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ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA SOCIAL


POLÍCIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA MILITAR
DIVISÃO DE ENSINO

CFP 2020 – HISTÓRIA DA PMRN E CULTURA ORGANIZACIONAL


RIO GRANDE DO NORTE
SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA SOCIAL
POLÍCIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA MILITAR
DIVISÃO DE ENSINO

DIREÇÃO E COODERNAÇÃO DE CURSOS

Tenente Coronel PM Júlio Cesar Farias Vilela – Cmt do CFAPM

Cap PM Aneikson Luiz Costa Gomes – Ch da Div de Ens

ST PM Eliane Bezerra de França Batista do Nascimento – Ch da STE

ELABORAÇÃO

1º Sargento PM Marcos Aragão Fontoura


2º Sargento PM Lourival Cassimiro da Costa Júnior
2º Sargento PM Carlos

Conteúdo:
Tipos de Identidade: Pessoal, Social e Profissional; Formação de uma
Identidade Profissional; Aspectos socioculturais da Identidade Policial Militar
(Honras militares, Canções institucionais, Cerimonial militar, etc.), Cultura
Organizacional dentro da Instituição.

Natal/RN
2020
SUMÁRIO

BREVE HISTÓRIA DA PMRN


(DA FUNDAÇÃO À INTENTONA COMUNISTA DE 1935)

1. PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL


1.1. CRIAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E ACONTECIMENTOS

1.2. DENOMINAÇÕES, SEDES E PATRONO

2. PERÍODO REPUBLICANO (REPÚBLICA VELHA)


2.1. A QUESTÃO DE GROSSOS
2.2. ESQUADRÃO DE CAVALARIA
2.3. FOGO DE PENHA
2.4. A COLUNA PRESTES (1925)
2.5. LUTA CONTRA O CANGAÇO
2.6. O FOGO DA CAIÇARA E A RESISTÊNCIA DE MOSSORÓ

3. A ERA VARGAS
3.1. REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA (1932)
3.2. A INTENTONA COMUNISTA (1935)

4. ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DA IDENTIDADE POLICIAL MILITAR


DO RIO GRANDE DO NORTE.
4.1. CANÇÕES INSTITUCIONAIS
4.2. A BANDA DE MÚSICA DA PMRN
REFERÊNCIAS
BREVE HISTÓRIA DA PMRN
(DA FUNDAÇÃO À INTENTONA COMUNISTA DE 1935)

1. PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL

1.1 CRIAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E ACONTECIMENTOS

Em 1808 chega ao Brasil a Família Real, trazendo consigo toda a corte e


seu aparelho burocrático. Em 1809 cria a Guarda Real de Polícia, com a
função de manter a ordem pública e que também era militarizada. Logo é
extinta, e como consequência suas praças são dispensadas e os oficiais
incorporados ao Exército. Esta foi à precursora das Polícias Militares atuais.
Na Província do Rio Grande do Norte, a segurança dos cidadãos era feita
por militares de 1ª Linha (Exército), civis assalariados (60 homens) e pela
Guarda Nacional. Percebendo que a Província deveria ter um efetivo próprio
com o escopo de evitar possível rebelião como a Confederação do Equador,
em 1824, e manter a ordem pública. Durante a gestão do Presidente da
Província Basílio Quaresma Torreão, o Conselho Geral, cria através da
Resolução de 27 de junho de 1834, o Corpo Policial da Província com o efetivo
de 40 homens, sob o comando do Tenente do Exército de 1ª Linha Manoel
Ferreira Nobre.
Durante o governo do Dr. João José Ferreira de Aguiar, o Corpo Policial foi
organizado no dia 04 de novembro de 1836, com um efetivo de 70 homens,
cujos postos/graduações eram: Primeiro e Segundo Comandante; um 1º
Sargento; um 2º Sargento; um Furriel; três Cabos; dois Corneteiros e sessenta
Soldados.
Em 1840, durante o processo eleitoral em Vila Nova da Princesa, atual
Assú, o Corpo Policial tem o seu “batismo de fogo”, episódio conhecido como
Fogo de 40.
Com a eclosão da Guerra do Paraguai, a instituição cedeu alguns dos seus
homens (Voluntários da Pátria) para servirem no conflito. Destaque para o
Capitão Fócio Joaquim do Rêgo Barros (Comandante Geral - 1861 a 1885) e
os Soldados: João Ferreira de Oliveira, Manoel Antônio do Nascimento e
Miguel Francisco da Silva.
Após o final do confronto a nossa instituição ganha vários reforços de
heróis/veteranos que serviram na Guerra do Paraguai. Destaque para os
Comandantes Gerais: Capitão João da Fonseca Varela (1885 a 1889) e
Joaquim José do Rêgo Barros (1889 a 1891).
O Capitão João da Fonseca Varela nasceu em Ceará-Mirim em 1850,
quando estourou a Guerra do Paraguai (1864 a 1870). Foi um dos Voluntários
da Pátria com apenas 15 anos de idade com o posto de Alferes. De volta a
Província do Rio Grande do Norte, foi comissionado Comandante da nossa
corporação, tornando-se um dos destaques ao enfretamento ao cangaço. Em
1907, o Capitão João Varela faz história ao ser o último Comandante da
Fortaleza dos Reis magos, após desativação desta pela Marinha. Durante a
gestão de Eptácio Pessoa, em 1919, foi promovido ao posto de General de
Brigada, através do Decreto nº 3.958, do dia 24 de dezembro daquele ano, que
concedia o posto supracitado aos oficiais veteranos da Guerra do Paraguai.
Importante frisar que, durante o período imperial, esteve à frente o
comandante que mais tempo permaneceu no cargo (quase 25 anos) até os
dias atuais, Fócio Joaquim do Rego Barros (10/12/1861 a 29/04/1885).
Durante o Império, no dia 16 de junho de 1886, foi fundada a subunidade
mais antiga da PMRN, a Banda de Música.

1.2 DENOMINAÇÕES, SEDES E PATRONO

DENOMINAÇÕES

 Corpo de Polícia da Província;


 Corpo Policial do Rio Grande do Norte;
 Companhia de Polícia;
 Meia Companhia de Polícia;
 Corpo Militar de Segurança;
 Batalhão de Segurança;
 Batalhão da Polícia Militar;
 Regimento Policial Militar;
 Força Pública Militar;
 Polícia Militar (1947).

Importante ressaltar que, em 1923 o Batalhão de Segurança passou a ser


designado Regimento Policial Militar. Em 1937 (Estado Novo), mudou para
Força Pública Militar. Após a Constituição de 1946, recebeu a denominação
definitiva de Polícia Militar, cujo objetivo é garantir a segurança interna e a
manutenção da ordem nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, como
forças auxiliares, reservas do Exército.

SEDES

 Igreja de Santo Antônio dos Militares (Igreja do Galo), entre 1857 a


1862;

 Secretaria de Municipal de Tributação, Antiga Sede do Atheneu Norte-


Riograndense;

 Antigo Quartel da Tropa de 1ª Linha (Exército Brasileiro),


aproximadamente em 1879;

 Em 1886, a Companhia de Polícia ficou aquartelada em uma casa


alugada no “Beco Novo”, hoje, Rua Voluntários da Pátria;

 Em São José do Mipibu (1894) permaneceu por apenas dois meses


divididos nos seguintes locais: Igreja de Sant’Ana e São Joaquim, Antigo
sobrado no centro e Escola Barão do Mipibu;
 Ribeira (Natal), sede do Sindicato dos Arrumadores Portuários do RN
(1898 a 1908);

 Palácio Potengi (1908 a 1913);

 Prédio do Antigo Liceu Industrial – 1913 a 1914 (onze meses);

 Quartel da Salgadeira;

 Quartel do Comando Geral da PMRN (sede atual, bairro do Tirol).

PATRONO

O Patrono das Polícias Militares e Civis do Brasil é Joaquim José da Silva


Xavier, o Tiradentes, mártir/herói da Inconfidência Mineira (1789). Através da
Lei Nº 4.897/1965, durante a administração do Presidente Castelo Branco.

2. PERÍODO REPUBLICANO (REPÚBLICA VELHA)

Este período é compreendido desde a Proclamação da República, em


15 de novembro de 1889, até a Revolução de 30. Com o Golpe de Estado
que culminou com a deposição do presidente Washington Luís.
Em poucos anos, após o início da República, ocorre a Guerra de
Canudos (1896 – 1897), no interior da Bahia. Devido a este fato a PMRN
cedeu alguns homens para lutar no conflito ao lado do Exército.

2.1. A QUESTÃO DE GROSSOS


Devido ao fato do Ceará ser grande produtor de carne, em 1901, a
Assembleia Legislativa daquele estado elevou Grossos à condição de vila para
anexá-la ao seu território.
Devido a este fato o governador Alberto Maranhão protestou e deixou de
prontidão seus militares (Batalhão de Segurança), pois, pretendia levar a uma
possível beligerância entre os dois entes federativos.
O litígio acabou na esfera jurídica. Em primeiro momento (primeira
instância) foi dado ganho de causa ao Ceará. Rui Barbosa e Tavares de Lira
foram convidados pelo ex-governador Padro Velho para defenderem a causa
pelo lado potiguar. Após três acórdãos, em 1920, foi dado ganho de causa ao
Rio Grande do Norte.

2.2. ESQUADRÃO DE CAVALARIA

No dia 1º de março de 1914, o Governador Ferreira Chaves cria o


Esquadrão de Cavalaria, destinado ao policiamento da cidade.
Para comandar foi comissionado o cargo ao 1º Tenente João Fernandes de
Almeida, o Joca do Pará. Este havia trabalhado como delegado no bairro das
Rocas. Admirado pelo governador, por fazer um bom serviço na delegacia que
trabalhava, foi prestar serviço no Batalhão de Segurança e, pouco depois, foi
comandar o Esquadrão de Cavalaria.
Funcionava onde, hoje, está localizado a Escola Doméstica. Aquele local
era conhecido popularmente por Solidão.
Além de rondas noturnas e combate a bandidos, o referido Esquadrão
ajudou a combater vários incêndios. Conforme folha corrida do seu
comandante.
O seu membro mais proeminente foi João Fernandes de Almeida, o Joca do
Pará, nascido em 1870, no Rio Grande do Norte, ingressou no Batalhão de
Segurança com o posto de Tenente e comandou o Esquadrão de Cavalaria
entre 1913 a 1930, ano da sua morte (diabetes). Por sua dedicação alcançou o
posto de Capitão.
Recebeu a alcunha de Sherlock Holmes Potiguar por desvendar o roubo ao
caixa da firma Julios Von Sohsten, onde, descobriu e elucidou o crime
cometido por dois estrangeiros (Zetina e Brunati).

2.3. FOGO DE PENHA

Ocorreu em 21 de julho de 1913 (sem mortes), na Ribeira (próximo ao


Grande Hotel e Pç Cap José da Penha) e marcou o primeiro batismo de fogo
em Natal.
Devido à disputa do processo eleitoral para sucessão do governador Alberto
Maranhão, entre o Des. Ferreira Chaves e o Tenente do Exército Leônidas da
Fonseca (filho do Presidente Hermes da Fonseca), este com grande apoio do
Capitão do Exército Reformado José da Penha.
Culminou no tiroteio aproximado de 4 horas, onde, os “penhistas” queriam
derrubar o governo, e foram impedidos pelo Batalhão de Segurança.
Após vitória, todos foram presos e levados à presença do governador que,
lhes deu um sermão e os perdoou.
Batalhão reserva (paramilitar) – formado por estudantes e funcionava na
Silva Jardim. Não chegaram a lutar. Dentre um dos seus componentes estava
o jornalista e teatrólogo Sandorval Wanderlei.
Importante lembrar que, quem comandava o Batalhão de Segurança no
período era o TC Manoel Lins Caldas Sobrinho. Este foi comandante por três
oportunidades (pouco mais de 19 anos).

2.4. A COLUNA PRESTES (1925)

O presidente Arthur Bernardes solicitou ao governador do RN, Dr. José


Augusto, um contingente para lutar no Maranhão. Este o fez, e, sob o comando
do Capitão Augusto Seabra Melo partiram para aquele estado.
Sob aplausos, choros, concerto da Banda de Música da PM e recitação da
poetisa Palmira Wanderlei partiram para o Maranhão. Foram 06 dias de
viagem.
Num dos combates mais relevantes, já no sertão do Piauí, que ficou
conhecido como “Combate de Flores”, o Sargento Augusto Azevedo tombou
(promovido a 2º Ten. por bravura). Consequência deste fato, o Capitão Juarez
Távora, um dos líderes dos revoltosos, é preso e conduzido para São Luís por
tropa potiguar.
Após o conflito, os potiguares foram ovacionados no regresso.
Pouco tempo depois, em 1926, a Coluna Prestes passa pelo Rio Grande do
Norte e saqueia as cidades de São Miguel e Luiz Gomes.
O Deputado Juvenal Lamartine organiza uma resistência território potiguar
(Polícia e o Povo), mas não chegam a tempo. Com cerca de dois mil homens, a
Coluna Prestes segue para a Paraíba.

2.5. LUTA CONTRA O CANGAÇO

No período de 20 anos, entre os governos de Alberto Maranhão ao de


Juvenal Lamartine, o Estado do Rio Grande do Norte foi alvo dos cangaceiros.
Destaque para os cangaceiros Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Lampião.
Alguns nomes foram destaques no período para combate-los, são eles:
Francisco Cascudo, Napoleão Agra, Abdon Nunes, Jacinto Tavares, Joaquim
de Moura, Agripino Lima, Luís Cândido, Sólon Andrade, José Rosa, Pedro
Morais, dentre outros.

2.6. O FOGO DA CAIÇARA E A RESISTÊNCIA DE MOSSORÓ

No dia 10 de junho de 1927, o 2º Ten. Napoleão de Carvalho Agra


comandando um efetivo (volante) de 10 a 15 praças se deparou com o bando
de Lampião (estavam a caminho de Mossoró). Houve troca de tiros no local
conhecido como Caiçara (Marcelino Vieira), deste encontro morreu o Soldado
José Monteiro Matos, que teria dito a famosa frase: “Morro mas não recuo”. Tal
episódio ficou conhecido como Fogo de Caiçara.
No confronto morreu o cangaceiro Azulão.
Após negativa de extorsão dada pelo Prefeito Rodolfo Fernandes (400
contos de reis, cerca de 20 milhões de reais em valores atuais), ao bando de
Lampião, no dia 13 de junho de 1927, chega à cidade de Mossoró para invadir
e saquear a cidade.
A resistência da cidade ficou a cargo da Força Pública e da população, sob
a liderança do Prefeito Rodolfo Fernandes e dos Tenentes Laurentino. Logo,
abriram várias trincheiras (principais): Capela de São Vicente de Paula, antiga
sede da prefeitura, antiga estação ferroviária, Igreja Matriz, Igreja Coração de
Jesus, dentre outros pontos.
Foi orientado evacuação das pessoas que não puderam pegar em armas
para a defesa da cidade.
Os cangaceiros abriram em várias frentes. Eram os chefes: Sabino (duas
colunas de vanguarda, sendo uma comandada por Jararaca e outra por
Massilon), enquanto Lampião comandava a coluna da retaguarda.
Após troca de tiros, o bando de Lampião retira-se da cidade e na fuga deixa
para trás os cangaceiros Colchete (morto) e Jararaca (preso e, posteriormente,
morto).

3. A ERA VARGAS

Foi o período em que esteve na presidência da República Getúlio Dornelles


Vargas (1930 – 1945). Este subiu ao poder após um Golpe de Estado
(Revolução de 1930) que depôs o presidente Washington Luís, acabando com
a chamada “política do café com leite”, ocorrida entre as oligarquias de São
Paulo e de Minas Gerais.
3.1. REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA (1932)

No dia 09 de julho de 1932, o Estado de São Paulo pega em armas contra o


governo de Getúlio Vargas. Este, na função de Chefe do Governo Provisório,
não havia realizado eleições para uma nova constituinte desde que assumiu o
poder, em 1930.
No Rio Grande do Norte, o governo está nas mãos do Interventor Bertino
Dutra da Silva, Capitão-Tenente ligado à Vargas, que logo atendeu a
solicitação da União e enviara um contingente formado por policiais para
combater a rebelião em São Paulo. Sob o comando do Capitão Severino Elias
Pereira.
O Grupo Escolar Padre Miguelinho serviu de local para o alistamento de
populares e de vários militares antigos que também se alistaram. Destaque
para o Major Apolônio Seabra, este combateu a Coluna Prestes.
Dentre os homens que partiram no segundo contingente enviado para São
Paulo, estava o 2º Tenente Alberto Gomes. Este acabou morrendo em
combate no solo paulista. Posteriormente, recebeu elogio e promoção post-
mortem por bravura, ao posto de 1º Tenente, pelo Major José Vitoriano de
Medeiros (Comandante e autor da Canção da PMRN).
Outras vítimas do conflito foram os Soldados Galdino Batista das Chagas
(morto em combate) e o Cabo Sebastião Gil de Souza, este contraiu doença
grave durante o conflito e faleceu em 1934.
Após derrota dos paulistas, vários civis e militares (inclusive policiais) foram
acusados de conspiração. Sem provas, foram libertados depois de 30 dias.
Entre os policiais (oficiais) envolvidos estavam:
 Major Luís Júlio;

 Capitães: Jacinto Tavares, Juventino Cabral, Genésio Lopes, e Glicério


Cícero de Oliveira;

 Tenentes: Francisco Martinho de Carvalho e Francisco Bilac de Farias.


Havia realmente uma conspiração e todos os nomes supracitados estavam
implicados. Bem como havia simpatia por parte da população.

3.2. A INTENTONA COMUNISTA (1935)

Com a criação da ANL (Aliança Nacional Libertadora), em março de 1935,


houve a reunião de diversos ramos ideológicos comunistas sob a liderança do
Partido Comunista Brasileiro – PCB e alinhados com a Internacional Comunista
(Komintern). Esta organização contava com o apoio da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas e estava sob a chefia de Luís Carlos Prestes.
Tinham o pretexto de lutarem contra o imperialismo, o latifúndio e as leis de
opressão às liberdades democráticas (Ditadura do proletariado).
Empossado no cargo de governador do Rio Grande do Norte no dia 29 de
outubro de 1935, Rafael Fernades Gurjão tomou várias medidas, destas
resultou na extinção da Guarda Civil, deixando desempregados cerca de 300
funcionários. Com esta atitude, os comunistas perceberam nisso uma
oportunidade.
No dia 23 de novembro, apenas 25 dias do novo governo ser empossado,
estoura a revolução comunista.
Esta revolta foi organizada por praças do Exército (21º Batalhão de
Caçadores) e por civis em um sábado, quando havia poucos militares. Logo,
aprisionam o Oficial de Dia e tomam o aludido quartel. Sob o comando do
Sargento Eliziel Dinis Henriques ficou a guarnição federal, enquanto que o
Cabo Estevão ficou responsável pelo 21º Batalhão de Caçadores.
No momento que rebentou a insurreição (antecipação do que fora
planejado) toda a cúpula governamental estava no teatro Carlos Gomes
(Alberto Maranhão). Imediatamente, as autoridades refugiam-se na residência
do cônsul do Chile, posteriormente, são embarcados em um navio de bandeira
francesa.
Na confusão, por pouco o Dr. João Medeiros Filho, Chefe da Polícia, não foi
fuzilado.
Imediatamente, os comunistas investiram contra a última barreira da
legalidade, a Força Pública. Dividiram-se em três frentes de ataque: Quartel da
rua da Salgadeira (Praça Cel. Lins Caldas), o Esquadrão de Cavalaria e a Casa
de Detenção. Hoje, Casa do Estudante, Escola Doméstica e Centro de
Turismo, respectivamente.
Logo, é criada uma resistência sob o comando do Coronel do Exército José
Otaviano Pinto Soares e do Major Luís Júlio (Comandante da Força Pública)
com apenas 49 homens (cinco civis) no Quartel da Força Pública.
Após 19 horas de luta e até acabar a munição, a reação aos comunistas
termina e os policiais fogem e acabam se rendendo. Na margem do Rio
Potengi o Soldado Luiz Gonzaga acaba morrendo.
No Esquadrão de Cavalaria (1º Ten Severino Raul Gadelha) e na Casa de
Detenção (3º SGT José Braz), também há uma resistência que logo caem em
mãos inimigas.
Natal cai para os comunistas!
Após a rendição, os defensores acabaram presos e foram embarcados em
dois navios de bandeira mexicana que estavam ancorados no porto de Natal.
Outros conseguiram fugir.
Destaque na resistência da Casa de Detenção, o Sargento José Braz
informou que um dos condenados (Tenente Rangel) foi atrás de várias
autoridades e militares para castiga-los.
Importante frisar, que o Capitão Joaquim Teixeira de Moura recebeu
informações e alertou diversas vezes, sem sucesso, o que estava prestes a
acontecer (revolução comunista). Bem como que nem todos os insurretos eram
comunistas, mas pessoas iludidas que queriam derrubar o governo ou apenas
oportunistas.
Após a queda de Natal, e destituição do governo, assembleia e a imprensa
tomada pelos rebeldes, os comunistas expandiram a revolução para outras
localidades e obtiveram êxito, dentre elas estavam: São José do Mipibu,
Canguaretama, Ceará-Mirim e Santa Cruz (aproximadamente 17 dos 41
municípios caíram em mãos comunistas). Abriram a marcha em duas frentes:
uma em direção ao Recife e a outra, em direção ao Oeste e ao Seridó
(Mossoró e Caicó, respectivamente). No Seridó, a defesa foi feita por policiais e
por civis.
Com o objetivo de parar o avanço rebelde que estava à caminho, em
diversos caminhões, a população uniu-se aos militares e formaram uma força
de contenção (600 homens) sob liderança de Dinarte Mariz, figura de maior
destaque político no Seridó (Caicó) e do Capitão Severino Elias, comandante
naquela região. Após as batalhas de Panelas (Bom Jesus) e Serra do Doutor
(Campo Redondo), detiveram avanço comunista.
No dia 27 de novembro daquele ano, forças do Exército e policiais de outros
estados retomaram o Rio Grande do Norte e restabeleceram a ordem.
Houve foco de revolta no Recife e no Rio de Janeiro, logo, foram sufocados.

4. ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DA IDENTIDADE POLICIAL MILITAR


DO RIO GRANDE DO NORTE.

4.1. CANÇÕES INSTITUCIONAIS

A música faz parte da cultura dos países, estando presente nas ocasiões
mais significativas da vida. Ela contribui para que fatos históricos sejam
lembrados, revoluciona e marca momentos especiais, motiva as ações
diversas, bem como contribui para moldar ideias e a conduta das pessoas. No
universo militar, a utilização da música remonta aos primórdios da antiguidade
clássica. A sua função nesse contexto estava diretamente associada à
sinalização das atividades no campo de batalha e no quartel, contribuindo para
marcha e movimentação de tropas, ou como elemento de representação
simbólica do poder do Estado. Para o historiador Ernesto Vieira, a música
parece ter um papel decisivo na vida militar, pois “(...) tanto no quartel como no
campo é ela que dá alegria ao soldado, animando-o na marcha,
entusiasmando-o no combate, distraindo-o nos ócios, tornando mais brilhante o
seu desfilar, contribuindo com a parte mais importante nas festas e
solenidades” (1899 p. 80-81).
Para que o funcionamento das instituições militares ocorra em perfeita
harmonia, o quartel adota uma constelação de símbolos que remetem à
manutenção da ordem social dos seus membros e, a música exerce uma
função decisiva para a concretização desses atos, cito como exemplo: os
toques indicativos de ações ou de informação como o toque da alvorada
executado todos os dias às 5h da manhã que indica que todos militares devem
levantar, o toque que anuncia a chegada do comandante geral, o do início e
término do expediente, entre outros.
Conforme David Kertzer (1988), os símbolos podem ser slogans,
canções, gritos, gestos expressivos e uniformes. Estes símbolos adquirem um
significado sentimental no contexto militar, produzindo uma espécie de
sentimento de pertença dos indivíduos ao grupo, exaltando a ação coletiva.
Seu uso serve como um reviver constante e reforço desses sentimentos
mútuos. Tal é sua importância para a vida militar que é quotidianamente
reforçada através das ações, comportamentos e discursos.
O Antropólogo Thomas Turino apresenta o papel da música na
sociedade como parte importante da experiência humana no âmbito social,
quando mostra a “música como vida social”, com seu alerta de que “a música
não é uma forma de arte unitária, pelo contrário, este termo se refere a tipos de
atividade fundamentalmente distintos que atendem a diferentes necessidades e
maneiras de ser humano (2008 p. 1). Esta afirmação leva o referido autor a
propor que a música é um recurso fundamental para conectar pessoas,
comunidades e meio ambiente, bem como, para os “povos compreenderem de
si mesmos e de suas identidades” (ibidem). Esta visão proposta por Thomas
Turino é particularmente útil para a compreensão do ambiente social da PMRN,
uma vez que as canções e hinos da instituição apresentam em suas narrativas
particularidades que definem o universo policial e militar.
Quando se trata de hinos e canções dentro do contexto da PMRN, esses
são regulamentados por decreto. Entre as canções e hinos, foi selecionado
para esta apostila, a análise da marcha da Polícia militar do Estado do Rio
Grande do Norte, da autoria do Major José Victoriano de Medeiro. A marcha foi
instituída em 1952 pelo decreto nº 2.227, que a torna oficial.
Segundo historiador Rômulo Wanderley, o Major Vitoriano de Medeiros
era poeta e compositor. São de sua inspiração a letra e a música da Polícia
Militar do RN. Ainda conforme esse autor, a canção da PMRN (conhecida
também como os pioneiros), “(...) trata-se de um canto de exaltação à briosa
Força Pública, defensora da Legalidade, do litoral ao sertão. É uma evocação
dos feitos do passado e um estímulo ao cumprimento do dever nos largos dias
do futuro da Pátria” (WANDERLEY, 1969, p. 144).
A marcha da PMRN caracteriza a corporação representando-a
simbolicamente, sendo executada durante os atos cerimoniais. Além de ser
cantada como símbolo da corporação, é também utilizada nos desfiles, como
forma de unificação do passo dos policiais, possibilitando que todos se
transformam em um só corpo, em um só gesto, em um só uniforme e, desse
modo, personificado no grupo, em um só ideal de pertencimento.
Nesse sentido, todos os integrantes da corporação têm o dever de saber
cantar a marcha nos eventos em que é executada. Esta é uma forma de
imposição por parte da corporação para que seus membros conheçam através
do canto as particularidades, significados e dados históricos da PMRN.

Letra da marcha da PMRN


I
Nós somos os Pioneiros do litoral ao sertão
E somos também guerreiros do estado Nação,
Temos no peito a pujança de combater a desordem.
Defendendo a segurança e a garantia da ordem

Coro
Marchemos, na paz e na guerra.
Neste garbo varonil
Defendamos nossa terra.
Para glória do Brasil!
II
Nossos peitos com vigor.
Afeitos à luta agreste;
Traduzem nosso valor
Neste rincão do Nordeste
Somos contra o despotismo,
Que traz a revolução;
Infeliz do extremismo,
Que rouba a paz da Nação!

III
Se a Pátria for ultrajada.
Não nos afronta o perigo,
Vamos fazê-la vingada,
Combatendo o inimigo,
Nosso valor militar,
De guarda fiel do Estado
Saberemos conservar
O juramento sagrado.

Compreendendo o texto musical como narrativa, ou seja, “categoria


epistemológica” (JAMESON, 1981), que conta e reconta os valores
fundamentais de um grupo social, procuramos entender os fatos narrados na
letra do hino da PMRN como construções de valores idealizados, que não
precisam corresponder literalmente a uma realidade histórica. Tais narrativas
sustentam identidades sociais que apontam para referências nodais e
unificadoras, que dão sentido de pertencimento ao universo experimentado, ao
mesmo tempo em que atualizam dinamicamente os fatos sociais.
A marcha da PMRN atualiza aspectos fundamentais da identidade
policial militar, como descreve o texto, “Somos também guerreiros, do Estado e
da Nação/ temos no peito a pujança/ de combater a desordem/defendendo a
segurança/ e a garantia da ordem”. As assertivas presentes na letra reiteram
uma identidade que não é essencial ou subjetiva, mas institucionalizada e
subjetivada, através dos mecanismos reforçados na rotina militar, e simbolizam
os vários aspectos presentes no sentido do que venha a ser um policial militar.
Portanto, longe de configurar uma natureza essencial do policial militar,
as qualidades que se apresentam na letra do hino, bem como os demais
aspectos musicais e não sonoros que evolvem a música da PMRN, criam o
sentido de pertencimento à corporação e permitem a compreensão do universo
militar.

Canção do Aluno CFAPM


Autor: 2º Ten PM RR José de Freitas
I
Vislumbrando novos horizontes
Essa unidade se destaca
Centro de formação e aperfeiçoamento de praças
CFAP o seu quartel foi construído aqui
Nas cercanias de Natal
As margens lindas margens do rio Potengi

Coro
CFAP, CFAP e como é belo o seu alvorecer
Eu levo saudosa lembrança
Do que eu aprendi com você (2X).

II
Preparando bem os seus alunos
Capacitados e fortes
Pra defender com bravura
O nosso amado Rio Grande do Norte
CEFAP os seus soldados
Sabem manejar o fuzil
Estão prontos para lutar
E até morrer em defesa do Brasil

III
Os raios de sol que iluminam
O nosso rincão potiguar
Mostra o caminho que leva
A esta escola de homens sem pá
Nós modernos centuriões
Mantendedores da paz
CFAP podemos jurar
Que não iremos ti esquecer jamais

CFAP, CFAP e como é belo o seu alvorecer


Eu levo saudosa lembrança
Do que eu aprendi com você (2X).

Nas cerimônias militares sempre escutamos hinos e canções que


consagram nosso país, história, tradição e o nosso povo.
Vejamos os principais: Hino Nacional Brasileiro; Hino à Bandeira do
Brasil; Hino da Independência do Brasil; Hino do Rio Grande do Norte; Canção
dos Expedicionários.

4.2. A BANDA DE MÚSICA DA PMRN

Criada no dia 16 de junho de 1886, durante o Império, a Banda de


Música é a subunidade mais antiga da PMRN. Nela passaram grandes músicos
e compositores. Destaque para Antônio Pedro Dantas, conhecido por Tonheca
Dantas, compositor da Valsa Royal Cinema.
Um dos momentos mais marcantes da Banda de Música da PMRN foi o
concerto comemorativo ao Centenário da Independência do Brasil, em 1922,
sob a regência do Maestro italiano Luigi Maria Smido.
Em 2016, no 130º aniversário, a Banda de Música da PMRN recebeu o
título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Rio Grande do Norte (Lei
nº 10.130/2016) e do Município do Natal (Lei nº 0487/2017).
REFERÊNCIAS

DANTAS, Angelo Mário de Azevedo. Cronologia da Polícia Militar do Rio


Grande do Norte – 175 anos de história – 1834 a 2009 (Volumes I e II).
Natal/RN, Edição do Autor, 2010.
LOPES, Ivanaldo. Oficiais da P.M.. Natal/RN, Companhia Editora do Rio
Grande do Norte – CERN, 1980.
KERTZER, David I. Ritual, Politics and Power. London: Yale University Press,
1988.
SOUZA, Reginaldo Canuto de; MORAIS, Maria do Socorro Almeida de.
POLÍCIA E SOCIEDADE: uma análise da história da segurança pública
brasileira. IV Jornada de Políticas Públicas. Universidade Federal do
Maranhão. 23 a 26 de agosto de 2011, São Luís/Maranhão – Brasil.
TURINO, Thomas. Music as social life: The politics of participation.
University of Chicago Press, 2008.
WANDERLEY, Rômulo C. História do Batalhão de Segurança. Natal/RN,
Walter Pereira S/A, 1969.
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-era-vargas.htm
http://blogcarlossantos.com.br/a-resistencia-de-mossoro-ao-bando-de-lampiao/
http://gibsonmachadocm.blogspot.com/2011/06/general-joao-varela.html
http://jotaemeshon-coroneisdapmrn.blogspot.com/2010/07/coronel-solon
andrade-de-araujo.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4897.htm
https://tokdehistoria.com.br/2015/12/13/mossoro-expulsou-o-bando-de-lampiao-
a-bala-disse-nao-a-extorsao-do-cangaceiro-um-grande-fato-na-historia-do-
ordeste-fatos-e-fotos/
http://www2.uol.com.br/omossoroense/070606/conteudo/artigos.htm
Memorial da PMRN

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