Adicionalmente, qualquer problema com sua turma/curso deve ser resolvido, em primeira
instância, pela secretaria de sua unidade. Caso você não tenha obtido, junto a sua
secretaria, as orientações e os esclarecimentos necessários, utilize o canal institucional da
Ouvidoria.
ouvidoria@fgv.br
www.fgv.br/fgvmanagement
SUMÁRIO
2. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 5
2.1 CONTEXTUALIZANDO O CDC ............................................................................. 5
2.2 A EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ........................................................ 6
2.3 O DIREITO DO CONSUMIDOR E O DIREITO PRIVADO CLÁSSICO ............................ 7
2.4 PRINCÍPIOS ...................................................................................................10
1. PROGRAMA DA DISCIPLINA
1.1 Ementa
Código de Defesa do Consumidor. Conceitos e relação entre consumidor e fornecedor.
Política nacional das relações de consumo. Prevenção e reparação de danos.
Responsabilidade por vício do produto e serviço.
1.3 Objetivos
Analisar o surgimento da tutela do consumidor no Brasil, sua fundamentação histórico-
filosófica e os aspectos gerais como conceitos, natureza jurídica, princípios aplicáveis,
direitos básicos e instrumentos a serem utilizados.
1.5 Metodologia
Aulas expositivas, trabalhos em grupo, discussão dirigida e exibição de slides
ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. São Paulo: Revista dos
Tribunais
FILOMENO, José Geraldo de Brito. Manual de direitos do consumidor. São Paulo: Atlas
Direito do Consumidor
2
Direito do Consumidor
3
O TELEFONE 1
Não venho, senhor, reclamar de nenhum direito. Li o vosso Regulamento e sei que não
tenho direito a coisa alguma, a não ser a pagar a conta. Esse Regulamento, impresso na
página 1 de vossa interessante Lista (é meu livro de cabeceira), é mesmo uma literatura
que recomendo a todas as almas cristãs que tenham, entretanto, alguma propensão para
o orgulho ou soberba. Ele nos ensina a ser humildes; ele nos mostra quanto nós,
assinantes, somos desprezíveis e fracos.
Aconteceu por exemplo, senhor, que outro dia um velho amigo deu-me o prazer de me
fazer uma visita. Tomamos uma modesta cerveja e falamos de coisas antigas – mulheres
que brilharam outrora, madrugadas dantanho, flores doutras primaveras. Ia a conversa
quente e cordial ainda que algo melancólica, tal soem ser as parolas vadias de
cumpinchas velhos – quando o telefone tocou. Atendi. Era alguém que queria falar ao
meu amigo. Um assinante mais leviano teria chamado o amigo para falar. Sou,
entretanto, um severo respeitador do Regulamento; em vista do que comuniquei ao meu
amigo que alguém lhe queria falar, o que infelizmente eu não podia permitir; estava,
entretanto, disposto a tomar e transmitir qualquer recado. Irritou-se o amigo, mas fiquei
inflexível, mostrando-lhe o artigo 2 do Regulamento, segundo o qual o aparelho instalado
em minha casa só pode ser usado „pelo assinante, pessoas de sua família, seus
representantes ou empregados‟.
Devo dizer que perdi o amigo, mas salvei o Respeito ao Regulamento; „dura lex sed lex‟;
eu sou assim. Sei também (artigo 4) que se minha casa pegar fogo terei de vos pagar o
valor do aparelho – mesmo se esse incêndio (artigo 9) for motivado por algum circuito
organizado pelo empregado da Companhia com o material da Companhia. Sei finalmente
(artigo 11) que se, exausto de telefonar do botequim da esquina a essa distinta
Companhia para dizer que meu aparelho não funciona, eu vos chamar e vos disser, com
lealdade e com as únicas expressões adequadas,o meu pensamento, ficarei eternamente
sem telefone, pois „o uso de linguagem obscena constituirá motivo suficiente para a
Companhia desligar e retirar o aparelho‟.
Enfim, senhor, eu sei tudo; que não tenho direito a nada, que não valho nada, não sou
nada. Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge.
Isso me trouxe, é certo, um certo sossego no lar. Porém amo, senhor, a voz humana;
sou uma dessas criaturas tristes e sonhadoras que passa a visa esperando que de
repente a Rita Hayworth me telefone para dizer que o Ali Khan morreu e ela está ansiosa
para gastar com o velho Braga o dinheiro de sua herança, pois me acha muito simpático
e insinuante, e confessa que em Paris muitas vezes se escondeu em uma loja defronte ao
meu hotel só para me ver entrar ou sair.
1
BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas, 22 ed. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 221-222.
Direito do Consumidor
4
Confesso que não acho tal coisa provável: o Ali Khan ainda é moço, e Rita não tem meu
número. Mas é sempre doloroso pensar que se tal coisa acontecesse eu jamais saberia –
porque meu aparelho não funciona. Pensai nisso, senhor: um telefone que dá sempre
sinal de ocupado – „cuém, cuém, cuém‟ – quando na verdade está quedo e mudo na
modesta sala de jantar. Falar nisso, vou comer; são horas. Vou comer contemplando
tristemente o aparelho silencioso, essa esfinge de matéria plástica; é na verdade algo
que supera o rádio e a televisão, pois transmite não sons nem imagens, mas sonhos
errantes no ar.
Mas batem a porta. Levanto o escuro garfo do magro bife e abro. Céus, é um empregado
da Companhia! Estremeço de emoção. Mas ele me estende um papel: é apenas o
cobrador. Volto ao bife, curvo a cabeça e mastigo devagar, como se estivesse
mastigando meus pensamentos, a longa tristeza de minha humilde vida, as decepções,
os remorsos. O telefone continuará mudo; não importa: ao menos é certo, senhor, que
não vos esquecestes de mim”.
Março de 1951
Direito do Consumidor
5
2. INTRODUÇÃO
O primeiro paradigma também chamado Estado Liberal tem como princípio basilar o da
legalidade. A teoria dos Três Poderes, consolidada por Montesquieu, fundamenta o
Estado Liberal, coibindo o arbítrio dos governantes e oferecendo segurança jurídica para
os governados. É o Estado legalmente contido, também chamado, por isso, Estado de
Direito.
Durante o período em que vigorou o Estado Liberal, a ordem era a não intervenção do
Estado nos negócios privados, permitindo que esses fluíssem livremente segundo as
regras do mercado. A burguesia passou a dirigir a máquina estatal diretamente, visto
que a soberania, concentrada, no Estado Absolutista nas mãos do soberano, havia sido
transferida para o povo. No Liberalismo, como se sabe, exaltava-se o individualismo, com
ausência e desprezo da coação estatal.
Diante da crise econômica do primeiro pós-guerra, o Estado foi premido, pela sociedade,
a assumir um papel ativo, seja como agente econômico (instalando indústrias, ampliando
serviços, gerando empregos, financiando atividades), seja como intermediário na disputa
entre poder econômico e miséria (defendendo trabalhadores em face dos patrões,
consumidores em face de empresários).
Direito do Consumidor
6
mantidos; o voto censitário, por pressão das massas excluídas, foi substituído pelo
sufrágio universal, com ampla participação de todas as camadas da população, com isso
aumentando o prisma das propostas políticas; a liberdade contratual deixou de ser
ampla, passando-se ao dirigismo contratual na área econômica; surgiu a função social da
propriedade dos meios de produção.
Na Europa, nos Estados Unidos e em nosso País, verificaram-se pressões sociais, com
reivindicação de novos direitos. Nesse contexto, desponta, então, a tutela do consumidor
no Brasil.
Direito do Consumidor
7
Esta tem sido a orientação de diversos sistemas jurídicos desde o princípio do século XX 2,
por intermédio de uma maior intervenção do Estado nas relações entre os particulares, e
o aumento das inter-relações entre temas tradicionalmente divididos de modo estanque
como de direito público ou de direito privado, característica do direito contemporâneo,
denominado por muitos como um direito pós-moderno.
No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor vai ser promulgado no início dos anos 90,
cumprindo a determinação constitucional específica sobre o tema (art. 48, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias). Estabelece normas declaradamente de ordem
pública (artigo 1º), conferindo-lhes efetividade através da atribuição de competência
jurisdicional cível, criminal e administrativa a diversos órgãos do Estado, assim como
reconhece papel de destaque à auto-organização da sociedade civil, por intermédio das
associações de consumidores e demais entidades de defesa do consumidor.
2
Georges Ripert traz diversos exemplos da legislação francesa, no que se refere à proteção da parte
menos favorecida.
Direito do Consumidor
8
O direito privado clássico, representado pelo Código Civil como centro do ordenamento
jurídico e expressão de todo direito privado da época, é de tal modo hermético e
abrangente, a ponto de dar origem à escola da exagese, pela qual a identificação e
compreensão de todo direito residia no Código Civil, e só era direito o que estava
expresso nessa codificação.
3
Em geral é citado como leading case da teoria da imprevisão na França o caso da Compagnie General
d’Éclairage de Bordeaux, decidido pelo Conselho de Estado, em 30 de março de 1916, em que a ocupação
em razão da guerra de áreas produtoras de carvão afetaram o preço da matéria-prima e consequentemente o
custo da prestação da concessionária de serviço público, implicando na necessidade de revisão do contrato
em razão das circunstâncias imprevistas determinadas pela guerra.
Direito do Consumidor
9
Adiante, as crises econômicas pelas quais passou o mundo em fins da década de 1910 e
durante grande parte da década de 1920, culminando com as consequências da quebra
da Bolsa de Valores de New York, em 1929, fizeram com que a alternativa da revisão
contratual, sobretudo sob o risco do inadimplemento, permanecesse a ser utilizada.
Com a Segunda Guerra Mundial e, sobretudo, após seu término, assiste-se a profunda
modificação da estrutura econômica dos países capitalistas e de seus modelos de
negócio. Em grande parte impulsionados pelos avanços tecnológicos da área militar,
consolida-se após o conflito, uma crescente indústria dos bens de consumo de massa,
assim como a crescente massificação do crédito e da atividade publicitária, como novos
elementos no cenário econômico mundial. Com isso, altera-se igualmente o próprio
modelo de contrato que inspirou as codificações do século XIX e o próprio Código Civil
brasileiro de 1916.
O contrato, a rigor vislumbrado como um acordo pessoal entre dois sujeitos, que
negociam e estabelecem seu objeto através do pleno exercício da sua liberdade de
contratar, tem seus laços fundamentais sensivelmente alterados. Ocorre o que se
convencionou denominar despersonalização do contrato. Ou seja, em decorrência da
distância, da crescente ausência de contato direto entre os contratantes, não mais se
observará uma autêntica negociação dos termos do ajuste. Os contratantes não mais se
conhecem, no máximo, o contato se dá com um empregado ou preposto das empresas,
muitas vezes sem poder de decisão. Ao mesmo tempo, o crescimento das empresas e a
adoção de estruturas cada vez mais complexas de decisão pelas grandes corporações,
terminam por dar causa a que, por parte destas, passe a existir a necessidade de
uniformização dos contratos celebrados, facilitando seu planejamento e mesmo a
obtenção de maiores vantagens. Nasce aí, a figura das condições gerais dos contratos e
dos contratos de adesão que restringem a vontade de um dos contratantes apenas à
decisão de celebrar ou não o ajuste, mas sem nenhuma relevância para a definição do
seu conteúdo.
Isto passa, por certo, pela crítica da noção de igualdade advinda da Revolução Francesa,
e que serve de inspiração para todo o direito civil moderno. A igualdade formal,
consagrada no direito civil francês, e por sua influência, nos Códigos Civis de todos os
países de tradição romano-germânica até então, propunha que o critério de igualdade
que identificava a todos, era o fato de existirem como seres humanos, embasando, por
outro lado, o individualismo filosófico e, afinal, o individualismo jurídico. Neste sentido,
todos deveriam estar sujeitos a uma mesma lei, e exercer sua liberdade na esfera de
Direito do Consumidor
10
O direito do consumidor tem nesta tensão entre os interesses dos agentes econômicos
que se dedicam ao fornecimento de produtos ou serviços e os seus consumidores seu
objeto de regulação. E parte do reconhecimento da existência de uma desigualdade entre
eles, a justificar o estabelecimento de normas de proteção para os consumidores, por
intermédio da intervenção do Estado em setores que até então estavam confiados
exclusivamente à liberdade de iniciativa dos particulares. Esta distinção implicará,
necessariamente, na diferenciação das normas do direito do consumidor com relação ao
direito civil. Tanto em matéria contratual, mediante o reconhecimento de normas
cogentes de formação do conteúdo do contrato e de vinculação do fornecedor, quanto em
matéria de responsabilidade civil.
2.4 Princípios
O Direito, todos sabemos, não pode ser interpretado em tiras, nem aplicado aos pedaços.
Exige interpretação harmoniosa com todo o sistema e isso só se consegue por meio dos
princípios que iluminam e indicam o caminho a ser seguido na atuação hermenêutica 4
de descoberta do valor que está sendo resguardado pela regra. Traduzem o núcleo
básico do sistema jurídico, indicando as finalidades e objetivos a serem alcançados.
São frequentes no CDC as chamadas normas principiológicas, isto é, normas que
veiculam valores, estabelecem fins a serem alcançados. Aliás, o direito atual se
4
Hermenêutica é a ciência filosófica voltada para o meio de interpretação de um objeto. No caso do
Direito, trata-se de técnica específica que visa a compreender a aplicabilidade de um texto legal.
Direito do Consumidor
11
caracteriza por utilizar, cada vez mais, conceitos abertos (também chamados de
conceitos jurídicos indeterminados) e normas com conteúdo semântico flexível. Isto é, ao
lado de regras jurídicas, que operam com causas e consequências, vinculadas por um
nexo de imputação, os princípios, assim como os conceitos jurídicos indeterminados,
possibilitam uma alteração do direito sem que o texto de lei tenha necessariamente que
mudar. Possibilitam, portanto, uma adequação das normas às mudanças sociais, cada
vez mais velozes.
O CDC é uma lei principiológica, modelo até então inexistente no Sistema Jurídico
Nacional. Infelizmente, ainda há uma série de interpretações equivocadas da Lei nº
8.078/90, em função do desconhecimento de que o CDC é um sistema próprio, que tem
autonomia em relação às demais normas.
5
A designação do alcance específico da Lei nº 8.078/90 se dá pela explicitação do sentido de relação de
consumo, fixada no estabelecimento da definição do conceito de consumidor, de fornecedor, de produto e de
serviço.
Direito do Consumidor
12
6
São direitos básicos do consumidor: a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os
riscos que apresentem.
7
A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas,
ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidade, quantidade, composição, preço,
garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde
e segurança dos consumidores.
8
§ 3º - Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e
legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo
consumidor; e, § 4º - As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser
redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.
9
As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
Direito do Consumidor
13
10
A indústria automobilística utilizou-se largamente do recall, notando-se que a partir de 1991, cresceu
enormemente no país o número de convocações dirigidas aos consumidores, por montadoras nacionais e
estrangeiras, o que pode ter ocorrido tanto pela conscientização do fabricante como pelo efeito da vigência do
CDC.
Direito do Consumidor
14
n) Melhoria dos serviços públicos. Não apenas a área privada está obrigada a prestar
serviços eficientes e seguros ao seu usuário. Também a área pública, oficial, deve
ter o compromisso de prestar serviços públicos igualmente seguros e eficientes
que não atentem contra a vida, a saúde e a segurança do consumidor. Ante o
reconhecimento da alta precariedade com que são prestados os serviços públicos,
notadamente os de transporte e saúde, é feita a recomendação aos governos no
sentido de racionalizá-los e de melhorá-los, o que se enquadra no objetivo maior
de proteger o consumidor e melhorar-lhe a qualidade de vida.
Direito do Consumidor
15
3.1 Objetivos
A Política Nacional de Relações de Consumo deve ter como objetivos, em primeiro plano,
o atendimento das necessidades dos consumidores – objetivo principal das relações de
consumo -, mas deve preocupar-se também com a transparência e harmonia das
relações de consumo, de modo a pacificar e compatibilizar interesses eventualmente em
conflito. O objetivo do Estado, ao legislar sobre o tema, não será outro que não o de
eliminar ou reduzir tais conflitos, sinalizar para a seriedade do assunto e anunciar sua
presença como mediador, mormente para garantir proteção à parte mais fraca e
desprotegida.
Todavia, deve ser ressaltado que o CDC é uma lei especial que, em razão de seus
destinatários, só é aplicável aos consumidores e fornecedores em suas relações. Nesse
sentido, a lição de nossos mais autorizados doutrinadores:
11
MARQUES. Cláudia Lima. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais,
p. 31.
Direito do Consumidor
16
Direito do Consumidor
17
colocam sob o manto protetivo deste os sujeitos nelas descritos. Assim, estão igualmente
amparados todos aqueles que, muito embora não se amoldem ao conceito jurídico de
consumidor padrão, estão expostos aos efeitos decorrentes das atividades dos
fornecedores no mercado, podendo ser por elas atingidos ou prejudicados.
Em linha de princípio, o CDC se aplica aos consumidores não profissionais, como tais
entendidos aqueles que, ao adquirir produto ou serviço, o fazem de modo alheio às
finalidades profissionais, sem procurar, por meio da aquisição, aumentar seus lucros.
Direito do Consumidor
18
A linha de precedentes do STJ inclina-se pela teoria maximalista, posto que considera
consumidor o destinatário final fático do bem ou serviço, ainda que utilizado no exercício
de sua profissão ou empresa. Nesse sentido:
1) REsp 208.793/MT, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, o
qual considerou existir relação de consumo entre Fertiza Companhia Nacional
de Fertilizantes e Edin Fachin, por ser o agricultor destinatário final do adubo
que adquiriu e utilizou em sua lavoura: “A meu sentir, esse cenário mostra
que o agricultor comprou o produto na qualidade de destinatário final, ou
seja, para utilizá-lo no preparo de sua terra, não sendo este adubo objeto de
nenhuma transformação”;
2) REsp 329.587/SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, o
qual considerou existir relação de consumo entre a pessoa jurídica
contratante do serviço de transporte aéreo e a transportadora, tendo por
objeto o transporte de lote de peças de reposição de propriedade daquela;
3) REsp 488.274/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, o qual
considerou existir relação de consumo entre Pastifício Santa Amália Ltda. e
Baan Brasil Sistemas de Informática Ltda., porquanto aquela adquiriu,como
destinatária final, programas de computador distribuídos por esta, com o
intuito de melhor gerenciar seu estoque de produtos: “Extrai-se dos autos
que a recorrente é qualificada como destinatária final, já que se dedica à
produção de alimento e que se utiliza dos serviços de software, manutenção e
suporte oferecidos pela recorrida, apenas para controle interno de produção.
Deve-se, portanto, distinguir os produtos adquiridos pela empresa daqueles
que são, de fato, repassados aos consumidores”;
4) REsp 445.854/MS, Rel. Min. Castro Filho, Terceira Turma, o qual considerou
ser consumidor o agricultor Francisco João Andrighetto, ao adquirir crédito
bancário para a compra de colheitadeira a ser utilizada em sua atividade
econômica.
Pode-se aceitar a definição legal de fornecedor, que engloba “toda pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços” (CDC, art. 3º).
Direito do Consumidor
19
Direito do Consumidor
20
O Código definiu serviço em seu art. 3º, 2º, e buscou apresentá-lo da forma mais
completa possível. É importante lembrar que a enumeração é exemplificativa, realçada
pelo pronome “qualquer”. Dessa maneira, como a lei diz, serviço é qualquer atividade
fornecida, ou melhor dizendo, prestada no mercado de consumo. Os chamados serviços
essenciais têm regulação complementar no art. 22.
Esse conceito de produto é universal nos dias atuais e está estreitamente ligado à ideia
do bem, resultado da produção no mercado de consumo das sociedades capitalistas. É
vantajoso seu uso, pois o conceito passa a valer no meio jurídico e já era usado por
todos os demais agentes do mercado (econômico, financeiro, de comunicações, etc.).
Na definição de produto, o legislador coloca “qualquer bem”, e designa este como “móvel
ou imóvel”, e ainda “material ou imaterial”. Da necessidade de interpretação sistemática
do CDC nascerá também a hipótese de fixação do produto como “durável” e “não
durável”, na previsão do art. 26 12. Diante do referido artigo, importa esclarecer o que são
produtos duráveis (inciso I) e produtos não duráveis (inciso II). Temos que duráveis são
os bens tangíveis que não se extinguem após o seu uso regular. Foram feitos para durar;
para serem utilizados várias vezes. Não são, todavia, eternos. Sofrem os desgastes
naturais com o passar do tempo e a sequência de uso. Assim são os livros, as roupas, os
automóveis, os imóveis, os equipamentos eletrônicos etc. Com o tempo, maior ou
menor, deixarão de atender às finalidades para as quais se destinam ou, quando nada,
terão reduzidas a sua eficiência ou capacidade de funcionamento. No segundo caso, a
contrario sensu, temos que não duráveis são aqueles bens tangíveis que desaparecem,
se destroem, acabam com o seu uso regular. A extinção pode ser imediata (alimentos,
remédios, bebidas) ou paulatina (caneta, sabonete).
12
Há uma diferenciação com relação ao prazo para reclamação em razão da classificação do produto como
durável ou não durável.
Direito do Consumidor
21
Subjacente ao tema cumpre verificar que ao dever geral de não causar prejuízo a
outrem, correspondeu o dever especial de não colocar no mercado produtos e serviços
que possam acarretar riscos à saúde e à segurança dos consumidores (CDC, art. 8º).
Esse dispositivo impõe ao fornecedor os seguintes deveres:
a) não colocar no mercado produtos e serviços que impliquem riscos à saúde e
segurança, exceto os havidos normais e previsíveis em decorrência de sua
natureza e fruição; e
b) dar ao consumidor informações necessárias e adequadas a respeito do
funcionamento e da potencialidade danosa.
Direito do Consumidor
22
Vem a propósito o caso julgado pela 5ª. Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro, na Apelação Cível n° 20.632/99, relator o Desembargador Roberto Wider. O
paciente foi submetido a uma cirurgia de prostatectomia, decorrente de hipertrofia
prostática, ou seja, próstata aumentada de volume. Realizada a intervenção cirúrgica, o
paciente veio a sofrer incontinência urinária e impotência sexual. Na ação indenizatória
movida pelo paciente contra o médico que fez a cirurgia foi alegado o risco inerente,
tendo a perícia médica confirmado que a incontinência urinária e a impotência sexual são
consequências inevitáveis naquele tipo de cirurgia, pelo menos naquele caso específico,
pelo que não haveria que se falar de culpa, sequer em defeito do serviço. Mesmo assim o
pedido indenizatório foi acolhido porque o paciente não havia sido informado desses
riscos, para que pudesse decidir, e só ele, se os correria ou não. Em suma, faltou o
consentimento informado.
O dever de segurança é o dever jurídico que se contrapõe ao risco. Risco e segurança são
dois elementos que atuam reciprocamente no meio do consumo. Há um relacionamento
entre essas duas palavras, como vasos comunicantes. Quanto maior o risco criado pela
atividade empresarial, maior será o dever de segurança.
13
BENJAMIN, Antônio Herman. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo, Savaiva, p. 60
Direito do Consumidor
23
Resumindo, pode-se então dizer que o Código de Defesa do Consumidor esposou a teoria
do risco do empreendimento ou teoria do risco empresarial que se contrapõe à teoria do
risco do consumo.
Pela teoria do risco do risco do empreendimento, todo aquele que se disponha a exercer
alguma atividade no mercado de consumo tem o dever de responder pelos eventuais
vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos, independentemente de culpa. Este
dever é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança, bem como
os critérios de lealdade, quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os
destinatários dessas ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se
alguém a realizar atividade de produzir, estocar, distribuir e comercializar produtos ou
executar determinados serviços. O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e
serviços que oferece no mercado de consumo, respondendo pela qualidade e segurança
dos mesmos.
O consumidor não pode assumir os riscos das relações de consumo, não pode arcar
sozinho com os prejuízos decorrentes dos acidentes de consumo, ou ficar sem
indenização. Tal como ocorre na responsabilidade do Estado, os riscos devem ser
socializados, repartidos entre todos, já que os benefícios são também para todos. E cabe
ao fornecedor, através dos mecanismos de preço, proceder a essa repartição de custos
sociais dos danos. É a justiça distributiva, que reparte equitativamente os riscos
inerentes à sociedade de consumo entre todos, através dos mecanismos de preços,
repita-se, e dos seguros sociais, evitando, assim, despejar esses enormes riscos nos
ombros do consumidor individual.
14
RIZZATTO, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Saraiva, p. 214.
Direito do Consumidor
24
“há vício sem defeito, mas não há defeito sem vício; o defeito pressupõe o vício. O
defeito é o vício acrescido de um problema extra, alguma coisa extrínsica ao produto ou
ao serviço, que causa dano maior que simplesmente o mau funcionamento ou não-
funcionamento”.
Dispõe o Código que é considerado defeituoso o produto quando não oferece a segurança
que dele legitimamente se espera, levando-se em conta circunstâncias relevantes como
apresentação, a normal utilização e os riscos que dele razoavelmente se esperam e a
época em que foi colocado no mercado (risco do desenvolvimento), pois o avanço
tecnológico faz com que os produtos atuais sejam muito mais seguros e eficientes do que
os do passado. O simples fato de ser colocado no mercado produto de melhor qualidade
ou mais seguro não induz à conclusão de que os mais antigos sejam considerados
defeituosos, já que deve ser analisado o contexto da época do lançamento e, a lei não
deve amordaçar o avanço tecnológico (art. 12, § 1º e 2º).
Com relação aos serviços, o fornecedor está obrigado à reparação de danos causados aos
consumidores por defeitos, sob qualquer modalidade, exceto a de caráter trabalhista
(art. 3º, 2º) ou, em virtude da ausência de remuneração, quando decorram de atos de
camaradagem, parentesco ou vizinhança. Da mesma forma, responde o fornecedor em
razão da insuficiência ou inadequação de informações sobre fruição e riscos de sua
atividade (art. 14).
Para maior clareza, diz o CDC que o serviço é considerado defeituoso quando não fornece
a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em conta as circunstâncias
relevantes como o modo de seu fornecimento ou de sua prestação, o resultado e os
riscos que dele razoavelmente se esperam e á época em que foi fornecido, também não
se considerando defeituoso pela adoção de novas técnicas (art. 14, § 1º e 2º).
A lei permite ao consumidor, não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 dias,
contados a partir do dia da reclamação acerca da ocorrência do vício, exigir,
alternativamente é á sua escolha: substituição do produto por outro da mesma espécie,
em perfeitas condições de uso; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; o abatimento proporcional do
preço; a complementação de peso ou medida, no caso de vício de quantidade; a
reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível.
Direito do Consumidor
25
No que tange às reclamações por vício do produto ou do serviço, os prazos legais são de
trinta dias para fornecimento de serviço e de produtos não duráveis (art. 26, I), e de
noventa dias, quando se tratar de fornecimento de serviços ou de produtos duráveis (art.
26, II). O termo inicial da contagem do prazo decadencial passou a variar conforme a
natureza do vício: se aparente ou de fácil constatação, conta-se a partir da entrega
efetiva do produto ou do término da execução do serviço; se oculto, a partir do momento
em que o vício ficar evidenciado.
15
REsp 185.836/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, 4° Turma
Direito do Consumidor
26
“Sempre que houver garantia convencional, entende-se que, ao lado dela, subsistirá a
garantia legal. A garantia contratual será um plus em favor do consumidor. Os termos e
o prazo dessa garantia contratual ficam ao alvedrio exclusivo do fornecedor, que os
estipulará de acordo com sua conveniência, a fim de que seus produtos ou serviços
passam a ter competitividade no mercado, atentando, portanto, ao princípio da livre
iniciativa. Não raras vezes, o conteúdo da garantia de projeta como fator decisivo para o
consumidor optar pela aquisição do produto ou serviço. Há, inclusive, empresas que
promovem anúncios publicitários, centrando sua estratégia de marketing exatamente na
garantia, muito melhor e mais abrangente do que a da concorrência, de sorte a
sensibilizar o consumidor a dar preferência a seus produtos ou serviços” 16.
Temos como certo, assim, que o prazo da garantia convencional começa a correr a partir
da entrega do produto ou da prestação do serviço, enquanto o prazo da garantia legal
(30 ou 90 dias) tem por termo inicial o dia seguinte ao último dia da garantia
convencional.
Note-se que os prazos de reclamação, tanto para vícios aparentes como para os ocultos
são os mesmos. O que diferencia um do outro é o dies a quo, isto é, o seu ponto de
partida, o momento em que o prazo começa a fluir. No caso de vício aparente ou de fácil
constatação, conta-se o prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do
término da execução do serviço. Se o vício é oculto, o prazo só começa a correr a partir
do momento em que ficar evidenciado o problema.
16
NERY JUNIOR, Nelson. Código de Defesa do Consumidor comentado. Rio de Janeiro: Forense, p. 553-554.
Direito do Consumidor
27
Neste ponto, sem sombra de dúvida, enfrentará a Justiça certa dificuldade para verificar
se o vício é de qualidade ou decorrente do desgaste normal do produto, principalmente
quando o vício se apresentar muito tempo depois de sua aquisição. Um produto, embora
antigo, pode estar bem conservado, servir ao fim a que se destina, e apresentar um vício
que comprometa sua utilização. Se ficar demonstrado que é um vício de qualidade,
decorrente da fabricação, e não decorrente do desgaste normal, não haverá motivo para
negar-se ao consumidor o direito à reparação.
Em resumo: quando o bem for novo, haverá uma presunção relativa de que o vício é de
origem. Quando o bem não for novo, deve-se atentar para a vida útil do produto ou
serviço, e a prova da anterioridade do vício deve ser feita, via de regra, mediante perícia.
Essa volta à situação anterior (status quo ante), no entanto, é impossível nos danos
morais. Se um carro, em virtude de defeito no sistema de freios causa um acidente e o
consumidor vem a perder a visão, como fazer voltar à situação anterior? Em casos como
esse, a indenização será compensatória, pois terá lugar para compensar a dor da vítima,
sua humilhação, a perda de um projeto de vida, da honra, enfim, qualquer dano
suficientemente grave que possa ser tido, à luz das circunstâncias, como dano moral.
17
Perda patrimonial efetivamente já ocorrida.
18
Compreendem tudo aquilo que o lesado deixou de auferir como renda líquida, em virtude do dano.
Direito do Consumidor
28
No que respeita aos danos morais 19, tendo em vista suas características e o modo pelo
qual o quantum deve ser fixado (arbitrado pelo juízo, levando-se em consideração o
caráter satisfativo e o caráter punitivo/pedagógico), não há sequer como falar em
tarifamento.
19
É aquele que afeta a paz interior da pessoa lesada; atinge seu sentimento, o decoro, o ego, a honra,
enfim, tudo aquilo que não tem valor econômico mas causa dor e sofrimento. É, pois, a dor física e/ou
psicológica sentida pelo indivíduo lesado.
Direito do Consumidor
29
Tal regra, aplicada eficazmente no campo das relações civis, mostrou-se inadequada no
trato das relações de consumo, quer pela dificuldade intransponível na demonstração de
culpa do fornecedor, titular do controle dos meios de produção e do acesso aos
elementos de prova, quer pela inviabilidade de acionar o vendedor ou prestador de
serviço, que, só em infindável cadeia de regresso, poderia responsabilizar o fornecedor
originário, quer pelo fato de terceiros, vítimas do mesmo evento, não se beneficiariam da
reparação.
Direito do Consumidor
30
Assim sendo, para que haja responsabilização do profissional liberal, necessário que se
verifique sua conduta culposa, ou seja, imprescindível que o fornecedor profissional
liberal tenha agido com culpa, em uma de suas modalidades: negligência, imprudência
ou imperícia.
Como aquele que paga a indenização nem sempre é o único causador do dano, o CDC
assegura o direito de regresso para aquele(s) fornecedor(es) que estiver(em)
inconformado(s) com o pagamento feito. É uma consequência natural da solidariedade
passiva que se opera em favor do devedor que paga a dívida dos outros.
Deve ser ressaltado que o Código, na parte final de seu art. 88, veda a denunciação da
lide, de sorte que o direito de regresso deverá ser exercido em ação autônoma ou nos
próprios autos da indenização consumerista, uma vez findo aquele processo.
20
BENJAMIN, Antônio Herman. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo, Savaiva, 1991, p.
56.
Direito do Consumidor
31
21
“A culpa concorrente da vítima permite a redução da condenação imposta ao fornecedor” (STJ, REsp
287.849, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, 4ª Turma).
Direito do Consumidor
32
Alguns autores entendem que a força maior e o caso fortuito, por não terem sido
expressamente inseridos no rol das excludentes, não afastam a responsabilidade do
fornecedor. Entretanto, essa é uma maneira muito simplista de resolver o problema,
como também é aquela de dizer que o caso fortuito ou a força maior excluem a
responsabilidade do fornecedor porque essa é a regra geral do nosso Direito.
O efeito prático da adoção dessa teoria é que, ocorrendo um dos pressupostos do art. 28
– abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos
estatutos ou do contrato social, em detrimento do consumidor -, o juiz pode
desconsiderar a personalidade jurídica e responsabilizar civilmente o sócio- gerente, o
administrador, o sócio majoritário, o acionista controlador, etc. alcançando-lhes os
respectivos patrimônios pessoais. O mesmo procedimento é adotado quando ocorre
casos de falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade de pessoa jurídica
provocados por má administração.
22
revê o citado parágrafo: “Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores”.
Direito do Consumidor
33
O claro objetivo da norma é facilitar o acesso do consumidor à justiça, que pela regra do
Código de Processo Civil (foro do domicílio do réu) teria que acionar o fornecedor na
justiça de outro estado ou cidade muito distante.
23
“o ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito”.
24
Verossímil é aquilo que é crível ou aceitável em face de uma realidade fática. Não se trata de prova robusta
ou definitiva, mas daquela decorrente de primeira aparência.
Direito do Consumidor
34
Não prevalece o foro contratual de eleição, se configurada que tal indicação, longe de
constituir-se mera adesão a cláusula preestabelecida pela instituição mutuante, implicar
em dificultar a defesa da parte mais fraca, em face dos ônus que terá para acompanhar o
processo em local distante daquele em que reside e, também, onde foi celebrado o
mútuo”.
Direito do Consumidor
35
6.1 Oferta
A evolução das relações de consumo conduziu à necessidade de novo tratamento
atinente à oferta e publicidade. A escassa regulamentação pressupunha a igualdade das
partes e tinha presente o entendimento de que a oferta se dava entre pessoas
determinadas: proponente e aceitante. Fruto dessa insuficiência normativa e da
constatação de que a oferta nas relações de consumo poderia dar- se entre pessoas
indeterminadas, alcançando tanto o consumidor efetivo (aquele que atua adquirindo
produtos ou serviços), como o potencial (aquele que está propenso a consumir ou
exposto às práticas de consumo, como oferta, publicidade e práticas abusivas), verificou-
se que este último também merecia proteção especial da lei.
25
Por exemplo, vitrine.
26
Por exemplo, orçamento.
27
Por exemplo, anúncios nos meios de comunicação.
Direito do Consumidor
36
6.2 Publicidade
O Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária define publicidade como “toda
atividade destinada a promover instituições, conceitos e ideias”. Na mesma linha é
conceituada pelo Decreto nº 57.690/66, como “qualquer forma remunerada de difusão
de ideias, mercadorias, produtos ou serviços que parte de um anunciante identificado”.
A publicidade deixou de ter papel meramente informativo para influir na vida do cidadão
de maneira tão profunda a ponto de mudar hábitos e ditar comportamento. Trata-se,
como se vê, de poderoso instrumento de influência do consumidor nas relações de
consumo, atuando nas fases de convencimento e decisão de consumir. O quadro assim
exposto revela aquilo que por todos é sabido: o consumidor é induzido a consumir,
bombardeado pela publicidade massiva que o cerca em todos os lugares e momento de
seu dia-a-dia. Como autômato, responde a esses estímulos, sem discernir corretamente.
Age pela emoção, embotado em seu juízo crítico.
Direito do Consumidor
37
6.2.2 Classificação
O CDC tratou de classificar e definir publicidade enganosa e abusiva, nestes termos:
a) É enganosa “qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo,
mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, origem, preço e quaisquer
outros dados sobre produtos e serviços” (art. 37, 1º). Será publicidade
enganosa por omissão aquela que “deixar de informar sobre dado essencial
do produto ou serviço” ( 3º). Em ambos os casos, a publicidade enganosa
vicia a vontade do consumidor, que, iludido, acaba adquirindo produto ou
serviço em desconformidade com o pretendido. São exemplos: a utilização do
Direito do Consumidor
38
Direito do Consumidor
39
28
V. Medida Provisória nº 550, de 8 de julho de 1994
Direito do Consumidor
40
Ciente dos constantes abusos que se perpetravam nessa área, com ofensa à dignidade
do devedor, exposição a ridículo e utilização de práticas violentas como ameaças e
constrangimentos, o legislador procurou estabelecer um modo civilizado de se cobrar. A
lei impede apenas a cobrança abusiva. O consumidor pode sofrer constrangimentos
legais, como protesto do título, penhora, execução, falência etc. Além disso, pode ser
cobrado condignamente em seu trabalho, descanso ou lazer.
Direito do Consumidor
41
Direito do Consumidor
42
29
Princípio da autonomia da vontade (pacta sunt servanda).
Direito do Consumidor
43
Direito do Consumidor
44
Esta apostila contém trechos extraídos dos livros: Programa de direito do consumidor,
de Sergio Cavalieri Filho; e Manual de direito do consumidor, de Felipe Peixoto Braga
Netto.
30
Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1-8-1996.
Direito do Consumidor
45
8. MATERIAL COMPLEMENTAR
VAMOS TREINAR UM POUQUINHO????
O Dr. Rui, renomado pediatra, atende a Sra. Daniele e constata que sua pressão arterial
está bastante elevada. Como não há nenhuma medicação específica a bordo, Dr. Rui
decide medicar a passageira com um ansiolítico de seu uso pessoal. Cerca de uma hora
depois do atendimento, a passageira vem a falecer.
Pergunta-se:
Existe relação de consumo, entre Dr. Rui e Daniele, no caso narrado? Justifique.
A Incorporadora alega que o evento ocorreu em consequência de fato fortuito, uma vez
que os defeitos de construção decorreram de erros no cálculo estrutural realizado pelo
engenheiro contratado.
Por fim, o Diretor sustenta que as empresas possuem personalidade jurídica própria,
postulando sua exclusão do polo passivo da ação.
Decida a questão fundamentadamente.
Direito do Consumidor
46
ESTUDOS DE CASO
1) Maristela foi à loja “Compre Aqui” e adquiriu um novo aparelho de som, cujo
fabricante não conseguiu identificar, para presentear Juliana e Pedro por seu 5º
aniversário de casamento. Estes, ao utilizar o novo equipamento, pela primeira
vez, verificaram que o mesmo não estava reproduzindo o som de forma
adequada.
2) Marcos propôs ação ordinária em face do Hotel Fazenda Lumiar Ltda., em que
pleiteia indenização por danos sofridos em razão de acidente que lhe causou
tetraplegia.
Direito do Consumidor
47
Identifique também qual o prazo determinado na lei para que seja proposta a
referida ação.
Direito do Consumidor
48
Responda:
a) As pessoas atingidas em terra, na sua integridade física, moral e
patrimonial, podem pleitear indenizações com base no CDC? Explique.
Direito do Consumidor