Você está na página 1de 6

UFCD 2760

Preambulo
Desde 1986, tem vindo a ser atribuída especial importância às medições, tendo em
consideração as disposições legais relativas a empreitadas de obras públicas, estabelecidas
actualmente no DL59/991, artigo 202, no qual se faz referência a que os métodos e critérios a
adoptar para realização das medições serão obrigatoriamente estabelecidos no Caderno de
Encargos e, em caso de alterações, os novos critérios de medição que porventura se tornem
necessários, deverão desde logo ser definidos.

A Portaria 428/95 que regulamenta os concursos para, empreitadas e fornecimentos de


obras públicas, estabelece também a seguinte ordem de prioridade a observar na medição de
trabalhos quando não são estabelecidos outros critérios no Caderno de Encargos:

1. – Normas oficiais de medição que se encontrem em vigor;


2. – Normas definidas pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC);
3. – Critérios geralmente utilizados ou os que foram acordados entre o Dono de
Obra e o Empreiteiro.

De salientar que, embora não existam Normas oficiais de medição nem Normas
definidas pelo LNEC, tem vindo a ser prática corrente considerar como “Normas do LNEC” os
critérios definidos na publicação base anteriormente referida.

Objectivos das Medições


As medições na construção e as regras a elas associadas constituem o modo de definir e
quantificar, de uma forma objectiva, os trabalhos previstos no projecto ou executados2 em
obra. Constituem, assim, uma das actividades importantes do projecto, sendo também
fundamental para as principais entidades envolvidas no processo construtivo, nomeadamente
Dono de Obra e Empreiteiro.

Deste modo, as medições dos trabalhos previstos no projecto ou executadas em obra


devem ser entendidas por cada uma das entidades envolvidas como realizadas com regras
bem definidas, tendo em vista atingir os seguintes objectivos:

a) Possibilitar, a todas as empresas que apresentem propostas a concurso, a


determinação dos custos e a elaboração de orçamentos, com base nas mesmas
informações de quantidades e nas condições especificadas3 para os trabalhos
indicados no projecto;
b) Elaborar listas de trabalhos, de acordo com sistemas de classificação que
individualizem cada trabalho segundo grupos específicos que possibilitem, às
várias entidades envolvidas no processo, análises comparativas de custos e
avaliações económicas de diferentes soluções;

Página 1 de 6
c) Proporcionar às entidades adjudicantes a avaliação das propostas cujos preços
foram formulados com idêntico critério, bem como permitir, de um modo
facilitado, a quantificação das variações que se verifiquem durante a construção,
devidas a trabalhos a mais e a trabalhos a menos ou a erros e omissões de
projecto;
d) Possibilitar às empresas um acesso simplificado a informação eventualmente
tipificada e informatizada relativa a trabalhos-tipo, permitindo assim a
formulação de propostas para concurso com bases determinísticas sólidas,
nomeadamente as relativas a custos de fabrico, directos, indirectos, de
estaleiro, de subempreitadas, etc.;
e) Proporcionar às empresas adjudicatárias uma sistematização de procedimentos
relacionada com o controlo dos diversos trabalhos a executar, nomeadamente
os devidos a rendimentos de recursos que proporcionam o cálculo das
quantidades de materiais e a avaliação das quantidades de mão-de-obra (MO),
de equipamentos ou de outros recursos a utilizar na execução dos trabalhos;
f) Facilitar o estabelecimento dos planos de inspecção e ensaios aplicados ao
controlo de qualidade e da segurança4 na execução dos diferentes trabalhos;
g) Facilitar a elaboração dos autos de medição5 e o pagamento das situações
mensais, no prazo de execução da obra, e a elaboração da Conta da
empreitada6, quando da recepção provisória da obra;
h) Estabelecer as bases para que as empresas realizem a análise e o controlo de
custos de trabalhos.

_____________________________________________________________________________
1
Este Decreto-Lei, que revogou o DL 405/93, manteve a redacção do artigo relativo às
medições dos trabalhos, antes já descritos no DL 235/86. Salienta-se que o DL 235/86 (que
revogou o DL 48871) tornou obrigatória a indicação das regras de medição no caderno de
encargos, em substituição da anterior redacção “Quando for julgado conveniente, o caderno de
encargos indicará…”
2
Segundo o artigo 203 do DL 59/99 do capítulo relativo ao pagamento por medição, deverá
proceder-se obrigatoriamente à medição de todos os trabalhos executados, mesmo que estes
não se considerem previstos no projecto nem devidamente ordenados e independentemente
da questão de saber se devem ou não ser pagos ao empreiteiro.
3
Na proposta de empreitada por série de preços (artigo 76 do DL 59/99), o preço total será o
que resulta da soma dos produtos dos preços unitários pelas respectivas quantidades de
trabalho constantes do mapas-resumo, e nesse sentido se considerará corrigido o preço total
apresentado pelo empreiteiro, quando diverso do que os referidos cálculos produzam.
4
A este propósito deve salientar-se as recentes disposições estabelecidas no DL 155/95,
(Transposição da Directiva n.º 92/57/CEE) acerca da “Segurança e Saúde a Aplicar nos
Estaleiros Temporários ou Móveis” que, entre outras exigências, estabelece a obrigatoriedade
de existir um “Plano de Segurança e Saúde” [11], sendo para o efeito a caracterização dos
trabalhos a executar um elemento fundamental.

Página 2 de 6
5
Salienta-se que os autos de medição, além dos trabalhos previstos (cuja natureza e
quantidade foram previstas como base do concurso), devem ser discriminados, quando
existirem, com as seguintes designações e significados:

1. Trabalhos devidos a erros de projecto: são trabalhos da mesma espécie dos previstos
cujas quantidades a mais e a menos resultam de erros do projecto reclamados pelo
empreiteiro nos prazos legais.
2. Trabalhos devidos a omissões do projecto: são trabalhos de espécie diferente dos
previstos resultantes de omissões do projecto reclamados pelo empreiteiro nos prazos
legais.
3. Trabalhos a mais e a menos da mesma espécie dos previstos: são trabalhos da mesma
natureza dos previstos ou das omissões, executados nas mesmas condições, e cujas
quantidades diferem das previstas.
4. Trabalhos a mais e a menos de espécie diferente dos previstos: são trabalhos de
natureza diferente dos previstos e das omissões, ou executados em condições
diferentes das previstas. Estes trabalhos devem ser subdivididos em:
a) trabalhos com preços já acordados: discriminados com a indicação das datas
em que os preços foram acordados, tendo em vista a definição dos índices base
para cálculo da revisão de preços
b) trabalhos com preços por acordar.
6
Durante a execução dos trabalhos, a situação dos pagamentos é efectuada com base na sua
medição (mensal, salvo estipulado em contrário), sendo para tal elaborada a respectiva conta
corrente no prazo de 11 dias, com especificação das quantidades de trabalhos apuradas, dos
preços unitários, do total creditado, dos descontos a efectuar, dos adiantamentos concedidos
ao empreiteiro e do saldo a pagar a este.

Para a liquidação da empreitada (no prazo de 44 dias após a recepção provisória) é eleborada
a conta da empreitada da qual constam entre outros, os valores de todas as medições
efectuadas, o mapa de todos os trabalhos executados a mais ou a menos dos previstos no
contrato, com a indicação dos preços unitários pelos quais se procedeu à sua liquidação, bem
como daqueles sobre os quais existam reclamações.

Salienta-se que, no caso de existirem reclamações, segundo o artigo 222 do DL 55/99, o


empreiteiro pode reclamar da notificação da conta final, desde que não inclua novas
reclamações relativas a medições ou de verbas que constituam mera e fiel reprodução das
contas das medições ou das reclamações já decididas.

Página 3 de 6
Princípios de base
As medições podem ser elaboradas a partir do projecto ou da obra, sendo as regras de
medição aplicáveis a ambos os casos; porém, na medição sobre projecto, os medidores
deverão ter conhecimento e experiência suficientes para poderem equacionar e procurar
esclarecer, junto dos autores de projecto, as faltas de informação que são indispensáveis à
determinação das medições e ao cálculo dos custos dos trabalhos.

Apesar de cada obra possuir, em regra, particularidades qua a diferenciam das


restantes, podem ser definidos alguns princípios de base a ter em consideração na elaboração
das medições, nomeadamente as seguintes:

a) O estudo da documentação do projecto – peças desenhadas, caderno de


encargos e cálculos – deve constituir a primeira actividade1 do medidor;
b) As medições devem satisfazer as peças desenhadas do projecto2 e as condições
técnicas gerais e especiais do caderno de encargos, pois podem existir erros e
omissões3 que o medidor deve esclarecer com o autor do projecto;
c) As medições devem ser elaboradas de acordo com as regras de medição
adoptadas e, na falta, o medidor deve adoptar critérios que conduzam a
quantidades correctas. Estes critérios devem ser descriminados, de forma clara,
nas medições do projecto;
d) As medições devem ter em consideração as normas aplicáveis à construção,
nomeadamente aos materiais, produtos e técnicas de execução;
e) Dentro dos limites razoáveis das tolerâncias admissíveis para a execução das
obras, as medições devem ser elaboradas de modo a que não sejam
desprezados nenhum dos elementos constituintes do edifício;
f) Durante o cálculo das medições devem ser realizadas as verificações das
operações efectuadas e as confrontações entre somas de quantidades
parcelares com quantidades globais. O grau de rigor a obter com estas
verificações e confrontações depende, como é evidente, do custo unitário de
cada trabalho;
g) A lista de trabalhos deve ser individualizada e ordenada segundo os critérios
seguintes:
1. Os trabalhos medidos devem corresponder às actividades que são
exercidas por cada categoria profissional de operário;
2. As medições devem descriminar todos os trabalhos, principais e
auxiliares, com uma definição clara de cada trabalho e indicarem as
características mais importantes necessárias à sua execução. Sempre
que possível, esta definição deve ser esclarecida com a referência às
peças desenhadas e às condições técnicas ou de outras informações
existentes noutras peças do projecto;
3. As medições devem ser decompostas por partes da obra que facilitem a
determinação das quantidades de trabalho realizada durante a
progressão da construção bem como a comparação de custos com
projectos similares.

Página 4 de 6
_____________________________________________________________________________
1
Tendo como referência a Portaria 428/95, considera-se importante salientar que, em caso de
divergências entre esses documentos integrados no contrato, as regras de interpretação dos
documentos que fazem parte de uma empreitada são os seguintes:

A. O estabelecido no próprio título contratual prevalecerá sobre o que constar de todos


os demais documentos;
B. O estabelecido na proposta prevalecerá sobre todos os restantes documentos, salvo
naquilo que em que tiver sido alterado pelo título contratual;
C. Nos casos de conflito entre caderno de encargos e o projecto, prevalecerá o primeiro
quanto à definição das condições jurídicas e técnicas de execução da empreitada e o
segundo em tudo o que diz respeito à própria obra;
D. O programa de concurso só será atendido em último lugar.
2
Ter em atenção que, quanto a eventuais divergências que existam entre as várias peças do
projecto, aplicam-se as seguintes regras:

A. As peças desenhadas prevalecerão sobre todas as outras quanto à localização, às


características dimensionais e à disposição relativa das suas diferentes partes;
B. Havendo divergências entre peças desenhadas considera-se na prática corrente que o
elemento a maior escala prevalece sobre o outro a escala mais reduzida;
C. O mapa de medições prevalecerá no que se refere à natureza e quantidade dos
trabalhos;
D. Em tudo o mais prevalecerá o que constar da memória descritiva e restantes peças do
projecto.
3
Deve ter-se em atenção o estabelecido no DL 59/99 relativamente a reclamações quanto a
erros e omissões de projecto, e respectivos efeitos, nomeadamente nos artigos 14º a 16º, em
que são definidos prazos (limite inferior e superior) de reclamação a partir da data de
consignação, e a justificar a reclamação, isto é, natureza ou volume de trabalhos ou erros de
cálculo do mapa de medições por se verificarem divergências entre este e o que resulta das
restantes peças do projecto. Salienta-se ainda que, segundo o artigo 15º, no caso de o projecto
base ou variante ser da autoria do empreiteiro, este suportará os danos resultantes dos erros
ou omissões desse projecto ou dos correspondentes mapas de medições, excepto se
resultarem de deficiências dos dados fornecidos pelo dono de obra.

Página 5 de 6
BIBLIOGRAFIA

FONSECA, M. SANTOS. (2000) “Curso sobre regras de medição na construção”

Página 6 de 6

Você também pode gostar