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Capítulo I
O Prof. Freitas do Amaral adota uma posição diferente da apresentada pelo Prof. Vasco
Pereira da Silva, enunciando a distinção entre o sistema tradicional europeu (que existiu
até entre o século XVII e o século XVIII) e os sistemas modernos. Nestes últimos
sistemas podem ser enquadrados o sistema de administração judiciária e o sistema de de
administração executiva. Para o prof. Freitas do Amaral o sistema tradicional europeu
caracteriza-se pela indeferenciação das funções administrativas e jurisdicionais e pela
não subordinação da administração pública ao princípio da legalidade, o que contribuía
para a falta de garantias dos particulares. O princípio da separação de poderes ainda não
estava consagrado, pelo que o Rei era simultaneamente o supremo administrativo e o
supremo juiz, tal como acontecia com as outras autoridades públicas. Este panorama foi
profundamente alterado a partir de 1688 com a eclosão da Revolução em Inglaterra e
em 1789 com a Revolução Francesa. Com estas revoluções houve um reconhecimento
dos Direitos do Homem como direitos naturais anteriores e superiores aos do Estado ou
do poder político. Nascendo assim, o Estado de Direito.
- Organização administrativa: O sistema judiciário é descentralizado e o sistema
executivo é centralizado. Quer isto dizer que no primeiro sistema a Administração
dispõe de menos poderes face aos particularescdo que no segundo.
5- Considerações finais
Por fim, resta fazer algumas considerações finais. As características tradicionais que
foram expostas de cada um destes sistemas, e que se apresentam como opostas entre si,
foram sofrendo aproximações ao longo dos tempos.
Também com o passar do tempo, estes dois sistemas influenciaram outros países e
ocorreu a difusão dos mesmos um pouco por todo o mundo.
Assim, podemos concluir que o debate existente sobre os elementos que caracterizam
ambos os sistemas é meramente histórico uma vez que, hoje em dia, estes modelos não
se distinguem um do outro devido á convergência das suas características.
Bibliografia:
Capítulo II
Em pleno século XVIII o confronto entre sistemas fundava-se na pureza teórica de cada
um dos modelos. Todavia, cada um deles evoluiu, o que, já no século XX, resultou
numa aproximação de ambos, sob alguns aspetos, que teremos oportunidade de
desvendar, em cada uma das linhas que se seguem.
Após esta breve, mas indispensável reflexão, passaremos a comparar a evolução que
ocorreu em cada sistema, sobre cada um dos aspetos a ponderar:
Por outro lado, em França, fez-se sentir um aumento das relações entre particulares e
Estado, submetidas à fiscalização de tribunais judiciais.
Desde o início do século XX, que existe Direito Administrativo, prova disso é o facto de
existirem universidades inglesas a leccionarem Administrative Law.
A administração francesa, por sua vez, teve de passar a adequar-se ao direito privado:
empresas públicas, devido à natureza da sua atividade económica vêem-se obrigadas a
funcionar à luz do direito comercial, serviços públicos, sociais e culturais vinculados a
agir conforme o direito civil…
A nova realidade britânica aproxima, sem dúvida, os dois sistemas, uma vez que em
França o que o Direito Administrativo regula já não são os privilégios, mas sim os
poderes e deveres da administração, que têm correspondência com os direitos dos
particulares, visto que o Direito Administrativo actual regula relações jurídico-
administrativas entre sujeitos, com o mesmo estatuto de igualdade.
Conclui-se assim, quanto a este aspeto, que as diferenças são escassas. Ainda que no
Reino Unido direito costumeiro e o jurisprudencial detenham um peso maior do que em
França, tal não passa de uma tradição que valoriza dadas fontes, em detrimento de
outras, sendo que, em última instância, a fonte principal é comum, a lei.
Todavia, dada a panóplia de dúvidas que esta alteração suscitou, a entrada em vigor
deste preceito foi adiada para quando um outro diploma, responsável por definir casos,
formas e termos em que os atos administrativos podem ser impostos coercivamente pela
Administração, (artigo 8º, nº1 do diploma de aprovação do CPA) entrar em vigor.
Por último, analisaremos as garantias jurídicas dos particulares, que são genericamente
superiores no sistema britânico. Contudo, em Inglaterra os tribunais não podem assumir
a posição da Administração, exercendo os poderes discricionários que a lei lhe confere,
o que diminui o recurso a figuras como o mandamus e a prohibition, ordens que
permitem aos tribunais comuns ingleses ampliar o controlo jurisdicional da acção
administrativa.
Por último, tanto Inglaterra, como França, adotaram uma instituição de salvaguarda dos
particulares face à Administraçao Pública, que, tendo origem nórdica, na Grã-Bretanha
passou a designar-se Parliamentary Commisioner for Administration e, em França, foi
acolhida como Médiateur. Por cá, em Portugal, chamamos-lhe Provedor de Justiça.
Tirando as ilações finais de toda esta análise, conclui-se que o princípio que serve de
base a cada um dos sistemas é distinto, as soluções são diferentes e a técnica jurídica
também. Contudo, efectivamente ocorreu uma notória aproximação entre ambos os
sistemas, principalmente no que diz respeito aos aspetos analisados anteriormente: a
organização administrativa, o direito regulador da Administração, o regime da execução
das decisões administrativas e o conjunto de garantias jurídicas dos particulares.
As diferenças que ainda hoje se mantêm, mais visivelmente, dizem respeito aos
tribunais que fiscalizam a Administração Pública. Na Inglaterra, os comuns, em França,
os administrativos. No primeiro caso estamos perante uma unidade de jurisdição, ao
passo que o segundo apresenta uma dualidade de jurisdições.
Convém porém destacar que esta divergência não pode sustentar a tese de Dicey,
segundo a qual em Inglaterra estamos perante um Estado de Direito e em França não.
Neste caso era Hauriou quem estava certo, uma vez que, apesar de os sistemas serem
diferentes entre si, se trata, na verdade, de duas espécies do mesmo género.
Segundo Vasco Pereira da Silva, actualmente mais releva o grau de especialização que
um sistema oferece, do que a questão da unidade ou dualidade, sendo útil distinguir os
modelos, de acordo com o seu grau de especialização. Deste modo, em Inglaterra a
especialização existe a nível da primeira instância e, em França, em todas as instâncias.
Na perspectiva do professor é necessário que haja alguma especialização no que respeita
ao contencioso administrativo, visto que os litígios são bastante complexos e beneficiam
com a especialização dos juízes, graças à qual poderão julgar melhor. É conveniente,
portanto, que a formação seja preparada atendendo aos litígios que se vão decidir. O
facto de um juíz apenas se debruçar sobre questões de Direito Administrativo contribui
para que o domine melhor.
Finalizando, retém-se que atualmente este é um debate meramente histórico, que tem
utilidade por ajudar a perceber as soluções encontradas para o presente. Contudo, os
sistemas já não se distinguem, nem tendencialmente, porque, pesem embora as
características específicas, a convergência é cada vez mais acentuada.
Bibliografia:
DO AMARAL, DIOGO FREITAS, Manual de Direito administrativo – volume I,
Almedina, 4ª edição, 2015