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Resumo: É de importância notória a aplicação da arquitetura bioclimática nos dias atuais, em que
está mais do que evidente a escassez energética e a necessidade de ações voltadas à sustentabilidade.
O cobogó se tornou elemento modular emblemático na arquitetura modernista brasileira, porém na
década de 60, passou a ser aplicado em fachadas posteriores, nas áreas de serviço, devido à sua
necessidade de ventilação permanente, o foi determinante para a sua desvalorização. Com o seu
valor resgatado nas últimas décadas, busca a adequação do projeto de arquitetura ao meio ambiente
natural, priorizando as soluções passivas de ventilação e iluminação, desde a sua fase de concepção.
Este artigo tem como propósito fomentar a integração do cobogó ao ambiente construído com a
adoção de conceitos bioclimáticos, através de revisão bibliográfica, cuja metodologia aplicada foi a
desk-research, com base em anais de Congressos, do Banco Digital de Teses bem como Livros, que
corroboram a sua eficiência energética ao proporcionar ventilação natural permanente e filtragem
dos raios solares, em regiões quentes e úmidas.
Abstract: It’s of eminent importance to application of bioclimatic architecture today, which is more
than obvious energy shortage and the need for actions aimed at sustainability. The Cobogó became
emblematic modular element in the Brazilian modernist architecture, but in the 60s, is now applied in
later facades in the areas of service, due to their need for permanent ventilation, it was crucial to its
devaluation. With its value rescued in recent decades, seeking the adaptation of architectural design
to the natural environment, giving priority to passive solutions for ventilation and lighting, from its
design stage. This article aims to promote the integration of Cobogó the built environment with the
adoption of bioclimatic concepts through literature review, using methodology was the desk-research,
based on Congress proceedings, the Thesis Digital Bank as well as books, supporting its energy
efficiency by providing permanent natural ventilation and filtration of sunlight in hot and humid
regions.
2. O COBOGÓ
Criado em 1929, por um comerciante português Amadeu Oliveira Coimbra, um alemão Ernest August
Boeckmann e um engenheiro pernambucano Antônio de Goés, que moravam em Recife. O nome
cobogó são as iniciais dos sobrenomes dos seus criadores e foi elaborado para amenizar as condições
climáticas presentes nos interiores das residências nordestinas, por meio de paredes, que permitem ao
ambiente uma ventilação permanente e uma redução na incidência de luz solar, sendo este material
indicado para climas quentes e úmidos.
Vieira, et al., (2013) define o cobogó como elemento prático-construtivo inovador e apropriado
largamente, desde 1935, sendo hoje um marco de composição utilitária e estético-funcional no Brasil.
A caixa d’água de Olinda (fig. 01), projetada pelo arquiteto Luiz Nunes, foi o primeiro edifício de
expressão, que se utilizou do cobogó. Com o formato de um grande paralelepípedo verticalizado,
aplicado sobre pilotis e possui uma fachada frontal cega e duas empenas laterais com módulos de pré-
fabricados aplicados.
Mais ao sul do país, jovens arquitetos passam a assumir posições inovadoras, modernas e negar o
tradicionalismo conservador. Entre estes arquitetos estão Oscar Niemeyer, Rino Levi, Afonso Eduardo
Reidy, com a condução de Lúcio Costa.
Borba, et al., (2013) a experiência foi o prenúncio do que seria uma presença corrente na arquitetura
moderna brasileira- protagonizada nacionalmente por Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e seguidores, mas
principalmente por obras no nordeste brasileiro, não apenas do arquiteto Luiz Nunes, mas por outros
arquitetos.
Entre as edificações, destacam-se: O Conjunto Residencial Prefeito Mendes de |Moraes / RJ, Também
conhecido como Edifício Pedregulho, projeto do arquiteto Afonso Eduardo Reidy, em 1947 e o Parque
Guinle – Edifícios Residenciais / RJ, projeto de Lúcio Costa, em 1948 (fig: 02)
FIGURA 2 – Lado esquerdo - Edifício Pedregulho-RJ, 1954 e Lado direito - Parque Guinle-RJ, 2015.
Duarte e Gonçalves (2006) ressaltam que a arquitetura modernista brasileira, em especial, no período
de 1930 a 1960, utilizou-se de soluções bioclimáticas, como o emprego de brises e cobogós.
4. ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA
A arquitetura bioclimática surgiu na década de 60 com o propósito de adequar o projeto arquitetônico
ao meio ambiente natural, disponibilizando ao ambiente construído, soluções passivas de conforto
térmico, lumínico e acústico e por consequência, maior eficiência energética. Como exemplo o cobogó
(fig: 03).
FIGURA 03 – Esquema ilustrando como o cobogó oferta ventilação permanente e a filtra os raios
solares.
Fonte: Autor (2016).
Contudo, esta solução de aproveitar os recursos naturais disponíveis, já era partilhada entre nossos
ancestrais, com o propósito de sobreviver às diversas variações climáticas e ficou conhecida como
arquitetura vernacular. Nas cavernas, encontravam proteção do frio, das chuvas e de ataques de
animais.
Atualmente, a arquitetura bioclimática busca fornecer conforto, qualidade de vida e evitar algumas
doenças, através de inúmeras soluções passivas (fig.04).
Na busca de soluções relacionadas ao clima e às zonas climáticas, são considerados alguns dados
meteorológicos, como temperatura do ar, umidade absoluta e relativa do ar, vento, radiação solar e
umidade. E na busca de soluções voltadas à implantação, são considerados os ventos dominantes, os
tipos de cobertura do solo, a taxa de ocupação do terreno, as fontes de ruído, a orientação solar, entre
outros.
O cobogó propicia ventilação permanente por diferença de pressão (solução passiva), promovendo a
renovação de ar, resfriamento do ambiente e iluminação natural por meio de filtragem dos raios
solares.
Para Corbella e Corner (2010) evidencia que será possível o usufruto da ventilação cruzada no
ambiente construído, quando houver diferença de pressão entre as aberturas.
Bras, et al., (2004) A boa iluminação de um edifício, sobretudo com luz natural é essencial ao seu bom
funcionamento energético e ao conforto dos seus ocupantes. Aproximadamente 25% do consumo
energético em edifícios são utilizados no sistema de iluminação.
5. O RETORNO DO COBOGÓ
Depois de desvanecer das fachadas, que eram moda nos anos 60, o cobogó vem retornando à
construção civil, mas de forma muito introvertida, nos últimos anos. Atualmente, pode ser encontrado
em sua antiga configuração, concreto e em novos materiais como mármore, vidro, cerâmica, resina,
PVC e acrílico. Podemos encontrá-lo em muros, paredes internas (fig: 05) e até em peças de design.
Contudo, torna-se indispensável, uma maior divulgação do material e seus benefícios ao ambiente
construído. Ademais, a criação de soluções inovadoras, que envolvam o uso do cobogó, material
genuinamente brasileiro e que precisa ser mais valorizado.
6. CONCLUSÕES
Por intermédio da revisão bibliográfica, foi possível resgatar a história do cobogó, material
genuinamente nacional, criado em Recife e confirmar a sua notória importância na arquitetura
modernista brasileira, ao fornecer ao ambiente construído, ventilação permanente e iluminação natural.
Passou por um período de desvalorização, devido à sua aplicação em áreas de serviço, mas que
conseguiu retornar, ainda de forma tímida ao mercado, com sua integração ao ambiente construído, na
arquitetura bioclimática.
Por fim, foi identificada de forma categórica, a necessidade de divulgação do material e seus
indiscutíveis benefícios ao ambiente construído. Além da necessidade de criar novos usos e técnicas,
que ratifiquem o compromisso do ramo da construção civil, em adotar soluções sustentáveis, que
fomentem a eficiência energética e o conforto ambiental das construções.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
As mudanças climáticas. Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/clima/mudancas_climaticas2/>.
Acesso em: 17 out. 2016.
BRAZ, R.; GAMA, P.; LANHAM, A. Arquitetura Bioclimática Perspectivas de Inovação e Futuro.
Lisboa, 2004.
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência Energética na Arquitetura. 3ª. ed.:
PROCEL, ELETROBRÁS, MME, 2013.
VIEIRA, A.; BORBA, C.; RODRIGUES, J. Cobogó de Pernambuco. 1ª. Ed. Recife, 2013.