Você está na página 1de 7

“Teoria da Justiça”

John Rawls

Filosofia Social e Política

Ana Cláudia Lopes

Porto alegre
2010/02
Resumo:
Este estudo tem por objetivo, demonstrar o que é a teoria da Justiça como Equidade
em John Rawls e sua interpretação da Posição Original, como este propõe os princípios que
elegem e constroem sua concepção política do justo, através de um conjunto de princípios,
gerais em sua forma e universais em sua aplicação, que deve ser publicamente reconhecido
como uma última instância de apelação para ordenação das reivindicações conflitantes de
pessoas éticas.

Ana Lopes

Este estudo terá por objetivo apresentar a teoria da Justiça em Rawls, bem como sua
concepção de Equidade e como este propõe através da Posição Original a criação de uma
estrutura básica para a criação de um Estado Democrático e não comunitário, mas sim justo.
Para isto serão utilizados comentadores, o próprio autor e críticos para elucidar o que
realmente o autor propõe.
A justiça é a primeira virtude das Instituições sociais, pois se percebe que para uma
sociedade ser bem ordenada e planejada, é necessário o uso desta virtude para promover o
bem público dos seus membros, mas que, para alcançar este patamar, precisa-se efetivamente
ser regulada por uma concepção pública e política de justiça.
Zilles (2006), comentando Rawls, aponta uma teoria de Justiça, a partir do princípio de
Equidade, pois segundo este, o homem, como sujeito moral, é capaz de agir de acordo com
princípios racionais, pois dispões de senso de justiça para pensar em categorias de
solidariedade e de cooperação mútua. (ZILLES, 2006. p. 21).
O autor comenta ainda, que Rawls propõe uma teoria de justiça social que aponte uma
teoria ética, e que se propõe a substituir o utilitarismo, entretanto esta seria uma teoria política
destinada a defender o Estado democrático liberal moderno. (ZILLES, 2006. p. 21). Para isto
este elege dois princípios que devem ser priorizados dentro desta concepção Eqüitativa, são
estes: 1º- A garantia das liberdades fundamentais (liberdade de expressão, de participação
política e de culto, entre outras); 2º- Diminuição máxima das desigualdades. (ZILLES, 2006.
p. 21).
Dentro destes princípios, o primeiro tem preponderância sobre o segundo, pois para
Rawls, a liberdade e a igual oportunidade devem ser priorizados e o principio da diferença é o

2
último a ser contemplado. Em termos de justiça eqüitativa, a forma de concorrência justa,
seria a que equipara todos os sujeitos em um mesmo patamar, que possam exercitar sua
autonomia e que tenham as mesmas oportunidades de se desenvolverem. Mas como a
realidade social apresenta grandes desigualdades que afetam os sujeitos de varias formas, se
torna necessário o uso do principio da diferença, para que seja possível equalizar situações em
que muitos atores sociais se encontram e que os colocam em desvantagens por questões de
cunho histórico (índios, negros), culturais (regionais, tradição), econômicos(desemprego
estrutural), geográficos (clima, território, posicionamento, isolamento, etc.), religiosos
(minorias, maiorias) e muitos outros aspectos.
Neste ponto, Rawls insere as desigualdades na esfera maior das igualdades. Todos
tendo os mesmos direitos e deveres, sendo que, Zilles (2006) ao comentar a teoria de Justiça
em Ralws, reflete que o autor resgata o principio da diferença quando propõe que:

os diferentes, em suas diferenças, valem como iguais. Dentro de um contexto social


pressuposto, construído por um conceito comum de justiça, todos tem a
possibilidade de escolherem metas dentro de suas concepões e lutarem por elas,
realizando seus diferentes planos de vida. (ZILLES, 2006. p. 22 e 23).

Em contrapartida vários críticos questionam a teoria da Justiça em Rawls, pela


dificuldade que apresenta para a aplicação em sociedade, pois para estes é impossível abraçar
os dois princípios o da Liberdade e o da Diferença, pois estes seriam opostos e um anularia o
outro. Segundo Wolff (2004), Nozick critica o Principio da Diferença utilizado por Rawls em
sua Teoria de Justiça, pois para este, o principio representa uma concepção padronizada de
justiça; pois mais cedo ou mais tarde, esta iria interferir consideravelmente na liberdade que
as pessoas deviam ter de gozar e viver suas vidas livres de interferências, lembrando este, que
para Rawls, o Principio da Liberdade tem primazia sobre o Princípio da Diferença. Assim,
Nosick afirma que os próprios argumentos do autor o obrigam a abrir mão do Principio da
Diferença, pois para este uma consideração devida pela liberdade é incompatível com a
implementação forçada de qualquer distribuição padronizada da propriedade.(WOLFF, 2004.
p. 250 e 251).
Mas, segundo a proposta da Teoria de Justiça em Rawls, a melhor forma de garantir a
igualdade é garantindo uma estrutura básica, a qual proporcione certa liberdade para que a
sociedade se desenvolva. Sendo que, o Principio da Diferença entra para equalizar as
diferenças que se formam a partir dos benefícios que a própria liberdade proporcionaria para
acumulação de riquezas, pois abriria possibilidades para os sujeitos se desenvolverem e se

3
sobressaírem uns dos outros, por questões de talentos, habilidades diferenciadas, etc.
Entrando aqui a questão do mérito, e para os que não tivessem tanta possibilidade de se
desenvolverem por questões de contextos sociais, culturais, regionais,etc., se lançaria mão do
Principio da Diferença para equiparar estas situações, cabendo então, a justiça e ao Estado
este papel executor.
Para isto, o autor destaca outro ponto, que, dentro desta sociedade há necessidade de
cooperação entre os indivíduos, e que estes têm uma tendência a se agruparem por afinidades,
pois é algo intrínseco ao ser humano, como já observava Kosik (1976), quando afirma:

O homem é um ser social; que não só é sempre fisgado nas malhas das
relações sociais, mas sempre age, pensa, sente como um sujeito social; isto
antes ainda de tomar consciência de tal realidade ou até mesmo para dela se
dar conta. (KOSÍK, Karel; 1976).

Em contrapartida, o autor lembra que apesar desta tendência humana a cooperação,


existe uma grande dificuldade de se trabalhar dentro de um regime de colaboração, por causa
dos conflitos que se geram. Pois muitos conflitos de interesse surgem em decorrência de que
cada um busca o melhor para si, ou seja, uma maior fatia dos bens produzidos em comum.
Assim, a justiça como Equidade não agrada a maioria, pois segundo o autor:

... o principio da Equidade é incompatível com a concepção da cooperação social


entre iguais para à vantagem mútua... pode ser conveniente, mas não é justo que
alguns tenham menos para que outros possam prosperar. (RALWS, 2002. p.16).

Assim, o mundo social é permeado por inúmeras relações, sendo que uns dependem
dos outros para sobreviverem. São as relações entre os indivíduos que constituem as redes,
que nada mais são do que trocas sejam de vivências, de serviços ou mercadorias entre os
indivíduos.
Rawls, critica o utilitarismo clássico, pois este defende a igualdade, sem levar em
conta o principio da diferença, pois se remete apenas ao aumento da felicidade individual e da
satisfação de um maior numero de indivíduos, pois como este destaca, que o homem tem uma
tendência a cooperação, não podemos reduzir o olhar só a este foco, pois dentro deste grande
grupo existem diferenças e que precisam ser levadas em conta. Este ainda ressalta que,
mesmo que seja prazeroso em alguns contextos culturais, sociais e principalmente
econômicos, exercitar a discriminação, a sujeição de outrem a um grau inferior de liberdade,
como um mecanismos de aumentar a auto estima de uma classe, ou aumentar a acumulação
de riqueza, isto não seria justo, mesmo que seja em beneficio de uma maioria, a justiça

4
pensada nestas bases, se torna ilegítima em função que não estaria desempenhando seu papel
que é o de garantir o bem estar de toda sociedade.
Rawls, enfoca a proposta de Hume e Locke no qual resgatam a utilidade e a
necessidade de um contrato social de estado de igualdade, bem como, Bentham, Edgeworth e
Sidgwick, que falam da prioridade da justiça e dos direitos derivados desses princípios. Mas
que segundo Rawls:

A questão é saber se a imposição de desvantagens a alguns pode ser compensada por


uma soma maior de vantagens desfrutadas por outros. Ou se os pesos da justiça
requerem uma liberdade igual para todos e permite apenas aquelas desigualdades
econômicas e sociais que representam dos interesses de cada pessoa. Implícita nos
contrastes entre o utilitarismo clássico e a justiça como equidade esta a diferença nas
concepções fundamentais da sociedade. (RALWS, 2002. p.36).

Zilles (2006) comenta que também Kant opõe-se à teoria do utilitarismo e por isto se
aproxima de Ralws, pois propõe uma ética de princípios, nos quais homens racionais podem
chegar a um consenso e que servem a uma satisfação máxima de interesses gerais, o que vem
de encontro à teoria de justiça proposta por Rawls, de que o homem, como sujeito moral, é
capaz de agir de acordo com princípios racionais, pois dispões de senso de justiça para pensar
em categorias de solidariedade e de cooperação mútua. (ZILLES, 2006. p. 21).
Para determinar uma melhor partilha dentro de uma sociedade bem ordenada o autor
elege os dois princípios o da liberdade e o da diferença, sendo que para isto cria uma situação
hipotética onde indivíduos em uma posição inicial escolheriam princípios que poderiam ser
aplicados a qualquer contexto de sociedade, ou seja, princípios eqüitativos.
A Posição Original, proposta por John Rawls seria então uma situação hipotética, em
que o individuo se encontraria em uma posição inicial, sem conhecimento da realidade a qual
seria aplicada sua concepção de justiça, esta posição se propõe estimular a reflexão imparcial,
e não explicar a conduta humana, mas sim a ajudar a explicar nosso senso de justiça. Seria
então um estado de equilíbrio refletido no qual se faria uso de princípios não psicológicos ou
de probabilidades e sim de um raciocínio lógico que pudesse ser aplicado a qualquer contexto
social.
Assim, Wolff (2004), discutindo a posição original proposta por Rawls, comenta que:
Imaginar aquilo com que teria concordado antes de ter o jogo na mão é uma forma
de tentar filtrar a parcialidade originada pelos seus próprios interesses... a esperança
é encontrarmos um método para resolver esta disputa. Se quisermos alcançar um
acordo hipotético, teremos de nos abstrair da vida real. Se conseguirmos imaginar
isto, ficaremos numa posição em que não poderemos ser influenciados pelos nossos
interesses particulares. (WOLFF, 2004. p. 220).

5
Para alcançar esta situação de imparcialidade, é necessário o isolamento da realidade
que é caracterizado por Rawls como o Véu da Ignorância, que permite que o sujeito não seja
influenciado pelas inclinações e permite utilizarmos à razão através de critérios. Assim, para
cada concepção de justiça existe uma situação inicial, umas conduzem ao principio clássico
do utilitarismo, outros a utilidade média. O autor propõe um método analítico para comparar
concepções de justiça, onde não haverá a melhor e sim a mais plausível que contem o
conjunto de melhores princípios. Esta classificação propõe demonstrar vantagens e riscos de
se optar por uma única concepção.
A teoria de Justiça proposta por Rawls é norteada por cinco princípios básicos, que se
aplicam a estrutura básica da sociedade, a constituição escrita e não escrita, ou seja, os
princípios, a constituição, a legislação e a aplicação, neste ponto o véu da ignorância poderia
ser retirado. Estes cinco princípios imprescindíveis seriam:

 1º- Princípios devem ser gerais: Sendo incondicionais, eles sempre se aplicariam, e
seriam acessíveis aos indivíduos de qualquer geração.
 2º- Princípios devem ser universais em sua aplicação.
 3º- Publicidade: Todos poderiam saber, pois fariam parte de um consenso.
 4º- Concepção de justo deve impor às reivindicações conflitantes uma ordenação.
 5º- Caráter terminativo dos princípios: terminativo, pois podem ser aprimorados.
Em resumo, a proposta da teoria de justiça em Rawls, é uma concepção política de
justiça, que se baseia em um conjunto de princípios gerais em sua forma e universais em sua
aplicação, que deve ser publicamente reconhecido como uma última instância de apelação
para ordenação das reivindicações conflitantes de pessoas éticas, para a formação de uma
estrutura básica para sociedade, que proporcione um estado mínimo, que fosse composto por
pontos de intersecção entre concepções religiosas, culturais, filosóficas e econômicas, em que
todos pudessem concordar.
Portanto, este estudo proporcionou compreender que o papel da política e da
fundamentação dos Estados, das legislações em contextos diferentes, remete a uma construção
histórica em permanente aprimoramento, o que demonstra que os pontos levantados pelo
autor correspondem com a realidade concreta, desigual e desarmônica, onde são necessários
mecanismos de equiparação social.
Ou seja, sem liberdade de escolha, não há justiça e para que a sociedade se
desenvolva, à necessidade de uma estrutura básica, que regule esta liberdade minimamente, e
se torna imprescindível o uso de dispositivos de equiparação social, para se chegar a um
6
Estado Democrático de direito, onde a justiça entraria como balança para refrear o
individualismo selvagem da competição, e ao mesmo tempo, não se massificasse e
padronizasse a sociedade, e sim que, proporciona-se um terreno rico e equilibrado, onde seria
possível a convivência entre diferentes visões de mundo, e possibilitasse o desenvolvimento
individual de se buscar uma melhor qualidade de vida através de escolhas pessoais. Princípios
estes, que remetem aos princípios do Código de Ética do Serviço Social, que se dá
principalmente na defesa intransigente da liberdade e ampliação e consolidação da cidadania,
a defesa do aprofundamento da democracia, além de muitos outros, mas principalmente o
principio da liberdade, que Segundo Iamamoto (2006):

... liberdade esta que se coloca no coração da ética, parceira da equidade e da


justiça, daí decorrendo a defesa da autonomia e da plena expansão dos indivíduos
sociais o que conduz a defesa dos direitos humanos e a recusa aos arbítrios e todos
os tipos de autoritarismos (IAMAMOTO, 2006, p. 102-103).

REFERÊNCIAS:

FALEIROS, V. de Paula. Estratégias em Serviço Social. 3° Edição; Ed. Cortez;São Paulo,


2001.
IAMAMOTO, Marilda V. O debate Contemporâneo no Serviço Social. IN: BONETTI,
Dilseia et al. (org)Serviço Social e Ética: Convite a uma nova práxis. 7 ed. São Paulo: Cortez,
2006.
KOSÍK, Karel. Dialética do Concreto. Tradução de Célia Neves e Alderico Toríbo. 2ª
Edição Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1976.
RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. John Rawls. Editora: Martins RALWS 2º edição –
São Paulo, 2002.
WOLFF, Jonathan. Introdução a Filosofia Política. Editora: Gradiva; 1º edição – Lisboa.
2004.
ZILLES, Urbano. O que é Ética? Edições EST; Série Pensar. Porto Alegre, 2006.

Você também pode gostar