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Itaytera

NÚMERO 18 © ANO 1974

“Seu estilo singelo e puro denuncia no autor um


espírito claro que sabe ver e sabe contar o que
viu.
No convívio do povo sertanejo, ele soube compre­
ender os aspectos de sua existência de sofrimento.
Rasgou, assim, o véu que cobre uma parte do
vasto panorama da angústia nacional.
Obra de brasilidade e de espiritualização, de en­
sinamento e de fé em dias melhores, merece ser
lida pelos que amam ao Brasil no grave momento
atual de sua história.
É brado de despertar de um brasileiro do interior,
que sente, que sofre, como todos os brasileiros do
interior, e comunga com seus irmãos do Brasil a
mesma hóstia de dor’\
(Gustavo Barroso, sobre a obra
de J. de Figueiredo Filho)

INSTITUTO CULTUR. JL DO CARIRI $ CRATO — CEARÁ


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I T I I f 13 1 L
CHATO ----= N. 18 ----- : ANO 107-5 = = CEARA

D I R E T O R I A DO

I I H I T i f f l E l i TB M l 10 0A1I1I
E L E IT A P A R A O A N O S O C IA L E N T R E
O U T U B R O D E 1 973 A O U T U B R O D E 1 9 7 ^

CADEIRAS DA SECÇÃO DE LETRAS :


N. I — João Lindemberg de Aquino
PATRONO — Padre Ibiapina
N. 2 — Dr. Raimundo de Oliveira Borges
PATRONO — Bruno de Menezes
N. 3 — VAGA
PATRONO — José Alves de Figueiredo
N. 4 — Edméia Arraes de Alencar
PATRONO — Alexandre Arraes de Alencar
N. 5 — Profa. Maria de Lourdon Esmeraldo
PATRONO — Mons. Pedro Esmeraldo
N. 6 — Pe. Antônio Gomes de Araújo
PATRONO — Irineu Nogueira Pinheiro
PRESIDENTE : N. 7 — Cap. Otacilio Anselmo e Silva
PATRONO — Barbosa de Freitas
Dr. JÓSIO DE ALENCAR ARARIPE
N. 8 — Prof. José Newton Alves de Sousa
VICE-PRESIDENTE : PATRONO — Álvaro Bomilcar
Pe. ANTÔNIO GOMES DE ARAÜJO N. 9 — Mons. Rubens Gondim Lóssio
SECRETÁRIO GERAL : PATRONO — D. Francisco de Assis Pires
N. 10 — Tomé Cabral
JOAO LINDEMBERG DE AQUINO
PATRONO — Pe. Emilio Leite Cabral
l.o SECRETÁRIO: N .ll — Pedro Gomes de Maton
Dr. ANTONIO NIRSON MONTEIRO PATRONO — Raimundo Gomes de Matos
TESOUREIRO : N. 12 — General Raimundo Teles Pinheiro
PATRONO — Leandro Bezerra Monteiro
ANTÔNIO CORREIA COELHO
N. 13 — Joaryvar Lobo de Macedo
COMISSÃO DA REVISTA “ITAYTERA” : PATRONO — Otacilio Macedo
Dr. JÓSIO DE ALENCAR ARARIPE N. 14 — Francisco S . Nascimento
Pe. ANTÔNIO GOMES DE ARAÜJO PATRONO — Manuel Monteiro
J . LINDEMBERG DE AQUINO N. 15 — General Joaquim Pinheiro
COM. DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES : PATRONO — Dr. Ratisbona
Dr. RAIMUNDO DE OLIVEIRA BORGES N. 16 — Prof. Aécio Feitosa
PATRONO — Pe. Francisco Pita
JOAQUIM LÔBO DE MACEDO
N. 17 — Nertan Macedo
Pe. ANTÔNIO TEODÓSIO NUNES
PATRONO — João Brigido dos Santos
COMISSÃO DE SINDICÂNCIAS:
SECÇÃO DE CIÊNCIAS:
KLEBER MAIA CABRAL
GERALDO MACÊDO LOBO N. 1 — Dr. Napoleão Tavares Neves
PEDRO PINHEIRO ESMERALDO PATRONO — Dr. Barreto Sampaio
j. ALVES DE
FIGUEIREDO FILHO

A presente edição de ITAYTERA


primeira que circula após o
falecimento do inolvidável escritor
J . de Figueiredo Filho, ex-
Presidente do Instituto Cultural
do Cariri, possui cerca de uma
centena de páginas em sua
homenagem. Constitui-se assim o
tributo maior que poderiamos
prestar á sua memória
imorredoura, flagrando, para a
posteridade, documentos e
conceito» sobre sua fulgurante
personalidade, e documentando
aspectos de sua vida, sempre
voltada para os superiores
destinos da comunidade cratense.
Na foto, uma das últimas tiradas
pelo nosso Presidente falecido,
podemos ver, nitidamente, os
traço» marcantes de sua
fisionomia, da qual os leais e
verdadeiros amigos do ICC
jamais olvidarão.

ACEJI Homenageou
J. de Figueiredo Filho
Cora uma solenidade realizada a
02 de Março do corrente ano,
em sua séde, á Av. D. Manoel,
423, Fortaleza, a Associação
Cearense de Jornalistas do
Interior-ACEJI, homenageou a J.
de Figueiredo Filho, apondo o
seu nome numa de suas salas.
Outras figura» foram
homenageadas na oportunidade,
inclusive nosso saudoso consócio
Celso Gomes de Matos. O
saudoso Presidente da nossa
instituição foi dos fundadores da
ACEJI e nela gozava de grande
prestigio. Representando o ICC
esteve presente á solenidade o
Secretário Geral, J . Lindemberg
de Aquino, que é visto na foto
com os Drs. José Gusmão
Bastos e Raimundo Ximenes,
ex-Presidente e atual Presidente,
respectivamente, da ACEJI, e o
universitário Rônald Figueiredo
Albuquerque, sobrinho do
homenageado, que representou
sua família, na ocasião
Instituto Cultura! do Cariri
perde o seu Presidente: Faleceu
J. ALVES DE FIGUEIREDO FILHO

Profundo e inesperado goipe rio de imprensa, e das entidades,


atingiu a toda a fam ília do Instituto dos críticos e dos amigos, colabora­
Cultural do C ariri. A 29 de Agosto ções variadas e trabalhos de exal­
de 1973, ás 13,47 horas, na Casa tação e evocação ao querido morto.
de Saúde Joaquim Bezerra de Farias, Nêsse registro, queremos pa­
onde estava internado, há menos de tentear toda a fôrça de nossa ad­
cinco dias, faleceu o Dr. José Alves miração e entusiasmo pelo Amigo
de Figueiredo Filho, Presidente de desaparecido, eminente Chefe que
nossa instituição, seu fundador e conduziu com aprumo, acêrto e di­
animador desde os primeiros ins­ namismo a nossa instituição, proje­
tantes, e Diretor da nossa Revista. tando-a bem longe, ao mesmo, tem­
O po em que preservamos para a pos­
acontecimento lutuoso en­
cheu de dor e consternação toda a teridade, como lembrança á sua
nossa cidade, e a Região caririense. imorredouro memória, tudo o que se
Abrindo a presente edição de escreveu e se disse sobre sua pes­
IT A Y T E R A < quase toda dedicada à soa, após o seu desenlace.
sua memória e á sua obra, apresen­ É o preito de nossa eterna
tamos •uma visão global do noticiá­ gratidão.
3
0 Comunicado Oficial do
Instituto Cultural do Cariri

O IN STITU TO C U LT U R A L DO C A R IR I D ISTR IBU IU , EM C ARTÃO COM


T A R JA PRÊTA REPRESENTANDO O SEU LUTO E A SUA SAUDADE, A
TO DAS AS EN TIDADES, IN STITUIÇÕ ES, ASSOCIAÇÕES C U LTU R A IS,
C IE N T ÍFIC A S , IM PREN SA, AUTO RID AD ES E AM IGOS DE J. DE F I­
GUEIREDO FILHO E DO ICC, O SEGUIN TE COM UNICADO O F IC IA L :

INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI

CRATO — C EA R Á

CO M UN ICAÇÃO DE FA LEC IM EN TO

O IN STITU TO C U L T U R A L DO amizade demonstradas ao mesmo,


C A R IR I, instalado em Crato, Estado durante a sua vida, esperando con­
do Ceará, vem, mui pesarosamente, tar, sempre, em homenagem á sua
comunicar o falecimento do seu Pre­ augusta memória, com o mesmo
sidente, Escritor J. A LV ES DE FI­ aprêço tantas vezes a êle e à nossa
GUEIREDO FILH O , ocorrido a 29 de entidade dedicados.
Agosto de 1973, em nossa Cidade. Crato, Setembro de 1973.
Ao mesmo tempo, manifesta-se
profundamente reconhecido pelas J. LIN DEM BERG DE AQUINO
provas de distinção, consideração e Secretário Geral
4
AS HOMENAGENS
Tocantes Homenagens Póstumas

ao Presidente do

Instituto Cultural do Cariri


O falecimento do Escritor Homenagem
e na Câmara
Jornalista J. Alves de Figueiredo
Filho( ocorrido ás 13 horas e 47 Uma hora antes de ser condu­
minutos, do dia 29 de Agosto de zido ao Cemitério, o corpo do escri­
1973, no apartamento N .° 16, da tor Figueiredo Filho foi conduzido á
Casa de Saúde Joaquim Bezerra de Câmara Municipal do Crato, á Rua
Farias, em Crato, embora esperado, Senador Pompeu, onde, ali, foi alvo
causou profunda repercussão em to­ de homenagens oficiais. A li, na
dos os círculos da cidade. Acome­ Presidência dos trabalhos, e perante
tido há uma semana do mal que o incomputável massa humana que
levaria á sepultura, Figueiredo Filho lotava completamente as dependên­
iniciou tratamento em casa, mas de­ cias do Legislativo cratense, o Dr.
vido á gravidade do mal, teve de Francisco Ailton Esmeraldo concedeu
hospitalizar-se, a conselho do seu a palavra ao Vereador Francisco
médico, o. que o fez no dia 25 de Pereira, que fez a oração fúnebre
agosto, á tarde. de homenagem ao grande morto.
Transladado ò corpo para a re­ Depois a Mêsa pediu um minuto de
sidência, uma verdadeira multidão silêncio. Em seguida foi constituída
começou ali a acorrer, participando uma Comissão, composta dos verea­
da dor que a sua fam ília sentia. As dores Cícero de Moura Rosendo,
emissoras de rádio e de televisão de Virgilio Xenofonte, Bernardina V ilar
Fortaleza e de Crato, a todo instan­ e Enrile Pinheiro para colocarem a
te, davam a trágica notícia. As Rá­ Bandeira do Município, sobre o cai­
dio Araripe e Educadora, em Crato, xão mortuário.
suspenderam a programação normal, A retirada do esquife, do ple­
e os colégios cerraram suas portas. nário da Câmara, foi procedida pe­
los componentes das Bandas Caba-
Feriado e Luto Oficial çais do C ariri, conjuntos que ele
tanto amou, divulgou e exaltou.
O Prefeito Pedro Felício Caval­
canti decretou luto oficial por 3 Coitejo
dias, no Município, e feriado o dia
30 de Agosto, data do sepultamen- Para levar Figueiredo Filho, da
to do ilustre morto, que era figura Câmara Municipal ao Cemitério,
nacional do Crato. formou-se extenso cortejo, integrado
por representações da Diretoria do
Notas Oficiais Instituto Cultural do C ariri, Corpo
discente e corpo doscente da Facul­
Diversas entidades e associa­ dade de Filosofia do Crato e da Fa­
ções de classe passaram a irradiar culdade de Ciências Econômicas, pe­
notas oficiais, de pêames, ante o lotões de alunos do Colégio Dioce­
doloroso acontecimento. sano, Colégio Santa Teresa, Colégio
6
Estadual Wilson Gonçalves, Escola Crato, e logo depois dele os conjun­
Técnica de Comérdio, Instituto Pi- tos musicais de bandas cabaçais
tágoras, conjunto folclórico Irmãos executaram plangente melodia, que
Aniceto, Conjunto Folclórico Itayíe- fez vir as lágrimas aos olhos de to­
ra, Grupos Escolares diversos, tendo dos os presentes.
á frente o Grupo Escolar José Alves
Coroas
de Figueiredo, Irmandade do Santís­
simo, Banda Municipal, Câmara M u­ Entre as coroas mortuárias ano­
nicipal e grandiosa massa popular. tadas pela nossa reportagem, vimos
0 Prefeito Pedro Felício e o Vice- as seguintes dedicatórias :
Prefeito W alter Peixoto acompanha­ " A Figueiredo FilTio. Continua­
ram o féretro pelas ruas da cidade. remos suas lutas e seremos dignos
Representações de Barbalha e Ju a ­ de seu exemplo de trabalho. O nos­
zeiro do Norte também se fizeram so ICC não m orrerá", Diretoria do
presentes. Instituto Cultural do C ariri.
"M uitas saúdddès" de sua cu­
No Cemitério do Crato nhada, Naninha.
"Lágrim as inconsoláveis de sua
Á chegada do corpo do escri­
desolada esposa, Z uleika".
tor Figueiredo Filho no Cemitério do
"Imorredouras saudades", Jo-
Crato, ali já se encontrava uma ou­
sio, Eneida e filhos.
tra multidão, desejosa de prestar a
"Sincera am izade", de Naninha
última homenagem a quem tanto
Fernandes e filhos.
serviu e exaltou o Crato. Foi feita
"Os grupos organizados do
uma solene concelebração liturgica
bairro do Seminário apresentam seu
fúnebre, presidida pelo Exmo. Snr.
adeus ao prof. Figueiredo Filho".
Bispo Diocesano do Crato, D. Vicen­
"Homenagem da Câmara M u­
te Matos, acolitado pelos Padres
nicipal".
Teodósio Nunes, João Bosco Cartaxo
"Homenagem do Município do
e Antonio Onofre, e pelo Mons.
Crato".
Raimundo Augusto. Os Escoteiros
"Ao Professor Figueiredo Filho,
do Crato, devidamente fardados, fi­
Homenagem da Faculdade de Filo­
zeram o cordão de isolamento. Eles
sofia do Crato, ao valor de Um Ho­
também haviam aberto o cortejo
mem, Ao Talento de Um Mestre, á
fúnebre a partir da Câmara M uni­
lealdade de Um Colega e á Dedica­
cipal. Assistiram também á con;ce-
ção de Um Amigo".
lebração o Pe. Irineu Lima Verde,
"Eternas saudades de Cauby,
Pe. José Honor de Brito e Monse­
Regina e filhos".
nhor Francisco Montenegro.
"Recordações de Daltro, lone e
Á beira do túmulo filhos".
" 0 adeus saudoso de Jéfferson,
Á beira do túmulo, em lingua­ Letícia e filhos".
gem comovente e inspirada, falou o "Que o seu corpo repouse na
advogado Luis de Borba Maranhão, terra que tanto amou e sua alma
em nome do Instituto Cultural do brilhe no Reino de Deus", Colégio
C ariri, fazendo a despedida final. Diocesano.
Suas palavras terminaram com vee­ Quase uma centena de cartas,
mente apêlo á Diretoria do I. C. C. telegramas e cartões de pêsames
para que não deixasse, em memória continuaram chegando, horas depois,
de Figueiredo Filho, morrer a enti­ á desolada fam ília de Figueiredo
dade nem morrer a revista Itaytera. Filho, expressando a dor de amiços
Ao baixar o corpo á sepultura, distantes, diante dessa pêrda irrepa­
a Banda Municipal tocou o Hino do rável.
7
Palavras na Câmara Municipal
" A homenagem que esta Casa Recebei o reconhecimento, a
presta, nêste momento, a J. de Fi­ gratidão eterna e imorredoura des­
gueiredo Filho, velando o seu corpo, ta terra e desta gente, representa­
antes da derradeira viagem ao cam­ das por esta Casa.
po santo de nossa cidade, justifica- Recebei a consagração de nos­
se plenamente e tem sua razão de sa memória eterna, e do pranto
ser. É a homenagem do povo cra- mais sentido que verte dos nossos
tense, representado pela sua Câma­ olhos e dos nossos corações.
ra Municipal, àquele que, em vida, Recebei a corôa de louros mais
foi todo devotamento, todo desvêlo simbólica que esta Casa vos dá, en­
e todo amor a esta terra, traba­ volvendo os vossos restos mortais ha
lhando na mais incansável atividade, Bandeira do Município, que soubes­
em favor da nossa comunidade. tesengrandecer,projetar, louvar,
Não poderia a Câmara Muni­ cultuar e dignificar.
cipal do Crato deixar de se associar Recebei a nossa derradeira
ás manifestações de dor e de pesar homenagem e o nosso derradeiro
do nosso povo. adeus, porque, daqui, saireis glorifi-
Negaria suas próprias tradições cado para a excelsa posição que a
morais e cívicas, se estivésse ausen­ imortalidade vos assegura, no cora­
te a essa onda de formidável dor e ção, na mente e na memória de um
imenso infortúnio, ante a pêrda que povo agradecido".
o Crato acaba de sofrer. (Palavras do Vereador Francis­
Professor J . de Figueiredo Fi­ co Pereira, em 30 / 08 / 73, na Câ­
lho, recebei a homenagem da C â­ mara Municipal do Crato, na sole­
mara Municipal do Crato, nesta nidade fúnebre em homenagem a J.
homenagem de adeus. de Figueiredo Filho).

Mensagem da Presidência da

Câmara Municipal do Crato


A Presidência da Câmara Mu­ ções de pesar, emanadas de todos os
nicipal do Crato, associando-se á círculos sociais e culturais de nossa
dor que esta comunidade sente nês­ terra, pede que seja observado, no
te momento, pela pêrda irreparável mais sentido respeito, um minuto de
dêsse vulto exponencial de nossas silêncio, em honra a tão grande per­
letras e de nossa história cívico-po- sonalidade, cujo restos mortais temos
lítica, associando-se ás manifesta­ a honra de abrigar nêste momento.
0 que publicou o Jornal da Diocese

do Crato, “A AÇÃO”, além de farto

documentário fotográfico
MORTE DE FIGUEIREDO FILHO
CONSTERNOU TODO O CARIRI
Texto : HUBERTO CABRAL

Em meio a maior consternação, a sica, além da Irmandade do Santís­


Cidade do Crato, representada por simo.
suas autoridades de classe, clubes de Na Capela do Cemitério, D. V i­
serviços, estabelecimentos de ensino cente Matos presidiu a uma Conce-
e do povo em geral, compareceu 5a lebração Exequial, de corpo presen­
feira aos funerais do saudoso jorna­ te, em sufrágio da alma do escritor
lista e escritor J. de Figueiredo Fi­ Figueiredo Filho, da qual participa­
lho, Presidente do Instituto Cultural ram Mons. Raimundo Augusto, V i­
do Cariri e membro da Academia gário Geral, Pe. João Bosco Cartaxo
Cearense de Letras, falecido no dia Esmeraldo, Pe. Antônio Onofre e Pe.
29 na Casa de Saúde Joaquim Be­ Antônio Teodósio Nunes. À estação
zerra de Farias. do Evangelho, D. Vicente proferiu a
oração fúnebre, reverenciando a me­
Às 9 horas, o corpo do saudoso mória do grande benfeitor da cul­
historiador foi trasladado de sua re­ tura cratense.
sidência à Rua Miguel Lima Verde,
onde fora velado durante a noite, Logo após a missa, realizou-se o
para a Câmara Municipal. Na ho­ sepultamento, a cuja beira do túmu­
menagem póstuma, saudou o ilustre lo discursou em nome do Instituto
morto, em nome do nosso Legisla­ Cultural do Cariri, Instituto de En­
tivo o vereador Francisco Pereira da sino Superior do Cariri e Faculdade
Silva, enquanto o Presidente Ailton de Filosofia do Crato Dr. Luiz de
Esmeraldo, solicitou um minuto de Borba Maranhão, Diretor da Facul­
silêncio em sinal de pesar ao lutuo- dade de Direito do Crato. Em, sua
so acontecimento. Uma comissão alocução de despedidas, Dr. Luiz de
constituída pelos vereadores Virgílio Borba traçou o perfil do saudoso es­
Xenofonte, Cícero de Moura Rosen- critor Figueiredo Filho, patrimônio
do, Francisco Laurindo Batista e moral e intelectual do Crato e do
Bernardina V ilar encobriu o esquife Nordeste que desaparecia, após pro­
com a Bandeira do Município do jetar bem alto pelo País afora e ex­
Crato. Por seu turno, o conjunto terior as Letras, Cultura e Folclore
folclórico Itaytera (Irmãos Aniceto), do Crato e do Cariri. No final, a
conduziu o ataúde ao carro da fu­ Banda de Música executou o Hino
nerária que levaria o pranteado ex­ do Crato, em meio a grande conster­
tinto até ao Cemitério, após a en- nação.
comendação pelo Pe. João Bosco
Cartaxo Esmeraldo, Cura da Cate­ A Rádio Educadora do Cariri e o
dral. Jornal A Ação que tiveram sempre
no jornalista J. de Figueiredo Filho
Um grande cortejo fúnebre partiu um grande colaborador, como cro­
da Câmara para o Cemitério, acom­ nista dos mais renomados e mais do
panhado das autoridades, represen­ que isso, um orientador, amigo e
tações de classe, sacerdotes, religio­ lutador incansável pelos interêsses
sas, povo em geral e Banda de Mú- do Crato, registrando seu desapare-
10
Padre EUGÊNIO DANTAS

Estava eu dando uma aula de Nesta página mando o meu voto


estatística quando uma aluna, que de pesar a ilustre fam ília que ‘ma­
muito aplicada, escutava novela, goada chora grande perda. Quero
comunicou ao resto da turma : mor­ lembrar à família do meu amigo
reu o professor Figueiredo Filho. Professor Figueiredo Filho, que a sua
Aquela notícia entristeceu-me bas­ morte foi uma grande perda para
tante. Não tive mais coragem de toda Crato, para o Ceará e para o
continuar a aula. Naquele momen­ Brasil. A consternação tomou de
to o Crato perdia um dos maiores conta da população inteira de Cra­
vultos do Ceará. Filho do Crato, o to. Por muito tempo ainda teremos
professor Figueiredo Filho conseguiu de lamentar a sua morte.
tornar-se conhecido em todo o Bra­ Quisera aqui mandar uma pala­
sil. Suas idéias, seus escritos, sua vra de conforto para a fam ília en­
vida dedicada à cultura fizeram de­ lutada que sei ser uma família de
le um patrimônio cultural e moral fé. Para o cristão a morte tem um
do Crato. As suas crônicas, as suas sentido. Depois que Jesus morreu,
aulas, o seu estilo, a sua inteligên­ o homem que tem fé sabe que vale
cia fizeram-no admirado e estima­ a pena a gente morrer. É claro que
do por todo povo caririense. Sua a gente sente. Nós não nascemos
fama ultrapassou as fronteiras de para a morte, màs para a vida. A
seu Estado. Já meio idoso e doente nossa natureza treme e chora dian­
sua inteligência permaneceu lúcida. te da morte. Isto é muito natural.
Sua capacidade de trabalho era um Seria até de se admirar que a gen­
desafio aos que por um nada esmo­ te fosse se alegrar porque alguém
recem. Ainda na segunda feira morreu. Mas José Alves de Figuei­
mandou para a Faculdade os temas redo Filho não morreu. Ele dorme.
para os trabalhos de estágio de seus Dorme o sono tranquilo dos justos,
alunos. dos homens de fé. Ele era um ho­
0 curriculum vitae do ilustre de­ mem de fé. "Quem crê em mim não
saparecido não cabe neste pequeno morre e ainda que esteja morto vi­
artigo de jornal. .Mas o rádio já o verá".
divulgou e todos já estão a par da Ademais era um homem de mui­
vida do grande professor que per­ tos amigos. O homem só morre de
demos esta semana. verdade quando sua memória não é
mais lembrada na mente dos ami­
gos. Quanto mais amigos o homem
cimento, constenados, enviam, à fa­ tem, mais tempo ele passa sem mor­
mília enlutada siceros pêsames. Em rer, pois continua vivendo no cora­
meio ao grande pesar que enlutou ção e na mente dos amigos. Poris-
toda a cidade( sabemos que Figuei­ so J. de Figueiredo Filho vai custar
redo Filho desapareceu fisicamente, a morrer para o povo cratense. Ele
pois espiritualmente ele permanece­ está vivo. Um dia nós nos encon­
rá entre nós, na certesa de que seu traremos. Ele foi na frente nós ire­
nome será sempre uma bandeira a mos depois. Este é o destino de to­
tremular em. prol do desenvolvimen­ dos nós. Meu amigo Figueiredo Fi­
to e liderança cultural do Grato, no lho, para mim você não morreu. Es­
concerto intelectual do País. tá vivo. Até um dia !
.11
NASCEU a 14 de julho de 1904, na cidade de Crato, Estado do
Ceará, Brasil. PAIS — José Alves de Figueiredo e Emília Viana de Fi­
gueiredo. Casado com Zuleika Pequeno de Figueiredo, em 27 de novem­
bro de 1926. F ILH O S : Eneida de Figueiredo Araripe, casada com o ad­
vogado Jósio de Alencar Araripe; Cauby Pequeno de Figueiredo, casado
com Maria Regina Costa Carvalho Figueiredo.

TÍTULOS CIENTÍFICOS
Curso Primário : escolas de D. Antoninha Teixeira Mendes, Helena
Brígido dos Santos, primário do Colégio Diocesano do Crato. Curso Se­
cundário : Colégio Diocesano do Crato, fase do Seminário do Crato, Liceu
do Ceará; Curso Superior: Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará
(formatura 25 de dezembro de 1925) — Fortaleza, sendo o orador da
turma; Titular de História do Cariri e História do Ceará,, na Faculdade de
Filosofia do Crato, (professor fundador); Foi professor dé Química e Histó­
ria Natural no Colégio Diocesano do Crato, no Ginásio e Escola Normal
Santa Teresa de Jesus, em Crato, na Associação dos Empregados no Co­
mércio do Crato; Foi Inspetor Regional Escolar e Foi. Vice-Diretor da Fa­
culdade de Filosofia do Crato, 1966- 1970.

FUNÇÕES EXERCIDAS:
Presidente e Sócio-fundador do Instituto Cultural do C ariri; Pro­
fessor da Faculdade de Filosofia do Crato; Vice-Presidente do Instituto de
Ensino Superior do C ariri; Membro do Conselho Cearense da Campanha
de Defesa do Folclore; Membro da Diretoria da Associação dos Professores
de História; Diretor da Revista "Itaytera" órgão oficial do Instituto Cultu­
ral do Carri-Crato e Patrono da "Presença de Folclore" do Rio de Janeiro.

ASSOCIAÇÕES A QUE PERTENCEU :


Sócio Efetivo da Academia Cearense de Letras, Cadeira 34; Sócio
da Academia Piracicabana de Letras, Cadeira 35; Membro da Sociedade
Geográfica Brasileira, com séde em S. Paulo; Membro da Diretoria da As­
sociação Brasileira de Professores Universitários de História, de São Paulo;
Sócio da Associação Brasileira de Folclore, S. Paulo; Sócio da Academia
Uruguaiana de Letras, no Instituto Histórico Uruguaiano; Sócio efetivo do
Instituto Arqueológico Histórico de Pernambuco; Sócio da Academia Na­
cional de Farmácia, com séde no Rio: Sócio Correspondente da Academia
Sobralense de Letras; Sócio Honorário do Rotary Clube do Crato; Sócio do
Instituto Cultural do Cariri (Presidente) e Vice-Presidente do Instituto do
Ensino Superior do Cariri (mantenedor da Faculdade de Filosofia do
Crato).
12
CONGRESSOS, SIMPÓSIOS E SEMINÁRIOS de que participou
IV Simpósio de Professores Universitários de História, Porto Alegre,
1967; V Simpósio de Professores Universitários de História, S. Paulo; VI
Simpósio de Professores Universitários de História, Goiana, 1971. (Em to­
dos apreentou trabalhos); Primeiro Simpósio de História do Nordeste, Fa­
culdade de Filosofia do Crato; Compareceu, com atuação marcante, ao
Quinto Congresso Nacional de Folclore, Fortaleza - Ceará; l.° , 2.° e 3o.
Seminários de Estudos Caririenses, Crato, Juazeiro do Norte e Semana da
Cultura Cearense - Ribeirão Preto - S. Paulo - 1967; l .° Congresso de
Jornalistas do Interior, Crato, 1961-

TRABALHOS PUBLICADOS:
RENOVAÇÃO — romance regional, com prefácio de Gustavo Bar­
roso, Editora Odeon - S. Paulo, 1937; CIDADE DO CRATO — Ministério
de Educação e Cultura - Rio; HISTÓ RIA DO CARIRI — (5 volumes), Fa­
culdade de Filosofia do Crato; MEU MUNDO É UMA FA RM ÁC IA — Edi­
tora Ip ê-São Paulo; ENGENHO DE RAPADURA DO CARIRI — Serviço
de Informação Agrícola (N .° 13) — Ministério da Agricultura - Rio; O
FOLCLORE NO CARIRI — Imprensa Universitária do Ceará; FOLGUEDOS
IN FA N TIS CARIRIEN SES — Imprensa Universitária do Ceará; P A TA T IV A
DO ASSARÉ — Imprensa Universitária do Ceará; NO ASFALTO E NA
PIÇA RRA — em colaboração com a esposa Zuleika Pequeno de Figueire­
do, — Tipografia e Papelaria do Cariri - Crato.
COLABORAÇÃO NA IMPRENSA:
Jornais e Revistas que colaborou : Todos os jornais de Crato, For­
taleza e Recife; Diário Carioca e Jornal do Comércio, Gazeta de Farmácia,
Rio; Diário de Piracicaba; Revista Sul América - Rio; Revista de História,
de São Paulo; Revista Brasileira de Medicina, Rio; Brasil Açucareiro; Luar
do Norte - Recife; Revista Pecuária Leiteira - Recife; Revista do Laborató­
rio de Biologia; Revista Aspectos, de Fortaleza; Revista Plenitude; Revista
do Instituto do Ceará; Revista do Instituto de Arqueologia e História, de
Pernambuco; Revista de Geografia, do Rio; Revista Vida Doméstica, do Rio;
Revista Primo - Editorial de Cadernos Brasileiros, do Rio; Revista Itaytera,
Crato; Revista Valor, Fortaleza; Revista o Ceará - Martins Filho e Raimun­
do Girão e Colaborou nas Revistas Cearenses: IC - REVISTA , EXPOSIÇÃO,
PRO VÍN CIA, H Y H Y TÊ, da Faculdade de Filosofia do Crato.

PALESTRAS, DISCURSOS E CONFERÊNCIAS :


Pronunciou palestras na Semana de Cultura Cearense, em Ribeirão
Preto, S. Paulo; Na Assembléia Legislativa do Piauí, onde foi homenageado;
No Instituto Histórico Nacional, na Casa do Ceará - Rio; No Instituto Joa­
quim Nabuco de Pesquisas Sociais, Recife; Na Academia Pernombun^na de
Letras; No Centro Cultural de Juazeiro do Norte (a convite); Conferência
na Casa de Juvenal Galeno; Proferiu Conferências em Crato, por ocasião
dos festejos do 1.° Centenário de Elevação de Crato à cidade e do Bi-
Centenário do Município de Crato, sendo a última, em presença do Presi­
dente da República — Marechal Humberto Castelo Branco, irradiada para
todo o Brasil; Pronunciou Conferência no Congresso Eucarístico de Crato
e duas no de Sobral e Inúmeras separatas de Artigos e Discursos, do Rio
e São Paulo.
13
Causou a mais profunda conster- quanto a Câmara Municipal tam­
ternação, em todo o C ariri, o fale­ bém prestou merecida homenagem
cimento do Jornalista, Escritor e póstuma ao ilustre morto, o mesmo
Historiador J. de Figueiredo Filho, fazendo as entidades de classe.
Presidente do Instituto Cultural do A População da cidade acorreu
Cariri e membro da Academia Cea­ em massa à residência do saudoso
rense de Letras, aos 69 anos de ida­ jornalista e velou seu corpo durante
de, ocorrido às 14 horas do dia 29 a noite, enquanto às 11,30 horas do
de Agosto, na Casa de Saúde Joa­ dia seguinte realizou-se o sepulta-
quim Bezerra de Farias, nesta C i­ mento, antecedido de uma homena­
dade. gem na Câmara Municipal e Conce-
Ao tomar conhecimento da in­ iebração Exequial na Capelo do Ce­
fausta notícia, transmitida pelas e- mitério, com grande acompanha­
missoras locais, o Prefeito Pedro mento das autoridades de classe, es­
Felício Cavalcanti baixou Decreto colas e povo em geral.
considerando feriado municipal o dia
30 e luto oficial de três dias, en­ Manchete de " A AÇÃO ".

CITADO EM VÁRIOS LIVROS :

Gilberto Freire, Mauro Mota, Câmara Cacudo, Renato Braga, Rai­


mundo Girão, Sílvio Rabelo, Ralph Delia Cava-America, Francisco Vascon­
celos, Nilo Pereira, Ayres da Mota Machado e Tomé Cabral (Dicionário
de Termos Populares).
Encabeçou as comemorações do Centenário de "O A R A R IP E ", pri­
meiro jornal do interior cearense, em Crato, fundado por João Brígido dos
Santos, e do SESQUICENTENÁRIO da adesão da Vila Real do Crato, à
REVOLUÇÃO PERN AM BUCAN A de 1817.
Foi exaltado em discurso de abertura da Semana Folclórica, a 22
de agosto, de 1969, pelo escritor folclorista Rossini Tavares, na Ibirapuera
S. Paulo.
Foi citado em TER R A E GEN TE DO NORDESTE, em caracteres Ni-
pônicos, pelo escritor Zempati OI Ando; em alemão, em inglês e espanhol.
Recebeu JA N G A D IN H A , dos Diários Associados.
Fez crônicas diárias, em rádio-emissoras locais.
A convite, enviou o CURRICULU M V IT A E para fazer parte do Ins­
tituto Histórico da Paraiba (João Pessoa).
Foi entrevistado na T V Cultura, de S. Paulo, sobre o movimento
cultural no C ariri, pelo escritor Alceu Maynard de Araújo, em que foi
exibido exemplar de IT A Y T E R A , como das principais revistas do país.
14
FIGUEIREDO FILH O :
Patrimônio do Crato que Desaparece
Texto: ANTONIO VICELMO

A cidade amanheceu, quinta-fei­ seu exemplo será sempre seguido, o


ra, coberta de luto. Uma vaga nos seu amor ao Crato será imitado. O
meios intelectuais do Crato, do Cea­ espírito de luta de J . de Figueiredo
rá e do Brasil. Nos bairros, o cho­ Filho permanecerá no coração de
ro incontido da pobreza. Os jorna­ todos os cratenses de boa vontade.
listas registram chorando a morte de Uma idéia nao morre. Ela servirá
J . de Figueiredo Filho. Perdemos de exemplo para as novas gerações.
um companheiro, um amigo, o nos­ Figueiredo Filho deixou uma legião
so irmão mais velho. Um mar de de seguidores. Quando houver um
lágrimas banha o Crato. A pobre­ pobre gritando por justiça, quando
za já começa a sentir a falta de os interesses do Crato estiverem a-
suas crônicas sempre ao lado dos meaçados, quando o medo estiver a
humildes. Figueiredo Filho foi um pique de dominar nossa mente, se­
escravo do Crato e morreu algema­ rá invocada a figura de J. de Fi­
do ao cratense. Ontem ele escre­ gueiredo Filho.
via a história do C ariri, hoje ele en­ Tudo que se disser sobre Figuei­
tra para a história do Ceará e do redo Filho é pouco, mas vamos dei­
Brasil. xar espaço para as autoridades cra­
Os historiadores de amanhã, por tenses. Vamos ouvir a opinião de
certo, irão destacar a personalidade pessoas de destaque de nossa socie­
de J. de Figueiredo Filho. O imor­ dade. Dr. Luiz de Borba Maranhão,
tal da Academia Cearense de Le­ Diretor da Faculdade de Direito do
tras era, sobre tudo, um homem Crato assim se expressou sobre a
humilde. Dono de uma riqueza de notícia da morte de J. de Figueire­
conhecimentos, morreu pobre. Fi­ do Filho :
gueiredo Filho nunca pensou em
riqueza material. Foi um homem " A morte de J. de Figueiredo Fi­
totalmente dedicado aos livros. Sua lho enlutou o Crato. Era ele em
residência, na Praça Siqueira Cam­ verdade, um dos grandes historiado­
pos, era uma Central de Informa­ res do Ceará. Foi um amigo dedi­
ções. Como Cristo, ele também foi cado, um jornalista de pena de ou­
caluniado, maltratado e injustiçado, ro, um escritor maravilhoso. Um
mas não abandonou o jornalismo. homem que engrandeceu a cidade
Fiel à sua vocação, Figueiredo Filho do'Crato e o Ceará. Mas J. de Fi­
continuou escrevendo sempre na de­ gueiredo Filho continua vivo nas
fesa dos interesses do Crato. Mor­ páginas da história para a grande­
reu um homem justo, morreu um za da terra Cearense. José Figuei­
homem bom, morreu um homem redo Filho é uma saudade eterna
santo. para o Crato".
O Crato está se contraindo de dor. Pe. Gonçalo Farias Filho, Diretor
Mas uma coisa não morreu, e nun­ de Rádio Educadora e A Ação, as­
ca morrerá. É a sua idéia. A se­ sim se expressou :
mente do bem plantada por J. de
Figueiredo Filho há de germinar. O "Recebi a notícia da morte de
15
Figueiredo Filho corn muita tristeza, ra todo o Ceará e o Brasil. Atual­
porque a figura do professor J. de mente, Dr. Figueiredo era uma pes­
Figueiredo Filho é muito importante soa de renome nacional. Um cris­
para o engrandecimento do Crato. tão autêntico que possui, sobretudo,
Foi um intelectual que soube elevar um alto espírito de doação".
ò padrão cultural da nossa região. Já o professor Kleber Callou,
Um. homem de fé que sempre teve Chefe do Escritório da Casa Civil
atitudes de fé. Foi um homem ho­ do Govêrno, declarou que "recebeu
nesto que ensinou a Região a agir a notícia da morte de J. de Figuei­
sempre com honestidade. Batalhou redo Filho com muita tristeza. O
pelo Crato, esteve sempre ao lado Brasil, o Ceará e o Crato perdem
das boas causas. Figueiredo não uma personalidade altamente res­
passou, está presente como um tes­ peitável. A juventude há de sentir
temunho de luta, heroismo e amor a falta de seus conselhos. Sua mor­
a terra. te foi uma lacuna deixada no seio
Por sua vez. O Dr. Raimundo de da comunidade cearense.
Oliveira Borges, Diretor da Faculda­ O Prefeito Pedro Felício Caval­
de de Filosofia do Crato, disse que canti, que foi amigo de infância de
"recebeu a notícia da morte de Fi­ Figueiredo Filho, expressou também,
gueiredo Filho como um impacto, o seu profundo pesar pela morte do
pela expressiva figura que ele re­ imortal da Academia Cearense de
presentava no mundo social e cul­ Letras. A morte do Presidente do
tural do Ceará e em todo o Brasil Instituto Cultural do Cariri causou-
onde quer que ele se apresentasse. me profunda consternação porque,
Figueiredo Filho deixa uma lacuna além de êle ter sido meu amigo de
impreenchivel na nossa terra, quer infância, vejo que o Crato acaba de
como escritor, quer como professor, perder um de seus filhos mais ilus­
quer como historiador dos aconteci­ tres. Um homem que se doou a sua
mentos que se verificaram nesta terra natal. Um homem que proje­
terra desde sua formação até os tou o nome do Crato, e do Ceará,
nossos dias. Como Diretor da Fa­ além fronteiras, com o intuito, tão
culdade de Filosofia, lamento pro­ somente, de ver a nossa terra pro­
fundamente este infausto aconteci­ jetada nos grandes centros do Bra­
mento porque Figueiredo Filho já sil. É profunda a minha emoção, eu
como um dos seus mais eméritos repito, até que quer me tirar a fa ­
professores, vinha prestando a esta culdade de expor aquilo que, na
casa de ensino superior os mais re­ verdade eu realmente sinto pelo fa ­
levantes serviços. Eu aproveito esta lecimento de Figueiredo Filho.
oportunidade para me associar a 0 Vice-Prefeito Francisco W alter
dor que sofre a fam ília de Figuei­ Peixoto disse que recebeu a notícia
redo Filho e apresentar os meu pê­ da morte de Figueiredo Filho com
sames a toda a comunidade craten- muita tristeza, adiantando que o
se porque ela perde uma figura ex- Crato, o C ariri e o Ceará perdem
ponencial da sua história, da sua uma das 'mais brilhantes figuras do
terra, da sua sociedade. mundo cultural da nossa terra. Es­
Madre Feitosa, Diretora do Colé­ tão, portanto, de luto, o Crato e to­
gio Madre Ana Couto e Vice-Geral do o Nordeste. A professora Lour-
da Congregação das Filhas de Sta. dinha Esmeraldo afirmou que assis­
Teresa disse que "foi grande o im­ tiu, com sofrimentos, à morte de Fi­
pacto causado com a morte de Fi­ gueiredo Filho, vendo que se extin-
gueiredo Filho. O cargo que Figuei­ guia uma coluna, não somente cul­
redo ocupava era de grande valor tural como moral da cidade do
não somente para o Cariri mas pa­ Crato e da Região.
16
E D I T O R I A L

PERDA IRREPARÁVEL
Roubou-nos a morte, nos seus novos rumos ao conhecimento de
mistérios e desígnios insondáveis, a nossa formação intelectual, cívica,
maior figura humana do Crato dos moral e política.
últimos tempos. E na Cátedra, exercitou o bom
Deixou de viver e já foi recebido combate, nesse contato diário e pro­
de volta ao seio da terra generosa veitoso com a juventude, na qual
que ele tanto amou e pela qual vi­ inoculou os sentimentos mais sadios
veu, tao devotadamente, o escritor de brasil idade, de civismo, de amor
é jornalista J. de Figueiredo Filho. telúrico à terra comum de todos
A irreparável perda que o Crato nós.
acaba de sofrer abala toda a sua Sua vida foi, portanto, um hino
estrutura e abre um claro difícil de constante de amor, desvelo e devo-
ser preenchido, por muitos e muitos tamento ao Crato que era a razão
anos. de ser de sua existência e o carinho
Não é em toda geração que sur­ maior do seu coração incendiado de
ge um homem do porte de José de amor patriótico.
Figueiredo Filho. No Instituto Cultural do C ariri,
Figuras luminares como a do cra- que fundou e manteve, como per­
tense que se foi, Deus presenteia manente tocha,, acesa ao fogo dos
muito raramente uma comunidade. seus ideais, marcou uma época re­
Lutador intemerato, sua pena almente esplendorosa de pujantes e
esteve 55 anos a serviço da terra, saudáveis realizações.
na causa da terra, em defesa da Na Faculdade de Filosofia, que
terra, projetando-a, elevando-a, dig­ animou com a força vigorosa do sêu
nificando-a, exaltando-a, na mais espírito, exaltou a terra e serviu à
pura, na mais honesta, na mais sin­ cultura.
cera, na mais produtiva folha de Na Academia Cearense de Letras,
serviços que um homem pode em­ aonde chegou, depois de muito re­
prestar a sua térra. lutar, em vista de sua imensa mo­
Lutador incansável, fez da pena déstia, codificou na imortalidade a-
a sua arma, dos livros e jornais, a cademica um nome que a posterida­
sua trincheira, do campo jornalísti­ de já aprendeu a amar.
co e do cenário da cultura, o mag­ E assim se foi J. de Figueiredo
nífico palco onde exercitou, cotidia­ Filho.
namente, o bom combate, na glo­ Foi, deixando atrás de si a lumi­
rificação de sua terra e na elevação nosidade marcante de uma intensa
de sua gente. e extensa produção literária, jorna­
Projetou o Crato aos píncaro$ da lística, científica — nos jornais, nos
glória, nas conferências, nos con­ livros, nas conferências, no brilho
gressos, nos simpósios, nas acade­ dos simpósios e congressos, ha m ar­
mias científicas e literárias, no cante personalidade que se revela
descortínio do alto mundo intelec­ até nos bilhetes íntimos aos amigos
tual do Estado e fora dêle, sempre mais caros, no entusiasmo avassa-
com a preocupação única de servir lador por um Crato melhor.
e, engrandecer o Crato. E assim se foi J. de Figueiredo
Fez da pesquisa histórica a lumi­ Filho, construindo uma obra impere-
nosa trajetória em que se abriram cível que dignifica o seu nome e lhe
.17
* Causou-nos imensa consternação a morte do jornalista, escritor e his­
toriador J. de Figueiredo Filho, Presidente do instituto Cultural do Cariri
e ex-Diretor e cronista do Jornal " A A Ç Ã O " e Rádio Educadora do C ariri,
ocorrida no dia 29 último, em nossa Cidade.

* A imensa dor que de todos se apodera se junta à mágoa infinda dessa


perda irreparável. O destino que no-lo roubou, em plena vitalidade inte­
lectual, marcou, profundamente, a existência da comunidade, à qual ele
devotadamente serviu e pela qual se imolou.

* Registrando o desaparecimento do saudoso jornalista e escritor, "SO ­


C IED A D E" envia, nesta hora de dor e de infortúnio, à fam ília sinceros
pêsames, na certeza de que seu nome será uma bandeira a tremular em
favor da cultura cratense que ele tanto promoveu e projetor.

* Em sinal de pesar pelo falecimento de J. de Figueiredo Filho, a Prefei­


tura Municipal decretou feriado no dia 30 e luto oficial de três dias, en­
quanto a Câmara Municipal prestou também homenagem póstuma ao ilus­
tre morto.

* O Crato Tênis Clube adiou para 7 de Setembro a Festa Dançante


marcada para ontem à noite, comemorando a Festa da Padroeira, em vir­
tude do falecimento de J. de Figueiredo Filho, sogro do Presidente Dr.
Jósio Araripe.

* Com o falecimento do escritor J. de Figueiredo Filho, assumiu a Pre­


sidência do Instituto Cultural do Cariri Pe. Antônio Gomes de Araújo,
Vice-Presidente da entidade que deverá promover eleição em outubro pró­
ximo.

* Mesmo com o falecimento de Figueiredo Filho, o Crato participará


do Simpósio Nacional de História em Goiania, na Semana da Pátria, atra­
vés da tese enviada pelo saudoso Presidente do ICC, dias antes de sua
morte, sob o título : "Influência do Crato no Cariri Cearense", que será
publicada nos Anais do certame.

exalta a figura humana, onde os memória imortal desta terra que


traços de bondade, de carater forte foi seu berço, a razão primeira de
e sem jaça, se misturam à grandio­ sua vida, e o abrigo generoso para
sidade de um espírito público que onde acaba de v o lta r!
só soube construir — nunca des­
truir — que só soube engrandecer, Lido na Rádio Araripe e Rádio
nunca diminuir, que só soube dar Educadora — 29 08 73.
amor, nunca o desamor. Publicado como EDITORIAL, em
Deus há de premiá-lo no regaço
onde abriga os justos. A AÇÃO, dia 1 09 73.
E o povo há de premiá-lo na Autoria: — J. Lindemberg de
saudade eterna do seu coração e na Aquino.
18
Entidades, Clubes de Serviço,

Associações e outros grupos

comunitários expressam seu pesar

pelo falecimento do Presidente do

Instituto Cultural do Cariri


iNSTITUTO CULTURAL DO CARIRI

NOTA DE PESAR

A Diretoria e o quadro social do Instituto Cultural do Cariri sentem-se


no indeclinável dever de comunicar a todo o povo do Crato o falecimento
do seu eminente PRESIDENTE, jornalista, escritor, historiador e professor,
José Alves de Figueiredo Filho, ocorrido em Crato.
Á imensa dor que de todos nós se apodera se junta a mágoa infinda
dessa pêrda irreparável.
O destino que no-lo roubou, em plena vitalidade intelectual, marcou,
profundamente, a existência da comunidade, á qual ele devotadamente
serviu e oela aual se imolou.
O INSTITUTO C U LTU R A L DO CARIRI — em lamentando a pêrda
do grande Mestre, seu Presidente e animador, faz, nesta hora de dor e
de infortúnio, um propósito firme, o de continuar a sua luta e de eternizar
a sua obra, na imorredoura saudade que fica e no estímulo vigoroso que
o seu exemplo nos legou, para enfrentar as dificuldades que surjam.
Nêste ensejo, convida a todo o povo do Crato a se fazer presente, no
sepultamento do ilustre morto, que deixa á sociedade e á comunidade o
legado mais precioso que foi a sua vida exemplar de intelectual correto
e homem de bem.
Instituto Cultural do Cariri
Pe. Antônio Gomes de Araújo, Presidente em exercício
J. Lindemberg de Aquino, Secretário Geral

PREFEITURA MUNICIPAL DO CRATO


Departamento de Educação, Cultura e Saúde

N O TA

O Departamento de Educação, Cultura e Saúde, comungando com o


sentimento de pesar do povo cratense, profundamente consternado com o
falecimento do escritor e educador J. de Figueiredo Filho, avisa aos senho­
res professores municipais, da Sede, que os alunos das escolas municipais
devem comparecer ao entêrro do pranteado cidadão, exemplo de civismo,
patriotismo e amor ao Crato.
Departamento de Educação, Cultura e Saúde, aos 29 de agosto de
1973.
João Teófilo Pierrs, Diretor

ITAYTERA CLUBE
NOTA OFICIAL

A diretoria e associados do Itaytera Clube, comungando com a tris­


teza de toda a nossa cidade pelo desaparecimento do Professor Figueiredo
Filho, expoente máximo da cultura e do amor ao Crato, vêm, de público,
manifestar o seu pesar e a sua solidariedade á angústria por que passa
toda a cidade.
Crato, 30 de Agosto de 1973.

Francisco de Assis Pires, Presidente


20
FACULD ADE DE FILOSO FIA DO CRATO

NOTA OFICIAL

O Diretor da Faculdade de Filosofia do Crato, considerando a irre­


parável perda que representa para a comunidade cratense a morte do Dr.
JOSÉ A LV ES DE FIGUEIREDO FILH O , ocorrida hoje, nesta cidade, cumpre
o doloroso dever de decretar luto por três dias, nesta Escola de Ensino
Superior.
Expressa, ao mesmo tempo, à Família do pranteado extinto, em nome
da Congregação, do Corpo Discente, do Pessoal Administrativo e no seu
próprio, profundo pesar pelo infausto acontecimento.
Crato, 29 de agosto de 1973

Prof. Raimundo de Oliveira Borges, Diretor

PREFEITURA M UNICIPAL DO CRATO

DECRETO N .° 11

O Prefeito Municipal do Crato, professor PEDRO FELÍC IO C A V A L ­


C A N T I, no uso e gozo de suas atribuições legais,
CONSIDERANDO que o professor José Figueiredo Filho, membro da
Academia Cearense de Letras, Presidente do Instituto Cultural do C ariri,
escritor que, por seus livros e obras projetou o nome do Crato em todo
Brasil e, também, no exterior;
CONSIDERANDO que foi, no domínio das letras, uma das figuras
mois ilustres da terra caririense;
CONSIDERANDO que, como pessoa humana, sensível às dores alheias,
sempre exalçou a caridade e o amor ao próximo.

D E C R E T A

O dia trinta do mês findante de feriado municipal e luto oficial


pelo falecimento do professor José de Figueiredo Filho:
Paço da Prefeitura Municipal do Crato, em 29 de agosto de 1973.

Pedro Felício Cavalcanti, Prefeito Municipal.

CÂMARA M UNICIPAL DO CRATO

NOTA OFCIAL

A Câmara Municipal do Crato, participando da grande Dor que toma


de conta de toda a nossa comunidade, com o "Falecimento" do Ilustre
Escritor e Jornalista J. DE FIGUEIREDO FILHO , associa-se às manifesta­
ções de pesar à sua Ilustre Fam ília, e convida o povo Cratense para o
sepultamento do Ilustre filho do Crato, amanhã, dia 30, em hora a ser
oportunamnte anunciada.
Sala das Sessões da Câmara Municipal do Crato, 29 de Agosto de
1973.
Francisco Ailton Esmeraldo, Presidente
Francisco Pereira da Silva, Secretário
21
ASSOCIAÇÃO COM ERCIAL DO CRATO

NOTA O FICIAL

A ASSO CIAÇÃO C O M ER C IA L DO C RA TO , ante o doloroso aconteci­


mento para todo o mando intelectual cearense, que foi o falecimento do
eminente historiador, jornalista, escritor e professor, Doutor José Alves de
Figueiredo Filho, sente-se no dever de levar o pesar de sua Diretoria e do
seu quadro social, à fam ília enlutada e ao povo cratense. A pêrda do
Dr. Figueiredo Filho para o Crato foi realmente irreparável, abrindo uma
lacuna difícil de ser preenchida em nossa vida cultural e jornalística.
A ASSO CIAÇÃO C O M ER C IA L associa-se á dor da fam ília enlutada
e pede encarecidamente ao Comércio para cerrar as suas portas á hora
do sepultamento do inolvidável cratense.

Thomaz Osterne de Alencar, Presidente

LIONS CLUB DO CRATO — CENTRO

NOTA DE PESAR

O LIONS C LU B DO C RA TO C EN TRO , pela sua Diretoria e quadro


social, associa-se, á profunda mágoa e imensa dor que se apodera de
todo o povo cratense, em vista do falecimento do digno jornalista e es­
critor, Dr. J. de Figueiredo Filho.
Nêste ensêjo, rende á sua inolvidável memória o tributo da mais
sincera admiração e do mais profundo reconhecimento, pela inimitável
carreira nas letras, a serviço desta comunidade, que sempre lhe mereceu
todo o amor, carinho, dedicação, devotamento e desvêlo.
O Lions Club do Crato Centro convida a toda a fam ília leonística a
estar presente ao sepultamento do pranteado morto, em cuja fulgurante
personalidade se exornavam as mais autênticas qualidades de homém de
bem, patriota puro, católico no mais exato sentido do têrrno e historiador
de renome, que em vida só soube engrandecer e projetar a nossa comu­
nidade.
Arlindo Mathias, Presidente

RÁDIO EDUCADORA DO CARIRI

NOTA DE PESAR

A Direção da Rádio Sociedade Educadora C ariri Ltda., junta-se neste


momento a todas as homenagens póstumas que estão sendo tributadas ao
jornalista J . de Figueiredo Filho, um dos maiores patrimônios morais e in­
telectuais do C ariri e que hoje faleceu em nossa cidade. Figueiredo Filho,
que em vida foi um dos grandes colaboradores da Rádio Educadora, as­
sinando quase que diàriamente a C RÔ N IC A DA C ID A D E, deixa uma la­
cuna das maires no mundo das letras e do Jornalismo Regional.
— O nosso sentido voto de pesar.

Padre Gonçalo Farias Filho, Diretor


22
CLUBE DE DIRETORES LOJISTAS DO CRATO

NOTA DE PESAR

O Clube de Diretores Lojistas do Crato, em sintonia com os senti­


mentos de dor e de pesar, pelo infausto desaparecimento do ilustre filho
do Crato, escritor, professor e historiador J. de Figueiredo Filho, vem, pela
presente nota, expressar a profunda mágoa dos lojistas cratenses, ante a
dolorosa ocorrência.
Convida o comércio e a indústria a se fazerem presentes ao sepulta-
mento do eminente Jornalista, numa demonstração de solidariedade cristã
á s-ua fam ília e ao Crato, ante essa pêrda irreparável.
Crato, 29 de Agosto de 1973

Valdemir Correia de Sousa, Presidente

ROTARY CLUB DO CRATO

N O TA DE FA LEC IM EN TO

O R O T A R Y C LU B DO C RA TO tem a imensa mágoa de comunicar a


todo o seu quadro social o falecimento do seu inolvidável SÓCIO HONO­
R ÁRIO , jornalista J . de Figueiredo Filho, figura humana de qualidades c í­
vicas e morais — e historiador, jornalista e escritor de imensa repercus­
são nacional.
A dor que toma de conta do Rotary — em vista dêsse lutuoso fato,
extravasa aos sentimentos mais comuns e alanceia as nossas alm as, fe­
rindo-nos profundamente.
Rotary Club do Crato convida a todos os rotarianos e suas fam ílias a
comparecerem ao sepultamento do inditoso companheiro, numa demons­
tração coletiva de sentimento cristão e de solidariedade humana.

Dr. Soion Pinheiro Teles, Presidente

GRÊMIO SÓCIO EDUCACIONAL "PROF. J. DE FIGUEIREDO FILHO"

NOTA O FICIAL

O Grêmio Sócio Educacional Prof. J . de Figueiredo Filho, do 3 .° Ano


da Escola Técnica de Comércio do Crato, que em vida, reconhecendo o
valor intelectual e moral do prof. José Alves de Figueiredo Filho, e os
relevantes serviços por êle prestados à comunidade cratense, como auri-
flam a em defesa da terra, quer no setor educacional e cultural, quer no
setor social, o escolheu como patrono deste Grêmio, e hoje, consternado
com o seu desaparecimento, não podendo se declinar a dor da sua fam ília
e a dor da fam ília cratense, evocamos a pensamento de M ax Robespierre,
quando diz : "N ão , a morte não é absolutamente um sono eterno. T irai
dos túmulos essa m áxim a ímpia, que envolve com uma fa ixa fúnebre a
natureza, e que é um insulto à morte, e gravai esta : " A morte é o começo
da im ortalidade".

Wolquires Gonçalves de Oliveira, Presidente


23
CÍRCU LO DE TRABALHADORES CRISTÃOS DO CRATO

NOTA DE PESAR

O C ÍR C U LO DOS T R A B A LH A D O R E S C RISTÃ O S DO C R A TO e a
U N IÃ O DOS T R A B A LH A D O R E S DO C A R IR I profundamente consternados
pela dolorosa notícia do falecimento do emérito jornalista Cratense Dr.
José de Figueiredo Filho, amigo dos pabres e de todos os Cratenses/ sem­
pre pronto a batalhar pela grandeza da sua terra e do seu povo, transmite
a todos os seus fam iliares os mais sentidos pezames pela Sua perda irre­
parável e convidam a todos os seus associados a se fazerem presentes ao
seu enterro, como prova de gratidão por tudo que ele fez em prol dos
integrantes destas entidades.
Crato, 30 de Agosto de 1973

José Gonçalves da Silva, Presidente

SER V IÇ O S O C IA L D A IN D Ú S TR IA

DEPARTAM ENTO REGIONAL DO CEARÁ

Crato, em 29 de Agosto de 1973


Do : Adm inistrador do Centro Social do Crato
Ao : Instituto Cultural do Crato
Assunto : Nota de Pesar.
Sr. Diretor,
Servidores e alunos que fazem o Centro Social de Crato, une-se pe-
sarosamente a fam ília enlutada do ilustre professor, escritor, jornalista e
historiador, J. de Figueiredo Filho, pelo seu desaparecimento deste mundo
que deixou a todos nós um preceito de grande admiração e que, doravante
sentiremos a lacuna nos meios jornalísticos, artísticos e culturais de nossa
terra e de nossa gente.
Saudosamente,

Deusimar Bezerra Chaves, Adm inistrador

A
C O N G REG AÇÃO DAS F IL H A S DE S A N T A T E R E S A DE JESU S
e o
CO LÉG IO S A N T A T E R E S A DE JESU S

Profundamente comovidos com o falecimento de seu dedicado amigo


e grande mestre Professor José de Figueiredo Filho, patrimônio moral e
cultural do C ariri — convidam religiosas, professores e alunos para o seu
sepultamento, ao mesmo tempo que tornam Feriado da Congregação, o dia
de hoje, 30 de agosto.

Madre Paula — Superiora Geral


Madre Feitosa — Vice-Geral
Madre Nobre — Conselheira Geral
Irmã Neuma — Secretária Geral
Madre Esmeraldo — Regional do C ariri
Irmã Maria Floremir — pela equipe do Colégio
24
C U R Á T O DA C A T E D R A L
PARÓQUIA DE NOSSA SEN HO RA DA PEN HA

Em sinal de condolências pelo falecimento do grande Amigo e Pa-


roquiano J. DE FIGUEIREDO FILH O , tendo ouvido os chefes das duas co­
missões das duas Faculdades em prol da Festa da Padroeira, a Paróquia
de Nossa Senhora da Penha resolve suspender nestes dois dias a movi­
mentação externa das barracas, rogando ao mesmo tempo a Deus o feliz
descanso de sua alm a.
Crato, 29 de agosto de 1973
Pe. João Bosco Cartaxo Esmeraldo, Vigário
O Coordenador da Barraca da Faculdade de Filosofia, avisa aos alunos residentes
em outras cidadès, que por motivo do falecimento do Prof. J. de Figueiredo Filho, só
haverá movimentação da barraca no dia 31, sexta feira.

SOCIEDADE PRÓ-MELHORAMENTO DO BAIRRO SÃO MIGUEL

A Sociedade Pró-Melhoramento do Bairro São M iguel, bem como toda


gente que mora e faz esta Comunidade, sentem-se o profundo pezar pelo
trágico desaparecimento de nosso grande professor, escritor, jornalista e
historiador J. de Figueiredo Filho, a qual externa a fam ília do ilustre
mestre o nosso pezar.
Saudosamente,

Deusimar Bezerro, Chaves, Presidente

RÁDIO ARARIPE S. A.
NOTA: -

A Direção da Rádio Araripe S. A ., comungando com a tristeza do


povo do Crato, pelo desaparecimento do Professor José Alves de Figueiredo
Filho, amigo do Crato e desta Emissora, apresenta á fam ília do extinto,
as suas condolências e faz-uma programação especial para o dia de hoje.
Crato, 29 de Agosto de 1973.
Eloi Teles de Morais, Diretor

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO CARIRI

NOTA OFICIAL

0 IN STITU TO DE ENSINO SUPERIOR DO C A R IR I, vem associar-se


ao pezar da comunidade cratense, no momento em que a morte arrebata
da vida, o seu ilustre vice-Presidente Dr. José de Figueiredo Filho, figura
de real destaque de nossa terra, além de notável escritor, professor e jor­
nalista.
O Crato e o C ariri, com o falecimento do Dr. Figueiredo Filho, per­
dem um valoroso cratense, culto e bravo defensor de sua terra e de sua
gente.
Crato, 29 de Agosto de 1973

D. Vicente de Paulo Araújo Matos, Presidente


25'
CRATO TENIS CLUBE
NOTA DE FALECIM ENTO

O Conselho Superior de Recursos, órgão dirigente, A Diretoria, órgão


executivo, e o quadro social, do Crato Tenis Clube, sentem-se no dever
de externar a imensa dor pela pêrda irreparável que o Crato acaba de
sofrer, com o desaparecimento do professor J. de Figueiredo Filho.
A figura nacional do escritor, jornalista e historiador, projetou bem
longe o nome de nossa terra, enchendo-a de esplendor e de prestígio.
O seu devotamento á causa do progresso social de nossa comunidade
está retratado na obra imperecível que a imprensa e a literatura docu­
mentam, sempre com a única finalidade de servir a esta terra e engran­
decer o seu povo.
0 seu infausto desaparecimento cobre de luto, e de dor a família
cratense, razão pela qual nos associamos, pesarosamente, á fam ília enlu-
tada, e rogamos a Deus que o receba no regaço dos filhos eleitos.
Dr. Jósio de Alencar Araripe, Presidente

CONJUNTO FOLCLÓRICO "ITAYTERA"

NOTA DE PESAR

O Conjunto Folclórico "Itaytera", que congrega a totalidade dos


Grupos Folclóricos do município de Crato, sente-se no dever de externar
seu mais profundo pesar, pelo desaparecimento do inolvidável Prof. José
de Figueiredo Filho, sem favor a maior expressão da cultura cratense, nas
últimas décadas.
Individualidade marcante, no terreno das letras, Figueiredo Filho ele­
vou às alturas o nome do Crato, que perde, com seu passamento, a maior
e mais autêntica figura de intelectual, de seu berço, glória de sua ge­
ração,
Cratense amorosíssimo, toda sua vida foi norteada no sentido da ele­
vação cultural do Crato. Sua obra, vastíssima, é atestado eloquente da­
quele que, mui merecidamente, soube conquistar, para sua gleba, os mais
gloriosos louros, no setor cultural.
Se é certo que a morte é o primeiro degráu para a imortalidade,
Figueiredo Filho, por sua obra, mereceu a imortalidade para nossas letras,
a perpetuidade de nossa cultura, com êle elevada ao seu apogeu!
Folclorista apaixonado, pesquisador incansável, o pranteado Mestre
deixa, para nós do Folclore cratense, quiçá regional, um claro impreenchí-
vel. Sua dedicação sirva-nos de estímulo e incentivo para embora imper­
feitamente, continuarmos a meritória obra por ête encetada.
À beira da sepultura do inesquecível Amigo, Guia e Orientador, todos
nós, que defendemos o patrimônio do nosso Folclore, viemos depositar com
nossa sentida saudade, o mais vivo reconhecimento, pelo que, em vida, êle
fez, em prol de nossa cultura popular.
Obrigado Dr. Figueiredo ! Obrigado, grande e devotado amigo do
Folclore cqririense ! Receba a consagração, a saudade, as lágrimas dos
seus amigos do Conjunto Folclórico "Itaytera".
Crato, 30 de Agosto de 1973

Elói Teles de Morais, Pedro Teles e Francisco Aniceto


26
0 QUE PUBLICOU A IMPRENSA

SOBRE A MORTE DE

J. DE FIGUEIREDO FILHO
F IG U E IR E D O FILH O
O PESQUISADOR DO C Â R IR Í
— "Não sou filho de gronde publicou: "Engenhos de rapadura no
centro citadino, nem tão pouco fui C a riri", "Folclore do C a riri" e, f i­
transplantado, com raizes e tudo, nalmente, em 1956, "Folguedos In­
para a orla do oceano. Nasci e fantis do C ariri".
cresci ouvindo a canção nostálgica Iniciando-se pela ficção e esco­
dos tangedores de bois, montados lhendo o gênero do romance de cos­
nas almanjarras dos engenhos de tumes, J. de Figueiredo Filho já
rapadura, diverti-me com o matra- deixava bastante claro a sua natu­
quear dos cacetes no "maneiro- ral inclinação pela análise das coi­
pau", e puxei alfinim junto à ba­ sas das gentes simples — um ca­
gaceira. Só não fiz beber cachaça, minho que somente poderia desenrr
ao pé dos alambiques caririenses, bocor no estudo do folclore, como
com aquele aljofre fechado, tão ao real mente aconteceu.
gosto dos cabras e de certa gente J. de Figueiredo Filho faleceu na
mais graúda de minha terra. To­ cidade de Crato, no dia 29 de
mei banho nas nascentes e no Poço agosto. Nascido em 1904, desapa­
da Escada, de Crato. Sou impreg­ receu depois de haver completado,
nado das coisas do C ariri". no último dia 14, 69 anos de ida­
Este depoimento, este canto de de. A comunidade toda pranteou
amor à terra-berço, é o início do o filho ilustre. A municipalidade
discurso que o escritor J. de Figuei­ decretou luto oficial por três dias.
redo Filho pronunciou, em sessão — Toda a obra de Figueiredo
solene da Academia Cearense de Filho" — como assinalaria, com
Letras, quando tomou posse na ca­ muita propriedade o também aca­
deira 34, em substituição a Dolor dêmico Antônio Martins Filho —
Barreira — o inolvidável autor de "reflete o C ariri, suas aspirações e
"H ISTÓ R IA DA L IT ER A T U R A C EA ­ sofrimentos, seus dramas e suas gló­
RENSE". rias, angústias e alegrias, seus amo­
Autor de uma obra literária já res, suas cantigas, seu folclore, seus
bem alentada. J. de Figueiredo mitos, seus santos, seus heróis; sua
Filho iniciou-se no mundo das le­ história, seu povo".
tras com a publicação de "Renova­ Pesquisador solitário, comprome­
ção", um romance que versava so­ tido com. o meio e copr a cidade
bre o drama seeularmente repetido que tanto amou, procedeu uma in­
das grandes estiagens, fundamenta­ tensa investigação de suas origens,
do nos problemas sociais e_humanos do seu passado e de sua vocação,
que afligem o homem nordestino. realizando uma obra autêntica e de
Em 1948 veio à lume "Meu profundo sentido humano e social.
Mundo é uma Farm ácia", livro con­ Formado pela antiga Faculdade
siderado como a sua melhor cria­ de Farmácia, além de escritor e jor­
ção, principalmente pelo que repre­ nalista de nomeada, professor uni­
senta como depoimento e como do­ versitário e presidente do Instituto
cumentário de uma época, de uma Cultural do C ariri, era colaborador
cidade, dos seus usos, costumes e efetivo do nosso jornal.
tradições.
Seguidamente, J. de Figueire’do "Gazeta de Notícias" - 2 .9 .7 3
28
FA LE C E U ONTEM NO CRATO
J. D E F I G U E I R E D O F I L H O
As mais diferentes forças vivas nicipal do Crato, com as emissoras
da sociedade crafense foram abala­ de rádio suspendendo a sua progra­
das às primeiras horas da tarde de mação normal para tocar sòmente
ontem com o falecimento de J. de músicas fúnebres. O seu enterro
Figueiredo Filho, 69 anos de idade, deve ser, ainda hoje, com grande
uma das mais ilustres figuras do acompanhamento da maioria dos
mundo sócio-econôrhico do Crato, habitantes do Crato, onde_J. de Fi­
em especial nos meios culturais, de gueiredo Filho gozava da mais pro­
onde começou a galgar com brilhan­ funda estima de quantos conheciam
tismo os postos mais invejáveis da os seus trabalhos e o seu compor­
vida literária do Estado. tamento como defensor intransigente
J. de Figueiredo Filho — que dei­ dos interesses de sua terra natal.
xou Zuleica Pequeno de Figueiredo "Tribuna do C eará" — 30-8-73
viuva com os filhos Cauby Pequeno
de Figueiredo e Eneida de Figueire­
do Araripe — casados, respectiva­
mente, com M aria Regina Costa CAMPOS SALES
Carvalho e Jósio de Alencar A ra ­
ripe além de pertencer a Academia O desaparecimento do Acadêm i­
Cearense de Letras, ocupando a ca­ co Professor Dr. J. de Figueiredo
deira 34, era presidente do Instituto Filho, fundador e Presidente do Ins­
Cultural do C ariri, professor da Fa­ tituto Cultural do C ariri membro da
culdade de Filosofia do Crato, vice Academia Cearense de Letras, da
presidente do Instituto de Ensino Associação Cearense de Imprensa e
Superior do C ariri, membro do Con­ da Associação Cearense de Jorna­
selho Cearense de Campanha de listas do Interior, autor de vários
Defesa do Folclore, membro da di­ livros, sendo um estudioso das coi­
retoria da Associação dos Professo­ sas e fatos do C ariri ocorrido em
res de História, diretor da revista Crato - Ce., no final do mês tran­
Itaytera, órgão oficial do Instituto sato, repercutiu em nossa cidade,
do C a riri/ patrono da Presença do tendo sido muito lamentado pelo
Folclore do Rio. nosso povo, especialmente por quan­
J. de Figueiredo Filho que divul­ tos tiveram o prazer de conhecê-lo
gou várias obras da mais alta sig­ pessoalmente.
nificação cultural — entre os quais Admirador de Campos Sales, aqui
"M eu Mundo é uma Farm ácia", esteve, em maio de 1962, chefiando
"H istória do C a riri" — colaborou uma caravanq do I. C. C ., quando
durante muitos anos na Tmprensa aquele sodalício cratense, por ini­
local, chegando a escrever o seu ciativa sua, reverenciou a memória
último artigo no dia X2 do corren­ de Barbara de Alencar, colocando
te que Tribuna do Cécfrá publicará, uma lousa no local onde a Heroína
sábado próximo, em sua página li­ de 1817 se acha sepultada.
terária. No Ginásio de Campos Sales, o
A sociedade cratense ficou aba­ intelectual cratense proferiu discurso
lada, motivando, em imediato, Tufo sobre aquela que ele considerava
oficial, decretado pelo Prefeito M u­ "um dos vultos femininos mais im-
29
MORREU O ESCRITOR
J . DE F IG U E IR E D O FILH O
Causou o mais profundo pesar na dente na Guanabara, casado com a
cidade do Crato o falecimento, às Sra. M aria Regina Costa Carvalho
13h45min de ontem, do escritor J. Figueiredo.
de Figueiredo Filho, que há cinco J. de Figueiredo Filho èra mem­
dias estava internado na Casa de bro de Academia Cearense de Le­
Saúde São Raimundo, naquele mu­ tras desde 11 de março de 1968.
nicípio, com problemas de duodeno Ocupava a cadeira N. 34, que va­
e de insuficiência renal. O conhe­ gou em decorrência do falecimento
cido e laureado escritor e articulista de Dolor Barreira. Pertencia, tam­
será sepultado no cemitério do C ra­ bém, ao Instituto Cultural do Ca-
to, sua cidade berço, hoje, às 16 riri, e a inúmeras instituições artís­
horas. ticas e literáras do Crato, de For­
Uma emissora de Fortaleza, que taleza e de outros Estados.
penetra bem em todo o C ariri( di­ Farmacêutico antigo, Figueiredo
vulgou, às 12 horas, o passamento começou a escrever desde moço.
de J. de Figueiredo Filho, quando Entretanto, somente em 1941, sob
ele ainda vivia. Muita gente che­ os auspícios da Livraria Odeon, de
gou ao hospital na suposição de São Paulo, publicou seu primeiro
que o escritor já era cadáver, en­ livro, o romance "Renovação", ba­
quanto que ele resistiu por mais seando-se em sua experiência de
duas horas em balão de oxigênio. ficcionista. Anos depois, era edita­
do "Meu Mundo é uma Farm ácia",
ESCRITO R E PROFESSOR livro no qual narrou suas aventuras
e desventuras no exercício de sua
José Alves de Figueiredo Filho atividade profissional.
nasceu em 1904. Havia completa­ Figueiredo Filho conta com mais
do 69 anos de idade no último dia de uma dezena de livros publica­
14, sendo pouco depois levado ao dos e centenas de crônicas, comen­
hospital, onde foram vãos os recur­ tários e artigos publicados, não só
sos da medicina para salvá-lo. Do na sua revista "Itaytera" e no jor­
consórcio com a Sra. Zuleica Pe­ nal " A Ação", do Crato, mas em
queno de Figueiredo, deixa os se­ todos os periódicos de Fortaleza,
guintes filhos: Eneida de Figueiredo inclusive O POVO, enfocando sem­
Araripe, casada com o advogado pre assuntos relacionados com as
Jósio de Alencar Araripe, residente atividades econômicas e culturais da
no Crqto, e Caubi Pequeno de Fi­ região do Cariri.
gueiredo, engenheiro químico, resi- Como professor a sua atuação
vem de longe, tendo lecionado na
pressionantes que já medraram em Faculdade de Filosofia do Crato, no
terras nordestinas". Associamo-nos Colégio Diocesano e Colégio Santa
ao sentimento de pesar do povo Teresa.
cratense, pela perda de tão ilustre Figura querida e respeitadíssima,
personalidade, honra e glória das Figueiredo Filho foi uma legenda
letras cearenses. de trabalho, dedicação às letras e
JOSÉ ITA M A R M ORAIS amor à terra.
Correio do Ceará 8 .9 .7 3 . "O P O V O " — 30 - 08 - 73
30
Maranguape celebra Missa
pela alma de I. de Figueiredo Filho
Maranguape — (Pedro Gomes de Era professor da Faculdade de
Matos) — Terça-feira última, foi Filosofia do Crato, e exerceu por
celebrada na Igreja de Maranguape, largos anos a profissão de farma
missa pela alma do escritor cea­ ceutico, atividade que fixou no li­
rense J. de Figueiredo Filho. vro "M eu Mundo é uma Farm ácia".
0 extinto era membro da Acade­ A missa em intenção de Figuei­
mia Cearense de Letras e fundador redo Filho foi oficadq. por Mons.
da revista Itaytera. Deixa 10 vo­ Mauro Herbster e tevê regular as­
lumes publicados dentre os quais sistência.
"Engenhos de Rapadura do C ariri". "O POVO", 2 5 .9 .7 3 .

Cariri perdeu sua grande voa:


J. DE FIGUEIREDO FILHO
Entre as grandes perdas humanas J. de Figueiredo Filho foi de inteiro
que registramos, no Ceará, no ano devota mento á causa do C rato e do
que se acaba, uma se destaca pela C ariri, que projetou até fora do
profundidade da dor que causou, e Brasil com a atividade jornalística e
pela repercussão até nacional, tais as obras que escreveu.
as manifestações que provocou : a Fundador do Instituto Cultural do
do jornalista, escritor, historiador, Cariri e de " IT A Y T E R A " , pertenceu
professor universitário e folclorista á Academia Cearense de Letras
J. Alves de Figueiredo Filho, Presi­ (Cadeira 34) e a diversas institui­
dente do Instituto Cultural do C a­ ções culturais e científicas do país.
riri. Uma grande perda.
Não se pode negar que durante a
sua longa vida (14.7.904-29.8.973). "R EG IÃ O " 2 9 .1 2 .7 3

N O T I C I Á R I O DA A C E J I
$ O Instituto Cultural do C ariri, Iho, a uma sala da Casa do Corres­
através seu Secretário Geral, acei- pondente. A aposição do nome dar-
jiano J. Lindemberg de Aquino, co­ se-á por ocasião do término da re­
municando o falecimento do seu forma e nova pintura dã Casa do
Presidente, jornalista e escritor J. de Correspondente. A uma outra saía
Alves de Figueiredo Filho, ocorrido será dada o nome do ex secretário
a 29 de agosto último, em Crato. da A C E JI, Dr. Valdemar da Silva
Em consequência a Diretoria da Pinho, também falecido.
A C E JI resolveu, por unanimidade, @ J. Lindemberg de Aquino do­
dar o nome de J. de Figueiredo Fi- ando aos arquivos da A C E JI o Li-
31
Desaparecimento de Figueiredo Filho
Eníuta o Ceará
Nem só o Crato e o Cariri estão amor e devotamento, se imolou à
de luto. própria terra, dando tudo que o seu
O Ceará e o Nordeste também. amor luminoso espírito possuia, a
Cessou de viver aquele que era inteligência e o fascínio de sua per­
a luminosidade da inteligência, o sonalidade exuberante e vivaz, a
vulto de escol de nossa literatura, o serviço da boa causa.
cantor de nossas causas, intérprete Com J. de Figueiredo Filho mor­
fiel de nossa região, defensor acér- re o homem. Mas fica a ideia,
rimo de nossa zona. fruto abençoado de sua liderança
Cessou de viver J. de Figueiredo literária, a obra imorredoura que
Filho. ele soube construir nos seus escri­
Cessou de viver o combatente do tos.
bom combate, após 55 anos de lu­ A homenagem de profundo pesar
tas contínuas, em que só soube en­ desta página semanal, dedicada ao
grandecer, só soube dignificar, só C ariri, Cariri que ele tanto amou e
soube projetar o Cariri e o Ceará, tanto enalteceu.
na literatura brasileira.
Cessou de viver aquele que, por "A Q U I, C A R IR I" - O Povo 1.9.73

Faleceu no Crato o Farmacêutico


José Alves de Figueiredo Filho
Internado há dias na Casa de tre outros, na Faculdade de Filoso­
Saúde S. Raimundo, veio a falecer, fia do Crato, no Colégio Diocesano,
aos 69 anos, na cidade do Crato no Colégio Santa Teresa, etc., e a
no dia 29 de agosto, o farm acêuti­ de laureado escritor e articulista.
co José Alves de Figueiredo Filho, Dentre suas obras literárias des­
figura por demais benquista e res­ tacam-se o romance "Renovação" e
peitada não só naquele município o mais recentemente editado "M eu
cearense como também em todo o Mundo é uma Farm ácia", narrati­
Estado. vas de sua vida, aventuras e des­
Veterano profissional da farm á­ venturas na atividade profissional
cia aliava a essa atividade que de farmacêutico. Membro da A ca­
sempre exerceu com carinho, hu­ demia Cearense de Letras e de vá­
manidade e espírito de compreen­ rias instituições artísticas e literá­
são, o magistério com atuação, en- rias dos diversos Estados, deixa José
Alves de Figueiredo Filho uma ver­
dadeira lacuna e permanente sau­
vro de Inscrições do l .° Congresso dade em todos quantos com ele ti­
de Jornalistas do Interior, realizado veram a ventura de conviver.
no Crato. " A G A Z E T A DE FA R M Á C IA " —
"Correio do C eará", 1 0 .1 0 .7 1 . Guanabara — Agosto de 1973.
32
faleceu no Ceará
Faleceu a 29 de Agosto último, dente em São Paulo e a Professora
no Crato, Ceará, o Escritor José A l­ Eneida de Figueiredo Araripe, casa­
ves de Figueiredo Filho, Presidente da com o advogado Jósio de A len ­
do Instituto Cultural do C ariri e car Araripe.
Professor da Faculdade de Flosofia Conhecido estudioso do folclore
daquela cidade. era aquele ilustre homem de letras
O extinto, nascido em Crato a 14 autor dos ensaio$ "EN G EN H O S DE
de julho de 1904, deixa viuva a R A PA D U R A NO C A R IR I" , "F O L ­
senhora Zuleika Pequeno de Figuei­ CLO RE NO C A R IR I" , "FO LGUEDO S
redo e dois filhos: o Farmacêutico IN F A N T IS C A R IR IE N S E S ", tendo
Cauby Pequeno de Figueiredo, resi- publicado ainda, o romance "R E -
G E N E R A C Ã " e os livros "C ID A D E
DO C R A T O " e a "H IS T Ó R IA DO
C A R IR I" , este último em quatro
volumes, além das suas memórias a
que deu o sugestivo nome de "M EU
Para os filhos do C ariri, e tam ­ M UNDO É U M A F A R M Á C IA ".
bém para os que estão presos ao
facínio, o desaparecimento de J. "O N O R T E ", J. Pessoa, 6 .9 .7 3
de Figueiredo Filho da roda dos
vivos deixou a todos consternados.
Espírito brilhante, escritor e jorna­
lista de muita ilustração, J. de Fi­
gueiredo Filho vinha sendo, de há
muitos anos, a voz mais autorizada, Perdeu o C ariri, com a morte de
porque mais autêntica, o Crato que José de Figueiredo Filho (69 anos),
ele tanto amou e a que tanto ser­ um de seus intelectuais de m.ais
viu, a voz da região do C ariri, sem­ destaque. Um homem dotado de
pre vibrante, sempre altiva, sempre muito conhecimento de sua região
exata quando era preciso defender e de sua gente, com grande acervo
uma reivindicação, da terra e da de trabalhos publicados. Era o
sua gente. Pois o C ariri perdeu a príncipe dos intelectuais caririenses
sua voz. O C ariri emudeceu, pelo da atualidade, que nunca emigrou,
menos até que o exemplo de J. de sem demérito para outros que exis­
Figueiredo Filho se manifeste em tem.
alguém que tenha aprendido com
ela a lutar pelo Crato, a lutar pelo "Correio do C e a rá ", 3 1 .8 .1 9 7 3
C ariri de tanta história e de mui­
tos heróis. Dom Camilo conheceu
Figueiredo Filho, no Crato, quando do de Figueiredo Filho os frutos de
a juventude nos enchia a cabeça frutos de sua indormida atuação no
de ideais e o coração de esperanças. Instituto Cultural do C ariri e na
Depois nos encontramos na impren­ revista "Ita y te ra ". Com o faleci­
sa, este colunista como redator de mento de J . de Figueiredo Filho,
Gazeta de N otícias, nos tempos de não só o Crato, mas também o
Drumond, e J . de Figueiredo Filho C eará, perde um grande filho. Sen­
como colaborador dos m ais brilhan­ timos pesames à enlutada fam ília.
tes. Por fim , através de comum
amigo General Raimundo Teles Pi­ "C O LU N A DE DOM C A M ILO "
nheiro, Dom Camilo estava receben- "Trib un a do Ceará, 3 1 .8 .7 3 .
33
Morreu o Escritor J. Figueiredo Filho
O trespasse do escritor J. de Fi­ pelos que trabalham a favor do
gueiredo Filho repercutiu de manei­ aprimoramento da inteligência".
ra dolorosa entre todas as camadas Este depoimento do Escritor Edu­
sociais destacando-se na intelectua­ ardo Campos, por si só traduz per-
lidade fortalezense, onde o extinto feitomente o pensamento de todos
desfrutava de muito conceito como os intelectuais cearenses, que sem­
homem de letras atuante em todos pre tiveram em J. de Figueiredo Fi­
os jornais desta capital e um dos lho um dos seus melhores compa­
dirigentes da revista "1 T A Y T E R A ", nheiros, criatura humana de virtu­
órgão da intelectualidade do Crato. des acrisoladas, amigo sincero, ho­
A reportagem procurou ouvir vá­ mem que sempre soubé honrar as
rias figuras do mundo das letras letras destacando-se como vulto de
cearenses, tendo obtido do escritor primeira grandeza da intelectuali­
Eduardo Campos, Presidente da A~ dade caririense.
cademia Cearense de Letras as se­ Com inúmeras obras publicadas,
guintes declarações — "perda irre­ era Figueiredo Filho membro da
parável e dorida que vai doer mui­ Academia Cearense de Letras ocu­
to mais para os pósteros, quando se pando a cadeira N. 34. Exerceu a
lembrarem que existiu homens de profissão de farmacêutico e desde
tamanha capacidade de trabalho muito cedo abraçou as letras em­
intelectual, e que, no C ariri, repre­ bora somente em 1941 tenha pu­
sentou sem nenhuma ofensa a ou­ blicado o seu primeiro livro "Reno­
tros ilustres da sua vida literária, e vação". Foi ainda professor da Fa­
verdadeiro pedestal da sua cultura. culdade de Filosofia do Crato e
Pranteamos nesta hora o amigo, o também no Colégio Diocesano e no
companheiro mas sobretudo o ho­ Colégio Santa Teresa.
mem de inteligência fulgurante e o O Crato chora a perda do seu
trabalho inecedível que ficará na ente querido a quem se associam os
lembrança daqueles que trazem no Diário Associados do Ceará.
seu sentimento uma gratidão eterna "CORREIO D O CEARÁ" - 1973

Falecimento de José Figueiredo Filho


ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS "Itaytera", em que deixou preciosos
(SESSÃO DE 1 8 .1 0 .7 3 ) estudos de sua especialidade- Pe­
O acadêmico eleito senhor W al- dia ficassem registradas nos anais
demar Pequeno deu à Casa conhe­ na Casa palavra de admiração e de
cimento de que havia falecido, há saudade pela figura desaparecida.
dias, o senhor José Figueiredo Fi­ O acadêmico Aires da Mata M a­
lho, intelectual brilhante e profun­ chado Filho, imediatamente, solida­
do conhecedor do folclore nacional, rizou-se com as palavras de seu
fundador do conhecido Instituto colega Waldemar Pequeno, afir­
Cultural do Cariri. Além dos ser­ mando que o saudoso cearense foi
viços que prestou à cultura brasi­ em verdade, um apaixonado pes­
leira, através de investigações con­ quisador dos folclore nacional, ten­
duzidas com o rigor e a compe­ do legado à cultura nacional bri­
tência dos verdadeiros analistas em lhantes estudos.
matéria folclórica, fundou a revista "Diário de M inas", 2 1 .1 1 .7 3 .
34
JUVENTUDE D ESPED E-SE DE

J. DE FIGUEIREDO FILHO

Crônica do Departamento Cultural do

Interact Clube, de autoria de Leonilda

Lima, lida nas emissoras locais


L E O N I L D A L I M A

M il novecentos e quatro. . . A A atividade foi o vosso lem a. . .


sorte em todos os sentidos benfaze- Sessenta e nove anos de luta, de
jos reveste o Crato, trazendo às pla­ colaboração a uma comunidade/ de
gas caririenses o brilho de uma es­ vitórias, de frutos esplêndidos que
trela que nasce e culminou na his­ vos eternizaram na m archa do tem­
tória da cultura e da bondade/ José po e na história de um contexto na­
Alves de Figueiredo Filho. cio n a l. . . P a r t is t e s ... Tão lépido
como a inefabilidade de vossa alm a
Com o vosso nascimento, oh !
que a simplicidade dos vossos atos
Baluarte de uma nação inteira, o
a tornou isenta de m á c u la ... 0
Crato, o C eará, o Nordeste, o Bra­
tanger dos sinos ecoa em nossos
sil, mereceram parabéns. ouvidos, solenemente, tristemente,
Pois viestes ao mundo com uma expressando a profunda dor ocasio­
missão a cumprir. E como a cum ­ nada pela perda de um ilustre e o
pristes bém. . . Por vós e por mui­ vácuo impreenchível nos corações
tos. . . dos cratenses que vos choram . . .

. Naqueles tempos dizia Eça de J. de Figueiredo Filho, as lágri­


Queirós : 0 homem dá prova de ser mas que jorram dos olhos dos cra­
verdadeiramente homem, quando tenses que arquivaram vossa ima­
planta uma árvore, escreve um li­ gem, regam o vosso túmulo, o tú­
vro e é pai. E vós, oh ! ídolo do mulo que se fechou sob a cadência
saber, com quão desempenho não do hino do Crato, que vós- tanto
os fizestes ? Benditos sejam os vos­ am astes. . .
sos livros que nos enchem as mãos,
Nossas vozes, elevam-se num só
enriquecem o espírito e deixam a
coro de gratidão proclamando :
gente pensar naquele que revive a
obrigado, J . de Figueiredo Filho, por
cada momento na memória de to­
todo a vossa vida, que foi uma
dos . . . A árvore que plantastes,
completa doação aos semelhantes.
jam ais se desgastará com o tempo
e no espaço, pois foi a árvore do Partistes, incomparável cratense,
bem, da coragem, do saber, da mas a vossa idéia ficou conosco,
bondade, da idéia, que serão trip li­ continuando o bem que im aginas­
cadas na vida dos vossos filhos, te s. . .
conterrâneos e admiradores eternos
de nome que fez marco perpétuo
com letras de imortal saudade na Crônica do Departamento Cultu­
história de uma humanidade intei­ ral do "IN T E R A C T C LU B ", lida nas
ra : J . de Figueiredo Flho. Emissoras locais.
36
0 MUNDO INTELECTUAL

DEPLORA O FALECIMENTO DE

J. DE FIGUEIREDO FILHO
R I B E I R O R A M O S

Meu Adeus a José de Figueiredo


Tenho diante dos olhos, no mo­ Dr. Pedro Veríssimo, paraninfo da
mento em que escrevo estas linhas, turma de Odontologia. Nesta são
um velho quadro de formatura, meio concludentes : Raimunda Bastos Ge-
roído pelas traças já desbotado pela bu (oradora) Alberto Milfõnt e J.
ação destruidora do tempo. Minha Furtado de Freitas.
filha, Tereza, retirou-o de um quar­ São formacolandos : Luiz de Cas­
to de depósito, onde ficara guarda­ tro Fraga, Humberto Queiroz, Júlia
do desde que nos mudámos para a Moésia, João Ribeiro Ramos, Ornar
casa nova, à espera de uma res­ Barnardes da Silva, Antônio Felix
tauração que tardava, à mingua de de Carvalho, Rosalvo Galvão, Luiz
tempo e de ocasião oportuna. Bezerra, J. B. de Siqueira Cavalcan­
O quadro é da Faculdade de Far­ te, Nilo Rolim, Vicente Leite, M a­
mácia (ali escrito com PH) e Odon­ ria José Sampaio, Francisco C. Roiz
tologia do Ceará, e foi confecciona­ de Sanna, Maria Emilia Barros, José
do pela Foto W alter, a 19.12.1925, Alves de Figueiredo Filho (orador) e
e apresenta o Diretor da Faculdade, Julieta Cavalcante — dezesseis ao
os paraninfos e homenageados, e os todo e a maior turma até então sai-
concludentes das turmas de farma- da da Escola.
colandos e odontolandos, dezesseis e Rosalvo era paraibano e Antônio
três respectivamente. Felix de Carvalho piauiense. A
Separando as turmas de conclu­ Raimunda Genú, tratada por todos
dentes, um pouco à direita, aparece nós por Cotita, era paraense, de
uma sin g ular. alegoria : robusta e Belém, mas todos, da Farmácia e da
bela figura de mulher tendo à dex- Odontologia, éramos irmãos. Ir­
tra uma espada rutilante, e à sinis­ mãos nos ideais sonhados, imãos
tra um' escudo onde está escrito : nos sentimentos da mais pura ami­
"Pela Pátria, Pela Humanidade". zade, e irmãos nas horas de alegria
Aos pés da deusa, que representa á e nas horas de tristeza, éramos,
SAUDE, fugindo, em atitude de ter­ enfim, uma verdadeira fraternidade.
ror, a figura esquaTida da Morte Recordo, neste instante, vivamen­
arrastando a sua foice. te, o alvoroço que tomou conta e
"Potius mori quan fuedari", é a nós e a intensa alegria que nos sa­
divisa dos jovens formacolandos, en­ cudiu, almas e corações jovens, no
quanto que os odontolandos man­ dia da formatura — 20 de dezem­
daram escrever: "A d servos ser- bro de 1925 — em solenidade rea­
vandos". lizada no salão nobre da Faculdade,
Olho isso tudo e sinto o coração já então em prédio próprio, ali, à
apertado pela saudade, enquanto rua Barão do Rio Branco, no quar­
uma lágrima sentida me turva a teirão entre as ruas Pedro Pereira e
visão. É com dificuldade que vou Pedro I, e que fora adquirido gra­
lendo os nomes ali escritos : Dr. ças aos esforços do nosso diretor,
Raimundo Gomes, diretor, Dr. Rai­ Dr. Raimundo Gomes, homem seve­
mundo Arruda, Dr. José de Morais ro mas muito amigo dos alunos e
Studart, Dr. Raimundo Bezerra, ho­ um devotadíssimo amigo da Facul­
menageados, Dr. Amadeu Furtado, dade.
paraninfo da turma de Farmácia, Naquele momento cada um de
38
nós era a própria imagem da Feli­ sé Alves de Figueiredo Filho, lá na
cidade, e tudo era alegria e ventu­ sua cidade amada, Crato, vítim a de
ra em nossos corações, e. sentimen­ uma parada cardíaca. E tinha que
tos que transbordavam da concha ser uma moléstia cardíaca a causa
nacarada das nossas almas juvenis da morte de Figueiredo Filho, já que
para tocar os nossos parentes am i­ ela amara demais a terra em que
gos íntimos e convidados especiais nasceu. Durante setenta e três
ali presentes. anos de sua grande vida o seu co­
José Figueiredo Filho foi o ora­ ração bateu pelo Crato, por sua
dor da nossa turma, escolhido que gente e pelas gentes e terras do
fora por unanimidade, em virtude C ariri.
mesmo de ser o primeiro dentre nós Como profissional farmacêutico,
e também o mais querido e respei­ à testa da velha Farm ácia que her­
tado, pela serenidadede seu espíri­ dara do pai ilustre e honrado boti­
to, pela justeza do seli caráter, pelo cário, Figueiredo Filho, serviu vários
equilíbrio e pela agudeza de sua anos à comunidade caririense com
inteligência. E o seu discurso foi a honorabil idade e devotamento. E,
extereotipação dessas qualidades espírito voltado às lides do Pensa­
superiores que era feliz portador. mento, fazia jornalismo sadio e
A Oração de Paraningo do Mestre construtivo. O jofnál " A A ção" era
Amadeu Furtado foi um primor de a sua grande e fecunda oficina.
arte de bem dizer — um conselho M as, fecundo e incansável, ei-lo a
paternal, uma orientação segura colaborar ativamente, na imprensa
para a vida profissional de cada um de Fortaleza, do Recife, da Bahia e
de nós, uma lição de sabedoria, de do sul do país. Uma pena brilhan­
borri senso, de amor e de fraterni­ te a serviço do Cariri e a serviço do
dade — a úítima grande aula do Ceará.
Mestre douto e querido. Aquele foi Inteligência polimorfa, Figueiredo
o nosso último encontro e, infeliz­ Filho, não podia parar aí, e então
mente, um adeus definitivo, já que fez-se Mestre. E Mestre dos mais
jam ais nos reunimos outra vez, nem devotados à cátedra. Por ela deixou
mesmo nas nossas Bodas de Prata, a Farm ácia, malgrado ser esta o
por uma dessas sigularidades do seu mundo.
Destino, que aqui e alí nos prega E foi com "M eu Mundo é uma
uma peça e amargo sabor. Farm ácia" que ele se lançou no
Como pequeninos pássaros em­ mundo das letras, fazendo-se Escri­
plumados, que deixam o ninho té­ tor. Efetivamente esse belo livro
pido e amigo, e alçam vão pelo in­ foi o primeiro de uma série bem
finito, e a lí não voltam mais, nós longa de boas obras, que lhes abri­
também nos despedimos à porta da ram, anos mais tarde, as portas da
Faculdade de Farm ácia e Odontolo­ Academia Cearense de Letras, o
gia, nas ante-vérperas daquele Na­ magnífico cenáculo que abriga os
tal do ano da graça de 1925, e par­ expoentes dentre os homens de pen­
timos para o Mundo e para a Vida, samento da terra alencarina.
cheios de sonhos e de esperanças. Fundou e presidiu os destinos do
Nenhum de nós imaginava que Instituto Cultural do C ariri, cuja
aquilo era um adeus, o adeus da revista, IT A Y T E R A , desde muitos
separação. Adeus, palavra amarga, anos, leva para outras terras e ou­
adeus, palavra triste, adeus, palavra tras gentes, as letras e a cultura
que cheira à morte. dos intelectuais do Vale.
No dia 29 desse sempre amarís- Com Figueiredo Filho desaparece,
simo mês de agosto, através da T V , creio, o maior filho do Crato, terra
tomo conhecimento da morte de Jo­ e gènté que amou desmedidamente,
39
Na sua trajetória de jornalista,
C O R R E I A C O E L H O
escritor, folclorista e aprimorador
da cultura, consagrou-se como um
guia da intelectualidade regional,
Figueiredo Filho indo projetar-se, relevantemente, nos
nos altos centros culturais do Ceará
e além fronteiras.
Até parece constituir-se uma
obrigação de cada cratense, de ca­ Há homens que se destacam pelo
seu espírito público, pela boa ma­
da pessoa que habita esta boa ter­
neira de se conduzir entre os seus
ra, deixar um pouco de lado a in-
semelhantes, pela vontade natural
troversão do seu espírito e manifes­
de servir. Figueiredo, homem de
tar o profundo e pesaroso senti­
mento que ora extravasa a alma de prodigiosa cultura literária, desde o
todos. jornalsmo ao folclore, colocou, de­
Figueiredo Filho morreu ! Desa­ votadamente, o seu talento e o seu
pareceu materialmente do nosso saber a serviço dos altos interesses
convívio. Tudo é um vazio, uma do Crato e do Cariri, fazendo a
lacuna impreenchível. Agora só re­ história, escrevendo crônicas e arti­
cordações, reminiscências, sauda­ gos sôbre os mais palpitantes assun­
des !. . . tos em proveito da Região. No
Desde muito cedo, começou a conteúdo substancioso de todos os
minha admiração por Figueiredo, e seus escritos ou trabalhos literários
a nossa amizade consolidou-se bem — esse acervo luminoso e imorre-
depressa, quando mais nos aproxi­ douro que ele legara à posteridade
mámos nos labores da Diretoria do — há sempre a sublime revelação
Instituto Cultural do Cariri. do seu acendrado amor à terra-ber-
Homem simples, muito simples, ço, com uma dedicação diferente,
de qualidades personalistas excep­ extraordinária, contagiante, que o
cionais, teve o condão de transfor­ tornara cada vez mais querido e
mar-se em figura paradigmal, para admirado por essa imensidade de
quantos o conheceram na sua mis­ gente que gosta do Crato.
são de esposo, pai-de-família, edu­ A figura física de Figueiredo de­
cador, comerciante e opóstolo ins- sapareceu e silenciou para este
titivo do bem. mundo ! Mas a sua fé e confian­
ça nos altos destinos da terra cra­
tense, nunca abaladas mesmo nas
que engrandeceu com o seu talento crises de sua marcha desenvolvi-
invejável, e que projetou e exaltou mentista, porventura havidas, have­
pela primorosa inteligência que Deus rão de traduzir-se em alento, tra­
lhe dejj. Terra e gente que cantou balho e esperança para o futuro
em prosa amena e bela, enquanto sempre promissor deste Crato que
lhe pulsou o grande e generoso co­ Figueiredo tanto enalteceu e nos
ração. ensinou a amar.
Para a esposa querida, para os E agora, quando a verdadeira
filhos e netos diletíssimos e para o imagem do Crato começa rapida­
Crato bem-amado_de José Alves de mente a se restaurar no espírito de
Figueiredo Filho, na singeleza des­ sua gente e de seus admiradores,
tas linhas, ò meu mais profuncfo com o respaldo da nova e modelar
sentimento de pesar. E para o ve­ ordem administrativa do Município,
lho colega e querido amigo que se a memória de Figueiredo haverá de
foi, o meu adeus e a minha sau­ fortalecer para todos, o trabalho, fé
dade. e confiança no progresso desta
"Correio do Ceará", 1 5 .9 .1 9 7 3 terra.
40
Fortaleza, artigo julgado ofensivo
JOSÉ NEWTON ALVES DE SOUSA
aos brios de nossa "u rb s", saiu Fi­
gueiredo Filho a campo, de pena
em riste, sua poderosa arma. Na
última campanha política do muni­
cípio, que tão negativamente" reper­
cutiu fora do Crato, tomou partido,
Terminou seus dias, lutando pelo lutou e fez lutar com envolvente
Crato e contra a morte, o professor paixão. Serenadas as borrascas, não
José Alves de Figueiredo Filho. V á ­ era homem de se ficar no ódio mes­
rias vezes esteve próximo do fim. quinho. Superava e perdoava. Era
Aos amigos, díminuia-lhe a espe­ uma de suas virtudes.
rança. No primeiro semestre de Estava pronto para fazer o pos­
1971, pensei ter chegado a sua ho­ sível e o impossível pelo Crato. Pelo
ra. Mas a alm a, vigorosa, recom- magistério, na imprensa, na palavra
punha-lhê o corpo combalido, e ei- oral, em perene e indormido com­
lo de novo, lidador serri descanso, a bate deixou uma presença que não
pugnar por um ideário que foi toda desaparecerá : sua cratensidade ina­
a razão de sua vida. As raízes cris­ movível. Seus livros, seus artigos,
tãs de sua formação lhe devolveram suas conferências, suas aulas — tu­
a segurança da Fé. O profundo te- do se orientava, naturalmente, para
lurismo de seu universo emocional a exaltação do Cariri e, de modo
fê-lo um caririense de corpo intei­ especialíssimo, para a exaltação do
ro, e um cratense de corpo e alma. Crato, lírica e épica. Os cinco vo­
Lido, horizontes intelectuais sensí­ lumes de sua "História do C a riri",
veis ao desenrolar dos acontecimen­ os livros que publicou sobre folclo­
tos próximos e remotos, era uma re, as comunicações que apresentou
cultura que se enfretecera de livros a seminários, simpósios e congressos,
e reflexões, senhora de si, caudatá- basta que os leiamos para nos con­
ria só do caboclismo, do irremediá­ vencermos de que, para o autor, era
vel e altaneiro caboclismo que tem Deus no céu e o Crato na terra.
assinalada o "homo cratensis", de Na última carta que me escreveu,
que foi perfeito exemplar. Esse ca­ notei-lhe insegura a letra e acen-
boclismo era e é a autenticidade no tualmente perpendiculares as linhas.
procedimento, a fidelidade às ori­ Um sinal que me preocupou de al­
gens e a convicção dos destinos. gum modo. Mas lá estão as notí­
Era e é uma espécie de marca na­ cias do revigoramento geral do C ra­
tiva, uma vocação do cerne geo- to, cuja história e cujos méritos
histórico do Vale do C ariri, feita de mais uma vez cantaria — estou
amor à gleba, de valorização e( até, certo — no V II Simpósio dos Pro­
supervalorização da paizagem, na fessores Universitários de História,
inteireza de seus elementos forma­ a realizar-se em Belo Horizonte, e
dores. para o qual deixou concluído um
Figueiredo Filho era um homem trabalho.
em que por vezes o emocional pre- O Instituto Cultural do Cariri
ponderava sobre o razoável, mas só foi sua paixão mais duradoira.
passageiramente. Logo voltava ao "Itaytera" valeu-lhe como feudo e
equilíbrio das atitudes costumeiras. arsenal. É um repositório que honra
Polemizava nesse clim a. Quase a cultura caririense e nordestina. É
agredia, algumas vezes. Contra o melhor monumento que natural­
Quixadá Felício que, por um modo mente se lhe ergueu.
um tanto "escandaloso" de amar o A dificuldade em faíãr, disfarça­
Crato publicara, na imprensa de va-lhe a opulência de uma cultura
41
costumes, da nossa gente. Levou a
G ERA LD O M ACÊD O LO BO
todos os recantos da nossa Pátria
o que há de bom no nosso querido
Cariri. Com o grande historiador
Figueiredo Filho Padre Gomes, pesquisou e divulgou
as origens da nossa cidade, ajudan­
do a passar-lhe a certidão de nas­
cimento. Com ele, seguiu os pas­
Está de luto o Folclore Cearense. sos do extraordinário capuchinho
As letras Cearenses estão de luto. Carlos M aria de Ferrara, nas suas
Os estudantes da nossa terra chora­ caminhadas, nos seus trabalhos des­
ram a saudade do grande Professor. de a Organização da Missão do M i­
O povo sentirá a falta do grande randa, à Ocara, hoje Praça da Sé,
escritor, do cronista, do jornalista nascedouro da nossa muito amada,
que elogiava, criticava, incentivava culta e estudiosa Crato. Sim ! Crato
e aplaudia nossas grandes realiza­ é uma cidade estudiosa. Tem uma
ções. Emudece a voz do maior di­ população estudantil de quase
vulgador da nossa terra, dos nossos 50% do total dos seus habitantes.
É uma cidade de estudiosos, de jo­
vens que são risonha esperança pa­
invejável, pelo conteúdo e pela atua­ ra o futuro do nosso País. E o C ra­
lidade. A Academia Cearense de to estudante chora a saudade do seu
Letras, imortalizando-o, fê-lo como grande e dedicado professor. A
se quisesse, com o público reconhe­ Academia Cearense de Letras sente
cimento cios méritos pessoais de Fi­ a falta do ocupante da Cadeira 34
gueiredo Filho, homenagear também — Orgulho da Cultura Caririense.
a cidade heróica de que era filho Como gostava do nosso Folclore !
dos mais ilustres. Foi uma home­ Os pífaros, ps caixas, os zabumbas
nagem de plena justiça, num sen­ choram a perda daquele que os pro­
tido e noutro. movia, os incentivava, os aplaudia.
Agora desaparece o grande ho­ Espírito forte e jovial em corpo
mem. Quem o substituirá no amor franzino e fraco.
à terra, no zelo pelos direitos do O Instituto Cultural do Cariri e
Crato, na trincheira invicta, no lidar a revista Itaytera deixam caír suas
sem tréguas ? doridas lágrimas pelo desapareci­
Chegou a hora de os cratenses, mento do seu Fundador, do seu Pre­
estejamos onde estivermos, craten­ sidente, do seu grande colaborador.
ses nascidos ao sopé da serra ou Do Itaytera jorram lágrimas por en­
noutras plagas, nos unirmos para tre as pedras.
dar continuidade àquilo que em vida Adeus meu dileto amigo ! Dei­
Figueiredo Filho sempre fez e, mor­ xaste um nome que é um símbolo
to, continuará a fazer, pela força de trabalho, de cultura, de amor à
pedagógica de seu exemplo : a pre­ terra natal. Um marco indestrutí­
servação da dignidade cratense, a vel cravado no solo Caririense. Tua
defesa do patrimônio histórico e lembrança será honra e glória de
cultural de nossa terra, a honra e nossas letras. O povo soube reco­
a glória de nossa brava e amada nhecer teu valor. Se te fosse dado
Vila Real do Crato que, sufocada observar a multidão que te foi levar
embora por tentáculos ambiciosos, o último Adeus, certamente excla­
tem fôlego de sete gatos e virtude marias : Deus ! Santo Deus ! Como
para renascer das próprias cinzas. é bom ser bom '•

"O POVO", 8 .9 .7 3 . "A AÇÃO", 1 5 .9 .7 3 .


42
J OARYVAR. MA C Ê D O

0 PODER DE ADAPTAÇÃO DO
Dr. JOSÉ DE FIGUEIREDO FILHO
( HOMENAGEM NO NONAGÉSIMO DIA DE SEU TRESPASSE )

Merecedor de admiração pelas bre remédios e doenças, pedindo-


múltiplas facetas de sua personali­ lhe orientação em tratamento, etc.
dade, pasmava, no Dr. José de Fi­ Tive não poucas oportunidades de
gueiredo Filho, o poder de adapta­ observá-lo nesse atender aos desva-
ção. lidos.
Vida inteiramente voltada à cul­ O escritor de renome nacional,
tura, inserido no mundo dos livros, de projeção indiscutível, pertencen­
lendo e escrevendo, em contato per­ do a grande quantidade de socieda­
manente com pessoas do mais ele­ des culturais, desempenhando fun­
vado quilate intelectual, sabia ele, ções de relevo, como as de Presi­
com a mesma simplicidade, adap­ dente do Instituto Cultural do CãrT-
tar-se a qualquer elemento de ínfi­ ri, Vice-Diretor da Faculdade de
ma condição social. Filosofia do Crato, Vice-Presidente
do Instituto de Ensino Superior do
O homem que participava, ativa­ C ariri, Membro do Conselho Cea­
mente, de simpósios, seminários, rense da Campanha de Defesa do
congressos, etc., mantendo relações Folclore e da Diretoria da Associa­
com expoentes das letras do País, ção Brasileira dos Professores de
conversava com a pessoa rude, dan­ História, entre outras, detentor de
do-lhe a devida atenção. vasto saber, titular de uma cadei­
Solicitado por pesquisadores e ra na Academia Cearense de Letras,
estudiosos, em sua própria casa — dono, portanto, de um pedestal,
sede do Instituto Cultural do Ca- construído à custa de esforço e he­
riri — , a todos atendia com uma roísmo, jamais a ele se apegou.
prestimosidade invulgar. Usando de E o mesmo elan com que profe­
idêntica presteza, ouvia ao caboclo riu discurso de saudação ao Presi­
dos pés de serra, ao pobre do bairro dente da República, impulsionava-o
cratense, quando o procuravam pa­ a redigir crônicas e artigos de jor­
ra requestar sua interferência junto nal em defesa dos humildes, da
às autoridades, no sentido de resol­ gente que para muitos não é gente.
verem os problemas que os atenta­
vam. Prontamente se fazia o por­ Admirável por muitos títulos e
ta-voz dos desgraçados. auréolas, o foi também o Dr. José
de Figueiredo Filho por seu mara­
. Farmacêutico que era, muitas ve­ vilhoso poder de adaptação.
zes os desprotegidos da sorte iam-
Ihe ao encontro, consultando-o so­ " A A Ç Ã O ", 1 .1 2 .7 3 .
43
S O U S A M E N E Z E S

FIGUEIREDO FILHO
O Cariri ainda não se refez do Em toda a sua obra de escritor,
pesar com o desaparecimento de há destes rasgos de generosidade
Figueiredo Filho. Ô desaparecimen­ para com o próximo e sobretudo
to físico/ esclareça-se. Porque o para o próximo mais próximo dele
espiritual, este não aconteceu, nem — o Cariri que tanto amava.
acontecerá. Figueiredo Filho, inte­ De minhas visitas ao seu lar,
ligência lúcida, fulgurante, esplen­ guardo comigo, reverentemente,
dorosa em tantos escritos que o re­ preciosas recordações. Todas as
velaram um dos polígrafos mais vezes que conversavamos era como
fluentes e mais amantes do C ariri, se eu estivesse em comunhão com
este Figueiredo Filho não desapare­ todo o C ariri, nele personalizado.
ceu. Não desapareceu tampouco o Aprendi a admirá-lo desde minha
Figueiredo Filho bom esposo, bom juventude, quando lhe lia os traba­
pai, bom amigo, coração sempre ge­ lhos com que se iniciava na carrei­
nerosamente aberto para a corres­ ra das letras, entre os anos de 1920
pondência plena das afeições pro­ a 1930. Conhecia-lhe, de há mui­
fundas. 0 espírito, sobretudo quan­ to, o talento intelectual e admira­
do assim tão dotado de excelências, va-lhe, sobremodo, a particular de­
não desaparece nunca. Ao contrá­ dicação com que sempre se ocupa­
rio, de tanto espargir luz em torno, va das coisas do Cariri.
de tanto frutificar ensinamentos e Mas outra coisa era falar com
arrumá-los em copiosa bagagem li­ ele, sentir-lhe a vibração íntima, o
terária onde e sempre se vê e se calor com que se reportava _a epi­
sente, nítido e tocante, o amor à sódios passados da vida caririense,
terra-berço, desafia os tempos, lem­ à história deste abençoado Vale,
brado sempre que será, respeitado que ele tanto conhecia e tão sobe­
que será pelas gerações porvindou- ranamente, amando a terra fértil e
ras. dadivosa, os seus exponenciais hu­
Minha amizade com Figueiredo manos, a gente humilde. Jam ais vi
Filho, a mais íntima, mais acon­ a um homem querer tanto bem à
chegante, datava de pouco tempo. sua terra como ele. E não era só
Sempre quando ia a Crato, e por ao Crato, a sua cidade berço. Tive
último a serviço desta página do vários ensejos de notar-lhe a di­
"O POVO", procurava-lhe o lar, mensão cósmica com que abordava
onde ele e Da. Zuleika, sua genti- assuntos jatuais de toda a gleba do
líssima esposa, sempre me recebiam pé da serra do Araripe. Para ele
afetuosamente. Creio haver sido esta terra era um só, una, indivisa,
um de seus últimos trabalhos, por sendo meros acidentes os divisores
sinal pubficado nesta página, aque­ geográficos. E sonhava grandezas
le em que se refere a um moço de para o vale todo. O Cariri de todos
Assaré, privado da visão, a quem fortalecido por todos. Desapareci­
dedica mensagem estimuladora, de das as arestas do tribalismo insipi­
confiança no futuro, por se tratar ente, porventura ainda existentes,
de um rapaz que apesar de cego de sabor bairrista. A união coman­
revelara-lhe extraordinário amor à dando os interesses num prolonga­
vida, habilitações para superar sua mento intenso e extenso de rela­
própria deficiência física. ções amigas visualizando sempre o
44
A N T Ô N I O B E Ü R E D O temporâneos, constituíam verdadei­
ras orações de sapiência e corriam
a escutá-las todos aqueles que ad­
miravam as suas qualidades de
Ponto de V ista mestre. Ouvi-lo, nessas preleções,
era um prazer. Escritor de reno­
Penosíssimo dever, a que não me me, Presidente do Instituto Cultu­
podia fugir de falar neste doloroso ral do C ariri, Vice-Diretor da Fa­
transe em que o Crato se abalou e culdade de Filosofia do Crato,
hoje chora sentindo profundamente Membro da Academia Cearense de
a perda irreparável do grande es­ Letras, criador e editor da Revista
critor, J. de Figueiredo Filho. Sua "Itaytera" hoje em maior evidência,
disciplina era exemplo para os seus com admiração e aceitação em to­
patrícios, amigos e só fazia o bem do o Brasil e até no exterior, e ou­
a todos. É a ele que, nesta hora, tros livros.
prestamos mais uma homenagem ao Sua vida era uma labuta conti­
seu perfil de grande morto. Entra nua, uma luta sem fim — Era sin­
agora no destino a que ninguém po­ cero, honesto e bom para com to­
de fugir. Mas, com a morte não se dos, mas não sabia o que fosse
apaga o luminoso clarão que foi a bajulação, nem era capaz de cur­
sua vida, cheia de virtudes cívicas. var a espinha para fazer as mesu-
Pelo contrário, a sua memória sub­ ras de que muitos são especialistas
sistirá, cultuada e reverenciada por na presença de maiores chefes. . .
todos que conheceram a sua figura. J. de Figueiredo valia tudo pela sua
Era J . de Figueiredo, Escritor, independência e espírito elevado,
Jornalista e foi Professor em diver­ que o era. Ele foi "um extraordi­
sos Colégios e Faculdades do Crato. nário sincero, destes, cuja conduta,
As suas aulas de Hitória e Ciências, para os quais a mentira não ofere­
conforme afirm ativas de seus con- ce gosto". O seu prisma não era
o comum, e por isso que a preocu­
pação de sua personalidade foi a
bem-estar geral de toda a comuni­ origem da sua rigidez mas era ce­
dade caririense. dida pelo direito e retidão das coi­
Sim, desaparece a presença física sas.
de Figueiredo Filho do círculo tão Depareceu J. de Figueiredo, mas
bem ornado de seus fam iliares, am i­ a morte que tranquiliza e acalm a,
gos, admiradores. Perde o Ceará é a única parceira neste longo jo­
um de seus filhos mais ilustres, por go, que o homem tem de ceder ao
haver cessado com ele o orador seu capricho. Enquanto cerravam as
combativo na defesa dos interesses cortinas, do templo, e deu-se a oclu-
desta região, por não mais poder a são das pálpebras do Escritor, o
sua infatigável inteligência conti­ luto distendeu-se sobre o seu cor­
nuar produzindo tanta riqueza lite­ po inerte o manto da saudade, de­
rária. A perda é na verdade irre­ positando no ataúde a coroa de
parável. Glória em que ele foi eleito de
Mas fica na história cearense, no Deus. Eu com muitas saudades, e
coração do Cariri e de sua gente, reverentemente, através desta Crô­
a lembrança imorredoura de um de nica, dou o meu adeus de despedi­
seus filhos maiores e que tanto da ao grande morto, a quem mui­
soube honrar, com sua cultura e to devia as suas atenções e boa
sua humanidade, a este nosso peda­ vontade para comigo. E a sua fa ­
ço de chão querido. m ília, os meus sentidos pêsames.
"O POVO", 8 .9 .7 3 . " A A Ç Ã O ", 2 2 .9 .7 3 .
45
U L Y S S E S V I A N A

Figueiredo Filho, homem extraor­ nômicos da encantadora zona sul-


dinário e bondoso, poderia ter gran- cearense.
geado posição invejável, nos maio­ Não seria justo omitir o esforço
res centros culturais do País, atra­ e a abnegação inquebrantáveis des­
vés de sua inteligência dinâmica. se patriota consumado diante das
Preferiu continuar visceralmente li­ iniciativas que elevaram, o Crato a
gado a sua terra, dedicado, inte­ posição destacada no nordeste bra­
gralmente, a inolvidáveis campa­ sileiro. Projeto, nesta hora, o nome
nhas inspiradas e objetivando modi­ de sua incansável e dedicada^ esposa
ficar as superadas estruturas que Zuleika Pequeno de Figueiredo, per­
vêm sendo desmoronadas a custa de feita personagem responsável pelos
inauditos esporços de uma comuni­ êxitos do esposo. Foi a companhei­
dade evoluída. ra heróica e inabalável nas horas
Capítulos inconfundíveis, na a- mais dramáticas vividas pelo casal-
tuação de Figueiredo Filho, nos padrão.
meios sociais, podem ser seleciona­ Fazendo ligeiro esforço de me­
dos de sua notável biografia. Preo­ mória aparece diante dos meus
cupado com os problemas da mu- olhos já envelhecidos o cenário da
nicipaldade, cujas administrações tradicional residência situada na
pouco se identificam com os índices Rua Dr. Miguel Lima Verde. Velo
de adiantamento comunitário, con­ Cauby e Eneida/ filhos de compor­
verteu-se num intemerato campeão tamento invejável, hoje casados
em áspero campo de batalha, utili­ com Regina e Jósio, respectivamen­
zando a imprensa como instrumen­ te. O prolongamento da árvore
to vigoroso dos seus apelos e de genealógica na fisionomia dos me­
idéias progressistas. ninos Tiago, Flamínio, Rosita, C a­
Era o cidadão virtuoso que dig­ tarina, Caubysinho, Zínia, Leonel e
nificou cargos e funções relevantes, da pequena Donita. Figueiredo, ve­
exaurindo energias num apostolado lho amigo, como enfrentastes o a-
raro de dedicação e favor. margor intolerável da separação. . .
A morte do velho amigo e primo Diviso o perfil santificado de mi­
Figueiredo Filho, ocorrida no dia 29 nha tia Emíla, humantária e emi­
de agosto de 1973 abriu, no cora­ nentemente cristã. O escritor Zuza
ção dos seus conterrâneos, amigos e úa Botfca, homem de qualidades
parentes profundo golpe de dor e afirm ativas, está comigo, nos dias
de saudade. de feira, na antiga Farmácia Cen­
O Instituto Cultural do C ariri, ór­ tral.
gão prestigioso e atuante, perdeu a Anibal, Letícia, Emília (Lili), to­
coluna mestra de sua bem alicerça­ dos irmãos do Figueiredo, desfilam
da estrutura. A revista IT A Y T E R A , sensibilizados, nas ruas do Crato,
catalogada como das mais comple­ com o olhos ftos na VERD AD E que
tas, no gênero, a! fica como repo­ sempre lhes guiou, desde os pri­
sitório de dois decênios de profícuo meiros vagidos.
labor, representado pela divulgação O falecimento do consagrado jor­
sistemática das coisas e dos fatos nalista cratense privou o nordeste
sociais, históricos, artísticos e eco- de uma das suas mais férteis inte-
46
P E DR O E S M E R A L D O

J . DE FIG U E IR E D O FILH O
O Crato perdeu seu grande pa­ grandes Centros do País.
trimônio intelectual. A Revista Itaytera a quem tanto
Homem sério, simples, de moral amara e dedicou sua vida com
inabalável, forte em suas ações, afinco, foi uma pujança em nosso
agigantou-se no seio de sua gente meio ao qual soube elevar bem alto
e galgou com altivez, dentro da por aí afora, o nome não só do
classe intelectual, projetando assím Crato, mas também do Ceará, em
o nome do Crato, ém toda parte do todos setores literários do Brasil.
País. Integro, esforçou-se pelo progres­
Agora que sentimos a sua mor­ so da terra, enfrentou barreiras que
te, não poderiamos deixar delado as pareciam instransponíveis, sobressa-
obras literárias tão bem escritas e iu-se em todas dificuldades com
a coragem, digna de ser imitada, bravura e esperança no futuro. Fez
até mesmo por gente mais despro­ da caneta a sua arma para condu­
vida de quaisquer recursos morais e zir o bem da terra, alertando atra­
intelectuais. vés de suas crônicas e de artigos
Juntamente com Dr- Irineu Pi­ em jornais o verdadeiro caminho
nheiro e outros intelectuais da ter­ que elevemos seguir para que alcan­
ra, fundou o Instituto Cultural do cemos o êxito desejado.
Ca ri ri, órgão máximo da nossa in­ Professor dedicado, escritor emé­
telectualidade. rito, grande jornalista, vontadoso,
Expandiu-sè no caminho da lite­ orientador incansável da juventude,
ratura, foi mais além, mostrando pois conduzia todos o bom caminho
ao mundo que não éramos despro­ que era a trilha da perseverança,
vidos de Cultura e também perma­ da tenacidade e compreensão mú­
necemos em pé de igualdade aos tua.
A todos convém lembrar que J.
de Figueiredo, cresceu graças à sua
ligências, gerando, obviamente, o força moral, à coragem de enfren­
esfacelamento do esquema publici­ tar a vida de qualquer maneira, com
tário capaz de afetar o processo de resignação, dando com o pouco de
revitalização da área geográfica esforço, pelo soerguimento cultural
que viveu sob a influência _efetiva no seio da Sociedade Cratense.
do renomado sociológo cearense. Altruístico, bondoso, dava oportu­
No instante em que os cratenses nidade a todos aqueles que o pro­
choram convulsivamente'a'perda do curavam.
seu benfeitor, quero registrar, aqui, Agora só nos resta agradecer ao
a minha solidariedade dos filhos da Dr. Figueiredo, pelo serviço presta­
legendária gleba de 'Bárbara de do a terra comum, torcendo para
Alencar. Adeus, bandeirante singe­ que surjam outros homens de mes­
lo, imortalizado nas suas obras e no ma têmpera, do mesmo quilate e
seus exemplo. Ele continuará pre­ que venham satisfazer também aos
sente através da sua imperecfve! anseios do povo que tem sede de
memória. progresso.
Recife, 2 9 .8 .1 9 7 3 . Crato, 31 de agosto de 1973.
47
ABELARDO F. MONTENEGRO

UM CARIRIENSE CEM POR CENTO


O falecimento de José Alves de Só na década de 50, entretanto,
Figueiredo Filho lança crepe negro é que se iniciou a minha correspon­
sobre a paisagem intelectual do dência com J. de Figueiredo Filho,
Cariri. em quem sempre encontrei um
constante incentívador de meus es­
Poucos caririenses amaram tanto
tudos sobre a história cearense.
o seu rincão e tão comovedoramen­
te desenvolveram obra regionalista Recordo-me do interesse comum
como o autor de "REN O VAÇÃO ". que tivemos e dos esforços que dis-
pendemos para a publicação de
Há mais de quarenta anos, liga­
"EFEM ÉRID ES", de Irineu Pinheiro,
vam-me a ele laços de amizade,
cujos originais se encontravam em
pois foi no fim da década de 20
poder de Antônio Fiúza Sobrinho.
que conheci.
No último quarto do século, em­
A partir de 1929, passei a estu­
preendimento algifm em Crato na
dar no Ginásio do Crato sob a di­
área cultural, deixou de contar com
reção do padre Francisco Pita.
a participação efetiva de J. de Fi­
Por intermédio do Dr. Irineu Pi­ gueiredo Filho.
nheiro, meu correspondente, conhe­
A meu ver, foi a fundação do
ci a José Alves de Figueiredo, pro­
Instituto Cultural do Cariri a sua
prietário da Farmácia Central do
melhor realização, e para a qual
C ariri, e a seu filho, que o ajudava
contou com a valiosa colaboração
à frente do estabelecimento/ ponto
de outros caririenses cem por cento
de reunião de intelectuais da cida­
da craveira de um padre Antônio
de-
Gomes de Araújo.
Adoecendo gravemente de para-
Não se pode estudar o povilen-
tifo em 1931, contei com a assis­
dismo caririense sem ler os estudos
tência de Irineu Pinheiro e de J. de
e livros de J. de Figueiredo Filho.
Figueiredo Filho.
Naquele ano, a terrível moléstia A sua morte deve constituir uma
fez muitas vítimas. Lembro-me que fonte de revigoramento de energias.
os médicos da cidade telegrafaram Espelhando-se no seu exemplo, de­
ao Dr. Miguel Couto, indagando fendendo o seu legado cultural, a
intelectualidade caririense deve
qual a terapêutica recomendada já
prosseguir na meritória foma de,
que haviam esgotado todos os re­
cursos a seu alcance. A maior ce­ dentro dos cânones de salutar re­
gionalismo, preservar, valorizar e
lebridade médica do Brasil naquela
época respondeu o telegrama, acon­ divulgar os valores culturais do Ca­
riri. Será a melhor maneira de
selhando a aplicação de injeção de
honrar a memória de José Alves de
terebentina. . •
Figueiredo Filho, um caririense cem
Deixando o C ariri, retornei a por cento.
Crato em 1944, quando exerci por
alguns meses o cargo de promotor
de justiça da comarca de Missão
Velha. "Correio do Ceará", 11 .9 .7 3-
48
J . C A L í 0 P E

Im ortal j . de Figueiredo Filho


O clero/ tendo à frente o Exmo. C LO R E NO C A R IR I" , de 1960, ele
Sr. Bispo Diocesano, nas concele- me fez o oferecimento : "A o J . C a ­
brações exequiais, do enterro e da líope, com velha amizade de J . de
missa de 7 .° dia, de J. de Figuei­ Figueiredo Filho. Crato, 1 8 .4 .6 2 " .
redo Filho, manifestou o profundo Na " IT A Y T E R A " N .° 7, ele me
pesar pela morte de tão exemplar oferecia um número : "A o velho
cooperador nas lides do C ristianis­ amigo Jm . Calíope, batalhador da
mo. imprensa interiorana : com os abra­
A Imprensa falada e escrita, as ços de J . de Figueiredo Filho. Crato,
ciasses e entidades sociais, os esta­ 1 8 .4 .6 2 " .
belecimentos de ensino, intelectuais Em exem plar do "FO LG U ED O S
e amigos de J . de Figueiredo Filho, IN F A N T IS C A R IR IE N S E S " de 1966,
todos m anifestaram condolências ele dizia : " À J . Calíope jornalista
pelo infausto acontecimento. da velha guarda, homenagem de J.
Sendo um sentimento do povo, de Figueiredo Filho. Crato, 2 9 .4 .6 7 "
ninguém vai se adm irar que eu fale D aí, porque acho que o prantea­
também no nome de J . de Figuei­ do morto, era um amigo sincero e
redo Filho. na sua sinceridade me admitiu co­
Eu o conheci rapaz, na Farm á­ mo colaborador de " IT A Y T E R A " , o
cia C entral, à Rua João Pessoa, es­ que venho fazendo desde o número
quina com a Bárbara, de Alencar. 9, até o número 15, com meus des-
Ele e o empregado Evangelista Be­ pretenciosos trabalhos, incentivo co­
zerra, ensinavam remédios, benevo­ lhido da leitura das produções da­
lamente, à pobreza que a li, ia pro­ quele M estre, desde anos atrás.
curá-los. O Sr. Bispo do Crato, ansioso
M ais tarde, Figueiredo já pro­ para criar a Ação Católica na sua
prietário da Farm ácia, continuou á Diocese, a 2 5 .5 .3 8 , no final do
sua tarefa de servir, risonha mente, primeiro CONGRESSO PA RO Q U IA L,
a quem o procurava. nomeou uma Comissão provisória
Não descurava as letras e com a para estudos preliminares. H avia,
vocação de Escritor, em 1937, edi­ então, seminários que funcionavam,
tou o livro de aspecto romanesco semanalmente, em casa de certas
"R EN O V A Ç Ã O ” . fam ílias católicas da cidade.
Não me surpreendí com a oferta As reuniões eram presididas pe­
que me fez de um exemplar, com los padres Antônio Feitosa e Holan­
a dedicatória : "Am igo Calíope, da Montenegro. A últim a dessas
ofereço-lhe um exemplar de meu reuniões preparatórias para a ins­
livro e peço-lhe para passar os ou­ talação definitiva da Ação Católica
tros 4 a conhecidos daf, a razão de foi realizada a 9 de M arço de 1939,
7$000 o vótume. Com os agrade­ no antigo G IN Á SIO DÕ C R A TO ,
cimentos de J . de Figueiredo Filho. presidida pelo Pe. Montenegro e
Crato, '2 4 .2 .4 1 " . desenvolvida pelo Pe. Feitosa. A 14
Estava eu como Notório Público, do mesmo mês em sessão solene no
em Farias Brito e Figueiredo conti­ Auditório do CO LÉGIO S A N T A T E ­
nuava a escrever sempre, pela sua RESA, o Sr. Bispo, D. Francisco de
terra natal. Assis Pires, instalou a A Ç Ã O C A ­
Num exemplar do seu "O FO L­ T Ó L IC A com corpos dirigentes.
49
PADRE AZARIAS SOBREIRA

FIGUEIREDO FILHO
Encheu-me de profundo pesar o pelo aferro aos livros, a virilidade
falecimento do jornalista e escritor que na adolescência se manifestou
J. de Figueiredo Filho, justificada esplendorosamente.
ufania da cidade do Crato, que lhe Filho de farmacêutico( contentou-
deu o berço e na qual viveu toda se com o diploma obtido , na Facul­
a sua vida. dade de Farm ácia. Nisto, aliás,
Antigo aluno do Colégio Diocesa­ palmilhou a senda de Pasteur, na
no daquela cidade, a cuja sorte me França, e Rodolfo Teófilo, em ter­
consagrei por dilatados anos, feito ra cearense. M as, como os dois lu­
mestre escola e Diretor interno, se­ minares referidos, Figueiredo Filho,
gui-lhe a retilínea trajetória, jam ais trazia no sangue a paixão da pes­
o perdendo de vista. Era, aquele quisa, invencível pendor para ir até
tempo, um garoto de feições muito as raízes dos conhecimentos adqui­
delicadas, dócil até não m ais se de­ ridos e sempre renovados pela exis­
sejar, nada deixando entrever, senão tência a fora.

Para a O R G A N IZA ÇÃ O DE IM ­ primeiro número do jornal saiu a


PREN SA, foi nomeado J. de Figuei­ 18 de Maio dè 1939 e o segundo
redo Filho, com mais dois membros, a 15 de Junho do mesmo ano. Nele,
sendo eu um deles. Já se tinha o o artigo de Figueiredo intitulado
plano de fundar " A A Ç Ã O ", como "ÍD O LO S DE BA R R O ", artigos de
Orgão da Ação Católica, na Dioce­ alguns padres e um arrazoado meu,
se. com o título " V E N IT E ÀD M E ". No
No dia 15 daquele mesmo mês noticiário, feito por um redator, ha­
de Março, doze cidadãos da cidade via referências ao meu livrnho
entravam para o Seminário Dioce­ "C O N FER ÊN C IA S DO B R A S IL ",
sano, para um retiro fechado, de editado pela G ráfica Fortaleza, sob
quatro dias, sendo pregador o Jesuí­ os auspícios do conhecido Antônio
ta Pe. Domingos Gomes, vindo do Mortins Filho.
Recife. Colaborei, assim , semanalmente,
Entre os retirantes, lembro-me de com J. de Figueiredo Filho, primei­
J. de Figueiredo Filho, Antônio Es- ro Diretor da " A A Ç Ã O ", que vive
meraldo, Joaquim Siebra, Aloísio galhardamente e prestou, com jus­
Epitácio, Silvio Pequeno, Sá e ou­ tiça, homenagem póstuma àquele
tros, inclusive eu. Depois do reti­ seu primeiro redator-chefe, imortal
ro, a 19 do mês, na Sé Catedral, da Academia de Letras do Ceará,
na missa celebrada pelo Sr. Bispo, fundador e sustentador do próspero
nós os doze, fomos efetivados mem­ Instituto Cultural do C ariri, e de
bros do Conselho Diretor da Ação seu Órgão favorito, a IT A Y T E R A , já
Católica, fazendo o Antístite a apo­ com 17 números, todos cheios de
sição dos distintivos. Figueiredo artigos do grande jornalista e que
Filho foi nomeado Diretor do Jor­ enfeixados, dariam um volume a-
nal " A A Ç Ã O ", que seria Órgão da vantajado.
entidade, o Pe. Montenegro Assis­
tente Eclesiástico e eu, Gerente. O 'A A Ç Ã O ", 2 2 .9 .7 3 .
50
Uma vez formado, adotando o
sistema de muitos de seus m ais i-
lustres conterrâneos fixou-se defini­
tivamente no torrão natal, exata­
mente quando o Crato, por força cs
diversas circunstâncias que eu diria
providenciais, já dispunha de um
corpo de professores que fariam
honra a qualquer Estado do Nordes­
te, professores esses que tim bra­
vam em dar de si tudo de que seus
talentos e tenacidade eram capazes
em prol do alevantamento do ensi­
no de nossa juventude. Alunos que
então saiam dos colégios do Crato
logo se impunham nos centros de
altura aonde iam prosseguir seu afã
de conquistarem um lugar ao sol.
do
E Figueiredo Filho, ouro de lei tra­
balhando nas mesmas oficinas onde
se implumara para a vida, fervoro­
samente se associou aquela brilhan­
te falange de mestres de escpl, le­
vando a todos eles os tesouros de TÉCN ICA E PERFEIÇÃO EM
suas observações, o contributo de SEUS IMPRESSOS
sua invacilável colaboração, o in­
centivo de seus planos de soergui-
mento mental da zona.
O jornalismo, o romance, a his­ PREÇOS MÓDICOS E
tória regional, a ânsia de capaci­ PONTUALIDADE NA ENTREGA
tar-se a entender das variadas fa ­
cetas do saber humano, tudo isto, ©
que culminou com a fundação da COMPLETA SECÇÃO DE
revista "Ita y te ra ", nacionalmente
conhecida e apreciada, foram de­ REVISTAS
partamentos em que a multiforme e NACIONAIS E ESTRANGEIRAS
indefesa atividade do saudoso mor­
to se revelou auspiciosamente. ©
Dir-se-ia que ele, sem grande esfor­
ço, estava habilitado, se tanto se
M ATERIAL ESCOLAR E
fizesse' preciso, a responder, sozi­ ARTIGOS PARA ESCRITÓRIO
nho, pelas seções mais substancio­
sas da mencionada revista cratense.
E é esse varão nobre e compre­
ensivo, prestadio e sereno, esposo e
pai exemplar, que o Sul do Estado
Rua Sr. l i h m , 31
acaba de perder, abrindo imenso C A IX A POSTAL, 7
vácuo nas letras da Terra da Luz,
que se cobrem de luto por seme­ TELEFONE : 564
lhante perda.

CRATO - CEARÁ
'O PO VO ", 2 5 .9 .7 3 .
51
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§ B. BEZERRA & □

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□ □
□ Os sitelhores preços da praça g


□ Material para construção g


□ Ferrag'ees em geral □

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□ Barbara de Alencar, 850 □
□ □
□ □
□ Crato Ceará □
□ □
□ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □
POETAS T A M BÉM CHORAM

A MORTE DE

I. DE FIG U EIRED O FILH O


Saudades de FIGUEIREDO FILHO
POETA PEDRO BANDEIRA

HOMENAGEM PÓSTUMA DE ASSOCIAÇÃO DOS VIO LEIRO S, POETAS


POPULARES E FO LCLO RISTAS DO C ARIRI

A voz do tempo me ordena Nunca pensou em riqueza


a dor da saudade manda só ser útil, lhe convinha
a conversa triste anda uma farmácia que tinha
da classe alta a pequena dividiu com a pobreza
o Crato chora com pena ocupou em Fortaleza
o Ceará com desgosto muitos cargos culturais
o Brasil envolve o rosto deu nome ao Crato e cartaz
na toalha da saudade ao Brasil e ao Ceará
que invadiu a cidade hoje está com Jeová
a vinte e nove de agosto. prá não voltar nunca mais.

Foi naquele triste dia Não tem quem conte os jornais


as duas horas da tarde para quem ele escreveu
um grito triste de alarde nem quantas aulas ele deu
por todo o Crato se ouvia com ordem, carinho e paz
um chorava outro dizia livros escreveu demais
acabou-se o mais exato sobre nossa região
quando registrou-se o fato foi folclorista e padrão
o Rádio disse sem medo de honra do seu mandato
... morreu J. de Figueiredo e partiu levando o Crato
o .maior vulto do Crato. dentro do seu coração.

Todo Crato soluçou Foi membro da academia


todas escolas pararam de letras do Ceará
todos alunos choraram hoje sua cadeira está
todo comércio fechou saudosa, triste e vazia
o prefeito decretou sua caneta sombria
luto em menos de um segundo sentiu do tempo a demora
viu-se um desgosto profundo seu escritor foi embora
enlutando a natureza e a pena conserva a tinta
e o cronista da pobreza daquela crônica que pinta
partindo pra o outro mundo. Crato por aí a fora.

Todos bairros da cidade Dorme em paz Figueiredo


dos ricos aos populares quem não te aplaudiu perdoai
se balançaram nos ares quem foi o que você foi
do vendava I da saudade parte do mundo sem mêdo
as lágrimas da mocidade lá no Céu não tem segredo
rolavam tristes no chão Deus ouvirá tua voz
cada um vendo o caixão teus ossos virarão pós
dizia triste consigo mas o teu espírito grato
morreu o cronista amigo fará tudo pejo Crato
de todos da região. por o Brasil e por nós.
54
Subiu com os louros, depois da peleja
Ao Mestre que Deus o proteja, na Corte Celeste.
A morte chorando, do filho querido
o Crato dorido, de luto se veste.
Foi bravo, foi foríé na lida constante
Figueiredo exemplo» brilhante nos dando na vida.
Bem moço ele teve nas letras ingresso
a bem do progresso, da terra, querida.
Humilde, pacato e por todos amado
fiel, esforçado, zelando a cultura
aos moços mostrando carinho paterno
num gesto fraterno de paz e doçura.
PATATIVA Deixou cada amigo de alma dolorida
a sua partida, sua eterna ausência
não há quem não sinta, não há quem não chore
suspira o folclore, soluça a ciência.
Amigo partiste feliz, venturoso
teu berço saudoso veiará por ti
teu nome gravado nas folhas da história
será sempre a glória do teu Cariri.
A brisa bafeja teu nome invocando
e a fonte jorrando na fralda da serra
entoa uma prece de santa piedade
cantando a saudade de um Filho da terra.
Fortaleza, 3 de setembro de 1973

Tivemos entre nós, um astro luminoso,


Qual estrela do céu, de refulgente brilho;
Um homem, sem favor, nas letras, glorioso,
O Professor Jocé de Figueiredo F.lho.
Exímio professor, legou à mocidade
Em aulas magistrais as luzes da ciência.
Bons livros escreveu para a posteridade,
Como escritor provando a sua competência.
AO PROFESSOR Revistas e jornais foram presenteados
Com colaborações de sua pena de ouro,
J. de Figueiredo Filho E conservam-se ali com carinho guardados
Os valores reais desse imenso tesouro.
Na Academia foi um sócio sapiente,
Cuja cadeira honrou com toda galhardia.
Na vida social portou-se honestamente
Com brio, com valor, nobreza e fidalguia.
Tivem os... disse eu ao começar meus versos,
Pois não o temos mais vivendo como nós,
A imorte o arrebatou deixando-nos imersos
Nas águas lacrimosas duma saudade atroz.
Morreu, mas ficará seu nome em nossa História
Amado e relembrado em nossos corações,
Aureolado de luz, de imorredoura glória
Orientando assim futuras gerações.
ANTONIO PEDRALINO DE ALENCAR.
55
A MORTE DE UM M E S T R E
À MEMÓRIA DE J. DE FIGUEIREDO FILHO

Vi morrer o melhor dos nossos jomalisats,


Um exímio escritor assaz conceiluado.
Foi um grande editor de livros e revistas,
Gênio que batalhou sem demonstrar enfado.

Seu nome irá ficar, na História, eternizado


For tudo que fizera a bem do nosso povo.
O Doutor Figueiredo, o nosso mestre amado
Era velho escritor de pensamento novo.

Ele sempre acolheu o nobre, o potentado


Com aquela distinção que a todo ser conforta.
Com a mesma deferência olhava o desgraçado.
Quando às vezes estava a lhe bater à porta.

O h! mestre modelar, conhecedor profundo


Que não morreu pra Deus e nem morreu pra gente,
Só desapíreceu apenas para o mundo,
Creio, sempre conosco, esteja aqui presente.

E como professor foi muito competente,


Também fortificou o povo folclorista.
Provou, como escritor, ser tão inteligente
Na pena, mostrou ser, um rico beletrista.

Grande sócio exemplar da nossa Academia,


O seu dever cumpriu com ardor e com prudência.
Em seu porte de mestre a gente sempre via
Estampar-se em seu rosto as luzes da ciência.

Da Faculdade foi o Vice-Presidente


Cargo que executou com galardão e brilho,
Apezar de ele estar já velho e tão doente
Mesmo assim enfrentou sem se afastar do trilho

Um sócio fundador do grêmio do Instituto,


Dele cargo exerceu com muito brio e tino
Considerado aqui, por todos, impoluto
Este chefe guiou, tão bem, nosso destino.

Tomou-se conhecido aqui e em toda parte,


Q seu augusto nome honrou nossa fileira,
Graças a perfeição do seu trabalho darte
O seu nome chegou a atravessar fronteira.

Sua ausência, deixou em nós, tanta saudade


E em nossos corações uma tristeza imensa.
Que o nosso bom Jesus, aí, na eternidade,
Pelo bem que ele fez, lhe dê a recompensa.

Crato, 23 de Outubro de 1973

JOSÉ ESMEEALDO DA SILVA


56
Memória de F i g u e ir e d o F ilh o

exaltada no Senado Federal


SENADOR EXALTA A FIGURA DE
J. DE FIGUEIREDO FILMO
A personalidade de J. de Figuei­ para os misteres mais altos do pen­
redo Filho foi exaltada no Senado, samento e da cultura, não se con­
através de discurso proferido pelo formava nem se comportava no cír­
senador cearense, Sr. Wilson Gon­ culo estreito de uma farmácia, por
çalves. mais importante que fosse, já aque­
le tempo, como hoje, de feição a~
Eis, na íntegra, a oração : centuadamente comercial.
Desprendido inteiramente de in­
"Solicitei a palavra para prestar teresses materiais, sem ambição de
justa homenagem póstuma a um riqueza ou de mando, como deu
ilustre e benemérito cearense e ren inúmeras provas, dedicou-se, desde
der-lhe, de público., o meu espon­ logo, ao magistério, fórmula deriva­
tâneo tributo de amigo e admira­ tiva de atender aos apelos insopitá-
dor. veis do seu espírito privilegiado, que
Faleceu, na cidade do Crato, ex­ o impelia gradualmente para vôos
tremo sul do Ceará, o Dr. José A l­ mais cltos e empreendimentos mais
ves de Figueiredo Filho, figura de nobres.
relevo e prestígio nos meios jorna­
Não obstante as dificuldades na­
lísticos, educacionais e culturais do
turais do meio naquela recuada é-
nosso Estado. poca, aprofundava-se dia a dia nos
Õ , doloroso acontecimento, que estudos e ingressava, pouco a pou­
cobre de luto e pesar a todos que co, nos domínios da cultura e da
conheceram os nobres predicados do pesquisa, ocupando mais tarde, me-
seu espírito de escol e a sua lon­ recidamente, posição de destaque
ga, contínua e infatigável atuação como romancista, historiógrafo, jor­
em prol da comunidade a que per­ nalista e sobretudo como pesquisa­
tencia, constitui grande e irrepará­ dor de usos, costumes e fatos his­
vel perda para a nossa terra. tóricos de sua região, cheia de glo­
J. de Figueiredo Filho, como se riosas tradições.
projetou e era conhecido no mun­ Para dedicar-se de corpo e espí­
do das letras e do jornalismo, era, rito à sua generosa causa, empol­
sem favor, uma autêntica vocação gado com a cintilância da cultura
de intelectual, na mais genuina ex­ e do pensamento livre e abstrato,
pressão da palavra. afastou-se, logo que pôde, de sua
Formado em Farmácia, iniciou a farmácia, a esse tempo de sua ex­
sua vida prática colaborando com o clusiva propriedade.
seu digno genitor, também farm a­ De sua obra literária, enumero os
cêutico, na tradicional e conceitua­ seguintes livros :
da Farmácia Central do C ariri/ que,
além de sua numerosa clientela, Renovação — romance — 1941
reunia, em rodas memoráveis, pes­ Meu Mundo é uma Farmácia
soas da melhor sociedade do Crato. Engenhos de Rapadura do Cariri
Bem cedo revelava aos olhos de Folclore no Cariri
todos que o seu espírito, inclinado Folguedos Infantis Caririenses.
58
Cidade do Crato, no centenário uma perfeita sintonia entre o Acre
dessa Comuna, em colaboração com e o Ceará.
Irineu Pinheiro. O Sr. W ilson Gonçalves - Agra­
História do Canri, 3 fascículos. deço o aparte de V . Exa. com o qual
Não satisfeito com a sua intensa também sente a perda que lamen­
atividade literária, movimentou os to neste instante, de uma figura
intelectuais do meio e com eles fun­ excepcional que, no mundo de ca­
dou o Instituto Cultural do C ariri, racterísticas econômicas, se dedicou
do qual era o seu devotado Presi­ quase exclusivamente ao' estudo, às
dente. Reunia, assim, ao sabor do letras e à história do seu Estado e
ensinamento e do idealismo, a in­ da sua região.
telectualidade da região sul-cearen- O aparte de V . Exa. traz aquela
se, dando naquele ambiente um ex­ mesma identidade de sentimento
traordinário impulso às letras e ar­ que, já ao longo da História, une
tes e ao culto da nossa História. os cearenses, inclusive os cearenses
Como órgão desse prestigioso so- do Sul do Estado, àqueles que, hoje,
dalício, editava, com regularidade, a povoam a região que V . Exa. tão
revista "Ita y te ra ", chegando a pu­ bem representa nesta Casa.
blicar 17 alentados volumes, com Agradeço — repito — o aparte
valiosos trabalhos, inclusive a sua de V . Exa. principalmente pela sua
permanente colaboração em todos sensibilidade e pelo realce que dá
esses volumes. entre esses pontos de contacto,
principalmente de ordem humana e
Além disto, como brilhante jorna­
sentimental entre a gente que V.
lista, de acurada visão, escrevia fre­
Exa. representa e aquela em cujo
quentemente para os jornais da re­
nome falo nesse instante.
gião e para a imprensa de Fortale­
za, Recife e São Paulo. O Sr. Guido Mondin — V . Exa.
permite um aparte ?
Era atualmente professor da Fa­
culdade de Filosofia do Crato, agre­ O Sr. W ilson Gonçalves — com
gada à Universidade Federal do muito prazer.
Ceará, e membro efetivo da A ca­ O Sr. Guido Mondin — Nobre
demia Cearense de Letras. W ilson Gonçalves, não conhecí Fi­
O Sr. Adalberto Sena — Permite gueiredo Filho, e também^não tive
V . Exa. um aparte ? oportunidade, não tive a ventura de
conhecer, de ler nenFTuma de suas
O Sr. W ilson Gonçalves — com
obras, mas bastou á citação por V.
muito prazer. Exa. dos títulos, dos trabalhos que
O Sr. Adalberto Sena - A esta ele escreveu, por eles deduzo a ma­
manifestação de pesar que V . Exa. téria, e nele, observo o homem de
está expressando pela morte do seu sentimento. Porque, não basta ser
ilustre conterrâneo, desejo associar intelectual, não basta ser escritor.
a solidariedade da Bancada do Mo­ O que me importa saber, é do pen­
vimento Democrático Brasileiro. samento, o que ele disse, como ele
Peço permissão a V . Exa. para in­ interpretou a vida, particularmente,
corporar na minha manifestação como observou os fatos ao seu der-
também a solidariedade dos que redor. E há, particularmente, um
aqui represento, do Estado do Acre, dos livros mencionados por V. Exa.
pois, como V . Exa. sabe, e uma vez em que ele fala dos folguedos in­
aqui foi até acentuado pelo nosso fantis, do Crato. Então, estou a
colega, Senador Guido Mondin, sentir, com tristeza e com solidarie­
nestas questões sentimentais há dade, a perda dessa eminente cria­
59
tura, neste rnundo de cibernética, incansável das reivindicações do seu
neste mundo em que os vaiores es­ povo, cujos problemas conhecia
pirituais estão caindo de roldão. profundamente e para cuja solução
Que necessidade temos nós de nos trabalhava sem se poupar.
agarrar quase em desespero àquele Sem vínculos partidários, inde­
que, embora, acompanhando o ine­ pendente no exame dos homens e
vitável progresso do mundo, entre­ dos fatos da vida pública, com in­
tanto conservam aquele sentimento, discutível autoridade moral por to­
permanecem fiéis às coisas do espí­ dos proclamada, devotava tamanho
rito, como fez Figueiredo F ilh o ! amor à sua terra natal que, não
Então, eu poderia, através de V. obstante doente, quebrando para
Exa. dizer de novo ao Senador Adal­ espanto a sua tradicional neutrali­
berto Sena que sempre quando tais dade e o seu consciente alheamento
fatos acontecem, quando uma perda das disputas eleitorais, chegou a
assim- se verifica que, instintiva- comparecer espontaneamente, num
mente, impulsivamente, se estabele­ imenso sacrifício pessoal, a um co­
ça minha solidariedade. E é por isso mício político, no último pleito mu­
que, com V . Exa. lamento a perda nicipal, falando sentado ao povo, tal
desse homem. Mas o seu pensa­ a debilidade do seu estado físico,
mento ficou. Ele deixou um rastro somente porque, superior à discór­
pelo seu caminho; ele não estará dia reinante, entendeu, na sua a-
sendo lembrado apenas agora, quan­ primoráda compreensão cívica, que,
do recém-desaparece : há de ficar sem compromissos, devia manifestar
lembrado sempre porque a semea- a sua autorizada palavra em favor
dura houve, foi larga, foi profun­ de uma decisão que considerava
da, foi imensa. salvadora dos destinos de sua gen­
O Sr. Wilson Gonçalves — Estou te e de sua querida cidade.
muito grato ao aparte de V . Exa.
Entre os atributos que exornavam
que, através de sua sensibilidade
a sua incomum personalidade, que­
privilegiada e pela simples enume­
ro destacar, aqui, apenas dois que
ração dos títulos de alguns dos tra­ íhe definem bem a figura humana:
balhos de Figueiredo Filho, percebe
o seu imenso pendor para as letras
a grandeza de sua personalidade,
e a sua total indiferença aos bens
de seu espírito.
materiais.
E, neste instante, que para mim
é real mente um momento de pesar, Deixa viúva Dona Zuleika, per­
quero, com absoluta sinceridade, fe­ tencente à ilustre e tradicional fa ­
licitar V. Exa. por essa sua sensi­ mília da terra, companheira insepa­
bilidade tão profundamente huma­ rável de suas lutas e dos filhos,
na e que o caracteriza tão acen- Cauby e Eneida, aos quais me as­
tuadamente na sua vida pública. socio na dor e no pesar.
Muito obrigado a V. Exa. Sentindo profundamente o seu
Embora filho de político — pois desaparecimento, lacuna impreen-
o seu ilustre pai, homem dotado de chível no nosso meio, rendo a J. de
poderosa inteligência, teve nesse Figueiredo Filho, nesta hora, com
campo destacada atuação, chegan­ este sincero registro, a homenagem
do a exercer o cargo de Prefeito do da minha estima e da minha admi­
Crato — nunca J. Figueiredo Filho ração, num gesto de imperecível
se deixou atrair pela fascinante saudade.
atividade político-partidária. Era, no Tenho dito. (Muito bem !)"
entanto, possuidor de invulgar e
nobilitante èspírrto público, defensor "O POVO", 1 1 .1 0 .7 3 .
60
ÚLTIMA CRÔNICA DE J . DE

FIGUEIREDO FILHO EM “A AÇÃO”


CRATO PO R Aí AFORA
J. de Figueiredo Filho
Elogio em boca própria é vitupé- América Latina e a introdução de
rio. Não quero fazer culto a mim cadeira de HISTÓRIA REGIONAL,
mesmo. Desejo apenas esclarecer no curriculum universitário, como
que, dentro de minhas limitações, acontece na Faculdade de Filosofia
faço o possível para que minha do Crato. Outra COM UNICAÇÃO
terra seja conhecida, por aí afora, que fiz, prendeu-se à "IN FLU Ê N ­
notadamente no Sul do País e jus­ C IA PORTUGUESA NO CARIRI
tamente entre professores universi­ CEAREN SE".
tários de história e meios cultos.
Mesmo, no Ceará, os aconteci­ Inscrito nos AN A IS DO SIMPÓ­
mentos que se desenrolaram, em SIO DE G O IAN IA, saiu meu traba­
nossa terra, no primeiro quartel do lho "O CEARÁ AN TECIPA-SE À
século passado, são um tanto ou ABOLIÇÃO DOS ESCRAVOS NO
quanto desconhecidos. BR A SIL".

Na REVISTA DE HISTÓ RIA, pau­ Assim esta cidade é focalizada


lista, das melhores do Brasil, com sempre nos meios cultos nacionais,
circulação no exterior, na edição sem custeio nenhum para os cofres
comemorativa do Sesquicentenário, •municipais. Só o Instituto Cultural
publiquei " A V IL A REAL DO C R A ­ do Cariri, hoje bastante conhecido
TO NAS LUTAS DE INDEPENDÊN­ no Brasil, em geral, me dá peque­
C IA ". Foi relato de todas as lutas no auxílio.
passadas aqui com repercussão na
província, no Piauí e no Maranhão. Na "SEM AN A DE C U LTU R A
CEAREN SE" realizada, há cinco
A tese que enviei para o ó.° Sim­ anos, em Ribeirão Preto, um dos
pósio de História, a realizar-se na quatro diários editados, naquela
Semana da Pátria, em Belo Hori­ próspera cidade paulista, publicou
zonte, aborda o assunto "IN FLU Ê N ­ em manchete "N A SEM ANA DE
C IA DA CIDADE DE CRATO NO C U LTU R A CEARENSE CRATO FOI
CARIRI CEAREN SE". Além de ser A V ED ETE". Este relato que faço
distribuída, entre cerca de mil sim- é para servir de exemplo aos outros
posistas, sairá nos anais do gran­ intelectuais cratenses.
de certame, com respectiva sepa-
rata. Crato, 15 de Agosto de 1973.

As moções que apresento rela­


cionam-se com os interesses do Ca- (Última crônica escrita por J. de
riri, como por exemplo da defesa do Figueiredo Filho, lida na Rádio Edu­
acervo de fósseis, dos maiores da cadora do Cariri).
62
ÚLTIMA CRÔNICA DE

J . DE F I G U E I R E D O FILHO

NA “ TRIBUNA DO CEARÁ”
L I T E R A T U R A

Inteligência do Homem do Interior


O que tem chamado a atenção J. de Figueiredo Filho
dos observadores, nos últimos tem­
fora de seus limites, pois, esse amor
pos, é essa inteligência inata do a si mesmo, quando é excessivo,
sertanejo, podendo ser aplicada em
não pode coixistir com o amor do
qualquer ramo de atividade huma­
próximo.
na. O velho tabu da chamada su­ Numa fam ília onde ninguém quer
perioridade racial esfrangalhou-se.
sofrer e suportar uns aos outros, é
O brasileiro, produto natural da impossível haver a paz e a união
acumulação de três raças, mostra
que trazem a felicidade. Cada qual
que é capaz de sobressair-se em
quer seguir os seus gostos e capri­
tudo, incluindo na própria técnica
chos; e sendo os membros de uma
avançada, como tem acontecido.
Família de índoles e naturezas di­
Nossa gente nasceu com inspira­
ferentes, como podem coordenar
ção poética e artística em geral.
essas idéias, essas opiniões, essas
O homem sem estudo aprendeu a
intenções sem cada um fazer vio­
compor música, a tocar violão, vio­
lência a si mesmo ?
la, sanfona ou pifaro. Improvisador
O temário principal de Pedralino
de versos, ninguém o supera.
é o que se prende à Religião, onde
Mesmo, em pleno mato brabo,
foi educado. Torna-se verdadeiro
produto de autodidatismo, surgem
apóstolo do Bem, através de seus
poetas eruditos ou cronistas. Sur-
escritos que nada perdem em atra-
preendi-me em ver na Exposição
cionismo para o leitor. Não se a-
dos Distritos, realizada na Feira de
pega a misticismo piegas. É rea­
Gado e Produtos Derivados, o livro
lista dentro de seu modo de vida.
datilografado de Antônio Pedralino
Mas, quem vive com o rurícola
de Alencar — M IN H AS PRODU­
nunca pode esquece-lo, embora não
ÇÕES LITER Á R IA S. Reside no sítio
chegue a pessimismo exagerado :
Cachoeira, no distrito de D. Quin­
tino, antiga Ipueiras de Crato. Sua "O pobre homem ,da roça
base de estudos não passou do pri­ Que vive em sua palhoça,
mário. O que lhe chegava às mãos Onde não ouve e não diz
de bom, lia e aprendia. Fazia seus É certo que muito sofre
trabalhos em prosa e em poesia. Sem ter dinheiro e nem cofre,
Nunca fõi animado de qualquer Porém não é infeliz.
vaidade pessoal escrevia mais a Apesar do desconforto,
enaltecer Deus' a natureza a pátria
Às vezes fica absorto
e as boas causas, como verdadeiro
Num prazer inebriante,
filósofo natural. Aos sessenta anos Quando à noite, com a esposa
de idade resolveu reunir suas pro­
E os filhos, no lar repousa
duções. Pessoa de sua fam ília reu­ Dum trabalho fatigante".
niu-as em volumoso livro, esmera­
damente datilografado. (Do trecho M ISC ELA N IA )
Vejamos como Antonio Pedralino Crato, 12 de Agosto de 1973
de Alencar encara o mundo, logo (Este artigo foi o último trabalho
em seu primeiro trabalho — A de J. de Figueiredo Filho, falecido
FA M ÍLIA ;' no Crato, para a nossa página).
" A verdadeira felicidade não po­
de haver onde reina o amor próprio "Tribuna do C eará", 1 .9 .7 3 .
64
NO SEU PROGRAMA M ATINAL, PELA RÁDIO ARARIPE DO CRATO,
DIA 30 DE AGOSTO DE 1973, DEDICADO AO FOLCLORE, O
RADIALISTA ELOY TELES DE MORAIS DIRIGIU AS SEGUINTES
PALAVRAS A J. DE FIGUEIREDO FILHO
Mensagem de Despedida ao Mestre
José Alves de Figueiredo Filho
Bom dia amigos, amigos do fol­ paus, dos cocos, do reizadÕs, dos
clore. Hoje, não vamos apresentar o emboladores. Não será esquecido
nosso programa. Não conseguimos por nós que somos entusiastas dos
encontrar poesias populares que dis­ temas folclóricos. O senhor lutou
sessem do nosso sentimento. Não muito, dignificou suficientemente o
poesia que fale de tristeza e nós nome da nossa cidade, das nossas
estamos tristes. De luto o folclore letras, da nossa gente. O senhor
Regional. Morreu o professor Fi­ foi desassombrado em todos os mo­
gueiredo Filho, o homem que sem­ mentos da sua vida. Nas horas
pre nos encorajou ás grandes jorna­ mais difíceis, sempre tivemos no
das. Morreu o nosso mestre, o nos­ senhor um homem sobrio e deste­
so vanguardeiro. Morreu Figueire­ mido para puxar o cordão, á fren­
do Filho, aquele que sempre nos te. As muitas vezes que lhe pro­
guiou na grande caminhada pela curamos para pedir-lhe orientação,
divulgação do folclore regional. Não o senhor sempre nos recebeu com
encontraríamos nos livros, ou nos um sorriso, uma seriedade. . . uma
arquivos, nada que dissesse do' nos­ meiguice uma sinceridade. O Crato
so sentimento. Achamos melhor le- sabe disso e por isto todos reveren­
var-mos ao ar, o trinado dos pássa­ ciamos a sua memória. Hoje, pro­
ros, eternos companheiros das reais fessor, os Irmãos Anicetos, amanhe­
coisas da natureza. A nossa home­ ceram chorando. Estes irmãos que,
nagem ao inesquecível mestre. Pro­ como o senhor, enfrentam a tudo e
fessor Figueiredo o senhor está sen­ a todos para que possam represen­
do chorado copiosamente pelos Ir­ tar a nossa cidade noutras terras.
mãos Anicetos, pelo Maneiro Pau do Eles estão hoje, sem o grande mes­
Mestre João Bernardo, pelo reizado tre, sem o guia, sem o arrimo, sem
do mestre Aldemir, pelo reizado do o grande professor. Bem que eles
mestre Tico, pelo Maneiro Pau do poderíam acompanhar-lhe professor,
mestre Cirilo, por todos os que pi­ até a sua última m o ra d a ... e no
sam na terra dadivosa do C ariri, trajeto, tocarem um choro Bem do­
sob o ritmo dos cacetes de jucás, lente como uma grande homenagem
dos zabumbas, dos pifes ou dos ma- e ag radecim ento... mas eles não
racás. O seu nome, querido pro­ vão poder. Eles na hora do seu en­
fessor, não será esquecido jamais terro, estarão seguindo para Forta­
pelos improvisadores dos maneiros leza onde defenderão o folclore da
66
nossa cidade na Feira dos M unicí­ não há problema porque o senhor
pios. É mais uma missão. Irão pe­ continuará sendo o grande capitão.
sarosos por não poderem levar o seu O senhor continuará no leme, gui­
mestre até à última m o ra d a ... ando as nossas decisões, capitane­
mas têm que ir . . . é essa a missão ando os nossos grupos folclóricos. . .
de quem jurou defender o nome da o senhor será o nosso eterno co­
sua terra onde quer que seja. mandante. A filosofia da vida é
Tenho certeza de que o senhor indecifrável, mas é taxativa. Há
recomendaria mesmo essa viagem. uma frase de um filósofo Chinês,
Caro Professor, se o senhor tiver bem parecida com a sua vida, pro­
um encontro com o grande Catullo fessor : "Q U AN DO N ASCESTE, TO ­
da Paixão Cearense diga-lhe que o DOS R IA M , SÓ T U CH O RA VAS.
seu Luar do Sertão ainda está sen­ LE V A POIS UM A V ID A DE T A L
do cantado e declamado depois de M A N EIR A QUE QUANDO M ORRE­
tantos anos. Se encontrar o Dou­ RES TODOS CHOREM , SÓ T U R I­
tor Leonardo Mota, diga-lhe que o A S ". E o senhor, professor Figuei­
seu Sertão Alegre, continua muito redo Filho, fêz cumprir este pensa­
alegre e que ainda se mantêm vi­ mento. Vai tranquilo, pelo que 7éz,
vas, as chamas crepitantes do en­ pelo que ensinou, vai feliz, pelo ca­
tusiasmo pelo folclore nordestino, minho que trilhou, pela fam ília que
que ele pode fica r despreocupado. constituiu, pelas causas que defen­
M ais dias, menos dias, nos encon­ deu, pelo amor ás coisas reais. . .
traremos. emfim pela coragem que teve.
Querido mestre, o que o senhor Velho mestre, neste trabalho, quei­
nos ensinou, será passado á frente ra receber o nosso adeus. As nos­
sem ser jam ais desvirtuado. Muito sas despedidas, as nossas homena­
obrigado mestre Figueiredo Filho, gens. O professor Pedro Teles e Eu,
pelo que o senhor fêz pelo Crato, quizemos prestar-lhe uma última
pelas suas letras, pelo seu folclore. homenagem. Mas não conseguimos.
O Conjunto Folclórico IT A Y T E R A , Por tudo que o senhor nos ensinou
criado pelo senhor, e que agrupa e por tanto que ainda vai ensinar,
maneiro pau, reizado, cabaçal, coco não conseguimos prestar uma últi­
e tantas outras coisas belas, terá ma homenagem. Será apenas uma
uma casa brevemente. Nessa casa saudade. Não será a últim a, por­
será colocado o seu nome em letras que no correr dos anos, sempre
bem grandes. . . bem grandes mes­ que um conjunto de maneiro pau,
mo. Em nossos corações letras ain­ bater os seus jucás. . . um cabaçal
da maiores, em nossas lembranças, ruflar os seus instrumentos, ós co-
gratidão imensurável. Mestre Fi­ guistas, balançarem os seus ganzás,
gueiredo, nas nossas mentes uma um reizado cantar suas modinhas,
mistura confunde a tristeza com a suas ladainhas, estaremos prestan­
interrogação. Quem vai ser o seu do ao senhor uma homenagem.
substituto ? Quem vai assumir o Obrigado professor Figueiredo,
comando ? Na parte de Tolclore, por tudo que o senhor nos ensinou!
67
— AGÊNCIA DO CRATO —

39 A N O S DE B O N S S E R V I Ç O S !

9
— AO COMÉRCIO !

— Á IN DÚSTRIA !

— A AGRO PECUÁRIA DA REGIÃO !

PRAZOS ATÉ 12 ANOS

CARÊNCIA ATÉ 6 ANOS

JUROS ATÉ 7% AO ANO

AQUISIÇÃO DE INSUMOS MODERNOS, FINANCIADOS


ABSOLUTAM ENTE SEM JUROS

C R A T O C E A R A
OPORTUNO PUBLICARMOS UMA CRÔNICA DO Dr. QUIXADÁ FELICIO,
BRILHANTE MÉDICO E JORNALISTA CEARENSE, TAMBÉM JÁ FALE­
CIDO, SOBRE A PERSONALIDADE DE FIGUEIREDO FILHO. OS DOIS
FORAM GRANDES AMIGOS. AMBOS JÁ REPOUSAM NO REGAÇO DO
SENHOR, E A CRÔNICA DO SAUDOSO MÉDICO É TAMBÉM UMA
EXALTAÇÃO AO NOSSO PRESIDENTE.
Cachaça Chupada na P la ce n ta ...
Com certeza Figueiredo Filho parava as velhas capsulas -com pós
chupou os primeiros tragos da ca­ de Cower ou manipulava as poções
chaça no filtro do cordão umbelical. com extratos fluidos de genciana e
É filho do velho Zuza da Botica — gotinhas de cloroformio. Mas com
José Alves de Figueiredo — taler.to livro ali debaixo dos olhos miopes,
genuino da gleba nordestina, Poeta lendo, estudando, avançando. A
e prosador dos mais brilhantes que farmácia era mais um imperativo
o Crato teve desde que se entende para sobrevivência, porque o que
como matriz da inteligência serta­ Figueiredo Filho fazia com gosto
neja. era adquirir todas as novidades das
Figueiredo Filho chupou com editoras do sul e da Europa. E es­
alento grande a garrafa da melhor crever para os semanários do Crato
cachaça espiritual, porisso desde os diários de Fortaleza, do Recife,
menino de ginásio foi fazendo as do Rio, para a Revista Sul América,
primeiras incursões. Nos jornaisi- que era uma publicação que valia
nhos que eram obrigatórios como os a pena, para as páginas dos melho­
grêmios que floresciam nas encan­ res periódicos de assuntos de farma-
tadoras sessões semanais, com dis­ copéia que circulavam nas maiores
cursos sobre a Independência e ou­ capitais do Brasil.
tros mitos, além de torneios em que A í pelo ano de mil novecentos e
vida e obra dos escritores maiores quarenta e poucos, publicou o pri­
de Portugal e França eram esfari- meiro livro. Um livro vacilante. De­
nhadas, os rapazinhos ainda de pois, "Meu Mundo é uma Farmá­
queixos lisos se entregavam a tare­ cia", ainda sem. expressão definiti­
fas que realmente formavam elites va. Até que tomou o rumo certo
jovens. Era a época em que os gran­ do seu dèstino de pesquisador ho­
des rasgos artísticos e literários, nesto do inesgotável manancial do
empolgavam a mocidade ainda sem nosso folclore. Como folclorista,
o ridículo dos iê-iê-iês cretinos, dos tornou-se mestre respeitado pelos
saiotes de macho e femea e das mestres. Ganhou justa fama nacio­
calcinhas de veludo que apertam nal, com a publicação de volumes
bunda e côxa de rapázinhos boçais. excelentes sôbre variados aspectos
Ainda estudante de Farmácia, de tão linda paisagem espiritual,
José de Figueiredo Filho começou a sem contar muitas produções espar­
aparecer com relêvo na imprensa sas, que as figuras mais salientes do
profana e científica, assinando ar­ folclore ocidental a toda a hora ci­
tigos sobre a evolução do pensa­ tam com referências encomiásticas.
mento da roça que era, já, um re­ Desbancando para a velhice, Fi­
duto de homens que trabalhavam gueiredo Filho mantem integral jo­
as idéias, e temas curiosos para as vialidade mental, esquece umas do­
revistas porta-vozes de agremiações res burras de nevrite que devia ter
que congregavam os expoentes do atacado um inimigo das lêtras, v i­
nosso progresso químico. ve no Rio ou Rio Grande do Sul,
Diplomado, foi para o fundo da nas Alagoas ou no interior do São
Botica que a velho Zuza tangia com Paulo, no Recife ou aqui em Forta­
conceito imenso num canto da rua leza — em algum canto do mun­
João Pessoa, esquina da Travessa do — na sêde da pesquisa, na ale­
dos Ourives. Mexia as tizanas, pre­ gria de ampliar intercâmbio, no en-
70
Por nomeação do Presidente em sentado no Livro competente, está
exercício, Pe. Antônio Gomes de assim redigido : “ Tendo em vista o
Araújo, o advogado, empresário e falecimento do Presidente do Insti­
jornalista — Dr. Jósio de Alencar tuto Cultural do C ariri, Pofessor Dr.
Araripe, é o novo Presidente do José Alves de Figueiredo Filho, ocor­
IN STITUTO C U LTU R A L DO CARI- rido a 2 9 .0 8 .1 9 7 3 , e em obser­
Rl, em substituição ao Dr. J. de vância ao que determinam os Esta­
Figueiredo Filho, que presidiu a en­ tutos Sociais da entidade, Capítulo
tidade até falecer, em 29 de Agos­ V II, Das Eleições e Sustituições —
to último. Artigo 43, Letra B, o Presidente em
Os Estatutos da entidade dizem exercício, Padre Antonio Gomes de
que, faltando até 4 meses para a Araújo, na forma legal, nomeia
nova eleição, e ocorrendo a vacân­ Presidente do ICC até que se veri­
cia da Presidência por falecimento, fiquem as eleições na forma regu­
renúncia ou mudança de domicílio, lamentar, o Dr. Jósio de Alencar
o Presidente em exercício pode bai Araripe, dando-lhe posse efetiva no
xar ato, nomeando o novo Presiden­ posto, para os devidos fins. Fica
te e foi o que ocorreu. feito este assento para referendar o
cumprimento desta medida legal.
O ATO Crato, 13 de Setembro de 1973,
assinado, Padre Antonio Gomes de
O ato do Pe. Antonio Gomes, as-
Araújo.
QUEM É
tusiasmo de projetar as joias do
O novo Presidente do Instituto
nosso folclore, parece um menino
de anos na inquietude bela. Cultural do Cariri é filho do Dr.
Agora, a Academia de Letras, Antonio de Alencar Araripe e Sra.
numa reunião de 31 imortais, ele­ Jornalista, advogado, ex-Promotor,
geu Figueiredo Filho, por trinta vo­ atualmente exerce o cargo de Vice-
tos, para preencher a poltrona que Presidente da Câmara Municipal do
a morte do nosso Dolor Barreiro Crato e Presidente do Crato Tênis
deixou vazia. Dolor foi feliz na vi­ Clube. É empresário e conhecido
da e é feliz na morte. Porque não orador. Pertence aos quadros do
podia ser mais bonita a substituição Rotary Club do Crato e é casado
que o destino marcou para a sua
com D. Eneida de Figueiredo A ra­
imortalidade literária. Figueiredo
Filho agora imortal. Quem está de ripe, filha do Presidente falecido,
parabéns é o Crato. O C ariri, o significando dizer que não haverá
Ceará. A Academia abriu as por­ quebra de continuidade na linha de
tas a um intelectual sério e de va­ ação do IN STITU TO C U LTU R A L
lor inconteste. DO C A R IR I.

'Correio do Ceará", 2 0 .1 2 .6 7 . 'A A Ç Ã O ", 2 2 .9 .7 3 .


71
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1s s Escritório de Advocacia: *
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Dr. Aglézio de Brito
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Dr. Antônio Nirson Monteiro W.
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CAUSAS CÍVEIS, CRIMINAIS, TRABALHISTAS, ACIDENTES Ui
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CARTA PÓSTUMA
DE

JOSÉ DOS ANJOS DIAS


Meu prezado amigo positiva da premoção que os homens
virtuosos adquirem pela disposição
J . de Figueiredo Filho
constante e habitual na prática do
Como prova da inquebrantável bem.
amizade que vigorou entre nós, du­ Nasceste e cresceste no âmbito
rante o percurso da tua existência ou horizonte do favor divino/ oriun­
pelos caminhos compactos de tergi­ do duma fam ília bem-afortunada
versação causada pelos que procu­ granjecdora de amizade, estimada
ram corromper o bem, não poderia geralmsnte por todos.
comportar-me com a taciturnidade Na farmácia do teu pai, era lu­
costumeira de quem esquece aos gar predicamental escolhido pelos
amigos que vivem no além. homens de escol da época, depois
Nenhum de nós que tivemos a da ceia ajuntavam-se ali. Aconteci­
ventura de privar com a tua insígne mentos do passado que nesta carta,
pessoa jamais a olvidaremos, quan­ achei por bem ementar a distinção
to mais o tempo passar, mais acen­ proporcionada ao teu velho genitor,
tuada a lembrança fica em nossa que o tempo não apagará da me­
mente. mória das gerações.
O teu nome vigorará e servirá de Perdoa-me se esta que- envio por
flâm ula a todos estabelecimentos de intermédio da nossa " IT A Y T E R A " ,
ensino do C ariri, servindo de modê- fizer cessar por algum momento a
lo para o exemplo ou. norma de es­ ativação que prestas como auxílio no
timulação a fim da mocidade hodi- Silogeu dos Acadêmicos Espirituais,
erna e do porvir, desenvolver-se no enquanto ler e interpretar o sentido
intelectualismo e ser útil ao Brasil, que esta carta contém.
assim como fôste. Agora, teu espírito, não está mais
Qualquer leigo em fisiogmonomia sujeito ao corpo material, dispõe de
poderia distinguir em teu rosto tra­ capacidade para tudo, solicito que
ços fisionômicos caracterizantes da constantemente nos visite e deixe
brandura e obsequente, como tam­ em cada um de nós, impregnação
bém os repulsivos a zagurrina que da mansidão e bondade que era pe­
incentiva a desarmonia e cria pla­ culiar ao teu ser moral.
nos maquiavélicos. Num abrir e fechar de olhos o
Tens conhecimento que, os sêres espírito percorre grande distância,
humanos, trazem estampado na fa ­ então, tens o direito concedido para
ce as suas tendências. A Natureza locomover-se com velocidade supe­
encarrega-se de estampar para iden­ rior a da luz, deixou de existir len-
tificar os indivíduos. teza que era própria ao corpo f í­
A referida Natureza é tão prodi­ sico.
giosa que, além de imprimir no ros­ Se invejar não fôsse pecado, co­
to das pessoas lineamento da pro­ biçaria estar em teu estado, supo­
pensão natural, ainda ajuda a quem nho que brevemente conseguirei
desconhece a arte de conhecer o transferência do ambiente terráqueo
caráter das pessoas pelos traços f i­ para habitar noutro meio, onde há
sionômicos. seleção perfeita entre lôbos e car­
Todo indivíduo mau quando se neiros, teremos encontro amiúde.
aproxima de nós, sentimos aversão A acepção desta tem profundida­
sem nunca nos ter ofendido. Isso é de de afetividade, mostrando-me
comum na via pública, nos coleti­ grato a quem dava-me consideração.
vos e alojamentos de tropas. Conforta espiritualmente e material­
Via-se no desempenho dos teus mente a quem durante o tempo de
atos, ação ou efeito de um corpo coexistência contigo, meu amigo, foi
operar sôbre outro, pela influência o teu anjo tutelar da vida material.
74
Aos teus filhos e netos, concede- AGRADECIMENTO — A família
lhes porção igual. Agora tens a de José Alves de Figueiredo Filho,
facilidade de ter entrevista com os profundamente consternada, com o
sêres espirituais superiores dos qua- seu falecimento, sente-se no inde­
drantes siderais, então, dentro do clinável dever de manifestar, sensi-
possível, atenderão as rogações. bilizadamente, a todos os seus pa­
Sugiro que, recorras também aos rentes, amigos e a todas as pessoas
gnomos que exercem suas funções que, de qualquer modo, se associa­
em tudo que à Terra contém, tão ram à sua dor, através de visitas,
ignorados por esta humanidade que cartões e telegramas de condolên­
não procura acercar-se das cousas cias ou sufrágios, o seu mais sin­
do além» cero e profundo reconhecimento,
Reconheço que, não deixarás de pelas cativantes demonstrações de
solicitar para os entes queridos, co­ solidariedade humana e cristã.
mo também para os amigos que aqui Gratidão imorredoura a família
ficaram. enlutada tributa à Direção da Casa
Outrossim, tranquilize-se que, a de Saude Joaquim Bezerra de Fa­
nossa IT A Y T ER A terá continuidade rias, na pessoa do Dr. Raimundo
dada pelo sucessor na Presidência Bezerra de Farias e à equipe de en­
do Instituto Cultural do C ariri, que fermeiras, pela prestimosa e solícita
saberá presidir diligentemente os assistência ao saudoso extinto.
destinos daquele Órgão congregador Agradecimento especial faz a fa­
dos catedráticos do Magistério do mília ao Exmo. Sr. Bispo Diocesano,
Cariri. ao Exmo Sr. Prefeito Municipal, à
Aquela revista, não poderá dei­ Câmara . Municipal, à Assembléia
xar de existir, é a representativa de Legislativa, ao Senado e Câmara Fe­
quem a criou e dum punhado de in­ deral, ao Clero em geral, a todas as
telectuais da "Princesa do C ariri". entidades de classe, de modo espe­
Homens ilustrados que primam cial ao Instituto Cultural do Cariri
pela cultura e pelo desenvolvimen­ e a todos os Clubes de Serviço, ao
to da inteligência e da razão dos Comércio e Indústria, aos Estabele­
filhos daquela cidade encravada ao cimentos de Ensino, à imprensa fa­
pé da serra do Araripe, circundada lada e escrita do Cariri e Fortaleza,
pela fertilidade do seu solo produ­ pelas inequívocas demonstrações de
tivo, oferenda da Natureza aos cra- carinho, apreço e estima que cerca­
tenses por intermédio de Frei Car­ ram o saudoso extinto, quer no con­
los de Ferrara. forto moral à fam ília, no doloroso
Meu velho amigo J. de Figueire­ golpe, que no comparecí mento às
do Filho, informo mais que, no dia missas de sétimo e trigésimo dias,
24 de agosto, portanto, cinco dias bem assim em consagração póstuma
antes do seu desenlace, encaminhei ao sepultamento do inesquecível
para publicação em nossa revista, chefe.
um trabalho com a intitulação : Por fim, a todo o generoso povo
"SU BSÍD IO ' DE D ILU CID AÇÃO " do Crato que acorreu, espontanea­
que será aproveitado por teu suées- mente, aos funerais do saudoso
sor, caso ache conveniente. morto, a certeza de que, se foi
Encerro esta, pedindo-te que en­ grande a dmiração, o respeite.e ve­
vie um traço de luz emanada de neração demonstrados por ele, não
teu espírito, a fim de clarificar a menor é o reconhecimento e grati­
minha mente e harmonizar minha dão da fam ília enlutada.
saúde, com o amparo purificador Crato(Ce), 20 de outubro de 1973
da fragrâncio desprendida da tua
alma rutilante. " A A Ç Ã O ", 2 7 .1 0 .7 3 .
75
□ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ D
□ □
D. ^\ • _ d
□ Organizaçao □

§ ANTONIOPRIMO DE BRITO §
□ □
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□ 6 POSTOS □
□ □
□ □
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□ □
□ □
□ □
□ Fortaleza □
□ □
□ □
□ □
□ Milagres □
□ □
□ □

□ Juazeiro do Norte □

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□ Crato □
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□ Sempre ao seu dispor! □
□ □
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□ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ D
SOBRE I. DE FIGUEIREDO FILHO
CONTINUA REPERCUTINDO
O DE S A P A R E C IM E N T O DE
J. DE F I G U E I R E D O FI LH O
O desaparecimento do escritor J. De há muito, leitor assíduo que
de Figueiredo Filho continua reper­ sou de IT A Y T ER A , me acostumei a
cutindo em todo o Brasil. Trechos admirar a invejável capacidade li­
de correspondências recebidas pelo terária e a intensa atividade inte­
Secretário Geral do Instituto Cultu­ lectual desse brilhante homem de
ral do Cariri, Jornalista J. Lindem- letras.
berg de Aquino : Tive uma vez, não faz muito
"Somente hoje tive conhecimento tempo/ a honra de recebê-lo, acom­
da morte do meu eminente e pre- panhado de sua exma. esposa, Da.
zadíssimo Amigo Figueiredo Filho. Zuleika Pequeno de Figueiredo, em
Admirava-o profundamente. Ao minha casa, aqui no Rio de Janei­
Homem excelente que ele foi e ao ro, para uma agradável troca de
Intelectual que tão altos serviços idéias, visita essa da qual guardo as
prestou, na modéstia do seu modo melhores recordações.
de ser, à cultura do Crato, do Cea­ Na oportunidade desse triste
rá e do Brasil. evento, peço a V. Sia. que receba
Peço-lhe, Senhor Secretário Geral e tenha a bondade de transmitir os
que transmita à fam ília Alves de meus sentimentos de profundo pe­
Figueiredo e ao Instituto Cultural sar, não só aos demais membros do
do C ariri, a que tanto se devotou Instituto Cultural do Cariri, bem
o ilustre morto, as minhas mais sen­ como à exma. viuva daquele con­
tidas condolências e o meu profun­ sagrado escritor, de tão sagrada
do pesar. Muito cordial e atencio- memória. Marechal Waldetrude do
samente, Prof. Hélio Simões. Amarante Brandão).
(Catedrático, Diretor do Gabinete ©
Português de Leitura e do Centro de "Tomei conhecimento do faleci­
Estudos Português, da Universidade mento do escritor J. Alves de Fi­
Federal da Bahia), gueiredo Filho, ocorrido a 29 de
® Agosto, conforme notificação emiti­
"Recebi, profundamente conster­ da pelo Instituto Cultural do Cariri.
nado, a infausta notícia do faleci­ Conheci o notável intelectual e
mento do eminente professor, escri­ historiador J. Alves de Figueiredo
tor e acadêmico, José Alves de Fi­ Filho, por ocasião de uma breve
gueiredo Filho, Presidente do Insti­ estada no Crato, estando a minis­
tuto Cultural do Cariri. trar curso na Faculdade de Filoso­
78
fia locai. O ilustre desaparecido Estou mandando hoje para Piracica­
recebeu-me, então, com fidalguia e ba artigo meu sobre mestre Figuei­
grande deferência, tendo ao final redo. Quando tiver em mãos os
de nossa entrevista dedicado várias exemplares, remeter-lhe-ei. Cora­
de suas obras à biblioteca desta Fa­ gem e luta ! Disponha sempre. Um
culdade e ao signatário, autogra­ grande abraço do Francisco Vas­
fando-as. concelos" (Folclorista carioca).
Assim, peço a V . Sia. o especial <£
obséquio de apresentar à fam ília "Recebi há dias o cartão pelo
enlutada e ao Instituto Cultural do qual você, em nome do Instituto
Cariri a manifestação do meu pro­ Cultural do C ariri, me comunica o
fundo pesar pela irremediável perda falecimento de J. Alves de Figuei­
do escritor Figueiredo Filho". Dr. redo Filho. Antes eu já soubera
Ataliba T . de Castilho (Professor da quase na hora, mercê do prodígio
Faculdade de Filosofia, Ciências e inquietante das comunicações mo­
Letras de M arília, S. Paulo. dernas, da morte do nosso amigo, e
imaginara quão espesso e rude esta­
"Recebi no dia 17, o cartão do ria sendo o luto dos que fazem o
ICC com a notícia do desapareci­ Instituto, por tão infausto evento.
mento do meu inesquecível amigo J. Não foi para mim surpresa a morte
de Figueiredo Filho. Francamente, de Figueiredo Filho, pois meu que­
não sabia que o caso dele era tão rido amigo, general Teles Pinheiro,
grave. No último cartão que me me advertira da gravidade do seu
escreveu, apenas aludira a uma he­ estado de saúde, mas ao saber, da
patite que o incomodava. Mas, a- notícia meu pensamento se encheu
pesar de tudo, já estava preparan­ de perplexidade e de irreprimível
do o N .° 18 de IT A Y T E R A . Sem­ tristeza. É que o ilustrado extinto
pre vi nêle u'a mensagem de oti­ não era apenas um homem para
mismo. E essa última correspon­ quem se encerrava a dura agonia
dência, talvez escrita já no leito da de viver, senão muito mais do que
morte, é prova eloquente de que ele isso — era um símbolo, um exem­
teve garra de viver até nos últimos plo de abnegação ao trabalho; de
momentos. É essa fibra que temos crença nos valores permanentes da
de manter, daqui para a frente, pa­ cultura; de confiança nas virtudes
ra que a obra iniciada inesquecível da terra e da gente que lhe foram
Mestre não se perca no meio do ca­ dadas nos desígnios da contempo-
minho. De minha parte, continua­ raneidade, e cujo sentido, durante
rei firme, principalmente no que toda a sua vida, se esmerou em in­
tange à colaboração para IT A Y T E- vestigar e proclamar.
RA. Para tanto, peço-lhe o espe­ Amou, assim, com um amor todo
cial obséquio de enviar-me informa­ de doação, a terra do seu berço, e
ções sobre as atividades do I C C , não apenas o seu Município natal,
assim também sobre os prognósticos mas ainda a toda a Região do C a­
para o número 18 de IT A Y T ER A . riri, a qual dignificou com o seu
79
Ex-Ministro João Gonçalves de Sousa
Lamenta Desaparecimento de
J. de Figueiredo Filho
O ex-Ministro do Interior e ex- onde desempenha importantes fun­
Superintendente da SUDENE, Dr. ções na Organização do s Estados
João Gonçalves de Sousa, que reside Americanos, escreveu de próprio
em Washington, Estados Unidos, punho a seguinte missiva ao jorna­
lista J. Lindemberg de Aquino, Se­
cretário Geral do Instituto Cultural
trabalho, as suas pesquisas, com os do Cariri :
seu livros, com a sua constante de­ Washington, 20 de Novembro de
dicação intelectual. Por tudo isso, 1973.
■meu caro Lindemberg de Àquino, Meu caro Lindemberg :
posso avo liar a extensão da perda As notícias emanadas do Ceará,
que os do Crato, os do C ariri, os do chegam por aqui muito tarde.
Ceará, todos aqueles, enfim, que Uma delas se refere ao faleci­
privaram do seu convívio e favores mento do nosso comum amigo, J. de
— estão a sentir, e me associo, Figueiredo Filho. Conheci-o quan­
consternado, ao luto que os atinge do ainda fazia o meu Ginásio, aí
nesta hora de saudade. Muito obri­ no Crato e, desde então, acompa­
gado pela comunicação com que nhei-lhe a vida de escritor e de ho­
me distinguiu. Braga Montenegro" mem, sempre com admiração e res­
(Escritor renomado). peito.
m Ele era, sem dúvida, a figura
"Perdem as nossas letras, na ver­ número 1, a figura humana mais
dade, um. dos seus mais legítimos representativa do Crato, de todo o
representantes, como romancista, nosso Cariri.
memorialista, folclorista e jornalis­ Como não conheço a fam ília dele,
ta, através de uma vasta produção pensei em enviar-lhe esta, e, por
literária, transcendendo do regional seu intermédio, e do Pe. Antônio
ao nacional. Seu estilo aprimorado Gomes de Araújo, envio à fam ília
era de uma fluência deliciosa, co­ de J. de Figueiredo Filho e ao Ins­
mo se a imaginação criadora lhe tituto Cultural do Cariri as condo­
fosse espontaneamente manando de lências minhas e de minha fam ília.
um filão inesgotável" (Alves de Oli­ Cordialmente, o conterrâneo João
veira, poeta e romancista). Gonçalves de Sousa".

" A A Ç Ã O ", 2 0 .1 0 .7 3 . " A A Ç Ã O ", 8 . 1 2 . 7 3 .


80
C O D EM A
Comércio de Madeiras Ltda.

Material de Construção:

Ferro

Cimento
A z u l ê j os

Prêços sem Comp etição!!!

Matriz em Crato:

R. Barbara de Alencar, 661/683

Filiais:

Juazeiro do Norte e Iguatu


C O N T A B I L I D A D E

FRANCISCO HÉLIO DE SOUSA

CONTABILISTA

Contabilidade em Geral

E S C R I T Ó R I O :

Rua Dr. João Pessoa, 2 8 2 -a lto s

T E L E F O N E : 678

C R A T O — o— C E A R A
0 COMEÇO E O FIM ...
TRANSCREVEMOS, NAS PAGINAS A SEGUIR, CÓPIAS AUTENTICAS

DAS CERTIDÕES DE NASCIMENTO E DE ÓBITO DO NOSSO


EMINENTE PRESIDENTE, J. DE FIGUEIREDO FILHO
REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL

ESTADO DO CEARÁ CIDADE DO CRATO

CESARIO SARAIVA LEÃO, OFICIAL DO REGISTRO CIVIL DO


DISTRITO DO CRATO, ESTADO DO CEARÁ,
EM VIRTUDE DA LEI, ETC.

Certifico que no livro N° 3.9 de Registro de Nascimento desta


cidade à folhas 137 v consta sob N.9 142 o seguinte:
Que no dia vinte e seis do mês de Agosto do ano de mil
novecentos e desessete (1917), em meu Cartório, compareceu José
Alves de Figueiredo e perante as testemunhas abaixo indicadas,
declarou que no dia quatorze (14) do mês de julho, do ano de mil
novecentos e quatro, nesta cidade do Crato, do Estado do Ceará, teve
íugar o nascimento de uma criança, do sexo masculino, de cor branca,
de -nome JOSÉ, filho legítimo do declarante José Alves de Figueiredo
é de Emília Moreira Viana, naturais desta cidade, casados no cartório
deste mesma cidade; residentes nesta cidade, sendo seus avós paternos
Pedro Alves, de Lima e Anna Maria de Figueiredo, e maternos
ConstanTino "'Gonçalves Víãná e' Maria Moreira Viana.
É o que se contém no referido registro de nascimento, que se
acha assinado por José Alves de Figueiredo e testemunhas Antonio
Alves de Lima e José Mendes Martins, residentes nesta cidade. (Dec.
N.9 3024 de 17 de novembro de 1915).
E, para constar lavrei esta certidão que está conforme ao
original em meu poder e cartório, no qual me reporto e dou fé.
Cidade do Crato, 27 de Abril de 1940.
O Oficial do Registro Civil
CEZARIO SARAIVA LEÃO
Reconheço a firma de Cesario Saraiva Leão.
Dou fé. Crato, 3 de Maio de 1940.

Em testemunho da verdade.
0 3.9 Tabelião
PLÍNIO BEZERRA DE NORÕES
84
CARTÓRIO DO JÚ RI, EXECUÇÕES CRIMINAIS
REGISTRO CIVIL E TÍTULOS E DOCUMENTOS

Escrivã Oficial
MARIA JULIA LIMAVERDE VILAR

Escrevente Compromissada
F R A N C I S C A S I L V A

Ó B I T O
CERTIFICO que no livro N.9 C- 55, de Registro de óbitos à
fls. 148, sob o número de ordem 12.025, arquivado em meu Cartório
consta que no dia vinte e nove (29), do mês de agosto do ano de
mil novecentos e setenta e três (1973), nesta cidade de Crato, Estado
do Ceará, às 13,30 horas na Casa de Saúde Joaquim Bezerra de Farias
faleceu José Alves de Figueiredo Filho. Ca. de cabeça de Pankreas
c / icterícia obstrutiva e insuficiência Renal. De sexo Masculino, de
côr branca, com 69 anos de idade, profissão Professor, estado civil
casado, natural de Crato, Ceará, filiação José Alves de Figueiredo e
Emília Viana de Figueiredo, tendo atestado o óbito o Dr. Raimundo
Coêlho Bezerra de Farias. Sepultou-se no cemitério público de Crato
Ceará.

Observações: Foi declarante, Helio Guerra Galvão e foram


testemunhas, Francisco Alberto Andrade Aguiar e Maria das Graças
Silva. ..

O referido é verdade. Dou fé.


Crato, 03 de Outubro de 1973.

MARIA JULIA LIMAVERDE VILAR


....... Oficial do Registro Civil
85
De par com tudo o que foi
Outras publicado, o Instituto Cultural
do Cariri, e a família Figueire­
do receberam centenas de te­
legramas, cartões e cartas de
anifestações
pesar.

Institutos, Academias de Le­


tras, instituições culturais e ci­
de entíficas, empresas publicitá­
rias, clubes rotários, colégios,
escritores, parentes, amigos, de
todo o Ceará, de todo o Brasil,
Pesar enviaram mensagens as mais
sentidas.

Os Diretores do ICC, notada-


mente o Vice-Presidente, Padre
Antônio Gomes de Araújo, que
ficou no exercício da Presidên­
cia até a eleição e posse do no­
vo Presidente, e o secretário ge­
ral, J. Lindemberg de Aquino,
receberam, particularmente,
muitas mensagens de pesar.

A todos, o IC C e a família
Figueiredo Filho, representada
por sua esposa D. Zuleika, fi­
lhos e netos, agradecem atra­
vés desta página.
Organização

ANTONIO ALMINO DE LIMA

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A Cidade de C R A T O , Ceará, no

Desenvolvimento da Zona Caririense


J. DE FIGUEIREDO FILHO
Professor de História da Faculdade de Filosofia do Crato,
Presidente do Instituto Cultural do Cariri, do Conselho
Consultivo da A. N. P. U. H., com sede em São Paulo

Crato, no Ceará, passou à catego­ com os pairadores TUPI. Deu ori­


ria de cidade, a 17 de Outubro de 1853, gem ao topônimo da zona que fica no
quando era Presidente da província — sul cearense. Capistrano de Abreu, o
Joaquim Vilela de Castro Tavares. Foi maior historiador do Brasil e etnólogo,
coroamento natural' de seu desenvolvi­ classificou-o entre as grandes nações
mento, embora encravado em centro indígenas do Brasil. Falava a lingua
geográfico do Nordeste Brasileiro, afas­ travada, própria do tapuia em geral.
tado de sua metrópole, sem meios de O Cariri ou K IR IR I, tecia algodão e
comunicações apreciáveis. caroá, caçava, plantava mandioca, fa ­
Sua influência, desde o nascedou­ zia farinha, técnica bastante evoluída
ro, tornou-se marcante, não só no pra sua rudimentar civilização. Co­
■ Cariri, zona que fica ao sopé da cha­ nhecia o feijão, milho e o mais colhia
pada do Araripe, no lado cearense, nessa natureza exuberante e pródiga
como nas vizinhanças, compreendendo de um dos trechos mais ferteis do
o interior de Pernambuco, Piauí e Nordeste, com dezenas e dezenas de
Paraiba. fontes a jorrarem do sopé do Arari­
Nasceu da antiga aldeia do Brejo pe. Possuíam como arma principal, o
do Miranda, que também dava o nome HY-HY TÉ, espécie de prancha de ar-
de riacho que passava nas imediações, remeso, que manejavam com habilida­
provavelinente originário do sesmeiro de, sendo desmedidamente bravos, ro­
Gil de Miranda, dono de várias glebas bustos e relativamente inteligentes, de
no interior do Ceará. O fundador foi conformidade com a observação de
o capuchinho de origem Italiana do Lord Cochrane, quando, em 1824, es­
Hospício de Olinda. Erigiu capela de teve, em Fortaleza, a debelar a revolta
taipa e coberta de palha de palmeira republicana da Confederação do Equa­
babassu, em praça que traçou, em dor. Faziam parte das tropas do Pre­
quadrilátero perfeito, conforme o cos­ sidente revolucionário Tristão Gonçal­
tume de sua congregação religiosa. ves de Alencar Araripe.
Ainda hoje conserva o traçado de Frei A Confederação dos CARIRI, con­
Carlos Maria de Ferrara. O jardim tra o domínio lusitano deu mais traba­
foi batizado com o nome do fundador. lho a debelar do que a dos TAMOIOS,
Possui disposição belíssima, com fonte entre S. Paulo e Rio. Necessitou da
luminosa, pérgola, iluminação feérica mobilização de todo o poderio branco,
e bonitas residências a cercam, domi­ com investida em todos os rios nor­
nadas pela imponente Catedral, ainda destinos e requisição até de bandei­
no mesmo local da igrejinha e é divi­ rantes paulistas, peritos no preamento
dida em dois planos, um mais elevado, de indígenas.
dando-lhe graça e beleza. Escola, na aldeia do Brejo do Mi­
Foi o povoado iniciado para abri­ randa foi implantada pelo barbadinho
gar o amerincola Cariri, não só da ter­ fundador e catequista do núcleo. Para
ra, como das vizinhanças. Conforme melhor fixar o amerincola arranjou
o Visconde Porto seguro significa ca­ terreno agrícola com os proprietários
lado, taciturno, contrastando assim Domingo Alvares de Matos e esposa,
89
Maria Ferreira da Silva, herdeiros do hoje perdura quase esquecido. Celè-
sesmeiro Antônio Mendes Lobato. brizou-se pelo priorato, sendo o último
Mais adiante, foram espoliados pe­ o infante D. Miguel. Lembra casta de
la ganância dos brancos. Uns foram uvas, existente no Algarves. Chamou-
recolhidos a Arronches, Parangaba, nas se Vila Real do Crato.
imediações de Fortaleza, outros, mais José Sebastião de Carvalho e Melo,
livres, embrenharam pela chapada do o onipotente Marquês de Pombal, an-
Araripe, em busca de outras paragens. teriormente Conde de Oeiras, no inte­
Os albores do povoamento de resse de luzitanizar o Brasil, ordenou
Crato perdem-se nos primeiros mo­ que os governadores, do lado de cá do
mentos do século XV III. A terra, em Atlântico, ao criarem vilas, dessem-
zona fértil, contrastando com a caa­ lhes topônimos de origem portuguêsa.
tinga que a rodeia, água abundante, Na época, por influência do jesuí­
constitui-se em ponto de atracionismo ta, espalhava-se a lingua geral, filha
para muita gente provinda da zona do do tupi, para melhor relação do ele­
São Francisco e depois, dos Inhamuns, mento aborígene com o colonizador. A
Ceará, conforme observação, do Juiz expulsão daquela Ordem Religiosa, ba­
Carlos Feitosa, em colaboração, na re­ luarte outrora da Igreja contra Refor­
vista cratense — “ITAYTERA" N.v 17, ma protestante, em 1773 pelo poderoso
de 1973. ministro de D. José I, não se prendeu
O povoado, perdido no âmago do exclusivamente ao atentado contra a-
Nordeste Brasileiro, prosperou, tanto quele Rei. A tentativa de regícidio foi
assim que, a 6 de Agosto de 1763, o atribuída pelo governo a um conluio
governador de Pernambuco o elevou a entre a família Távora e a Companhia
município, confirmado depois pelo seu de Jesus.
sucessor — Conde de Vila Flor. Na Velha rixa existia, em terras do
época o Ceará pertencia à jurisdição Brasil em torno dos jesuítas. Bandei­
pernambucana. O ato compreendeu rantes tornaram-se seus inimigos, ten­
também a aldeia de Baturité. Todas do como causa o elemento indígena
as duas tiveram topônimos de origem das reduções, bem organizadas disci-
lusitana. plinarmente pelos Filhos de Santo
Os capuchinhos já haviam aban­ Inácio. Nos Sete Povos, do Rio Gran­
donado a direção da capelinha, consa­ de do Sul, havia preponderância abso­
grada à Nossa Senhora da Penha, de luta do religioso espanhol. A própria
França, devoção daquela ordem reli­ Espanha, visceralmente religiosa, te­
giosa, o motivo teve origem na políti­ meu a sua influência. Todos os países
ca anti-estrangeira da Corte Lusitana. da Europa abriram guerra contra os
Padre Manuel Teixeira de Morais, de inacianos, tendo também a chancela
S. Mateus dirigia a paróquia, iniciada, do Papa. Na expulsão geral foram êles
em 1762, só inaugurada oficialmente, abrigar-se debaixo de Catarina I, or­
em 1768. Frei Carlos Maria de Ferra­ todoxa do Império da Rússia.
ra, em 1749, foi substituído pelo seu A instrução estava em mãos dos
irmão de Ordem, Frei Gil Francisco Jesuítas. Nesse setor, foi golpe tre­
de Palermo, até 1760. O sucessor, bar- mendo para a nação que se preparava
badinho, igualmente, celebrou sua úl­ para eclodir, mais adiante. A instru­
tima missa, em Janeiro de 1763. T ra­ ção leiga não pôde substituí-los. Não
tava-se de Frei Joaquim de Veneza, pe­ possuíamos universidades, a exemplo
lo fato do vigário de S. Mateus ainda da América espanhola. Tive ensejo de
continuar na paróquia anterior. visitar Caxias, no Maranhão, onde exis­
O mapa do Brasil continua ponti­ tem vestígios de colégio jesuítico, mos­
lhado de muitas localidades, com to­ trando opulência. Lá estudavam ra­
pônimos lusos. A Missão do Miranda, pazes de quase todo o interior do Ma­
embora com denominação de origem ranhão, Piauí e Ceará.
ibérica, sem qualquer vineulação com Há duzentos anos, estamos afasta­
o ameríncola, ou bárbaros, como cha­ dos da administração férrea de Pom­
mavam, foi rebatizada com outra que bal. Devemos agora separar o joio
lembrava vilarejo alentejano. Ainda do trigo, analizando-a conforme o tem­
90
po em que êle atuou. P ara o B rasil dinheiro, ou efeitos, o que paciente­
teve seu lado positivo. O irm ão que m ente se regula a que se acham re­
mandou para esta colônia, Francisco duzidos”.
Xavier de M endonça Furtado foi es­ Conform e as determ inações, tr a n s ­
tadista de visão esclarecida, seguindo à crita s do historiador Theberge pelo
risca a orientação de Lisboa. Mudou a juiz Carlos Feitosa, publicada no 17.9
sede do governo do Estado do M ara­ núm ero da revista “IT A Y T E R A ", In s ­
nhão, compreendendo o Norte, de São tituto Cultural do Cariri, 1973, Crato.
Luís para Belém do Pará. Impediu a s ­ Na Vila R eal do Crato m atricula­
sim a conquista da Amazônia por fili- ram -se 53 do sexo m asculino, en tre­
busteiros francês e inglês. Desem pe- gues ao m estre Jo ã o Salvador. In scre­
diu a ligação entre o Amazonas e Mato veram -se 37 m eninas n a outra. O n o ­
Grosso, interrom pida pela influência me da M estra não ficou. Diz, por oca­
jesuítica. T ran sferiu a capital do B r a ­ sião da inauguração da V ila existiam
sil para o R io de Ja n eiro , m ais próxi­ 208 hom ens para 400 casas. Foram
ma da zona de m ineração. recrutados para a vila recem -inaugu-
No extrem o sul, M endonça F u rta ­ rada am eríncolas Cariús, Quixelô e
do arregim entou tropa de linh a mais outros. Convém ressaltar que já exis­
forte, capaz de garantir-n os as fro n ­ tiam escolas no núcleo povoado, desde
teiras com as colonias espanholas do a Missão do B re jo do M iranda ao en ­
Prata. F o i política que contribuiu de­ cargo de seu fundador — Frei Carlos
cisivam ente para a futura unificação M aria de Ferrara. As notas acim a fo ­
do país. Libertou Pom bal o elem ento ram colhidas no cartório de Icó pelo
indígena do cativeiro. já citado historiad or Theberge, de
Voltem os à Vila R eal do Crato. origem francêsa. Integrou-se de alma
Instalada a 21 de Ju n h o de 1764, com e coração àquela vila sertan eja, por
o protocolo legal, pelo Ouvidor do Cea­ demais propícia ao criatório de gado
rá Grande — V itorino Xerez Soares vacum.
Barbosa, foi a vila esquadrinhada, p ar­ Citemos novam ente o juiz Carlos
tindo do quadro da M atriz de Nossa Feitosa, à pág. 27 do 179 núm ero de
Senh ora da Penha. Convém cita r as ITA Y T ER A " :
determ inações, vindas de Pernam buco
praxe em anada do R e i : “ (C) O território recebido em doa­
“Haverá em todas as V ilas ou L u­ ção para nele ser construída a Vila, e
gares, duas Escolas Públicas, uma para situação de seus m oradores, a CARTA
Rapazes e outra para Raparigas, nas dá, em prim eiro lugar, a extensão das
quais se en sinará, além da D outrina medidas lineares portuguêsas antigas,
C ristã; ler, escrever e contar, n a fo r ­ e, em seguida, diz quanto tocará a ca­
ma que se pratica em todas a s nações da um, no mesmo nível de igualdade,
civilizadas. Na das Raparigas, além neste tocante, o Vigário Padre Manuel
da D outrina Cristã, ler, escrever, fiar, T eixeira (prova de que a Paróquia já
fazer renda, costuras e todos os m is­ funcionava) Padre M anuel Teixeira e
teres próprios de seu sexo (suprim iram o principal dos gentios, índio Jo sé
o ensino de contar por acharem des­ Amorim; o Coadjutor e o Capitão-M or;
necessário à m ulher). Sargento-M or, o Capitão e Alferes;
P ara a subsistência das sobreditas Sargentos, Cabos, Escrivães, M eirinhos;
Escolas haverá um M estre, e um a M es­ Soldados e M oradores”.
tra que devem ser pessoas dotadas de T ão porm enorizadas eram as de­
bons costumes, prudência e capacidade term inações do Governador que m an ­
dos atos que possam desem penhar as dou que os m oradores guardassem o
obrigações de seus empregos, às quais esterco de anim ais para adubo da la ­
se destinará o em olum ento de meio voura.
tostão por m ês de cada discípulo, meio “Determinou que as ruas deveríam
alqueire de fa rin h a por ano, n a o ca­ ser retas (direitas) e orientadas no
sião da colheita, pago pelos pais dos sentido n orte-sul, leste-oeste (cardiais)
mesmos índios, ou pelas pessoas, em e assim foi feito. Ainda h o je o es-
cujo poder viverem, concorrendo cada auadrinham ento de Crato é perfeito,
um com porção que lhe com petir em como se observa de sua planta. D e­
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terminou também que as casas teriam nosso povoamento, toma agora novo
quintais destinados à criação"’. Carlos impulso, após as Exposições Centro
Feitosa. Nordestina de Animais e Produtos De­
Esse alinhamento continuou com rivados, ocorridas no mês de Julho
as ruas abertas depois, com algumas atraindo gado e visitantes das mais
interrupções, que facilmente poderão longínquas paragens criadoras do B ra­
ser corrigidas. J á vimos que Frei sil, incluindo o Triângulo Mineiro, Rio
Carlos, à moda dos filhos de S. Fran ­ Grande do Sul, Alagoas e Bahia.
cisco, traçou a praça da Matriz em As transações comerciais de Crato
quadrado, com a capela ao centro. A eram feitas no princípio, com Recife,
cidade espalhou-se pelas estradas, des­ através de Icó e Aracati, aproveitando
ceu e subiu morros, com plano ur­ a via natural para carros de bois, das
banístico, legado pelos nossos ances­ várzeas jaguaribanas, entre aquelas
trais. Não foi cópia da planta de For­ duas vilas. Havia também a estrada
taleza, surgida no século passado com real entre Crato e a capital pernambu­
o boticário Ferreira. Quando a Vila cana. Exportavamos sempre rapadura,
de Crato foi inaugurada, a capital cea­ cereais, aguardente e algodão, a impor­
rense não passava de localidade atra­ tação prendia-se a produtos manufa­
sada, pior do que Aracati e Icó. turados. Só a aproximação da Estrada
Seu traçado obedeceu a planos an­ de Ferro de Baturité, hoje Rêde de Via-
tigos do fundador capuchinho e das ção Cearense, nos vinculou mais a For­
determinações do Governador de Per­ taleza. Rodovias nos interligam às
nambuco. principais cidades do país e a importa­
Tudo estava preparado para a Vila ção se faz direta com S. Paulo, pela
progredir e projetar-se para o futuro Rio - Bahia.
que seria dos mais brilhantes. Criou A mais imediata influência da ele­
Câmara Municipal com eleições trie- vação de Crato à vila foi que seus h a­
nais. Esta escolheu seus juizes de Paz, bitantes aprenderam a governar-se por
recaindo no branco Francisco de Melo si só, longe da Bahia, Rio, Recife e
Pereira, também presidente da Câmara, Fortaleza. Vieram os juizes de Paz,
portanto, com poderes executivos mu­ capitão-mor, meirinhos. O Senado da
nicipais, e o indígena, José Amorim. ■ Câmara Municipal, tendo o presidente
Crato tomou alento e, na época, abran­ no executivo, recebia as queixas do
gia terras dos futuros municípios de povo e providenciava no que era pos­
Barbalha, Juazeiro do Norte e Santana sível. As escolas e os vigários melho­
do Cariri. raram as condições educacionais da
Surgida economicamente com a população. Donos de sítios criaram
cultura da mandioca, tendo casa de prestígio e mandavam os filhos para
farinha, ampliada do sistema primitivo o estudo, em Recife para Seminário de
indígena, introduziu outras culturas Olinda. Lá se aprendia letra ou filo­
agrícolas. Terrenos de massapê, facil­ sofia. O clima liberal soprado dos
mente irrigáveis pelas fontes do Ara- Clubes Patrióticos e das Lojas Maçô-
ripe e dos brejos, intensificou a cul­ nicas contaminava mais os semina­
tura canavieira importada da zona da ristas do que a Teologia ou Apologé-
mata pernambucana e do Reconcavo tica. A família Alencar e outras a ela
Baiano. Engenhos de rapadura e a- entrelaçadas, tendo à frente o espírito
guardente disseminaram-se. As casas varonil de Eárbara Pereira de Alencar,
de farinha multiplicaram-se e mais adi­ enviou vários jovens. Incumbiram-se
ante invadiram o chapadão do Arari- daquelas doutrinas enciclopedistas, en­
pe e ficaram. Fruteirais da zona tro­ tre êles, José Martiniano de Alencar,
pical espalharam-se em sítios e quin­ que seria mais adiante, estadista do
tais. O algodão não tardou, puxado Império.
em bolandeiras a tração animal. No De pouco a pouco a elite da anti­
começo do século presente o motor a ga Missão do Brejo do Miranda adqui­
vapor foi introduzido, a dar lugar ul­ riu ansias de independência. Não tar­
timamente às usinas de beneficiamen- dou a trabalhar para retirar de topô-
to daquela fibra. nimo aquele pomposo título que o li­
A criação que medrou no início de gava ao Reino. A matrona, embora
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viúva do português José Gonçalves Pe­ à maneira norte americana ficou mar­
reça, orientada por seu filho José Mar- cada para sete de Setembro, data que
tiniano, deu guarida ao movimento que coincidia com o grito do Ipiranga. A
se esboçava, tanto assim que o natura­ luta pela emancipação política se ini­
lista e pensador que preparou a revo­ ciou, do centro para o litoral. Autori­
lução pernambucana de 1817, preconi­ dades portuguêsas, ou por outra fiéis
zou heroina, ainda, em 1810, BARBA­ a Portugal foram demitidas. Criou-se,
RA DO CRATO. com representantes da Comarca de
Por alvará de 22 de Junho de 1816, Crato, o GOVERNO TEMPORÁRIO DO
a Vila Real do Crato passou a cons­ ICó, vila dominada por negociantes
tituir a segunda comarca do Ceará, lusos e prestigiosos. Houve lutas e o
abrangendo os municípios sul cearen­ Governo Temporário, encabeçado por
ses e parte do centro. O primeiro Pereira Filgueiras e Tristão Gonçalves,
Ouvidor, homem ilustrado, empreende­ mais tarde com o sobrenome nativista
dor, lusitano, foi José Raimundo do de Alencar Araripe, marchou com ele­
Paço Porbem Barbosa. Foi nomeado mentos armados, engrossando sempre,
a 12 de Julho de 1817 e esteve, em Fortaleza, entregou-se sem lutas, do­
exercício, até 1820. minada até então por governo alheio
A Revolução independentista e re­ ao movimento, contrário à vontade de
publicana atingiu Crato, veiculada pelo sua população que sintonizava com a
subdiácono José Martiniano de Alen­ nação. A posse ocorreu a 23 de J a ­
car. Rebentou-se a 3 de Maio, após neiro de 1823.
Missa celebrada em comemoração à Os mesmos chefes cratenses inva­
Santa Cruz. Contou com o apoio da diram o Piauí e Maranhão, entregues
família Alencar, amigos e seus mora­ ao experimentado cabo de guerra, José
dores de sítios. Durou pouco por fal­ da Cunha Fidié, desalojando-o de Ca­
ta de preparo ideológico e militar. Fo ­ xias, assim assegurando a libertação
ram debelados os revoltosos facilmen­ do Norte. A luta não parou.
te pelo chefe conservador Leandro Com o fechamento extemporâneo
Bezerra Monteiro e o Capitão-Mor do da Constituinte Brasileira a 12 de No­
Crato, José Pereira Filgueiras, homem vembro de 1823, por inspiração de José
de força física e moral de proporções Martiniano de Alencar, deputado á
descomunais. Os chefes, incluindo mesma Constituinte, Tristão que foi o
Tristão de Alencar e mais adiante sua presidente do Ceará e Pereira Filguei­
genitora Dona Bárbara foram presos, ra, comandante das armas da malogra­
remetidos para Fortaleza, Recife e B a ­ da Confederação do Equador, tiveram
hia. Sofreram o diabo, até que foram fim desastrado. O primeiro foi truci­
anistiados, em consequência da Revo­ dado, em Santa Rosa, hoje Solonópo-
lução Constitucionalista do Porto. le e o segundo faleceu de impaludismo,
Quando retornaram de Salvador quando seguia preso para o Rio, em
não ficaram inativos. Conseguindo S. Romão, Minas, no São Francisco.
adesão de seus inimigos de 1817, tendo Com a abdicação de D. Pedro I,
como figura principal, o caudilho Pe­ a 7 de Abril de 1873, os antigos libe­
reira Filgueira, Tristão Gonçalves Pe­ rais são perseguidos, em Crato, pelo
reira de Alencar, com o escrivão Miguel ultra-conservador chefe CORCUNDA—
Pereira Ibiapina conseguiram que a Joaquim Pinto Madeira e seu compa­
Câmara toda, no dia 1*? de Setembro nheiro de ideal e de lutas, o vigário de
de 1822, aderisse ao decreto do Prín­ Jardim, Padre Antônio Manuel de Sou­
cipe Regente D. Pedro, mandando que sa. Chegara a hora da vingança. Pin­
se fizesse a eleição da Constituinte to Madeira não se conformou com a
Brasileira, de conformidade com o de­ saida de D. Pedro I. Iniciou revolta
creto de 23 de Junho, do mesmo ano. de caráter restauradora. Crato armou-
O fato foi quase inédito no Norte. se, mas foi tomado pelos pintistas ja r -
Muitos historiadores consideram a da­ dinenses, havendo morticínio a san­
ta como o dia da Independência, em gue frio. Começou êle a marcha em
Crato. O melhor é que a data para a direção da capital, mas foi detido em
escolha dos eleitores que iriam escolher Icó.
os autênticos de nossos representantes O Presidente do Ceará, José Ma-
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riano de Albuquerque Cavalcanti che­ trou o espírito sempre ativo do pio-
gou ao campo da luta e destroçou os neirismo cratense. O problema só foi
rebeldes, embora numerosos. O Gal. resolvido com a chegada, em 1360, dos
Labatut, vulto de destaque na luta da fios de Paulo Afonso.
Bahia, herói de Cabrito, foi enviado ao O primeiro bispo do Ceará, D. Luís
Cariri, pela Regência. Pouco teve o Antônio dos Santos, filho de Angra dos
que fazer militarmente, pois, o presi­ Reis, homem de visão extraordinária,
dente José Mariano, herói da revolução duas vezes vindo a Crato, em costa de
pernambucana, de 1817, em Recife, já animais, vencendo 600 quilômetros,
havia dado o golpe de misericórdia. instalou o Seminário de S. José, na
Labatut lançou proclamação aos revol­ chapada do Granjeiro.
tosos e estes capitularam. Presos os É edifício imponente, entregue, no
chefes pretensamente restaurados, pas­ começo aos padres Lasaristas. Cons­
saram por série de prisões Joaquim tituiu a CÉLULA MATER que marcou
Pinto Madeira, já no governo Marti- o próximo desenvolvimento educacio­
niano de Alencar, em 1834, foi reco­ nal da terra, aproveitado ao máximo
lhido a Crato, julgado, irregularmente pelo 1? bispo da Diocese de Crato, D.
e fusilado, no Barro Vermelho, agora Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva.
Pinto Madeira, a 28 de Novembro de Reabriu o Seminário de S. José, mesmo
1834. O Pe. Antônio Manuel de Sousa, chegando a Crato, a terrível calamida­
apelidado BENZE-CACETE3, por aben­ de climática de 1915. Fundou o colégio
çoar os cacetes que os cabras de Ja r­ para moças, Santa Teresa de Jesus, ao
dim armavam-se, ficou em S. Luís, do mesmo tempo que instituiu a Congre­
Maranhão, retido por doença que o gação do mesmo nome, agora com e-
impediu de atender a requisição judi­ ducandários, orfanatos, em quase todo
cial de Fortaleza. Ao ser julgado em o país, incluindo o estado lider da Fe­
Crato, em 1837, encontrando a atmos­ deração, S. Paulo.
fera amenizada pela celeuma que re­ Em 1868, o Apóstolo do Nordeste,
percutiu, no Ceará e no Rio, a morte Padre Ibiapina, filho do antigo escri­
de Pinto Madeira, foi absolvido, vol­ vão de Crato, mentor, com Tristão
tando a dirigir espiritualmente a pa­ Gonçalves do movimento da Câmara
róquia de Jardim. Municipal, que encabeçou a indepen­
Todas essas lutas impediram a vila dência no Ceará, fundou a Casa de Ca­
de progredir por algum tempo. Depois, ridade. Seu pai fôra fusilado, doente
retomou o ritmo normal de desenvol­ de varíola, por ter tomado parte da
vimento. A melhor prova foi ter sido Confederação do Equador. Seu filho
elevada à categoria de cidade pelo pre­ deixou roteiro luminoso de obras em
sidente do Ceará, Dr. Joaquim Vilela benefício do povo e da Religião no
de Castro Tavares, com idêntico topô- Nordeste. O estabelecimento que fun­
nimo da vila. dou, em Crato, destinou-se ao ensino
A evolução continuou. Em 5 de de ofício e de letras ao elemento fe­
Julho de 1855, circulou seu primeiro minino, além de espécie de irmandade
jornal “O ARARIPE”, dirigido pelo fa ­ para mantê-lo e dirigí-lo. Sua sede
moso homem de imprensa João B rí- foi remodelada para bonito e vasto
gido dos Santos, historiador e que, de­ edifício moderno por D. Francisco de
pois se projetaria em Fortaleza como Assis Pires e sucessor, D. Vicente de
polemista e político. J á no crepúsculo Paulo de Araújo Matos. Nele funcio­
do século passado, em 1898, inaugurou nam. a Rádio Educadora do Cariri, Gi­
a cidade sua estação telegráfica, fican­ násio Madre Ana Couto, Cine-Educa-
do assim em comunicação rápida com d.ora, parte da Faculdade de Filosofia
o mundo. Teve luz elétrica deficiente, e a Fundação Padre Ibiapina, das ini­
em 1919, importando caldeira, de La­ ciativas mais úteis da Diocese. Há edu­
vras, ponto terminal da estrada de cação intensa, em letras e ofícios para
ferro, chegada, com dificuldades, em a juventude, sindicalização dos operá­
carro de bois mansos. Inaugurava e- rios, além de programa cultural, é
nergia elétrica, em 1939, á força hi­ instituição modelar que por si só reco­
dráulica da nascente do Batateira. menda o papel da Igreja, nos tempos
Tornou-se logo deficiente, mas m os­ presentes.
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O bispo criou a primeira coopera­ te com o centro e bairros ricos.
tiva de crédito e a cidade é dominada A zona urbana conserva o traçado
por extensa rede b a n cá ria : Banco do antigo com ruas retas, arborização,
Brasil, Bradesco, Banco da Bahia, B an ­ calçamento a paralelepipedo. As pra­
co Industrial do Cariri, Cooperativa de ças e jardins públicos são belos e
Crédito Caixeiral, além de várias coo­ multiplicam-se as residências em estilo
perativas de consumo. moderno. As casas comerciais, fáb ri­
O bispado muito contribuiu para a cas são de bons aspectos. Abundantes
difusão do ensino não só no município são as oficinas mecânicas, bem apare­
como noutros limítrofes. O Estado e lhadas.
a Municipalidade continuaram, com Clubes sociais e camprestres sobres­
eficiência, na mesma iniciativa. Fun­ saem -se pela frequência, bom gosto e
cionam oito grupos escolares na zona piscinas, recordista em quantidade, no
urbana e rêde vultosa de escolas iso­ interior nordestino. Há três nos cam­
ladas nos distritos. No segundo grau, pos, com jardins e em pontos pitores­
só o Colégio Estadual possui matrícula cos e frequência desusada aos sábados
de cerca de 3.000 alunos, seguindo-se e domingos.
o Colégio Diocesano, Colégio Santa A cidade chama a atenção pela
Teresa de Jesus, Ginásio Madre Ana beleza de seus jardins particulares,
Couto, Escola de Música Branca B i­ públicos e fruteiras nos quintais que
lhar. No distrito há dois ginásios e não desaparecem com o progresso. De
nas Almécegas funciona bem apetre- longe, sobressae-se a verdura que a do­
chado Colégio Agrícola, bem dirigido, mina, em contraste com outras locali­
com Centro de Tratoristas. J á se ini­ dades nordestinas da zona sertaneja.
ciou, na urbe, o ensino superior, com A iluminação, embora deficiente
a Faculdade de Filosofia, Ciências e no passado, mesmo tendo dado o exem­
Letras, Faculdade de Economia, m an­ plo ás outras cidades, na introdução
tida pela Escola Técnica de Comércio, de energia elétrica é agora feérica e
instituição modelar e Faculdade de abundante, com fios que vieram da
Direito. Crato é ponto de atração de hidrelétrica de Paulo Afonso. Há duas
estudantes de toda a circunvizinhança rádios emissoras possantes, ouvidas
e até de paragens mais afastadas. Além em vasta região, a TV entra bem n íti­
disso, mantém número crescido de jo ­ da, das duas estações de Fortaleza,
vens nas Universidades de Fortaleza, captada por milhares de aparelhos re­
Recife, Salvador, S. Paulo, Brasília e ceptores.
Rio. Afora outros que fazem cursos É centro bem animado, com bares,
especializados na Europa e nos Esta­ restaurantes típicos, boas orquestras,
dos Unidos da América. corais, teatro de jovens, até proceden­
É relativamente bem alentada sua tes de distritos rurais.
rêde hospitalar, com toda a aparelha­ O m ajestoso edifício do SE SI, pri­
gem moderna, orientada por compe­ ma pela beleza arquitetônica, salões de
tente corpo médico e também ponto aula, campos de esporte e piscina.
de atração para muita gente de fora. Movimento intenso de carros e pe­
O pioneiro na zona foi o Hospital de destres demonstra que a cidade tem
S. Francisco de Assis, iniciativa dioce­ vida e animação, como capital de pe­
sana, dos mais completos do interior quena proporção. Mesmo, surgido seu
nordestino. Há ainda o Sanatório pa­ núcleo populacional, h á mais de du­
ra tuberculosos, em prédio moderno, zentos anos, Crato não aparenta nada
vasto, isolado, Casa de Saúde S. Mi­ de velharias. Sua aparência é moder­
guel, Infantil, Hospital de Cardiologia, na e os edifícios antigos, como o Se­
Doenças mentais, Sandu, Centro de minário e Igrejas possuem aspectos de
Saúde, Posto de Endemias Rurais, a - construção mais recentes, conservando
brangendo vasta zona. certa imponência.
Na orla citadina, como sucede em Há na cidade Parque Permanente
todo o Nordeste e mesmo em cidades bem vasto, com áreas e pavilhões di­
do sul, aglomera-se a população des­ versos, onde se realiza anualmente
favorecida da sorte, fugida da zona ru­ concorrida Exposição Centro Nordes­
ral, em pleno desconforto, em contras­ tina de Animais e Produtos Derivados.
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Atrai a maior aglomeração humana da luta contínua contra a natureza e o
cidade e quantidade apreciável de gado. bronco selvícola, que, apesar de domi­
Tomou proporções avultadas pelas fes­ nado pela barbária, sabia defender sua
tividades, rodeios, folclore. Muito con­ gleba, com unhas e dentes.
tribuiu para a melhoria do rebanho Neste pedaço dadivoso da terra
bovino na região. nordestina, além da Missão dos Carirís
Há fatos marcantes que compro­ Novos, depois, Missão Velha, funda­
vam que o brasileiro do interior, do ram-se quase simultaneamente, dois
pleno coração do Nordeste, não é in- núcleos de povoamento, à sombra do
fenso à civilização, embora, de quan­ zelo apostólico dos capuchinhos do
do em quando, atingido por seca total. Hospício de Olinda. Um foi a Missão
Está evoluindo, em setores básicos ir- do Miranda que falei e outro e o ou­
removíveis. É o que acontece com a tro no lado pernambucano da chapada
cidade de Crato. Desde os seus pri- do Araripe, Exú. Situando-se muito
mórdios, seus homens de destaque en­ ao sopé do chapadão, por segurança,
caminharam os filhos para o estudo mudou-se mais adiante para outro
superior para Olinda, Bahia, Recife, local.
Rio, S. Paulo, Fortaleza, Ouro Preto e O outro, na capitania do Ceará,
últimamente, Brasília. Muitos fixam-se ás margens do salgado, o primeiro a
noutras terras, em posição de destaque fundar-se, provavelmente pelos Car­
e outros retornam ao Cariri, consegui­ melitas, de Pernambuco. Chamavam-se
ram firm ar elite cultural, com os que S. José dos Cariris Novos pelos mes­
ficaram, em Crato, estudando; hoje mos indígenas que povoavam a zona,
ensinam em vários estabelecimentos de idênticos aos dos Cariris Velhos, da
ensino e até escolas de ensino superior, Paraíba.
com proficiência. Em quase todos os A Missão do Brejo do Miranda,
jornais do País encontramos cratenses surgiu ao amparo da faina agrícola e
militando em suas colunas, sem qual­ de escolas rudimentares. Quando evo­
quer desdouro. luiu após elevar-se à vila, surgiram
Após o primeiro semanário que poetas eruditos e populares. Dois can­
Crato possuiu, inaugurando a impren­ tadores de improviso, dos principais do
sa do interior cearense, em 1855, se­ Nordeste: José de Matos, espécie de
guiram-se outros jornais, sem inter­ Bocage matuto e o cego Aderaldo nas­
rupção, até os momentos presentes. ceram em plagas cratenses. O erudito
Todos esses fatores transformaram que primeiro desabrochou foi o poeta
Crato em centro cultural com proje­ Ludgero. Na zona a floração de es­
ção. O mais importante é que nenhum critores é bem vultosa tendo Crato
dos melhoramentos que surgem ten­ como centro principal.
dem a derramar-se pela vizinhança. No começo do século, além dos
No primeiro capítulo do quarto grêmios que sempre pulularam, sobres­
volume de minha HISTÓRIA DO CA- sai-se o Clube Romeiros do Porvir,
R IR I, começo com a esplanação que espécie de réplica à Padaria Espiritual
transcrevo: de Fortaleza. Tivemos teatro, no deal-
Nenhum processo de desenvolvi­ bar deste século, tendo composições
mento intelectual duma região nasce locais, ao encargo do então promotor
espontaneamente, ou é transplantado, de Justiça — Dr. Soriano de Albuquer­
já amadurecido, de um lugar para que. Mudando-se para Fortaleza teve
outro. atuação brilhante no meio e criou na
Na realidade, fomos povoados por Faculdade de Direito, a primeira ca­
homens que eram portadores de certo deira de Sociologia, do país.
grau de civilização. Todavia, os ex­ Tivemos vultos de renome nacional
ploradores que avançaram pelo sertão a exemplo de José Martiniano de Alen­
a dentro, em paragens inóspitas, não car, estadista do Império, presidente da
se distiguiram pelas letras, nem por Província, Senador, pai do romancista
conhecimentos de certo valor intelec­ José de Alencar. Leandro Bezerra
tual. Foram seres humanos fortes, Monteiro celebrizou-se pela defesa que
que não temiam, de forma alguma, fez dos bispos D. Vital e D. Macedo
enfrentar as asperezas do meio, em Costa, na chamada questão religiosa,
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que abalou os alicerces do império. O progresso do meio é bem desenvolvida.
m aior paisagista do B rasil foi o cra- O clero novo. O MOBRAL começou
tense Vicente Leite. Seu mais em inen­ a instruir a população para resolver
te gravador, residindo em Paris é ou­ seus problemas vitais. Clubes de ser­
tro conterrâneo. Servulo (Esmeraldo. viço cooperam nessa m archa evolutiva.
Gravador popular é Valderedo Gonçal­ Sua história é repleta de ensinamentos
ves, com trabalhos já expostos na Eu­ e m arcou-lhe o futuro cheio de esplen­
ropa, com elogios. Outras figuras so- dor, mercê também da tenacidade de
bresaem -se no cenário n a cio n a l: os seus filhos tanto no passado como no
advogados Ratisbona, e Álvaro Bom il- presente.
car, criador do nacionalismo tipica­ Bibliografia ITAYTERA, Crato, IP
mente brasileiro, o violinista Virgílio e 17.v volumes. História do Cariri, J .
Arraes Filho, o bispo de Pelotas, Dom de Figueiredo Filho, IP e 2P volumes,
Joaquim Ferreira de Melo, o Pe. Cícero Revista Brasileira de Cultura — Minis­
Romão B atista é filho do Crato é das tério da Educação do Cariri, Efem eri-
figuras mais populares do Nordeste e des do Cariri - Irineu Pinheiro - Im ­
mesmo do Brasil. Jo sé Carvalho, escri­ prensa Universitária do Ceará.
tor, foi o primeiro a encabeçar a luta Crato, Ju lho de 1973.
contra as forças de ocupação do terri­
tório, em litígio com a Bolívia — o CRATO NOS ALTOS ESCALÕES
Acre, hoje estado da Federação.
No dia 18 de Outubro de 1953, a in ­ DO GOVERNO FEDERAL
da em comemoração ás deslumbrantes
Pelo Exmo Sr. Presidente Ernesto
festas do primeiro centenário de eleva­
Geisel foi nomeado ASSESSOR DE
ção de Crato à cidade, fundou-se o In s­
IMPRENSA da Presidência da Repú­
tituto Cultural do Cariri que aglutina
blica o nosso eminente conterrâneo,
os escritores da zona ou a ela ligado,
Dr. Humberto Esmeraldo Barreto. P er­
em secções de Letras, Arte, Ciências e
tence a tradicional' fam ília local sendo
Folclore, com cadeiras patrocinadas e
seus pais o Sr. e Sra. Juvencio Earreto.
preenchidas sempre com trabalhos
Por outro lado, o M inistro da F a ­
bem esplanados e orientados. Não
zenda, S. Excia. Mario Henrique S i-
fazem vergonha diante de qualquer a -
mônsem, nomeou o escritor Nertan
cademia ou instituto histórico de qual­
Macêdo para seu Assessor de Im pren­
quer recanto do Brasil. Mantém a re­
sa. T rata-se de nosso consócio do In s­
vista ITAYTERA, já no 17? ano, cir­
tituto Cultural do Cariri e jornalista
culando nos meios cultos nacionais e
dos mais conceituados do país, a quem
na região.
enviamos o nosso especial abraço de
Na cidade -circulam outras duas
cumprimentos.
revistas : “REGIÃO” a da FACULDA­
DE DE FILOSOFIA DO CRATO. Cir­
cula o sem anário de feição moderna BENIZARD MACÊDO ELEITO
a “A AÇÃO”, além dos dois jornais fa ­ PARA A ACADEMIA CEARENSE
lados, das possantes emissoras locais. DE LETRAS
Crato aumenta de dia para dia,
com urbaniização bem característica, Com muito júbilo, o Instituto Cul­
obedecendo o traçado primitivo. Os tural do Cariri registra a merecida e-
problemas crescem também como em leição (10.03.1974) para a Academia
todas as cidades, em prejuízo da zona Cearense de Letras, do intelectual con­
rurícola, embora quase toda eletrifica­ terrâneo, professor, jo rnalista e histo­
da com escolas e estradas muitas delas riador, Jo sé Denizard Macêdo de Al­
asfaltadas. Vincula-se com o país pe­ cântara. Motivo especial de nossa ale­
lo asfalto, via ferrea e avião. Comuni­ gria é que a sua condução á im ortali­
ca-se por telefone com o mundo e pe­ dade se fez por unanimidade, ju sta­
lo telegráfo nacional. Criam -se insti­ mente para a Cadeira 34, antes ocu­
tuições. P rojeta-se universidade regio­ pada pelo nosso inolvidável Presidente,
nal, com três escolas de nível superior J . de Figueiredo Filho, concedendo, as­
funcionando, recebendo alunos das lo ­ sim, á nossa cidade, ter um outro seu
calidades vizinhas. Sua influência no filho naquela mesma Cadeira.
97
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CRATO — CEARÁ
“FLORO BARTOLOMEU”
de N E R T A N MACÊDO
J. DE FIGUEIREDO FILHO

Nertan Macêdo especializou-se em como a vida do domador do campo,


escrever sôbre assuntos vinculados in­ mas sabe tocar, bem de perto, à alma
timamente ao sertão nordestino. Nas­ do sertão ou de quem sabe amá-lo.
ceu em Crato e íamiliarizou-se com a Quando faz versos é a maneira do
vida do interior, desde muito cêdo. cantador do pé-de-viola, mas, estili­
Conheceu de perto a tragédia das sê- zando-os são bons e têm dom de
cas. Nas feiras, conviveu com o ho­ perdurar. Sabe ser compreendido pelo
mem da caatinga braba. Escutou a - nordestino e de todo aquêle a quem
tento, estórias de cangaceiros célebres ao mesmo de afeiçôa, de coração.
e leu historietas de livrinhos de cor­ Suas publicações, tôdas com toque
del, ainda quando criança a atirar de de originalidade, têm se constituído
baladeiras, nos brejos do Batateira. série de sucesso ininterrupto. Seu pri­
Conheceu Juazeiro e ouviu-lhe as coi­ meiro livro, lançado em artística edi­
sas que contavam de Maria de Araújo, ção da “AGÊNCIA JORNALÍSTICA
do Beato José Lourenço. Viu o Padre IMAGE, do Rio, tem o título “FLORO
Cícero e o Dr. Floro. Seu tio o jorna­ BARTOLOMEU”. É estudo sincero e
lista Otacílio Macêdo contou-lhe, ao pode-se dizer, imparcial e criterioso,
vivo, a entrevista que fizera com o escrito sôbre o tão conhecido compa­
Capitão Virgolino, em plena cidade nheiro indissolúvel da trajetória polí­
caririense de Juazeiro. Tudo aquilo tica do Padre Cícero Romão Batista.
ficou no sub-consciente do jovem que, Foi simbiose perfeita, enquanto o
ao crescer, despertou para as lides de médico baiano viveu ao lado do PA-
imprensa. Assuntos, sorvidos em sua DRIM de incomputável multidão, dis­
própria terra e no meio que a cercava, seminada pelo interior do Nordeste so­
desabrocharam em sua inteligência fredor. Floro fez carreira a sombra
criadora. Para que escrever em tôrno do Padre, aproveitando-lhe as fraque­
das capitais, pejadas de cronistas e de zas e certa vontade.
escritores ? Narravam e comentavam, Conheci-o pessoalmente, em fase
com minúcias, tôdas as suas particula­ diversas de sua vida. Vi-o em casa de
ridades, nos jornais e nos livros ? Antônio Luís o chefe aciolino de Crato,
Nertan tinha campo vastíssimo a deputado estadual unionista. Ficou ao
descrever. Não se empolgava mais com lado de Juazeiro, em tôda a luta de
os asfaltos das avenidas. Seu mundo 1913 para 1914. Estava com ares altivo
escondido, embora vultos do quilate de vencedor, mas sem deixar de mani­
de Euclides da Cunha já o tivessem festar certa deferênçia pelo seu corre­
devassado. O material a explorar não ligionário cratense, homem de fibra a,
poderia esgotar-se, fàcilmente. O te­ tôda prova. Encontrei-o depois, ale­
souro escondido era como o minério gre, em festa do Lameiro, a dançar,
que se deposita quase oculto, no sub­ em casa do Cel. Nelson da Franca
solo. Alencar, por ocasião de homenagem á
O jovem escritor estudara, com Escola de Aprendizes de Marinheiros,
brilhantismo, em academias, convivera parece-me que em 1926. Dançou bas­
com letrados nos jornais, mas o seu tante e não fazia vergonha entre os
melhor curso de aprendizado fôra em pares mais jovens. Promovera êle as
contacto com gente do sertão, nos festividades em Juazeiro, servindo até
Inhamuns, no Cariri cearense, no Pa- de orientador da cozinha, na qualidade
jeú de Flores, ou às margens do Rio de bom baiano que fôra.
S. Francisco. Seu estilo é meio áspero, Irritadíssimo ficou, quando da
99
"DULCE CHACON" DJANIRA FILGUEIRAS
Privando, há vários anos da ami­ Suas belas crônicas que ilustram
zade dessa figura admirável de mulher às páginas do “Jornal do Comércio” e
que é Dulce Chacon, sinto-me bastan­ as notas sociais publicadas falando de
te envaidecida. suas atividades merecem destaque e
Culta, inteligente, escritora e jor­ devem ser lidas com atenção porque
nalista, membro atuante da Academia em todas elas existe um conteúdo, uma
Pernambucana de Letras, onde exer­ mensagem, de tudo aquilo que se afir­
ceu o cargo de secretária é, sobretudo, ma de real e de belo nos dias que
profundamente humana. correm.
As narrações que fez sobre as via­
gens que já realizou particularmente
campanha que lhe moveu pelo “O “volta ao mundo”, as opiniões pessoais
NORDESTE”, da Arquidiocese do Cea­ pelos lugares que visitou às quais
rá, o Pe. Manuel de Macêdo. Algum em présta um colorido novo, revelan­
tempo depois, já visivelmente doente, do o senso estético a par da riqueza
mobilizou patriotas a fim de impedir intelectual que caracteriza a sua per­
a penetração da Coluna Prestes no sonalidade marcante.
Ceará, pelo Vale Caririense. Custou- Há quem a julgue esquisita, ex­
lhe o resto da saúde, mas foi promo­ cêntrica, até porém , no contato quase
vido a General honorário do Exército diário que temos como vizinhas, en-
Nacional. Ainda falaram muito, no contro-a sempre bem humorada, ob-
Cariri, que conspirou para derrubar o sequiosa, em sua m esa de trabalho,
Governo de Moreirinha, até que a mor­ rodeada de livros e papéis, num devo-
te impediu a realização de tal conspi- tamento todo especial' à sua profissão,
rata. abordando assuntos em foco e orien­
Nertan fala em tudo isso, como tando também aaueles que a procuram
verdadeiro mestre. Resuscita a célebre e a quem ela oferece o apoio e o aco­
RODAGEM, onde ladrões e assassinos lhimento aue a vida tão criminosa­
foram condenados à pena capital pelo mente lhes roubou.
Dr. Floro, na rodovia antiga que ligava
Dentre os vários livros de sua au­
Juazeiro a Crato. Tudo aquilo sucedia
toria destaca-se “As Cr;ancas do R e­
com o indiferentismo do próDrio Go­
cife” aue a crítica consagrou e é um
verno, o pavor do povo e o silêncio do
testemunho valioso de seu talento
Padre. O escritor, hoje bem conheci­
(Fducadora de mérito, ocupou vá-
do, no Brasil e traduzido no estran­
ro s cararos de relevo na Rede Escolar
geiro, fêz obra completa e apesar
do Estado, e atualmente, é orientadora
de mostrar o seu herói acaba por
educacional do “Colégio Porto Carrei­
torná-lo simpático ao leitor. Até ago­
ro”.
ra foi a melhor biografia que se fêz
no cauddho baiano a serviço de Jua­ Como psicóloga, conduz os jovens
zeiro. Dá suas boas qualidades sem e adolescentes a trilharem os cami­
esconder as péssimas mas, a verdade nhos da verdadeira integração moral e
é aue não pode, de forma alguma, ser social, preparando-os e amando-os na
afastado, no livro, de seu inseparável senda do dever, anerfeicoando-lhes a
amigo. O Padre Cícero Romão Batista. caráter, no cumprimento de sua mis­
Nertan, incontestávelmente, está são cívica em favor da família, da so­
na lista dos melhores escritores do ciedade e da Pátria, eles oue são as
Nordeste atual. Seu trabalho tem sentinelas, às futuras esperanças des­
marca própria e possui atrativo e ca­ se Brasil aue num crescendo de me­
racteres de permanência. lhores dias avança para a civilização
e o proeresso.
'GAZETA DE NOTICIAS". Recife, agosto de 1973.
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0 Folclorista MANOEL AMBRÓSIO
F r a n c is c o o k V a s c o n c ello s

“Há homens que têm muito mais valor,


que outros que têm fama”
S ilv io J u lio
ANTES DE MAIS NADA... Digo gestação porque suas origens re­
montam ao meu primeiro contato com
Não posso mostrar facêta de um a Princesa do São Francisco.
intelectual, sem antes traçar-lhe o Naquela altura eu ouvira falar de
perfil. E, esta precisão aumenta quan­ Manoel Ambrósio, por bocas populares
do está em tela a personalidade de um de diferentes gerações. Alguém me­
homem verdadeiramente eclético, des­ lhor informado gabou-lhe os dotes de
ses que souberam semear nos incon­ cultor do folclore. Sendo esta minha
táveis campos das refinadas atividades área, passei a interessar-me pelo h o­
do espírito. mem. Perguntei por suas obras. Não
Por isso, vou de início apresentar sabendo informar com precisão, suge­
o Manoel Ambrósio panorâmico, para riu meu informante que eu me diri­
depois trazer a lume algo de sua pro­ gisse à filha do intelectual barranquei-
dução no setor do registro de fatos da ro, D. Nely de Oliveira Montenegro,
cultura popular de sua terra natal, das então fazendeira no Erejo do Amparo,
barrancas mineiras do São Francisco. Município de Januária.
A seu tempo virão as explicações, co­ Mais do que a simples leitura das
mentários, cotejos e criticas que se possíveis obras editadas, movia-me o
fizerem necessários. intuito de penetrar a personalidade do
Esclareço de pronto, que grande escritor, seguir o seu rastro de demop-
parte do material trazido à estas pá­ sicólogo à antiga, descobrir prováveis
ginas, foi coletado nos arquivos de D. inéditos.
Nely de Oliveira Montenegro, filha de Tendo-se baldado para mim um
Manoel' Ambrósio, através dos depoi­ contáto pessoal com D. Nely, naquela
mentos pessoais de D. Maria Josefina oportunidade, restringi-me à troca de
de Oliveira Souza, de D. Joan a Jo sefi­ correspondência. Mandei-lhe a pri­
na de Oliveira e de Manoel Ambrósio meira carta em 18 de setembro de 1967.
Júnior, iguafmente filhos do folcloris­ Sua resposta veio, rápida em 30 do
ta januarense e nos arquivos de esta­ mesmo mês, capeando pequena biogra­
belecimentos de ensino e de órgãos fia de seu pai. De posse desse mate­
públicos do Município de Januária. rial, fiquei certo de que não faria mais
E, antes de entrar no mérito, con­ que um artiguete. E, eram bem mais
to como pintou a ideia deste trabalho. arrojadas minhas pretensões. Entrei
Em 1967, estive pela primeira vez em em compasso de espera.
Januária, tendo eu na oportunidade Em outubro de 1972 pude final­
me ligado de corpo e alma à simpá­ mente entrevistar-me com D. Nely.
tica cidade barranqueira. Do consór­ Na tranquilidade do seu “Barro Alto”
cio, surgiram alguns embriões, que, a no Distrito do Breio, tive tempo sufi­
seu tempo, tomaram corpo, para afinal ciente para esmiuçar os seus arquivos
virem paulatinamente a público. O e para constatar que o cerne da obra
primeiro veio a furo nas páginas do de Manoel Ambrósio estava contido em
N.<? 16 de Itaytera, sob o título “J a ­ quasi duas dezenas de alentados ca­
nuária meu amôr”. O segundo apa­ dernos, onde durante anos acumulara
receu em “Encontro com o folclore” sua produção intelectual, a mór parte
N.<? 15 vergando sobre o poeta popular concentrada no registro do folclore de
Jove da Mota. O terceiro nasce agora, sua região.
depois de longo período de gestação. Deante dessa alviçareira descober­
103
ta, parti para o contato com outros tou de verdade, tomou o rumo da sua
informantes da família e para esqua- Januária que não tardaria a reclamá-
quadrinhamento dos guardados de lo definitivamente para suas entra­
instituições públicas e privadas a cata nhas.
de dados sôbre a carreira do escritor E* desmentindo o velho ditado bí­
norte-mineiro. blico de que ninguém é profeta em sua
E, no correr deste 1973, depois de terra, foi sem favor o maior expoente
demorada permanência em Januária, da cultura barranqueira de todos os
quando ali ministrei Curso de Folclo­ tempos. E levem-se em conta o meio
re, terminei .minhas investigações, fi­ pequeno e hostil, a politicalha sórdida,
cando afinal capacitado para o cometi- os obstáculos de todo o gênero, as de­
mento que ora se desenvolve. ficiências de comunicação com os
Além de reunir aqui os traços ,centros maiores, a época em que vi­
marcantes da vida do mestre barran- veu, amou, curtiu e plantou em tantos
queiro, até agora esparsamente anota­ campos diferentes.
dos, e de revelar algo de sua efetiva Casou-se Manoel Ambrósio duas
contribuição ao levantamento de da­ vêzes. A primeira com D. Josefina
dos do populório do médio São Fran­ Durães Ferreira com quem teve os se­
cisco, acredito que este trabalho so­ guintes filh o s: Alice, Joana, Josina,
mente colinária seus elevados objeti­ Maria Josefina, Dejanira, Carlos, Dur-
vos, se alguém de bôa vontade, depois valina e Afra. Morrendo-lhe a mulher
de tomar conhecimento do que aqui em 30 de outubro de 1905, consorciou-
se contém, se lembrasse dos cadernos se mais tarde com D. Antonia de Sou­
do mestre, até hoje à espera de um za Oliveira, que lhe deu apenas um
editor. casal de filh o s: Manoel Ambrósio
Júnior e Nely.
MANOEL AMBRÓSIO PANORÂMICO Faleceu Manoel Ambrósio aos 24
de agosto de 1947 na casa de N."? 55
da rua Padre Serrão. Mercê da Lei
Manoel Ambrósio Alves de Oliveira Municipal N.° 387 de 7 de março de
nasceu aos 7 de dezembro de 1865 na 1951, gestão do Prefeito Silvio Brasi­
cidade de Januária, Estado de Minas leiro de Azevedo, passou a referida rua
Gerais. Veio ao mundo em modesta a chamar-se Manoel Ambrósio, numa
casa da antiga rua João Cravo, hoje sincera homenagem ao incomparável
desaparecida, tragada que foi pelo Rio januarense e, de modo especial, ao
São Francisco. homem que naquele logradouro residira
Era filho primogênito dos janua- por tantos anos, tendo nele encerrado
renses João Alves de Oliveira e Sera- a carreira terrena. A casa, que ainda
fina Alves de Oliveira. está de pé e bem conservada, tem nos
Depois de estudar as primeiras le­ dias que correm o N.9 229 e foi, no
tras na terra de origem, matriculou-se tempo de nosso biografado de proprie­
na Escola Normal de Montes Claros, dade de seu irmão Apolinário Alves de
sob a proteção do padrinho José Car­ Oliveira Casqueiro.
los Versiane. De volta a Januária, D. Antonia de Souza Oliveira so­
frequentou as aulas de Filosofia, Latim breviveu ao companheiro, tendo desa­
e Francês de mestre Lindolfo Caetano parecido em 17 de novembro de 1956.
de Souza e Silva. Dentro dessa visão panorâmica do
Amigo inseparável de suas barran­ intelectual januarense, cabe examinar,
cas, cujos aspectos físico-geográficos ainda que superficialmente, cada setor
e humanos conhecia profundamente, em que deu de si, sem interesses ime-
pode-se dizer que teve a integral vi­ d’'atistas.
vência do seu meio, relutando sempre
em afastar-se dele. Apesar de ter vi­
vido sete anos (1935/1942) no Rio de EDUCADOR
Janeiro, nunca se deixou contaminar
pelo brilho falso do luzeiro da cidade Pode-se dizer que Manoel Ambró­
grande. Nela sentiu-se sempre um sio, viveu e sustentou a imensa prole
inadaptado e, quando a saudade aper­ de seus magros proventos de profes­
104
sor. Numa época em que o ensino je digno de um museu, ficou esquecido
interiorano era verdadeira aventura, nos fundos da casa onde residiu a mãe
manteve o nosso enfocado escola par­ do jornalista, hoje de propriedade de
ticular nos cômodos disponíveis de sua Alípio Montalvão. Nada restou para
morada. recordar a velha tipografia.
Mas as arengas políticas fizeram- “A Luz” foi o paladino do partido
no amargar anos de sobressaltos e de Luzeiro, que teve como opositor ferre­
dificuldades financeiras. Serenados os nho o Escureiro. Brigas provincianas
ânimos, foi enfim nomeado professor do passado que chegaram às gerações
na cidade barranqueira de Manga. Alí de hoje com sabor quase folclórico.
esteve entre 1908 e 1911. Em 1923 ve­ Mal saido das refregas oriundas
mo-lo Inspetor Regional em Paracatú. dessa primeira experiência jornalística,
Em 1927 Diretor do Grupo Escolar funda Manoel Ambrósio, em 28 de fe ­
Bias Portes, em Januária, instalado a vereiro de 1909 o periódico “A Jan u á­
20 de agosto daquele ano. Entre 1928 ria”.
e 1932 Diretor do Grupo Escolar Afon­
so Arinos, em São Romão, onde apo­ HISTORIADOR
sentou-se.
Volvendo à terra natal, não bus­ O Esboço das refregas do Municí­
cou o “otium cum nobilitate” a que pio de Januária, foi a grande meta de
fazia juz por direito e de fato. Con­ Manoel Ambrósio nesse setor da ativi­
tinuou na velha luta pela educação. dade intelectual. Foram alguns capí­
E, foi dos grandes entusiastas da ideia tulos publicados em “A Luz”. Mas o
da criação em Januária de uma escola vultoso material alicerçado em minu­
normal. De suas mãos e das de alguns ciosa pesquisa e que compõe dois gros­
outros professores, surgiu o novo esta­ sos volumes, encontra-se ainda à es­
belecimento de ensino tornado realida­ pera de um editor. Em verdade a obra
de através do Decreto 11.399 de 22 de já rolou por Comissões, Institutos,
junho de 1934, O Decreto 10.564 de 5 Academias, etc. J á esteve nas mãos
de novembro de 1938, o oficializou. Da de políticos prestigiosos. Contudo per
primeira diretoria, que trabalhou gra­ manece no egoismo do manuscrito,
tuitamente, fez parte Manoel Ambrósio manuscrito que custou ao historiógra-
como Secretário. Foram seus pares fo muito amor, muita isenção e muita
nessa memorável jornada o Dr. Antô­ noite gasta à luz bruxoleante das lam­
nio Generoso, João Lagoeiro Santos, parinas, compulsando documentos, ali­
Fortunato vassalo e o Dr. Jo ão Mo­ nhavando fatos, dissecando persona­
reira de Castro. gens.
A Escola que nascera quase que
franciscanamente, tomou vulto no cor­ POETA
rer dos anos e hoje, ostentando o no­
me de Colégio Estadual Olegário M a­ Manoel Ambrósio foi poeta por
ciel ocupa excelentes instalações em atavismo e por pressão do meio. As­
prédio especialmente construído para sim como Euclides da Cunha disse que
os fins a que se destina. o sertanejo é antes de tudo um forte,
digo eu que o barranqueiro é acima de
tudo poeta. E, a fina sensibilidade do
JORNALISTA intelectual januarense não escaparia à
regra.
O jornalismo e a política ocupa­ Assim é que além de Paranapetin-
ram o mesmo espaço na vida de Ma­ ga, que viu editado ainda em vida, dei­
noel Ambrósio. Marcharam juntos xou na gaveta alguns livros de poesia
sendo aquele a trincheira deste. Em prontos para o prelo. São eles Har­
1901 fundou “A Luz”, primeiro jornal pas, Ave Maria e Nevoeiro no Caminho
de Januária. Completo pioneirismo Branco.
numa terra totalmente desprovida de Manoel Ambrósio não se limitou à
recursos. Prelo e tipos foram feitos reserva de seus cadernos. Foi o poeta
em madeira, confeccionados por Cons- de todas as horas, dos amigos vivos ou
tantino Rego. Todo esse material, ho­ mortos, de todo o povo de Januária.
105
Com a mesma espontaneidade com 2 — E tu te miras
0 mesmo arrepio de amor ao seme­ E tu te inclinas
lhante e à terra, fez epitáfios, epita- Nessas ondinas
lâmios, glosou motes, compôs de um A murmurar
golpe a letra do hino de seu torrão, Nessas aragens
musicada por João Batista Lima. Dessas paragens
Apenas no intuito de comprovar o Ditosas margens
que fica acima, registra aqui dois Do rio mar
exemplos dessa capacidade criadora do 3 — Da promissão
poeta januarense Querida terra
Sm 1906 falecia Olivia Moreira do Teu seio encerra
Prado, filha dg um amigo seu. Morte Toda a ventura
prematura, chorada, sentida. Manoel O peregrino
Ambrósio sensível a tudo deixou epi­ A ti sem tino
táfio gravado na lápide que encimava És do destino
a sepultura da menina, existente no Doce ternura
antigo cemitério de sua cidade: 4 — E tu te acolhes
Alma infeliz
( I) Que se maldiz
Desoladora
Terna Olivia nasceu a saudade Cosmopolita
Onde a campa vai só vicejar Terra bendita
Tú desfolhas a rosa da vida És mãe aflita
Que a aurora não pode acordar Consoladora
(II) 5 — ó Januária
Aguas vertentes
A i! não vives Olivia querida Aguas correntes
Violeta orvalhada no chão Te fazem amada
Para sempre recebe um adeus De realeza
A saudade de um coração Da natureza
Toda a beleza
( m) Terra adorada
6 — Tão maviosos
Brotam relvas nas vagas revoltas Os teus encantos
O teu senhor que a morte roubou Prazeres santos
Virgem bela acabou-se a esperança Do teu sorriso
És a folha que o vento levou São verdes eras
Que tu nos deras
Agora a letra do Hino de Januária : E as primaveras
De um paraiso
C ôR O : Dos céus do norte
ó Pátria minha AUTOR TEATRAL
Tu és rainha
Das águas belas Embora suas peças não tenham
Cetro de amores passado do âmbito familiar, em ter­
Os teus primores mos de encenação, deixou Manoel Am­
Não têm rumores brósio considerável acêrvo de dramas
Não têm procelas na maioria de sabor regional. Marta,
Dois Destinos, Amores de Capataz e
1 — ó Januária Bandidos do Pinduca, são alguns de
Do São Francisco seus títulos.
O basilisco
Baixando o sul PROSADOR
O dorso afagas
Do monstro as vagas Esta foi uma das áreas em que
Por estas plagas Manoel Ambrósio mais se realizou. Dos
Do campo azul três romances que escreveu teve dois
106
publicados — Hercília e os Laras — Carioca de Letras sob o título “O
restando no ineditismo Os Meios. Em SERTÃO”. O alentado estudo científi­
1945 veio a lume a novela regional A co das reais possibilidades econômicas
Ermida do Planalto, editada pela Mon­ do vale do São Francisco, infelizmente
ção do Rio de Janeiro. E, nos anos jam ais foi publicado. Bem aventura­
de 1935 e 1936, os primeiros em que dos os que puderam ouvir o conferen-
residiu na Guanabara, colaborou, em­ cista naquela torde de 1935.
bora irregularmente, na saudosa revis­ Devo explicar que, não obstante os
ta “Noite Ilustrada”, para qual escre­ esforços que empreendí junto à referi­
veu contos, narrativas, até anedotas da Academia, não me foi possível en­
calcados em acontecimentos nas bar­ contrar em seus arquivos a data pre­
rancas sanfranciscanas. Num periódi­ cisa do memorável evento. Mesmo
co da maior cotação na época, do qual assim, aproveito a oportunidade para
eram assíduos colaboradores Lima F i­ agradecer ao Dr. Othon Costa pelo
gueiredo, Eerilo Neves, Pedro Calmon, empenho na pesquisa dos dados de
Martins de Oliveira, etc., fez Manoel' que eu carecia.
Ambrósio algum sucesso com seus es­ “A Bacia do São Francisco” foi
critos. Entre outros consigno aqui “O outro trabalho sério do intelectual
Diabo” publicado em 4 de setembro de barranqueiro, que ainda jaz no inedi­
1936 com ilustrações de H. Cavalleiro; tismo.
“Confirmação” em 29 de janeiro de
1936 ilustrado por Seth; “O Cangussú” IDEALISTA
(anedota sertaneja da Guerra do Pa­
raguai) em 6 de maio de 1936 com de­ Sem qualquer interesse subreptício,
senho de Seth; “O Serpa” em 10 de ajudou Manoel Ambrósio a fundar as
junho de 1936 com ilustração de Seth; Irmandades de sã o Vicente de Paula
“Um Milagre” em 2 de julho de 1936 e do Sagrado Coração de Jesus, assim
ilustrado por Monteiro Filho e “Pai também o Hospital de Tuberculosos em
Jo ão ” em 13 de outubro com desenho Poções, Município de Januária. Orga­
de Renato Silva. nizou ainda o côro da Matriz de sua
terra, do qual era membro efetivo.
ESTUDIOSO DOS PROBLEMAS
REGIONAIS MANOEL AMBRÓSIO NO
RECONHECIMENTO DOS OUTROS
Antecipando-se aos antropólogos,
sociólogos, economistas e ecologistas Foi o escritor barraqueiro mem­
de hoje, Manoel Ambrósio, numa época bro do Instituto Histórico e Geográfi­
em que tais ciências praticamente não co de Minas Gerais e da Academia Mi­
existiam, empreendeu estudos profun­ neira de Ciências. É patrono da B i­
dos em todos esses campos. Jam ais foi blioteca Municipal de Januária e da
um teórico. Conhecia os mistérios, os cadeira n.<? 8 da Academia Municipalis-
entraves, os problemas, as riquezas e o ta de Letras, de Belo Horizonte, da
potencial de sua região, como poucos qual é ocupante seu filho Manoel Am­
contemporâneos seus e quiçá como os brósio Júnior.
técnicos atuais que viajam de avião,
estão sempre apressados e via de regra MANOEL AMERÓSIO FOLCLORISTA
baseiam-se em dados recolhidos indi­
retamente. Afirmo, sem medo de errar, que o
Sem a vontade consciente de fa ­ cerne da obra de Manoel Ambrósio. no.
zer ciência creio que Manoel Ambrósio que diz respeito à recolha do folclore
curtido no duro aprendizado advindo regional, está completamente inédito.
da constância ecológica, teria superado Embora tenha deixado em artigos
os modernos manipuladores dos dados esparsos, em colaborações dispersas al­
sanfranciscanos. Foi sem dúvida um go de seu trabalho nesse campo da
pioneiro e um pioneiro sério. cultura humana, tais fatos tornam-se
Em 1935, segundo declaração dos irrelevantes frente aos incontáveis
meus informantes, saiu de sua modesta manuscritos guardados por uma de
morada na rua Cruz Jobim, no Irajá, suas herdeiras.
para fazer conferência na Academia É verdade que em 1912 publicou o
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seu “Brasil Interior”. Não se pode ne­ tacaram, na época, no registro e na
gar que nele h aja folclore, mas um divulgação das coisas do populário.
folclore literatizado, trazido a lume E, o que era folclore para os in­
sob o manto do pitoresco, do insólito. telectuais daquele tempo ?
Folclore para curiosos e lúcidos, bem Folclore valia na sua essencia lite­
ao gosto da época, conforme será de­ ratura popular, segundo as concepções
monstrado oportunamente. inglesas então reinantes. Era uma es­
O folclore mesmo, na pureza da pécie de primo pobre da literatura em
pervivência nos grupos sociais barran- geral, apenas aflorado por um ou ou­
queiros, registrado tal qual chegou aos tro estudioso que ousava romper com
sentidos do mestre januarense, este, as ríg.das estruturas da época. Sabe-se
ainda ninguém conhece. que Tobias Barreto fazia-lhe cerrada
Penetrar nesse mundo até agora carga.
privativo da família Alves de Oliveira Assim sendo, eram os folcloristas
é o que tentarei fazer aqui, embora em meros regisiradores do chamado fato
parte. espiritual ou sejam as lendas, os mitos,
Começo por relacionar o que en­ as estórias, os cantos, a poesia popular
contrei nos arquivos de D. Neiy de Oli­ e acidentalmente usos e costumes,
veira Montenegro. Lá estão : crendices e superstições. O fato mate­
rial estava ainda fora do alcance e das
Cantos Populares do Alto Rio São cogitações dos demopsicologos.
Francisco — Primeira Parte — 1897 Tão pouco poder-se-ia falar em
pesquisa folclórica, da maneira como
a) Ia série : 72 cantigas; ela é encarada nos dias que correm.
b) 2a série : 193 quadras correspon­ Não havendo ainda a ciência do fol­
dentes às cantigas clore, claro esta não poderia haver
c) 3a série : 61 batuques; pesquisa com os seus requisitos técni­
d) 4a s é r ie : 60 páginas manuscritas cos. Ocorria é verdade a simples coleta
contendo côcos, tro­ calcada em reminiscências, na vivência
vas e lôas; , de determinado meio ou na informação
45 cantigas; de terceiros. E pesquisa vale manipular
24 páginas manuscritas o dado folclórico fixando-o no tempo e
contendo poesia po­ no espaço, enfocando-o sob o prisma
pular; sócio-antropológico, procedendo aos
58 batuques; cotejos, buscando suas possíveis ori­
27 páginas manuscritas gens segundo a coincidência ou a su-
contendo côcos, tro­ cessividade. Mas tudo isso é preocupa­
vas e lôas; ção do estudioso moderno. Portanto
11 páginas manuscritas nada de julgar o petérito à luz do
contendo cantigas e atual.
batuques. Se tais considerações ocorrem, não
tem elas o espírito desmerecedor do
Contos e Novelas do Vale das Ma­
esforço ancestral. Pelo contrário elas
ravilhas — 5 cadernos se tornam inarredáveis para o perfeito
Adivinhas e Outros — 1 caderno entendimento de uma época.
Antonio Dó — 1 caderno Muito válidos os registros de nos­
sos antepassados folcloristas, hoje pre­
A primeira preocupação que ocor­ ciosos elos na imensa corrente da cul­
re em face dos rótulos acima, é a de tura popular através dos tempos.
fixar no tempo o folclorista barran- A prova dessa validade salta dos
queiro. olhos a todo momento. Não há tra­
J á ficou dito que Manoel Ambró- balho sério de folclorista dos dias que
sio nasceu em 1865. Foi portanto con­ correm, mormente no enfoque do fato
temporâneo de Silvio Romero (1851 espiritual, que não traga referências às
1914) de Melo Moraes Filho (1844 recolhas de Silvio Romero, de Pereira
1919) de Rodrigues de Carvalho (1867 da Costa, de Rodrigues de Carvalho, de
1935) de Pereira da Costa (1851/1923), Celso de Magalhães, etc.
para citar apenas os que mais se des­ Bastam essas observações para que
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se lamente o ineditismo da obra de é que Manoel Ambrósio, mesmo nas
Manoel' Ambrósio. Seus manuscritos suas longínquas barrancas, deu alguns
formam a estrela que falta na conste­ passos a mais que seus contemporâ­
lação dos pioneiros estudos de folclore neos, porque teve a preocupação de
no Erasil grafar as palavras segundo a pronún­
Além de guardarem recolhas, hoje cia popular da região, porque jamais
inestimáveis para o melhor entendi­ adulterou o vocabulário natural de seu
mento do populário barranqueiro, tais meio de origem, porque procurou es­
acêrvos poderíam vir a completar as miuçar o problema do cangaço e suas
obras dos contemporâneos do intelec­ relações com o folclore, ao estudar a
tual januarense, que nasceu, criou-se figura de Antonio Dó, porque interes­
e viveu nas margens sanfranciscanas, sou-se exaustivamente pelas advinhas,
acompanhando o ir e vir daqueles que ao ponto de coletar cerca de 142 que
durante séculos fizeram do Velho Chico reuniu num caderno quase específico.
o meio de ligação entre o Nordeste e o No que concerne às advinhas, é
Centro Sul. bom que se diga que os seus registros
Ora, se o São Francisco represen­ praticamente escaparam aos antigos
tou no passado o que hoje representam folcloristas. Segundo Fausto Teixeira,
a Rio-Bahia e suas ramificações e o autoridade no assunto, Silvio Romero
que representará amanhã a Transama- apenas publicara três em seus Cantos
zônica, fácil é concluir-se a importân­ Populares do Brasil e F. J . de Santa-
cia dos registros folclóricos numa zo­ Anna Nery no Folclore Brasilien trou­
na tipicamente de tradições portanto xera a lume somente vinte e quatro,
de cultura polivalente, ainda que fos­ coletadas na região amazônica.
sem outros os tempos, sem a pletora A coletânea de Manoel Ambrósio
de comunicações dos dias atuais. vem a público agora, feitos os cotej os
Feitos esses comentos indispensá­ indispensáveis. Transcreví o acêrvo de
veis, passo ao exame dos inéditos de seu caderno “Advinhas e Outros”, títu­
Manoel Ambrósio. lo mal posto mercê do decconhecimen-
A simples leitura dos títulos dos to na época da moderna classificação
cadernos de folclore de Manoel Am­ dos fatos folclóricos.
brósio é bastante para se concluir que Do caderno constam ainda ABCs.
foi fiel à sua época. (dos Arengueiros, dos Marinhos, do
Sua preocupação com registro do Café), fórmulas enumerativas sob o
fato espiritual, seu interesse pela lite­ designativo de parlendas e quadras.
ratura popular, a coleta procedida sem Em verdade, para nós dos dias que cor­
obedecer a sistemas e classificações, a rem o referido caderno deveria carre­
ausência de cotej os e de busca das gar o rótulo de “Parlendas e Outros”
origens dos elementos manipulados, es­ pois q.ue, não somente as fórmulas
tão evidentes no bôjo de seus escritos. enumerativas são espécies de gênero
Carece ainda observar que, certa­ parlenda, assim também os ABCs., as
mente por influência de Silvio Romero, Advinhas, as Emboladas, as Lengalen-
uma expressão nacional, teria Manoel gas, os Travalinguas, as Anedotas, os
Ambrósio batizado um de seus traba­ Provérbios, os Ditados, etc., etc.
lhos com o nome de Cantos Populares Releva notar que tais advinhas
do Alto Rio São Francisco. O manus­ aparecem aqui exatamente na ordem
crito, que é de 1897, estaria bafejado em que o seu coletor as colocou, men­
pelos Cantos e Contos Populares do cionados até seus eventuais cortes. O
Brasil, de autoria do escritor sergipa­ trabalho é exclusivamente de Manoel
no, os quais haviam sido editados res­ Ambrósio, apenas vindo a furo por
pectivamente em 1882 e 1883. A certe­ minhas mãos, com as conotações que
za dessa influência romeriana ainda hoje se fazem obrigatórias. Nada foi
mais se acentua, quando se sabe que conspurcado, nem mesmo foram ten­
Manoel Ambrósio, segundo depoimento tadas classificações e sistematizações,
de sua filha Jo an a Josefina, mantinha segundo o conteúdo dos enunciados ou
algum relacionamento epistolar com o o teor das respostas.
intelectual de Lagarto. Para tentar fazer os devidos cote-
Mas, o que merece ser ressaltado, jos, escolhi o acervo de advinhas —
109
1.350 ao todo inserido por Fausto Tei­ Foi a seguinte a versão q.ue Fausto
xeira em seu Livro das Advinhas B ra ­ Teixeira colheu em Minas e que cor­
sileiras — Editora Letras e Artes - Rio responde ao número 289 de seu tra ­
1964, sem dúvida, o que há de mais balho :
completo no gênero, em termos quan­
titativos, no plano nacional. Nele es­ tem corôa, não é rei,
tão agrupados as advinhações segundo tem escamas, não é peixe.
critério pessoal do autor. As peças, Resp.: ABACAXI
ou foram recolhidas nas obras de 3 - Casa caiada
quantos se interessam no Brasil pelo Lagôa d ’água
mesmo material folclórico, ou foram Resp.: ÔVO
registradas pelo próprio Fausto Teixei­
Fausto Teixeira registrou em Mi­
ra em diversos pontos do país.
nas :
Dadas essas explicações, passo a
relacionar em sua ordem natural, as 222 - Casa caiada
advinhas copiladas pelo mestre barran- Lagoa dourada.
queiro no antes chamado Alto Rio São Resp.: ÔVO
Francisco. Friso que elas tem no fun­ 4 - Mãe mansa
do e na forma, marcado sabor rural' e Fia braba.
doméstico, sem contaminações alieníge­ R esp.: PIMENTA
nas ou de índole urbana, portanto con-
sertâneas com a época em que foram 5 - Moça formosa,
anotadas e com as estruturas sociais home nervoso,
vigentes. curral grande,
gado miudo.
1 - Uma caixinha Resp: A LUA, O SOL, O CÉU E AS
De bom parece ESTRELAS
Não hai carapina 6 - Stá em casa,
Que saiba fazê. stá calado;
Resp.: AMENDOIM stá no mato,
Fausto Teixeira registra três advi­ stá falano.
nhas com enunciados semelhantes ao Resp.: MACHADO
do exemplo acima, embora duas delas Fausto Teixeira recolheu em Mi­
tenham respostas diferentes. São : nas :
52 - Uma bola bem feita, 639 - Que está em casa, está calado;
de bom parecer, está no mato, está gritando ?
não há carapina Resp.: MACHADO
que saiba fazer.
7 - Joga pra cima,
Resp.: LUA — conforme Theo B ran ­
é pratado;
dão in Folclore de Alagoas.
joga no chão,
212 - Uma caixinha de bom parecer, é ouro.
Não h á carapina que saiba fazer. Resp.: OVOS QUEBRADOS
Resp.: OLHO — (Paraiba) conforme
Alcides Bezerra in Antologia Fausto Teixeira apontou em Mi­
nas :
de Folclore Brasileiro de Luis
da Câmara Cascudo. 226 - Joga-se pra cima é prata,
cai no chão é ouro ?
305 - Caixinha de bom parecer,
Resp.: ÔVO
Não há carapina que saiba fazer.
Resp.: AMENDOIM — conforme co­ 8 - Caminha, caminha,
leta de Fausto Teixeira em não faz rasto ?
Minas Gerais. Resp.: CANÔA
2 - Tem escama, 9 - Que muitos tem
não é peixe; e não vestem;
tem crôa, que muitos vestem
não é rei. e não tem ?
Resp.: ANANAZ Resp.: NOBREZA
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10 - Redondinho 18 - Quatro esteio
Redondão, c’ uma teia em cima.
Faz o rasto Resp.: TATÚ
Compridão.
Resp.: CARRO Fausto Teixeira coletou em Minas:
11 - Toco 275 - Quatro esteios e uma telha só ?
Toroco Resp.: TATU; CÁGADO, JABUTI E
toco; TARTARUGA
tira o toco 19-T rabaia de dia,
fica o toco. descansa de noite.
Resp.: BOTINA Resp.: CHINELOS
12 - Voa cumo passarin, 20 - Já fui carne,
urra que nem boi, hoje não sou;
não é boi nem passarin ? esperano carne
Resp.: BEZOURO c’o a boca stou.
13 - Qual o passo maravia Resp.: BOTINA
que dá leite quando cria ? 21 - Altas torre,
Resp.: MORCEGO Belos penacho;
Fausto Teixeira anotou no Espírito água doce,
S a n to : fruta no cacho.
Resp.: COOO
1.146-M e diga lá, seu doutor,
que estudou filo so fia: Fausto Teixeira apontou em Mi­
qual é a ave que voa, nas :
e dá leite, quando cria ? 362 - Altas torres,
Resp.: MORCEGO; “mas não é ave e lindos penachos;
sim m a m ífero ...” água na flor,
14 - Sobe carrasco, desce carrasco, flor nos cachos.
c’o as tripa a rasto. Resp.: COQUEIRO DA BAHIA
Resp.: AGULHA 22 - Dez caçadores
Fausto Teixeira traz à sua cole­ Todos dez caçam
tânea, a mesma advinha, colhida por e só dois matam.
Saui Martins em Minas e publicada Resp.: OS DEDOS DA MÃO CATAN­
por este no Diário de Minas de Belo DO PIOLHOS
Horizonte em 1952. É de se observar
Fausto Teixeira consignou versão
que Saul Martins é natural de Januá-
alagoana segundo José Maria Belo in
ria, sendo provável que tenha colhido
Enigmas populares — Rio — 1950.
a referida advinha em sua terra na­
tal. E i- la : 150 - Andam dez atrás de um e dois
454 - Sobe, carrasco, tiram-lhe a vida ?
desce, carrasco Resp.: DEDOS À CATA DE PIOLHO
com a tripa de arrasto. 23 - Fui por um camin,
Resp.: AGULHA DE COSTURAR E com quinze varas topei;
LINHA coisa que nunca vi,
15 - Branco por fora, muito indimirado fiquei.
preto por dentro. Resp.: CAPIVARA
Resp.: ALGODÃO 24 - Muié bôa e má,
16- Foi a justiça prendê os home; De cacos em caquinho,
a casa saiu p’las janela, De galhos em galinhos,
e os home ficaro preso. Eu sou.
Resp.: REDE DE PESCAR Resp.: MACAQUINHO
17- Uma cerca de pau a pique, 2 5 -T em uma perna só
c’uma vaca dentro. .e abre os braços pra nos receber.
Resp.: LÍNGUA Resp.: A CRUZ
m
26 - Enche uma casa, 778 - Nos somos dois irmãos,
Não enche uma mão ? diferente no p arecer:
Resp.: BOTÃO meu irmão não vai à missa
e eu não a posso perder;
Fausto Teixeira registrou em Mi­ para festas e batizados
nas : é a mim que chamarão;
492-Que enche uma casa, para negócios de cozinha,
mas não enche uma mão ? vão falar com meu irmão.
Resp.: VINHO E VINAGRE
Resp.: BOTÃO EM SUA CASA
32 - Que é que todos os dias vemos ?
27- Qual a madeira Resp.: OS NOSSOS SEMELHANTES
que mais tem no mato ?
Resp.: PAU TORTO 33 - Os reis quasi não vêm
e Deus nunca viu, nem há de ver?
Fausto Teixeira anotou em Minas: Resp.: OUTRO DEUS
1.173 - Qual é a qualidade de pau que 34 - Qual o homem que morreu por
mais existe no mato ? mão de outro,
sua mãen ão foi nascida,
Resp.: PAU TORTO sua avó conservou-se virgem,
28- Quem faz, até o dia em que ele morreu ?
não goza; Resp.: ABEL
quem goza, Fausto Teixeira registrou versão
não vê, potiguar, segundo Veríssimo de Melo
quem vê in Advinhas — Natal — RN. 1948.
não deseja
por mais bonito 1 - Houve um homem no mundo
que seja que sem ter culpa morreu;
nascéu primeiro que o pai,
Resp.: CAIXÃO e sua mãe nunca nasceu;
29 - Meu princípio fora cinza, sua avó estava virgem
meu vivê ninguém espanta; até que o neto morreu.
de sete fias a.ue tive, 35 - Verde foi meu nascimento,
a derradeira foi santa. que de luto se cobriu;
Resp.: QUARESMA para dar gosto a muitos,
nos ares se sumiu.
Fausto Teixeira consignou versão Resp.: FUMO
potiguar, conforme Veríssimo de Melo
in Advinhas — Natal — RN. 1948. Fausto Teixeira colheu no Espírito
S a n to :
17 - Meu nascimento foi cinza, 372 - Verde foi meu nascimento,
do meu viver ninguém se espanta; mas de luto me cobri;
de sete filhas que tive para dar gosto ao mundo
a última delas foi santa. pelos ares me sumi.
Resp.: QUARESMA Resp.: FUMO
3 0 - 0 que tem a boca maior 3 6 -E m altos nasci,
do que a cabeça ? em altos moro;
Resp.: RIO dá um grito,
Vai-se embora.
31 - Semo dois irimão, Resp.: MAMONA
na cor e nas condição;
pera bodas e função, Fausto Teixeira registrou em Mi­
a mim me convidarão; nas :
pera o tráfico da cozinha, 393 - Alto está
ist’é lá c’o meu irimão. alto mora;
dá um grito
Resp.: VINHO E VINAGRE
e vai embora.
Fausto Teixeira documentou em Resp.: MAMONA : o fruto estoura ao
M inas: calor do sol.
.1.12
3 7 -P lanta bola Fausto Teixeira colheu no Espírito
colhe íerrão Santo :
Resp.: QUIABO 743 - Um velhinho com um só dente,
Fausto Teixeira coletou em Minas: quando grita,
sua casa enche de gente ?
432 - Planta-se chumbo e colhe-se chi­ Resp.: SINO
fres ?
Resp.: QUIABO: sementes e frutos. 44 - Planta taboa
e colhe bola
38 - Que beijamos e não adoramos ? Resp.: MORANGA (qualidade de abó­
Resp.: COPO bora)
39 - Qual a obra que Deus fez mas não Fausto Teixeira apontou no Espí­
acabou ? rito S a n to :
Resp.: CABAÇA 293 - plantei tabuinhas,
Fausto Teixeira consignou versão colhi bolinhas.
paulista, conforme Sebastião Almeida Resp.: ABÓBORA
de Oliveira in Cem advinhas Populares 45 - Choca no chão
São Paulo 1940 : tira nos ares ?
Resp.: PLANTA
326 - Deus fez e não acabou ?
Resp.: CABAÇA : fruto da cabaceira; 4 6 -P ro mato com a boca pra casa,
antes de seu uso precisa ser Vem para casa co’a boca pro mato
limpa e curada. Resp.: ESPINGARDA
40 - Come pela barriga, Fausto Teixeira anotou em Minas:
Vomita pelas costas ? 602 - Que sai de casa com a boca virada
Resp.: CEPILHO : (plaina pequena) pra casa;
Fausto Teixeira apontou no Espí­ e vem pra casa com a boca virada
rito S a n to : pro mato.
Resp.: ESPINGARDA NO OMBRO DO
685 - Que come pela barriga e solta
pelas costas ? CAÇADOR
Resp.: PLAINA DE CARPINTEIRO, 47 - Em alto está
CEPILHO em altos mora;
todos o vê
41 - Três moças formosas : ninguém adora.
tirando-se uma Resp.: SINO
duas não prestam.
Resp.: TREMPE Fausto Teixeira recolheu em Mi­
nas :
Fausto Teixeira registrou versão
739-Alto está,
maranhense conforme Domingos Viei­
alto mora
ra Filho in Advinhas Populares — Boi.
da Com. Catarinense de Folclore N.<? todo mundo vê,
ninguém adora.
9/10 — Florianópolis SC. 1951:
Resp.: SINO
763 - São três irmãs numa casa; 48 - Taboa taboleta :
tirando-se uma duas não servem? quer chova quer não chova
Resp.: TREMPE PARA COZINHAR sempre molhada está
42 - Tango lafandango, Resp.: LÍNGUA
entra dentro 4 9 -S tá no peito,
sai pingando stá cantando;
Resp.: COPO stá na cama,
43 - Um velhinho stá calado
com seu dentinho Resp.: VIOLÃO
chama toda a sua gentinha. Fausto Teixeira registrou em Mi­
Resp.: SINO nas :
113
787 - Que quando está no canto, está 59 - Meu pé
calado, minha mão;
quando está no colo, está cho­ minha vida
rando ? stá no chão.
Resp.: VIOLÃO Resp.: MAMÃO
50 - Carneiro branco 60 - Tem dente não morde,
da írissura preta. tem asa não avoa.
Resp.: ALGODÃO Resp.: ALHO
Fausto Teixeira consignou variante 61 - Anda a cavalo,
alagoana conforme José Maria Belo in mas sempre de pé.
Enigmas Populares — Rio — 1950: Resp.: CRAVO DE FERRADURA
295 - Um homem branco das tripas 62 - Alto como torre,
pretas ? doce como mel,
Resp.: ALGODÃO : pluma e sementes amargo como fel'.
51 - Uma casa, Resp.: MAMÃO
c’o uma forquilha só Fausto Teixeira colheu a seguinte
Resp.: CHAPÉU DE SOL variante em Minas :
52 - Mata a mãe, enforca o filho ? 391 - Alto como um prédio,
Resp.: BANANEIRA dá leite como vaca
Fausto Teixeira colheu em Minas: é doce como mel
311 - Corta-se a mãe e enforca-se o e amargo como fel.
filho ? Resp.: MAMOEIRO E MAMÃO
Resp.: BANANEIRA E CACHO DE 63 - Entra dentro da mãe
BANANAS pra vê seu pai.
53 - Na seca stá parada, Resp.: IGREJA
nas águas stá correndo, 6 4 -U m tatú
e não pode pegar a filha. com um capim no pé
Resp.: MANJARRA (almanjarra)
Resp.: PAU FERRO
5 4 -M ocinha donzela 65 - SSmprenha de noite,
vestidinha de amarelo. pare de dia.
Resp.: BANANA
Resp.: CASA
55 - Corre mais no carrasco
Fausto Teixeira registrou em São
do que no caminho ?
Paulo :
Resp.: FOGO
552 - Que enche de noite e esvazia de
56 - Um pedaço de cavaco,
dia ?
arranca com bois do carrasco.
Resp.: PENTEi Resp.: CASA, MORADIA
Pausto Teixeira registrou versão 66 - riscada pelo folclorista.
conforme Theo Brandão in Folclore de 67 - Um pau com doze galhos,
Alagoas — Maceió — 1949 : cada galho com seu ninho
676 - Sou tamanho de um cavaco, e dentro um passarinho.
puxo o boi todo do mato. Resp.: O ANO
Resp.: PENTE-FINO, PIOLHOS E 68 - Este menino é meu parente,
CABELO irmão de meu marido,
57 - Das 3 pessoas divinas, filho de meu filho;
Uma d’elas hei de ser; é meu neto,
Crio a quem me criou, meu filho legítimo.
Não sou Deus mas posso ser. Resp.: O MENINO EXPOSTO QUE
Resp.: TRIGO E VINHO CASOU COM SUA MÃE
58 - Quanto mais tira, 69 -N asce em pé
mais aumenta ? corre deitada
Resp.: BURACO Resp.: CHUVA
114
Fausto Teixeira apontou em Mi­ 285 - Quatro na lama.
nas : quatro na cama,
28 - Que cai em pé e corre deitado ? dois parafusos
Resp.: CHUVA e um que abana
Resp.: VACA: PÉS, TETAS,
70 - Gurupí de dois pés, CHIFRES E RABO
tinha gurupí de um pé;
veio gurupi de quatro pés Colheu ainda a seguinte variante
e tomou. em M in a s:
Gurupí de dois pés Quatro na lama,
correu atrás e não pegou. dois na cama,
Resp.: UMA MULHER PREPARAVA dois que assopram
UM MOCÓ, VEIO UM CA­ e um que abana.
CHORRO E O FURTOU. EM - Resp.: VACA: PÉS, CHIFRES,
BALDE AQUELA O PROCU­ NARINAS E RABO
ROU. 7 6 -U m curral de pau a pique
71 - Cancelada pelo coletor. com uma piaba no meio.
Resp.: OS DENTES E A LÍNGUA
72 - Fui andando pr’um camin
topei meu compadre barbudo, 77 - Um correndo após o outro sem
fui dar um tapa nele alcançar.
mas não pude. Resp.: O DIA
Resp. MANDACARU 78 - Jogo pra cima prata,
cai no chão, ouro.
Fausto Teixeira trouxe duas ver­ Resp.: OVOS
sões da advinha. A primeira colhida
em Alagoas e inserida por José Maria Fausto Teixeira coletou em Minas:
Belo em Enigmas Populares — Rio 226-Jo g a -se pra cima é prata, cai no
1950 : chão é ouro ?
396-E u ia por um caminho Resp.: OVO
e encontrei um velho barbudo; 79 - Velho, bem velho,
fui dar um tapa nele; não pude. atrás d’uma porta
Resp.: MANDACARU com a barba torta.
Resp.: ANZOL
A segunda registrada pelo próprio
Fausto Teixeira no Espírito S a n to : 8 0 -A tirei no que ví,
matei o que não ví;
378 - Fui no mato, encontrei um velho com lasca de pau santo,
barbudo; assei e comi.
quis dar um tapa nele e não pude Resp.: UM CAÇADOR ATIROU A UM
Resp.: IR í (espécie de palmeira espi­ BENTEVÍ; ERRA O ALVO E
nhenta). MATA UMA POMBA NO GA­
7 3 -U m a porta que abre e fecha. LHO FRONTEIRO; TEVE FO­
Resp.: OLHO ME E NAO ACHANDO UM
PAU PARA ESPÊTO, TIRA
74 - Nasce de joelhos pedindo três
UMA LASCA A UMA VELHA
cousas a Nosso S e n h o r:
CRUZ — PREPARADO AQUE­
chuva, gordura e sal.
LE PETISCO COME O ASSA­
Resp.: FEIJÃO
DO.
75 - Quatro na cama, 81 - Menina bamos drumi,
quatro na lama; qu’é coisa que Deus deixou;
dois parafusos junta capela com capela
e um que abana. menina lá se ficou.
Resp.: VACA Resp.: OLHOS
Fausto Teixeira consignou versão 82 - Passarinho pequenino,
paraibana inserida por Alcides Bezerra das asas verde-dourada;
em suas advinhas, in Antologia do vem cantano choraminga,
Folclore Brasileiro de Luis da Câmara vai levano bofetada.
Cascudo: Resp.: MORIÇOCA
115
83 - Campo branco, 91 - Mame devagar meu filhinho,
semente preta, pois já me doem os seios.
cinco bolos Resp.: MAMADA
e um só graveto. 92 - Uma moça que vive,
Resp.: PAPEL, LETRAS, DEDOS E em dois taboados,
CANETA quer chova, quer não chova,
84 - Preta velha enrugada vive sempre molhada.
de sua terra desterrada; Resp.: LÍNGUA
não hai função neste mundo,
93 - Pau d’água,
que não seja convidada.
folha de táboa
Resp.: PIMENTA DO REINO
Resp.: BANANEIRA
8 5 - Barriga de pau,
costa de ferro. Fausto Teixeira registrou versão
Resp.: ESPINGARDA mineira conforme Saul Martins in Ad­
vinhas, Belo Horizonte, 1952 :
Fausto Teixeira registrou em Mi­
nas : 316-P au d’água e folha de táboa.
Resp.: BANANEIRA
600-Que tem a barriga de pau e a
cacunda de ferro ? 94 - Uma pomba seca,
Resp.: ESPINGARDA sentada em um pau seco,
8 6 - Tem pés não caminha, engolindo uma tripa seca.
tem cabelos não pentia. Resp.: ROCA
Resp.: MILHO 95 - Tres moças e uma mesa,
87 - Boi vermelho lambendo uma vaca vomitando para nos comermos.
preta. Resp.: MOENDAS
Resp.: FOGO 96-Tem dente não tem osso,
8 8 - Nasci branco, hoje estou preto; tem um palmo de pescoço.
careca de natureza, Resp.: ALHO
os mortos me dão vida Fausto Teixeira anotou versão pa­
os vivos me dão fraqueza. raibana de Alcides Eezerra em suas
Resp.: URUBü advinhas, in Antologia do Folclore Bra­
Fausto Teixeira apontou em Mi­ sileiro de Luis da Câmara Cascudo:
nas : 303 - Tem balba e não tem rosto,
279-Branco de nascença, tem dente sem ser de osso,
preto por natureza; tem um palmo de pescoço.
morte pra ele é alegria, Resp.: ALHO
vida pra ele é tristeza.
97 - Uma moça mais formosa,
Resp.: URUBú
mais bonita no falar;
89- Uma garça parda, u’a mão bate no pulso,
morrendo de sede, a outra dá de andar.
com o bico n’água. Resp.: VIOLA
Resp.: CANOA
98 -U m devoto que não sabe rezar.
Fausto Teixeira consignou versão Resp.: CANGURU
paulista conforme Rossini Tavares de
Lima in Advinhas — Caderno de Fol­ 99 - Vem lá, vem cá,
clore N.<? 1 — São Paulo — 1947 : Da boquinha na mulher
Resp.: COLHER DE PAU
532 - Garças brancas
dos campos verdes, 100 - Sem resposta no caderno do fol-
com o bico n’água, clorista.
morrendo de sede 101 - Uma velha, muito velha,
Resp.: CANOA conta mais de cem buracos.
90 - Vivo em cima, Resp.: PENEIRA
vivo em baixo, 102 - Uma igreja de barro,
morto no meio com um Santo Antonio de pau.
Resp.: HOME, SELA E CAVALO Resp.: PANELA E COLHER DE PAU
116
103 - Nasce em pé e caminha deitado ? 776-A ntes de ser já é ?
Resp.: PAU DE CORÔA Resp.: VESTIDO
104 - Quais as plantas que caminham 116-T rip a preta,
sem auxílio de ninguém ? pele branca,
Resp.: PLANTAS DOS PÉS pé de ouro,
105 - Qual' a mulher que de qualquer só morre de boquinha.
forma que se leia, Resp.: CIGARRO
o mesmo nome se encontra ? 117 - Campo largo,
Resp.: AMA gado miúdo,
1C6 - De noite está no alto moça bonita,
e de dia no atoleiro ? velho carrancudo.
Resp.: COLHER DE PAU Resp.: CÉU, ESTRELAS, LUA E SOL
107 - Urra como garrote, Fausto Teixeira apontou em Mi­
cava como tat.ú. nas :
preto como carvão
Resp.: BESOURO 26 - Campo grande,
gado miúdo
108 - Qual o quadrúpede que nós cria­ vaca formosa,
mos, e nós não queremos ver ? boi carrancudo.
Resp.: RATO
Resp.: CÉU, ESTRELAS, LUA E SOL
109 - Uma obra da mão de Deus,
que o seu nome traz presságio de 118-G rita como gente,
morte. tem serra não é serraria,
Resp.: MORRO tem espora não é vaqueiro.
110-D eus a fez e o homem desfez o Resp.: GALO
nome ? 119 - Vira de fundo,
Resp.: SERRA pra aguentar as punhaladas.
111 - Come o duro não mata a fome, R esp.: DEDAL
o homem que não é homem.
120 - Entra n ’água mas não molha,
OES.: No caderno figura resposta
entra no fogo mas não queima.
ininteligível.
Resp.: SOMERA
112-U m a cova bem cavada,
com seis mortos estendidos, Fausto Teixeira registrou versão
cinco vivos passeiando, paulista, conforme Rossini Tavares de
maginando seus sentidos. Lima in Advinhas, Cadernos de Fol­
Resp.: VIOLÃO clore N.9 1 — são Paulo — 1947 :
Fausto Teixeira registrou variante 81 - N’água não se molha,
alagoana conforme José Maria Belo in no fogo não se queima ?
Enigmas populares — Rio — 1950 : Resp.: SOMBRA
783 - Uma cova bem talhada,
com seus mortos estendidos, 121- J á choveu?
dando gemidos horrendos, Boi berrou ?
dando ais tão sentidos ? Goteira pingou ?
Resp.: VIOLA Sabão de roupa acaba.
Resp.: JABOTICABA
113 - Sem efeito
114 - A cor del'a, Fausto Teixeira divulga versão mi­
é o nome dela. neira conforme Saul Martins in Ad­
Resp.: RAPOSA vinhas — Diário de Minas — B . H.
115 - Antes de ser já é ? 1952 :
Resp.: VESTIDO 889 - Quando a chuva cai, faz já.
Fausto Teixeira consignou advi­ Quando o boi urra, faz bú.
nha alagoana, idêntica à januarense, Quando a goteira pinga, faz ti.
conforme José Maria Belo in Enigmas e o sabão da roupa acaba ?
Populares — Rio — 1950 : Resp.: JABUTICABA
117
122 - Do palmito nasce a palma, Fausto Teixeira consigna versão
da palma nasce o palmito; paulista conforme Rossini Tavares de
quero que você me diga, Lima in Advinhas — Caderno NP 1
quem entrou no céu sem alma ? São Paulo — 1947 :
Resp.: A CRUZ 592 - Zig-zig vai voando,
123 - Capa, requicapa, tem dentes para comer;
da mais fina que tiver, mastiga e bota fora,
você não advinha nessa engolir não pode ser
nem na outra que vier. Resp.: ENGENHO DE CANA DE
Resp.: CEBOLA AÇÚCAR
Fausto Teixeira colheu no Espírito 1 3 0 - 0 choque da galinha
Santo : e a ameaça do cão.
353 - Capinha sobre capinha, Resp.: CHOCOLATE
capinha do mesmo pano; 131 - Iam dez burros viajando,
se não advinhar agora, morreu um, quantos ficaram ?
não advinha nem pro ano. Resp.: O QUE MORREU
Resp.: CEEOLA
132 - O nome da casa,
124 - Tres irmãs, uma disse : é o mesmo nome do dono da casa
bamos andá ? Resp.: CUPIM
A outra, bamos esbarra ?
A outra, bamos quetá ? 133 - Um que não se faz sem gordura
Resp.: AGUA, ESCUMA E AREIA e com gordura não presta.
Resp. SABÃO
Fausto Teixeira registrou no Espí­
rito Santo : Fausto Teixeira registrou versão
mineira segundo Saul Martins, in Ad­
20 - São tres irmãs : vinhas — Diário de Minas — B. H.
Uma diz : — vamos correr ! 1952 :
A outra : — vamos parar !
A outra : — vamos descansar! 725 - Que com gordura não presta e
Resp.: AGUA DO MAR, ESPUMA E sem gordura não se faz ?
AREIA Resp.: SABÃO
125 - Duas moças donzelas, 134-D ente na cabeça,
subindo uma ladeira, boca na barriga
e nenhuma viu a outra. a tripa por fora ?
Resp.: ORELHAS Resp.: VIOLA
126- Uma casa com uma parede no Este enunciado colhido por Ma­
meio ? noel Ambrósio nas barrancas do São
Resp.: NARIZ Francisco, se divide em duas advinhas
127- Alto está, em altos mora, distintas consignadas por Fausto Tei­
todos beijam, xeira, conforme coleta de terceiros em
ninguém adora. pontos diferentes do território nacio­
Resp.: COPO nal, embora as respostas sejam as
mesmas.
128 - Na índia fui nascido A primeira de origem alagoana foi
minha terra nem choveu, inserida por José Maria Belo em sua
vim pro Brasil, obra citada. É a de NP 780 da relação
para cousa de comer; de F. T . :
' deram comigo no chão,
e acabei de morrer. Uma velha com os dentes na cabeça
Resp.: PRATO e a boca na b arrig a:
Resp.: VIOLA
129 - De longe eu vi uma armada,
com os dentes para morder; A segunda, de origem mineira, foi
mastiga ele, mastiga, consagrada por Saul Martins em seu
engolir não pode ser. trabalho sobre Advinhas. É a de NP
Resp.: ENGENHO 781 da obra de Fausto T eixeira:
118
Que tem as tripas fora do corpo : Estado interiorano não seria bastante,
Resp.: VIOLA principalmente a este trabalho que
135 - Sem efeito traz a lume enigmas populares colhi­
dos nas barrancas mineiras do São
136 - Repetição da advinha de N.? 85 Francisco. Sabe-se que Minas, por sua
137 - Já fui carne, hoje não sou; situação geográfica, é unidade típica de
carne, estou com a boca aberta; transição. E creio que nenhum Estado
esperando carne. terá dentro de seus limites tantas zo­
Resp.: BOTINA nas condicionais a fatores relevantes,
de modo a permitirem seguras dife­
138-U m a cousa só no mundo renciações entre elas. O barranqueiro
e todo o mundo serve com ela ? é o oposto do mineiro do sul; o ho­
Resp.: O DIA mem da zona da mata não se confun­
139 - Oito parafusos, quatro na lama, de com o triangulino, mercê das con­
dois na carne e um que abana. dições ecológicas, dos meios econômi­
Resp.: BOI cos, das estruturas sociais quasi sem­
pre geradas por estes.
140 - Corpo de espinho,
corôa de espada. Assim, dizer-se que tal fato foi
Resp.: ANANAZ colhido em Minas Gerais, não basta
para identificá-1'o e situá-lo num ver­
141 - Riscada pelo folclorista. dadeiro espaço sócio-geográfico.
142-Idem No caso vertente, sabe-se que as
advinhas recolhidas por Manoel Am-
Um comento faz-se indispensável brósio, o foram na zona mineira do
aqui, para demonstrar a importância São Francisco. E as de Fausto Tei­
de determinados detalhes na pesquisa xeira, onde teriam sido coletadas ?
folclórica. Aí está a considerável lacuna que,
Fausto Teixeira, procurou vincular de certo modo, empalideceu minha
a procedência das advinhas aos Esta­ tentativa de cotejo. Este reparo, não
dos brasileiros onde teriam sido colhi­ poderia passar desapercebido.
das. No trato das coisas do populário, Para encerrar valem algumas con­
é este critério via de regra desaconse- siderações sobre Brasil Interior, a ú-
lhável. Em primeiro lugar porque nem nica obra com material folclórico que
sempre os Estados estão dentro de u’a Manoel Ambrósio conseguiu levar ao
mesma região cultural. A segunda ra ­ prelo. Saiu a primeira e única edição
zão apoia-se no fato de modernamente em 1912, financiada por Nelson Ben-
preocuparem-se os estudiosos de ciên­ jamin Monção, professor e compadre
cias sociais com as chamadas micro do folclorista barranqueiro. O livro foi
regiões, que obrigam aprofundarem-se dividido em dois volumes, na realidade
cada vêz mais os conhecimentos acer­ contidos num só. Ambos trazem em
ca de um fenômeno social, nos seus seu bojo matérias que o autor grupou
limites de origem, de evolução e de vi­ sob o seguinte subtítulo:— “Palestras
vência, sem prejuízo de seu inserimen- Populares — folk-lore das margens do
to no contexto micro regional. São Francisco”. No primeiro volume
E, quantas micro regiões existirão figuram as lendas sanfranciscanas, que
dentro de cada Estado e dentro dos embora vazadas em têrmos regionais,
mal traçados contornos das discutidas com o devido respeito à pronúncia
Regiões Culturais ? barranqueira, encontram-se de certa
No que concerne ao alento traba­ forma literalizadas, aliás bem ao gôsto
lho de Fausto Teixeira, é certo que não da época. Em 1912 ainda não haviam
lhe cabe culpa pelas faltas de terceiros, surgido Amadeu Amaral e Mário de
que pecaram pelas generalizações e pe­ Andrade, homens que começaram a
la inobservância de critérios científi­ revolucionar os estudos de folclore no
cos. Brasil e, mestre Câmara Cascudo, a
Mas no caso particular de Minas maior expressão do continente, era um
Gerais, onde o próprio Fausto recolheu garoto de quatorze anos. Naquela al­
expressiva quantidade de advinhas, a tura o material folclórico para ter saí­
simples vinculação destas ao imenso da, não vindo através da pena de no-
119
mes consagrados, tinha que vestir as pois nele estão fixados termos muito
roupagens do pitoresco, do insólito. A típicos das barrancas que fatalmente
propósito vale aqui transcrever trecho vão sucumbindo na voragem da tele­
de Edison Carneiro colhido na “Evolu­ comunicação.
ção dos Estudos de Folclore no B ra­ Resta dizer que Manoel' tinha a
sil”, à pág. 49 do N.9 3 da Revista alma popular dentro de si. Não era
Brasileira de Folclore : o intelectual encastelado na sua sa-
“depois da Proclamação da Repú­ bença e sim o homem simples e aces­
blica, mercê das crises que se seguiram, sível, amante do contáto com o povo,
a coleta de dados e a descrição de usos observador atento, espírito de elevada
e costumes escapou das mãos dos fol- sagacidade. Gostava de compartilhar
cloristas, passando, gradativamente pa­ da alegria sã e descontraída dos hu­
ra poetas e novelistas que eventual- mildes e, numa sociedade nivelada
mente chegaram a criar uma literatu­ pelas mesmas vicissitudes e pela eco­
ra regional em especial onde as con­ nomia pobre e rotineira, foi ele um
dições sociais eram mais particulares prócer sem baraço e sem cutelo, usan­
ou pitorescas, onde o gênero de vida do apenas as armas da inteligência,
era mais particular, onde a espoliação da cultura, da compreensão e do amor.
da terra e do homem havia criado ti­ Em casa ou na soc:edade foi sempre
pos lendários ao mesmo tempo de he­ o mesmo homem. Os que privaram
róis e de bandidos”. de sua intimidade jamais esqueceram
Através dessa maneira de ver e à seu temperamento jovial e festivo re­
luz da realidade contida em Brasil In ­ temperado em cada festa junina, quan­
terior, o exegeta de Manoel Ambrósio do oferecia aos amigos imenso curi-
toma-lo-ia por um banal contador de matã recheado e assado nas brazas da
estórias, quando a realidade é bem ou­ fogueira, acompanhado das frutas ja -
tra, já que o seu verdadeiro tesouro, nuarenses e dos violões tocados por
dadas as condições do meio januarense ele e por sua irmã Maria Rosa.
e da época ficaram nas gavetas decê­ Caetetú, 4 de dezembro de 1973.
nios após decênios. E quantos folclo-
ristas brasileiros terão sido vítimas das GENERAL RAIMUNDO TELES
mesmas dificuldades, das mesmas im­ ELEITO PARA O
posições do mercado e consequente­ INSTITUTO DO CEARÁ
mente mal interpretados por seus jul­
gadores ? Registramos a merecida eleição do
Da coletânea de lendas inseridas nosso estimado consóeio, e grande em­
por Manoel Ambrósio em sua obra, baixador do ICC na capital' cearense,
constam a da “Mãe d’Água”, a do General Raimundo Teles Pinheiro, pa­
“Lobisomem”, a da “Mula sem Cabe­ ra o INSTITUTO DO CEARA, conspí-
ça”, a do “Carro que canta” (carro de cua instituição de intelectuais e histo­
Maria da Cruz inconfidente de 1736 riadores do nosso Estado. É das mais
que canta no fundo d’água), a da sérias e atuantes do país, e o General
“Serpente do Rio São Francisco”, a do Teles, tendo assento ali, vê reconheci­
“Caboclo d’água, Rolão ou Bixo d’água”, dos os seus méritos invejáveis de cul­
a da “Zelação — quando a estrela cor­ tor da nossa história e intelectual da
re e desaparece além, é ela, é ela — melhor tradição. Nossos parabéns.
a zelação — a serpente mãe do ouro
vivo, encantado”, a da “Caapora” — NOVOS GOVERNANTES
um caboclinho encantado habitando as BRASILEIROS
selvas e como o bicho homem, tendo
o pé redondo — de garrafa — cocho, A 15 de Março de 1974 foram em­
com um olho no meio da testa, ca­ possados na Presidência e Vice Presi­
valgando sempre um porco selvagem, dência da República os eminentes bra­
por silenciosas e remotas brenhas”. sileiros, generais Ernesto Geisel e A-
No segundo volume estão narrati­ dalberto Pereira dos Santos, respecti­
vas, peças de teatro matuto, até ane­ vamente. O ICC enviou telegrama de
dotas regionais. O livro termina com felicitações, augurando profícua admi­
um glosário, hoje de valor inestimável, nistração.
120
j j j j j IHDüSIfilflL 81C lim S. I.

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C R A T O C E A R Á
i l . Humberto kflleucar Castelo Branco
( S U B S Í D I O - H O M E N A G E M )

Gen. Div. RAIMUNDO TELES PINHEIRO

Nasceu aos 20 de setembro de 1900, na te, contraiu núpcias com a nobre dama D.
casa N.9 38 da atual Rua Solon Pinheiro, na Argentina Viana Castelo Branco, filha do Co
cidade de Fortaleza, na qual, após a compe­ mendador Artur Viana e D. Cherubina Martins
tente restauração, foi colocada uma placa de Viana, havendo do ilustre casal os filhos já
bronze, alusiva ao fato, aos 20 de setembro referidos Paulo e Antonieta.
de 1972, em solenidade com a participação do Foi sucessivamente promovido : a 29 Ten.
Governador do Estado, Cel. R -1 Cesar Cais em 11 de maio de 1921, a 19 Ten. em 31
de Oliveira Filho, do Cmt. da 109 Região Mi­ de outubro de 1922, a Cap. em 22 de março
litar, Gen. Oscar Jansen Barroso, do Cap. de de 1932, a Maj. por merecimento, em 03 de
Mar e Guerra Paulo Viana Castelo Branco e maio de 1938, a Ten. Cel. por merecimento,
Antonieta Castelo Branco Diniz, filhos do ma­ em 15 de abril de 1943, a Cel. por mereci­
rechal), de outras autoridades civis e militares, mento, em 25 de junho de 1945, a Gen. de
e dos membros do “Grupo de Trabalho” de­ Brigada em 02 de agosto de 1952, a Gen. de
signado para proceder a trasladação dos res­ Divisão em 25 de agosto de 1958, a Gen. de
tos mortais do Marechal Humberto de Alencar Exército em 25 de julho de 1962, a Marechal
Castelo Branco e de sua esposa O. Argentina na Reserva de 1? Classe em 14 de abril de
Castelo Branco do Rio para Fortaleza: Dr. 1964, em virtude de ter ascendido à Presidên­
Ernando Uchõa Lima, presidente do “ Grupo” cia da República, por eleição indireta do Con­
e orador da solenidade, Dr. Raimundo Girão, gresso Nacional, nos termos do Ato Institucio­
Gen. Raimundo Teles Pinheiro e Dr. Otávio nal baixado pelo Alto Comando da Revolução,
Pontes, além de populares.. ,E, ainda, às 15:20 de primeiro de abril.
do dia 29 de março de 1973, após oportunos, Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de
enaltecedores e brilhantes discursos do Secre­ Oficiais, a Escola de Comando e Estado-Maior
tário de Cultura Dr. Ernando Uchõa Lima e do Exército (sendo classificado em primeiro
do Governador Cesar Cais de Oliveira Filho, lugar), a Escola Superior de Guerra da França,
com a presença de autoridades civis e milita­ a Escola de Comando e Estado-Maior dos Es­
res, foi instalado solenemente o Conselho Es­ tados Unidos, sendo diplomado, também, pela
tadual de Cultura Escola Superior de Guerra do Brasil. Era
Filho do Gen. de Brigada Cândido Borges sócio efetivo do Instituto Brasileiro de História
Castelo Branco, piauiense de Campo Maior, e Militar, Correspondente do Instituto do Ceará,
de D. Antonieta de Alencar Castelo Branco, “Doutor Honoris Causa” da Universidade Fe­
fortalezense de Messejana, fez o futuro Mare­ deral do Ceará e da Faculdade de Filosofia
chal Castelo os seus estudos iniciais no ‘“Ex­ do Crato, justo prêmio ao mérito da sua cul­
ternato São Rafael”, supervisionado pelo Colé­ tura multiforme.
gio Imaculada Conceição de Fortaleza, e diri­ Foi instrutor, várias vezes, da Escola Mi­
gido pela Irmã Inêz (vivem ainda os seus co­ litar do Realengo, além de ter exercido, su­
legas de classe Professor Mozart Solon e in­ cessivamente, os cargos de Instrutor, Diretor
dustrial Fernando Pinto), e o curso secundário de Ensino e Comandante da Escola de Co­
no Colégio Militar de Porto Alegre, Rio Gran­ mando e Estado-Maior do Exército (Em ambas
de do Sul. tivemos a ventura de colher os seus preciosos
Matriculou-se na Escola Militar do Rea­ ensinamentos, em 1932 e, depois, de 1946 a
lengo em 29 de janeiro de 1918, de onde saiu 1948).
Aspirante a Oficial da Arma de Infantaria aos Com a participação do Brasil na Segunda
18 de janeiro de 1921, indo servir no 12.9 Guerra Mundial, integrou, no posto de Ten.
Regimento de Infantaria, em Belo Horizonte, Cel., o Primeiro Escalão da FEB, exercendo as
onde, após promovido ao posto de 1.9 Tenen­ funções de Chefe da Seção de Operações do
123
seu Estado-Maior, e o fez de maneira a mere­ cruciantes da secular floresta de obstáculos
cer encomiásticas citações dos Comandos do fabulosos, por forma a permitir a paz, a se­
V Exército, Generais Critemberg e Mark Clarck, gurança, o desenvolvimento e o bem-estar que,
e do seu eminente Comandante, então Gen. de com a graça de Deus e a sua coragem, para
D;v. João Batista Mascarenhas de Moraes. alguns impopular, hoje desfrutamos num re­
Possuia ai seguintes condecorações : Me­ volto mundo conturbado pela angústia, pela
dalha Militar de 40 anos de bons serviços, violência, o sangue e cataratas de sentidas
Cruz de Combate de Primeira Classe, de Guer­ lágrimas
ra, de Campanha, de Grande Oficia! das Or­ Após transferir o Governo ao seu suces­
dens do Mérito Militar, Naval e Aeronáutico; sor, Marechal Artur da Costa e Silva, ao 15
Medalha de Guerra dos Estados Unidos da de março de 1967, fez uma viagem a Portugal
América, da Inglaterra e da Argélia; Comenda­ a 2 4 de maio, atendendo a convite do seu
dor da Legião de Honra da França, São Bento Governo, e a Paris, como convidado do nosso
de Aviz de Portugal, Coroa da Itália e Mérito Embaixador Bilac Pinto. (2)
do Paraguai. E mais: Cruz de Guerra com De regresso, realizou uma viagem para
Palma, Medalha de Reconhecimento, Estrela de matar saudades do seu querido Ceará, dos
Bronze dos Estados Unidos da América, etc. seus amigos e familiares cearenses, que esti­
Nos postos sucessivos de General, exerceu mava com eufórica e sadia camaradagem, e
as seguintes principais funções; Comandante manifesta espontânea felicidade (Uma noite,
da 10? Região Militar (quando exercemos a jantando no Palácio das Laranjeiras, no decor­
função de chefe do Serviço Militar e da 1? rer de agradável palestra exclusivamente so­
Seção do seu Estado-Maior) (1); Sub-Chefe bre Ceará e Cearenses, perguntou-nos: "Onde
das Forças Armadas, Comandante da Escola pretende fixar residência quando deixar o ser­
de Comando e Estado-Maior do Exército; Co­ viço ativo do Exército ?” "Respondemos que,,
mandante da 8? Região Militar e Guarnição provavelmente, em Fortaleza”. E ele arrema­
da Amazônia, com sede em Belém, Pará; Di­ tou rindo: "Quando me libertar da Presidên­
retor Geral do Ensino do Exército, no Rio cia, onde não permanecerei um segundo além
(quando, por ele fomos indicado e nomeado do período fixado, não poderei gozar da sua
comandante, sucessivamente, da Escola Prepa­ felicidade; mas asseguro que estarei, durante
ratória de Cadetes e do atual Colégio Militar muitas vezes por ano, comendo aquelas bôas
de Fortaleza, que tivemos a suprema honra de peixadas do “ late” com os casais amigos(...)
instalar e dirigir, com dedicada resolução e e tomando cafésinho na Praça do Ferreira,
grande carinho, durante dois anos e seis me­ como fazíamos às tardes das quintas-feiras de
ses); Comandante do IV Exército, com sede 1953/54, no Abrigo Central, com você, o San-
em Recife, e, finalmente, Chefe do Estado- tabaia, o Murilo, o Vilar, o Amarante e todos
Maior do Exército, de onde saiu com o posto aqueles ótimos auxiliares que não esqueço e,
de Marechal da Reserva, a 15 de Abril de por vezes, o Vice Stênio Gomes e o Cacique
1984, para dirigir, como Estadista de escol, do Crato Filemon”) . . .
na Presidência da República Federativa do Na manhã de 15 de julho de 1967, em
Brasil, os seus destinos, no mais critico e companhia do Gen. Raimundo Gomes Alves,
caótico período da sua história Republicana, no “San Pedro Hotel”, palestramos alegremen­
e desbravar, com indomável energia e oportu- te algum tempo, e o fizemos novamente du­
níssima honestidade e sabedoria, os caminhos rante maior tempo e maior eufórica alegria, na

NOTAS — (1) — O Gen. Castelo transmitiu o comando da 10? Região Militar ao Cel. Arnould
Antunes Maciel em 21 de maio, e embarcou para o Rio, num "Constellation”
da PANAIR, às 10:30 de 23 de maio, tudo de 1954. Foi nomeado seu
substituto, no comando efetivo da Região, o Gen. Bda. Emilio Maurell Filho
(Gen. R. T. P.)
(2) — O Presidente Castelo Branco, de 15 de abril de 1964 a 15 de março de
1967, voou 974,35 horas, 413.117 quilômetros, fez 121 visitas aos Estados,
passou 416 dias em Brasilia, 490 no Rio e 158 nos Estados; concedeu 3.221
audiências e despachos com seus Ministros, 5.368 audiências com autoridades
diversas, diplomatas, dirigentes de empresas, delegações, etc., e 617 reuniões:
Ministerial, Conselho de Segurança Nacional, Alto Comando das Forças Armadas,
Ministros de Estado e Parlamentares ("Castetlo Branco, Revolução e Demo­
cracia”, de José Wamberto).
124
manhã de 16, por ocasião de almoço íntimo Exu, origem dos Alencar no Brasil, e que não
na residência do casal Elza - Dr. Otávio Pontes, o pudera fazer, na sua estada, como Cmt., da
com a participação, entre outros, dos casais 10? Região Militar, na3 comemorações do pri­
Gen. Oilermando Gomes Monteiro, Gen. Murilo meiro centenário da elevação do Crato à ca­
Borges Moreira, Comandantes da Base Aérea e tegoria de cidade, em 16/17 de outubro de
da Escola de Aprendizes Marinheiros, quando 1953; e não o pudera, ainda, quando da sua
foram tomadas as providências necessárias à estada como Presidente da República, nas co­
sua viagem de “ trolei-motor” à (azcnda NÃO memorações do bi-centenário da criação da
ME DEIXES, da sua amiga e admiradora Rachel Vila Ral do Crato, em 21 de junho de 1954.
de Queiroz, na manhã da segunda-feira se­ Depois... a participação, com muita hon­
guinte. Ao despedir-se, já no automóvel, por ra, do “Grupo de Trabalho" que elaborou a
volta das 15:00 horas, perguntou-nos onde po­ programação da trasladação dos seus e das
dería pernoitar, ao que respondemos: "na despojos de sua nobre esposa do Rio para
Casa de Repouso São José, na Serra de Santo Fortaleza, e das cerimônias altamente consa-
Estevão”. E ele rindo: “ Lá, lerei seu ‘‘As­ gratórias dos dias 17 e 18 de julho de 1972,
pectos Políticos da Guerra do Paraguai” e, de quando, após visitação pública na igreja do
volta, comentarei”. Pequeno Grande, vieram aludidos venerandos
E foi o nosso último diálogo com o gran­ despojos repousar no grandioso Mausoléu, si­
de chefe com quem cooperamos em inúmeras tuado a 150 metros da nossa residência, com
missões e insigne Mestre no Realengo e na as ilustres presenças dos Exmos. Srs. Presi­
Praia Vermelha, e constituiu-se modélo indelé­ dente da República, Governador e demais au­
vel para a nossa correta conduta profissional, toridades Estaduais, Ministros, Pa: lamentares,
pública e social. A sua indiscutivel honradez, Marechais, Generais da Ativa e da Reserva,
seus destacados méritos culturais e profissio­ demais autoridades militares, civis e eclesiás­
nais, sua grandeza de coração, sua proverbial ticas, seus companheiros ex-combatentos da
euforia no convívio com os amigos, sempre FEB e povo da sua querida Fortaleza.
foram reconhecidos. Seu grande poder de li­ Depois... a participação direta das poste­
derança, sua estatura como dos maiores Es­ riores homenagens, nas cerimônias da aposição
tadistas do Brasil, já estão sendo reconhecidos de placas comemoratiyas, a 19 e 20 de setem­
e proclamados, e, ràpidamente, mostraremos bro de 1972, no apartamento N? 18, da Casa
adiante.. . de Repouso São José, em Santo Estevão, Qui­
Depois... a hecatombe das 09:30 do dia xadá, onde o ilustre cearense pernoitou a úl­
18 de julho de 1967, quando do seu regresso tima noite de sua vida terrena, e na casa
de Quixadá no avião Piper Aztec do Governo N.9 38 da atual rua Solon Pinheiro; e, por
do Estado, matricula PP-ETT, que se chocou fim, na instalação, na mesma casa desapro­
com o jato T-33 do 19/G. Av., que se encon­ priada e completamente restaurada, do Conse­
trava em formação com outras aeronaves em lho Estadual de Cultura, às 15:20 horas do dia
exercício, e, em consequência a sua trágica 29 de março de 1973, antes aludidas...
morte e dos seus companheiros de viagem E, embora já perlustrando o compartimen­
(Cândido de Alencar Castelo Branco, Maj. Art. to dos 65 marços, quando imperativamente se
Manuel Nepomuceno de Assis e Alba de Mes­ nos deparam problemas a equacionar e resol­
quita Frota, além do piloto Francisco Celso ver, quando nos surgem dúvidas e angústias,
Tinoco Chagas). recorremos a Deus, à nossa consciência, aos
Vimos, violentamente emocionado e tran­ ensinamentos do insigne mestre e ao estímulo
sido de dor, o seu corpo desarticulado, quando da sua carinhosa correspondência (Exemplos:
da necessária autópsia no Hospital Militar de “ Rio, 8 de junho de 1954. Meu caro amigo
Fortaleza; desfilamos tristonho, aniquilado, fren­ Tellcs, Estou aqui mais para agradecer do que
te ao seu corpo inerte, juntamente com o nos­ para lhe dar noticias. Desde minha chegada
so povo, acabrunhado, na sua sentida home­ que não me canso de bem considerar a ca­
nagem ao grande cearense, durante o velório maradagem do meio Militar da 10? R. M., não
no salão nobre do Palácio da Luz; assistimos, só no apreço à minha pessoa, como também
contrlstado, o embarque do ataude com os nas gentilezas feitas à Argentina. E você e
despojos daquele grande amigo, que, no almo­ sua senhora muito fizeram para que tivéssemos
ço da manhã de 16 citado, havia combinado tanta consideração. O casal nunca variou,
achar-se aqui para maior permanência em a- sempre o mesmo no trato e nas atitudes.
gosto ou setembro, por forma a poder visitar Desde o Rio, antes de 1952. Em 1953, então,
conosco, além do “ nosso Crato”, a cidade de nos ligamos mais pelo trabalho e pela boa

125
visinhança. E ro Craio ? Aí, vimos e senti­ Alencar Castelo Branco, um dos mais brilhan­
mos, no cas3l, a fidalguia da gente daquela tes e notáveis chefes do exército brasileiro,
terra. Por tudo isso meu velho amigo Telles, figura tradicional por sua atuação na Fôrça
muito obrigado. E a melhor maneira de lhe Expedicionária, e nas mais elevadas funções
expressar meus agradecimentos é lhe dizer o militares, foi eleita Presidente tia República,
meu propósito cie conservarmos a amizade do recebendo o pesadíssimo encargo do restabe­
casai... E aceite um apertado abraço de seu lecer a ordem em todos os setores da vida
amigo e camarada obrigado H. Castello Bran­ nacional, que um regime irresponsável abalara
co” ; outro: “ Meu caro Telles. Quando eu es­ biutalmente.
creví este discurso, muito me lembrei da equi­ Castelo Branco, enérgico e prudente, ini­
pe de estado-maior que tanto me ajudou na ciou um governo de saneamento e reconstru­
10? R. M. com as suas qualidades bem posi­ ção, procurando extirpar as falhas em suas
tivas. E destaco, nessa equipe a sua pessoa, raízes, revitalizar o organismo do País e res­
o auxiliar sério, operoso e eficiente, além dis­ taurar o seu prestígio internacional. Organizou
so, o bom amigo. Um apertado abraço do seu um ministério com figuras das mais competen­
velho camarada Castello. Em 24-VI-1955”; ou­ tes e notáveis. Adotou corajosas medidas de
tro : “ Rio, 14 de agosto de 1962. Meu caro contenção da inflação e promoveu inúmeras
Telles. Estou em falta com você e bem gran­ iniciativas de desenvolvimento. Enfrentou sé­
de. Já deixei a D. G. E., a 9 do corrente, rias crises, naturais em um ambiente revolu­
estando agora à espera de classificação. Até cionário, onde as sensibilidades afloram no
agora de nada fui informado, nem perguntado. intuito patriótico das funções idealistas. A
Envic-ihe o elogio que, com muita honra, fiz gestão Castelo Branco restaurou a autoridade
ao ilustre amigo Cmt. do CMF. Nossas reco­ moral do Presidente da República do Brasil.
mendações à Dona Valdelice. Um abraço mui­ Infundiu a confiança do povo e elevou o con­
to amigo do seu velho camarada H. Castello ceito de nosso País no exterior. A figura des­
Branco” ; outro: “ Guanabara, 5 de Março de se Marechal, que em função de Estadista re­
1964. Meu caro Telles. Muito reconhecido a velou-se indiscutível, honrou o Exército, ao
seus préstimos durante a minha estada em mostrar a sua cultura, o seu patriotismo e a
Fortaleza. A amizade velha é como aguarden­ sua coragem. Como desejava, em 15 de mar­
te do Crato. Minhas melhores recomendações ço de 1967, entregou a faixa presidencial ao
à Valdelice. Um abraço amigo do Castello"; Marechal Costa e Silva, eleito seu sucessor.
e mais um : “ De Palácio do Planalto Brasília Retirou-se modestamente para sua vida parti­
D. F., 21 de Março de 1966. Cel. Raymundo cular, vindo a falecer, pouco mais tarde, em
Telles. Estado Maior do Exército. Min. Guer­ consequência de lamentável acidente aéreo.
ra — Rio — G. B. Recebi folheto referente Tributou-lhe a Nação, que tanto lhe devia, as
minha visita nosso Crato pt Agradeço fidalguia mais sentidas homenagens”. (“ História do
et estima apresentação feita velho camarada Exército Brasileiro”, Edição do Estado Maior
amigo pt Marechal Castello Branco — Pres. do Exército, 1972).
da Rep.”). Para concluir: Este despretencioso subsídio
Este, o insigne mestre e doutrinador mi­ é uma pálida homenagem do “vaqueiro do
litar que nos instruiu na Escola Militar de Rea­ Crato”, agora também, de acordo com a lei
lengo e na Escola de Comando e Estado-Maior n.Ó 4057, de 29 de setembro de 1972, e Di­
do Exército; este o grande chefe militar a quem ploma solenemente entregue aos 02 de março
prestamos a possível eficiente cooperação na de 1973, “ vaqueiro de Fortaleza de Nossa Se­
Chefia do Serviço Militar e na 1? Seção do nhora da Assunção”. É uma grata imposição
seu Estado-Maior Geral na 10? Região Militar, do conceito que cultuamos com unção religio­
e nos comandos sucessivos, da Escola Prepa­ sa : Enaltecer e Venerar os eminentes vultos
ratória de Cadetes e do Colégio Militar de do passado. Notadamente os que nos guia­
Fortaleza, sob sua chefia na DGE; este o ram pelos caminhos da HONRA, da DIGNIDA­
grande amigo de coração adamantino, sempre DE e do DEVER, da JUSTIÇA, do CIVISMO
aberto aos íntimos. (Quando do nosso co­ e do PATRIOTISMO...
mando no Colégio Militar, era seu chefe de (Mini-biografia dedicada ao Centro de
Gabinete o companheiro e distinto amigo Tá­ Preparação de Oficiais da Reserva de Forta­
cito Teófilo G. Oliveira, então Cel.). leza).
E que dizer do grande Estadista ? Pro­ Fortaleza, 24 de maio de 1973.
clamemos a coneeiiuação da História: “ ...a o s
11 de abri! de 1964, o Marechal Humberto de Gen. RAIMUNDO TELES PINHEIRO

126
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C ra to C e a rá
O Crctto há 50 anos
A n t o .m o de A is n c a k A RA RÍPÍ5

Há cincoenta anos, exatamente, estava che­ Municipal, que por lei lhe cabia presidir, e
gando, pela primeira vez, à cidade de Crato. a divulgação de apêlo aos romeiros para que
Era 14 de julho de 1920. Nomeado, por ato prestassem de boa vontade os dados necessá­
de 31 de maio de 1920, do Ministro da A gri­ rios exigidos pelos recenseadores.
cultura, Indústria e Comércio, Simões Lopes, Na tarde de 14 de julho, encetei o per­
expedido em virtude de indicação do Delegado curso da etapa restante da jornada para o
Geral do Recenseamento no Estado, o enge­ Crato, onde às vinte horas me inscreví como
nheiro Hermano de Vasconcelos Bittencourt um dos hospedes da Pensão Avenida, de
Júnior, Delegado da 6? Secção, que tinha por Alfredo Gonçalves. Surpreendeu-me ao ven­
sede a Princesa do Cariri, a 19 de junho, do cer êsse último trecho da viagem, o fato de
mesmo ano, perante o delegado fiscal Mário ter verificado que o leito da estrada era
Linhares, prestei o devido compromisso, no constituído de terreno quase sempre firm e e
dia 17, viajei, por via férrea para Lavras, onde às vèzes acidentado, quando antes ouvira re­
então residia minha fam ília com o fito de ali ferir constar o mesmo de planície arenosa.
aguardar a ordem de ir assumir o exercício Acontecera ter errado o caminho, deixando à
da função. esquerda a via certo para aquela cidade, en­
Recebida tal ordem, às quatorze e meia caminhando-me, à direita, pela que bota para
horas do dia 9 de julho iniciei a cavalo o o sítio “ Pau Sêco", o tradicional solar da
percurso da estrada para o Crato, via Aurora, heroina Dona Bárbara.
onde pernotei em casa de meu irmão Cícero, Para efeito da realização do recensea­
convidado para secretariar-me. mento, o Ceará fôra dividido em onze sec-
O dia seguinte, 10.7.1920, utilizei-o para ções, ou delegacias, uma delas a 6?, confia­
vencer a etapa Aurora-ingazeira, de onde, após da à minha direção, e as demais aos Drs.
o pernoite, prossegui para Missão Velha, ponto Carloto Fernandes Távora 11?, padre Leopoldo
de descanso, e, à tarde, para Juazeiro, que Fernandes 7?, e Srs. Vicente Carneiro 4?, Ma­
me acolheu em sua única casa de hospeda­ noel de Castro Paiva 2?, Laudelino Benigno
gem então existente, a chamada Pensão Ole- 9?, Sindulfo Chaves 10? e Josino Firmeza 5?.
gária. Minha jurisdição administrativa abrangia
Foi a êste tempo que se iniciou meu os municípios de Crato (sede), Juazeiro, Mis­
conhecimento pessoal com o padre Cícero. são Velha, Barbalha, São Pedro do Cariri,
Ciente êste da minha presença na cidade e Quixará e Santana do Cariri, onde desde logo
da função que vinha exercer no Cariri, apres­ providenciei, a 17, 24 e 25 de julho, e a 7
sou-se em visitar-me, acompanhado do Dele­ e 10 de agosto, sôbre a organização das Co­
gado de Polícia (Manoel Calixto de Lira, ou missões Censitárias, presididas pelo prefeito
Manoel Temóteo, era um desses famarazes lo­ local e integradas por autoridades civis e
cais nas lutas armados) e de numeroso sé­ pessoas gradas, e a designação dos agentes
quito de romeiros. recenseadores.
Guardo dêsse primeiro contacto com o A tõdas as localidades acima nomeadas
patriarca juazeirense a lembrança do cordial por vêzes da sede me levou o transporte-ani-
tratamento que me dispensou, e do fato, por mal, único existente no meio naquela época.
êle referido, de meu pai lhe ter assistido à Tive a grata sorte de afinal levar a bom
ordenação, e de ser hóspede, quando semina­ têrmo, na secção em aprêço, os serviços do
rista em Fortaleza, do Cônego José Ferreira censo de 1920, que me valeram menção hon­
Lima Sucupira, sacerdote com cuja neta, a rosa da parte dos superiores hierárquicos.
prima Matilde Umbelina de Araripe Sucupira, Cabe-me registrar o fato de haver correspon­
havida de justas núpcias, aquêle se casara dido plenamente aos meus anseios de fixar-
pela primeúa vez. me no Cariri a designação para no mesmo
Chefe da edilidade local, o padre Cícero exercer, mui jovem ainda, relevante função.
comigo desde logo acertou as providências Atraiam-me irresistivelmente para aquêle setor
sobre a instalação da Comissão Censitária dc Estado, tanto a idéia de que ali se si­

129
tuava uma das áreas de maiores possibilida­ presidente do supremo órgão do Poder Judi­
des sociais e econômicas do Nordeste, como ciário estadual, o Tribunal da Relação. Real­
os vínculos e tradições de família, que a ela mente, submetido com êxito a tal prova de
tanto me prenderam. Minha trisavô, por via habilitação perante os desembargadores Fran­
Paterna, Bárbara Pereira de Alencar, se bem cisco Antônio de Oliveira Praxedes e Sabino
que não tenha nascido no Ceará, cêdo esta­ do Monte, presidente do Tribunal, e Procura­
beleceu-se no município de Crato, onde cons­ dor Geral do Estado, e os examinadores Drs.
tituiu fam ília e ali vieram à luz da vida seus Antonino Fontenele e Alfredo de Oliveira Po-
descendentes, entre os quais figuram meu bi­ lari, foi-me concedida, com a data de 7.1.9
savô Tristão, o mártir de Santa Rosa, e meu 1918, Provisão "para que possa” , consoante
avô Pedro Jaime de Alencar Araripe, compa­ os têrmos do respectivo ato, "p o r um ano
nheiro do tio Senador Alencar na fuga para exercer a profissão de Advogado nas Comar­
o São Francisco, em 1824, a quem escrevia, cas de Lavras, Icó, iguatu, Crato, Jardim, Se­
a 16 de junho de 1832, de Campo Maior nador Pompeu, Quixeramobim, Tauá, Assaré,
(Quixeramobim), para onde se expatriára, nar­ Jaguaribe, Quixadá e Fortaleza” .
rando-lhe “ as circunstâncias e vexações” por A 8 de março de 1919, por igual período,
que passava a família, vítim a dos "tristes a- renovou-se dita Provisão, cuja área de vigên­
contecimentos do Cariri, nossa infeliz pátria” , cia se estendia, também, às comarcas de Pa-
e noticiando-lhe o fato de “ minha avó” (dona catuba, Baturité e Crateús. A 2 de julho de
Bárbara) ter conseguido evadir-se "para as 1920, quando já estava na presidência do
partes do Piauí” ("Anais da Biblioteca Nacio­ Tribunal o desembargador João Firmino Dan­
nal” , v. 86, ps. 411/412). tas Ribeiro, nova concessão legal, agora para
Conforme consta da publicação em apreço o exercício por dois anos, me foi concedida.
da correspondência passiva do senador Alen­ Seguiram-se a êsse ato as Provisões, pelo pe­
car, à página 279, Pedro Jaime, com o fale­ ríodo de dois anos, cada, de 13 de julho de
cimento de dona Bárbara, foi um dos herdei­ 1922 e de 7 de novembro de 1924, nas quais
ros a que se uniu Neutel, também filho de estão abrangidas, entre outras, as comarcas
Tristão — reza carta de João Franklin de de Barbalha e Milagres, e, na última, a de
Lima, de 3.6.1833 — “ para juntos irem tra­ Juazeiro.
tar de tal negócio" (o inventário). Encerrou-se aí o ciclo de oito anos de
Os movimentos revolucionários de 17 e minha vida como rábula, devido a ter-me ba­
24, em cuja vanguarda estiveram os Alencares, charelado em Direito, na Faculdade do Ceará,
as atrozes perseguições e amarguras de que com a turma comemorativa do Centenário dos
foram vítim as membros da fam ília, alguns dê- Jurídicos a 11 de agosto de 1927.
les brutalmente imolados, como Tristão Gon­ Pertenço, por via paterna, à fam ília que
çalves, Leonel, o capitão-comandante de Jar­ conta, entre os seus ancestrais, grande nú­
dim, Antônio Geraldo e João Pereira de Car­ mero de membros dedicados às atividades do
valho, tôda a epopéia de bravura e sofrimento Fôro. Meu pai iniciou-se nesse setor como
vivida por meus ancestrais e ressoante da escrevente de cartório em sua terra natal
crônica da região, sem dúvida por si repre­ (Quixeramobim), e foi serventuário de justiça
senta ponderável motivo para que à mesma de Pereiro, a contar do dia nove de setem­
sempre me sentisse profundamente vinculado. bro de 1873, até quase o fim do século pas­
Estabelecido definitivamente no sul do sado, quando, por igual ou maior período,
Estado, enquanto me esforçava para dar fiel dispondo de provisão de advogado, passou a
cumprimento às atribuições do cargo, cujo servir ao Ministério Público nas comarcas de
exercício me fôra cometido, habilitava-me, pelo Senador Pompeu, Tauá, Jaguaribe, Icó, La­
conhecimento da população e análise das res­ vras e Jardim. Consagrou, assim, mais de
pectivas atividades, para delas participar como meio século da existência, às lides do Fôro I
profissional do Fôro e, ao mesmo tempo, ini- Seus irmãos, Pedro e Antonio Jaime, deputa­
cipiente militante nos quadros da vida parti­ dos provinciais, militavam no magistério ofi­
dária. cial e dispunham, também, de provisão para
Não sendo, cinquenta e dois anos atrás, advogar.
graduado em Direito, vali-me, em 1918, do Meu avô paterno, Pedro Jaime, exerceu
dispositivo legal então vigorante, que assegu­ temporàriamente funções judiciais em Quixera­
rava a pessoa em tal condição o exercício mobim, onde se dedicava ao notoriado seu
da advocacia, uma vez que fôsse aprovada sôgro José Joaquim da Silva Lôbo, e advoga­
em exame escrito e oral realizado perante va filho dêste, o deputado provincial e ba­
banca examinadora nomeada e presidida pelo charel em Coimbra, Canúto Lôbo. Jurista

130
consagrado foi meu tio-avô, conselheiro Tris- dedicação e sacrifício s, da defesa dos d ire i­
tão de A lencar Araripe, que, como Presidente tos dos constituintes conduziram-me à con­
da Assembléia Provincial, Deputado Geral, quista, devo dizê-lo, m odéstia à parte, de in-
M inistro de Estado e do Supremo Tribunal Fe­ contrastável renome profissional. Entre outros
deral, serviu, em altos postos, aos três po- documentos comprovantes dessa assertiva, que
dêres do regime p o lítico do País. adeante serão invocados, cabe-me, desde logo,
Afirma-se que, por fõrça da lei do atavis- trazer à baila os testemunhos de autoridades
mo, cada um está sujeito a herdar certos jud iciária s do mais alto conceito no Estado.
caracteres dos ascendentes remotos. Não é Atestou-me o desembargador Silva Moura,
estranhável, portanto, que, com dedicação e presidente do Tribunal de Justiça, em petição
entusiasmo por mais de meio século, me te­ protocolada sob o N.9 163, a 24.11.34, “ gosar
nha consagrado aos estudos ju ríd ico s e tra ­ de ótim a reputação, exercendo com inteligên­
balhos forenses. A carreira de advogado ini­ cia, todo c rité rio e demonstrado zêlo à pro­
ciei-a nas comarcas de Lavras e icó, p rinci­ fissão de advogado".
palmente nos têrmos de Aurora e Várzea Ale­ A seu turno, afirmou, a 16 do mesmo
gre. Foi nesse que se realizou minha estréia mês e ano, o Dr. Hermes Paraíba, o grande
na tribuna ju d iciária , quando defendi, com juiz que durante tantos anos estève à frente
relativo sucesso para o acusado, certo hom i­ dos destinos da Comarca do Crato : "Atesto
cida subm etido a julgam ento do Tribunal Po­ que o requerente gosa de reputação ilibada
pular. , e se tem conduzido no e xercício da advoca­
No Icó, em outubro de 1920, já se re­ cia com a máxima correção” .
gistrava minha prim eira vitória no fôro eivei, Funcionei no prim eiro processo de falên­
em demanda movida contra o constituinte Ber­ cia da firm a Lima Medeiros & Cia., instaurado
told o Nogueira. Fui para o Cariri quando já na região, e tive sob meu patro cínio a res­
estava me fam iliarizando com a prática e a ponsabilidade da defesa de acusados em pro­
aplicação das leis, a que por tanto tempo cessos crim inais de grande repercussão no
àssistira meu pai se devotar. inte rio r do E s ta d o : a morte de Paulo Brasil,
Vendo-me procurar seguir-lhe os mesmos em Iguatu, e a do cel. Felinto Cruz, em San­
passos da carreira de rábula a graduado em tana do Cariri.
Direito, advertiu-me, certa vez, o professor inscrito na Ordem dos Advogados, secção
Eduardo Girão que, como êle, estava indo da do Ceará, a 15 de maio de 1933, Carteira
prática para a teoria. A diferença existente N.9 164, registro 2 (vide o edital com o qua­
entre as nossas tra jetó rias consistia no fato dro do Fôro do Estado, inserto em “ O POVO”
de haver-me subm etido a exames em segunda de 11.1.1933), participei ativamente da vida
época e, assim, deixado de abeberar-me das forense do Crato, no período em que aquela
lições dos doutos mestres da Salamanca es­ cidade era nomeada, por vultos em destaque
tadual. do nosso supremo cenário da Justiça, como
Infelizmente pela falta de frequência só sede da comarca cearense onde m elhor se
contei com os mestres mudos, os livros, para processavam os feitos.
a conquista, na turma, por fôrça das boas Pôs em destaque o jurisconsulto e M inis­
notas obtidas, de uma das prim eiras classifi­ tro do Supremo Tribunal Philadelpho de Aze­
cações, e para a elaboração de trabalhos ju ­ vedo, ao e m itir voto no Recurso Extraordiná­
rídicos, alguns, divulgados em memórias, ou­ rio N.9 5.414/1942, relativo à demanda que
tros inseridos em publicações ju rídica s do patrocinei no Fôro de Jardim , minha “ grande
vulto da “ Revista de D ire ito", de Bento de acuidade profissional e perfeito conhecim ento
Faria, da “ Revista Forense” , de “ O D ireito” , das lêtras ju ríd ica s em tão afastado rincão” .
e do “ Ceará Ju d iciário ” . O professor de direito e em érito doutri-
Nas dezenas de anos de advocacia, nos nador Odilon de Andrade, pronunciando-se. a
auditórios de comarcas dêste e dos Estados propósito do memorial “ Da Cobrança de T ítu ­
vizinhos (Pio Nono, Fronteiras, Picos e Valen- lo Sem Causa em Ação P re scrita', com 102
ça, no Piauí; Exu, Bodocó e O uricuri, em páginas, afirma te r eu dem onstrado" de modo
Pernambuco), consegui credenciar-me à con­ com pleto e exaustivo a tese da prescrição” ,
fiança de avultada clientela. usando “ em tôdas as outras partes argumen­
O apègo ao estudo das questões confia­
tação de grande vig o r e de incontestável jus­
das ao meu patrocínio, que então me fêz teza” . E c o n c lu i: “ Sem desfazer em seu
disp ô r de uma das mais com pletas bibliotecas Crato, penso que o senhor é um profissional
especializadas existentes entre nós, e o espe­ que merecia o Rio, ou outro fôro de primeira
cial interêsse com que cuidava, sem poupar ordem ". (“ O POVO” , de 9.6.1942).

131
O notável orador do fôro crim inal do Rio Julgada na Imissão de Posse” — com a
e publicista especializado, Evaristo de Morais, afirm atiiva de tratar-se de “ trabalho realmente
acusando a leitura do trabalho "A Morte de bem feito que p or seu va lo r honra as tra d i­
Paulo B rasil” , declara tratar-se de “ uma defe­ ções de inteligência e cultura do foro do
sa com pleta, revelando não só conhecim entos Ceará” .
ju ríd ico s pouco comuns, com o enorm e dedica­ Por sua vez o consagrado ju rispe rito de­
ção à causa de seus constituin te s” , e acers- sem bargador A. E. Magarinos Torres, da Corte
c e n ta : “ Sinceramente, lhe digo que causa ad­ de Ju stiça do Rio, agradecendo-me, a 19.8
m iração encontrar-se no in te rio r do País um 39, a oferta de dois exem plares de memórias
advogado tão aparelhado, não só com o co­ forenses, felicitou-m e "p e lo b rilho e e rudição”
nhecim ento de bons autores, como com o da dos mesmos.
jurisprudência dos Tribunais” . O desembarga­ O professor Olavo O liveira, respondendo-
dor A bner Vasconcelos, em carta de 2 0 .6 .2 8 , me a certa indagação sôbre assunto de que
comunicou-m e te r lido êsse juizo crítico , a- era incontestàvelmente especialista de truz,
chando que o mesmo “ vale pela mais valori­ declarou-m e em carta de 2 de fevereiro de
zada das opiniões". 1933 : “ Tendo-o, com o o tenho, com o mestre
Divulgando-o pela “ Gazeta de N o tícia s” , de Direito — no que não lhe faço favor —
de que era diretor, o ju rista A ntônio Drumond m uito me desvanece a sua consulta. Vai sa ir
qualificou-m e de “ advogado matuto de mais a revista do Instituto. Honre-a com a sua
saber do que m uito advogado praciano” . douta colaboração” .
No “ deputado m atuto” do Ceará, Carlos O Memorial “ O Juiz dos Doutos sôbre a
Lacerda, conform e divulgou na “ Tribuna da A pelação C ivil, entre partes M. Gomes de Sá
Imprensa” e pelo rádio, ao tem po do rumo- e Frota G entil S. A .” , contém semelhantes p ro­
rosíssim o inquérito sôbre o protecionism o o fi­ nunciam entos feitos, no que toca à demanda
cial ao jornal “ Última Hora” , jam ais julgou da mais alta im portância agitada no Fôro de
poder encontrar um “ grande advogado” . Crato, por Clóvis, Valdem ar Ferreira, Numa
Sôbre o a ludido trabalho forense, produ­ Paula Vale, A droaldo Costa, desembargador
zido em ruidoso processo crim inal o em érito Melo Guimarães e outros lum inares da ju ris-
Clóvis Beviláqua, a 2 1 .5 .2 8 , escreveu-me en­ cultura.
viando felicitaçõ es pela “ inteligência revelada Cabe-me declarar, a tantas linhas do pre­
no d irig ir a defesa e pelos sólidos conheci­ sente o oportuno relato, que êsses autorizados
mentos de D ireito Penal, de que se colhem pronunciam entos, atribuindo-m e pretensa capa­
provadas a cada página” . cidade profissional, não os d ivulgo por dêles
Tendo publicado mais quatro memoriais me ju lg a r merecedor, ou para satisfazer à exi­
forenses sôbre matéria crim inal (“ Da Prova gência de vaidade, incom preensível à altura
no Mandato C rim in a l” . “ A Rixa de Santanó- do avanço de minha existência. Se recorro
pole” , “ Delito Contra a Honra” e “ Caso T íp ico a êsses generosos conceitos espontaneamente
de Habeas Corpus” ), e mais de uma dezena em itidos sôbre as minhas habilitações como
concernentes a questões eiveis, a propósito obscuro autodidata do in te rio r do Estado, que,
dos mesmos conservo em meus arquivos hon­ ao vivo, dia a dia, durante mais de meio
rosas manifestações de jurista s de todos os século consagrou-se ao estudo e à aplicação
matizes. do D ireito, sòmente o faço para dar co lo rid o
Entre as manifestações de tal natureza indispensável ao respectivo histórico.
aqui está a que consta de carta datada de Foi na atual Lavras da Mangabeira que
3 de setembro de 1937, escrita pelo renomado tive a prim eira oportunidade de habilitar-m e
civilista J. M. de Carvalho S a n to s : “ Tenho a ao e xercício do d ireito p o lític o do voto. Per­
satisfação de acusar o recebim ento do mag­ tenço ao colégio eleitoral de Crato, a contar
n ífico memorial de sua autoria sôbre a ques­ de 1920.
tão de “ Abalo de C réd ito ” que poucas vêzes A acentuada vocação para a vida pública,
tenho visto tão bem versada. Expresso-lhe que com fervor acalento desde a juventude,
minha adm iração pelo seu trabalho de jurista, impelia-me para os prélios eleitorais, onde se
que cada dia se afirm a de maneira mais selam os destinos das populações dem ocrati­
b rilhante” . zadas.
Distinguiu-m e o desem bargador Manoel Na vigência do regim e republicano, o
Carlos de Figueiredo Ferraz, preclaro magis­ consentim ento d os governados na investidura
trado componente do Tribunal de Justiça de do poder, expresso através das urnas, cons­
S. Paulo, ao acusar, a 1 5 .7 .4 1 , o recebimen­ titu i p rin cíp io fundam ental.
to do memorial — “ Dos Efeitos da Coisa A livre manifestação da vontade popular

132
no ato da escolha dos que devera receber a No período que antecedeu à revolução
aludida investidura só em sim ulacros de de­ de trinta, cansei-me de testemunhar a cele­
mocracia pode ser dispensada. bração de eleições sem eleitores presentes,
Era o que outrora, ao tempo das atas representados êstes pelos próprios membros
falsas, das celebérrimas ele ições a bico de das Mesas receptoras, que se revezaram no
pena, ocorria em todo o País. Por êsse omis­ trabalho de consignar-lhes os nomes, como
so processo de subversão de norma essencial se fôssem os portadores dos mesmos, nas
ao regular funcionam ento das instituições de­ atas eleitorais. Quantas vèzes, indo assistir
mocráticas, tolhia-se ao povo o exercício do ao pleito eleiito ra l em Assaré, constatei o fato
mais grave dos direitos p olíticos. Membros de os correligionários locais, chefiados pelos
do Executivo e do Legislativo, federal, esta­ próceres oposicionistas A ntônio Fernandes,
dual, municipal, nenhum dêles galgava as es­ Mundóca e Nenen Arrais, ficarem impedidos
cadas do poder p or fôrça de livre pronuncia­ de votar, porque as respectivas atas já tinham
mento dos governados. Em regime cognom i- sido, ou estavam sendo lavradas às escondi­
nado do povo, pelo povo, fraudava-se às es­ das. Só em uma oportunidade, de 1920 a
cancaras o d ireito de representação, que é, 1930, graças à ação enérgica de um ju iz digno,
na expressão de abalisado constitucionaliista, à altura, Daniel Lopes, assegurou-se naquêle
o mais belo instituto com que pode um povo m unicípio à oposição o acesso às urnas. M i­
resolver bem seus problemas gerais. nha intransigente atitude de combate aos des­
Tendo-me qualificado e le ito r ao pleno vi­ mandos situacionistas tornou-me alvo, em 1926,
cejar dessa situação de evidente opróbio po­ de denúncia dada ao M inistro da Guerra pelo
lítico , não podería, sem desatender às infle­ chefe das tropas legalistas, Dr. Floro Bartolo-
xões de patriotism o, deixar de aliar-me aos meu, que me acusava de prom over o a licia ­
que se propunham e dar-lhe cerrado e deci­ mento de reforço para os revolucionários.
sivo combate. Tive de valer-me então dos bons préstimos
Imenso era então, quase sem possibilida­ do amigo Dr. César Cais, para desfazer a
de de ser coarciado, o poderio dos detento­ balela jun to ao Presidente, Des. José Moreira,
res do poder em face do qual pareciam es­ nos têrm os do que consigna o jornal "N açã o ” ,
maecer tôdas as esperanças de reconquista de 12.9.31.
da livre manifestação nas urnas. Mesmo as­ A revolução de trin ta encontrou-me em
sim, não vacilei um só instante em aderir de São Mateus, onde logo soube da deflagração
corpo e alma, á aguerrida equipe então for­ do movimento. Transferi-me, prim eiro, para
mada, sob e inspiração de Fernandes Távora, Crateús e, em seguida, com Mário Leal e
para lutar sem tréguas nem vacilações pela numeroso grupo armado, para Iguatu, de cu­
dignificação de nossa vida pública. jas estações telegráficas ocupadas telegrafa­
Sustenta Sampaio Dória que os partidos mos ao governante estadual, notificando-o do
antigos pleiteavam p rincíp ios e os agrupamen­ propósito de marcharmos para a Capital e
tos modernos cavam interêsses. Estamos no promovermos-lhe a deposição.
tempo em que, ao ver de O liveira Viana, a Sem pleitear, por de form a alguma me
p o lítica é menos serviço p úblico do que meio convir, as circunstâncias forçaram -me a acei­
de vida privada. Não foi essa chamada va- ta r a chefia do Executivo de Crato, para o
cuidade ou ausência de motivações coletivas qual fui nomeado em 17.10.30. Como nela
o que me induziu às atividades partidárias. A me comportei, dentro da norma sempre ado­
p o lítica de dedicação à causa pública, que a tada de viver para a política, e não da po­
ancestrais alencarinos tanto fêz sofrerem per­ lítica, consta do trabalho inserto em O POVO,
seguições, punições e até a morte, nunca es­ de 6 . 1 . 68, em que há a ressaltar ter-me qua­
teve fora de meu ideário. Creio provir da lifica do , Demócrito Rocha, ao deixar o exer­
seiva haurida nessa tradição a fôrça que sem­ cíc io do cargo, de ‘‘ o m aior Prefeito da Re­
pre me levou a concebe-la em seu mais alto volução” .
sentido. Nos anos que se seguiram da nova ins­
Apraz-me acentuar que, sendo homem de titucionalização do regime à queda da fam ige­
partido durante tantos anos, jam ais mudei de rada ditadura getuliana, por te r enfrentado com
orientação, nunca me inscreví sob outra ban­ altivez e destemor as perseguições de tôda
deira. Do Partido Republicano Cearense às a sorte, feitas aos co rreligionários por decaí­
legendas que lhe sucederam do Partido Demo­ dos recambiados ao poder graças ao adesis-
crático de São Paulo, do antigo P. S. D., da mo, e por te r com batido sem cessar, mediante
U. D. N., e da atual Arena, eis a í a rota certa todos os meios, inclusive na direção do se­
de meu tlro cín io político . manário "O C a riri” , os desmandos governa-

133
mentais, duas vezes fui conduzido, sob guarda víduos para a conquista e fruição do poder,
policial, para Fortaleza, e uma vez detido, ora só e só” , e é ‘‘ o acaso exclusivamente que
em casa de pensão, em Juazeiro, ora, sob levanta os homens às posições” .
palavra, na residência em Crato. Ao fim do Se algures que a missão do homem pú­
regime ditatorial, contra a minha espectativa, blico se realiza e se exalta precisamente na­
fui candidatado à Assembléia Nacional Cons­ quela conjuntura em que, com o despojamento
tituinte, a que me elevaram os sufrágios dos total de si mesmo, com o abandono de quais­
correligionários. Outras eleições asseguraram- quer reivindicações ou interêsses, entrega-se
me, afinal, o comparecimento, em vários anos humildemente à execução de sua rude tarefa.
de exercício de mandato, a 4.346 sessões par- Abstraindo-me de preocupações personalistas,
lamentares, conforme certificou a Secretaria da creio ter-me esforçado sempre para cum prir
Câmara dos Deputados. , com fidelidade as tarefas que me têm sido
O mandato nas relações entre particula­ cometidas na vida pública.
res, ou entre governantes e governados, abran­ Basta-me essa convicção para dar ânimo
ge direitos e deveres mais ou menos idênticos. e conforto ao espírito.
A prestação de contas, por exemplo, constitui
imperioso dever, peculiar tanto aos procurado­
C R A T O
res e comitentes, como aos portadores da re­ MORAIS E SILVA
presentação política.
A êstes, adverte exim io comentarista, não Lá no sopé da cordilheira, assente,
assiste outro meio de prestar contas ao povo há muitos anos com meus pais te v i ...
que os elegeu, de fazê-lo ciente do que real­ Esmeralda formosa! toda gente
mente praticaram, senão publicando seus dis­ exalta o que de belo fulge em t i . . .
cursos, suas defesas, suas explicações, seus
manifestos. Foi isso exatamente o que reali­ Essa serra feraz e viridente,
zei, com a publicação dos livros "O rós, à dos mananciais que, outrora, conhecí,
Redenção do Nordeste” e ‘‘ Doze Anos de eleva-se soberba em tua frente,
Parlamento” . ó nobre capital do Cariri! . . .
Dir-se-á que minhas cinco décadas de
ação firme e constante em prol do aprim ora­ Quem não te ama, princesa do Nordeste!
mento dem ocrático das instituições brasileiras se valorosos filhos tu nos deste
não me abriram as portas do êxito fácil na e és uma glória para todos nós ?
vida pública. Isso constitui natural ocorrên­
cia em país onde, consoante observação de Doce oásis do Estado cearense,
Gilberto Amado, em “ Presença na P o lítica", a deixa que em verso sem cessar te incense,
palavra partido significa “ associação de indi- rosai de amor, em florações de heróis...

M A R I A C A B O R É R E MI NI SC ÉN CI A
MORAIS E SILVA MORAIS E SILVA

Maria Caboré, cafusa insana, Pelas ruas de Crato, sem tropeço,


a usar tecido de algodão barato; menino, andava a divagar a pé;
altaneira e descalça, andava em Crato, era bem pobre, humilde, mas travesso;
com ares de princesa ou soberana... foguetes apanhava em frente a S é ...

Era de vê-la, imponente e ufana, Ao insulamento, por demais, avesso,


de bom humor, que parecia inato; ia ao Granjeiro e ao Seminário até;
sem conhecer nenhum artesanato, porém, o quadro que já mais esqueço,
confundia-se, ás vezes, com cigana... mais se prende à Maria Caboré...

Propalava-se noiva a todo mundo, Descalça mas de porte ereto e altivo,


do Príncipe Odilon, que chegaria dir-se-ia de uma tribo ou pai selvagem;
em carruagem de ouro, de alémm ar... não gostava de negro ou de cativo...

Quando a expirar, sob esse amor profundo, Era o seu sonho, além de casto, bom:
viu a descer do Céu, em pleno dia, aguardava a doirada carruagem
um anjo que a levou para casar. que lhe traria o “ Príncipe Odilon”.

134
Folclore Regional
TESTAMENTO COM QUE JUDAS ESCARIOTES, VERSÃO 1972, SE
DESPEDE DE SEUS AMIGOS E ADMIRADORES, LEGANDO-LHES
TODOS OS SEUS HAVERES — CRATO, 02 DE ABRIL DE 1972
1 — AMADO POVO, EM GERAL REUNIDOS, NA ASSEMBLÉIA,
da m in h a terra q u e r id a MINHA MORTE VÃO LEM BRAR...
HOJE FOl CHEGADO O DlA, AMIGO, ASSIM COMO JUDAS,
MAIS TRISTE DA MINHA VlDA. É RARlSSlMO ENCONTRAR...
É GRANDE A SATISFAÇÃO
QUE TRAZ A FESTA DO JUDAS. 7 — VEREADORES, QUERIDOS,
O ENTE DA TRAIÇÃO UM CONSELHO VOU-LHES DAR:
PATRONO DE OUTROS JUDAS ! OS POBRES DOS NOSSOS BAIRROS,
VOCÊS PRECISAM OLHAR:
2 — BEIJEI AS FACES DO CRlSTO, NÃO TÊM ÁGU A! SÓ TÊM LIXO,
AQUELE REl SOBERANO ! FAZ NOJO ATÉ SE OLHAR,
VENDl POR 30 DlNHElROS A POBREZA SEMPRE AJUDA,
E NÃO TIVE O SEU PERDÃO ! VOCÊS DEVEM SE LEMBRAR!
MEU DESESPERO FOl GRANDE, RECEBAM MINHAS POLTRONAS,
QUE À FÔRCA ME ENTREGUEl P’RA VOCÊS REPOUSAR,
c u m p r in d o a m in h a s in a E, TAMBÉM MEU ÚLTIMO ADEUS,
POIS MEU MESTRE EU RENEG UEl... QUE AGORA VOU-ME A C A B A R ...

3 — FUl UM ENTE TRAlDOR, 8 — QUERIDO PEDRO FELlClO,


p o is com m in h a a m b iç ã o , que é d a m in h a e s t im a ç ã o ,
TIVE INVEJA DO MEU REl RECEBA, A TITULO DE HERANÇA,
QUE PREGAVA A U N IÃ O ... UM CARRO NOVO, QUE TENHO,
CURANDO E FAZENDO O BEM, EU O DOU, DE CORAÇÃO,
POIS TlNHA SUA BEN ÇÃO... O SEU PRESTIGIO É TÃO GRANDE,
AQUI EM TODA A REGIÃO,
4 — MEUS DEDICADOS AMIGOS : RECEBA, MAIS, O MEU VOTO,
A VOCÊS QUERO AGRADAR, COM TODA A SATISFAÇÃO.
AQUELE QUE NÃO GANHAR, NO PRÓXIMO PLEITO SERÁ,
CONFORME-SE, NÃO VÁ CHORAR, O PREFEITO DO CORAÇÃO ! ! !
MAS, NÃO SIGAM MEU EXEMPLO,
QUE EU SÓ FlZ ME ATRAPALHAR... 9 — AO QUERIDO OSVALDO ALVES,
MEU JORNALISTA LEGAL,
5 — ESCOLHÍ COMO PRlMElRO, RECEBA COMO LEMBRANÇA,
MEU DEDICADO PREFEITO : UMA OFERTA G ENlAL:
o s e n h o r M ig u e l t e u n a s , VOCÊ É TÃO CONHECIDO,
É HOMEM DE GRANDE FEITO: QUE PASSOU A FEDERAL.
COM UMA BANDA DE MÚSlCA, OS MEUS LIVROS DE ACADÊMICO,
QUE SEMPRE FALOU EM DAR, PARA DE MlM SE LEMBRAR,
O PRÉDIO DA PREFEITURA, MAS, EU LHE PEÇO, Ó OSVALDO,
UM DlA VAl TERM INAR... MEU ENTERRO ANUNCIAR.
O SEU GOVERNO, NO CRATO, NAQUELA SUA ORCANlC,
VAI CADA VEZ MELHORAR, UMA EMPRESA DE ABAFAR,
RECEBA, MIGUEL TEUNAS, O PAGAMENTO É COMIGO,
UM ABRAÇO QUE VOU LHE D A R ... JUDAS NÃO LHE PODE FALTAR.

6— AOS MEUS DIGNOS DEPUTADOS, 10 — QUERIDO Dr. HUMBERTO,


TAMBÉM LHES QUERO AGRADAR: A QUEM DESEJO ABRAÇAR:
AS MINHAS BIBLIOTECAS, COM A SUA PAClENClA,
EU JÁ MANDEI ENTREGAR... A TODOS QUER AGRADAR,
PARA SEU NOVO HOSPITAL, 15 — MEU CARO ABlDORAL,
UM PARABÉM EU VOU DAR: GENTE FINA, QUE ABRAÇO,
SUA PERSONALIDADE, VOU DEIXAR-LHE, DE HERANÇA:
UM DIPLOMA LHE OUTORGOU : BlCOS, RENDAS E UM LAÇO,
DE PRESIDENTE DA ARENA, ESTOQUE DE MIUDEZAS,
TODO MUNDO APROVO U... ENTREGUEl EM SUAS MÃOS.
E, TAMBÉM UMA PRlNCÊSA,
11 — MEU PROFESSOR PEDRO TELES, E FRUTO DO CORAÇÃO.
MÚSICO DA MINHA PAIXÃO, POIS COM VOCÊ FAÇO TUDO,
DElXO-LHE O MEU PIANO VIUVO DA MlNHA P A IX Ã O ...
PARA SUA DISTRAÇÃO.
UNS ESTOQUES DE LlFÕRMES 16 — MEU QUERIDO JAGUARlBE,
QUE SERVEM DE ADMIRAÇÃO, AMIGO DESDE CRIANÇA,
NA HORA EM QUE FÔR VESTlR, VOU DEIXAR-LHE DE LEMBRANÇA,
LHE BATE NO CORAÇÃO. UMA MODERNA OFICINA,
JUDAS NUNCA FOI CAFONA, E UNS MOTORES DE AUTOMÓVEIS,
REPARTE COM RETIDÃO, FEITOS NA AMÉRICA LATINA,
MAS, CHEGUE PERTO DE MlM, MAS, DEIXE AS CAMARADAGENS,
E RECEBA MEU A BR AÇ ÃO ... QUE LHE DÃO MAU RESULTADO,
RECEBA OS CONSELHOS DO JUDAS,
12 — QUERIDOS COMERCIANTES :
SEU AMIGO, DO PASSAD O ...
DO MEU CRATlNHO ADORADO,
RECEBAM, SEM MAlS TARDANÇA, 17 — 0 SENHOR JOSÉ PAULINO,
UMA OFERTA DE LEMBRANÇA: HOMEM DE ALTO VALOR,
AS MINHAS ECONOMIAS, POIS VOCÊ VAI RECEBER,
P’RA VOCÊS SÃO RESERVADAS, MEU DIPLOMA DE PINTOR:
MAS, REPARTAM DlRElTlNHO, VOCÊ É ANTIGO NO CRATO,
P’RA NÃO HAVER ENROLADA: MERECE O NOSSO LOUVOR,
CUIDADO COM A INVEJA. ZÉ PAULINO É MEU AMlGO,
PODEM SER ANIQUILADOS. DESDE 0 TEMPO DE MENINO,
DE GRANDE. CONHEÇO DEUS, CANTAMOS NAS SERENATAS,
E, NA TERRA, TUDO É N A D A ... ASSENTADOS NAS ESQ U IN A S ...

13 — Dr. MENEZES BARBOSA, 18 — 0 MEU TIO, ZÉ DE BASTOS,


DA GRANDE RÁDIO PROGRESSO, A QUEM SEMPRE EU ADOREI,
DElXO-LHE UM CONSULTÓRIO, VOCÊ SEMPRE TEM GÔSTO,
MAS, MEU DOUTOR, EU LHE PEÇO: DE EM MlNHA FESTA AJUDAR,
QUE TENHA PENA DOS POBRES, TODAS AS MINHAS CUÉCAS,
NA HORA DA PRECISÃO: JÁ MANDEI LHE ENTREG AR...
DEIXO GRAVATAS MUI LINDAS, E TAMBÉM UMA LINDA BOLSA,
PARA SUA COLEÇÃO, PARA SUA IRMÃ HERDAR...
ESPERO DE SUA AMIZADE, ELA ESTÁ MUlTO ENGRAÇADA,
A MINHA CRÔNICA FAZER, ACHO QUE VAI ASSENTAR...
ÀS 12 HORAS DO DlA, O ZÉ DlZ PARA A IRM Ã:
PARA TODO O PÚBLICO SABER, O MEU SOBRINHO É LEGAL I
ADEUS, MENEZES BARBOSA, NUNCA PENSEI EM GANHAR,
UM DlA, AINDA O HEI DE V E R ... UM PRESENTE SEM IG U A L ...

14 — PARA O BAIRRO DAS CACIMBAS, 19 — 0 VALTER, DA PADARIA,


A QUEM TENHO ADMIRAÇÃO, EU TENHO QUE AJUDAR,
EMBORA ESTEJA ENCOSTADA, CAL, TINTA E ClMENTO,
MANDO MlNHA TELEVISÃO: P'RA PADARIA A JE IT A R ...
AS PEÇAS ESTÃO TODAS SOLTAS, AS PAREDES TÁ MUITO SUJA,
E BASTANTE ESTRAGADAS, VOCÊ DEVE BEM OLHAR.
MONTANDO UMA POR UMA, MAS, DEVlDO AO TEMPO RUlM,
TALVEZ QUE DÊ RESULTADO, VOCÊ NÃO PODE C R IA R ...
ASSISTAM SUAS NOVELAS, MAS, SEU AMlGO, JUDlNHA,
SEM HAVER DIFICULDADE. SEMPRE GOSTOU DE AJUDAR,
E LEMBREM-SE: O AMlGO JUDAS, A D E U S ... ATÉ 0 INFERNO,
SEMPRE FOI BOM CAMARADA. NÓS NOS ENCONTRAREMOS L Á . . .

136
20 — MEU FILHO, ZÉ DE ROBERTO, JUNTO COM SUA COMlSSÃO,
FILHO DO MEU CORAÇAO, AS FARDAS, JUDAS VAI DAR,
OS MEUS LINDOS PIJAMAS, SEMPRE LHE TlVE A TE N Ç Ã O ...
POIS VOCÊ TEM P RE CISÃ O ... MAS, MANDE SEUS INSTRUMENTOS.
DE TODOS OS MEUS FlLHlNHOS, PRA MEU ENTERRO ACO M PAN HAR...
VOCÊ É O DE ESTIMAÇÃO.
25 — AO COMPADRE ANTONlO HONOR,
NÃO SIGA O EXEMPLO DO PAI,
PRECISO PRESENTEAR.
QUE S ó QUlS A P E R D IÇ Ã O ...
CUIDADO COM A PAQUERA, COM UMA COOPERATIVA,
ELA VAI LHE A TRAPALHAR... PRA VOCÊ NELA C O M P R A R ...
RECEBA OS TRINTA (30) DlNHElROS, VOCÊ É MUITO QUERIDO
E, POR NÓS É ESTIMADO,
QUE POR JESUS EU FUI D A R ...
FOI ESTE O MELHOR PRESENTE,
DEVIDO À MINHA AMBIÇÃO,
QUE FICOU CLA SS IFICAD O ...
EU TlVE QUE ME A C A B A R ...
26 — PARA A TURMA DO AÇOUGUE,
21 — PARA A TURMA DA GESSI
QUE POR MlM É ADORADA,
BORRACHAS DO MEU CORAÇÃO,
UM CURRAL CHEIO DE VACAS,
UM RESTAURANTE DECENTE,
PARA VOCÊS, SÃO DESTACADAS:
BEM NO CENTRO DA C lD A D E ...
MAS, REPARTAM COM CUlDADO,
MERENDAS, CAFÉ, ALMOÇO,
PARA EVITAR Z O A D A ...
JÁ ESTÃO CLASSIFICADOS.
UM ARMAZÉM DE PURO SAL,
AQUELA TURMA BACANA,
PARA OS TOUCINHOS SALGAREM,
SEMPRE POR MIM ADORADA,
TOUCINHO SEM SAL NÃO PRESTA,
ADEUS, ADEUS, QUERlDlNHAS,
TENHAM UM POUCO DE CUlDADO
VOU PARA MlNHA ÚLTIMA M O R A D A ...
E TAMBÉM UMAS MORENAS,
22 — 0 SENHOR JOAQUIM OTÁVlO, PARA ELAS LHE AJUDAREM,
EU JÁ ME IA ESQUECENDO: E CREIAM QUE JUDAS AMlGO,
MAS NÃO O POSSO OLVIDAR: SEMPRE FOl BOM C A M A R A D A ...
POIS É AMIGO, DE FATO, 27 — A RÁDIO ARARlPE DO CRATO,
VOU DEIXAR-LHE DE HERANÇA, EU NÃO TENHO O QUE DEIXAR:
UM PARTIDO DE ARARUTA,
É EMISSORA ASSOCIADA,
DEZ BARRIS DE BACALHAU, NINGUÉM PRECISA A JU D A R ...
COM A POBREZA DESPACHAR, CONTUDO, DEIXO UM PEDIDO,
VOCÊ É MUITO CARIDOSO, É O QUE POSSO ATESTAR:
NUNCA VIVE A LASTIMAR, ADEUS, ADEUS, MEUS QUERIDOS,
ADEUS, ATÉ UM BELO D lA : OS MEUS CRIMES VOU P A G A R ...
OS MEUS CRIMES VOU P A G A R ...
28 — PARA JOAQUIM LUClANO,
23 — 0 TAL JOAQUIM MESTRE NÉCO, ESPÊTO DA MALDIÇÃO,
O CAFONA POPULAR, VAI FICAR, COMO LEMBRANÇA,
A SERRA DO ARARlPE 0 MEU VELHO M A C A C Ã O ...
EU JÁ MANDEI CO NTR ATAR... CUlDADO, QUANDO VESTIR,
TODO AQUELE PlQUlZAL, 0 BICHO ESTÁ TODO RASGADO,
PRA SUA VlDA ENFRENTAR. PRlNClPALMENTE NO FUNDO.
LÃ NO MERCADO REDONDO, TENHA UM POUCO DE C U lD A D O ...
SEU CAPITAL VAI AUMENTAR, FOI O MELHOR DOS PRESENTES,
MAS NÃO VENDA MUITO CARO, QUE EU LHE TINHA RESERVADO.
O FISCAL TEM QUE O L H A R ...
RECEBA MAIS UM PENICO, 29 — MEUS DEDICADOS DOUTORES,
N A S 'H O R A DAS NECESSIDADES... UM CLUBE MUlTO BACANA,
MAS ANTES DA MlNHA MORTE, A QUEM TENHO MUITA ATENÇÃO,
VENHA AQUI, PRA ME B E IJ A R ... LÁ NO ALTO DO S E R TÃ O ...
PARA NO FIM DA SEMANA,
24 — MEU DEDICADO AZUL, REPOUSAR COM A N IM A Ç Ã O ...
DA BANDA, O MAIOR C H E FÃ O .. . CONTEMPLANDO MlNHA MORTE,
RECEBA, COM MEU CARINHO, SEI QUE DÓI NO C O R A Ç Ã O ...
UM GRANDE APERTO DE M Ã O .;. FOI ESTE GRANDE PRESENTE:
COM O PRESENTE QUE GANHASTE ACEITEM, COM G R A TID Ã O ...

137
30 — CASSlMlRO DA CARROÇA, 35 — PARA O MESTRE MORElRlNHA,
MEU IRMÃO DE CRIAÇÃO, MEU AFILHADO DE BEM,
PRA VOCÊ TÁ ENCOSTADO, DE TODOS OS MEUS QUERIDOS,
NO RECANTO DO FOGÃO, A VOCÊ QUERO MAIS BEM,
UMA NINHADA DE GATOS, RECEBA COMO LEMBRANÇA,
QUE É DE SUA ADMIRAÇÃO, UM CARRO VELHO QUE TEM
MAS, NÃO VÁ SE ARRANHAR, CUIDADO NUMA V lR A D A ...
CUIDADO, NA MALDIÇÃO, VOCÊ FOl SEMPRE PONTUAL,
SETE ANOS DE ATRASOS, COM SEU PADRINHO ADO RADO ...
DEUS NÃO LHE DÁ O PERDÃO,
ACEITE, DE CORAÇÃO, 36 — QUERIDA MISERICÓRDIA,
POVINHO QUE SEMPRE AMEI,
A FLOR DA MINHA T R A IÇ Ã O ...
GAROTAS DO MEU ABRAÇO,
31 — PARA A RÁDIO EDUCADORA, PAQUERAS DE QUEM GOSTEI,
VÃO RECEBER COlSA BÔA,
UM PRESENTE VAl G AN H A R ...
UM CLUBE MUlTO BACANA,
UNS DISCOS VELHOS QUE TENHO,
PRA DANÇAR SUAS TERTÚLIAS,
PARA VOCÊS ESCUTAR...
COM TODA SATISFAÇÃO,
PARA NAS NOITES DO SERTÃO,
CUIDADO: NÃO VÃO BRlGAR,
VOCÊS TODOS CO MENTAR...
VOCÊS SÃO DE AMARGAR,
JUDAS SEMPRE FOl AMlGO,
ZÉ NlLTON DlZ PARA O PINHEIRO:
TEMOS DE TER COMPAIXÃO,
AMlGO IGUAL AO JUDAS
UMA MÚSICA COMO ESTA,
JAMAIS IREMOS ACHAR,
DÓI DENTRO DO CO RAÇÃO ...
FOI ESTE O MELHOR DONATIVO
QUE ELE PODIA D A R ...
32 — QUERIDO LEANDRO FRANCO,
POSTALZINHO DO MEU AGRADO,
37 — REPARTI TODOS OS MEUS TÊRES,
EU NÃO O POSSO ESQUECER,
ESTOU IMPRESSIONADO,
. POlS É AMIGO, DE FATO,
MAS, A CLASSE DOS MOTORISTAS,
DElXO-LHE COMO LEMBRANÇA,
AINDA NÃO DEIXEI NADA:
UMAS PIPAS DE AGUARDENTE
UM POSTO DE GASOLINA,
NA HORA DA MlNHA MORTE,
INSTALADO LÁ NA GROTA
EMBEBEDA A MlNHA G EN TE ...
PRA VOCÊS SE FORNECEREM,
MAS, UMA COlSA EU LHE PEÇO :
NA HORA DAS NECESSIDADES,
TENHA DE MlM COMPAIXÃO,
MAS, BAIXEM O PREÇO DAS CORRIDAS
NÃO DEIXE QUE O AMIGO JUDAS,
TENHAM DÓ E COMPAIXÃO,
VÁ MORRER NO FRlO C H Ã O ...
JUDAS NOS DEU ESTE POSTO,
VAMOS SERVIR À POPULAÇÃO...
33 _ PARA A TURMA DOS BANCÁRIOS:
UM PRESENTE VAl GANHAR, 38 — PARA O CEGO MOAClR,
MlNHA TURMA DE SOLDADOS, QUE POR MlM É ADORADO,
PARA O BANCO ÊLES GUARDAR... UM PRÉDIO PRA SEU ARMARINHO,
EVITANDO UM ASSALTO, FICA BEM GALARDOADO,
VOCÊS FICAM A LASTIMAR, ESTOQUES DE MIUDEZAS,
FOl ESTE O GRANDE PRESENTE, PRA VOCÊ NELE BOTAR,
QUE VOCÊS DEVEM G AN H A R ... MAS DEIXE ESSA MANlA,
QUANDO O POVO VAl PASSAR,
34 — PARA O CHlCÔ LEONEL, CADÊ A MERCADORIA?
COMERCIANTE QUERIDO, JUDAS VAl ME ENVIAR,
RECEBA, SEM MAlS TARDANÇA, NA ÉPOCA QUE NÓS ESTAMOS,
UMA OFERTA DE LEMBRANÇA: SÓ VIVE A SE LAS TIM A R ...
DUZENTAS SACAS DE FEIJÃO T ir e a s c a ix a s v e l h a s d a p o r t a ,
COM QUINHENTAS DE ARROZ, SENÃO VAI SE A C A B A R ...
DEZ FARDOS, DE MACARRÃO, OLHE O QUE VAI GANHAR,
PARÁ SUA MANUTENÇÃO. POlS EU SOU UM ENTE POBRE,
NA OUTRA SEMANA SANTA, MAS DESEJO LHE A JU D A R ...
VAI VlVER BEM DESCANSADO.
RECORDANDO MlNHA MORTE, 39 — SOBRINHO, MUNDlNHO FRANCO,
DE TUDO FICARÁ LEMBRADO. QUERIDO DO MEU VlVER,

"m
PRA VOCÊ EU RESERVEI, ADEUS, ADEUS, PAPAlZlNHO,
A HERANÇA QUE MERECER: ATÉ O PRÓXIMO ANO,
AS MINHAS PORCAS PARlDAS, VÁ LOGO SE PREPARANDO,
E A GATINHA MlMl, pra m in h a festa enfrentar...
VEJA, QUE GRANDE OFERTA,
EU ESCOLHÍ PARA T l . . . 45 — PARA ZULENA TAVARES,
QUE SEMPRE FAZ MEU TESTAMENTO,
40 — AO MEU QUERIDO ESPORTE, AS MINHAS CAIXAS DE JÓIAS,
TIME NOVO, EM POSIÇÃO, DEIXO, COM CONTENTAMENTO...
QUERO PARABENIZAR, MINHA LINDA RADlOLA,
COM A GRANDE RECEPÇÃO, PRA SUAS TERTÚLIAS FAZER,
CAMISAS NOVAS, CHUTElRAS, JUNTO COM SUAS COLEGAS,
ENTREGUES EM SUAS MÃOS, DANÇAR, TANTO, ATÉ VALER,
um l in d o cam po gram ado, TODA MINHA DISCOTECA,
PRA MELHOR ATUAÇÃO, VOCÊ TEM QUE RECEBER,
E, NO DlA DA ESTRÉIA, SEU MANlNHO É SEMPRE AMlGO,
DERROTAR, COM ANIMAÇÃO, LHE DÁ TUDO O QUE Q U IS E R ...
A TURMA DO F. HlGlNO,
A PIOR DA REGIÃO. 46 — REPARTI MlNHA FORTUNA,
NADA MAIS TENHO A DAR,
41 — A TURMA DO BARRO VERMELHO,
AQUELE QUE NÃO GANHOU,
EU TENHO QUE A JEITAR:
SE CONFORME, SEM CHORAR,
GALINHAS, PORCAS E CABRAS,
POIS EU SOU BASTANTE RlCO,
MAS ESTÃO SEM PODER ANDAR,
SEMPRE GOSTO DE A G R AD AR ...
VOCÊS TRATEM COM CUIDADO,
QUE DARÁ BOM RESULTADO.
47 — ADEUS, ESTUDANTES QUERIDOS,
A TROÇADA DA COZINHA,
MOTORISTAS E CHAPEADOS,
JÁ ESTÁ CLASSIFICADA...
CARROCEIROS, SAPATEIROS,
42 — AO MEU QUERIDO BERNARDO, A VOCÊS: MlNHA A M IZ A D E ...
DAS CASAS PERNAMBUCANAS, ADEUS, ATÉ QUE UM DlA,
TODAS CERVEJAS DO BAR, POSSAMOS NOS A VIS TA R ...
PARA SUAS CARRASPANAS,
E, DEPOIS DO MEU ENTERRO, 48 — ADEUS, CAFONAS DO CRATO,
VÁ SUA CARA ENCHER, CABELUDOS E MALANDROS,
MAS NÃO PRECISA CHORAR, ADEUS, CORÔAS ENFADADAS,
NA HORA DE ME SEPULTAR... QUE NÃO ME DERAM ATEN ÇÃO...
AS LABARÊDAS ME CHAMAM,
43 — PARA O POBRE DO PALMEIRAS, EU QUERO ME INCENDIAR,
QUE SÓ VIVE A LASTIMAR, ADEUS, BORRACHAS QUERIDAS,
BOLAS, CHUTElRAS, MElÀO, PAQUERAS DO MEU AMOR,
p a r a o t im e p r o s p e r a r , ADEUS, CIDADE MODELO,
POIS UM QUADRO COMO ESTE, CIDADE QUE PROSPEROU...
NUNCA PODE SE ACABAR,
JÁ FUI DIRETOR DE TIME, 49 — ADEUS, PAPAI GENEROSO,
E VlVl, A ME LASTIMAR, MEU FILHO, ZÉ DE ROBERTO,
COM ESTAS DIFICULDADES, O CAFONA: MESTRE NÉCO,
CADA UM PODE PASSAR, O MEU TIO, ZÉ DE BASTO,
MAS, ANTES DA MINHA MORTE, TODA A CLASSE OPERÁRIA,
UM A UM, QUERO B E IJA R ... QUE SEMPRE ME DEU ATENÇÃO,
OS QUE ME ACOMPANHARAM,
44 — PARA PAPAI GENEROSO, NO MEU CORTEJO AFAMADO,
EU NÃO TENHO O QUE DEIXAR: ME LEVEM LOGO PRA FÔRCA,
POIS ESTÁ MUITO VELHINHO, POIS JÁ ESTOU LIQ UIDADO ...
PRA MINHA FESTA ENFRENTAR,
RECEBA, COM MUlTO GÔSTO, 50 — ADEUS, CIDADE MODELO,
SAPATOS BRANCOS, QUE TENHO, EU JÁ VOU ME LIQUIDAR:
O SEU NÃO TEM MAIS SOLADO, A FORCA ESTÁ ME CHAMANDO,
A GENTE NÃO PODE VER, MEUS PECADOS VOU P AG A R...

139
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Subsídio de Dil ucidação
JOSÉ DOS ANJOS DIAS

Dando-se tempo ao tempo para direção um guerreiro nosso, avisar que


haver tempo, trará época peculiar pa­ saíssemos dali que a polícia já estava
ra esclarecer os fatos obscuros, que à vista em alguns setores tomando po­
até então, viviam incógnitos assom- sição de combate, seríamos alvos fatais.
breados por mistérios de aparências Eu e meu primo descemos incon-
inalteráveis. tinenti, porém, nosso vizinho ficou tre­
O senhor Otacílio Anselmo, atra­ pado, mal andamos o primeiro quar­
vés de Itaytera, vem demonstrando teirão para chegarmos à nossa casa, a
ser protegido dos Deuses, porque de polícia desencadeou intensa fuzilaria
outro modo não se explicaria grande para dentro da cidade. Foi revidada
cópia de conhecimentos arquivados na por nossos homens ocultos nas trin­
sua bagagem literária A sabença é cheiras, que atiraram nos alvos huma­
oferenda dos Deuses aos mortais, se­ nos com pontaria bastante certeira.
gundo a qualidade que torna alguém Nosso companheiro que permane­
digno de prêmio. ceu trepado, caiu como um jenipapo
Itaytera N.1? 17 trouxe bons arti­ maduro, recebeu uma bala dundum na
gos, na minha opinião, dentre êles, o testa com saída perfurante na nuca.
que mais adquiriu fôrça ou robustez, Episódios da curiosidade da minha me­
foi o trabalho sôbre o combate de Mi­ ninice que desejava de tudo ver e co­
guel Calmon. nhecer, que ia custando-me a vida.
Não porque tivesse sentido em mim Outro fato que eu não poderia dei­
a menor satisfação de reviver a luta xar de narrar pelas circunstâncias que
fratricida de 1914, que tantas vidas ti­ o caracteriza, sendo desconhecido desta
rou, deixar o solo calcado pelos guer­ linhagem hodierna, narro-o com vera­
reiros atapetado de luto e regado de cidade e não como estória.
sangue. Os homens escolhidos a dedo e co­
Guerra escabrosa de origem poli- mandados por Zé Pedro, com o objeti­
ticante, causadora de desassossêgo e vo de desalojar os soldados que esta­
rezinga inócua que durou por muito vam refugiados na fazenda Coimbra,
tempo, entre cratenses e juazeirenses. atual “Macacos”, após o combate reali­
Assisti ao ataque infrutífero da zado na referida fazenda, voltaram ao
Polícia do Presidente Franco Rabelo Juazeiro conduzindo dois milicianos,
contra o Juazeiro do Norte, ocasiona- um morto e outro arquej ando, em con­
dor de três vítimas dentro da cidade: sequência dos balázios que receberam.
um jumento, uma velha e um homem Bem assim alguns caixotes conten­
que era meu vizinho. do garrafas de vinho, uma peça de ar­
Nenhum guerreiro de Juazeiro foi tilharia e determinável quantidade de
morto ou ferido no ataque à cidade, foguetões. Os ditos objetos pertenciam
dado a proteção que as trincheiras ofe­ a Milícia Estadual de Fortaleza.
reciam, não houve mais do que aque­ A bebida seria distribuída à tropa
las vítimas acima referidas. Por incrí­ com os foguetões espocando, pelo jú­
vel que pareça, as facções em luta, bilo do triunfo da tomada de Juazeiro,
revidavam olho por olho e dente por que isso não se deu e sendo do conhe­
dente. cimento de todos. Porque o coman­
Momentos antes da investida da dante da milícia atacante, não possuía
polícia contra o Juazeiro, fui com meu tino de ação de combate para empre­
primo Manuel e aquele vizinho, obser­ gá-lo com sua tropa, fazendo assédio
var de cima dos jatobazeiros que exis­ ao Juazeiro que teria de capitular
tiam no Quadro Pio X esquina com Também poderia não se render, depen­
Santa Cecília, a aproximação da força. dería do jogo de sorte. A falta de tá­
Instantes depois, veio em nossa tica foi a causadora da derrocada da
141
tropa no ataque a Juazeiro, criando no visita de belicosidade da fôrça rabelista.
ânimo dos soldados complexos de tôda Foi o dia de maior expectativa pa­
sorte. ra nós, mantivemos vigilância redobra­
Seja-me permitido narrar algo cu­ da, esperavamos a cada instante o ata­
rioso, ocorrido com os dois soldados que.
abatidos em “Macacos”, pelos comba­ É inegável dizer-se que a polícia
tentes comandados por Zé Pedro. não demonstrou bravura, lutou com
Conduziram aquelas vítimas à pre­ heroicidade contando com desvanta­
sença do Padre Cícero que as aben­ gem, porque localizouse nos terrenos
çoou, em seguida o miliciano arque- planos sem rêgos, que não lhe ofere­
jante desvencilhou-se da vida neste ceram abrigo para livrar-se das balas.
mundo conturbado pela renitência da Mesmo assim, deu prova do seu
humanidade, em permanecer obstinada valor de combatividade, resistiu por
cpondo-se ao Decálogo de Moisés- várias horas aos impactos certeiros
Foi perguntado aquele Padre on­ saídos das nossas trincheiras-
de deveríam enterrar os dois cadáve­ O oficial que comandou o ataque
res. Ordenou que os sepultassem no a Juazeiro, estendeu a linha de inves­
Campo-Santo local. tida à s cegas, sem perceber que estava
Isso não foi feito, apenas um da­ próximo das trincheiras, deixou os sol­
queles soldados gozou daquele direito. dados expostos a verdadeiro suicídio,
Justamente o que havia chegado aos porque ficaram ao alcance dos tiros
pés do Patriarca com sinais de vida. dos homens de Juazeiro.
Ao outro não lhe deram sepultura den­ Senhor Deus, perdoa a todos que
tro do cemitério, enterraram-no do ?a- diretamente ou indiretamente concorre­
do de fora. Acharam que não era dig­ ram para aquela carnificina fratricida.
no por ter sido abençoado depois de Sem paixão nem regozijo deste re­
finado. lator que é Juazeirense, confesso que,
Essa desatenção não foi levada ao ouvi alguns guerreiros de minha cida­
conhecimento do saudoso Pe. Cícero, de- relatar: alvejei vários soldados. As
como também era desobedecido em ou­ perdas não foram mais elevadas, devi­
tras ordens que dava. do a deficiência das armas dos defen­
Aconselhou aos obstinados da luta sores de Juazeiro, que em sua maioria
respeitar os lares e os padres, mulhe­ eram constituídas de espingardas, ba­
res e crianças, amparar os velhos e camartes e clavinotes.
aleiiados. como também não se apossar Se for preciso saberei localizar o
do alheio. Os saqueadores não tiveram local onde repousam os restos mortais
autorização do Padre Cícero para sa­ daquele soldado anônimo da Polícia do
quear, desobedeceram-no obstinadamen­ Ceará que deu sua vida defendendo um
te. No entanto, taxaram-no de co-au­ direito, que teve como jazigo uma cova
tor e mais algumas cousas, sem mere­ rasa no outão do cemitério.
cer. Acharia que, os restos mortais do
Êste mencionador apesar de ser referido soldado, ficassem depositados
menino na época da luta, tomou parte num sarcófago ao lado do busto do
ativa na construção das trincheiras e herói J . da Penha.
do vaiado que circundavam o Juazeiro. Hodiernamente, os que atuaram
Foi trabalho hercúleo para os ha­ em 1914, já desapareceram do cenário
bitantes daquela cidade, trabalhavamos da vida, a geração nova ignora a exis­
em revezamento noite e dia cantando tência da cova do soldado no exterior
MARIA VALEI-ME. do cemitério. O túmulo do referido
Enquanto isso ocorria, os mestres soldado está sob o passeio, os transe­
relativos à pirotecnia fabricavam pól­ untes passam por cima sem percebi-
vora para municiar as lazarinas, clavi- mento que num pequeno trecho daque­
notes e bacamartes dos defensores de le passeio, jaz o corpo dum policial que
Juazeiro. perdeu a vida por causa da má com­
O tempo passa e a lembrança fica, preensão de alguém.
ainda conservo a recordação do dia Antes de concluir êste trabalho de
em que a minha Juazeiro recebeu a esclarecimentos, desejaria ser mais ex­
142
plícito no assunto relativo as três mor­ quem conviveu com o povo daquele
tes ocorridas em Juazeiro do Norte, por tempo e tem convivência com o atual,
ocasião do tiroteio da Polícia. observa a grande transformação.
Alguém poderá presumir que estou Em minha casa, éramos 5 pessoas,
procurando ocultar a realidade, em vir­ cada qual tinha o seu chuço. Até para
tude daquela cidade ter sido atacada mjm que era menino, deram-me um
por cêrca de 500 milicianos e causar chucinho e instruiram-me como de­
três vítimas exclusivamente. Pois, na veria agir se a polícia chegasse à mi­
época, a demografia de Juazeiro no que nha porta.
apresentava em comum, poderia ser Voltemos ao tema relacionado com
feito um raciocínio concludente de pos­ a morte do Cap. José da Penha. De­
suir 30.000 habitantes. pois de tantas informações prestadas
A velha e o homem morreram por e publicadas nos jornais e revistas, que
causa de imprudência, o jumento esta­ não atingem a tábua real sem alburno,
va solto na rua exposto as balas dos resolvo trazer à lume algo do que me
fuzis da polícia. foi revelado confidencialmente daque­
A referida velha estava dentro de les velhos tempos do gatilho.
sua casa quando começou o ataque, O Capitão Otacílio Anselmo, em
as balas passavam sibilantes por cima seu trabalho, publicado na página 85
dos telhados, outras atingiam as te­ da revista Itaytera N.9 17, publicou o
lhas das casas, portas, paredes e ja ­ seguinte: — “Outra confusão que ainda
nelas. perdura em torno do combate de Mi­
Então, aquela macróbia, lembrou- guel Calmon é a autoria da morte do
se da sua cabrinha que estava do lado Cap. José da Penha- De fato, desde
de fora, saiu para abrigá-1'a dentro de 1914 até agora são apontados como
casa e tombou para sempre traspassa- autores de tal homicídio os sediciosos
da por uma bala. Não morreu muita José Terto, José Pinheiro e Manuel
gente, em vista de cada casa ser trans­ Rosa (indicado por si próprio. (4)”
formada em fortaleza e em cada quar­ Zé Terto foi meu vizinho, Zé Pi­
to construído um vaiado, com um me­ nheiro vi uma vez e Manuel Rosa não
tro de profundidade a fim dos mora­ o conheci, apenas ouvia zum-zum da
dores abrigarem-se dos projéteis. sua sanha sanguífica.
Bem assim, antes do ataque, não Nenhum dos três acima citados
havia mais ninguém pelas ruas, todos assassinou o Capitão José da Penha,
estavam recolhidos aos seus lares, re­ responderão perante o Tribunal Divino
zando o rosário ou o Ofício Divino por crimes que praticaram noutras
para N- S. das Dores esmorecer os sol­ pessoas, diversas a daquele Capitão,
dados e proteger nossos guerreiros. que tanto procurou firmar o Coronel
Existe caso que às vezes não seria Franco Rabelo governando o Ceará.
bom relatar, trago à lume por ser des­ O bando constituído dos irmãos
conhecido dos caririenses hodiernos. Tibúrcio, Jacinto, Esperidião, Napoleão
Os moradores de cada casa esta­ e João Thomé, sob a orientação dos
vam guarnecidos de chuço de dois pal­ irmãos Manoel e João Chiquinho, des­
mos de lâmina, embutido num pau fechou no Cap. J. da Penha forte des­
com mais de dois metros de compri­ carga, porém não o atingiu saiu ileso.
mento. No caso da polícia invadir a Outros atiradores também procuraram
cidade, seria atacada por essa modali­ alvejá-lo, não lograram êxitos nos seus
dade de arma pontiaguda. propósitos, porque J. da Penha estava
Morrería muita gente, porém os determinado pelo Alto para deixar ã
soldados não escapariam, porque os vida terrena somente no dia seguinte.
juazeirenses estavam com firme pro­ Tudo que ocorre é com anuência
pósito de defender nossa cidade e o do Céu. A Verdade das verdades enun­
saudoso Pe. Cícero, sem medirem sa­ ciou : — “Não cairá uma folha sem o
crifícios. Naquela ocasião, morrer por consentimento do meu Pai”. Por esta
meu padrinho Cícero e N. S. das Do­ veracidade, podemos conhecer ou per­
res, seria ato de heroísmo. ceber, que vivemos controlados pela
Tudo se transforma para melhor, Supérrima Divindade, exclusivamente
143
Ela é capacíssima de revelar o porque Por predefinição fôra predestinado
das adversidades oeorrentes na vida de para lhe aparecer inopinadamente dois
cada um de nós. leões e um cordeiro, representado por
Existiu algo para J . da Penha ser Zé Felipe, Manuel Rosa e José Severi-
martirizado, se não houvesse, Jesus no. Êste como meu vizinho e por con­
também não teria sido entregue aos fiar em mim, narrou-me com minudên-
judeus, fundamentos que escapam da cia todo o acontecimento. Adiantou-me
sutileza de argumentação. mais que, o combate de Miguel Calmon
Deus sabe o que faz e nós ignora­ foi mais pesado do que os ataques a
mos o sentido real dos seus atos e de Juazeiro e Crato, se os soldados do
tudo quanto Êle obra. Capitão J. da Penha tivessem tido mais
Tudo é recompensável', então, J. da um pouco de persistência, os guerrei­
Penha que teve a sua vida ceifada tra­ ros de Juazeiro teriam recuado-
gicamente, seu sangue embebido nas Agora vejamos o drama pavoroso
vestes, seu corpo exposto às intempé­ que ocorreu na manhã de 23 de feve­
ries e ridicularizado por desumanos, foi reiro de 1914, entre aquele destímido
para conferir auréola à sua alma assim Capitão do Exército e três homens do
como Jesus aureolou-se. cangaço.
Como sabemos, o combate de Mi­ Ao defrontarem-se com o Capitão
guel Calmon, teve início no dia 22 de José da Penha, Zé Felipe e Manuel
fevereiro de 1914 pela manhã, termi­ Rosa deram-lhe voz de prisão, obriga­
nando à noitinha desse dia sinistro- ram-no descer do cavalo, intimidaram-
A fôrça do Cap. José da Penha no com suas armas e ele não amarelou
entrou em debandada, êsse oficial ao nem tartamudeou, demonstrou calma e
que parece, ficou desnorteado sem con­ serenidade sem apresentar sobrosso di­
tato com sua tropa, pois, foi capturado ante daquele momento de perigo.
no mato na manhãzinha de 23, mon­ Zé Felipe indagou-lhe: — “Maca­
tado no seu ginete. co onde tá os macaco ?” Respondeu-lhe
A detenção foi efetuada pela tría­ com fixidez: “Mesmo que te dê apa­
de sinistra : — José Felipe, José Seve- rência de macaco não o sou, estou sem
rino e Manoel Rosa. contato com meus soldados”.
Os companheiros da referida tría­ Zé Felipe advertiu-o: — “Te pre­
de, receberam a incumbência de larga- para macaco pra m orrer!” Então, o
rem-Se no mato, com a finalidade de Capitão J. da Penha, solicitou aquele
abaterem gado, porco, ovelha e bode, jagunço de maus bofes, que o deixasse
para alimentar os guerreiros. Também para matar depois que se entrevistasse
deveríam ter recebido ordem para re­ com o chefe- Recebeu de chôfre um
conhecer a caatinga, prevendo um ata­ não com articulação fônica prolongada.
que de surprêsa da polícia, mais tarde. José Severino agiu como interces-
Fortuitamente deu-se o encontro sor. Intercedeu a favor do Capitão
com o malogrado oficial, que nem se José da Penha, a fim de que Zé Fe­
quer o destino deu-lhe tempo para fu­ lipe o poupasse e o conduzisse até à
gir. Trago à idéia, que o Capitão José presença de um dos chefes que não
da Penha, tenha ficado perdido de ru­ estava longe dali. O facínora Zé Feli­
mo por atrever-se a fazer um reconhe- pe contraiu a cara mostrando-se abor­
mento ousado e solitário, nas imedia­ recido e disse-lhe: “Até você Zé Seve­
ções do local da luta do dia anterior, rino quer compactuar com esta peste !”
ao sair do Sol do dia 23. Sem perda de tempo apontou a sua ar­
Era conhecido como oficial teme­ ma na direção da cabeça do Capitão
rário que não tinha mêdo de truanices. e disparou, prostando-o por terra.
Tudo indicava que, voltou aos arredo­ Tirou a vida daquele bravo capitão
res de Miguel Calmon a fim de certi­ potiguar, que confiava no porvir e ain­
ficar-se da posição dos combatentes de da tinha de oferecer muito de si ao
Juazeiro, voltar e reorganizar sua tro­ Brasil, era novo em idade e sonhava
pa para um ataque maciço, pois, ainda com um futuro promissor.
dispunha de potencial humano e bé­ Manuel Rosa invejou a Zé Felipe,
lico. sentiu também sêde de sangue, abateu
144
a tiros o cavalo da montaria do Ca­ gédia.
pitão José da Penha. Em seguida, a- Outros diziam : “Parece-nos que
traído pelos disparos, chegou ao local foi Zé Terto ou talvez o grupo de João
outra fera humana, o celebérrimo Zé e Manuel Chiquinho”.
Pinheiro que veio acelerado rompendo A dúvida tem perdurado até nos­
o mato. sos dias, então, como tudo tem seu
Zé Felipe, Zé Pinheiro e Manuel tempo, resolvi trazer informe luminar
Rosa, revistaram as vestes do extinto para clarificar e desenredar o mistério
J . da Penha, imitaram aos judeus tal duradouro introduzido pela dúvida, res-
como procederam com Jesus. Dividi­ peitante a morte do Capitão José da
ram entre si os objetos de uso pessoal Penha.
daquele militar da estirpe de Caxias, O finado José Severino, presencial
com exceção da túnica e do culote do assassinato ferino, relatou-me o a-
que ficaram embebidos de sangue do contecimento da tragédia tal como aci­
martirizado, que se tornou muralha da ma relatei, sem escapulir da verdade.
defensão dum Presidente Estadual, ro- Adiantou-me mais que se encontra­
nhentos solaparam seu poder. va diante de dois leões indomáveis,
Zé Felipe ficou com a pistola da qualquer gesto que demonstrasse não
vítima, Zé Pinheiro apossou-se do que- ter gostado da ação bestial de Zé Fe­
pe, a carteira de identidade e o reló­ lipe, estaria também sujeito a ser as­
gio que vendeu a alguém de Juazeiro, sassinado.
pela insignificância de quatorze mil Não continuou na jornada até For­
réis. taleza, dali de Miguel Calmon voltou
Considero maldito o vendedor co­ ao Juazeiro, foi cuidar da lavoura no
mo o comprador, ambos estão no mes­ pé da serra de S. Pedro, aproveitando
mo nível de maleficência. Não me o inverno que foi muito bom.
lembro mais o que tocou de sorte para Acho que as hesitações pereceram
o assassino do cavalo, que foi o per­ com a exposição do princípio certo,
verso Manuel Rosa. pois, o autor da morte do Capitão José
Suponho que o Capitão José da da Penha foi o cruel Zé Felipe.
Penha conduzia dinheiro, a fim de fa­ . Não demorou muito para a lei de
zer face às despesas com municiamen- causa e efeito atuar, laurear com a re­
to da tropa. Está visto que, o Presi­ compensa que o mundo oferece a quem
dente Franco Rabelo, não lhe entrega­ o aborrece.
ria os soldados para uma missão es­ Nosso planeta poderia ser para
pinhosa como aquela, sem dar-lhe quan­ nós verdadeiro Éden, procuramos trans-
tia suficiente para os gastos. formá-lo em zaguncho para nos zagun-
Agora vejamos como usaram de char, pela ebridade muliada da nossa
sagacidade para enganar, fugindo da vivência transgressiva a Lei Divina.
responsabilidade do crime que pratica­ Zé Felipe, Zé Pinheiro e Manuel
ram, temendo que mais tarde, fossem Rosa, receberam galardão equivalente
procurados pela JUSTIÇA, que não ao que praticaram. José Severino ape­
deixariam de ser. sar de promiscuir-se e ter tido comu­
Quando alguém perguntava a qual­ nidade com aqueles dois lôbos, contu­
quer elemento combativo da quartela­ do sem eompartir com suas ações,
da, quem era verdadeiramente o autor morreu já bem velhinho em sua cama.
da morte do Capitão José da Penha, ■ Continuará sempre acesa em mi­
respondia que havia morrido em com­ nha mente, a figura indestrutível da­
bate. Todavia, sabia perfeitamente quele oficial arrojado, que se sacrifi­
quem o matou, guardava para si no cou defendendo o Presidente do Ceará,
esconderijo da consciência e levar o Coronel Franco Rabelo.
segrêdo ao túmulo- Glória incessante a memória dêste
Zé Pinheiro quando bebia água Coronel e daquele Capitão, que foram
que passarinho não bebe, apresentava- mal avaliados pela descomunalidade da
se com gabolice, mostrava a identida­ política naquela ocasião, comprimindo
de do desventurado Capitão, contudo e arrebatando o govêrno de um, fazen­
sem afirmar ser êle o autor da tra­ do desaparecer a vida do outro.
145
Meditação sobre o Homem JOSÉ NEjWTON ALVES DE SOUSA

Fascinados pelo desenvolvimento consagrada, para relembrar, aqui, a


tecnológico, muitos esquecem o Ho­ grandeza do Homem : Quereis saber
mem, sujeito do progresso. A mais qual o v alor do H om em no mundo,
potente ou a mais modesta das má­ Im aginai o m undo sem o H omem.
quinas não existiría sem o seu artífi­ O conhecimento do Homem é um
ce. As leis da natureza continuariam perene desafio a ele próprio. Os gre­
a sua dinâmica, mesmo sem o Homem, gos falaram, por intermédio do sábio,
mas a consciência e a utilização ra­ no “Conhece-te a ti mesmo”.
cional delas pertencem ao homem, Há uma ciência, porém, marcada-
debaixo do céu. mente humana, especificamente do
O Homem, como ser biológico, é Homem — a Antropologia, que, para
objeto de múltiplas ciências que, das efeito didático, se tem secionado em
generalidades às especializações, bus­ física, cultural e filosófica, mas cuja
cam conhecê-lo, curá-lo ou alongar-lhe unidade essencial não é lícito por em
a vida- dúvida.
Como ser social, ei-lo em terreno A Antropologia a princípio foi
comum, em que tentam sondar-lhe o uma antroposcopia, uma hom ovisão
ser e o agir, não poucas ciências da globalizante- Dessa primitiva luz a-
mais flagrante atualidade. brangente do Homem em totalidade,
Como ser espiritual, ei-lo na mira evoluiu-se para conceitos e estudos
de psicólogos racionais, filósofos e teó­ particularistas, que tiveram o mérito
logos. de aprofundar os diversos aspectos da
Situado no espaço, por ele se inte­ realidade humana. Vale aqui lembrado
ressa o geógrafo; seno tempo, o his­ o apólogo da “Mosca Azul”, de Macha­
toriador. do de Assis : Os estudos particulares
Mas o Homem é, fundamental­ do Homem mais uma vez resultaram
mente, uma unidade, uma inteireza, em dissecações decepcionantes. Para
uma realidade e um profundo m istério. demonstrá-lo, basta proceder-se a uma
Cada faceta desse complexo admiravel­ análise biofísica ou bioquímica do cor­
mente harmônico é objeto de uma ci­ po, ou submeter um homem a labora­
ência. A sua abordagem é múltipla, tório de psicologia experimental. A
mas sua realidade é única. análise exaustiva do Homem, de sua
O que o define filosoficamente é realidade multifacetada, não satisfaz os
sua natureza racional. O que o torna anseios mais íntimos de próprio Ho­
nobre, seu espírito. Somaticamente, é mem. As ações deste, no campo das
pó; psiquicamente, é vida; pneumati­ várias ciências que ele domina, não lhe
camente, é semelhança com Deus. deram tranquilidade nem cabal satis­
Verme da terra no plano biológico, é fação. Ele se despojou de duas coisas
superior às estrelas, em seus transcen­ de máxima im portância: suas raízes
dentes areanos. Feito corporalmente espirituais e o senso básico d e sua uni­
para sete palmos de terra, não se sa­ dade ontológica. Por isso mesmo, ele,
tisfaz com a imensidão do universo; hoje, arrepia, sôfrego, o caminho trá­
mesmo pondo o pé na lua, seu cora­ gico de suas aventuras, em busca do
ção — como o diz Sto. Agostinho ■— porto luminoso e saciador de sua Aven­
não se aquieta, enquanto não repousa tura. Vai à lua no mesmo tempo his­
em Deus. tórico em que esbarra diante da gripe.
Dá-lhe sua dimensão ontológica a Investe as mais vultosas economias em
magnitude de pessoa, e é sabido que, guerras fratricidas e ainda se sente in­
se Deus guia o destino dos povos, o capaz de curar o câncer. Instala-se na
Homem coouera com Deus, na cons­ suntuosidade das mansões de ouro e
trução da História. não pôde evitar que, diante dos cris­
Eu usaria uma comparação já tais, se erga o submundo das favelas.
147
A Antropologia filosófica vem pro­ A Terra é muito pequena para o
curando restituir ao Homem a visão de Homem, que já conquistou o nosso
sua inteireza ontológica. Não é mais satélite e ambiciona ir pessoalmente
uma Antropologia um tanto ou quanto mais além. De astro em astro, confi­
arbitrária e fantasista, como alguma ando apenas em suas forças, inconti-
vez se terá praticado, ao longo da His­ do na sublimidade de seu arrojo e no
tória, mas uma Antropologia que não poder de sua inteligência, continuará
recusa a mais tangível das realidades a epopéia espacial, que assombra o
concretas, sabendo, entretanto, afirmar mundo. ® após o último astro, que
as mais transcendentais arestas do lhe restará ?
Homem, as suas vinculações com o O Infinito não está assim tão
Permanente, com o Absoluto, com longe. Certa feita, no remoto Orien­
Deus. te, Ele veio e assumiu forma humana.
Verdadeiramente, é o Homem um De espinho O coroaram e numa cruz
ser cultural, e só o é porque inteligen­ O mataram. Mal sabiam os deicidas
te e necessitado, vivo e mortal fautor de então que o instrumento daquela
parcial da História e aspirante à Eter­ morte apontava, simultaneamente, pa­
nidade. ra os horizontes do mundo e para o
Ele faz a Poesia, a ficção, o en­ céu. Era a geometria da sintese dou­
saio, as Artes Plásticas, a Música, do trinária : AMARÁS A DEUS (SOBRE
mesmo modo que talha um ídolo, es­ TODAS AS COUSAS) E AO PRÓXIMO
cava uma barreira, fisga um peixe, (COMO A T I MESMO).
constroi um abrigo. Em todos os ca­ Naquele dia, Deus, Feito Homem,
sos, mesmo naqueles em que a sua morria. Feito histórico e fato teológi­
operatividade pareeeria simplesmente co. Essa é uma grande verdade que
animal, o fator movente, o piloto da todos proclamamos, convictamente.
ação é a sua realidade intelectual e es­ Deus morreu. Morreu, como Homem,
piritual, que lhe subjaz e age no mais no alto da Cruz. O erro atual está
recôndito do ser. Por isso que toda em esquecer a outra parte- Ele, de
cultura é, primeiramente, espiritual. fato, também ressuscitou. E se Ele
não ressuscitasse:, vã seria a nossa
HORIZONTALIDADE DA CULTURA Fé, di-Io São Paulo.
Aquele Homem trágico e nu disse­
ra : QUANDO EU ESTIVER SUSPEN­
A cultura, considerada em sua ho- SO ENTRE O CÉU E A TERRA, ATRA
rizontalidade vivencial, é dinâmica do IR E I A MIM AS MULTIDÕES.
Homem como ser livre, criador e so­
Meus am igos:
cial. Sozinho, sua experiência não lhe
daria ensejo à operatividade cultural- Ele ainda lá está, pendente da
Ele e o outro formam o eixo propicia- Cruz. Seu Sangue ainda escorre. Sua
dor da cultura como “produto” comu­ morte não terminou. Hoje, essa Cruz
nicável. se transforma em ódio, em violência,
Mas seria o Homem — como al­ em injustiça, em genocídio, em guerra
guns dizem — apenas ego e superego ? em miséria e em fome. Todos nós so­
Não. Há, na essência que o espe­ mos deicidas. Todos nós estamos a
cifica, alguma dosagem de alteridade, ritmar nossos passos pela Rua da
um anseio de complementação, uma Amargura. Poucas são as Verônicas e
busca de unisão com o outro, com os Pilatos estão-se multiplicando. Não
quem vive ou para quem vive. Todo só o véu, mas o próprio Templo so­
homem é solidário de outro homem. frem lacerações.
Daí seus deveres para com o próximo, Pergunta uma novela, que está a
deveres que, friamente postos e consi­ fazer sensação : “E nós, . . . aonde va­
derados, o obrigam à Justiça e que, mos __ ?”
engrandecidos pela Pé e pela Graça, Meus am igos:
tomam a forma de doação e passam Estamos no tempo em que a Li­
a chamar-se Caridade. turgia da Igreja faz reviver o Drama
do Calvário.
VERTICALIDADE DA CULTURA A Cruz é o destino e o endereço.
148
D. Balbina LídiaV lana Arrais OTACÍLIO ANSELMO

Minhas primeiras impressões sobre regime dos lares sertanejos de anta-


Dona Balbina remontam ao ano de nho, entre o lar, a escola e a igreja.
1919, pouco antes de sua aposentado­ Aos 22 anos de idade, isto é, em
ria, em B rejo dos Santos, de cuja lo­ 1884, a moça Ealbina foi levada a For­
calidade foj a primeira professora pú­ taleza, onde submeteu-se a concurso
blica. para o Magistério Público, no antigo
Lembro-me bem que, apesar da Liceu do Ceará, tendo sido aprovada
idade, ela continuava a ter os traços com distinção.
de sua antiga beleza helênica. Era No ano seguinte, ingressou no pro-
alta, esbelta e fisicamente perfeita. A fessorado oficial por nomeação do
luz da Biometria, ajustava-se-lhe a Presidente Honório Benedito Ottoni.
classificação dolicocéfala. Fora, por Eis o seu título de nomeação :
certo, loura na juventude, tal era a
cor dos olhos — duas pérolas de um “Ju iz d e D ireito C arlos H onório
azul já desbotado, emulduradas numa B enedito Ottoni, C om en dador da
face de alvura marmórea. Ordem d a R osa, P residen te da
Rematava-lhe a harmonia de for­ Província do C eará, etc.
mas os seus bastos e longos cabelos N om eio D. B albin a R olin a Via­
brancos, que, bi-partidos ao meio, da­ n a Arrais p a ra o carg o d e p r o fe s ­
vam-lhe o sjnete de austeridade, hon­ sora d a ca d eira do sex o fem in in o
radez e brandura que caracterizavam de S■ P ed ro d o Crato.
sua personalidade. Mas o que mais P alácio do G overno do C eará, em
impressionava de D. Balbina era o ca­ 16 de jan eiro d e 1885.
ráter sem jaca, a nobreza de mestra, a) Carlos Honório Benedito Ottoni
o equilíbrio moral. Cumpra-se e registre-se.
Filha do casal Jo ão Casemiro Via­ In sp etoria G eral da In stru ção
na Arrais - Mariana Infante Lima, Bal­ Pública d o Ceará, em 16 de jan ei­
bina Rolina Viana Arrais — este o seu ro d e 1885.
nome de batismo — nasceu no muni­ D om ingues”
cípio de Lavras (Lavras da Mangabei-
ra ), no dia 5 de dezembro de 1862. A margem desse documento há
Como ocorria antigamente, ela fez um selo do Império, de forma elítica,
os seus primeiros estudos no próprio com o dístico da Secretaria do Gover­
lar, com os pais, e, à, falta de estabele­ no.
cimentos públicos, em escolas particu­ Na qualidade especial de uma das
lares. primeiras professoras públicas do Cá-
Sua juventude foj passada sob o riri, Balbina Viana Arrais inicia a sua
carreira com uma disposição de ânimo
Não por el'a mesma, mas por Quem que lhe acompanharia até o fim de sua
nela morreu. longa e fecunda existênciia.
De São Pedro do Crato (atual Ca-
EIS O HOMEM ririaçu) começou a sua perigrinação
pelas vilas e cidades da região cariri-
Ele está pendente da Cruz. Somos ense.
deicidas potenciais, em nossa fragilida­ Em 21 de novembro de 1887, sob
de e indigência. o governo do Dr. Enéas de Araújo Tor­
Ele está pendente da Cruz- reão, foi removida para a vila de Vár­
Ele derrama Seu Sangue redentor zea Alegre, aonde efetuou-se o seu ca­
sobre todos os homens. samento com Lydio Dias Pedroso, far­
Será que ainda não sabemos aonde macêutico, filho de Crato.
ir ? Esse acontecimento tornou-se um
Páscoa de 1970. fato decisivo para a vida de D. Bal-
149
bina. Realmente, logo depois começou vo do algodão. Incentivando o plantio
a arrastar as consequências de haver- e fazendo até distribuição de semen­
se unido a um cidadão cujas convic­ tes da malvácea, os seus ensinamen­
ções políticas eram opostas à situação tos e o seu poder de persuação deram
dominante. os resultados esperados, inclusive a
Adviram, daí, as remoções da jo­ instalação de uma fábrica de benefi-
vem professora para as localidades ciamento cujo aquisitor foi o fazendei­
onde o império da força era a lei su­ ro Manuel Inácio Bezerra. Além dis­
prema. so, auxiliado por Antônio Bernardes de
Por ato do Governador Luís An­ Maria, o Pe- Viana construiu a capela
tônio Ferraz, ela foi removida para a de Bom Jesus da Esperança e reedi-
cidade de Lavras, a 4 de setembro de ficou a de Senhora Santana, no Poço.
1890. No dia 20 de abril de 1911, falecia
Na gestão do Major Benjamim Li- o Padre Viana, tendo legado aos seus
berato Barroso, em 17 de março de paroquianos, além da moral cristã, o
1892, removeram-na para a cidade de surto de progresso agro-industrial de
Barbalha- Dessa cidade, a 9 de setem­ que atualmente se beneficia aquele mu­
bro de 1893, sob o governo do Ten. nicípio. (O Pe. Viana faleceu quando
Cel. José Freire Bizerril Fontenelle, D. escrevia um artigo para o jornal
Balbina foi removida para o ensino “Cetamas”, de Barbalha, do qual era
misto da cidade de Iguatu. Decorrido exímio e constante colaborador).
menos de um ano, por ato de 27 de Desaparecido o irmão, D. Balbina
junho de 1894, do mesmo presidente, permaneceu na sua rotina diuturna,
ela sofreu outra remoção para a vila desenvolvendo o meio.
de Várzea Alegre. O dia 16 de setembro de 1919, as­
Finalmente, pelo Presidente Antô­ sinala a sua aposentadoria, sob o go­
nio Pinto Nogueira Aciólj, teve a sua verno do Dr. João Tomé de Sabóia e
última remoção, com data de 25 de ju­ Silva. Sua missão, porém, continuou
nho de 1898, para a vila de Brejo dos através da filha, Balbina Pedrosa Via­
Santos. na Arrais (Dona Pedrosinha), diplo­
A antiga vila de Brejo dos Santos mada em Fortaleza.
marcou o fim da vida nômade de D. D. Balbina Lídia Viana Arrais fa­
Balbina, por motivo do falecimento do leceu no dia 28 de fevereiro de 1951,
esposo, fato ocorrido em 20 de agosto aos 89 anos. Era ela uma das criatu­
de 1898. ras raras para quem o Sol deveria pa­
A primeira escola pública de Brejo rar. Espírito cristão por excelência,
dos Santos foi instalada à Rua da Ta- caráter sem jaça e equilíbrio moral a
boqueira, numa ampla casa de proprie­ toda prova, D. Balbina jamais se apo­
dade do Cel. Basílio Gomes da Silva, sentou das funções de mestra. Até os
chefe do executivo municipal (1893 últimos dias de sua vida estava sem­
1909). Do velho solar da Taboqueira pre rodeada de crianças aprendendo a
a escola transferiu-se para o centro da ler.
vila. Foi presidente do Apostolado da
Cinco anos após o falecimento do Oração, desde sua fundação até fale­
seu esposo, que lhe deixou apenas uma cer, instituição esta criada pelo Padre
filha, D. Balbina passou a ter o conso­ Viana, e da Confraria de Na. Sa. do
lo da companhia de um irmão, o Pe. ■ Carmo, fundada pelo Padre Monteiro-
José Casimiro Viana Arrais, o qual, Já nos últimos anos de sua existência,
nascido a 7 de setembro de 1876 e or­ mandou erigir um grande cruzeiro de
denado em Salvador (setembro de madeira no alto do cerro que ladeia a
1901), havia sido coadjutor em Itapi- cidade.
poca e vigário de Trairi. Mestra utilíssima do ensino públi­
A chegada do Padre Viana naquela co no Cariri, primeira professora de
vila, ocorrida em 1903, como segundo Brejo dos Santos, onde alfabetizou
vigário, produziu um novo impulso de duas gerações, D. Balbina já devia ter
progresso à terra. o seu nome eternizado na aludida ci­
Do próprio púlpito iniciou uma dade, como prova de justiça e senti­
campanha esclarecedora sobre o culti­ mento de gratidão do seu povo.
150
0 Caráter Místico de Podre tíeero CULTURA BRASILEIRA
1.9 SEM ESTRE DE 1973
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
PRO FESSOR CID TEIX EIR A
Aluno : JO SÉ EMERSON MONTEIRO LACERDA
Salvador (B A ), 03 de julho de 1973

“N ão fiz a rev olu ção, n ela n ã o to m e i p a rte n em


p a r a e la con corri, n em tive a m en o r p a rc ela de
resp on sa bilid ad e d ireta ou in d ireta m en te n os fa to s
o corrid os
PADRE CÍCERO ROMAO BATISTA

PLANO DE CONJUNTO Romão Batista nascido na cidade de


Crato, no Ceará, em fins do século
A abordagem do presente fato a X I X e se ordenado padre secular —
fiz de forma quase empírica — espécie vindo a ser vigário do Distrito de Ju a­
de documento/depoimento — tentando zeiro — pequena povoação com uma
assim fugir de interpretações aprofun- casa de tijolo cru, sete de taipa e dez
dativas de cunho sociológico ou políti­ de palha — com pequena capela a N.
co muito encontradiças em pseudoana- S. das Dores. Incrustada ao sopé da
lisadores da história nordestina. Me serra do Araripe — à margem da es­
passaram pelas mãos livros de leigos trada real Crato / Missão Velha — a
e religiosos em agressões ou benditos pequena vila não apresentava nada
ao Santo do Juazeiro. Conheço de especial no aspecto da região Cariri —
perto autores como Jád er de Carvalho, de vegetação diferente do resto do Es­
Padre Antônio Gomes de Araújo, Ota- tado pela sua umidade e exceção no
cílio Anselmo, Nertan Macedo, Amalia sertão seco em redor. População for­
Xavier de Oliveira, todos com centenas mada por camponeses pobres — ape­
de páginas sobre o embuste ou a nova gavam-se ao culto das coisas divinas
teologia do Ceará — mas não me sa­ como último reduto da salvação do
tisfiz em reproduzir o que já foi dito, corpo nas terras do outro mundo.
pois a experiência pessoal obriga-me a Teríamos continuado a rotina não
sentir a falta de cristalização e afasta­ fossem os fatores variados reunidos pe­
mento necessários aos investigadores lo vigário dentro de seu momento his­
conscientes de fenômenos em que se tórico. Dotado de personalidade m arca­
envolvem política regional, brigas de da por conhecimentos de hipnotismo
fam ílias e sonhos divagadores dos ba­ e levitação — estudioso que era de
charéis de letras nacionais — que se mistérios da mente — explorava em
faz sentir em todos os biógrafos de suas pregações sua capacidade de ora­
Cícero Romão Batista e sua reinação dor emérito em uma aparência exte­
na região do Cariri. Acumulei a vi­ rior atraente — de olhos azuis e face
vência com as esperanças, fé e promes­ forte no ângulo do m axilar inferior.
sas do nordestino — por ter nascido A prática dos atos religiosos era
em zona cearense próxima de Juazei­ efetivada na paróquia de Juazeiro sem
ro e m anter contato com beatos e ro­ onus para os fiéis que ali se dirigiam.
meiros. Veremos o que posso acres­ Este fato divulgou-se ràpidamente pelas
centar ao que foi dito. vilas e fazendas das imediações — em
breve levando ao Padre Cícero nume­
O HOMIEM/O SANTO rosos necessitados — causando a pri­
meira impressão de apoio à m assa hu­
Em rápido histórico necessário a milde. O primeiro fator do místico
uma tomada de conhecimentos dos que se seguiu nasceu de um fato ma­
fatos físicos — dizemos haver Cícero terial ligado à satisfação de necessida­
151
des econômicas- vieram a se dar no dia 6 de março de
Também no principio vamos en­ 1889 — primeira sexta-feira da quares­
contrar as preleções do padre sobre ma.
higiene e medicações de urgência a Independente — penso — da von­
uma população arraigadamente admi- tade do Padre, se divulgaram — como
radora da farmacopéia silvestre. O fogo em pólvora — a notícia de haver
fato de se evitar a exposição a molés­ se transformado em sangue a hóstia
tias através de normas de higiene foi de comunhão dada por êle à beata Ma­
tomado como coisa vinda dos céus — ria de Araújo — mulher rezadeira do
alguma coisa despertando na divulga­ povo.
ção dos fatos entre as pessoas — se “O fenômeno repete-se várias vê-
acrescentando e exagerando. As pri­ zes em público. Médicos são enviados
meiras chamas seriam aí detectadas. a Juazeiro para verificar se se trata
No itinerário hom em /santo as ou não de um caso clínico. Um deles
coisas ocorreram independentes da — por ignorância ou má-fe — atesta —
vontade de Cícero Romão — por de­ com firma reconhecida em cartório —
cisão exclusiva dos acontecimentos — tratar-se realmente de um milagre.” (1)
com base no perfil popular dos pri­ Ao lado destes acontecimentos —-
meiros paroauianos de Juazeiro. a Diocese do Crato se alarma com os
O homem simples com sua predis­ fatos do Distrito de Juazeiro e força
posição fisiológica à violência e ao fa­ o Padre a se retirar em exílio à cidade
natismo — conhecedor distante da teo­ pernambucana de Salgueiro — aguar­
logia cristã — dotado de crendices em dando autorização para uma viagem a
coisas fora de seus conceitos simplistas Roma, onde prestaria contas ao Sacro
do mundo e do universo — recebe Colégio do Vaticano das acusações de
sempre de braços abertos as novas heresia das quais fora imputado pelo
mensagens de homens com dotação arcebispo de Fortaleza- Finalmente em
além das suas. Pela esperação de um 1898 se avista com Leão X III e se man­
novo mundo longe das dores deste vale tém a suspensão das suas ordens sa­
de lágrimas — o sertanejo impotente cerdotais. Retorna a Juazeiro — con­
se aferra a fatos estranhos — sonha tra seus superiores hierárquicos — se
com Deus em busca de — ao menos mantendo até o final da vida em si­
— uma aproximação com seu reino de tuação de rebeldia e clandestinidade
promessas. Êsse protótipo foi traba­ episcopal.
lhado pelas manifestações do vigário Em Juazeiro — prosseguiram em
de Juazeiro de forma despretensiosa­ funcionamento as maquinações mil'a-
mente humilde e inocente. greiras --- se esprairando através do
meio rural em fuga das calamidades
OS MILAGRES climáticas pelos estados circunvizinhos
de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande
Na mente popular se formam nu­ do Norte e Piauí. As primeiras roma­
vens de conceitos indefinidos pela fal­ rias se organizaram. A pé — princi­
ta de cultura e necessidade de uma no­ palmente — em montarias — carro-de-
va realidade concreta. Existe a fome boi — os nordestinos se achegavam em
do mito — assim podemos dizer. O busca das curas do santo. Cegos, alei­
vágo mental no homem rude se pre­ jados, doentes de toda espécie seriam
enche mediante a composição imagino­ salvos nas graças do Padre Cícero.
sa de cada um. Os fatos são distor­ A predisposição cabocla ao fana­
cidos pela falta de conhecimento — tismo se fez sentir no século X IX em
falta de lucidez. Daí nascer uma ti­ vários recantos do nordeste faminto.
pologia para cada estrutura — na men­ Ao lado de Juazeiro — Canudos, Cal­
te de cada pessoa. O santo — por deirão, Contestado, Pedra Bonita e
exemplo — não poderá jamais existir Serra do Rodeador — formavam as
sem os milagres de Jesus Cristo — as ilhas de perfeição montadas em torno
provas verazes de um poder além do dos homens santos.
homem. O santo Padre Cícero também A adoração se tornou desesperada
sentiu — na genelogia — a carência — sentido inverso ao das intempéries.
dos primeiros milágres que finalmente O que foi antes pequena vila de
152
menos de cem habitantes se tornou sí­ rias constantes fizeram acentuar a ne­
tio de armas de fazedores de crime cessidade de novos meios de vida —
em defesa de um ideal religioso bélico uma indústria ascendeu — toda fo rja ­
— a impor sua verdade teológica aos da pela m anufatura e sedimentada na
que lhes negassem aceitação. invenção. Economicamente teríamos a
Os auxiliares do Padre Cícero usa­ chegada no Cariri da E ra Industrial —
ram o conteúdo político de seu sonho alterada pelos modos culturais diferen­
sagrado para imposições aos coronéis tes — envolvendo o m ístico com um
dos engenhos de rapadura de interes­ avanço exclusivo em um mundo pré-
ses próprios. capitalista de engenhos de cana-de-
No ponto presente podemos anali­ açucar.
sar através de tipos psicológicos — a Juazeiro é h o je o m aior centro ar-
form ação do trono de Juazeiro. No tesanal do Brasil. A falta de possibi­
alto — imune a qualquer acusação ter­ lidade de sobreviver de outra m aneira
restre — o Padre Cícero — em suas fez do romeiro um homem a se reali­
celebrações de boa-fé nas pessoas e nas zar pelo trabalho manual — forjas,
coisas de Deus — como que deslum­ imagens de gesso — tornos — enta­
brado por tanto poder em m odificar lhes em madeira — carpintaria — es­
a estruturação encontrada aqui na ter­ cultura — etc. — foram os principais
ra. Assumindo de corpo e alma o ideal caminhos seguidos. A cidade cresceu
a êle entregue pelos camponeses do ràpidamente em menos de meio século.
Nordeste. Imediatamente abaixo seus Ultrapassou em população a cidade de
representantes m ateriais — os buro­ •Crato. Fábricas se erguem substituin­
cratas do poder do império — Floro do os antigos empórios de comércio
Bartolomeu e uma equipe de homens ativo. A zona sul do Ceará progrediu
fortes — como o médico Jo sé Marro­ nos favores do santo.
cos — personagens sagazes e ambicio­
sos — estira do tentáculo à explora­ C É U /IN FE R N O INDUSTRIAL
ção da força política e de lideração —
chegando até a abalar a segurança po­ O desenrolar do presente trabalho
lítica do Ceará — quando depuseram não se prendeu a determinado esque­
com tropa de jagunços o govêrno oli- ma anteriorm ente armado. Deixei a-
gárquico de Antônio Pinto Nogueira contecer as descrições e análises e so­
Acióli — depois de vencerem as forças mente agora me policio ao fornecim en­
defensores de Crato e saquearem todas to de algum dado da atualidade de
as cidades à margem da estrada de Juazeiro — como a Meca do Nordes­
ferro até Fortaleza. Ainda dentro des­ te — para onde convergem os mais
se perfil tipológico —: vamos encontrar variados povos — inclusive do exterior
o caboclo de arm a em punho — ciente do país — em busca de curas para seus
de servir a Deus e afrontando com a males — fazendo-se deduzir alguma se­
própria vida os inimigos de Juazeiro. riedade no fenômeno — o tornando
O mais inocente dos três personagens digno de estudo detido e rigoroso.
— este veio a prosseguir pelo tempo / No alto da serra do Horto — a
espaço o m istério do Padre Cícero — cinco quilômetros da sede do municí­
no que nos deteremos adiante. pio — onde o Padre Cícero construíra
ao voltar de Roma — capela igual à
O FEUDO DO SANTO/HOM EM existente no Horto das Oliveiras em
Jerusalém — para onde foi Jesu s em
Ao retornar das lutas na capital suas meditações antes de seu sacrifício
— o exército do Juazeiro passou a ser final — um certo grupo econômico que
empregado na força econômica de atualmente domina a região caririense
mão-de-obra rural em toda a região do (os Irm ãos Bezerra de Menezes) cons­
Cariri- Os fanáticos se congregavam truiu uma estátua de 35 m etros de al­
nas localidades m ais próximas da sede tura com a imagem do Padre.
do feudo do Padre Cícero — nunca Prossegue — deslocado no tempo
iam muito longe temendo perderem as — o culto à personalidade do santo
graças emanadas e poder ouvir sem­ de Juazeiro. Os frutos são revertidos
pre as palavras sagradas. As roma­ em benefício de alguns. — quando há
153
SANTOS DUMONT
J . LINDEMBERG DE AQUINO

Há, na marcante e original' perso­ mente, em engenharia, em Paris, 1853,


nalidade de ALBERTO SANTOS DU­ pela ECOLE CENTRAL DES ARTS ET
MONT, nuances dignas de nota, como M ETIERS, e quando regressou a Mi­
talvez em bem poucos lideres da hu­ nas foi engenheiro de Obras Públicas
manidade. Homem de vida agitada, em Ouro Preto, antiga capital da Pro­
de sociedade, foi, por outro lado, o víncia-
cientista e pesquisador incansável, a .O casamento deu-lhe 8 filhos, a sa­
contradizer com toda uma vida mun­ ber, Henrique, Maria Rosalina, Virgí­
dana e faustosa que a sua condição nia, Luís, Gabriela, ALBERTO, Sofia s
de rico lhe propiciava, no cenário exu­ Francisca.
berante de Paris. “Alberto — diz Raul Pollillo — o
Descende Santos Dumont de legí­ sexto dos filhos, e o de físico menos
tima família franeêsa. O avô, Fran- robusto, foi o escolhido para modifi­
çois Dumont, casado com a filha de car a fisionomia da inteira civilização
um ourives de Bordeus, veio para o ocidental”.
Brasil logo depois da Independência, Nasceu ele a 20 de Julho de 1873,
fixando-se em Diamantina, onde se r.a Fazenda Cabungu, em Palmira, E s­
entregou ao comércio de pedras precio­ tado de Minas Gerais, h oje cidade de
sas. Ali lhe nasceu o filho Henrique, Santos Dumont, criando-se na roça
em 20 de Julho de 1832, que, mais tar­ “entre bichos e flores, fabricando en­
de, casaria com Francisca, filha do co­ grenagens de cortiço ou monjolos de
mendador português Francisco de Pau­ taquara, que ele forcejava por fazer
la Santos, no ano de 1856. funcionar”, como diz Francisca Rodri­
Esse filho Henrique estudara, an­ gues Gregory.
tes, nò Colégio D. Pedro de Alcântara, Em 1883, com 9 anos, foi residir,
em Botafogo e formara-se, posterior- com seu Pai, em S. Paulo, que adqui-

as despejas de capital nas datas festi­ utópico gira em torno de um único en­
vas de 20 de março e dois de novem­ te superior a todos os outros de sua
bro — caminhões vindos de localida­ categoria m ística — numa comunidade
des desde Manaus até Minas — com envolvida pelo secreto de uma nova
gente de todas as classes sociais. A teologia. Nada conseguiu deter o avan­
indústria do milagre se faz continuada ço histórico desse fanatismo — se con­
agora em versão mais industrializada servou os atributos feudais — as pes­
e institucional — pois a municipalida­ soas trazem em si um sentido ideoló-
de abrigou em si as maquinações de gieo próprio — além da mentalidade
Nossa Senhora das Dores do Padre Cí­ inicial de crendice simplesmente. O
cero. Os outros santos inexistem — aspecto religioso se confirma em volta
sumiram atrás das imagens de gesso de Padre Cicero — não se deixando
do Padre, levando consigo Jesus Cristo levar além de Nossa Senhora das Do­
e mesmo o Deus Católico Apostólico res — dentro de um risco calculado —
Romano — talvez ainda devido às re­ evitando-se que esta supere em força
pressões sofridas pelo antigo vigário celestial o poder do primeiro.
no início de sua carreira santificado- Aqui encerro este rápido esboço —
ra pelos donos da verdade cristã- pretendendo preenchê-lo com dados a
Juazeiro hoje é um campo vivo de serem pesquisados em breve.—
representação ritual de uma nova re­
ligião em moldes diferentes de todos (1) Rui Facó — Cangaceiros e Fan á­
os anteriores modelos. Seu sistema ticos Cpágs. 136)
político / social / religioso / celestial / Civilização Brasileira. 1972.
154
rira vasta fazenda de café em Ribeirão nagens com a maior facilidade.
Preto. A esta altura já gozava “de ótima
Cêdo demonstrou seu pendor para saúde, cousa que não se poderia pre­
a leitura e um espírito curioso e agu­ ver em sua infância, e dispunha de
çado. Leu toda a coleção de Ju lio extraordinária capacidade de resistên­
Verne antes dos doze anos. cia ao sono e aos esforços físicos”.
“Franzino de corpo, estatura me­ (Pollillo).
nor do que a média, cabeça muito gran­ Em 1898 construiu o seu primeiro
de para o seu conjunto somático, San­ balão — o BRASIL N.° 1, de uma série
tos Dumont precisava ser, constante- de doze com que iria encantar, com
mente, amparado, nas rixas infantis, suas aventuras nos ares, a população
pelos seus dois irmãos mais velhos, que da capital francêsa, e conquistar a sua
muito bem lhe queriam. Seja devido sociedade, abrindo-se-lhe, as portas da
á sua índole meditativa, seja por sua fama.
imaginação, sempre em atividade, seja Em 19 de Outubro de 1901, com o
pela fraqueza relativa ao seu físico, dirigível N.° 6, provou a dirigibilidade
que não lhe permitia brilhar nos brin­ do balão e o controle do vento, con­
quedos entre os meninos de sua idade, tornando a Torre Eiffel e conquistan­
Alberto costumava recolher-se ás lei­ do o ambicioso Prêmio Deustch.
turas. Lia tudo, mas, principalmente, Em 13 de Setembro de 1906 en­
livros de proezas novelescas” (Raul' de saiou o seu primeiro voo de avião no
Pollillo). campo de Bagatelle — utilizando, pela
Seu Pai, homem bastante empre­ primeira vez, o mais pesado que o ar.
endedor, já negociara e plantara em Sucesso absoluto. No dia 23 de Outu­
Rio das Velhas, Barbacena, Valença e bro, no mesmo campo, fez o seu voo
outras cidades, tendo se fixado defini­ oficial e consagrador, perante a Comis­
tivamente em Ribeirão Preto, onde são do Aero Club de França, que lhe
prosperou admiravelmente com fazen­ concedeu, por isso, a Taça Archdeacon.
da de café, origem da fabulosa fortu­ Em 12 de Novembro de 1906 concorreu
na da família. e venceu a dois outros valiosos prê­
“Algumas vezes, no verdor dos mios. Estava consagrado.
meus anos — confessa Santos Dumont, A França inteira se postava aos
sobre as leituras de Julio Verne, acre­ pés de homem rico e aristocrata, que
ditei na possibilidade de realização do regalava a sociedade com suas festas
que contava o fértil e genial roman­ e demonstrações de pompa.
cista”. Frequentavam-lhe a casa o Rei
Santos Dumont manifestava espe­ Leopoldo II, da Bélgica, o Príncipe de
cial tendência á mecânica. Dirigia, Mônaco, a Princesa Isabel, a futura
ainda criança, a locomotiva da estra­ Redentora, no Brasil, a Imperatriz Eu­
da de ferro particular da Fazenda. gênia, a atriz Collete, Julio Verne, H.
Consertava a engrenagem de qualquer G. Wells, a Condêssa de Noailles, Mar­
máquina quebrada, em casa. cei Proust, Joaquim Nabuco e outras
> Aos doze anos foi estudar no Co­ figuras famosas da vida francêsa.
légio Morton, em Campinas. E logo Santos Dumont era o “dandy” na
depois, ainda bem jovem, matriculou- correção e no zelo em seus negócios
se na famosa Escola de Minas, de e no impecável aspecto pessoal.
Ouro Preto. Na guerra de 1914 aliou-se nas tro­
Entre 1888 e 1891 visitou Paris, pas francêsas contra o Kaiser, demons­
sendo que, com a morte do Pai, em trando, com isso, seu reconhecimento
30 de Agosto de 1892, voltou àquela á França-
capital, tendo viajado muito até 1897, Deixando a carreira aeronáutica,
onde completou sua educação, leu não patenteou nenhum dos seus inven­
muito, interessou-se pelos esportes mais tos, deixando-os para utilização da hu­
aristocráticos, principalmente pelo au­ manidade.
tomobilismo- Ali, em contacto com Desde 1904 recebera do Governo
cientistas e inventores, desenvolveu francês a Comenda de Cavaleiro da
extraordináriamente sua inteligência, Legião de Honra. Em 19 de Outubro
e analisou máquinas, motores e engre­ de 1913 foi inaugurado em Paris um
155
monumento em sua homenagem, em gens, sem se d esfazer de um a só. Ã
Saint Cloud, quando ele disse, entre prim eira im agem , vista c o m clareza,
outras cousas — : “Este monumento, outras iriam se juntando.. .E m ais ou­
mandando erigir pelo Aero Club de tras. P or fim , a cegu eira tornar-se-ia
França, me é duas vezes grato, é a inevitável, em consequ ência de tam anha
consagração aos meus esforços, e, co­ con fu são de im agens sobrepostas. Es­
mo homenagem prestada a um brasi­ sas considerações, talvez aborrecidas e
leiro, reflete-se sobre a Pátria tôda”. um pou co abstratas dem ais são im por­
A partir de 1914 empreendeu via­ tantíssim as p a ra se com p reen d er o des­
gens a diversos países do mundo e fe c h o lógico da vida d e S an tos Du-
novamente a Europa. A partir de 1918 m onnt”.
fixou-se em Petrópolis, construindo, ali, Morto Santos Dumont — desgosto-
bonita casa de residência. Em 1931 foi so, sem dúvida, com a utilização do
eleito membro da Academia Brasileira avião como meio de guerra e destrui­
de Letras. ção — seu coração foi conservado, de­
Santos Dumont já éra, então, um pois de retirado do corpo inerme, re­
homem profundamente doente, e esta­ verentemente, pelos médicos, como o
va prestes a cometer o suicídio, o que de Chopin, em Varsóvia.
o faria, em 23 de Julho de 1932. O Sabendo, doze anos depois, daexis-
fato, que abalou profundamente, o país tência dessa relíquia, Paulo Sampaio,
e a humanidade inteira, resultara do Presidente da PANAIR, conseguiu a
seu estado psíquico de ansiedade, de­ sua aquisição, e em monumento de ja-
pressão e desgosto, que o tornaram carandá, com capiteis de ouro, entre­
“um homem brusco, de meias palavras, gou-o ao Ministro da Aeronáutica,
e soturno, portador de histeria mental. Salgado Filho, em 24 de Outubro de
Na análise de Raul de Pollillo, Santos 1944, durante a Semana da Asa. Ficou
Dumont sofria, também, do descontro­ muito tempo exposto no salão de hon­
le da intimidade afetiva, quando afir­ ra da Escola de Aviação Militar do
ma : Campo dos Afonsos, e h oje está no
“Santos Dumont não desertou da Museu Nacional de Aeronáutica.
vida, na acepção comum da expressão. O Dia 23 de Outubro é considera­
Expulsou-o dela a espantosa tragédia do o Dia do Aviador. A partir de 5
dos nervos q.ue se arrebentaram ao de Dezembro de 1914, pela Lei Federal'
cabo do decênio mais portentoso jamais 165, sancionada pelo Presidente Dutra,
vivido por um homem, filho de mulher, Santos Dumont passou a ser Tenente
á lúz do sol. Em dez anos consecuti­ Brigadeiro, homenagem póstuma do
vos de ação, a 1'abarêda do gênio lhe Governo á sua pessoa.
queimou a energia nervosa da vida Vendo seu coração exposto, afir­
toda. A chamada velhice fisiológica mou Raul de Pollillo, seu maior bió­
prematura do inventor brasileiro, não grafo :
foi velhice : foi a multa que ele teve “Não é sem um a em oçã o incalcu-
de pagar, por haver condensado, em lavelm en te profunda, m ista de ven era­
apenas dez anos de sua vida, alguns ção, de org u lh o e de in efá v el alheia-
milênios de sonhos da humanidade m en to á s cousas terrenais e transitó­
in teira... Por haver sobrevivido, como rias, que o espírito da gente se co loca
nume da mitologia, embora sendo sim­ em p resen ça d a p erp etu id aãe daquele
plesmente humano, á considerável so­ coração. Ele pulsou, com o nenhum
ma de ciladas que a Morte lhe armara outro, para a bondade, para a gran de­
para apanhá-lo moço”. za da Pátria, para m aior lustre da ci­
Gondim da Fonsêca assim analisou vilização, bem com o parai a beleza m ais
o trágico fim de Santos D um ont: am pla e m ais in ten sa de n ossa vida”.
“O p rocesso de sentir, de Santos
Dumont, deixava de ser curioso. E ra
um doen te de record ações. Não se de­ (Palavras pronunciadas no Rotary
sem baraçava d e nenhum a. Poder-se-ia Club do Crato, em 20 de Julho de 1973,
com parar a sua psiquique ao órgão vi­ por ocasião da homenagem a SANTOS
sual de um a criatura cu ja retin a guar­ DUMONT, no dia do seu centenário de
dasse tudo, sobrep on d o im agens a im a­ nascimento).
156
A J. DE FIGUEIREDO FILHO
I
EM BUSCA EA REMOTA E LENDÁRIA IBIAPABA,
QUE O FASCINA COMO UM TESOURO FULGENTE,
PERO COELHO DE SOUSA, EXTRAORDINÁRIO EMBOABA,
SEGUE, TODO AMBIÇÃO, ALGUNS HOMENS À FRENTE.
LUSO GUERREIRO AUDAZ, QUE SEMPRE MENOSCABA
O IMPECILHO, PERLUSTRA O LITORAL ARDENTE
DÊSSE NORDESTE A PÉ, E, INDO DA TABA À TABA,
SEM REPOUSO, DOMINA O INDÍGENA VALENTE.
ALCANCA A POUCO E POUCO A DESEJADA TERRA,
APÓS CONTÍNUA, VÁRIA E TRUCULENTA GUERRA,
DESVENDANDO AFINAL SUA ESTERILIDADE.
E, PRÓXIMO, SE LHE ERGUE, INDIFERENTE, A GUERRA
— ALTIPLANO DESNUDO — À VIVA CLARIDADE,
DESVENDANDO AFINAL SUA ESTARILIDADE-
II
— POUCO IMPORTA. SEM MEDO E SEM DESCRENÇA, AVANTE.
AFIM DE NÃO PERDER DE ESFORÇOS TANTOS MESES
EXPULSEMOS AGORA, UM POUCO MAIS DISTANTE,
DA COSTA MARANHENSE, AO MENOS, OS FRANCESES.
— NÃO. RFSPONDEU-LHE A TROPA, EM REVOLTA, ARROGANTE,
COM SUSSURROS HOSTIS E GESTOS DESCORTESES.
E ACRESCE JÁ SEM FÉ NO ESTRENUO COMANDANTE,
— VOLTAREMOS DAQUI. NÃO MAIS OUTROS REVESSES.
PERO COELHO DE SOUSA, ENTÃO DESANIMADO,
REGRESSA. MAS, DESLEAL, CÚPIDO, DESALMADO,
AO MODO DOS HERÓIS DE OUTRORA, AVENTUREIROS,
QUER O VENCIDO, QUER MESMO O IMPOTENTE ALIADO,
COMO ESCRAVOS CONDUZ TODOS OS PRISIONEIROS
— SEU LUCRO MATERIAL DOS TRABALHOS GUERREIROS.
III
EMBORA INEFICAZ A PRIMEIRA FAÇANHA,
O EGRÉGIO CAPITÃO, COM RENOVADO ALENTO,
LOGO NO ANO SEGUINTE, AINDA COM O MESMO INTENTO,
BUSCA EXPLORAR DE NOVO AQUELA TERRA ESTRANHA.
DENTRO EM POUCO, PORÉM, O ASSALTA O CLIMA EM SANHA,
UMA SECA. E ÊLE VOLTA, ESFOMEADO, SEDENTO,
COM OS SEUS. A UM FILHO VÊ MORRER DE ESFALFAMENTO...
E, POR FIM, VAI MORAR SEM RECURSO NA HESPANHA.
MAS A GLÓRIA COLHEU, MERCÊ DESSA OUSADIA,
DE FUNDAR NA COLÔNIA UMA CAPITANIA,
QUE PROVÍNCIA SE FEZ DE DILATADO IMPÉRIO,
E PODE SE TORNAR, EM NÃO REMOTO DIA,
MESMO NÃO TRANSCENDENTE, À CUSTA DUM MISTÉRIO,
UMA NOVA NACÃO DESTE RICO HEMISFÉRIO.
P R O D U T O S

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CRATO CEARÁ
Cônego Manuel Feitosa
J. C A L Í O P E
A Revista Eclesiástica, do R !o, a expressão padre foi esquecida pelo
O Nordeste, de Fortaleza e A Ação, de tipógrafo e deu lugar àquêle cavaco.
Crato, bem como alguns dos intelec­ Vê-se, entretanto, que no trêcho se­
tuais desta mesma cidade, ao tempo guinte, eu me referia a outros padres
do falecimento do saudoso Cônego Ma­ da família Feitosa que vieram depois
nuel Feitosa, deram notícias circuns­ do Cônego, dando a entender que se
tanciadas de tão infausto evento, no­ tratava de padres e não de leigos.
tícias que, o autor destas linhas agra­ Ainda por má sorte minha, no pe­
deceu sobremaneira. ríodo seguinte, em que me referia aos
Pela amizade e gratidão, fiz publi­ outros padres da família, ficaram es­
car na importante Revista ITAYTERA, quecidos os nomes dos padres Neri Fei­
desta cidade, de número onze, fls. 127 tosa e Aquiles Feitosa que com os enu­
a 136, um esboço da vida do Cônego, merados, ficaram residindo no Crato
sem nenhuma pretensão de historiar ou no Cariri, onde estão como vigá­
acontecimentos, nem exaltar a figura rios, alguns dêles.
daquêle sacerdote que se fez conhecido Logo que verifiquei os enganos da
no norte, no centro e no sul dêste Es­ publicação, pedi para a Revista fazer
tado, onde desenvolveu sua atividade uma corrigenda, mas ainda, sem sorte,
como professor, como jornalista e co­ esta não saiu na ITAYTERA N.° 12.
mo vigário. Mostrei a pessoas da família, o
Transcrevendo o que dêle disseram engano e a corrigenda, nos autógra­
seus bmgrafos, inclui os dizeres da fos em meu poder.
lousa que foi presenteada pelo saudo­ Quanto á família Feitosa, eu leio
so Bisno D. Francisco e pelo Mons. muito o Tratado Genealógico da Fam í­
Antônio Feitosa. lia, escrito pelo saudoso Leonardo Fei­
“Etian se m ortuns feu rit vivet- tosa, tio do Cônego e também o que
(Joan II, 25”). Significa, mais ou me­ escreveu o Dr. Carlos Feitosa, ilustre
nos, que está vivo entre nós aquele que rebento daquela família-
morreu e nos era caro. Para mim, o No livro se verifica que uma filha
Côneeo não foi esquecido. O ilustrado de Francisco Alves Feitosa, o primeiro
Gomes de Fre;tas, que honra os jo r­ que pisou no Ceará, casou-se com o
nais da canital e outras publicações João Cavalcante, do Cariri, naquêles
cearenses, fez publicar em iornal dali tempos idos.
e depois reoroduziu na ITAYTERA N.° Naturalmente sua família e mes­
13, magnífico trabalho que historia o mo o casal, moravam no Cariri. Ou­
povoamento dos Feitosas nos Inha- tra filha casou-se com Arnaud de Ho­
muns. e no Cariri. landa, do Cariri. No inventário de
Muito grato fiauei ao Jornalista Francisco Alves Feitosa, feito em 1770,
emerito pelas referênc;as delicadas que constam sítios em Latão e Estivas, de
inseriu e pelos conhec!mentos que nos Santana do Cariri e em Engenho da
proporcionou com seu trabalho. Serra, de Crato.
Estranhando a referência minha Naturalmente alguém que herdou
de que aquêle sacerdote tivesse sido o êstes sítios, dos Feitosas, nêsse tem­
primeiro da família a res’'d’r no Cariri po morou alí, como deve ter morado
prova o engano com datas e docu­ em Correntinho, de Crato, onde Ma­
mentos. nuel Ferre5ra Ferro, filho de Francis­
Quem escreve para a imprensa, co Alves Feitosa, possuiu terras.
tem que arcar com os erros tipográfi­ O Cônego Feitosa estava muito
cos e com os descuidos de revisão. distante dêsses seus parentes, em grau
■ Comido aconteceu que dizendo aue como no tempo dêles. Êle era o 32.°
o Cônevo Feitosa era o primeiro padre pentaneto de Antônio de Sousa Carva-
da família que vinha residir no Cariri, Ihedo, que como João Alves Feitosa, o
159
Do Instituto Cultural do Carírí ao
Secretário de Cultura do Estado
O INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI DIRIGIU AO Dr. ERNANDO
UCHÔA LIMA, ATRAVÉS DO GENERAL RAIMUNDO TELES
PINHEIRO, A SEGUINTE EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS, NA
QUAL JUSTIFICA A SUA SOLICITAÇÃO DE AJUDA DAQUELA
REPARTIÇÃO, AO NOSSO I C C , NO ANO DA CULTURA:

Crato, 25 de Março de 1974 dinamizando a entidade e a ela se de­


votando, até ao holocausto de sua vida,
Exmo. Senhor
Dr. Ernando Uchôa Lima até 29 de Agosto de 1973, data de seu
DD. Secretário de Cultura do Estado falecimento, sendo sucedido, em elei­
ções realizadas em obediência extrita
FORTALEZA-CE.
às normas estatutárias, pelo Dr. Jósio
Senhor Secretário : de Alencar Araripe, advogado e jorna­
Fundado a 18 de Outubro de 1953, lista, na Presidência.
como coroamento das memoráveis fes­ Da atuação do Instituto Cultural
tas que assinalaram o Primeiro Cente­ do Cariri, nos seus 21 anos incomple­
nário de elevação do Crato á categoria tos, de existência, fala melhor a nossa
de Cidade, o INSTITUTO CULTURAL revista ITAYTERA, seu orgão oficial,
DO CARIRI vem conduzindo a sua agora com o seu 18.° número no pre­
existência com destemor e afinco, ja ­ lo, e reconhecida e proclamada em al­
mais se atemorizando ante os empeci­ guns dos melhores centros culturais do
lhos e dificuldades que se lhe antepõ­ país, como a melhor revista, no gêne­
em como entidade de fins característi­ ro, publicada no interior do Nordeste.
cos nitidamente culturais. ITAYTERA é enviada, regularmen­
Sua missão tem sido cumprida á te, na sua tiragem anual, aos princi­
risca. pais órgãos e centros de cultura do
Sua Primeira Diretoria aclamou país e até do exterior, que reclamam
como Presidente o inolvidável escritor os seus primeiros números, como fonte
e historiador cratense, Dr. Irineu Pi­ preciosa de informação e documenta­
nheiro, que, empossado no cargo, na­ ção.
quele dia, no mesmo permaneceu até É evidente que faz, expontanea-
21 de Maio de 1954, quando faleceu. mente, a mais bem alicerçada propa­
Sucedeu-lhe, temporariamente, na Pre­ ganda da nossa terra e de sua cultura.
sidência, o renomado sacerdote e pes­ O INSTITUTO CULTURAL DO
quisador dos nossos fatos históricos, CARIRI consagrou-se á pesquisa e de­
Pe. Antônio Gomes de Araújo, até que, fesa do nosso folclore e preservação
em Outubro de 1954 foi eleito para a dessa riqueza da cultura popular. Nes­
Presidência o jornalista e escritor J. se sentido, estimulou o aparecimento
de Figueiredo Filho. de conjuntos folclóricos, dantes quase
Permaneceu êste no elevado posto, extintos, revitalizando, assim, esse as­
pecto de nosso desenvolvimento cultu­
ral.
primeiro Feitosa, se casára na família Patrocinou a pesquisa de fatos his­
Araújo, assim, entrelaçada com Feitosa. tóricos que tiveram o Cariri como ce­
O Cônego chegou no Crato em nário, realçando, desse modo, nossa
1917 e eu em 1919. presença na formação histórica cearen­
J á encontrámos parentes em quasi se — notadamente nas lutas da Inde­
todas as cidades do Cariri, bem radica­ pendência.
dos. Hoje há Feitosa em todo Brasil. Em diversos Estados brasileiros es­
160
teve também presente a nossa insti­ mente, como ajuda, da Universidade
tuição, participando de congressos, Federal do Ceará, em vista de nao
simpósios, formas de debates e outras possuirmos técnico no assunto.
iniciativas de caráter cultural. Estão em andamento os entendi­
Em Crato, os conjuntos folclóricos mentos para a assinatura de um con­
IRMÃOS ANICETO e ITAYTERA, em vênio entre O INSTITUTO CULTURAL
pleno vigor, apresentando-se em diver­ DO CARIRI e o ex-deputado Antônio
sas festas cívicas, para autoridades e de Alencar Araripe, testamenteiro de
visitantes, são o resultante do nosso D. Rosa Amélia de Oliveira, para que,
trabalho- em casa dessa senhora, benemérita
Coube ao INSTITUTO CULTURAL professora conterrânea, falecida há 8
BO CARIRI a fundação e organização anos, se instale e faça funcionar, de
do MUSEU ITAYTERA, de produtos forma condigna, uma BibLoteca aber­
regionais, mantendo-o por mais de dez ta ao povo. Referido testamenteiro
anos, e finalmente cedendo-o, ao zelo, conveniará com o I C C para que a
guarda e conservação da Prefeitura Biblioteca a ser instalada ali seja a
Municipal do Crato, mediante convê­ nossa, já rica, pelo número de seus
nio. Esta, o colocou em prédio histó­ livros e documentos, satisfazendo, as
rico, a antiga Cadeia Pública do cen­ sim, a última vontade de D. Rosa Amé­
tro citadino, onde se acha aberto aos lia de Oliveira.
visitantes. Precisaremos, todavia, de recursos
Colaborou a nossa entidade no para reformar a Casa, localizada à
movimento pela criacão do INSTITU­ Praça Juarez Távora, vizinha á COTEL-
TO DE ENSINO SUPERIOR DO CARI- CE de Crato a fim de que possamos
R I, de que resultou a fundação, igual­ dar-lhe feição condigna, bem como á
mente, da FACULDADE DE FILOSO­ nossa Biblioteca, a ser transferida para
FIA DO CRATO, a primeira do inte­ ali dentro de poucos dias.
rior cearense, fundada a 6 de Dezem­ Na Casa pretendemos instalar,
bro de 1955 e inaugurada a 15 de Maio também, sala para reuniões da nossa
de 1960, com a presença do Ministro Diretoria, sala de conferência e salão
da Educação daquela época. para exposições de arte.
O IC C teve papel destacado na Não esmorecemos ante o desapa­
fundação do Instituto de Ensino Supe­ recimento de nosso inolvidável Presi­
rior do Cariri do qual o nosso saudoso dente, J. de Figueiredo Filho, falecido
J . de Figueiredo Filho, ao morrer, era em Agosto último.
vice Presidente. J á estamos encaminhando ao pre­
De par com essas atividades, man­ lo o N.° 18 da nossa revista ITAYTERA,
teve e mantém variada e assídua cor­ que, com 200 páginas, edição de 1974,
respondência com alguns dos princi­ terá grande parte dedicada á sua me­
pais vultos e instituições culturais do mória.
país. Intercâmbio salutar que eleva O nosso Secretário Geral está ul­
nem só o nome do Crato mas de todo timando o Primeiro Roteiro Turístico
o Estado do Ceará e do seu povo. do Município do Crato.
Paralelamente instalou, inaugurou Em nossa Secção de Letras, já se
e tem feito funcionar uma Biblioteca, empossaram, em solenidades brilhantís­
hoje com cerca de 4 mil volumes, uma simas, diversos intelectuais, com Ca­
das maiores do Estado, e de acêrvo deiras que teem o Patrocínio de diver­
dos ma s preciosos, sempre procurada sos vultos notáveis da Região e até de
e consultada por estudantes e todas as fora dela. Sessões que se realizam
pessoas interessadas em assuntos re­ sempre no auditório da Faculdade de
gionais e outros assuntos. Filosofia do Crato, com a qual mante­
Presentemente, a Biblioteca, por mos intercâmbio da mais alta impor­
deficiência das instalações, já peque­ tância.
nas, para sua acomodação, está a pre­ Outras posses serão realizadas no
cisar de séde nova, dentro dos moldes corrente ano, de acordo com o calen­
modernos com catalogação e classifi­ dário pré-estabelecido.
cação de seus livros, autores e assun­ Desde a fundação do ICC que te­
tos, medida que pleitearemos, breve­ mos patrocinado a edição de livros de
161
Em Circulação Dois Livros
do Vice Presidente do ICC
Lançados pela Imprensa Universi- históricos ligados á formação da gens
do Ceará, como parte do Plano de caririense.
Obras do Pe. Antônio Gomes de Araú­ O segundo deles, mais recente na
jo, estão circulando dois livros do re- publicação, POVOAMENTO DO CARI-
nomado historiador conterrâneo, Vice RI, tem a apresentação “na orelha”,
Presidente do Instituto Cultural do de F. S. Nascimento, outro membro
Cariri- ilustre do Instituto Cultural do Cariri,
Tratam-se de CIDADE DE FREI eleito para a Academia Cearense de
CARLOS e POVOAMENTO DO CARIRI, Letras, e como prefaciador, o intelec­
estando para circular o terceiro volu­ tual José Denizard Macêdo de Alcân­
me da série de historiografia, em que tara, figura de prôa da vida cultural
se publicam e preservam os maiores cearense.
e melhores estudos daquele grande lí­ Ambos os livros, lançados em noi­
der da história regional. te de autógrafos pela Faculdade de
O Plano de Obras do Pe. Antônio Filosofia do Crato e Instituto Cultural
Gomes de Araújo se constitui uma das do Cariri, que muito se honram em
mais arrojadas iniciativas de caráter ter em seus quadros esse vigoroso
cultural e editorial do Ceará, e consta­ e genuino intelectual cearense, há 20
rá de cerca de dez volumes, todos, ri­ anos Vice Presidente reeleito do ICC
quíssimos como forma de documenta­ e um dos seus fundadores e maiores
ção genuina e indiscutível de fatos animadores.

autores regionais, ensejando, desta for­ da Secretaria de Cultura do Estado, pe­


ma, o aparecimento dos nossos autores. lo muito que tem feito, e ainda pode
Já sobe a mais de 10 essas obras pu­ fazer, pelo desenvolvimento cultural e
blicadas. intelectual da zona sul cearense, pre­
Também publicámos a HISTÓRIA servação de nossas riquezas folclóricas,
DO CARIRI, já com 5 volumes em cir­ estímulo á arte, movimentação do meio,
culação, de notável importância para e projeção do Crato, do Cariri e do
as Escolas da região, bem como um Ceará, por todos os recantos da Nacio­
ROTEIRO BIOGRÁFICO DAS RUAS nalidade.
DO CRATO. O último lançamento que No ANO DA CULTURA, em nosso
fizemos, em 5 do corrente mez, foi do Estado, depomos às mãos de Vossa
livro do nosso consócio, Monsenhor Excelência êste nosso Relatório, na
Rubens Gondim Lóssio, hoje Magnífi­ serena certeza de boa acolhida e de
co Reitor da Universidade Católica do justo prêmio a quem, tão devotada­
Recife, trazendo ao Crato grande parte mente, tem servido á Cultura cearense.
da Congregação daquela instituição u- Respeitosamente,
niversitária, que veio prestigiar o acon­
tecimento. Jó s io ãe Alencar Araripe
Participa todos os anos o Instituto, Presidente
da Semana da Pátria e dos fatos cívi­
cos, com palestras nas Escolas, Emisso­ J . Lindem berg ã e Aquino
ras de Rádio e Clubes de serviço, a Secretário Geral
cargo de seus diretores e associados.
Por todos esses motivos e mais ou­ Anexo: Volume de ITAYTERA, N.° 17
tros, que não alinhámos ante o temor Estatutos do Instituto Cultu­
de nos alongarmos em demasia, julga­ ral do Cariri
mos aue O INSTITUTO CULTURAL DO A SERVIÇO DA PALAVRA,
CARIRI é merecedor de ajuda de parte último lançamento do I- C. C.
162
REL ÓGI O A R A I N H A DAS AGUAS
Zuleika Pequeno de Figueiredo PETRARCA MARANHÃO
Objeto despercebido que, as Por mil vitórias-Régias adornada,
mais das vezes, serve para contro­ como noiva sensual de um rei gentio,
lar horários. Sempre olhado com Manaus se mira, — qual donzela amada —
afan, nas repartições públicas, pa­ no espêlho cristalino de seu rio.
ra verificar o término do trabalho-
Na família, é mais um compa­ Pelo clarão da lua iluminada
ou por um claro sol quente e macio,
nheiro que segue a vida, em suas repousa na floresta almofadada
mutações, ou simplesmente, na ro­ molhando os pés no igarapé sombrio. . .
tina dos afazeres domésticos.
As antiguidades sempre tive­ Dos seus jardins com tufos de altas relvas,
ram valor quando são coisas de sôa, solene, fina e solitária,
arte, ou pertencentes à História. a rumorosa música das selvas !
Ültimamente, a vaidade feminina
tem dado imenso prestígio a tais Manaus, poema de luz, que o céu encerra !
coisas, até as que não sejam artis­ Resplende em tua graça legendária
ticamente confeccionadas. arco-iris de amor de minha terra !
Mas o relógio antigo da famí­
lia, êsse merece culto especial. O R E I D O S R I O S
Marca os momentos de muitas ge­ PETRARCA MARANHÃO
rações. Lá está êle, bonito, apre­
ciado pelos visitantes de outras Vem de longe o Amazonas, o gigante
terras, embora que, o valor dos caudaloso, feliz, tentacular,
que o viram pregado na parede da maior que o Mississipi e que o possante
sala de jantar, desde criança, seja rio Nilo, de glória m ilen ar...
maior, pela lembrança das horas
Do Telhado do Mundo, êle, insinuante,
que marcou. Felizes e tristes. De deslisa da montanha, a ultrapassar
regosijo e preocupações. Horas de vales, terras, florestas, sempre avante,
alegria ao voltarem os filhos pe­ rumando na distância, para o m a r ...
quenos do colégio, à chegada de
parentes e amigos e, ao reunir-se Busca o estuário, em que deve, finalmente
a família às horas das refeições. arremessar, violento, inquietas águas,
Outras bem amargas que doem num lance magistral, largo e im ponente...
na alma e Que se procura não re­
lembrar. A tudo vence, como um herói romântico:
Se êle falasse, naquele tic-tac rompe diques, barragens, pedras, fráguas,
projetando-se olímpico, no Atlântico ! . . .
invariável e disesse tudo o que viu
e ouviu ?! Seriam estórias de ro­
mances, desencantos da vida, mas
S A U D A D E
DANDINHA VELAR
também de vozes infantis, alegran­
do a casa. De velhos que já se Saudade — Alguma coisa no presente
foram, mas deixaram com a gente, A nos lembrar um sonho já vivido
os ensinamentos do bom caminho. Que nunca se apagou da nossa mente
E continua lá no seu canto, E que nunca por nós foi esquecido.
parando e se acionando os pon­
teiros, para marcar novas horas na Saudade — Algo que fica para sempre !
vida da nova geração. Do amor findo o caminho percorrido. . .
E que nos faz guardar constantemente,
* * * Do passado, o episódio preferido.
Essa crônica foi lida na Rádio
Educadora do Crato, ha mêses a- Sentimos que ela está no pranto ardente
trás. Não sabia eu que o mesmo Que alguém derrama á hora da partida
Num momento de dor angustiante. . .
relógio marcaria logo, a hora mais
dolorosa de minha vida. Sem perceber que a gente também sente,
Meio dia e 20 minutos do dia Ãs vezes, a saudade indefinida
29 de Agosto de 1973. De outra saudade que já vai distante.
163
F. C. PIERRE & FILHOS

BLI

Rua Santos Dumont N. 60

T E L E F O N E 232

C .G .C , 07.171.986/001 - C .G . F. 06217.242-5

C ra to - C e a rá
Cidadão do Crato
Tenho sido, a vida inteira, um ho­ C L Á U D I O M A R T I N S
mem à procura de um caminho. (Da A cadem ia Cearense de Letras)
Por isso, geralmente contrastante,
fiz muitas tentativas, perlustrei muitas um verso do próprio Casemiro, a cujas
verêdas, feri os pés nas pedras da es­ palavras recorro frequentemente, à
trada ínvia, de quase impossível aces­ guisa de recurso poético. Diz assim •
so, para chegar aqui, com um lugar
ao sol. ó que saudades que eu tenho
Em meio a essa gama de experiên­ Da aurora da minha vida
cias, nesta mesma heróica e inesquecí­ Pobre aurora
vel' cidade do Crato, iniciei minha pos­ Pobre vida
sivelmente frusta carreira de poeta de De menino abandonado
água dôce. Mas quanta alegria,
Mais tarde, ao verrumar os meus Quanta,
exatos pendores, em busca de vocação Naquele doce abandono
legítima, verifiquei que realmente de Sem afeto,
meu agrado seriam os estudos econô­ Sem carinho,
micos e financeiros. Nos descuidosos vagares
E como profissional do Direito — Que os anos não trazem mais
advogado, notário público, professor Na minha infância querida
de finanças e de legislação fiscal e de O Crato era bem pequeno
Direito Tributário — nunca, jamais, Mas para nós era um mundo,
me libertei das tenebrosidades dos in Nosso mundo de m en inos...
fo lio s da economia pública.
Assim, provido de tão antipoéticas Suas estradas de areia,
inclinações, não seria de supor, nem Suas ruas tortuosas,
mesmo por mim, cultor da antipoesia, O seu céu de primavera,
que, vez por outra, voltando às ori­ Ainda não perturbados
gens, eu reincidisse nas amenidades Pela civilização,
que só as musas proporcianam. Eram todinhos só nossos,
Mas tal aconteceu. Nossos, só
E aconteceu vezes sem conta, a De mais ninguém.
ponto de aventurar-me a publicar ver­ E sempre que apetecia
sos, a princípio, por insistência de um Sem camisas
cratense a quem sou muito afeiçoado Que não tínhamos,
— o pintor e gravador Sérvulo Esme- Fés descalços,
raldo. Braços nus,
Depois, por hábito e desfastio. íamos furtar sem remorsos
E numa dessas afoitas incursões O pomar de Siá Aninha,
pelo reino encantado de Camena, pres­ Ou tomar banho de açude,
sionado pela saudade imensa, me foi Brincar de manja,
dado imaginar uma conversa lírica
Ou de peteca,
com o vate Casemiro de Abreu. Con­ Açoitar os mais franzinos,
versa em aue relato as profundas ra­
Travar batalhas a pedras,
zões do meu apêgo a esta querida e Rolar á noite na areia,
generosa comunidade caririense, em
Com as filhas da vizin ha...
cujo aconchêgo modelei toda a minha
formação, desde a ma's tenra idade, se Naqueles tempos ditosos
é que se pode chamar de tenra a in­ O Crato tinha de tudo,
grata e trabalhosa infância do meni­ Tinha o Poço-da-Eseada
no pobre. Nossa piscina de pobre,
A essa conversa-poema de minha O Cinema Paraiso
ternura pelo Crato, dei o nome de Com Carlitos,
Ó QUE SAUDADES QUE EU TENHO, Com Tom Mix,
165
Feiras livres, A rua era nossa escola,
Cantadores, Palmatória era o estímulo
E muitas e muitas vêzes, Ao invés de corretivo.
O grande Circo Olimecha Nossos pais não tinham tempo
De fama internacional. E a sua pedagogia
— Hoje tem espetáculo ? Era o rêlho,
— Tem, sim senhor ! Era o chicote.
— Ás 8 horas da noite ? No entanto, Casemiro,
— Tem, sim senhor ! O que é bom sempre tem fim.
— Olha a negra na janela Um dia chegam desgraças:
— Tem a cara de panela! Trem,
— Olha a negra no portão Automóvel,
— Tem a cara de tição ! Avião,
Tomando conta da rua,
— O palhaço o que é ? Mudando a face de tudo,
— É ladrão de mulher ! Destruindo o nosso mundo,
Nosso mundo de m eninos!
— ó raio
O Crato não foi mais Crato
— ó sol
Ficou tudo lá pra trás.
— Suspende a lu a ...
Passou tudo,
O palhaço ord ena: Morreu tudo,
Até mesmo, Casemiro,
— Anima, rapaziada da canela fina ! A nossa infância querida
E a vida estrugia Que os anos não trazem mais !
E a negrada vibrava Quem me dera, Casemiro,
Espalhando pela cidade virgem Aqueles tempos to rn a r!
O nosso contentamento sem limites. Quem me dera, Casemiro,
O negro Vicentinho, Moleque voltar a ser !
Eem á frente Gritar palhaço nas ruas,
No braço magro exibindo Encher de frutas roubadas,
A cruz branca de alvaiade Os bolsos por a c o lá !
A cruz branca que era seu ingresso De que me valem tesouros,
Enchia de inveja o filho do Promotor De que me valem honrarias,
Que não podia ser moleque! De que me vale o que tenho,
Nossas almas, Casemiro, Se tudo daria
Tão mal guardadas, Por aquilo que não tive,
Tão soltas, Na minha infância querida,
Não respiravam inocência Que nunca mais há de vir ?
Essa inocência tôda ó que saudades que eu tenho
Pois as côxas torneadas, Da aurora da minha vid a...
Roliças, Meus senhores:
Gordas, Trago, para a beleza e grandêza
Eonitas, desta solenidade, êste momento íntimo
Da menina do trapézio e marcante de minha vida, bem vivida,
Do grande Circo Olimecha tão só para justificar ou explicar a
J á eram acenos lúbricos desmedida vaidade que me leva a acei­
A nossa precocidade- tar homenagem tamanha.
No jogo de cobra-cega Quando dirigidas a mim, sou vis­
Era sempre Mariazinha, ceralmente infenso a manifestações
Tão mansa, como a que ora presenciamos.
Tão boazinha, Amiúde posto á prova, quando,
Que gostávamos de agarrar. ocupei posições de destaque, sempre,
por questões de princípios, as recusei.
Mas que vale, Casemiro, Além de incômodas aos meus in-
Nos dias de minha infância coercíveis acanhamentos, não creio na
166
pureza do incenso, quando a gente só tas cousas do Deus que amava, tive
tem o que dar. que conformar-me com as cousas do
Não creio, sobretudo, no prestígio Demo, que estavam ali, fervilhantes,
outorgado por sucesso fortuito, pela nas ruas perdidas de minha cidade.
desvalia da fortuna vã ou por bam- E em meio á molecagem desen-
búrrios de sorte. freiada, em companhia dos filhos do
Por isso, coerente com essa filo­ Professor Bezerra, do cego Cleto, de
sofia de vida, prefiro ser um anônimo Melito, de Jocel Militão e outros não
a sentir, na planície inostensiva, o menos famigerados e queridos capitães
calor da verdadeira amizade, a lisura das traquinagens de minha infância,
dos gestos grandiosos. fui aprender um ofício.
E nada mais verdadeiro e mais no­ Primeiro, alfaiataria — e não pas­
bre que o bem que ora me fazeis. sei de um chuleio de u’a manga de
Há pouco menos de dois anos, palitó. Depois foi a Tipografia, a Ga­
quando tive o privilégio de receber e zeta do Cariri, com um gerente durís­
saudar, na Academia Cearense de Le­ simo, cujo nome esqueci de propósito,
tras, o jornalista, poeta e escritor Dur- e amigos como Zuza Chato, que reen­
val Aires minhas insopitáveis remem- contrei mais tarde em Fortaleza, o
branças arrastaram-se, invencivelmen­ mesmo companheiro, que gostaria de
te, para o chamego das vastidões ca- rever.
ririenses, o lar comum, o insubstituí­ A Tipografia foi minha verdadeira
vel lar. escola.
E repassei emoções e bemqueren- Compondo, letra a letra, artigos
ças. Analisei no poeta da terra do de Otacílio Macedo, de Celso Gomes de
Pe. Cícero minha própria meninice- E Matos e de padres eminentíssimos, a-
fiz ver, em exageros de recordações prendi a escrever corretamente, sem as
gratíssimas, que só duas forças seriam complicações da gramática ou os mis­
capazes de propelir, para u’a migração térios da filosofia.
forçada os que, como nós, aqui deitam E daí, dêsse aprendizado incomum,
raizes: a fome das sêcas e a fome do poder, bem cêdo, trocar os romances de
saber. capa e espada de Michel1 Zevaco, pelos
Ninguém será capaz de sentir mais clássicos portuguêses e brasileiros
do que eu a sincera aflição do poeta Até então cursara apenas a escola
Zé de Matos, ao extravasar, em amar­ da Beata Neves — Santa Beata Neves !
ga despedida: — que tanto fez pela pobreza desta
“ADEUS CIDADE DO CRATO terra.
QUERERES DA MINHA VIDA. Estivesse em mim, e eu lhe ergue­
LEVO SAUDADES DE TI, ría uma estátua em praça pública, pois
RAPADURA E RAPARIGA”. maior que ela, na minha afeição, so­
A prova lírica vos dei há pouco. mente o Pe- Francisco de Assis Pita,
A prova provada vos dou agora, a quem o Cariri e adjacências devem
afirmando, igualmente com absoluta o melhor de sua projeção cultural E
sinceridade, que êste é o momento nós, os de nossa geração, tudo o que
mais enternecedor de minha agitada somos hoje.
existência. Na Gazeta de Bruno de Menezes
Meus am igos: permanecí tempo suficiente para ali­
Cresci no Crato e com o Crato. cerçar meus conhecimentos. Mas um
Quando, aos oito anos de idade, dia meu pai e meus irmãos decretaram
recobi de meu Pai diploma de homem que eu deveria subir na vida. De ti­
feito, comecei a trabalhar. pógrafo e distribuidor de jornal, guin­
Naquele tempo, aqui nestas para­ daram-me a comereiário.
gens, ao menino classe-média só res­ Esse foi, pois, sem dúvida, o gran­
tavam dois caminhos : ser operário ou de momento de minha adolescência.
simular vocação sacerdotal, quando Um cratense invulgar — o Cel.
não a possuia, e ingressar no Seminá­ Luis Teixeira — resolveu, em sua inex-
rio. cedível bondade, desviar-me, dos peri­
Sem qualidades para mascarar gos em que me abismava, até ali, e
tendência mínima para as sacrossan­ integrar-me em plano social mais alto.
167
Fez-me amigo e colega de seus fi­ Ciências Econômicas, Escritor, Acadê­
lhos — Luizinho, de cuja intimidade mico, Secretário de Estado, e, acima de
participei até seu recente passamento, tudo, muito acima mesmo, filho ado­
e Newton Teixeira, que me incentivou tivo do Crato, o maior galardão que
e deu coragem quando mais eu pre­ poderiamos, eu e ele, almejar.
cisava. Creio que agora compreendereis
Em consequência dêsse apoio, ou­ minhas palavras iniciais.
tras significativas amizades brotaram : Sobretudo, minha emoção.
Moisés e Julio Teixeira, Pedro Macário A emoção que sente um filho es­
de Brito, Eli Norões, Raimundo Siebra, piritual desta terra, recebido como fi­
Luiz Gomes, Ernani e Elmar Brígido e lho verdadeiro.
Silva, Tomé Cabral, Raimundo Esme- Emoção, ainda, por haver tudo
raldo, Pedro e Unias Norões. E outros isso acontecido, por fôrça de iniciativa
mais. de um homem simples, como o é, sem
Aos quatro últimos — Tomé, Rai­ favor, o Vereador Virgílio Xenofonte
mundo EsmeraMo, Pedro e Unias No­ de Oliveira.
rões — devo novo acesso. Dessa vez Não o conhecia pessoalmente, e o
foi o milagre do meu ingresso no Gi­ pormenor valoriza, infinitamente, a
násio do Crato, fundado no ano an­ nobreza do gesto. Gesto que não po­
terior. derei esquecer jamais, pois que, sem
Foram eles e a coragem de meu o saber, Virgílio me deu o prêmio que
pai e a larguêza de um irmão, que me sempre am bicionei: A Cidadania Cra-
induziram a deixar o emprego útil a o.'.se !
mim e aos meus, para seguir, afinal, Quero e amo, sem reservas, minha
o meu destino. terra de nascimento, a cidade de Bar-
O Pe. Pita, esse admirável e in­ fcalha. Mas sou um produto do Crato,
compreendido bemfeitor, acolheu-me de suas virtudes e defeitos, de sua
sem condições, como se eu fôra um grandeza e viscissitudes.
milionário. Quando o Crato ainda não conhe­
E se eu, desastradamente, não ti­ cia automóvel, nem trem, nem avião,
vesse revelado inclinação para o saxo­ eu já lhe vivia os prazeres simples.
fone, ele me não teria obrigado, de­ E com ele cresci.
pois, a ser músico de sua famosa ban­ Com ele me fiz homem.
da, em companhia de Pedro Pinheiro E pela bondade imensa dos que
de Melo, no trombone, Walter e Elio- hoje lhe asseguram a pujança, me
mar de Sá Cavalcante, mais tarde D. torno um dos seus cidadãos.
Jerônimo, na trompa, Fran Martins, Obrigado, meu caro conterrâneo
nos pratos, além de outros bambas da Virgílio Xenofonte de O liveira!
época, em instrumentos mais esquisi­ Obrigado, meus queridos amigos
tos, ainda. da Câmara Municipal do Crato !
O Ginásio do Crato foi o ponto Obrigado, Sr- Prefeito, dileto ami­
final de uma fase plena de atribula- go Pedro Felício Cavalcanti.
ções e o começo de uma carreira que Obrigado meu povo.
meu Pai me ajudaria a perlustrar- Povo bom do Crato, povo privile­
Quando chegou o momento de cur­ giado, pois que, imune das agruras da
sar uma Faculdade, ele vendeu o pou­ saudade que acompanha os que daqui
co que aqui possuia e transmigrou pa­ se vão, tem a ventura de permanecer
ra a cidade grande, a fim de que eu fiel e unido á maior terra do mundo !
e o Fran não nos privássemos disso. (Discurso pronunciado na soleni­
Grande e admirável Pai, que, la­ dade de outorga do Título de Cidadão
mentavelmente, não conseguiu viver Cratense, na Câmara Municipal do
até testemunhar seus filhos atingirem Crato, na sessão solene de 03.03.74,
a meta que ele visualizara: presentes, entre outros, o Dr. Ernando
— Um Criador de Universidades, Uchôa Lima, Secretário de Cultura do
um Mestre em Direito Comercial, um Ceará, o Dr. Joaquim de Figueiredo
Doutor em Odontologia e também Rei­ Correia, ex-vice-Governador do Ceará,
tor, u’a Médica, e seu ex-moleque cari- o Prefeito Pedro Fehcio Cavalcanti, e
riense, transformado em Doutor em outras altas personalidades).
168
Catullo Cearense
POETA E LETR ISTA
P kdro G om es id e m ato s

Entre fins do século passado e as Grieco, crítico dos mais agudos das le­
duas primeiras décadas do atual não tras brasileiras. A ele Catullo dedicou
havia, no Brasil, quem não conhecesse o seu livro “Poemas Escolhidos”. Es­
Catullo da Paixão Cearense. Quem não sa obra alcançou 50 edições.
cantasse as suas modinhas, quem não Ainda agora, modernistas do por­
soubesse de cor os seus versos, impreg­ te de Mário de Andrade e Sérgio Bu-
nados de lirismo, plenos do mais sen­ arque de Holanda mostram-se sensíveis
tido nacionalismo- à poesia “bárbara e bela” de Catullo
Era a sua poesia a alma e o cora­ da Paixão Cearense.
ção de um povo- Não a do povo do Mário de Andrade afirma, categó­
litoral, mas a do que, personificada no rico: “Catullo é o maior criador de
caboclo, existiu, no sertão, em princí­ imagens da poesia brasileira”.
pios do século X IX. E Sérgio Buarque de Holanda diz
Ao produzir Meu Sertão, S ertão da “surpresa, do encantamento, da
em Flor, P oem as Bravios e Mata Ilu­ comoção”, que provocam suas estrofes
m inada, afirmava-se Catullo um gran­ (Fernando Góes)-
de poeta, poeta original e único. Era Catullo pouco mais do que um
No sentimento de nacionalismo menino quando compôs a primeira
iguala-se a Gonçalves Dias. Aliás, am­ modinha Ao Luar, que começa assim:
bos nasceram no Maranhão. Um na “Vê que amenidade, que serenidade/
cidade de São Luís (Catullo) o outro tem a noite, em meio / quando, em
nos arredores de Caxias no sombrio branco enleio, / vem lenir o seio de
da mata virgem frente a uma nature­ algum trovador”.
za onde as palmeiras e os nativos ba­ No dizer de Saul de Navarro, foi
baçus dominam por inteiro a paisa­ Catullo o “rapsodo da nossa musa a-
gem. nônima, a viola que tange o coração
Como trovador, e em popularida­ da raça, o lábio que balbucia o idioma
de, foi Catullo da Paixão Cearense o que vai plasmar os anseios e a sen­
Roberto Carlos de nossos dias. Can­ sualidade, a imaginação e „ a volúpia
tou para o povo, e para os maiores da nossa g e n s . .. ”
espíritos do tempo. Talvez com o seu desaparecimen­
Nenhum escritor, nenhum crítico, to tenha tombado “o último ipê dou­
nenhum intelectual em evidência, dei­ rado, a resistir, impávido, aos lenha­
xou de manifestar aplausos a Catullo dores do país antigo e tradicional”.
da Paixão Cearense. Foram eles: Pe­ Pena não tenha tido Catullo
dro Lessa e Pontes de Miranda; Gui­ (quanto ao léxico por ele atribuído ao
lherme de Almeida e Antônio Torres; homem do interior) a fidedignidade, a
Mário de Alencar e Humberto de Cam­ autenticidade de Mistral, “que fez obra
pos; Alberto de Oliveira e Coelho Ne­ de arte com os elementos fornecidos
to; Roquete Pinto e Afrânio Peixoto; pelo povo”.
Câmara Cascudo, Fernando Nery e Se assim, a sua obra teria o sen­
Assis Cintra, dentre outros. tido sociológico, e histórico, da de Jo ­
Rui disse concordar com Júlio sé Lins do Rego, da de Euclides, da
Dantas em que os “versos de Catullo de José Américo de Almeida, da de
possuem um encanto irresistível”. Raquel de Queirós.
Vez por outra, visitava-o Agripino Como quer que seja — a afirma­
169
tiva é de Humberto de Campos — re­ E diz, não sem um quê de vaida­
cusar a Catullo da Paixão Cearense de e orgulho, em O Poeta do Sertão:
um alto engenho poético seria contes­
tar, na claridade do dia, a existência “Não há, poeta, não há
do Sol. Poucos espíritos, entre nós, Cumo us fio do Ciará”.
foram dotados de imaginação tão vi­
gorosa, e nenuhm até hoje, de imagi­ Falava nele a voz do sangue- E
nação tão ingênua, tão fresca, tão na­ desta terra, isto é, de Maranguape, on­
tural. As suas imagens no Meu Ser­ de afinal vem Catullo, no bronze, con­
tão, no Sertão em Flor, nos Poemas templar os seus anfiteatros de granito,
Bravios, em Mata Iluminada, têm a guardou ele, adolescente, imagens que
suavidade, a graça, a singeleza feliz jamais, pelo tempo em fora, se apa­
das manhãs de inverno nas altas ser­ garam de suas retinas e serviríam, co­
ranias do nordeste. Sente-se ao ler mo serviram, de inspiração à sua poe­
os seus grandes poemas daquela fase, sia.
o gosto das frutas, o cheiro das flores Cie conquistou um lugar de honra
silvestres, e um barulho dágua virgem, em nossa música popular. E embora
tombando nas encostas da serra. Sur­ fosse, no fundo, um homem simples,
preendido nas origens, o regato de sua cultivava a vaidade, talvez por conhe­
poesia é o mais delicioso que o Brasil cer sobejamente seu próprio valor.
tem visto manar no sistema potamo- (Ary Vasconcelos).
gráfico da sua literatura. Dá ele idéia, Um dos seus maiores triunfos foi
aí, dos tempos inocentes da humani­ ter convencido Alberto Nepomuceno,
dade, da quase alvorada do mundo, da em 1908, então diretor do Instituto Na­
hora radiosa em que o homem acor­ cional de Música, a realizar no salão
dava com a saúde do corpo e a alegria de concertos do Instituto um recital
na alma para o dia da civilização. de violão então considerado um ins­
Poucos povos modernos possuirão um trumento bastardo ou “uma espécie de
exemplo tão precioso de inspiração na­ arma proibida”, na expressão de Hum­
tiva e pura. (in Crítica, I a Série). berto de Campos.
Autodidata, Catullo da Paixão Catullo viveu numa época em que
Cearense chegou a fazer traduções de os poetas, tais como Alberto Guima­
poetas famosos (Lamartine, por exem­ rães, Olavo Bilac, Emílio de Meneses
plo). (e ele próprio) gozaram de imenso
Frequentou o parnasianismo, o prestígio. Davam recitais e, na rua,
condoreirismo e um dos gêneros mais eram reconhecidos por todos.
difíceis da arte poética — a trova — Com os pés no chão, desconheceu
pelo rigor da síntese na manifestação o Parnaso.
do sentimento. As poesias que o povo admirava
Veja-se, a propósito, essa estrofe nele eram justamente aquelas com
de sua lavra: cheiro de terra, que falavam de amo­
res e infortúnios da nossa cabocla,
“Qual seria o anel do poeta que reproduziam a nossa linguagem
Se o poeta fosse doutor ? com os seus defeitos, que viam o mun­
— Uma saudade brilhando do e as coisas com uma sensibilidade
— Na cravação de uma dor” nossa. Por isso o povo deu-lhe um
busto em vida, reunindo tostão por
Através de histórias, e de uma sé­ tostão, para perpetuar a admiração
rie de adjetivos, muitos foram os que por seu poeta. Memorável campanha
procuraram desmerecê-lo. do jornal A Noite.
Em toda a sua obra, o Ceará é Do que foi a audição por ele le­
uma constante. vada a efeito no Palácio do Catete, a
convite do Marechal Hermes, dá-nos
Em Terra Caída o menestrel re­ testemunho Dona Nair Teffé da Fon­
corda : seca :
“Essa audição de Catullo no Pa­
“Faz hoje sete janêro lácio do Catete, constitui o maior su­
Que eu dêxei o C ia rá ...” cesso a que um verdadeiro artista po-
170
deria aspirar em toda a sua vida. Ca­ de Almeida, que, por sua vez, tiveram
tullo, ao término de cada canção que em poemas seus excelentes músicas
interpretava, recebia da culta assis­ colocadas por Catullo.
tência uma ovação delirante. Todos Serviu como contínuo do Cais do
o aplaudiram de pé. E ele bem o me­ Porto e depois como estivador. Dessa
recia pelo seu gênio e seu irresistível dura situação retirou-o a esposa do
poder de transmissão de sentimento. parlamentar Silveira Martins, convi­
A audição valeu-lhe mais que a- dando-o para lecionar a seus filhos.
plausos: Catullo saiu de lá pratica­ Com o lançamento de Meu Sertão,
mente nomeado para um cargo na em 1918, iniciou-se a glorificação lite­
Imprensa Nacional. Depois que assu­ rária de Catullo. Das duas criações,
miu, seus inimigos fizeram chegar aos as mais populares fo ra m : Luar do
ouvidos do presidente que Catullo só Sertão, Ontem, ao Luar, C abôca di
comparecia à repartição uma vez por Caxangá e F lo r A m orosa, que, por si­
mês, para receber os vencimentos. O nal, reproduz um dos momentos do
Presidente desfazia a intriga, desar­ filme da Atlântida E sse M ilhão é Meu-
mando seus autores- O sepultamento de Catullo (o cor­
— Catullo é mesmo um maluco. po foi levado em cortejo a pé para o
Quem mandou ele ir ao serviço ? cemitério de São Francisco de Paula,
As histórias dos empregos de Ca­ em Catumbi) — conta seu amigo Car­
tullo foram um verdadeiro anedotário. los Maul — não foi um fato comum
Conta Bastos Tigre que certa vez o na vida da cidade. A Banda do Cor­
poeta foi surpreendido por um tele­ po de Bombeiros ia tocando a M archa
grama que exigia sua presença no Mi­ F ú n eb re; atrás da carreta com o cor­
nistério da Viação, para o qual fora po ia grande massa popular. À pas­
nomeado pelo Ministro Pires do Rio. sagem do féretro, as casas comerciais
O movimento de 1930 tinha vencido, cerravam as portas; as bandeiras es­
cuidava de moralizar o serviço públi­ tavam em funeral. Quando o corpo
co, plataforma de toda revolução que chegou ao cemitério, havia milhares de
se preza. O chefe de gabinete do Mi­ pessoas à espera.
nistro José Américo quis saber tudo Os discursos de personalidades fi­
o que ele fazia (ou não fazia) na re­ zeram a cerimônia entrar pela noite.
partição. Uma lua imensa começou a luzir no
— Qual o seu cargo aqui ? céu, e expontâneamente o mexicano
—Datilografo. Alfonso Ortiz Tirado, tenor e médico,
— E se fosse preciso realizarmos começou a cantar baixinho Luar do
um teste de datilografia, que máquina Sertão. Em pouco o rumor de milhares
o senhor escolhería ? de vozes a acompanhá-lo dominou a
Catullo ficou embatucado. O che­ noite : “Não há, ó gente / oh, não, /
fe de gabinete in sistiu : cada datilo­ luar como este / do sertão. . . "
grafo se habitua a um tipo de máqui­ Toda a fortuna de Catullo era is­
na. Sem saída, o poeta encontrou to : a adoração popular.
esta : E para que mais se possuía ele, a
— Bem, nesse caso, prefiro uma maior, a mais augusta das realezas,
Singer. que é a realeza do gênio, na concei-
Filho de Amâncio José da Paixão tuação de Ramalho Ortigão.
Cearense, ourives e relojoeiro, natural Nos últimos anos de vida, Catullo
do Ceará, e D. Maria Celestina Braga morou num barracão de madeira na
cia Paixão, natural' de S. Luís do Mara­ antiga Rua Francisca Méier, 21, hoje
nhão nasceu a 8 de outubro de 1863 e Rua Catullo da Paixão Cearense, no
faleceu no Rio de Janeiro (G E ), onde Engenho de Dentro, subúrbio carioca.
sempre viveu, a 10 de maio de 1946. Ao barracão ele deu o nome de “Pa­
Contava 83 anos de idade. Perdulário, lácio Choupanal”. Ali recebia velhos
morreu pobre. Deixou magnífica ba­ amigos, antigos companheiros da esti­
gagem de letras das quais algumas va e visitantes ilustres. Entre eles,
com músicas de famosos cultores da Júlio Dantas e Monteiro Lobato.
música popular brasileira : Anacleto Obscuro cultor das letras, e peni­
de Medeiros, Ernesto Nazaré e Irineu tente de quantos a si mesmos pelo es-
171
de Leííura
(A V I D A DE ED U A R D O P R A D O )
RAIMUNDO BORGES
Que esplendida floração de talen­ ios sertões de Minas e da Bahia para
tos tem sido a deste País ! embarcar, em Salvador, num navio in­
Desde moço tinha eu ouvido falar glês que o conduziu ao Velho Mundo.
de Eduardo Prado como diletante, ho­ Mas, só agora, me apercebo do va
mem de fortuna, vivendo mais na Eu­ lor intelectual imenso desse homem
ropa do que no Brasil, figura indis­ extraordinário.
pensável' nas rodas de homens de le­ Descubro, casualmente, na Biblio­
tras como Eça de Queiroz, Joaquim teca da Faculdade de Filosofia do
Nabuco, Ramalho Ortigão, Rio Branco, Crato “A Vida de Eduardo Prado”
Graça Aranha, etc., em Paris, ou na de Cândido Mota Filho, e me entrego
sua luxuosa Fazenda no interior de ávido à sua leitura.
São Paulo. Ao terminar, senti-me tomado de
Dividia a vida entre os intelectuais, um grande arrependimento, ou de uma
os livros e o campo, onde também espécie de quasi remorso, por haver
mantinha rica biblioteca. só agora entrado em contacto com a
Falava-se nele sobretudo como jor­ obra do notável paulista.
nalista desabusado e, depois, como Porque, na verdade, nessa magní­
polemista que se notabilisara com a fica biografia, está em síntese traçada
publicação do seu livro "A Ilusão Ame­ toda a produção literária de Eduardo
ricana”, vindo à luz depois de procla­ Prado pela pena agil, vibrante e, so­
mada a República e que lhe valera a bretudo, veraz de Mota Filho.
expatriação para a Europa no gover­ Jornalista, polemista, cronista, con-
no de Floriano, fugindo a cavalo pe- ferencista, escritor, tudo isto foi o au­
tor de “Ilusão Americana”.
forço e os méritos se estatuam, asso­ É pena que a sua vida, algo dis­
cio-me, comovido, a homenagem que, persiva, não tenha permitido nos dés-
com a inauguração desta herma, ora se ele, como escritor, a obra prima
se presta a Catullo da Paixão Cearense. que seria de esperar de sua imensa
E valho-me do ensejo para redi- cultura e da facilidade que tinha de
zer, como o fez Machado de Assis ao expressar em grande estilo seus pen­
pé da estátua de José de Alencar, cor­ samentos.
rigindo o desalento do autor de O Também lhe foram curtos os dias.
G u a ra n i: “nem tudo passa sobre a Faleceu de febre amarela em pleno vi­
terra”. gor físico com pouco mais de 40 anos.
(Palavras proferidas em 31.01.74 Mota Filho revelou-me com o seu
por ocasião da inauguração da herma trabalho o escritor de raça deformado
de Catullo da Paixão Cearense na pela fama de rico, de gastador, de
Praça Desembargador Pontes Vieira, boêmio, habitual das noitadas alegres
Maranguape). de Paris; tanto que até se atribuía a
êle, com visos de verdade, a figura do
FO N TES: Jacinto, o ultra-civilizado da “A Cida­
1. Ary Vasconcelos — P anoram a de as Serras” de Eça.
da Música Papular Brasileira, I o volu­ Dou-me por bem pago da leitura
me. Martins. 2. Raimundo de Meneses quasi ininterrupta que fiz, suspensa
Dicionário Literáriio Brasileiro, 2o vo­ apenas, aqui e ali, pelas tarefas mais
lume- Saraiva. 3. Abril Cultural — urgentes de afanosa atividade profis­
Contra-capa do long-playing — Catullo sional.
da Paixão C earense — Cândido das Ne­ Ufano-me de incluir mais um na
ves (índio). 4. Humberto de Campos. galeria dos escritores brasileiros da
Crítica. I a Série minha admiração.
172
A ntônio de A lencar A r a r ip e

O inventariado, cujo espólio ora abril, se expediu mandado, redigido


constitui objeto da presente resenha, pelo escrivão de Órfãos Joaquim José
é o primogênito do casal José Gonçal­ de Santana Milfont e assinado pelo
ves dos Santos e sua mulher, a heroí­ respectivo Juiz dr. Manoel Thomás
na d. Barbara Pereira de Alencar, nas­ Earbosa Freire, para a citação da viu­
cido a 27 de janeiro de 1.783 na fre­ va d. Luiza Chavier da Silva, a fim de
guesia de Cabrobó, e batisado a 17 de “receber juramento e fazer as neces­
fevereiro do mesmo ano em Exú, Per­ sárias declarações para se proceder
nambuco. George Gardner, o natura­ inventário nos bens deixado por fale­
lista inglês que ha mais de um século cimento de seu marido”.
esteve no Cariri e por dias, ou meses, Informado o oficial de justiça
fixou-se em Crato, ao nome de João encarregado da diligência Gònçaío Lo­
Gonçalves Pereira de Alencar alúde, pes da Silva Brasil, que a citanda não
em termos encomiástico, no relatório poderia comparecer á casa de residên­
escrito sobre a excursão realizada, que cia do Juiz “por ser uma mulher céga
se prolongou a outros pontos do Nor­ e velha”, o termo de juramento e de­
deste e cujo teor consta de reprodução clarações do cabêça do casal l'avrou-se,
acolhida nas páginas da Revista do a 20/11/1860, no sítio “Páu Seco”, de
Instituto do Ceará. Trata-se de irmão sua residência, onde o inventário pas­
do Senador Alencar e do protomartir sou a ser feito. Das referidas declara­
da República Tristão Gonçalves de ções consta que o inventariado falece­
Alencar Araripe, de tio do escritor ra a 12 de setembro do ano anterior,
José de Alencar e do jurisconsulto e deixando quatro filhos, um dêles fa­
homem de Estado Conselheiro Tristão lecido e representado por três filhos
de Alencar Araripe, e, enfim, do bisavô legítimos e uma natural' devidamente
paterno do consagrado escritor cra- habilitada.
tense José Carvalho, que ao seu nome No título de herdeiros estão arro­
por vezes se reporta, tanto no drama lados, além de cabeça do casal, os fi­
“DONA BARBARA”, como no trabalho lhos : 1) Maria Martiniana de Alencar,
“O Sítio Páu Sêco, no Crato-Ceará — casada com Jo sé de Sousa Rolim, 2)
Mais uma tradição sobre a descoberta Barbara Auta de Alencar, casada com
do Cariri”, inserto na dita Revista, to­ o tenente coronel Manoel da Cruz Rosa
mo 45 — 1.931, págs. 111/17, e em ou­ Carvalho, moradores na vila do Ja r ­
tras publicações de sua autoria. dim, 3) Alexandrina Xavier de Alen­
Não dispuseram os Alencar de car, casada com Antônio da Cruz Né-
antanho, dos vultosos patrimônios eco­ ves Júnior, 4) Cesário Gonçalves de
nômicos que chegaram a acumular, Alencar, falecido, que foi casado com
por exemplo, os Fernandes Vieira, Maria Vespasiana de Alencar, represen­
Dias e Bastos, mas, como o relaciona­ tada por seus três filhos legítimos, e
mento dos bens constantes do espólio uma filha natural, que foi habilitada
em apreço, contava entre seus mem­ no inventário de seu pai, de nomes :
bros quem então vivia em estado de a) Luiz Cesário de Alencar, emancipa­
expressiva abastança. do, b) Antônio Cesário de Alencar,
O processo do inventário em aná­ com 19 anos, c) Cesário Gonçalves de
lise instaurou-se em dias do ano de Alencar, com 18 anos, d) d. Barbara
1.860, quando, com a data de 19 de Pereira de Alencar, filha natural, ca-
sada com Domingos Alves de Gois. garrotes, a 8, éguas, a 30, poltros de
Os herdeiros Luiz Cesário de Alen­ muda, a 15, e quarenta cabeças de ga­
car, José de Sousa Rolim e Antônio do “cabrum”, por 40 mil réis, além de
da Cruz Néves Júnior, os dois primei­ TRÊS léguas de terra, por três contos
ros no cartório do tabelião Antônio de réis.
Duarte Pinheiro, de Crato, e o último A descrição dos bens do espólio,
no do serventuário de Jardim , Valeria- inclusive os escravos, com o preço es­
no de Oliveira Lima, a 21/4/1861 e a tabelecido, por seu interesse histórico,
22/1/1861, respectivamente, constitui­ merece a devida divulgação.
ram procuradores para assistir aos Relacionam-se entre os imóveis
termos do inventário e partilha. Ê de além das 3 léguas de terra em Saboei­
notar que em cada um dos trasla­ ro : o Sítio “PAU SECO” — tradicio­
dos de tais procurações, por sinal im­ nal solar de dona Barbara — “havido
pressos, foi apôsto sêlo no valor de por herança materna de seu falecido
160 réis- marido, e por compra feita a diversos
O herdeiro Manoel da Cruz Rosa herdeiros, a sa b e r: NEUTEL, Aderai-
Carvalho, marido de Barbara Auta, foi do, Tristão, Delencarliense, PEDRO
citado por carta precatória dirigida ao JAIME (avô do autor desta resenha),
então Juiz Municipal e Órfãos de Ja r ­ Carolina, Maria, Joaquim An tão, (bisa­
dim dr. João Clemente Pessoa de Me­ vô da esposa do dito autor), Raimun­
lo, magistrado sobralense que foi de­ do, José Vitoriano, Ana e Casimiro, no
putado provincial no Ceará e desem­ valor de 1.123.856, que com a casa de
bargador da Relação de Mato Grosso. vivenda, de taipa, com uma porta e
Prestou juramento, como tutor dos duas janelas, coberta de telhas e mais
orfãos filhos de Cesário Gonçalves de benfeitorias avaliam por 4.000,00; duas
Alencar, Roque Carlos de Alencar Pei­ posses de terra no sítio São Gonçalo,
xoto. Entre os nomes de pessoas em sendo uma havida por herança e a
evidência na vida política e social do outra por compra a d. Ana Triste de
meio, a cujos nomes ha referência no Alencar Araripe (viúva de Tristão
processo do inventário, notam-se: João Gonçalves). Observa-se que o senador
Brígido, redator e signatário, a rogo Alencar, irmão do inventariado, tam­
da viúva inventariante, de petições re­ bém dispunha de duas posses no alu­
querendo a expedição de precatória pa­ dido imóvel, avaliadas, quando ocorreu
ra avaliação de bens sitos em Saboei- o inventário daquele parlamentar pro­
ro, e, depois, a adjudicação de gados cessado em dias do ano de 1860 e ora
separados para pagamento de custas e constante do Arquivo Nacional.
dívida, e um dos avaliadores do espó­ Abrangeu a avaliação, feita por
lio; Fenelon Bom ilcar da Cunha (ca­ João Brígido e seu companheiro sendo
sado com neta de d. Inácia Pereira de fôro de Crato : 4 libras de prata em
Alencar, irmã da heroina Barbara, e diferentes obras, avaliada, cada oitava
pai dos drs. Artur, Álvaro e Alfredo, a 160 réis, que importa em 81,920,182
e Cel. Fenelon Bom ilcar), sinatário em libras de cobre, avaliada a 640 réis a
parecer sobre as avaliações, em nome libra, que importa em 116,420, 1 copo
do de cu jo s; Alexandre Chaves de Me­ de prata com o peso de uma libra,
lo Ratisbona (deputado provincial e avaliado a 160 réis cada oitava, que
geral, advogado, orador de fam a), tes­ importa em 10,240, 5 enxadas por 540
temunha em procuração da inventari­ cada, no total de 3,200, uma tenda de
ante para dar andamento á deprecada caldeireiro por 3,200, 5 machados por
na vila de Saboeiro, onde foram ava­ 1.500, 1 caixão de cedro por 10,00, 1
liados: vacas, bois e novilhos (26), mesa de cedro por 4,000, 1 banca velha
a 20 mil réis, cada, novilhotes, a 12, por 1,000, 1 jôgo de caixa de pregaria
174
« J ó s io de A len c ar A k a iiip e

Estudos têm evidenciado ser o Ca- po oportuno, reduz-se, em Crato, a


riri uma das mais ricas parcelas do 12%, contra 32% em outros municípios
território cearense, senão de todo o do sertão circundante. Para suprir a
interior nordestino. Apresenta a re­ eventualidade de possíveis irregulari­
gião características bem definidas, fa­ dades climáticas, dispõe ainda a regi­
vorecidas por uma pluviometria das ão, afora o recurso da açudagem, de
mais regulares, alcançando a média um lençol freático abundante e super­
anual de 1.000 mm., em Crato e Bar- ficial. Grande área de terras planas,
balha. Em face de tão privilegiada dá­ de aluvião profundo e facilmente irri-
diva da natureza, a diminuição das gáveis, completam o quadro promissor
colheitas por falta de chuvas no tem- da potencialidade econômica desta par­
te do Ceará.
por 1,000, outro jôgo velho por 4,000, Como não podería deixar de ser,
1 armário de cedro por 10,000. O pre­ a exploração da terra se fêz desorde­
ço dos gados em Crato assim foram nadamente, de modo predatório. As
calculados : Vacas paridas (11), a 22,00, queimadas frequentes deixaram desnu­
cada, solteiras, (17) a 20,00, bois man­ das as encostas, favorecendo a ação
sos (18) a 25,00, novilhos a 20,00, no- da erosão, que ameaça soterrar os so­
vilhotes (5) a 12,00, garrotes (6) a los mais férteis dos vales. O com­
6.00, éguas (5), sendo 1 velha por 16,00 portamento das fontes foi também
e 4 novas a 25,00, burro novo (1) por modificado, e muitos rios, antes pere­
100.00, 1 burra velha por 60,00, cabras nes, somente correm na estação das
e ovelhas, a mil réis, cada. chuvas. A paisagem desoladora do
No espólio arrolaram-se 38 escra­ sertão, causticado durante meses segui­
vos, classificados como “crioulos”, dos de sol intenso, vai aos poucos to­
“cabras”, “cabrochas”, “mulatas" e mando conta do Cariri, onde o deserto
“caboclinho”, variando o preço de 54 já penetra fundo, quase até as encos­
a 64 mil réis, para os mais velhos (de tas da Chapada do Araripe, restringin­
60 e 65 anos) até o máximo de 900 do os limites do oásis verdejante que
mil réis para os de idade de trabalho- se estendia por toda a região. A últi­
O monte atingiu a 24.431,360. De­ ma barreira a ser vencida por esse
duzidas as custas (468,00) e dívidas processo de saarização, seria a chapa­
(706,380), passou a ser partilhada a so­ da que emoldura o vale, revestida, ain­
ma de 23.256,960, cabendo á meieira da, de exuberante vegetação nativa,
11.628,480. que lhe protege as escarpas, e na fai­
De custas coube ao Juiz — 40,800 xa da floresta, fator de primordial im­
réis, ao Curador e ao Contador 5,000, portância para a manutenção do equi­
aos partidores — 60,000, aos avaliado­ líbrio ecológico deste canaam cearen­
res — 239,800 (só pela avaliação dos se. Quem galgou aquele paredão, po­
escravos ganharam 48,000), ao Escrivão derá constatar que alí a terra se sus­
do feito — 361,440. O julgamento do tenta apenas pela ação das árvores. A
inventário e partilha em apreço foi devastação dessa cobertura florística,
afinal realizado, a 10/5/1891, pelo su­ resultará no desmonte do arenito as-
plente do Juiz de Órfãos em exercício r ‘m precariamente sustentado, que se
Tte. Cel. Antonio Luiz Alves Pequeno lançará de encosta abaixo, soterrando
Júnior. tudo numa avalanche destruidora. An-
175
tes que essa ameaça se efetive, neces­ chuvas, haverá de se suceder o regime
sário se torna tratar da imediata re­ de safras contínuas e ininterruptas,
cuperação das áreas devastadas, e da quer no inverno ou no verão, nas sê-
proibição rigorosa do corte de árvores cas totais ou parciais.
nas escarpas íngremes, que não estão Uma economia estável propiciará
sob a proteção do serviço florestal. o acúmulo de poupanças, que serão
Um trabalho de recuperação deve­ reinvestidas no aprimoramento dos
rá ser feito em todo o sopé da serra, meios de produção, máquinas, insu-
cujo solo vem sofrendo intenso desgas­ mos modernos, donde advirão maiores
te pela ação das águas, As fontes, lucros e o enriquecimento da região.
que devem ser objeto de especial pro­ As indústrias de algodão e extração
teção, deverão ser canalizadas para a de óleos vegetais, trabalhando presen­
irrigação de culturas, realizadas de a- temente com grande capacidade ocio­
côrdo com um esquema técnico ade­ sa, terão abundante matéria prima,
quado às condições locais, visando seu obtendo assim maior desfrute de seus
melhor aproveitamento econômico. custosos equipamentos- Com uma a-
O clima ameno desta parte dos gricultura próspera e desenvolvida, te­
municípios serranos, é indicado para a remos fortalecida nossa principal in­
exploração agrícola de frutas as mais dústria, e outros empreendimentos sur­
variadas, verduras, e até mesmo o ca­ girão como uma decorrência natural,
fé alí visceja em muitos sítios, frutifi- como a uzina de açúcar, fábrica de
cando há dezenas de anos. Os grandes doces e sucos de frutas e tantas ou
mex-cados consumidores das capitais tras, que na região se implantarão,
nordestinas estão hoje a poucas ho­ depois de fortalecida sua infra-extru-
ras de viagem, para absorver toda es­ tura econômica.
sa produção, saída fresquinha dos nos­ Poucas regiões do nordeste se
sos campos. prestarão com tanta propriedade a um
Embora tenha se afirmado ser des­ trabalho desse porte, e responderão tão
necessária ou supérflua a açudágem favoravelmente aos investimentos pú­
no Cariri, o fato é que em poucas re­ blicos nos setores da açudagem e irri­
giões do Nordeste haverá condições gação. A indústria de pasteurização
mais favoráveis ao represamento d’á- de leite, em fase de implantação, en­
gua, não sómente em razão da maior contrará campo propício, e condições
regularidade das chuvas, como tam­ temos para desenvolver no Cariri a
bém pela natureza das terras, apropria­ criação de gado leiteiro, talvez com
das a irrigação e cultivo intensivo. maiores facilidades do que foi feito
Acrescente se a esses fatores, a tradi­ nos sertões de Alagoas e Pernambuco.
ção dos moradores da região, dedica­ Nossas exposições têm dado uma amos
dos em sua grande parte ao trabalho tra dos progressos realizados nesse se­
agrícola e vocacionada para essa ati­ tor, por conta quase exclusiva da ini­
vidade. Milhares de hectares de terras ciativa privada. O gado de corte re­
férteis poderão ser rehabilitadas para presenta também um forte baluarte na
a agricultura, com o aproveitamento economia regional, e poderá motivar
desses recursos. Aonde não for possí­ de futuro a instalação de um frigorí­
vel levar a água represada das barra­ fico, meta já sonhada pelos criadores
gens dos Carás, do Latão, do Riacho locais, cuja realização também está
do Machado, Riacho dos Porcos e tan­ subordinada a solução dos problemas
tos outros, poderá ser utilizado o len extruturais já apontados. Isso tudo é
çol freático abundante e superficial. o que nos aponta o futuro, com o
Ao regime de colheitas diminuidas ou aproveitamento da potencialidade eco­
prejudicadas pela irregularidade das nômica do Cariri.
176
IMPORTANTES EFEMERIDES LOCAIS EM 1974
O ANO DE 1974 ASSINALA A PASSAGEM DE IMPORTANTES
EFEM ÉRIDES, DE IMPORTÂNCIA PARA NÓS, DO CRATO E DO
CARIRI.
© Em 14 de Abril tivemos o Centenário de Álvaro Bomílcar, sociólogo,
patriota, publicista do maior renome em todo o território nacional,
natural do Crato.
$ Em 18 de Maio, centenário de Manuel Siqueira Campos, que dá
o seu nome á praça mais central do Crato. Foi comerciante e ho­
mem de grandes iniciativas, de notável espírito público. Natural de
Porteiras, CE.
^ 21 de Maio assinala os 20 anos do falecimento do Dr. Irineu
Nogueira Pinheiro, Primeiro Presidente do Instituto Cultural do Ca-
riri, médico e historiador dos maiores do Estado, a quem a historio­
grafia regional ficou devendo assinalados serviços.
@ 20 de Julho assinala o centenário do Cel. Francisco José de Brito,
figura humana das mais queridas e admiradas da terra cratense, chefe
de numerosa e digna família.
® 2 de Agosto assinala o Cinquentenário de George Teles Sampaio,
malogrado marinheiro cratense, da Marinha de Guerra do Brasil, fa­
lecido a bordo do “Humaitá”, de nossa Armada, com 21 anos de ida­
de, na Segunda Guerra Mundial. Seu nome está eternizado numa
das ruas de nossa Cidade.
% 15 de Outubro assinala o Centenário de falecimento de D. Ana
Triste, viúva de Tristão Gonçalves, heroina nacional. Nascera em
Crato em 16 de Fevereiro de 1789, consorciando-se em 1810 com o
herói Tristão Gonçalves, da qual ficou viúva, após o seu trucidamen-
to, na Revolução de 1824.
DOIS SESQUICENTENÁRIOS NO CALENDÁRIO CÍVICO DO
CRATO ASSINALA O ANO DE 1974 :
@ l 9 de Maio — 150 anos do nascimento de Leandro Chaves de
Melo Ratisbona, parlamentar do Império, natural do Crato, e figura
do maior relevo em nossa história política.
© 31 de Outubro — 150 anos do trucidamento do herói Tristão
Gonçalves, ás margens do Jaguaribe, em S. Rosa, hoje Jaguaribara.
Foi o malogrado Presidente da Confederação do Equador e figura no
Panteon dos Heróis da Pátria.
O Instituto Cultural do Cariri registra essas datas e reservou para
cada uma delas as suas celebrações.
177
P R O F I S S Ã O DE FÉ Sindicato dos Bancários de Crato
“Não sou filho de grande centro NOVA DIRETORIA
citadino, nem tão pouco fui transplan­
tado, com raizes e tudo, para a orla RECEBEMOS :
do oceano. Nasci e cresci ouvindo a
canção nostálgica dos tangedores de O Sindicato dos Bancários do
bois, montado nas almanjarras dos Crato tem a honra de comunicar a
engenhos de rapadura, diverti-me com V. S. que empossou a sua nova Dire­
o matraquear dos cacetes, no MANEI- toria, eleita em Assembléia Geral, pa­
RO-PAU e puxei alfenim junto á baga­ ra o triênio 1974/76.
ceira. Só não fiz foi beber cachaça, A solenidade realizou-se na AABB,
ao pé dos alambiques caririenses, com
Crato, no último dia 19 de março,
aquele aljofre fechado, tão ao gosto
dos cabras, e de certa gente mais sendo que os novos dirigentes são os
graúda de minha terra. Tomei banhos seguintes:
em nascentes e no Poço da Escada, de DIRETORIA
Crato. Sou impregnado das cousas do
Cariri. EFETIVOS
Mas, sou cearense, da cabeça aos Presidente:
pés e orgulho-me disso.
A limitada cultura intelectual que Je ffe r s o n de Albuquerque e Sousa
possuo, em parte, é bebida neste Ceará Vice Presidente:
que tanto amo”.
(J. de Figueiredo Filho, in discur­ K leb er Maia Cabral
so na Academia Cearense de Letras). Secretário:
G eraldo Jo s é M acedo Lem os
C O N J U G A N D O Tesoureiro:
Eloi Teles Jo s é Milton Albuquerque
— eu amo SUPLENTES
tú amas
M anoel Patrício de Aquino
ele ama.
J o s é Sam paio de Araújo
nós amamos
G erald o M arques Rodrigues
vós amais
Antônio Paulino Correia F ilh o
eles amam.
CONSELHO FISCAL
— o que é o amor ? EFETIVOS
— sei l á .. .
W alãery G onçalves de Oliveira
— como conjugaste ?
Maria Amélia Ferreira
— ora, aprendí na escola.
Ruy M oreno Pinheiro
— a amar ?
— não, a conjugar. SUPLENTES
— amor existe ? Alcides Jo s é Esm eralão
— por que não ? Ju arez F erreira de Alencar
— onde ? J o s é Airton A bagaro de Oliveira
— só na conjugação.
DELEGADOS REPRESENTANTES :
EFETIVOS
Je ffe r s o n de A lbuquerque e Sousa
K leb er Maia Cabral

— olha, para falar a verdade SUPLENTES


o único professor que ensinou o amor W alãery G onçalves de Oliveira
morreu numa cruz, pela humanidade! M anoel Patrício de Aquino
178
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A briga do tempo ficou bem confi­ vocacionados, segundo o pensamento


gurada numa discussão que tive com o de alguns bispos, deviam sair do mun­
padre John. Este culpava o passado do perverso e mentiroso- Si fosse pos­
por tudo quanto há de mau no pre­ sível, deviam sair dos cueiros para a
sente. John — Nunca vi tempos piores batina. O Seminário devia ser morada
do que os nossos. Curtimos os efeitos de anjos.
acumulados do passado. Tudo estava De novo o padre Joh n respirou.
errado na Ig r e ja : padres, bispos e até Deixei-o falar sozinho. Acendeu outro
a Cúria romana. Os Concílios tam­ cigarro e continuou :
bém estavam errados e, dentre eles, o — Essa doutrina errada estava bem
maior culpado foi o Tridentino com dentro das idéias de muitos superiores
seus anátemas. Uma tradição espúri- e Reitores de Seminários. Vocação
ta colocou a Igreja fora do tempo e não era obra do Espírito Santo, mas
nós vivíamos desinstalados da realida­ chamado do bispo, pronto.
de- Vivíamos num clima de deturpa­ — Esquisito, não ? — observei eu.
ção religiosa. O povo ia por um lado — Sim, muito esquisito! Vivíamos
e nós por outro. A Igreja eram os fora do tempo. Nova bandeira fora
padres, os bispos e, no alto, o Papa. levantada contra a infalibilidade dos
O resto ficava fora, era o mundo. bispos em matéria de vocação.
Resultado: clérigos e leigos, viviam Muitas vozes se levantaram con­
distantes. Leigos, lá por fora e cléri­ tra as estruturas. Urge descer a ripa
gos cá por dentro. Eram duas para­ em tudo quanto aí está. Errada a
lelas que não se encontravam. formação dos seminaristas. Melhor é
Aqui respirou, acendeu um cigarro fechar os Seminários. Hoje muita
e prosseguiu : coisa já caiu. Até a batina caiu. As­
— O clero, pobre c le ro ! Sua for­ sistimos o alvorecer de uma Igreja
mação estava toda errada. Bastava nova, de uma liturgia nova, de uma
um fedelho transpor os umbrais do Teologia dinâmica e precisamos de
Seminário para ter direito à batina. um novo tipo de padre.
O Direito Canônico era calcado aos Aqui John parou. Parecia ter di­
pés. Seus bonitos volumes ficavam to tudo- Desabafara comigo e pensa­
nas estantes dos eruditos e seus câno­ va que o meu silêncio significava sin­
nes ficavam espesinhados. O mais tonia de pensamentos.
humilde seminarista andava de batina, Falei assim e ele respeitou meu
desde o curso primário. Sem a ton- pensam ento:
sura de clérigo, sem ter estudado si- — Tudo no mundo fica dentro de
auer a primeira página da Teologia, três fases do tempo : passado, presen ­
já andava como um vigário: sapatos te e futuro. Em qualquer dessas fases
de fivela, colarinho eclesiástico, capa e há insegurança. O presente é o livro
chapéu eclesiiásticos, faixa de seda. do pasado e o futuro escreverá a his­
Era um am o r! Mais enfeitado que tória do presente. Gente, a história
um Cardeal! Esse luxo atraia os fi­ omite o futuro, porque só relata fatos
lhos dos pobres, de tal modo que a acontecidos. Só os profetas, carismá­
pobreza, para muita gente, era sinal ticos, relatam acontecimentos futuros.
de vocação. O rapazinho e seus pais A História não consiste numa simples
enganavam o Reitor, o Bispo e todos exposição de fatos. Uma verdadeira
os padres. O gasalhoso ninho do Se­ História exige inteligência, capaz de
minário servia de abrigo contra os interpretar, fielmente, seus pormeno­
gaviões do Inferno, que vinham rou­ res e seu verdadeiro sentido. Em to­
bar a inocência dos meninos. Era da história se derrama parcela de in­
preciso defender os pombinhos ino­ teligência do h ;storiador, e da sua fi­
centes, da voracidade dos gaviões. Os losofia. História bem narrada e bem
181
interpretada é tarefa difícil. vam os espíritos. Tudo parecia incer­
“O que se passou, passou”. Só os to. Os monumentos da cultura des­
reflexos do passado podem falar do moronavam-se, a catástrofe levava tu­
presente. Certo ? O presente traz, do de roldão. Apareceu a selvageria
incontestavelmente, no seu conteúdo, do homem contra o homem. O que
uma herança do passado. Para uns, nos faz hoje falar de crise não é a
o passado errou em tudo e merece maior intensidade do nosso sofrimento
condenação total. comparado com o dos séculos passa­
Parece injusto condenar o passado dos, Temos o jornal, a televisão, as
por tudo quanto aconteceu, por tudo revistas de grande circulação e tudo
quanto vemos no presente. bate numa sensibilidade mais aguda-
John, suas invectivas me parecem Abominamos hoje certas crueldades
injustas. Sabemos que essa mania de que os séculos passados aceitavam sem
criticar o passado caracteriza os tem­ contestação.
pos de transição. E estamos neste ea- O passado, pelo simples fato de
so- Parece que estamos cometendo ser passado, é velho. O futuro não é
grande injustiça para com os benfei­ pátria do certo, mas apenas do possí­
tores do passado. Eles não erraram vel e do provável. Certas doutrinas
em tudo. Somos também herdeiros e certos acontecimentos levam em si
do bem que fizeram. ® quem pode o germe do fracasso. A Revolução
garantir que tudo quanto fazemos está Francesa trouxe o germe do Capitalis­
certo ? Que tudo é bem feito ? O mo. O capitalismo trouxe o fermento
historiador deve ser imparcial, arguto, do socialismo e do Marxismo. Esta, a
inteligente e justo. Sem uma grande dialética da História.
cultura ninguém será grande historia­ Os homens do presente estão co­
dor. Lá no passado é que se encon­ metendo um grande erro : culpam a
tra a pedra angular de muitas cons­ Igreja do passado e esquecem-se de
truções que resistem ao tempo e che­ que estão assumindo grande responsa­
gam até nós com galhardia. bilidade para com a Igreja do futuro.
Os grandes santos estiveram certos A Igreja é uma instituição que carre­
e a Igreja ainda hoje lhes presta me­ ga no bojo elementos humanos e di­
recido culto, como heróis. Francisco vinos. De qualquer forma está den­
de Assis e seus seguidores levaram tro da História e a História humana
uma vida santa. Convencidos de que não risca a linha divisória entre o
o mundo andava mal e mergulhado humano e o divino. Os nossos erros
numa grande crise moral e religiosa, humanos se refletem nos planos divi­
ergueram-se às culminâncias do heroís­ nos. O homem pode atrapalhar os
mo. A história registra uma crise sem planos de Deus, para infelicidade
precedentes no tempo de São Fran­ nossa.
cisco e aquela situação não podia con­ A nossa geração atingiu um ponto
tinuar. Estava certo o santo, e pode­ crítico da sua evolução. Incontesta­
mos generalizar, estavam certos os velmente há uma concatenação de elos
santos e merecem os louvores e os na sucessão dos tempos. O passado
agradecimentos de todas as gerações. exerce influência sobre o presente e,
A “Peste Negra” que varreu a Europa não esqueçamos, que é deste presente
no meiado do século XIV, destruiu que vai depender o futuro. Sobre ca­
mais vidas do que a bomba atômica da um de nós há duas influências.
no Japão e deixou a sensação de com­ Uma hereditária e outra adquirida.
pleta insegurança, de abandono total. Uma que herdamos e outra que cons­
Uma crise de intensidade jamais vista truimos- E os anátemos do presente
naçue'e tempo revelou-se a quem quer sobre as gerações passadas são negra
que estude os anos em que viveu Ale- injustiça, especialmente se pretende­
xandro Bórgia; o mesmo aconteceu no mos especificar este ou aquele fato, es­
fim da era vitoriana, aparentemente ta ou aquela estrutura, este ou aquele
tão calma por volta de 1880. O con­ •Concilio. Muitos males de hoje, nas­
flito da ciência e da fé, o advento do ceram hoje. A História é um processo
trabalho não qualificado, a emancipa­ indefinido, no dizer de Hans Kohn,
ção da mulher e outros fatos turba­ partindo da escuridão para a luz. Ca-
182
Salve Crato, cidade Princesa,
município modelo do Ceará!
NAPOLEÃO TAVARES NEVES
Por desvanecedor e honroso convi­ ço da civilização caririense, e onde to­
te do vosso companheiro e meu parti­ dos temos fincadas as raizes mais pro­
cular amigo, Dr. Jefferson de Albu­ fundas dos nossos conhecimentos, au-
querque, aqui estou diante vós para ridos nos seus modelares e tradicio­
alguns instantes de ameno e salutar nais estabelecimentos de ensino, nos
convívio. debates cívicos das suas praças públi­
Pessoalmente, alegro-me por estar cas ou no convívio morno e acoche-
entre vós, porque é sempre bom vol­ gante da sua depurada sociedade.
tar a Crato. É sempre salutar para ■ Crato foi, é e sê-lo-á no porvir me­
para todos nós o convívio desta gente trópole regional, fonte irradiante de
amiga nessa encantadora cidade, nas­ cultura, de civilização e de progresso.
cida do pioneirismo de Frei Carlos O sangue dos seus m ártires fê-la
Maria de Ferrara para o nosso deleite. grande, de grandeza incomensurável,
É sempre motivo de indizível júbilo irreversível e indestrutível porque o
voltar à terra amiga de todos nós, ber- heroísmo humano não é valor que
possa ser esquecido !
O seu passado de luta e de civis­
da tempo novo ilumina o tempo que mo já lhe garantiu um lugar sem dis­
se foi. O padre deve mudar os óculos puta no cenário nordestino.
quando a vista pede outro grau. Nada Não adianta tentar escurecer esta
de interpretação isolada. Só encon­ verdade porque a verdade triunfará
tramos sua justa interpretação dentro sempre, apesar dos seus al&ozes.
do contexto universal, à luz da fé, e Esta sim, é uma terra de socieda­
da ética. A tradição não é estática. de já realmente sedimentada, cujas
Evolui e os homens vão encontrando raizes buscam energia e vitalidade em
nova verdade ao descortinar panora­ um passado glorioso que é patrimônio
mas do tempo futuro. nacional e que lhe confere o selo da
Cristo prometeu assistência à sua perenidade.
Igreja até 4 consumação dos séculos. Outros poderão ter asas, mas
Assim cada geração tem a sua histó­ Crato tem raizes que simbolizam fir­
ria e fica responsável por sua vitória meza e solidez para não dizer perpe-
ou pelo seu fracasso. tuidade !
Afinal, quanto aos males que nos Crato é Crato mesmo porque Crato
assolam, não culpemos somente o pas­ é sua melhor definição, Crato inimitá­
sado. Não atiremos o passado pela ja ­ vel1, Crato indesfigurável, Crato das Es­
nela. Somos nós também responsáveis colas Superiores, Crato de modelares
pelos males da Igreja no presente. A estabelecimentos de ensino, Crato do
Crise do clero não corre únicamente, Instituto Cultural do Cariri ao qual
por conta do passado. O presente se me orgulho de pertencer, Crato dos
projeta como mero desafio à capaci­ corais que, cantando encantam e ex­
dade intelectual, à prudência dos pa­ portam arte, Crato do Club Recreativo
dres de hoje. Grangeiro, sala de visita do Cariri,
As gerações futuras nos pedirão Crato da Exposição Centro Nordestina
conta do presente. de Animais, Crato de rica rede hospi­
“Com a medida com que medirdes talar do mais alto gabarito, Crato dos
os outros, sereis medidos” no futuro- jornais que persistem, Crato das livra­
183
rias que não falem mas se multiplicam, F . S. Nascimento Eleito para a
coisa rara no interior, Crato das re­ Academia Cearense de Letras
vistas Itaytera e Região, Crato da Fun­
dação Palre Ibiapina, Crato da puj an­ A Academia Cearense de Letras
te Associação Comercial, Crato que tem, desde o dia 12 último, um novo
mandou Sérvulo Esmeraldo, meu ex- imortal. Trata-se do escritor Francis­
colega, crescer em Paris tendo o mun­ co de Sousa Nascimento (F. S. Nasci­
do como palco e Humberto Barreto e m ento), crítico literário e autor do li­
Nertan Macedo integrarem a equipe do vro A EXTRUTURA DESMONTADA.
Presidente Ernesto Geisel empossado Vai ocupar a Cadeira 38, cujo patrono
na Presidência da República para é o jornalista Tiburcio Rodrigues e
tranquilidade da fam ília brasileira, que teve como último titular o profes­
Crato, metrópole cosmopolita onde o sor Francisco de Meneses Pimentel.
Cariri nasceu, onde a Pátria gestacio- O sr. F. s. Nascimento foi eleito
nou a República no idealismo sem par com 34 sufrágios, sendo 17 por procu­
dos seus heróis, onde a Liberdade foi ração e a decisão da Academia foi-lhe
fecundada no sacrifício de Bárbara de comunicada oficialmente no dia se­
Alencar, de Tristão Gonçalves e tan­ guinte.
tos outros, onde a civilização nordesti­ No decorrer da reunião do dia 12
na fez estágio de maturidade, onde a 11.73 da Academia, foram declaradas
cultura regional se concentrou para se vagas duas Cadeiras, as de número 34,
difundir, constantemente alimentada Patrono Samuel Uchoa, em virtude da
pelas tradições de um passado repleto morte do acadêmico J. de Figueiredo
de grandeza, sustentado por fantástico Filho, e a de número 8, patrono Do­
potencial humano e que daqui se irra­ mingos Olímpio, em decorrência do
diou por esses Brasis afora criando falecimento do Acadêmico Fernandes
grandezas novas alhures, ensinando Távora-
brasilidade, pregando civismo, amando (NOVEMBRO — 73)
a Liberdade e sublimando o Direito nas
conquistas da independência e na con­
solidação da República ! militares e religiosos.
Crato é a terra natal de todo ca- Por tudo isto, Crato, eu te saúdo
ririense porque aqui o Cariri nasceu com profundo respeito e nesta hora
para o Brasil, razão porque os seus de lazer e confraternização te repito
trinunfos são triunfos de todos nós ao ouvido aqueles versos magistrais
que vemos neles os triunfos das nossas nascidos para ti da gratidão e do estro
diferentes comunas, consubstanciados grandiloquente do meu parente, poeta
no cosmopolitismo da Princesa do Ca e orador, Juarez Ancilon Aires de
riri que hospedou o idealismo e os so­ A len car:
nhos da minha geração aqui trazida
pela luz sempre viva e vigilante do N este século fa n tá stico d e heróis,
antigo e inesquecível Ginásio do Crato, Quando o século d ezoito o véu rom peu
sob a tutela sábia de Monsenhor Mon- E a estrela d a m a n h ã surgiu n os céu s
tenegro, incansável semeador de au­ C larean d o o s sertões, C rato nasceu.
roras-
Esse modelar e tradicional edu- E ia ! Província d os C ariris N o v o s ...
candário transformou-se no celeiro De B a rba lh a, d e Jard im , d e E x u !
inesgotável onde a Nacionalidade veio C am in h a o h ! Cidade C apital
buscar valores múltiplos que a engran­ Para o p rog resso — teu p o rto seguro
deceram aqui, ali, além, por toda parte Onde se lê a leg en d a im o r t a l!
e em todos os setores da atividade hu­
mana. Nele a vida pública brasileira H eróica p elo passad o
veio buscar dezenas de prefeitos, depu­ G rande p elo p resen te
tados, governadores, secretários de Es­ Im en sa p elo fu t u r o !
tado, ministros, senadores, além de ar­
tistas plásticos, jornalistas, empresá­ (Saudação pronunciada no Rotary
rios, escritores e intelectuais de toda Club do Crato no dia 22 de Março de
ordem, técnicos e profissionais liberais, 1974).
184
História de Mangabeira
R . P E D R O S A
Até 1803 o atual distrito de Man- leste com o Sítio Macacos e ao oeste
gabeira, pertencia aos herdeiros do com o Sítio Malhada Bonita, que fica­
sargento-mór Custódio Alves Martins, va ao sopé da serra Negra.
filho que era, de Bartolomeu Nabo, o Antônio Felix Vieira tomou posse
donatário da sesmaria do Icó. do Sítio São José em 1803, instalan­
Custódio Alves Martins foi senhor do-se mais ou menos no centro, lugar
de 3 léguas de terras no Boqueirão da onde construiu a casa grande e existe
Serra, abaixo uma légua da cidade de h oje a “Vila de Mangabeira”.
Lavras, estacionára-se alí em 1707. (1) A casa grande foi construída em
'Estas terras que constituem o atual tacaniço e taipa, com quatro águas e
distrito de Mangabeira, eram devolutas, alpendre ao redor, situava-se no local
(2) vindo então a se apossarem delas, onde atualmente existe a residência do
o sargento-mór Custódio Alves Martins senhor Joaquim Vieira; atrás do Ins­
e seus descendentes. tituto São José.
Assim continuaram até 1803, um “Construída em estilo brusco, bem
século depois, quando foram vendidas alta, de largas portas e paredes espes­
ao pernambuco ANTONIO FE L IX VI­ sas, rodeada de largos alpendres que
EIRA, que aqui chegou neste ano. serviam de abrigo aos “comboeiros” e
Antonio Felix Vieira era filho de ainda para o recolhimento dos carros
Manoel Vieira da Costa, senhor de en- de boi, bastante usados naquela épo
genhho em Vitoria de Santo Antão, ca. (5)
Pernambuco. (3) Casou-se com Maria Felix Vieira da Costa, que tinha
Joaquina do Espírito Santo, pernam­ acompanhado o irmão, comprou um
bucana desta mesma cidade. sítio na Ribeira do Riacho Machado,
Chegou Antonio Felix Vieira na lugar depois conhecido por Caninde-
cidade de Icó em 1802, acompanhado zinho, onde instalou-se com a família.
da mulher e um irmão, Felix Vieira da Antonio Felix Vieira e sua mulher
Costa. Comprou neste mesmo ano, Maria Joaquina do Espírito Santo, ti­
aos herdeiros do sargento-mór Custó­ veram cinco filhos;
dio Alves Martins, este “Sítio São Jo ­
sé” pela quantia de 40 mil réis; sendo — Manoel Vieira da Costa Neto
que ainda juntaria ao preço, “uma — Tereza Vieira da Costa Lima
quarta de milho e um cavalo russo”, — Ana Maria de Oliveira Gomes
(4) que trouxera desde Pernambuco. — Jo sé Felix Vieira Moreira
O dito sítio media duas léguas de — Antonio Felix Vieira Filho-
frente por uma légua de fundo, extre­
mando ao sul com o ôlhô d’água das Manoel Vieira da Costa Neto, ca­
Amesclas, na Serra do mesmo nome, sou-se com Joana de Souza Lima entre
ao norte com o Riacho Machado, ao os anos de 1807 e 1810, e ficou moran-

(1) Antonio Bezerra “Algumas Origens do Ceará”, pág. 105. Publicado em


1918.
(2) Antonio Bezerra “Algumas Origens do Ceará”, pág. 87. Publicado em
1918.
(3) O irmão de M aria Joaquina do Espirito Santo, que era vigário em Vitória
de Santo Antão, resolveu ANTONIO FE LIX VIEIRA que “roubaria” a noiva
para casar-se, quando foi ajudado pelo irmão, razão pela qual não poderam
continuar morando nesta cidade.
(4) Este documento ainda foi visto pelo senhor Raimundo de Souza Mangueira
“DERINHA” vindo a desaparecer logo depois.
(5) Lourival Batista, “ORIGEM DE MANGABEIRA”. FORTALEZA, 1960.
185
do na casa grande. Foi o fundador no sítio Malhada Bonita. Tiveram um
da capela que deu origem à vila. filho :
Foram 7 o número dos seus filhos:
— Felix Antonio de Lima.
— José de Souza Reis
— Alexandre Vieira da Costa Dos filhos do Cel. Antonio Felix
— Mateus Lopes Vieira Vieira o único que ficou morando com
— Maria Joaquina da Anunciação ele, na casa grande, foi Manoel Vieira.
— Genoveva de Souza Lima Como na divisão das terras cada filho
— Delfina Maria de Souza Lima ficou com o sítio onde morava, o “Sí­
— Ana Isabel do Espírito Santo tio São Jo sé” passou a pertencer a Ma­
noel Vieira da Costa, que aí morava
Tereza Vieira da Costa casou-se tranquilamente até 1860, quando surgiu
duas vezes, e fixou-se no Sítio Lages, uma epidemia chamada “cólera” da
a dois Kms. de Mangabeira. qual pelo menos 60% da população dos
Seus filhos do primeiro casamento sítios vizinhos foi vítima.
foram : “O terrível mal já parecia invencí­
vel. Esgotados os meios de combate
— Venancia Vieira, conhecida co­ àquela doença, o Cel. Manoel Vieira
mo “MÃE VELHA” Costa, homem de grande estima, fêz
— Viturina Vieira uma promessa a São Sebastião pedin­
— Vicência Vieira do-lhe Que livrasse o povo daquela
— Ana Rosa Vieira mortandade, pois em troca, levantaria
— Maninha uma capela oferecendo-lhe o altar da
— Dondon mesma” (6)
— Manoel Duarte Satisfeito o seu pedido, começou
— Antonio Felix sobrinho logo no ano seguinte a construção da
— José de Souza Leitão capela. Esta porém só veio a ser inau­
gurada em 1863, devido a licença que
do segundo casamento : teve de ser concedida pelo arcebispo
metropolitano em Fortaleza, na época
— Bernardo de Oliveira Lima D. Antônio Luís dos Santos. Por este
— Joaquim Bernardo da Costa motivo é que a inauguração da cape-
— Belizário de Oliveira Lima linha só veio a ser feita em 20 de Ja ­
neiro de 1863, com missa solene cele­
Ana Maria de Oliveira Gomes, ca­ brada pelo Revmo. Frei Clàudino, ca­
sou-se com João Gomes da “Estrada” puchinho O F . M. que chegou até S.
assim conhecido porque construiu sua José em um carro de boi.
casa à margem da “Estrada R eal” que Com a fundação da capela o Cel.
passava no sítio Taquarí, lugar onde Manoel Vieira da Costa doou à curia
constituiu família. da Arquidiocese de Fortaleza 150 por
Tiveram quatro filhos : 500 braças de terras, que formava com
a capela, o patrimônio de S. Sebastião.
— Pedro Antonio Pertenceram estas terras à diocese até
— Manoel Florencio 1922.
— Joaquim Gonçalves A capela primitiva era de alvena­
— Joãozinho do Taquarí ria e se constituía do corpo central da
atual matriz; rebocada só pela parte
José Felix Vieira Moreira, consti­ interna, ainda continuaria até 1890 com
tuiu família e fixou residência no sítio o exterior em tijolo aparente.
Macacos. Teve um filho : A primitiva Imagem de S. Sebas­
tião, esculpido em madeira, media 35
— Agostinho Moreira ems. de altura e veio de Fortaleza em
1862.
Antonio Felix Vieira Filho casou- Até 1870 os únicos prédios existen­
se com Maria Luiza e ficou morando tes na localidade eram : a casa gran-

(6) Lourival Batista, “ORIGEM DE MANGABEIRA”. FORTALEZA, 1960.


186
de do Cel. Antonio Felix, onde morava que tinha sido construído no ano an­
o seu filho, Cel1. Manoel Vieira e a ca­ terior. Este foi fundido em Recife de
pela construída por este em 1863. Neste onde viera.
ano porém, casou-se uma filha do Cel. No final do século passado a po-
Manoel Vieira, Genoveva de Souza Li­ voação se constituía de 3 casas de tai­
ma, com Raimundo de Souza Nogueira, pa e a capela, único prédio em alve­
que morava antes no sitio Corregos, a- naria.
tual município de Cedro; construiu As casas eram: a primitiva resi­
este a sua casa, no lugar atualmente dência do Cel. Antonio Felix, onde
ocupado pela casa paroquial. morava um seu neto, Bernardo de Oli­
Casa grande, de taipa e largo al­ veira Lima.
pendre que dava para o nascente, fi­ A casa de Raimundo de Souza
cando as suas biqueiras bem próximas Mangueira, casado com uma neta do
às da capelinha. mesmo coronel. Sua casa ficava nas
Em 1885 morreu o Cel. Manoel Vi­ proximidades da Igreja, como ficou
eira e a direção da capela passou para dito aqui atrás.
o seu genro, Raimundo de Souza Man­ A casa de Alexandre Vieira da
gueira. Costa, também neto do mesmo cel.
Homem muito estimado por todos Sua casa ficava nas proximidades da
na região, começou por arrecadar fun­ atual Farmácia de Alexandre.
dos para a ampliação da capela pri­ No princípio do século a festa do
mitiva, que a esta altura já se torna­ padroeiro começou a despertar maior
va pequena quando na celebração de interesse por parte dos habitantes dos
alguma missa ou nas novenas do pa­ sítios vizinhos, que na casa de Rai­
droeiro, São Sebastião, rezadas anual­ mundo de Souza Mangueira faziam o
mente de 11 a 20 de janeiro. seu ponto de encontro quase semana!
Em 1880 chegou em S. José o pri­ e na “Festa de Janeiro” nome que daí
meiro mestre-escola que alfabetizou por diante tomaram as novenas de S.
por toda esta região. O preto-velho Sebastião, por serem celebradas neste
Joaquim Beato, homem bom e piedoso, mês, a sua maior festa popular que se
o que lhe valeu a alcunha de “beato”. conservou até hoje, o ponto de encon­
Morou aqui até 1890 quando mudou-se tro anual das famílias das “redonde­
para a ribeira do Riacho Machado. zas”.
Em 1890 com as esmolas arrecada­ Deixemos que José Batista Lima a
das e por sua conta própria, construiu descreva. (7)
Raimundo de Souza Mangueira, as “A partir de 1900 as simples no­
partes laterais, a fachada, o campaná­ venas de S. Sebastião passaram a ser
rio e o cruzeiro que existia na frente chamadas de “Festa de Janeiro”, e
da capela. Conjunto arquitetônico de surgiram as noitadas.
uma harmonia e graciosidade admirá­ Durante as noitadas as seis pri­
veis, na sua simplicidade de linhas. meiras noites de festas eram dirigidas
■ Conservados até 1971 quando foi des­ pelos seis cidadãos de maior destaque
truído criminosamente pelo atual vigá­ na vila ou nos sítios vizinhos.
rio. As três últimas eram respectiva­
No ano seguinte, ou seja, 1891, um mente: a do fogueteiro, a dos comer­
sobrinho do fundador da capela, Jo a ­ ciantes, e a da rapaziada.
quim José, filho de Pedro Antonio, ir­ Nas noites dos cidadãos de desta­
mão de PEDOCA DOS TORRÕES e que soltava-se um balão, após a nove­
bisneto do Cel. Antonio Felix Vieira, na, juntamente com muitos fogos e
fez doação do sino para o campanário baterias. Terminadas estas cerimônias

(7) José Batista Lima, “Festa de Janeiro”, 1973.


Além das fontes acima citadas, para escrever este artigo o autor entre­
vistou os senhores: José Duarte de Souza (ZECA), José Duarte, Raimundo
de Souza Mangueira (DERINHA), Edson Luís, Alexandre Vieira, Maria José
Pinheiro Pedrosa, pessoas as mais credenciadas, e a quem agradece a cola­
boração.
187
todos se dirigiam para o local em que sítio onde morava. Era filho do Cel.
hoje está o obelisco. Alí o chefe da Manoel' Vieira, construtor da primeira
noite estava numa cadeira especial pa­ capela. Neto do Cel. Antonio Felix
ra ser homenageado. O povo fazia que fora dono de todo o atual distrito
uma grande fila e, empunhando cada de Mangabeira.
uma, velas acesas, as pessoas tinham Em 1905 chegou a S. José o segun­
pela frente uma moca que entregava do mestre-escola, Amâncio Ferreira
um ramalhete de flores ao senhor sen­ Lima, que instalou-se, constituindo
tado, durante o tempo todo o “caba- família no lugar conhecido por Ladei­
çal” acompanhava tocando, enquanto o ra do Amâncio”.
povo cantava: Em 1908 o Cel. Joaquim José de Ve­
ra, de família cratense, casou-se com
“QUE RAMO É ESTE uma neta de Tereza Vieira da Costa,
e por isso morava no sítio Lages; re­
QUE VAI SE ENTREGAR solveu construir também uma casa em
SÂO SEBASTIÃO S. José. O lugar escolhido foi ao lado
da loja de José Raimundo Mangueira,
Vai-SE FESTEJAR”. que a tinha construído em 1903.
Em 1909, ou seja, no ano seguinte,
A noite do fogueteiro distinguia-se o Cel. Antonio de Souza Reis, filho do
das demais pela balbúrdia do grande juiz distrital José de Souza Reis, re­
número de fogos, baterias, rodas de solveu também construir uma casa em
fogos e balões. A dos comerciantes S. José, fazendo-a em alinhamento com
também era muito festejada. Porém as outras anteriormente construídas,
a noite mais alegre sempre era a últi­ no lugar onde atualmente mora a se­
ma, a da rapaziada. nhora Vitalina Guedes.
O ramo de flores que era entregue Em 1910 Felix Antonio de Lima,
ao chefe, era levado por aquele que filho de Antonio Felix Filho, resolveu
recebia, no dia seguinte antes do povo também construir uma casa no povoa­
despertar, o possuidor ia às escondidas do de S. José. Morava anteriormente
depositá-lo no altar da capela. E as­ no sítio Malhada Bonita, sítio herdado
sim acontecia até a última noite”. do pai, que por sua vez era filho do
Em 1903 um filho de Raimundo Cel. Antonio Felix, o Adão deste dis­
de Souza Mangueira, José Raimundo trito.
Mangueira, resolveu construir a pri­ Desde o começo do século começa­
meira casa de alvenaria, que passou a ram a chegar em S. José, famílias de
funcionar como loja de tecidos e mer­ outros lugares, que aqui fixaram resi­
cearia. dência, contribuindo para o desenvolvi­
Paralelo com este prédio, Tomaz mento do comércio, da cultura, e en­
Bernardo de Oliveira, filho de Bernar­ riquecimento do folclore local.
do de Oliveira e sua mulher Ana Isa­ Assim é que incorporou-se à vida
bel, bisneto do cel. Antonio Felix, cons­ e ao folclore mangabeirense a “banda
truiu um quarto, grande, onde funcio­ cabaçal”, esta foi organizada por José
nava uma panificadora. Fernandes, paraibano que se casou
Ainda José Raimundo e seu irmão com Ana de Lima Fernandes, da famí­
Pedro de Souza Mangueira, construi­ lia local, e por isso fixou residência
ram três casas ao oeste da capela, fi­ em S. José. Era êle ainda o organi­
cando estas, por trás da primitiva re­ zador das nossas festas de reizados
sidência de Raimundo de Souza Man­ ajudado por um outro seu conterrâneo
gueira. Em alinhamento porém, com que passou a morar em S. José desde
as duas já existentes; nasceu assim 1912, João Pereira, que ficou famoso
a primeira rua do povoado de São nas Festas de Janeiro, por dançar o
José. “Caboré” pelas calçadas, pedindo esmo­
Em 31 de Agosto de 1904 começou las p’ra S. Sebastião. Façanha repe­
a funcionar em S. José o primeiro car­ tida muito depois pelo “Juca”.
tório, que só fazia casamento, e tinha Alguns lugares nos arredores do
como juiz distrital José de Souza Reis, povoado ficaram conhecidos pelos no­
“o velho Souza do Limoeiro” nome do mes destes forasteiros que aqui se ra­
188 N
dicaram, é o caso da “Lagoa do Beato” naquele ano.
a “Ladeira do Amâncio”, etc. Esta escola foi arranjada por in­
Em 1910 chegou ao S. José o se­ termédio do Sr. Gustavo Corrêia Lima,
nhor Pedro de Oliveira Lemos, que deputado estadual e filho da cidade de
morava anteriormente no Riacho do Lavras.
Sangue. Era este, sobrinho de Rai­ A quinta professora de S. José, e
mundo de Souza Mangueira, construiu segunda da Escola Pública, foi a se­
sua residência no lugar onde morava nhora Vivência Motta.
até pouco tempo José Luiza. Ao lado, Em 1912 instalou-se em S. José o
montou uma “Bolandeira” primitiva grupo industrial B. JUCÁ & CIA. Ten­
máquina puxada a bois, para benefi- do como presidente o Senhor Manoel
ciamento de algodão. Cidrim de Castro Jucá. Explorava os
A mercearia do senhor José Rai­ ramos de tecidos, cereais, farmácia,
mundo Mangueira, que tinha sido cons­ compra e beneficiamento de algodão.
truída em 1903, já era pequena para A usina para beneficiamento de
a afluência dos moradores de sítios algodão era movida à vapor, foi ins­
vizinhos, que aí faziam suas compras talada ao lado direito da capela, lu­
e seu ponto de encontro nos fins de gar onde existiu anteriormente peque­
semana. Local onde se discutiam os no cemitério.
problemas locais, onde se tinha notí­ Em 1923 foi lançada a pedra fun­
cia de uma rês perdida, onde se mar­ damental do “Mercado Público” incen­
cava um encontro, onde se faziam e tivado pelos senhores Eernardo e Ma­
desmanchavam-se os negócios. ncei Cidrim de Castro Ju cá. Logo de­
Como ficou claro, o prédio já es­ pois do lançamento da pedra funda­
tava pequeno para a freguezia que aí mental, foram construídos os três pri­
se reunia, e por isto é que em 1911 meiros prédios do novo mercado.
resolveram os moradores do povoado Em 1924 foi fixado o dia para a
construírem em frente à capela (onde feira livre, tendo sido escolhido o Do­
hoje se encontra o obelisco) uma la- mingo, uma vez que aos sábados a
tada coberta com palhas de carnaúba feira na sede era do município, Lavras.
que servia para a feira dos domingos, A firma B. JUCÁ & CIA. assegurava
dia em que todos faziam as suas com­ a compra dos produtos trazidos para
pras da semana. a feira e que por ventura não fossem
Foi com a construção deste barra­ vendidos.
cão que surgiu na história de S. José Em 1925 um incêndio nos depó­
um personágem que faz parte do fol­ sitos e máquinas da firma B. JUCÁ
clore local. “A preta Felisbela” vinha & CIA. a destruiu totalmente. Depois
sempre no sábado à noite, do sítio destes acontecimentos, Bernardo Ju cá
Canindezinho, onde morava, e durante mudou-se para Lavras, e Cidrim con­
o domingo vendia aos que vinham fa­ tinuou morando em S. José, onde tinha
zer a feira, café, bôlo chapéu de couro, loja de tecidos, até 1932.
doce sêco com tapioca, e outras igua­ Em 1927 o povoado de S. José ti­
rias. nha, 6 lojas de tecidos, 22 mercearias,
Foi a primeira “cafezeira” do po­ e o consumo de carne nas feiras se­
voado. Tema que mereceu um profun­ manais chegou por esta época a 10
do estudo sociológico. bois semanais.
Depois de 1910 tivemos o terceiro Em 1934 o Presidente da República
me=tre-escola, a professora “Maria Nê- do Brasil, senhor Getúlio Vargas ele­
guinha”, nome carinhoso pelo qual era vou o “Povoado de São Jo sé” para
conhecida de todos. “Vila de São Jo sé”, visto que tí­
Em 1918 porém, funcionou a I a es­ nhamos aqui, igreja, cemitério, cartó­
cola pública de S. José. A prof. Agá Cais rio, e quase duzentos prédios habita­
de Oliveira, tia do atual Governador do dos.
Ceará, foi a ouarta mestra do povoa­ Em 1944, um decreto do mesmo
do. Veio de Fortaleza acompanhada Dr. Getúlio Vargas, fez com que a
pela sua mãe, mais só ficou aaui até “Vila de São Jo sé” passasse a “Vila
1919, quando foi obrigada a voltar de­ de Mangabeira” nome até hoje con­
vido à sêca que assolou toda a região servado.
189
ii

Lms pa t o
Tomei cedo conhecimento da vida mos. Pensei que Otacílio Anselmo ti­
do Cangaço. Meu pai, homem da roça, vesse feito ponto final nas arengas
íoi incumbido de parlamentar com caudilhescas do Ceará. Mas Nertan
Lampião, em Belém de Guarabira. vem agora com a biografia do baiano,
Depois, alfabetizado, li os folhetos de o “Doutor”, trazendo fotos novas e
feira. Só muito mais tarde, quando novidades novas que nos alarmam, pa­
alguma substância me chegava à ca­ ra a futura história do caudilhismo
beça, li “Terra de Sol”, o grande e Hispano-Americano da vida republica­
imortal livro do meu fraterno e sau­ na do Brasil. Duas afirmações não
doso amigo Gustavo Barroso. Daí por aceito: quanto ao depoimento de Lam­
diante, à medida que os conhecimen­ pião sôbre José Pereira Lima, de Prin­
tos humanísticos cresciam e a ação cesa, na Paraíba, que não era absolu­
jornalística na capital paraibana e no tamente o que êle diz, e quanto ao
Recife, novas etapas surgiam-me, como assassino do Padre Aristídes, de Pian-
conhecimento da fenomenação caudi- có, pela Coluna Prestes, uma vez que
Ihesca do Nordeste, tema do meu en­ o Padre Manuel Otaviano, figura das
saio inédito “Introdução à História maiores tías letras nordestinas, adver­
Política da Paraíba”. Nertan Macêdo sário do Padre Aristides, no seu livro
é, dos pesquisadores sérios do Brasil, “Mártires de Piancó” dá-nos versão
o mais preciso, sobretudo no que tan­ mais segura, dado ter sido testemunha
ge ao estudo sociológico do Ceará. ocular dos acontecimentos. Floro, co­
Afirmei há dias ao dr. Pompeu de mo se pinta no romance de Nertan
Souza a grandeza literária da sua ter­ Macedo, nada mais é senão o Pinhei­
ra, justificando as minhas afirmativas. ro Machado mirim do Ceará. Baiano,
O cangaço, beatos e cangaceiros, é te­ médico, fracassado, inteligente, viu no
ma hoje estudado e definido, faltando Padre Cícero a motivação da sua as-
apenas relacionar o local com o na­ cenção. Foi, viu e venceu. Nada mais.
cional. O caudilhismo não era cea­ Quanto à política, era a mesma no
rense nem paraibano, era, sim, bra­ Ceará ou na Paraíba, ou em Goiás.
sileiro, depois da República. O livro Escandalizam os fatos. Um presidente
de Otacílio Anselmo, sôbre o qual' es­ da República dando mão forte a can­
creví, na minha opinião, é o grande gaceiros . . . Graças a Deus, nesse par­
depois de Gustavo Barroso. Mas Ota­ ticular, o Brasil evoluiu muito. Jam ais
cílio, bom pesquisador, é polêmico. voltará a Pinheiro Machado, Brizola
Nertan Macedo difere na sua grande “et caterva”. Somos hoje um País
obra. Suas pesquisas são magistrais, crescendo para o grande futuro que
imprescidíveis ao estudo futuro da his­ nos aguarda. O pesquisador amadu­
tória do Brasil que não se escreveu recido e honesto Nertan Macedo vem
ainda. Seus estudos sôbre Lampião e prestando grandes serviços às letras
Antônio Conselheiro são panorâmicos. nacionais com os seus livros, dos me­
A origem dos Maciel é obra definitiva. lhores e mais sérios que temos. Sou
Andei por Fortaleza, em 1958. Fiz duas nordestino, dedicado à região, conhe­
conferências na terra de Iracema ço os fenômenos que por lá se passa­
Dolar Barreira, que saudade, Raimun­ ram e sei que, os isolar, é desservir
do Girão, Abelardo Montenegro, o po- à Pátria, mas estudá-los serenamente
lígrafo, terra e gente, amor e vida. é possibilitar a harmonia de um julga­
Agora leio “Floro Bartolomeu”, o mé­ mento definitivo.
dico caudilho, da Bahia, enclausurado
em Juazeiro do Padre Cícero. É livro
de pesquisas dos maiores que possui- Diário de Notícias - Salvador - BA.
190
LOJAS AZTECA
9

C a lç a d o s e C o n fe c ç õ e s

ARTIGOS PARA PRESENTES E VIAGENS


A Cidade de Frei Carlos 77
//
A vo am en to do C a riri 77
J o a r y v a r M a c ê d o

Bem h aja a Faculdade de Filoso­ plagas sul-cearenses, há de encontrar,


fia do Crato pela publicação das obras à farta, os rastros do Padre Antônio
completas do Padre Antônio Gomes de Gomes, em notas à margem, sublinhas
Araújo. Idealizada aquela pelo cére­ e sinais. Efetivamente, por demais
bro do Prof. José Newton Alves de pesquisou o ilustre caririense. E, em
Sousa, e editadas estas pela Imprensa que pese a implacabilidade do tempo
Universitária, da Universidade Federal que lh e não ensejou — como ele pró­
do Ceará, é empreendimento da mais prio no-lo assegura — a organização
alta significação para a historiografia de todo o resultado de suas andanças
regional. pelo mundo poento dos alfarrábios, em
Na verdade a história do Cariri quantidade, produziu razoavelmente, e,
cearense só se tornou, realmente, co­ em qualidade, excessivamente.
nhecida, após as investigações do Pa­ Agora a Faculdade de Filosofia do
dre Gomes. Este, mergulhado, com Grato, por ocasião das festividades co­
beneditina diligência e com sacrifício memorativas do 149 aniversário de sua
das horas do lazer, nas fontes primá­ instalação, patrocina o lançamento dos
rias que permaneceram dois séculos à dois primeiros volumes da obra impe-
espera de um garimpeiro, delas extraiu recível do seu emérito professor e vi­
preciosidades, e não só elaborou tra­ ce-diretor : “A Cidade de Frei Carlos”
balhos, em sínteses verticais e modu­ e “Povoamento do Cariri”, o primeiro,
lares, mas também propiciou aos de­ vez que anteriormente chegado, já li­
mais que se ocuparam da história do do por alguns, sem, no entanto, ter
Ceará meridional os frutos de suas sido lançado oficialmente, porquanto
escavações. É o caso de Irineu Pinhei­ se aguardava o segundo para lança­
ro e J . de Figueiredo Filho, entre ou­ mento conjunto.
tros. Não fora a formalidade e a praxe,
Com efeito o velho escafandrista, não se fazia preciso apresentá-los ao
vasculhando os arquivos daqui e d’a- público, por isso que os livros do Pa­
lém, examinando, amiúde, livros, au­ dre Gomes já trazem em si todas as
tos, etc., vários deles, fragmentados e credenciais. E, se isso não bastasse,
quase ilegíveis, “mudou o curso dos para termos idéia da grandiosidade dos
estudos sobre a formação histórica estudos do Padre-Mestre, seria suficien­
deste Vale”, procedeu a retificações te ler a introdução, de Jo sé Newton
neste particular, colocou luz onde ha­ Alves de Sousa, o prefácio, de José
via trevas. Destarte, pediu a mão à Denizard Macêdo de Alcântara, e as
palmatória a Antônio Bezerra, João apreciações, de F. S. Nascimento.
Erigido, Gustavo Barroso e outros Lede e atentai as palavras desses
mais. luminares. A mim, permiti-me d;zer
Quem, como eu, se dá ao mister apenas que livros como estes a todos
de perlustrar o acervo arquivai destas nós, nos interessam de sobejo. Estes,
193
O Ano de 1 9 / 3 no ICC
ifll II lilttlpil
Exmo. Senhor do procurada por visitantes ilustres, á
cata de informações sobre a terra.
Ministro da Educação e Cultura Em Sessão Solene realizada em 17
de Fevereiro de 1973, foi empossado
O INSTITUTO CULTURAL DO 0 escritor NERTAN MACEDO, em Sec-
CARIRI, sediado em Crato, Ceará, nos ção de Letras, do nosso Instituto, de­
têrmos da Legislação em vigor, diri­ fendendo o mesmo uma brilhante tése
ge-se a Vossa Excelência para prestar sobre a vida e a obra de João Brígido,
contas, em sucinto Relatório, de suas um dos pioneiros da imprensa cearen­
atividades, no ano de 1973. se. Foi saudado, naquela ocasião, pe­
Mantivemos contínuo intercâmbio lo jornalista J. Lindemberg de Aquino.
com escritores, jornalistas, e intelec­ A essa Sessão compareceram altas
tuais conterrâneos e de outras plagas, autoridades, a começar do Dr. Thomaz
em correspondência proveitosa, confor­ Pompeu Brasil Neto, Presidente da
me mostram nossos arquivos. Confederação Nacional da Indústria, e
Nossa Biblioteca cresceu com no­ sua comitiva, que se encontravam em
vas doações e aquisições de livros, re­ Crato, e o Vice Reitor, para assuntos
vistas e periódicos, e esteve, o ano in­ estudantis, da Universidade Federal do
teiro, franqueada ao público, notada- Ceará, Denizard Macêdo.
mente á classe estudantil de nossa Em outra sessão foi eleito para
terra, para suas leituras e pesquisas uma das Cadeiras do ICC o Dr. Tho­
de assuntos sociológicos e ligados á maz Pompeu, que ocupará a Cadeira,
história da nossa região. da Secção de Letras, que tem como
Nossa séde continuou sempre sen- Patrono, o Senador Pompeu.
Deliberação igualmente importante
foi a criação da SECÇÃO DE FOLCLO­
sim, os livros verdadeiramente indis­ RE, que terá suas Cadeiras ocupadas
pensáveis à juventude de nossas esco­ por renomados folcloristas da nossa
las; estes, sim, os livros verdadeira­ cidade, tendo sido dois deles já convi­
mente indispensáveis aos que pugnam dados, Eloi Teles de Morais e Pedro
em prol da cultura; estes, sim, os li­ Teles.
vros verdadeiramente indispensáveis a Manteve o ICC permanente inter­
quem queira inteirar-se da história do câmbio com a Faculdade de Filosofia
Cariri; estes, sim, os livros verdadeira­ do Crato e foi também dos que se
mente indispensáveis a quantos se de­ empenharam pela criação de nossa
dicam a perquirições sobre o passado Faculdade de Direito, a cuja instalação
de nossa gleba; estes, sim, os livros solene, dia 21 de Junho de 1973, com­
verdadeiramente indispensáveis a quem pareceu com luzida comitiva.
pretenda e precise conhecer a forma­ Circulou em Julho o 17*? número
ção histórica e étnica da Região, bem do nosso tradicional orgão — a revis­
como a de seu mais expressivo núcleo, ta ITAYTERA, como sempre, recebida
esta maravilhosa cidade do Crato. com elogios gerais em todos os círcu­
los intelectuais do Estado e de alguns
(Palavras proferidas na Faculdade pontos do país.
de Filosofia do Crato, na noite de 17 O Quadro Social do ICC teve su­
de Maio de 1974, dentro da programa­ bstancial aumento no ano que passou,
ção dos 14 anos daquela Escola, por sendo votados e aceitos para sócios :
ocasião do lançamento dos dois livros Dr. Edmilson Cruz Neves, Dr. Antônio
do Pe. Antônio Gomes de Araújo, Vice Nirson Monteiro, General Adauto Es-
Presidente do ICC1). meraldo, Jornalista Vicente Favela F i­
194
lho, Dr. Aluisio Cavalcante, Dr. Fran­ T esou reiro :
cisco Vasconcelos, Jornalista Emerson
Monteiro Lacerda, Alderico de Paula Antônio Correia Coelho
Damasceno (Professor) Dr. José Peixo­
to de Alencar Cortêz, folclorista João C om issão d a R evista ITAYTERA :
■ Chiarini, Dr. José Arraes de Alencar, Dr. Jósio de Alencar Araripe
Monsenhor Raimundo Augusto de A- Pe. Antônio Gomes de Araújo
raújo Lima, Monsenhor Francisco de João Lindemberg de Aquino
Holanda Montenegro, Dr. Orlando Ca­
valcante, Jornalista José Viana Ulisses, C om issão de CiêJicias, L etras e Artes :
Prof. Silmia Sobreira, Pe. Jo ão Men­
donça, D. Zuila Couto Gondim, Dr. Dr. Raimundo de Oliveira Borges
Raimundo Coelho Bezerra de Farias, Pe. Antônio Teodósio Nunes
Pe. Francisco Salatiel e Prof. Dr. Fran­ Joaquim Lobo de Macêdo
cisco de Assis Brito.
Foi O INSTITUTO CULTURAL DO C om issão d e S in d ic â n c ia s:
CARIRI atingido por rude e doloroso Kleber Maia Cabral
golpe, a 29 de Agosto de 1973, com o
Geraldo Macêdo Lobo
falecimento do seu Presidente, Dr. Jo ­ Pedro Pinheiro Esmeraldo
sé Alves de Figueiredo Filho, que, des­
de 1954, estava á frente da nossa ins­
A Diretoria eleita está atuante, no
tituição, animando-a e dirigindo-a com firme propósito de tudo envidar para
acerto, aprumo e devotamento. As ma­
continuar o dinamismo da anterior.
nifestações de pesar da imprensa e dos
Novos sócios serão empossados
meios intelectuais de todo o país, diri­ neste ano, nas Secções de Letras, Ci­
gidos á nossa entidade e á família do ências e Folclore.
ilustre morto, bem demostram o valor Foram lançados os livros do Vice
de que ele era portador. Presidente, Pe. Antônio Gomes de
Em obediência ao que rezam os Araújo — CIDADE DE FR E I CARLOS
Estatutos Sociais, Capítulo VII, Das E POVOAMENTO DO CARIRI, como
Eleições e Substituições, Art. 43, o Pre­ parte de publicação de todas as suas
sidente em exercício, Pe. Antônio Go­ obras, pela Imprensa Universitária do
mes de Araújo, nomeou, dentre os as­ Ceará.
sociados, um Presidente temporário, Igualmente foram lançados os li­
até que se registrassem as eleições. vros do nosso consócio Joaquim Lobo
Recaiu a escolha no Dr. Jósio de de Macêdo — “OS AUGUSTO” e “UM
Alencar Araripe, advogado, e jornalis­ BRAVO CARIRIENSE”, sobre história
ta, de muita atuação em nossa comu­ regional. Providências foram adota­
nidade. Posteriormente, a Assembléia das para circulação, em 74, do núme­
Geral Eleitoral, em 03 de Outubro, ele­ ro 18 da nossa revista anual —
geu a nova Diretoria, que ficou assim ITAYTERA.
constituída, confirmando o Dr. Jósio Por tudo o que acima foi exposto,
de Alencar Araripe na Presidência da e dada a limitação dos recursos com
instituição : que contou, únicamente a subvenção
dêsse Ministério, é que o INSTITUTO
P r e s id e n te : CULTURAL DO CARIRI julga que
cumpriu, durante o ano que passou,
Dr. Jósio de Alencar Araripe fielmente, as funções e atividades para
Vice P r e sid e n te : as quais foi criado e vem sendo man­
tido.
Pe. Antônio Gomes de Araújo Em vista disso, pede, respeitosa­
mente, a Vossa Excelência, que deter­
S ecretário G e r a l : mine o pagamento da subvenção a que
J . Lindemberg de Aquino tem direito, no corrente ano.
•Crato, Ce., 20 de Fevereiro de 1974
S ecretário :
JÓSIO DE ALENCAR ARARIPE
Dr. Antônio Nirson Monteiro Presidente
195
Aniversário da Faculdade de Filosofia
P rof . Hermuvio R ebouças

No primeiro ano de funcionamen­ cendo oportunidade às mais diversas


to desta Faculdade, quando aqui foi tendências e sendo objetivo das mais
proferida a Aula de Sapiência, ressoa­ variadas vocações.
ram estas palavras, pronunciadas pelo Dezenove alunos formavam o cor­
então Reitor Prof. Antônio Martins Fi­ po discente em 1960, primeiro ano de
lho: “Dentro em pouco, a estes mo­ funcionamento. Decorridos 14 anos,
mentos formais e solenes que agora visando sempre qualidade mais do que
vivemos, sucederá a atividade espontâ­ quantidade, temos 650 alunos integran­
nea das bibliotecas e salas de aula que do os vários cursos.
se povoam, dos laboratórios que se Os alunos que por aqui passaram,
instalam, das pesquisas que se plane­ os que palmilharam os caminhos des­
jam , dos grandes debates que se sus­ ta Faculdade, os que receberam licen-
citam em torno de problemas vitais ciatura plena, somam o significativo
da Região, do país e da própria hu número de 393 (trezentos e noventa e
manidade; e a tradução de todo esse três) até o ano passado.
quadro, tão grato a todos nós, é a ma­ São 393 luzeiros a espargir luzes
turidade cultural do Crato, assentada de inteligência nesses caminhos de
sobre o suporte econômico desta par­ trevas; são outros tantos astros a emi­
cela do Ceará, que — como o próprio tir reais benefícios de intelectualidade;
Brasil arranca para o futuro com fé são centenas de faróis a irradiar bri­
e determinação inabaláveis”. lho, fulgor, ilustração por esse Brasil
SENHORES : Catorze anos passa­ em fora.
ram e a Faculdade de Filosofia do É desnecessário declinar neste mo­
Crato plantada em terra boa, medrou, mento, a pleiade de ex-alunos desta
cresceu, tornou-se pujante e vigorosa. Faculdade, que ocupam posições eleva­
Apesar de sua modéstia, avançou das no cenário Caririense è nacional.
sob seu próprio destino, não recuando Todos eles se serviram desta Escola
ante as vicissitudes e obstáculos. Superior de Ensino, não só para en­
Quando o Cariri, pioneiro em todo riquecer seu curriculum vitae, mas co­
interior cearense, inseriu-se no esque­ mo pedestal para galgar situações so­
ma universitário, foi porque seu povo ciais de destaque, honrando merecida-
sentia a necessidade de afirmação e mente, nossa querida Faculdade de Fi­
atualização. losofia.
Nesses catorze anos de existên­ Numa espontânea manifestação de
cia, a Faculdade de Filosofia do Crato capacidade, cultura e humanismo, su-
provou sobejamente a madureza de seu eedei'am-se os Convívios Universitários
povo, a capacidade de sua gente, a em número de 22 (vinte e dois), os
nobreza de ideais da comunidade, a quais nos trouxeram enriquecimento de
probidade de seus dirigentes, a intre­ nosso lastro cultural, entrosamento ver­
pidez dos que compomos o corpo do­ dadeiro, camaradagem sincera, tão rara
cente, visando mais a continuidade da nesse mundo conturbado e egoista.
Escola do que nossa própria comodi­ Os que por aqui passamos; os que
dade. em meio a grandes dificuldades conse­
Aí está a imponência desse prédio guimos os loiros da vitória, contámos,
majestoso que nos abriga, fruto da te­ para gáudio nosso, com uma Bibliote­
nacidade intrépida de seus dirigentes; ca que já se impõe em todo Nordeste
resultado da contumácia audaz dos fi­ brasileiro pelo acervo de 14.023 volu­
lhos da terra; efeito ousado da brava mes, figurando entre eles, obras bási­
gente caririense. cas para todos os cursos e coleções
A Faculdade de Filosofia do Crato de alto valor.
mantém atualmente 05 (cinco) Cursos Importante é o papel desempenha­
reconhecidos: Letras, História Natural, do por essa Biblioteca aberta dia e noi­
Pedagogia, Geografia e História, ofere- te ao público ledor, sequioso de saber
196
e ilustração. publicações mimeografadas, são prova
O benefício que a Biblioteca desta insofismável do crescimento harmôni­
Faculdade tem dispensado à comunida­ co e atualizado desta Unidade de En­
de caririense é imensurável. Pálida sino Superior.
idéia temos em considerando o núme­ Através dessas 58 (ciquenta e oito)
ro de leitores, daqueles que vêm fazer publicações impressas e mimeografa­
suas consultas, pesquisas e leituras, os das, a Faculdade de Filosofia inseriu
quais perfazem o número de 31.358 até seu nome no catálogo da posteridade.
o mês de abril do corrente ano. São publicações de grande valor, de
A Faculdade de Filosofia do Cra- alto quilate.
to nasceu do povo; cresceu com a po­ Senhores, permitam-me neste mo­
pulação jovem; foi assistida pela ge­ mento solene, em que se comemora o
ração madura para servir a todos, pa­ 149 Aniversário de instalação desta
ra beneficiar com seus raios de ação CASA, proferir dois nomes os quais
a quantos queiram dela se aproximar. reputo as colunas mestras desta por­
E o Folclore, expressão da cultura tentosa Instituição de Ensino Superior:
popular, tão fértil e exuberante nesta Dr. Antônio Martins Filho e Dr. José
ubérrima Região, recebeu sempre apoio Newton Alves de Sousa. Se Dr. Antô­
total desta Escola. E as apresentações nio Martins Filho conferiu-lhe primei­
se sucederam num misto de Beleza e ra e marcante vitória no dia 06 (seis)
autenticidade para alegria e ilustração de dezembro de 1959, Dr. José Newton
nossas e de toda a comunidade. Alves de Sousa assumiu o comando
Acompanhando o desenvolvimento defendendo-a com intrepidez, alimen­
geral das ciências, a Faculdade de Fi­ tando-a com os pingues pastos da in-
losofia do Crato, soube conferir ao Fol­ teligência colhidos nos maiores e me­
clore o lugar que lhe é devido em meio lhores centros de cultura do país.
às demais ciências importantes e sé­ Agora mais que nunca, arcamos
rias. Não poderia deixar de faze-lo, com a responsabilidade de palmilhar
vez que se trata de um ramo da An­ o caminho traçado pelos pioneiros.
tropologia, um capítulo da ciência do Não podemos repousar sobre os loiros
homem. das vitórias obtidas. Cabe-nos ingente
Visando sempre a extensão de co­ tarefa que, cumprida, tornar-se-á esteio
nhecimentos, a amplitude de idéias, õ firme para sustentáculo desta grande
aumento do lastro cultural dos alunos, obra.
a direção desta Escola, num esforço Urge aprimorar nossos conheci­
titânico, conseguiu carrear professores mentos a fim de que nos tornemos ca­
Tenomados para proferir palestras, mi­ da vez mais eficientes e úteis, cami­
nistrar cursos de Extensão Universitá­ nhando com passos firmes para um
ria, presidir Seminários, etc. futuro promissor, contribuindo com
Em pouco menos de década e meia, nossa parcela de colaboração para
o Crato foi palco de ilustres visitantes. grandeza desta cidade, da terra cariri­
Preclaros mestres discorreram sobre ense e de todo Brasil.
assuntos vários; insignes professores
ministraram cursos; famosos catedrá- (Discurso proferido na sessão Magna
ticos dos maiores centros de cultura comemorando os 14 anos da Faculdade
do país proferiram profundas e subs­ de Filosofia do Crato, no seu Salão
tanciais conferências. E ei-los a for­ Nobre, a 15 de Maio de 1974).
m ar ala inexpugnável, pois composta
de mais de 30 (trinta) personalidades
que deixaram aqui, traços indeléveis. “ S Y M P O S I Ü M ”
Os 09 (nove) Seminários aqui rea­
lizados; os 99 (noventa e nove) cursos Temos sempre sido distinguidos
de extensão universitária; as 60 (ses­ com o recebimento de “SYMPOSIÜM”,
senta) conferências; os Encontros di­ excelente revista da Universidade Ca­
versos com o Cientista; os 22 (vinte tólica de Pernambuco, cujo Reitor é
e dois) convívios; as 09 (nove) jorna­ o nosso conterrâneo, Mons. Rubens
das pedagógicas; as 36 (trinta e seis) Gondim Lóssio. Uma publicação que
publicações impressas; as 18 (dezoito) honra a cultura do Nordeste.
197
Saudando Mons. Rubens
RAIMUNDO DE OLIVEIRA BORGES

Saudação a Mons. Rubens Lóssio no


lançamento do seu livro: “A Serviço
da Palavra — ao impacto das mu­
danças” - pelo Dr. Raimundo Borges

Por nímia gentileza dos companhei­ que semeou, o mais merecido e expres­
ros do Instituto Cultural' do Cariri, sivo preito de admiração e de reconhe­
aqui estou, o mais simples de todos cimento. ,
eles, esmagado pela responsabilidade Vivendo, realisticamente, as radi­
de servir de intérprete dos sentimen­ cais transformações por que vem pas­
tos do renomado grêmio dos intelec­ sando a Igreja, mantem-se, não obs­
tuais do Crato, no momento em que se tante, ou por isso mesmo, em admi­
faz, solenemente, entre justas manifes­ rável compostura, conciliando ao mes­
tações de apreço, o lançamento do li­ mo tempo os absorventes interesses da
vro: “A Serviço da Palavra — ao im­ vida material dos semelhantes com os
pacto das mudanças”, da autoria da transcendentais problemas que tanto
exponenciál figura de homem de pen­ afligem na hora presente a alma hu­
samento e ação que é Mons. Rubens mana, realizando num prodígio de a-
Gondim Lóssio, Magnífico Reitor da daptação, a duplice figura singular e
Universidade Católica de Pernambuco. heróica de cidadão e de apóstolo.
De um homem, cujo apoucado fí­ •Não bá, de fato, substancialmente,
sico contrasta com a robustez da in­ mudança doutrinária nos conceitos que
teligência e com o dinamismo invul­ ontem emitira e que repete hoje, ecu-
gar de que entre nós deu mostras, rea­ menicamente impregnados da mesma
lizando como realizou, apesar da pou­ sabedoria cristã, e que houvesse, ca­
ca idade em que se iniciou no munus lharia bem aqui aquela lição lapidar
dé relevante responsabilidade, uma o- ao grande R U I: “O homem não
bra notável para a comunidade cra- se contradiz, verdadeiramente, senão
tehse, já como simples cidadão, já co­ quando contravém à substancia das
mo sacerdote imprimindo aos serviços suas idéias essenciais. Dentro delas
da Igreja, que ilustrou, o cunho inde­ pode variar, sem contradição, evolven-
lével da sua marcante personalidade do, melhorando, emendando os pró­
apostólica. prios erros”.
Foi, justamente, aquilatando o va­ Desejo, no entanto, nesta breve
lor da inestimável folha de serviços alocução, como devem ser elas em mo­
com qúe contribuiu ele para o desen­ mentos como este, saudar o homena­
volvimento da terra comum, que a re­ geado apenas como intelectual, que,
presentação cratense, na Câmara Mu­ daqui saindo para a grande cidade per­
nicipal, em solenidade memorável, lhe nambucana, não tardou em impressio­
outorgou em boa hora o título de ci­ nar com a sua agilidade mental, com
dadão do Crato. os vertiginosos surtos da sua inteligên­
E é, também, com o pensamento cia, com a sua comprovada capacidade
voltado para a sua fecunda atuação de realização, os meios culturais da
entre nós que os seus amigos o rece­ metrópole nordestina, que, prestes e
bem, com a mesma efusão dalma com acertadamente, o elevaram ao posto
que se alvoroçaram ao saberem da sua que merecia de Magnífico Reitor de
próxima visita, prestando-lhe assim, vm a das suas famosas Universidades,
com tais estos de alegria, quando após destinado só àqueles que se tornaram
50 meses vem rever a terra que bene­ notáveis pelo saber e pela verticalidade
ficiou e estreitar os laços da amizade do procedimento social.
198
Seria desnecessário, se a festa que profunda convicção e com absoluta
nos reune não fosse de livro, apresen­ justeza de seus habituais ju izes:
tar o homem de letras que é Mons. “Orador nato. Sabe impressionar
Rubens Lóssio ao culto povo do Crato, ouvintes, pelos conceitos, eloquência,
tantas e tão agradáveis foram as oca­ perfeição de linguagem, tudo a serviço
siões em que ouvimos, emocionados, a das boas causas”.
sua palavra autorizada e nos delicia­ Daí o prisma sob o qual o focali­
mos na leitura edificante de suas zo neste despretensiosa apresentação :
obras. Cidadão e Apóstolo.
Salientem-se, porém, entre as suas Cidadão — o que goza dos direitos
excelentes produções o estudo que fez, civis e políticos, probo no desempenho
aqui impresso, sôbre “Nossa Senhora dos seus deveres no Estado; Apóstolo
da Penha de França — Padroeira do — o que prega a doutrina religiosa,
Crato’’ —■; “Oração Gratulatória”, pro­ zeloso na pregação evangélica, guia es­
ferida por ocasião do solene TE DEUM, piritual.
na formatura da primeira Turma de Foi e continua a ser à luz dêsses
F acharelandos da FACULDADE DE princípios que me acostumei a admirar
FILOSOFIA DO CRATO, publicado Mons. Rubens Lóssio. Pelo seu poder
pela Imprensa Universitária do Ceará, de comunicabilidade edificante. Não a
em artístico folheto; Dircurso de Sau­ comunicabilidade que os exageros da
dação ao Marechal Humberto de Alen­ época vulgarizam e deturpam, mas a
car Castelo Branco, então Presidente comunicabilidade sadia, vasada em lin.
da República, quando da sua visita ao guagem correta, que persuade, que con­
Crato no Bicentenário do Município e vence, que orienta e que aperfeiçoa.
ir.serto em “Cadernos do Cariri N.<? 4 Justamente por isto, por esse con­
1965; “Renúncia”, emocionante traba­ junto de circunstâncias e de qualida­
lho de despedida de Cura da Catedral des definidoras do seu valor autênti­
e demonstração à guisa de prestação co, porque sentia nos seus diálogos a
de contas da sua operosa administra­ sinceridade das convicções e o desejo
ção no desempenho das elevadas atri­ de ser útil, que os seus amigos lamen­
buições; “A Igreja na Formação do taram e continuam a lamentar a sua
Crato”, oração proferida em tocante ausência, continuando a acompanhar e
T E DEUM frente à Catedral, publicada aplaudir, com o mesmo interesse, a sua
em Itaytera, N.9 1, 1955; Discurso de brilhante trajetória em outras terras,
posse na Cadeira N.v 2 do Instituto agradecendo assim o bem que prosse­
Cultural do Cariri, em que traça ma­ gue distribuindo com os conterrâneos
gistralmente a biografia do inolvidável que o destino adverso no meio compe­
Segundo Bispo da Diocese D. Francisco le para as margens do Capibaribe e,
de Assis Pires, além de trabalhos es­ sabendo-lhe grande o coração, supli­
parsos publicados em Revistas e Jo r­ cam-lhe a ajuda e o estímulo.
nais desta e de outras cidades. Desfrutando de invejável posição
Agora, o livro magnífico em lan­ no meio sócio-cultural da grande Reci­
çamento, que ele mesmo batisa de Me­ fe, notável pelas lutas da inteligência
morial e de Reflexão e em que enfeixa ali travadas entre os expoentes da ve­
discursos, conferências e estudos, pro­ lha e famosa Escola Jurídica de Tobi-
dutos do seu fecundo labor mental em as Barreto, Castro Alves. Sílvio Rome-
fases diversas da sua vida, mas que ro, Clovis Beviláqua e tantos outros,
guardam entre si, não obstante as mu­ nem por isto Mons. Rubens Lóssio se
danças operadas pelo tempo, uma coe­ deslembra da terra a que serviu e que
rência e firmeza de atitudes raras nos também o acolheu ao seio amigo, tan­
que assumem, nos dias atuais, postos to assim que, para a publicação do li­
de liderança na sociedade. vro, cujo lançamento aqui se faz, con­
Para mim, bastaria esta obra para feriu o seu patrocínio ao Instituto Cul­
consagrar o nosso homenageado como tural do Cariri, escolhendo para pre­
uma das mais fortes individualidades faciá-lo o saudoso Figueiredo Filho, cu­
de pensador brasileiro em nossos dias. ja memória aproveito a oportunidade
Não foi sem razão que Figueiredo para mais uma vez reverenciar.
Filho, no seu Prefácio, observou com a É que, providencialmente, as afini-
199
CIRCULANDO O NOVO ESTUDO região caririense. Joaryvar Macêdo
firma-se, assim, para orgulho nosso,
DE JOARYVAR MACÊDO
como dos maiores vultos de nossa pes­
Está em circulação o novo estudo quisa histórica. O que é uma honra
do escritor e historiador Joaryvar Ma- para o Instituto Cultural do Cariri.
cêdo, ilustre consócio do Instituto Cul­
tural do Cariri, e ocupante de uma
tíe suas Cadeiras, na Secção de Letras. O E N T E R R O
Trata se de UM BRAVO CARIRI-
ENSE, editado em Crato. É conferên­ L á vinha o caixão,
cia bem feita sobre a vida e a obra Com um hom em m orto dentro,
de Joaquim Vasques Landim, nascido A com panhados por hom ens,
a 5 de Janeiro de 1874 e falecido a 6 Quem s a b e ... m o rto s!
de' Fevereiro de 1951. Os donos dos botecos
Um estudo profundo sobre os as­ Fechavam m etade das portas.
cendentes e descendentes desse bravo O blém blém dos sinos
caririense, o livro foi resultado de uma Da igreja d e São Jo sé
oração, pronunciada em meio ás fes­ Enchia a paciência', de qualquer um,
tividades desse vulto da nossa histó ria Agitava a cinza do meu cigarro
regional, festividades que tiveram lu­ E ferm entava a cach aça no copo.
gar no Sítio Carnaúba, Missão Velha, O hom em m orto passava,
a 5 de Janeiro último. O Instituto Isto é,
Cultural do Cariri se fez presente atra­ Os hom ens levavam o hom em morto,
vés do seu Secretário Geral, J. Lindem- Num cortejo que se arrastou
berg de Aquino. Por dois longos minutos
OUTRAS OBRAS — Joaryvar Ma Dentro da m inha retina torta.
cêdo (Joaquim Lobo de Macêdo) pu­ Oh.’ . . . Este hom em m orto
blicou, ano passado, o livro OS AUGUS­ Participa do meu dia bêbado !
TO, estudando a genealogia dessa im­
portante família de Lavras da Manga- A. ROSEMBERG DE MOURA
beira, com elogios gerais da imprensa
e da crítica. Já entregou á Imprensa
Universitária os originais do seu livro FACULDADE DE FILOSOFIA DO
OS MACÊDO, quando estudará também CRATO: 14 ANOS
a formação dêsse importante clã da
A Faculdade de Filosofia do Crato,
com a qual tem o Instituto Cultural
dades eletivas da terra penetraram pro­ do Cariri estreitas e afetivas ligações,
fundas na substancia mesma do seu completou, dia 15 de Maio, seus 14 anos
ser, porque foi aqui, ele mesmo é quem de existência.
o confessa : “vivi a parte mais ativa Houve uma semana de programa­
e mais cativa de minha vida de homem ção naquela Escola de Ensino Superior,
e de padre”. com a Páscoa dos Universitários, Sa­
E a própria natureza humana, sen­ lão de Maio, lançamento dos Livros
sível à voz do coração, assegura a in- do Pe. Antonio Gomes, Vice Presidente
destrutibilidade de tais liames. do ICC — POVOAMENTO DO CARIRI
Não prosseguirei. Não devo pros­ e CIDADE DE FREI CARLOS, editados
seguir. pela Imprensa Universitária, Convívio
O homem, que homenageamos, dis­ e Sessão Solene.
pensa pélo seu valor qualquer apresen­ O orador oficial da Sessão Solene
tação. da Egrégia Congregação foi o Profes­
E o livro. . . é ler e deleitar-se com sor José Hermínio Rebouças, que fez
o prazer espiritual que as suas páginas um histórico da Escola e sua atuação
suscitam. nesses quase 3 lustros de existência. O
(Proferido pelo Dr. Raimundo de Instituto Cultural do Cariri se fez re­
Oliveira Borges, ocupante da Cadeira presentar em toda a programação, pelo
N<? 2 do Instituto Cultural do Cariri. seu Secretário Geral, J . Lindemberg de
Crato, 6/3/1974). Aquino.
200
A n t ô n io L y u io Ca l l o c

Nasceu o Gabinete nos albores da A meta principal da Sociedade


República. Sob o ardor patriótico rei­ nascente era ministrar o ensino pri­
nante na época, reuniram-se vinte de- mário gratuito, incentivar o culto das
nodados barbalhenses e em 14 de Maio letras e trabalhar pelo progresso da
de 1889, fundaram o Gabinete de Lei­ Terra. Nos seus primórdios, teve o
tura. Fôra aclamado Presidente o Ma­ Gabinete a sua fase áurea programa­
jor Guilherme Brígido dos Santos; da nos cursos noturnos, nas comemo­
Secretário - José de Sá Barreto Sam­ rações das festas cívicas nacionais e
paio e orador da Solenidade, o médico na data festiva do seu aniversário.
patrício - Dr. Barreto Sampaio, notável Gozou de conceito como instituição de
oftalmologista em Recife. Falou por letras, servindo de estímulo às suas
duas horas com tanta eloquência que congêneres da região caririense,. Teve
pareceram dois minutos; assim cons­ assim o Gabinete a sua fase áurea
ta da ata de fundação. Foram ainda consubstanciada na constância das au­
sócios fundadores e baluartes da ins­ las noturnas com elevada matrícula.
tituição: Dr. Martinho de Lima Alen­ Se era grande o entusiasmo dos seus
car — desembargador no Pará e ideia- professores, bem maior era a sua de­
dor da fundação do Gabinete; Pe. Mi­ dicação ao aprendizado. Naquela re­
guel Coelho, inteligência privilegiada, cuada época, privada que era do con­
orador dos mais fluentes que o Cariri forto e das atrações dos nossos dias,
ainda hoje admira e um verdadeiro todas as atenções se voltavam para
sacerãos magnus da virtude; Antônio aquêle pequenino cenáculo de letras,
Cândido das Dôres, devotado consócio sublime derivativo para os filhos da
e inteligência brilhante, prematura­ Terra, que viam naquela academia-mi-
mente desaparecido; Dr. Joaquim Sam­ rim um motivo sadio de recreação.
paio Cardoso, digno cultor do Direito E prosseguia o Gabinete no mes­
que deu provas da rigidez do caráter mo ritmo de ardor e entusiasmo, sem­
perecendo de modo trágico no louvá­ pre vinculado ao ideal que acalentara
vel cumprimento do dever; Mendo de desde os seus primeiros dias.
Sá T arreto Sampaio, honradez e tra­ Um quartel de século depois, sur­
balho, industrial de projeção nos gran­ giu nos céus do Brasil, num verdadei­
des centros do País; Dr. Barreto Sam­ ro eclodir patriótico, à semelhança da
paio, oftalmologista de renome nacio­ Década da Educação lançada pelo no­
nal. Quando de visita cultural na bre Senador João Calmon, um movi­
França, teve a honra de substituir, por mento de redenção cultural visando
primorosa homenagem — o Prof. erradicar o analfabetismo do cenário
Wecker, na catetra oftalmológica de nacional. Barbalha sintonisando com
Paris; José de Sá Barreto Sampaio, o a idéia e sempre estimulada pela m es­
verdadeiro baluarte do Gabinete a ma centelha que fizera nascer o Ga­
quem, com justiça se deve a continui­ binete, funda a Liga Contra o Analfa­
dade da Sociedade; Manoel Ramalho betismo, à semelhança do que era fei­
de Alencar, figura de pról que como to no País inteiro. Cousa memorável
os outros prestou relevantes serviços de se dizer, de todas as Ligas funda­
à Sociedade; Antônio Callou de Sá das, só existe esta de Barbalha, e para
Earreto, espírito combativo e de rara não incorrer em inverdades, não sei se
coragem cívica; Martiniano Bispo de outra nas Minas Gerais. Foram pio­
Sousa Ferraz, devotado às letras e ao neiros dessa nova cruzada de 1917, o
ensino, amante dos livros em toda advogado José Bernardino de Carvalho
plenitude; Severino Ferreira Duarte, Leite, 1*? Presidente da Liga que ao la­
honestidade e trabalho; Pereira Gran- do do cidadão Manuel Rodrigues Pei­
geiro e outros incentivadores da mar­ xoto de Alencar consagraram-se na
cha segura e pertinaz do Gabinete. confiança dos barbalhenses, figuras de
201
relevo e batalhadores impertérritos do meu mérito) fui por ele indicado pa­
progresso e da grandeza da gleba co­ ra substituí-lo. Sendo infrutíferas as
mum. Prosseguia o Gabinete na sua minhas alegações em contrário, acedi
luta dura e árdua, mas a descrença na condição de continuar ele como
jam ais encontrou guarida na mente Presidente Perpétuo. E assim acon­
esclarecida e forte da nossa gente e teceu.
particularmente na vontade férrea de Ressurge Barbalha agora, numa
José de Sá Barreto Sampaio. Para arrancada para o progresso e para o
maior brilho das solenidades do cin­ desenvolvimento, com dois grandes
quentenário do Gabinete, lançou a Ginásios — Sto. Antonio e N. S. de
idéia do grande Projeto que só pelo Fátim a, Hospital-Maternidade São Vi­
enunciado do título se pode prejulgar cente de Paulo, Posto Federal de T ra-
da amplitude da promoção. Iniciada coma, Posto de Saúde Dr. Leão Sam ­
a construção não foi concluída por paio,Banco do Estado do Ceará (BEC),
falta de numerário. Foi reorganizada Sub-Estação Experimental, Cooperativa
a pequena Biblioteca que havia sido de Crédito, Cooperativa da Lavoura,
danificada na rebelião de 1914. Mas Cooperativa de Eletrificação Rural
o maior mérito do Gabinete foi a con­ (COPERCA), Abrigo dos Velhos, Cen­
tinuidade das suas aulas noturnas. Em tro de Abastecimento, Canal do Ria­
apoio desta verdade, o Ministro da Edu­ cho do Ouro, Lions Club, Centro de
cação Ney Braga, citando um estadis­ Melhoramento, Água Canalizada do
ta americano, disse que o futuro de Caldas, Luz de Paulo Afonso, Hotel
uma nação está sendo traçado num sa­ Municipal, Ealneário do Caldas, Tele­
lão de aula. fone, Estradas asfaltadas. Além des­
O cinquentenário do Gabinete foi sas obras de infra-estrutura projetam -
festejado condignamente: missa cam­ se três grandes indústrias de B a s e :
pal, Exposição de Produtos Agrícolas, CECASA - Cerâmica do Cariri — em
do Museu, solenidades outras e Assem­ pleno funcionamento; Ind. Barb. de
bléia Solene onde foram ouvidos vá­ Cimento Portland - IBACIP — em fa­
rios oradores entre eles José de Sá se de acabamento e Usina de Açúcar
Barreto Sampaio que falou no dia da Vale do Salam anca — já implantada.
fundação e em todas as sessões come­ E quem poderá negar que esse esfor­
morativas do seu aniversário. ço continuado dos barbalhenses, am ­
Acolheu o Gabinete, sem onus al­ parando com carinho o Gabinete de
gum nos seus salões, inúmeros profes­ Leitura, em função do ensino, na ân -
sores que fundavam colégios de vida cia incontida de aprimorar o espírito
quase sempre efêmera. Vale fazer e de esclarecer a razão, não fôra a
uma citação incompleta desses direto­ causa remota das realizações da hora
res: Dr. Onulfo Lins com o Ateneu presente ?
Barbalhense, Dr. Soriano Albuquerque,
Juarez Bastos, Jo sé Duarte, Dr. Antô­ TURISMO INTEGRAL
nio Reinaldo Alves de Sousa, Dr. Joel
Teixeira, Prof. Nestor Fernandes T á- PETRARCA MARANHÃO
vora, Edmundo Milfont, Pe. Emídio inédito
Lemos, Dr. José Garrido da Nóbrega, SE DEUS m e d esse d om p a ra zom bar
Dr. Paulo Serra com o Colégio S. José da< c o m éd ia in fin ita d este m undo,
que ainda recebeu visita prévia, Colé­ iria p o r aí, a divagar
gio Santo Antônio, dos Padres Salva- —• filó s o fo cu rioso e v a g a b u n d o ...
torianos e Ginásio Salvatoris, das Ma­ ESTE GLOBO é um a bola. A c o m eça r
dres Beneditinas. E últimamente o p elo seu todo esférico , rotundo.
Grupo Municipal Joaquim Duarte E só quem v iaja an d an d o a bom andar,
Grangeiro e Ginásio Básico de Co­ p o d e en v olv ê-lo co m s a b e r fecu n do.
mércio. INIGUEM p o d e dizer em s ã con sciên cia
Há mais de três décadas atraz, que d ele ten h a c o n cep çã o segura
sentindo-se o Sr. José de Sá Barreto a rev elar alg u m a inteligência.
Sampaio, cansado, resolveu passar a AS GAMAS dos estu ltos são tam an has,
presidência a outro cireneu. Talvez que e tem a m e n te n elas se afigura
por ser assíduo às sessões (é esse o o Everest, a m ais a lta das m o n ta n h a s!
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Í N D I C E págs.
ICC perde o seu Presidente: Faleceu J. de Figueiredo Filho ............... 3
Tocantes Homenagens Póstumas ao Presidente do ICC ........................... 6
Palavras na Câm ara Municipal1 .................................................................................. 8
Mensagem da Presidência da Câmara Municipal do Crato ....................... 8
Morte de Figueiredo Filho consternou todo o Cariri .................................... 10
A Grande Perda ............................................................................................................... 11
Dados Biográficos do Escritor J . de Figueiredo Filho .................................... 12
Morte de Figueiredo Filho Enlutou o Cariri .................................................... 14
Figueiredo Filho: Patrimônio do Crato que Desaparece ........................... 15
Perda Irreparável ............................................................................................................... 17
S O C I E D A D E ..................................................................................................... 18
Figueiredo Filho o Pesquisador do Cariri ............................................................. 28
Faleceu ontem no Crato J . de Figueiredo Filho ............................................ 21
Morreu o Escritor J . de Figueiredo Filho ......................................................... 30
Um ídolo que Morre ......................................................................................................... 38
Meu Adeus a J . de Figueiredo Filho ..................................................................... 38
Figueiredo Filho ................................................................................................................. 40.41
O Poder de Adaptação do Dr. Jo sé de Figueiredo Filho ....................... .... 43
A Morte de Figueiredo Filho ...................................................................................... 46
J . de Figueiredo Filho ....................................................................................................... 47
Um Caririense Cem P or Cento .................................................................................. 48
Im ortal J . de Figueiredo Filho ...................................................................................... 49
Senador exalta a Figura de J . de Figueiredo Filho ........................................ 58
Crato por aí Afora ........................................................................................................... 62
Inteligência do Homem do Interior ......................................................................... 64
Um A d eu s... Uma H om enagem ... Uma Mensagem de Despedida............... 66
Cachaça Chupada na P la cen ta ...................................................................................... 70
Dr. Josio de Alencar Araripe é o novo Presidente do ICC ....................... 71
Carta Póstuma de J . dos Anjos Dias ......................................................................... 73
Continua Repercutindo o Desaparecimento de J . de Figueiredo Filho . . 78
Ex-Ministro Jo ã o Gonçalves de Sousa Lam enta Desaparecimento de J F F 80
A Cidade de Crato, Ceará, no Desenvolvimento da Zona Caririense .. 89
“FLORO BARTOLOMEU’’ de Nertan Macedo ..................................................... 99
O Folclorista MANOEL AMBRÓSIO .......................................................................... 103
Mal. Humberto de Alencar Castelo Branco ......................................................... 123
O Crato há 50 Anos ......................................................................................................... 129
FOLCLORE REGIONAL ............................. .................................................................... ' 135
Subsídio de Dilucidação ................................................................................................... 141
Meditação Sobre o Homem .......... ............................................................................... 147
D. Balbina Lídia Viana Arrais ......................................................................... .. 149
O Caráter Místico de Padre Cícero ..................................................................... 151
SANTOS DUMONT ........................... í ............................................................................... 154
Cônego Manuel Feitosa .................................................... ............................................. 159
Do ICC ao Secretário de Cultura do Estado ..................................................... 160
Em Circulação dois Livros do Vice Presidente do ICC ........................... .... 162
Cidadão do Crato ............................................................................................................... 165
Catullo Cearense: POETA E LE TR IST A ................................................................. 169
Impressões de Leitura ..................................................................................................... 172
114 Anos: Inventário de Filho de D. Bárb ara .................................................... 173
Potencialidade Econômica doCariri ............................................................................ 175
Im portantes Efemérides Locais em 1974 ................................................................ 177
Açoites no Tempo ............................................................................................................. 181
SalVe Crato, Cidade Princesa, Município Modêlo do Ceará ! ....................... 183
História de Mangabeira ...............................................................; .................................. 185
“FLORO BARTOLOMEU” ................................................................................................ 190
Apresentando A Cidade de Frei Carlos e Povoamento do Cariri ___ 193
O Ano de 1973 no Instituto Cultural do Cariri .........................................., . . 194
Aniversário da Faculdade de Filosofia ............................................................ .... 194
Saudando Mons. Rubens ......................................................................................... 198
Gabinete de Leitura de Barbalha: HISTÓRICO ................................................ 201
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