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CUNHA, Manuela Carneiro da. “Imagens de índios do Brasil: O século XVI”.

IN:
Estudos Avançados, 4 (10), p. 91-110.

 Imaginário das Grandes navegações: época de encantamento possibilitada pelo


desconhecido;
 Literatura de viagens: descrição da alteridade humana, de paisagens exóticas;

 Gênero de muito sucesso.

PRIMEIROS OLHARES

 Desinteresse inicial pelo território recém-descoberto: os portugueses estavam


voltados para as Índias Orientais, com suas imensas riquezas;
 Por seu turno, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses estavam encantados
com o Novo Mundo;

 Esse pouco caso inicial dos lusos não impediu que primeiras representações do
indígena brasileiro fossem elaboradas. A mais famosa delas, em princípios do
século XVI, é, sem dúvidas, a Carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em maio
de 1500.

Ela foi endereçada a El-Rei Dom Manuel a título de comunicá-lo das terras encontradas
e de sua gente, a qual seria marcada pela inocência, docilidade e ausência de crenças.
Ademais, desprovida de “indústria”, constituindo uma “tábula rasa”, uma “argila
moldável”, gente fácil de civilizar.

Caminha contrasta a ingenuidade comercial do silvícola e sua confiança imediata nos


descobridores à deslealdade, cupidez e sede de ouro dos portugueses. O autóctone
americano já é apresentado como o contraponto moral dos costumes europeus, um
espelho que reflete todos os vícios dos homens do Velho Continente (p. 93).

As cartas de Vespucci é que irão notabilizar a Terra de Vera Cruz e seus habitantes.
Segundo o cosmógrafo italiano, os autóctones americanos eram:

 “animais racionais”, embora inferiores aos europeus;


 guerreiros antropofágicos;
 desprovidos de ambição;
 desconhecedores da propriedade privada;
Ademais, são extremamente longevos (p. 94). Por fim, Vespucci repete Caminha: “essa
gente não tem lei, nem rei, não obedece a ninguém, cada um é senhor de si mesmo.
Vive secundum naturam e não conhece a imortalidade da alma” (p. 95).

IMPORTANTE: o contato inicial produz interpretações por parte dos conquistadores


calcadas em desejos e mitos preexistentes na Europa. Buscava-se, aqui, o paraíso
recusado pelos lugares de origem dos navegadores (p. 92). O mundo “selvagem”
comportava algo de extremamente positivo. Era uma utopia... (p. 94).
DECISIVO: a duração da percepção inicial dos brasileiros especialmente pelos
portugueses finda em data precisa: até 1549. É de crucial importância notar que ela foi
produzida num tipo de contato marcado pelo escambo.

A partir da década de 1550, haverá uma cisão de abordagens entre “autores ibéricos,
ligados diretamente à colonização - missionários, administradores, moradores - e
autores não ibéricos ligados ao escambo, para quem os índios são matéria de
reflexão muito mais que de gestão; a outra que separa, nesse período de intensa luta
religiosa, autores usados por protestantes de autores usados por católicos” (p. 95).

Primeira Linha Segunda Linha

“O teu e o meu” “O teu e o meu”

Soares de Sousa: Segue a linha dos Jean de Léry, André Thevet e Hans
escritores não ibéricos ao dizer que os Staden: ausência de propriedade material e
tupinambás são completamente de cobiça entre os tupinambás. Não
desprovidos de ambição. Eles têm uma tinham noção de herança nem
“condição muito boa para frades acumulavam (p. 96).
franciscanos” (p. 96).

Carência vocabular: falta de F,L e R Carência vocabular: falta de F,L e R

Índios sem fé nem lei nem rei. Gandavo Índios sem fé nem lei nem rei. Escritores
toma isso como atestado de barbaridade franceses como Ronsard tomam essa
do nativo. Soares de Sousa tem a mesma característica como atestado de que o
opinião (p. 97). nativo vive numa idade de ouro (p. 97).

Nóbrega: inconstância dos índios. A tudo “Na França, onde os mercadores normandos
dizem sim e depois não. É fácil convertê- continuam prosperando com o comércio de
los, mas difícil mantê-los nessa condição. pau-brasil obtidos por escambo com os
É preciso civilizá-los, inserir neles noções Tupinambá, essa carência de letras e de
de polícia, para incutir-lhes jugos não preocupam, mas ao contrário
definitivamente a fé cristã (p. 105). fazem sonhar” (p. 97).

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