se na “n’ringa”, local que não era, contudo, fortificado como no centro do
país. A “n’ringa”, nunca se situava nos lugares povoados para evitar aos habitantes a presença
indesejável dos guerreiros, mas, sempre que possível, na fronteira com território inimigo, junto a
um rio ou uma lagoa, onde se podia beber e cozinhar.
A razia no campo inimigo garantia a alimentação pois não existia um sistema formal de
abastecimento.

a) A grande guerra:

A grande hoste de guerra possuía um centro (“Ntundu”) e duas alas: a direita (“m’ségure môno
mulopuana”) e a esquerda (“M’ségure mônom’tiana”). No centro, marchava “o dono da guerra”,
acompanhado de amuene subordinados e de outros homens de estatuto social elevado; nas alas,
iam os cazembes, furriéis e cabos. Quando fossem varias linhagens ou chefaturas coligadas, as
três mais importantes constituíam o grosso de dada uma das partes da hoste centro e alas
avançavam em coluna de marcha, com grandes intervalos ligados por patrulhas visto com o
inimigo, o centro progredia lentamente e logo que as alas tivessem posições vantajosas para o
envolvimento, desencadeava-se o assalto, primeiro com fogo de espingardas e depois , no caso
de êxito, com armas brancas. Se a investida com espingarda fracassa-se, a hoste retirava em
dispersão refugiando-se em pontos antecipadamente escolhidos.

b) A pequena guerra:

A pequena guerra tinha três modalidades a mápúara, a otimaca e a uita.


A primeira (mápúara) empregava-se na defesa de uma posição (em mato denso ou junto a
rochas) contra o inimigo que atravessa o terreno descoberto para atingir a posição.
Na otimaca, os guerreiros caminhavam de noite e ao amanhecer, já perto do inimigo, atacavam,
entrando em velocidade na povoação adversária ao que se seguia Razia e o saque.
5
Na Uita os guerreiros progrediam rastejando para o alvo apoiando no chão os joelhos e o
cotovelo esquerdo, assegurando a espingarda com a mão direita e aproveitando pequenos abrigos
que o terreno oferece. Chegados mais próximo do alvo atiravam e imediatamente davam um
pequeno recuo à procura de abrigos, nos quais recarregavam as armas.

Em cabo delgado existiram, marcadas pelo factor surpresa, dois tipos de guerra:
- “Livenda”, acção de retaliação por causa de um homicídio cujo autor ou autores não foram
descobertos;
- “Inondo”, acção mais generalizada contra outras linhagens ou grupos rivais.

- Nas lutas contra os portugueses

Particularmente contra os portugueses, os guerreiros do norte empregavam basicamente a


embuscada, montada por forças muito móveis com eficiência no internamento e na dispersão,
tirando máximo proveito do terreno acidentado e da vegetação fechada.
Por essa razão tiveram os portugueses mais dificuldades em proceder a ocupação militar do
norte, onde as campanhas só terminaram em 1917 com a penetração no planalto de moeda. No
norte a resistência anti-colonial foi mais sistemática e vitoriosa. Santos (1609, I:257-258, 260-
261) escreveu que na província de Nampula existia um rei poderoso que raziava frequentemente
os estabelecimentos portugueses no Mossuril e nas cabeceiras já antes de 1585.
Os portugueses decidiram queimar a povoação da Mauruça, juntando para isso forças e num
sigilo absoluto marcharam de noite para e de madrugada darem sobre Mauruça.
Queimou-se a povoação e os portugueses fizeram muitos escravos, mas se Mauruça nem sombra
pois ele e alguns guerreiros havia fugido para o mato, e escondendo-se num local armaram uma
emboscada. Vinham os portugueses de regresso retornando a ilha de Moçambique e desarmados,
pois haviam dados as espingardas aos escravos, para caminharem mais leves nas mochilas que os
outros escravos carregavam. Subitamente a meio do caminho, os guerreiros de Mauruça, que os
esperavam deram sobre eles com tanta violência e raiva, que a todos mataram, sobrevivendo
apenas três portugueses e alguns cafres.

1.3. Aprendizagem e treino

Os sucessivos combates constituíam uma boa escola de treino.


Verificava-se, antes de combates ensaios de grandes etapas das campanhas e adequá-las às
características do inimigo a combater. Nos acampamentos, antes do combate transmitiam-se
constantemente ordens, sinais convencionais, avisos etc.
À semelhança o que se deu no centro e sul, o teatro dançado foi a verdadeira escola da guerra a
cargo de guerreiros mais experimentados e valentes.

6
1.4. Amplitude das operações

Grosso modo, na zona norte, os exércitos não devem ter possuído grandes efectivos.
Mesmo na “guerra grande”, onde entrava em jogo aliança temporária de varias linhagens e/ou
chefaturas, o exército-tipo não deve ter possuído mais de 1000 homens.
A organização militar, nas lutas entre moçambicanos, situava no pequeno grupo (de 10 à 100
homens) e no médio (até 500, o máximo).
São os seguintes factores que concorreram para este fenómeno:
 A estrutura fortemente segmentar das comunidades;
 A falta de coesão das hierarquias e das lealdades dinásticas, amplificadas nas lutas pela
hegemonia comercial e pelos territórios de caça de escravos;
 A própria natureza no terreno acidentado e da vegetação fechada contribuíram para que a
organização militar no norte tivesse se limitado a pequenos efectivos;
 A formação de um exército com efectivos militares consideráveis foi ainda impedida pela
inexistência de um sistema formal de abastecimento.

Por outro lado, os pequenos e médios grupos de combate estavam adequados ao grande objectivo
das guerras, as quais visavam a não ocupação de territórios para neles exercer uma determinada
soberania ou se cobrarem tributos, como aconteceu no centro e no sul, mas antes, expulsar ou
causar ao inimigo ou aos inimigos um prejuízo geral, doloroso como, por exemplo, devastar os
campos, queimar as palhotas, deitar a baixo as árvores de fruto, sobretudo, capturar mulher e
fazer escravos.
No norte, a existência das linhagens e dos chefes militares, carentes em geral de uma estrutura
política de base territorial, onde os chefes governavam menos súbditos do que parentes, a guerra
não visava, por norma, a ocupação de territórios e a imposição de tributos as populações
subjugadas.

2. Conclusão

7
No entanto, de um modo geral podemos constatar que a organização dos exércitos do norte do
país, era mais eficaz e forte na ofensiva e na sua defensiva em relação aos outros cantos do país,
sul e centro, e que apesar de utilizarem armas ou equipamentos rudimentares, nunca foi fácil para
os portugueses transporem o exército do norte. A sua táctica combinava o factor surpresa no
combate, emboscada e aproveitamento do terreno nas lutas contra os moçambicanos, e contra os
portugueses, a emboscada, tendo o máximo proveito da vegetação fechada. Os combates
travados constantemente constituíam uma boa escola de aprendizagem e treino.
De salientar que os exércitos do norte não possuíam grandes efectivos, tanto nas grandes, assim
como nas pequenas guerras.

3. Bibliografia

8
 FRANZE, Francisco Daniel, ZINDUIA, Castigo João, FERMEIRO, Gabriel, texto
de apoio de história militar, Nampula, 2012
 www.google.com (internet)

Você também pode gostar