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Anorma brasileira de projetos de instalacées fotovoltaicas 0 inicio de outubro, \ a Aneel - Agéncia Nacional de Energia étrica registrava a exis- ncia no Pais de apro: adamente ima centena inas centralizadas, com stencia aproximada de 7 mil MW, e 125 mil ini ou microgeradores stribuidos conectados -redes, cuja poténcia mada atingia 1445 MW. Mais da etade desses sistemas distribuidos 7,5 mil unidades, 855 MW) foram stalados apenas entre janeiro e o ini- o de outubro deste ano, mostrando a rca da expansio da fonte solar FV no asil. Mesmo com as alteragdes anun- adas pela Aneel para o sistema de mpensacio de energia, deverdo ser mectados as redes muitos milhares ragio FV distribufdos J préximos anos, além de constru- os dezenas de MWp de capacidade n usinas de grande porte. Em 3 de outubro, depois de um ‘ocesso de que durou varios anos, » sistemas di ralmente foi publicada a norma asileira de requisitos de projeto de Mauro Sérgio Crestani, editor ABNT NBR 16690. © documento de 65 paginas disciplina e ordena 0 con- ceito, a montagem e a conexao de todas as partes das plantas FV —in- cluindo condutores, dispositivos de protegio elétrica e de manobra, aterra- mento e equipotencializagdo —, desde a saida dos médulos até a entrada de inversores, de controladores d de baterias ou de cargas c. carga A NBR 16990 resultou robusta, no sentido de tratar todos os aspectos mais relevantes das instalagdes cas de arranjos FV. No entanto nao 6, Publicada no inicio de outubro depois deum longo processo de elaboracao, NBR 16690 constitui um marco para as instalagoes fotovoltaicas do Pats. Aoestabelecercom clareza como esses sistemas devem ser projetados e executtados, termina com divergéncias interpretativas e pacifica diversos aspectos. Esta reportagem ouviu integrantes dacomisséo que elaborou anormae destaca aqui alguns dos aspectos mais elevantes do documento. nem poderia ser, m documento auténomo. Sua aplicagao depe de e estd intrin- secamente ligada a outras normas a NBR 5419, de protegdo contra descargas atmos- féricas, e princi- palmente a NBR 5410, a norma de re- quisitos gerais de instalagdes de baixa tensao, a qual a NBR 16690 veio com- plementar no tocante aos requisitos particulars dos sistemas fotovoltai Ela inclusive segue a mesma organiza- ao sequencial de temas e numeragao adotada na NBR 5410. Apesar de que, antes da NBR 16690, 0s preceitos da NBR 5410 pudessem ser aplicados também a instalagoes de cor- rente continua fotovoltaicas, ss peculia- ridades destas exigiam que para tanto fossem adotadas solugdes de engenha- ria. “Para um mercado em grande parte baseado na figura do kit fotovoltaico, {sso passou a ser um motivo para qu na pritica, nao se fizesse nada”, disse FotoVolt o enge- nheiro consultor Vinicius Ayrao, que tem forte atuagaio em projetos de ins- talagdes solares FV para o seg- mento de gera- ei Fangs com uum vacuo” no qual nao se aplicava nem a boa engenharia, nem os requisi- tos da NBR 5410 e nem os das normas de instalagoes fotovoltaicas da TEC. “A norma estabelece uma referéncia objetiva, um conjunto de requisitos que agora se podem exigir dos projetistas e executores da instalacao fotovoltaica”, destaca 0 engenheiro Marcelo Pinho Almeida, pesquisador do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de Sio Paulo (IEE/USP) e coordenador do grupo de trabalho para elaboracao da norma da Comissio de Estudo de Instalagdes Elétricas de baixa Tensio (CE 064:001) do CB-008 - Comité Brasi- leiro de Eletricidade da ABNT, o Cobei. pelo TC 82 - Solar Photovoltaic Energy Systems da IEC. Isso porque, quando se comecou a elaborar a norma brasilet- 1a, a norma correspondente do TC 64 (equivalente ao subcomité 003:064 da ABNT), a IEC 60364-7-712, estava de- satualizada, ao passo que o documento do TC 82 era bem completo. Em 2017 0 ‘TC 64 revisou a IEC sive com colaby almente ela é bastante similar TEC 62548 —e, por conseguinte, A NBR 16690. “Comparando-se a norma brasileira com a TEC (60364-7-712, verifica-se que elas sto aderentes na grande maio- ria de seus contetidos”, ressalta co engenheiro Joao Gilberto Cunha, diretor da Mi Omega oapc Engenharia, um dos integrantes iim da comissao da norma. similar Destaques da norma Evidentemente, conhecer bem a NBR 16690 ¢ obrigacao de todo proje- tista e executor de instalagoes solares fotovoltaicas no Brasil. E nem se pre- tende aqui, até por caréncia de espago para tanto, esmiucar para 0 leitor todo 0 contetido da norma. Mas abordamos a seguir alguns de seus aspectos mais relevantes, destacados pelos integran- tes da comissdo aqui citados, em entre- vista a FotoVolt. Sobrecorrentes Com pouquissimos complementos, a norma remete as medidas de prote- ‘gdocontra choques elétricos e contra efeitos térmicos especificadas na NBR 5410:2004. Mas, para a protegio contra sobrecorrentes, tratada em sua secdo 5.3, faz uma série de exigéncias com- plementares as da norma de requisitos gerais. Em 53.11.1, traz formulas para © dimensionamento da protegdo contra sobrecorrente de séries, subarranjos e arranjos fotovoltaicos, as quais utilizam informagoes de placa dos médulos FV utilizados: corrente de curto-circuito € valor maximo de protego contra sobrecorrente, conforme a IEC 61730-2. Aplicadas, as formulas fornecem, para cada possivel configuracao, os valores das correntes que os dispositivos de proteco deverdo interromper, e que também sio as correntes maximas para as quais os cabos e 0 dispositive de sec- cionamento devem ser dimensionados. Uma novidade importante da nor- ‘ma para esses célculos de dimensio- namento da protegao foi a elevagao do fator aplicado sobre o valor da cor- rente de curto-circuito do modulo. A NBR 16690 estabelece 1,5 Ix, maior do que o de 1,25 I, utilizado nos projetos anteriormente, valor este que derivava da experiéncia de projetos fotovoltaicos da Europa e América no Norte. Jao fator de 1,5 decorreu da cexperiéncia posterior com instalacdes em paises de Fetalllt - Novembro-Oerembra - 2019 ‘maior irradiancia solar, como Africa do Sul e Austrélia, nos quais se verificou que, como fator 1,25, a atuagao da protec podia ocorrer ndo por causa de defeitos, mas com a prdpria corren- te de geracao. Resisténcia a intempéries Com 2 NBR 16690, fica oficialmente banida a utilizagao de protecdo contra raios ul Circuitos expostos ao tempo de arran- jos FV. Na seco 6.2.3, a norma estabe- lece para essas condicdes 0 uso de ca- bos que, além de retardantes de chama eresistentes & gua, apresentem tam- bém resistencia a radiagdo UV — ou, alternativamente, estejam abrigados em eletrodutos resistentes a UV. As caracteristicas dos sistemas em corrente continua, como os fotovoltai- cos, favorecem a per possibilidade de causar incéndios. Assim, para minimizar o risco de faltas a terra e curtos-circuitos, 0s conduto- res do arranjo FV precisam ter isolagdo dupla ou reforgada, em especial aque- les exposios ao tempo ou dispostos em eletrodutos ou eletrocalhas metélicas. Evidentemente a norma remete os requisitos de desempenho dos cabos norma especifica, a NBR 16612. Protecao contra sobretensdes Ainda por causa das peculiaridades das instalagdes de corrente continua ‘em geral, e das fotovoltaicas em par- ticular, a NBR 16690 determina 0 uso disjuntores com caracteristicas espect ficas. O caso da protecdo contra sobre- tensdes transitérias é exemplar: a norma prescreve, em 6.3.5, que os DPS devem ser explicitamente classificados para uso no lado em corrente continua de sistemas fotovoltaicos e estar em con formidade com a norma EN 50539-11 ou com a IEC 61643-31. Estas exigem que o DPS incorpore um elemento de abertura térmica, conectado em pa- varistor, que desconecte DUE ete o dispositivo quando este falhe ou atinja o fim da vida titil, evitando assim que ele se mante- nha “curto-circuitado” no circuito, podendo causar incéndios. Isto porque, como nos arranjos fotovoltaicos a corrente de curto-circui- to € apenas pouco acima da nominal, ha possibili- dade de que o disjuntor ou fusfvel no atue em Fotollt - Novenbra-Dezembro - 2019 Bem-vinda, mas demorada norma NBR 16690 vo uz depois devs ars dese vnds em su process de eobono. Os tabelos dogo, no ito da CE (064:001 do Cbs, nem inc ind em 2012. Diverse sts problemas no camit, que inciam ateroes no documenta do C82 da EC que sei de textrbose, oo fat de 0 TC 64 te otazdo su pia noma do instoes de sstemes FY em estes para que novomen se ence otrbaho dopo do noma sii), caboram cusando ura demra que no proces. Camo cmentad oir do aio no da em que «norma pubcodoesteva operndo ro rst mas de 125 mil sstemos solar fot voles ibid vss dezeos de sistemas de rnd pe. Nutos dls so bem pease constuides, mos 6 dda ets constvom ‘min. precede ce ua boo (enorada)quontdde de gerodores FY dstibuios em tlds e ots cis do Pos é bem cone. "Normas técricasnGo retroogem. Assim, po Sbvi,o otenimento ds presciGes do NBR 16690 nbo pode sr exigido de instclorGesrelzodes nes de sn ua, Anorma pode estar pubcad dst plo menos onl de 2018, cas em que tia “enqunckda” mos da meade os sistemas FY cise oje em oper ~ como vies og, 67,5 mil niddes frm instoloks opens ene jae e oti de 2019. bem vrdade que « poporodesosinstolares ser redid plo rime do expansio da ener fotovotcica no Bras, indsve no segmen- 1 do geo dst, en que pesem as aes onuncoas pla nel pr osstema de cmensande ener. Nu fo no stat, caso de curto-circuito permanente do DPS. E ‘os instologes consid 3 de oubro de 2019 representa franca mina. so, parm, notes din os co. (redo de Fto¥o) uma situagao totalmente diferente da encontrada nas instalagies de corrente alternada ou nas de cor- rente continua que consigam fornecer correntes de curto elevadas, casos em que € possivel utilizar fusiveis de retaguarda, Atualmente, em sistemas fotovoltaicos construidos no Brasil, no €raro encontrarem-se DPS para uso em corrente alternada aplicados no lado de .c, 05 quais poderio trazer riscos de incéndio ao final de sua vida titi. Anilise de risco A propésito da precariedade de parte dos sistemas em operagio no Pais, ‘nao é muito dificil encontrar situagdes em que o arranjo fotovoltaico foi insta- lado sobre o subsistema captor da pro- tegdo contra descargas atmosféricas. Em casos mais graves, os captores chegam a ser destruidos, havendo até relatos de que, para a instalagdo do gerador FV, foram simplesmente retiradas e descar- tadas as hastes Franklin existentes. Para combater praticas como essas, 0s elaboradores da NBR 16690 estabe- leceram em 5.4.1 que, se a edifi com a série NBR 5419. Além disso, uma importante garantia de seguranga é a exigéncia, expressa em 5.4.2, de andlise de risco segundo a NBR 5419-2, com 0 memorial de célculo dessa analise inte- grando a documentagao do projeto. Meios de manobra No que se refere a dispositivos de proteglo e seccionamento, a NBR 16690 prescreve requisitos identificando clara- mente as caracteristicas desses dispositi- ‘vos, 0s locais onde devem ser instalados ‘eas maneiras de fazé-lo, Para secciona- mento e manobra, por exemplo, a ta- bela 6 da norma (em 63.7.1) estabelece ‘osmeios a serem providos conjunto fotovoltaico (série, subarranjo ‘ouarranjo) da UCP - unidade de condi- cionamento de poténcia (que pode ser tum inversor, controlador de carga ou ‘outro dispositive de condicionamento). ‘Tomando apenas um exemplo, para 0 aso dos arranjos 6 exigido como meio demanobra o dispositivo interruptor- seccionador, conhecido na pratica como “seccionadora sob carga’. Um detalhe importante a propésito de UCPs de manobra e seccionamento: nasegio 43.43 (no capitulo que traz ‘osesquemas elétricos), onde se trata deUCPs com miltiplas entradas em corrente continua, conectadas em para- lelo a um barramento comum intemo UCP, é prescrito que cada setor do artanjo fotovoltaico conectado a cada uma das entradas deve ser tratado ‘como um subarranjo, e para cada su- barranjo deve ser previsto um disposi- tivo interruptor-seccionador para fazer a isolagio do inversor. Esta prescrigdo, que nao consta na TEC 62548 do TC 82 mas esta da IEC 60364-7-712 (em 712.31.101.1.3.3) do TC 64, visa a protegao dos eletricistas. Como o paralelismo ¢ feito antes da chave interna do inversor, introduziu- se essa salvaguarda para evitar, por exemplo, que o profissional de ma- nutengio desligue apenas essa chave e depois venha a puxar um conector MC-4.em carga. A comissio decidiu instituir a medida como obrigatéria por causa das peculiaridades do mer- cado brasileiro. Uma nova fase Enfim, a norma NBR 16690 visa primordialmente a garantir a segu- ranga das pessoas e das instalagdes. Evidentemente, antes de ela ser publi- era possivel, como sempre foi, projetar e construir no Brasil instala- Ges fotovoltaicas seguras observando adequadamente as prescrigdes das normas de requisitos gerais de instala- q@es elétricas, de protegao contra raios, de comissionamento de sistemas FV, de produtos, da NR-10 do Ministério do Trabalho e outras, e adotando ainda bboas solugdes de engenharia. Porém, a norma trouxe objetividade, pacifican- do aspectos que eram com frequéncia sujeitosa interpretagdes (com ou sem aspas) ¢ inaugurando uma nova fase, de muito maior seguranca, para o seg- mento de instalagdes solares fotovol- taicas no Pais.

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