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O ALUNO EM FOCO PESQUISA NO ENSINO DE QUÍMICA

Construindo
conhecimento científico
na sala de aula
A seção “Pesquisa no ensino de química” relata investigações Rosalind Driver
relacionadas a problemas no ensino de química, explicitando os Hilary Asoko
John Leach
fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos adotados na Eduardo Mortimer
pesquisa e analisando seus resultados. A seção “Aluno em Foco” Philip Scott
discute resultados de pesquisas sobre idéias informais dos Tradução*: Eduardo Mortimer
estudantes, sugerindo formas de levar essas idéias em
consideração no ensino-aprendizagem de conceitos científicos. O pedagógicas. De fato, Millar (1989) afir-
presente artigo enfoca a importante temática da construção de ma que perspectivas particulares so-
conhecimento científico em sala de aula e a relação entre as idéias bre a aprendizagem não resultam
científicas e idéias informais dos estudantes, razão pela qual se necessariamente em práticas pedagó-
inclui a tradução deste artigo para integrar as seções “Pesquisa em gicas específicas. Além disso, as tenta-
Ensino de Química” e “Aluno em Foco”. A publicação deste artigo tivas de articular as abordagens ‘cons-
também significa uma homenagem da comunidade de educadores trutivistas’ à didática das ciências
químicos brasileiros à grande pesquisadora em ensino de ciências (Driver e Oldham, 1986; Fensham et
que foi Rosalind Driver, falecida em outubro de 1997. 31
al., 1994; Osborne e Freyberg, 1985)
têm sido criticadas com base no pres-
processo de aprendizagem, idéias científicas, idéias informais, pedagogia suposto de que tais práticas pedagó-
gicas estão fundamentadas em uma
visão empirista da natureza da ciência
(Matthews, 1992; Osborne, 1993),

O
compromisso central de uma ficos (por exemplo, Edwards e Mercer, argumento que será posteriormente
posição construtivista — de 1987; Lemke, 1990). Outros, ainda, analisado neste texto.
que o conhecimento não é di- vêem o processo como um aprendi- Neste artigo, vamos apresentar
retamente transmitido mas construído zado das práticas científicas (Rogoff e nossa visão de como os vários fatores
ativamente pelo aprendiz — é com- Lave, 1984). O nosso da experiência pesso-
partilhado por diferentes tradições de próprio trabalho tem ...na educação em al, da linguagem e da
pesquisa no ensino das ciências. Uma se concentrado no ciências, é importante socialização inter-rela-
dessas tradições concentra-se na estudo de como os considerar que o cionam-se no proces-
construção individual de significados alunos recorrem a conhecimento cientí- so de aprendizagem
e nas várias teorias informais que as seu conhecimento in- fico é, ao mesmo das ciências em sala
pessoas desenvolvem sobre os fenô- formal e como este tempo, simbólico por de aula e discutir as
menos naturais (Carey, 1985; Carmi- interage com as for- natureza e socialmente relações problemá-
chael et al., 1990; Pfundt e Duit, 1985), mas científicas de negociado ticas entre conheci-
como resultado das interações indivi- conhecimento intro- mento científico, apren-
duais dos aprendizes com os eventos duzidas na sala de aula (por exemplo, dizagem das ciências e pedagogia.
físicos de sua vida diária (Piaget, 1970). Johnston e Driver, 1990; Scott, 1993;
A natureza do conhecimento
A aprendizagem em sala de aula, a Scott et al., 1994). Existe uma varieda-
partir dessa perspectiva, é vista como de de descrições dos processos de científico
algo que requer atividades práticas construção do conhecimento. Parece Qualquer relato sobre ensino e
bem elaboradas que desafiem as con- ser necessário esclarecer essas pers- aprendizagem das ciências precisa
cepções prévias do aprendiz, encora- pectivas distintas e suas inter-relações. levar em consideração a natureza do
jando-o a reorganizar suas teorias Uma outra questão que precisa ser conhecimento a ser ensinado. Embora
pessoais. Uma outra tradição descreve esclarecida entre os educadores em trabalhos recentes sobre a natureza da
o processo de construção de conheci- ciências é a relação que vem sedo pro- ciência enfatizem que as práticas cien-
mento como conseqüência da acultu- posta entre a visão construtivista da tíficas não podem ser caracterizadas
ração do aprendiz nos discursos cientí- aprendizagem e suas implicações de modo unitário simplista, ou seja,

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que não existe uma única ‘natureza da entidades definidas formalmente e de como relativista e resultante exclusiva-
ciência’ (Millar et al., 1993), existem relações que se supõe existirem entre mente de processos sociais (Collins,
alguns compromissos centrais ligados elas. O fato é que, mesmo em domí- 1985; Latour e Woolgar, 1979). Além
às práticas científicas e ao conheci- nios relativamente simples da ciência, disso, essa posição relativista argu-
mento que têm implicações para o en- os conceitos usados para descrever e menta que não há como saber se esse
sino da ciência. Defendemos que, na modelar o domínio não são revelados conhecimento é um reflexo ‘verdadeiro’
educação em ciências, é importante de maneira óbvia pela leitura do ‘livro do mundo, e que a noção de ‘progres-
considerar que o conhecimento cientí- da natureza’. Ao contrário, esses so’ científico é, portanto, problemática.
fico é, ao mesmo tempo, simbólico por conceitos são construções que foram Esse aparente ‘irracionalismo’ e relati-
natureza e socialmente negociado. Os inventadas e impostas sobre os fenô- vismo das ciências é, no momento,
objetos da ciência não são os fenôme- menos para interpretá-los e explicá-los, motivo de controvérsia nos estudos so-
nos da natureza, mas construções muitas vezes como resultado de bre as ciências e na educação em
desenvolvidas pela comunidade cientí- grandes esforços intelectuais. ciências. Mas uma perspectiva do
fica para interpretar a natureza. Hanson Uma vez que esse conhecimento conhecimento científico como social-
(1958) fornece uma ilustração eloqüen- tenha sido construído e acordado den- mente construído não implica logica-
te sobre a diferença entre os conceitos tro da comunidade científica, torna-se mente uma posição relativista. Ao pro-
da ciência e os fenômenos do mundo, parte da forma não problemática de ver por uma ontologia realista, Harré
em seu relato sobre os esforços inte- as coisas, aceita dentro dessa comu- (1986) sugere que o conhecimento
lectuais de Galileu para explicar o movi- nidade. Como resultado, o mundo sim- científico é limitado pela própria estru-
mento de queda livre. Durante vários bólico da ciência é hoje povoado por tura do mundo tal como ele é, e que o
anos Galileu realizou medidas de entidades como átomos, elétrons, íons, progresso científico tem base empírica,
objetos em queda, representando a campos e fluxos, genes e cromosso- mesmo que seja socialmente construí-
aceleração em termos das mudanças mos; ele é organizado por idéias como do e validado (uma posição que con-
na velocidade do objeto em uma dada a da evolução e inclui procedimentos sideramos convincente).
distância, uma formulação que levou de medida e experimentos. Essas enti- Quer se adote ou não uma pers-
32 a relações complexas e deselegantes. dades ontológicas e conceitos organi- pectiva relativista, a visão do conhe-
Uma vez que ele começou a pensar zadores, assim como a epistemologia cimento científico como socialmente
em termos de mudança de velocidade e as práticas das ciências a eles rela- construído e validado tem implicações
em um dado intervalo de tempo, a cionadas, dificilmente serão descober- importantes para a educação em ciên-
aceleração constante de objetos em tas por indivíduos através de suas pró- cias. Isso significa que a aprendizagem
queda se tornou evidente. A noção de prias observações do mundo natural. das ciências envolve ser iniciado nas
aceleração não emergiu de forma não O conhecimento científico, como formas científicas de se conhecer. As
problemática das observações, mas conhecimento público, é construído e entidades e idéias científicas, que são
lhes foi imposta. O conhecimento comunicado através da cultura e das construídas, validadas e comunicadas
científico em muitos domínios, seja nas instituições sociais da ciência. através das instituições culturais da
explicações do comportamento de Existem estudos, na área de história ciência, dificilmente serão descobertas
circuitos elétricos, no fluxo de energia e sociologia das ciências, que vêem o pelos indivíduos por meio de sua pró-
através de ecossistemas ou na rapidez conhecimento que emerge da ativi- pria investigação empírica; aprender
das reações químicas, consiste de dade dentro da comunidade científica ciências, portanto, envolve ser iniciado

Rosalind Driver
Quando o eu estava preparando esta tradução, fui co- em ciências na década de 80. Dinâmica e inquieta, Ros
municado do falecimento da esteve sempre a frente do movimento construtivista no ensi-
profa. Rosalind Driver, principal no de ciências e soube perceber como ninguém a crise
articuladora deste artigo. Ros foi que foi se instalando nesse programa de pesquisa a partir
uma da mais proeminentes figu- do fim da década de 80. Este artigo representa uma tenta-
ras da educação em ciências tiva de refletir sobre essa crise e sugerir novos rumos ao
neste século. Seu trabalho com movimento.
Jack Easley, publicado em 1978 Todos que tiveram a honra e o privilégio de conviver e
no Studies in Science Education, trabalhar com a excelente figura humana que foi Ros Driver
sob o título de “Pupils and para- podem avaliar a dor que sua morte significou para seus
digms: a review of literature rela- amigos e colaboradores. Para seus leitores e admiradores
ted to concept development in nos quatro cantos do mundo, fica a sensação de uma perda
adolescent science students”, é irreparável para a educação em ciências. Espero que a pu-
considerado um marco na cria- blicação deste artigo em português provoque nos leitores e
ção do programa de pesquisa sobre concepções alterna- leitoras a mesmas inquietações, questionamentos e buscas
tivas dos estudantes, que dominou a cena na educação de novos rumos que marcaram a vida de Rosalind Driver.

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nas idéias e práticas da comunidade os esquemas individuais de conheci- cas apoiadas por discussões em gru-
científica e tornar essas idéias e prá- mento e a história das ciências (Piaget po formam a essência dessas práticas
ticas significativas no nível individual. e Garcia, 1989), e na verdade sua pedagógicas (vide, por exemplo,
O papel do professor de ciências, mais questão básica fosse essencialmente Nussbaum e Novick, 1982; Rowell e
do que organizar o processo pelo qual epistemológica, o enfoque central de Dawson, 1984). A partir dessa perspec-
os indivíduos geram significados sobre grande parte de seu programa de pes- tiva individual, as salas de aula são
o mundo natural, é o de atuar como quisa foi o modo como os indivíduos lugares onde as pessoas estão ativa-
mediador entre o conhecimento cien- conferem significado ao mundo físico mente engajadas umas com as outras,
tífico e os aprendizes, ajudando-os a por meio do desenvolvimento de estru- na tentativa de compreender e interpre-
conferir sentido pessoal à maneira co- turas e operações lógicas independen- tar fenômenos por si mesmas, e onde
mo as asserções do conhecimento são tes de conteúdo. De a interação social em
geradas e validadas. Portanto, essa forma contrastante, o Embora esse campo de grupos é vista como
perspectiva pedagógica difere funda- programa de pesqui- pesquisa tenha como algo que fornece o es-
mentalmente da perspectiva empirista. sa sobre o raciocínio foco o conhecimento tímulo de perspectivas
científico das crianças específico por domínio diferentes sobre as
Aprendizagem das ciências que emergiu nos últi- e não os esquemas quais os indivíduos
como atividade individual mos 20 anos tem co- gerais de raciocínio, possam refletir. O pa-
Embora Piaget não tenha se referi- mo foco os esquemas ele possui muito em pel do professor é for-
do a si mesmo como ‘construtivista’ a de conhecimento em comum com a necer as experiências
não ser tardiamente em sua vida domínios específicos perspectiva piagetiana, físicas e encorajar a
(Piaget, 1970), a perspectiva de que o no contexto da apren- podendo conduzir a reflexão. As concep-
conhecimento é construído pelo sujeito dizagem das ciências perspectivas ções das crianças
cognoscente é central em sua posição. pelas crianças. As pedagógicas são consideradas e
Como reflete sua afirmação “l’intelli- concepções das cri- semelhantes questionadas de ma-
gence organise le monde en s’organi- anças sobre os fenô- neira respeitosa. Na
sant elle-même” (“a inteligência orga- menos físicos já foram documentadas passagem a seguir, Duckworth descre- 33
niza o mundo organizando a si mes- em uma ampla variedade de domínios ve claramente os tipos de intervenções
ma” – 1937, p. 311), a preocupação da ciência (Carmichael et al., 1990; que são úteis:
central de Piaget foi com o processo Driver et al. 1985; Pfundt e Duit, 1985;
O que você quer dizer? Como
pelo qual os seres humanos constroem West e Pines, 1985). Embora esse
você fez isso? Por que você diz
seu conhecimento do mundo. Em ter- campo de pesquisa tenha como foco
isso? Como é que isso se en-
mos amplos, Piaget postulou a existên- o conhecimento específico por domí-
caixa no que acabamos de di-
cia de esquemas cognitivos que são nio e não os esquemas gerais de racio-
zer? Poderia me dar um exem-
formados e se desenvolvem por meio cínio, ele possui muito em comum com
plo? Como você chegou a isso?
da coordenação e da internalização a perspectiva piagetiana, podendo
Em cada caso, essas perguntas
das ações de um indivíduo sobre os conduzir a perspectivas pedagógicas
são primeiramente uma maneira
objetos do mundo. Esses esquemas semelhantes. Ambas vêem o significa-
de o interlocutor tentar compre-
se desenvolvem como resultado de um do como sendo construído pelos indiví-
ender o que o outro está enten-
processo de adaptação a experiências duos e afirmam que o significado de-
dendo. Entretanto, em cada ca-
mais complexas (através do processo pende dos esquemas de conhecimen-
so elas vão, também, engajar
que Piaget denominou equilibração). to existentes no indivíduo. A aprendi-
os pensamentos do outro e le-
Novos esquemas, portanto, passam a zagem acontece quando esses esque-
vá-los um passo adiante. (1987,
existir pela modificação dos antigos. mas são modificados pelo processo
p. 96-97.)
Assim, o desenvolvimento intelectual de reequilibração. Esse processo re-
é visto como uma adaptação progres- quer uma atividade mental interna e Assim, as atividades e intervenções
siva dos esquemas cognitivos indivi- tem como resultado a modificação de do professor são descritas como pro-
duais ao ambiente físico. Piaget reco- um esquema anterior de conheci- movendo o pensamento e a reflexão
nheceu que a interação social poderia mento. A aprendizagem é vista, portan- por parte dos alunos, solicitando argu-
ter um papel na promoção do desen- to, como algo que envolve um proces- mentos e evidências em apoio às afir-
volvimento cognitivo, por exemplo ao so de mudança conceitual. As aborda- mações. Há, em nosso ponto de vista,
tornar disponíveis para a criança gens do ensino de ciências baseadas uma omissão significativa por parte
pontos de vistas diferentes por meio nessa perspectiva concentram-se em dessa perspectiva sobre a construção
da discussão. Para que aconteça o fornecer às crianças experiências físi- de conhecimento. O desenvolvimento
desenvolvimento, no entanto, é essen- cas que induzam ao conflito cognitivo das estruturas cognitivas dos aprendi-
cial que haja equilibração em nível in- e, assim, encorajam os aprendizes a zes é visto como resultado da interação
dividual. desenvolver novos esquemas de co- dessas estruturas com aspectos de
Embora mais tarde em sua vida nhecimento que são mais bem adapta- uma realidade física externa, sendo o
Piaget tenha tratado da relação entre dos à experiência. As atividades práti- processo de significação estimulado

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pela interação entre pares. No entanto, ve a introdução em um mundo simbó- construção do conhecimento for vista
as interações dos aprendizes com as lico. Isso está bem explicitado na apenas como processo individual, isso
realidades simbólicas, com as ferra- introdução de Bruner ao trabalho de é semelhante ao que tem sido tradicio-
mentas culturais da ciência, não são Vygotsky: nalmente identificado como aprendi-
substancialmente consideradas. zagem por descoberta. Se, no entanto,
O projeto Vygotskyano é des-
Além disso, ao ver a aprendizagem os aprendizes tiverem que ter acesso
cobrir o modo como os mem-
como algo que envolve a substituição aos sistemas de conhecimento da
bros aspirantes de uma cultura
de antigos esquemas de conhecimen- ciência, o processo de construção do
aprendem de seus tutores, os
to por novos, essa perspectiva ignora conhecimento tem que ultrapassar a
vicários de sua cultura, a enten-
a possibilidade de os indivíduos terem investigação empírica pessoal. Quem
der o mundo. Este mundo é um
esquemas conceituais plurais, cada aprende precisa ter acesso não ape-
mundo simbólico no sentido de
um apropriado a contextos sociais nas às experiências físicas, mas tam-
que ele consiste de sistemas de
específicos. (Os cientistas, afinal, en- bém aos conceitos e modelos da ciên-
crenças conceitualmente orga-
tendem perfeitamente o que significam cia convencional. O desafio está em
nizados, delimitados por regras
frases como “Feche a porta para o frio ajudar os aprendizes a se apropriarem
sobre as coisas que existem,
não entrar”). No lugar de reequilibra- desses modelos, a reconhecerem seus
sobre como atingir os objetivos
ções sucessivas, argumenta-se que a domínios de aplicabilidade e, dentro
e sobre o que deve ser valori-
aprendizagem pode ser mais bem desses domínios, a serem capazes de
zado. Não existe nenhuma ma-
caracterizada por construções parale- usá-los. Se ensinar é levar os estudan-
neira, nenhuma mesmo, através
las relacionadas a contextos específi- tes às idéias convencionais da ciência,
da qual o ser humano poderia
cos (Solomon, 1983). A noção de ‘perfil então a intervenção do professor é
ter domínio desse mundo sem
epistemológico’ de Bachelard (1940/ essencial, tanto para fornecer evidên-
a ajuda e a assistência de outras
1968) pode ser útil aqui. Em vez de cias experimentais apropriadas como
pessoas, pois, na verdade, esse
construir uma única e poderosa idéia, para disponibilizar para os alunos as
mundo são os outros (Bruner,
os indivíduos podem apresentar ma- ferramentas e convenções culturais da
1985, p. 32).
34 neiras diferentes de pensar, ou seja, um comunidade científica. O desafio é co-
perfil conceitual dentro de domínios A partir dessa perspectiva, o conhe- mo alcançar com êxito esse processo
específicos. Por exemplo, uma visão cimento e o entendimento, inclusive o de enculturação na rotina da sala de
contínua da matéria é normalmente entendimento científico, são construí- aula comum. Além disso, os desafios
adequada para lidar com as proprie- dos quando os indivíduos se engajam são especialmente importantes quan-
dades e o comportamento das subs- socialmente em conversações e ativi- do a perspectiva científica que o pro-
tâncias sólidas na vida cotidiana. Pers- dades sobre problemas e tarefas co- fessor está apresentando é conflitante
pectivas diferentes podem, entretanto, muns. Conferir significado é, portanto, com os esquemas de conhecimento
ser utilizadas. Uma visão quântica da um processo dialógico que envolve prévio dos alunos.
matéria é epistemológica e ontologica- pessoas em conversação e a aprendi-
zagem é vista como o processo pelo
Idéias científicas informais e
mente diferente de uma visão atomista,
e ambas são diferentes de um modelo qual os indivíduos são introduzidos em conhecimento de senso
contínuo. Essas três perspectivas po- uma cultura por seus membros mais comum
dem formar o perfil conceitual de um experientes. À medida que isso acon- Os jovens possuem vários esque-
indivíduo para os sólidos, e cada uma tece, eles ‘apropriam-se’ das ferramen- mas de conhecimento utilizados para
pode ser apropriada a um contexto tas culturais por meio de seu envolvi- interpretar os fenômenos com que se
diferente. Assim, um químico que mento nas atividades dessa cultura. deparam no seu dia-a-dia. Esses es-
trabalha em uma reação de síntese Um membro quemas são fortemente
pode achar mais útil considerar os áto- mais experiente apoiados pela experiência
Em vez de construir
mos partículas materiais do que um de uma cultura pessoal e pela socialização
uma única e poderosa
conjunto de singularidades matemá- pode ajudar um em uma visão de senso
idéia, os indivíduos
ticas em campos de força (Mortimer, membro menos comum. Pesquisas feitas
podem apresentar
1993). experiente estru- em todo o mundo já de-
maneiras diferentes de
turando as tare- monstraram que as idéias
Aprendizagem das ciências pensar, ou seja, um
fas, tornando científicas informais das
como construção social do perfil conceitual dentro
possível que ele crianças não são totalmen-
conhecimento de domínios
as desempenhe te idiossincráticas. Dentro
específicos
Enquanto a perspectiva individual e internalize o de domínios específicos
sobre a construção do conhecimento processo, ou se- das ciências existem ma-
privilegia as experiências físicas e seu ja, convertendo-as em ferramentas neiras informais de modelar e interpre-
papel na aprendizagem das ciências, para controle consciente. tar os fenômenos que são encontrados
uma perspectiva socioconstrutivista Existe aqui uma questão importante entre crianças de diferentes países,
reconhece que a aprendizagem envol- para a educação em ciências. Se a línguas e sistemas educacionais. Uma

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das áreas mais exaustivamente maneiras como os indivíduos experi- crianças em faixas etárias diferentes.
estudadas é o raciocínio informal sobre mentam os fenômenos naturais são Em outras palavras, as estruturas onto-
mecânica. Aqui existe uma concepção limitadas pela própria realidade. lógicas cotidianas da criança desen-
comum de que é necessário uma força No que tange às experiências do volvem-se com a experiência e com a
constante para manter um objeto em dia-a-dia das pessoas, as idéias infor- utilização da linguagem dentro de uma
movimento constante (Clement, 1982; mais são, na maioria das vezes, perfei- cultura. Essa mudança corresponde ao
Gunstone e Watts, 1985; Viennot, tamente adequadas para interpretar e que outros autores descrevem como
1979). Essa noção difere da física new- orientar as ações. As fogueiras de fato uma reestruturação radical das con-
toniana, que associa força queimam até virar cepções específicas por domínio das
à mudança na condição de No que tange às um monte de crianças (vide Carey, 1985; Vosniadou
movimento, ou seja, à experiências do dia-a- cinzas – uma ma- e Brewer, 1992).
aceleração. Entretanto, dia das pessoas, as neira muito usada As formas ‘de senso comum’ de ex-
não é difícil entender que idéias informais são, para livrar-se do plicar os fenômenos, conforme expos-
experiências como empur- na maioria das vezes, lixo indesejado. to aqui, representam o conhecimento
rar objetos pesados ou pe- perfeitamente Se você deseja do mundo descrito dentro da cultura
dalar uma bicicleta adequadas para que um piano do dia-a-dia. Elas diferem do conhe-
possam ser vistas como interpretar e orientar continue a ser cimento da comunidade científica de
coerentes com a noção de as ações. As fogueiras mover, você pre- várias maneiras. Obviamente, o senso
que “movimento constante de fato queimam até cisa de fato de comum e a ciência diferem nas enti-
implica em força cons- virar um monte de empurrá-lo com dades ontológicas que contêm. As
tante”. Em outro domínio, cinzas um esforço cons- entidades tidas como reais dentro do
aquele do raciocínio sobre tante. Não é de discurso do dia-a-dia diferem das
as substâncias materiais, as crianças admirar que as idéias que são usadas entidades da comunidade científica.
não vêem problema em considerar a e cuja utilidade é comprovada sejam Em segundo lugar, o raciocínio de sen-
matéria algo que aparece e desapa- então representadas na linguagem do so comum, embora possa apresentar
rece. Quando um tronco de madeira dia-a-dia. Expressões do tipo “leve certa complexidade, também tende a 35
queima até ser reduzido a um amon- como o ar” ou “o fogo consumiu tudo” ser tácito ou a não ter regras explícitas.
toado de cinzas, as crianças afirmam refletem e apóiam idéias informais O raciocínio científico, por outro lado,
que a matéria “se foi com o fogo1” subjacentes. Argumentamos, portanto, é caracterizado pela formulação explí-
(Andersson, 1991). As crianças mais que as idéias informais não são apenas cita de teorias que podem ser comu-
velhas podem reconhecer que existem visões pessoais do mundo, mas re- nicadas e inspecionadas à luz da evi-
produtos gasosos originários do fogo. fletem uma visão comum, representa- dência. Em ciências, esse processo
No entanto, eles não são vistos como da por uma linguagem compartilhada. envolve vários cientistas comunicando-
substâncias, mas como algo que tem Essa visão compartilhada constitui o se uns com os outros. Embora o co-
propriedades etéreas (Meheut et al., ‘senso comum’, uma forma social- nhecimento tácito tenha, inquestiona-
1985). “Os gases, afinal, não podem mente construída de descrever e expli- velmente, o seu lugar na ciência, a
ter massa ou peso; se não, por que car o mundo. necessidade de ser explícito na formu-
não caem?” De fato, para muitas crian- Durante a infância, as idéias das lação de uma teoria é central para o
ças a idéia de que o ar ou um gás pos- crianças se desenvolvem como resul- empreendimento científico. Em terceiro
sa ter peso é totalmente implausível. tado da experiência e da socialização, lugar, o raciocínio do dia-a-dia é carac-
Muitos chegam a postular que eles têm transformando-se em visões ‘do senso terizado pelo pragmatismo. As idéias
peso negativo, porque tendem a fazer comum’. Para crianças muito peque- são julgadas por sua utilidade para fins
as coisas subirem (Brook et al., 1989; nas (entre 4 e 6 anos), o ar existe ape- específicos ou em situações especí-
Stavy, 1988). Um raciocínio semelhante nas como vento ou brisa – os peque- ficas e, como tal, orientam as ações
é utilizado sobre o papel dos gases nos ninos não conceituam o ar como das pessoas. A busca científica, por
processos biológicos, como a fotossín- substância material. A noção do ar co- outro lado, tem o objetivo adicional de
tese, a respiração e a degradação mo ‘coisa’ normalmente torna-se parte construir um quadro geral e coerente
(Leach et al., no prelo). dos modelos de mundo das crianças do mundo. O compromisso científico,
Esses são apenas alguns exemplos entre 7 e 8 anos. Essa coisa é então portanto, não é satisfeito por modelos
dos tipos de idéias informais que pre- conceitualizada como algo que ocupa situacionalmente específicos, mas por
valecem no raciocínio de jovens e adul- espaço, mas que não tem peso, ou modelos que tenham maior genera-
tos. Em domínios como os aqui refe- que tem um peso negativo ou a pro- lidade e escopo.
ridos, sustentamos que existem coisas priedade de se elevar (‘upness’ – Brook
Aprendizagem das ciências
em comum nas maneiras informais de et al., 1989). Esse exemplo ilustra uma
raciocinar, em parte porque os mem- questão muito mais geral: as entidades envolvendo processos
bros de uma cultura compartilham – o ar como coisa, por exemplo – que individuais e sociais
formas de falar e de se referir a fenô- são tidas como reais pelas crianças Vamos considerar agora o que ve-
menos específicos. Além disso, as podem ser bastante diferentes para mos como as implicações das distin-

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ções entre senso comum e raciocínio nidade científica (Hewson, 1981; Pos- al., 1989). As práticas discursivas nas
científico para a aprendizagem das ner et al., 1982; West e Pines, 1985). O salas de ciências diferem substancial-
ciências. Já argumentamos que apren- problema que vemos nessa caracteri- mente das práticas de argumentação
der ciências não é uma questão de zação é que não deveríamos esperar e pesquisa científica que ocorrem
simplesmente ampliar o conhecimento que os estudantes necessariamente dentro das várias comunidades de
dos jovens sobre os fenômenos – uma abandonassem suas idéias do senso cientistas profissionais; isso não sur-
prática talvez mais apropriadamente comum, como resultado do ensino de preende, se considerarmos as diferen-
denominada estudo da natureza – nem ciências. Como já argumentamos ante- ças entre as escolas e os vários contex-
de desenvolver e organizar o raciocínio riormente, os estudantes podem conti- tos institucionais das ciências em ter-
do senso comum dos jovens. Aprender nuar a usar essas idéias para se comu- mos de objetivos e relações de poder.
ciências requer mais do que desafiar nicar dentro dos contextos sociais Essa disjunção já foi reconhecida, e
as idéias anteriores apropriados (Solo- alguns pesquisadores em ensino de
dos alunos mediante Uma perspectiva social mon, 1983). ciências estão experimentando ma-
eventos discrepantes. da aprendizagem em Alguns pesquisa- neiras de organizar as salas de aula
Aprender ciências salas de aula dores caracterizam a de modo a refletir formas específicas
envolve a introdução reconhece que uma aprendizagem das de investigação colaborativa que
das crianças e ado- maneira importante de ciências como o refle- possam ajudar os estudantes a do-
lescentes a uma for- introduzir os iniciantes xo de padrões de mu- minar gradualmente algumas das
ma diferente de pen- em uma comunidade dança semelhantes normas e práticas características das
sar sobre o mundo de conhecimento é que ocorreram na pró- comunidades científicas (Eichinger et
natural e de explicá-lo; através do discurso no pria ciência, por meio al., 1991; Roseberry et al., 1992).
é tornar-se socializa- contexto de tarefas da reestruturação pro-
do, em maior ou me- relevantes gressiva das teorias A aprendizagem na sala de
nor grau, nas práticas implícitas dos alunos aula de ciências
da comunidade científica, com seus (Carey, 1985; Chinn e Brewer, 1993; Nesta seção, vamos identificar
36 objetivos específicos, suas maneiras McCloskey, 1983; Vosniadou e Brewer, algumas das práticas discursivas que
de ver o mundo e suas formas de dar 1987). Embora reconheçamos que a apóiam a construção conjunta do co-
suporte às assertivas do conheci- aprendizagem das ciências envolve nhecimento científico por professores
mento. Antes que isso possa aconte- algum tipo de reestruturação de idéias, e alunos e que também refletem
cer, no entanto, os indivíduos precisam argumentamos que a visão da apren- aspectos da argumentação científica.
engajar-se em um processo pessoal dizagem como mudança de teoria Apresentamos episódios curtos de
de construção e de atribuição de signi- coloca uma ênfase exagerada na se- ensino e aprendizagem nas salas de
ficados. Caracterizado dessa maneira, melhança entre as idéias informais dos aula de ciências, baseando-nos nas
aprender ciências envolve tanto pro- alunos e as teorias científicas. É a perspectivas pessoais e sociais sobre
cessos pessoais como sociais. No pla- natureza implícita e situada dessas a aprendizagem, a fim de interpretar o
no social, o processo envolve ser intro- idéias informais que as distingue das que acontece em cada caso. Os exem-
duzido aos conceitos, símbolos e con- teorias científicas. Além disso, apren- plos foram retirados de estudos que
venções da comunidade científica. der ciências na escola significa mais estamos conduzindo em colaboração
Entrar nessa comunidade de discurso do que mudar de um conjunto de teo- com professores, em salas de aula de
não é algo que os alunos descobrem rias para outro; significa, em primeiro ciências na Inglaterra, nas quais foi
por conta própria, assim como nunca lugar, estar articulado de modo cons- chamada a atenção, explicitamente,
aprenderiam por conta própria a falar ciente sobre o que constitui as teorias. para as diferenças entre o raciocínio
esperanto. Uma perspectiva social da apren- informal dos alunos sobre um tópico
Tornar-se socializado nas práticas dizagem em salas de aula reconhece específico e a visão científica (Scott et
discursivas da comunidade científica que uma maneira importante de intro- al., 1992).
não significa, no entanto, abandonar duzir os iniciantes em uma comunida- Os episódios não têm como finali-
o raciocínio do senso comum. Os seres de de conhecimento é através do dis- dade apresentar casos exemplares de
humanos participam de múltiplas co- curso no contexto de tarefas relevan- ensino e aprendizagem. Na verdade,
munidades de discurso paralelas, cada tes. As salas de aula de ciências estão eles foram escolhidos para ilustrar as
uma com práticas e objetivos espe- sendo reconhecidas, atualmente, co- maneiras como os alunos desenvol-
cíficos. Atualmente existe bastante in- mo comunidades caracterizadas por vem significados pessoais dentro do
teresse por parte da comunidade de práticas discursivas distintas (Lemke, contexto social da sala de aula, como
educação em ciências no processo de 1990). Ao serem engajados nessas é feita a apropriação dos significados
mudança conceitual. Aprender ciên- práticas, os estudantes são socia- científicos e como as diferenças onto-
cias está sendo caracterizado por lizados em uma comunidade específi- lógicas e epistemológicas entre as vi-
alguns como a promoção de uma mu- ca do conhecimento, um processo sões informal e científica podem criar
dança conceitual das idéias informais descrito como aprendizado cultural obstáculos para a compreensão indi-
dos alunos para as idéias da comu- (Rogoff e Lave, 1984; Seely Brown et vidual.

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Raios de luz: negociando “novas viaja até aqui”. Em outras palavras, quadro, o plano da caixa octogonal.
ferramentas conceituais” — novas a luz se move do Sol até aqui... Traçando uma linha para representar
entidades ontológicas Aluno 5: Sim. a trajetória da luz, ele comentou que
Michael: 93 milhões de milhas. todos haviam feito previsões sobre a
Uma classe de alunos entre 8 e 9 posição da linha que estavam de acor-
anos de idade participou de uma série Está certo?
Alunos: Sim (coro de muitas vo- do com o que eles tinham visto, mas
de aulas introdutórias sobre a luz (vide acrescentou que várias pessoas na
Asoko, 1993). As crianças nessa idade zes)
sala acharam que a luz iria parar.
tendem a considerar a luz como fonte
ou efeito (Guesne, 1985), mas têm me- Nessa interação, Michael indicou
que a idéia do sol brilhando sobre nós Michael: Está certo?
nos possibilidade de conceituar a luz Aluno 1: Não, ela continua.
como algo que existe no espaço e que poderia ser mais bem elaborada e,
com as contribuições da turma, Michael: Ela continua. Quanto
se desloca a partir de uma fonte. O mais ela continuaria?
professor, Michael, estava interessado focalizou a idéia da luz como algo que
viaja de sua fonte, percorrendo o es- Aluno 2: Até o final. Ela continua
em ajudar a turma a desenvolver a toda a vida.
idéia de que a luz viaja pelo espaço e paço. Sua interação com a classe, à
medida que a idéia foi sendo explo- Aluno 3: Continua toda a vida,
que se desloca em linha reta. Uma vez isto...
estabelecida a concordância de que a rada, fornece uma indicação de que
essa é uma idéia geralmente aceita Aluno 4: Ela não pode parar. Vo-
luz viaja em linha reta, ele planejou cê não pode parar a luz sem desli-
apresentar a representação convencio- como plausível, um aspecto importante
na construção conjunta do conheci- gá-la.
nal dos ‘raios’ de luz.
A princípio, o professor Michael mento em sala de aula.
A idéia de que a luz viaja foi desen- Nessa seqüência, a noção de que
convidou a classe a pensar sobre a luz a luz “continua toda a vida” novamente
volvida um pouco mais através de uma
da sala de aula, e todas as crianças é interpretada como um discurso com-
atividade prática feita em grupos. Cada
concordaram que se tratava da luz do partilhado. Michael então convidou as
grupo de três a quatro crianças rece-
sol. A seguir ele explorou com elas crianças a desenhar mais linhas sobre
beu um jogo de equipamentos conten- 37
essa noção um pouco mais, pergun- o seu desenho a fim de mostrar para
do uma lâmpada de 12 V, colocada em
tando de onde vem a luz do sol. onde vai a luz. Depois que elas termi-
uma posição central sob uma caixa de
cartolina octogonal de aproximada- naram, Michael começou a usar as
Aluno 1: Do sol. palavras raio de luz para descrever a
mente 35 cm de diâmetro, colocada
Michael: Quer dizer que a luz que trajetória da luz.
sobre uma grande folha de papel. Foi
está entrando naquela janela veio do Nesse conjunto de seqüências, Mi-
cortada uma fresta de 12 cm de altura
sol? (várias respostas simultâneas) chael estava introduzindo às crianças,
por 0,5 cm de largura em cada uma
Aluno 2: Vem do calor, porque é por meio do discurso, a maneira cien-
das oito faces. Foi então pedido às
tão quente que faz uma luz brilhante. tífica de ver as coisas, tornando essa
crianças para pensar sobre o que ve-
Michael: Então como é que ela visão plausível no contexto de uma
riam quando a luz fosse acesa e para
chega aqui? Se é a luz do sol, como experiência memorável. Tendo se con-
desenhar, na folha de papel, o que es-
é que pode estar aqui também? vencido de que as crianças tinham
peravam ver. Quase todas as crianças
Martyn? uma representação mental para “o ca-
desenharam linhas num ângulo de 90
Aluno 3: Porque o sol está bri- minho pelo qual a luz viaja”, ele intro-
graus em relação às faces, a partir da
lhando sobre nós. duziu a convenção ou representação
fresta, para indicar o caminho da luz.
Michael: Mas ele está a 93 mi- simbólica do raio de luz, uma ferra-
As linhas variavam em comprimento,
lhões de milhas daqui – então como de 2 a 3 cm até aproximadamente 30 menta cultural que seria utilizada em
é que a luz do Sol pode estar aqui cm. Quando todas as crianças haviam aulas subseqüentes. Ao longo de toda
nesta mesa? feito pelo menos uma previsão, todas a seqüência, foi surgindo uma estória
Aluno 4: É por causa da camada as lâmpadas foram acesas simultanea- coerente, uma estória que Michael
de ozônio? (Seguiu-se uma curta in- mente na sala escura. O efeito espeta- verificava, através de feedbacks, ser
teração entre eles, em que vários cular causou certa empolgação e não comum a toda a turma. Esse proces-
alunos deram suas idéias sobre o pouca surpresa, quando as crianças so de desenvolver um significado
buraco na camada de ozônio que perceberam que, em vez de percorrer compartilhado entre professor e alunos
permitia que mais luz do sol passas- apenas uma distância curta, os raios é central àquilo que Edwards e Mercer
se, e então Michael recolocou sua de luz continuaram por toda a folha, (1987) chamam de conhecimento co-
pergunta). podendo ser vistos, num plano verti- mum na sala de aula. Esse conheci-
Michael: Mas como é que a luz cal, quando chegavam a uma mento comum ou discurso comparti-
do sol chega até aqui? superfície como a parede ou os corpos lhado passou a se referir a uma nova
Aluno 5: Ela viaja até aqui. das crianças. estrutura ontológica sobre a luz, uma
Michael: Coulton disse, e essas Michael reuniu a turma para discutir estrutura na qual a luz viaja, e viaja em
são suas palavras exatas, que “ela suas observações. Ele desenhou, no linha reta (representada simbolicamen-

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te por ‘raios de luz’) por longas distân- atividade com as borrachas de sucção do não existe ar, e que são, portanto,
cias. e ficaram surpresas com a força que coisas diferentes. Eles continuaram a
precisaram fazer para retirá-las de uma pensar nas borrachas de sucção:
A pressão do ar: estruturando (scaf- superfície lisa. Elas então discutiram
folding) “uma nova maneira de sua explicação para o fato: Adele: Está agarrado no fundo...
explicar” — conflito entre o senso ele [o ar] sai todo pelas laterais.
comum e a perspectiva científica Christa: É uma superfície lisa e Adulto: Tudo bem, mas e o ar do
O processo pelo qual os alunos não existe ar na borracha, então há lado de fora?
desenvolvem novas maneiras de expli- menos ar dentro do que fora, por Christa: O ar de fora está empur-
car podem envolver interações dialó- isso ela gruda. rando para baixo.
gicas entre professor e alunos ou en- Adulto: Então, o que é que Adele: Então fica difícil puxar pa-
tre pequenos grupos de alunos. empurra... o que é que faz grudar? ra cima.
Nessas interações, o adulto (ou um Christa: O ar.
colega mais competente) fornece Adele: A sucção. Neste trecho, o adulto estruturou o
aquilo que Bruner (1986) chamou de Adulto: O que é sucção? curso do raciocínio, primeiro lembran-
‘andaime’ (scaffolding) para a Adele: É algo que puxa... algo do às meninas da explicação que a tur-
aprendizagem dos alunos enquanto que puxa para baixo... ma construiu para o fenômeno ocorrido
eles constroem novos significados Adulto: Uns minutinhos atrás, com a garrafa plástica e, a seguir, aju-
para si mesmos. você disse que tinha a ver com o ar dando-as a fazer a ligação com o caso
Numa seqüência instrucional sobre empurrando aqui fora. da borracha de sucção ao levá-las a
a pressão do ar entre alunos de 11 e 12 Adele: Sim. pensar no ar dentro e fora da borracha.
anos (Scott, 1993), o professor desen- Adulto: Então você também Logo em seguida, Adele levantou
volveu, por meio de demonstrações e disse que tinha a ver com sucção. uma outra questão:
conversa com a classe, uma nova ma- Trata-se da mesma explicação, ou
neira de explicar vários fenômenos sim- são explicações diferentes? Adele: Como é que quando você
38 ples (como, por exemplo, por que uma Adele: São quase... (Adele não prende a borracha, e então você puxa
garrafa plástica murcha quando o ar é tem certeza e interrompe sua fala). para um canto da mesa e ela solta?
retirado de dentro dela). Essa nova ma- Adulto: Ah, esta é uma ótima per-
neira de explicar baseava-se nas dife- O adulto então lembrou as duas gunta. Vocês querem analisar isto
renças entre a pressão do ar dentro e meninas da demonstração anterior do um minutinho?
fora da garrafa. Foi pedido à turma para colapso da garrafa plástica, que elas Adele: É que...
trabalhar em grupos a fim de usar essa explicaram em termos de diferença na Christa: Não, deixa eu mostrar o
idéia de diferença de pressão para expli- pressão do ar dentro e fora. As meni- que acontece. É o ar, ele consegue
car outros fenômenos — por exemplo, nas então voltaram a pensar no caso entrar de volta, não consegue?
como borrachas de sucção, a exemplo das borrachas de sucção. Adele: É, ele volta para dentro,
dos desentupidores de pia, grudam em então o ar empurra para cima, não
superfícies lisas ou como um líquido Adulto: Agora, onde é que estão é?
pode ser sugado para uma pipeta. a parte de dentro e de fora? As duas: É.
Adele: Bem... esta é a parte de
...nas interações entre dentro (indica a parte de baixo da Aqui, o adulto retirou o apoio ou
professor e alunos, o borracha de sucção) scaffolding, tornando-se apenas um
professor fornece o Adulto:Sim... certo. espectador interessado, e as próprias
que Bruner chamou de Adele:É, e esta é a parte de fora. garotas usaram com confiança a
‘andaime’ para a Adulto: Ok. – Você pode usar a explicação baseada na diferença de
aprendizagem dos mesma explicação usada para a pressão. No entanto, uma pergunta fi-
alunos garrafa, para poder explicar o que nal de Christa sugere que ainda pode
acontece aqui? (O adulto volta a se haver problemas:
Nas passagens que se seguem, referir à garrafa plástica que mur-
vemos exemplos de um adulto expe- chou). Adulto: Agora... (pausa longa)
riente tentando ‘andaimear’ (to scaf- Adele: Tem alguma coisa a ver vocês têm alguma pergunta a res-
fold) o raciocínio dos estudantes em com gravidade? peito?
termos do modelo de diferença de Adulto: Por que você está di- Christa: Por que... por que o ar
pressão. Vemos também as maneiras zendo isto? empurra para baixo... quando o ar
como as teorias informais dos alunos, Adele: Puxando para baixo. sai pelas laterais? Por que o ar em-
como por exemplo a idéia de que “o purra para baixo?
vácuo suga”, influenciam na formação Após uma conversa adicional, Ade-
de sentido pelos indivíduos. le e o adulto concordaram que a gravi- A pergunta de Christa sugere que,
Christa e Adele completaram uma dade pode estar agindo mesmo quan- embora ela tivesse tido êxito (com o

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apoio do adulto) em construir a expli- porque o conhecimento científico é, sa excursão, que faz a mediação en-
cação com base na diferença de pres- por natureza, discursivo. Mostramos tre o mundo cotidiano das crianças e
são para esse caso, a situação ainda que os alunos de ciências possuem re- o mundo da ciência.
não é plausível para ela (“Por que o ar presentações cotidianas sobre os O que foi apresentado aqui difere
empurra para baixo?”). Na verdade, é fenômenos que a ciência explica. Es- fundamentalmente do programa educa-
bastante improvável que qualquer ex- sas representações são construídas, cional positivista, cuja ênfase reside na
periência ou explicação anterior sobre comunicadas e validadas dentro da racionalidade técnica e na apresentação
o ar estático pudesse apoiar a idéia de cultura do dia-a-dia. Elas se desenvol- não-problemática do conhecimento a
que ele exerce tanta pressão. A nova vem à medida que os indivíduos convi- ser adquirido. Participando das ativi-
maneira de explicar desafia as idéias vem dentro de uma cultura. Mostramos dades discursivas das aulas de ciências,
dos alunos sobre aquilo que o ar pode que existem diferenças epistemológi- os alunos vão sendo socializados nas
e não pode fazer; desafia suas ontolo- cas e ontológicas entre o raciocínio formas de conhecimento e nas práticas
gias pessoais sobre o ar. cotidiano e o raciocínio científico. Em- da ciência escolar. Isso representa uma
Os exemplos aqui apresentados bora a aprendizagem das ciências en- grande demanda para os educadores:
chamam a atenção para o ponto fun- volva interações sociais, no sentido de O desafio está em criar, entre os alunos,
damental de que domínios diferentes que as ferramentas culturais da ciên- uma perspectiva crítica sobre a cultura
da ciência envolvem tipos diferentes de cia precisam ser apresentadas aos científica. A fim de desenvolver tal
aprendizagem. No primeiro exemplo, alunos, defendemos a posição de que perspectiva, os alunos precisarão estar
os jovens alunos pareciam ter pouca os indivíduos precisam entender de conscientes dos objetivos variados do
dificuldade em compreender e acre- forma pessoal as maneiras de ver o conhecimento científico, de suas
ditar que a luz viaja e persiste, a menos mundo que lhes foram apresentadas. limitações e das bases sobre as quais
que seja bloqueada. Eles adotaram o Se as representações cotidianas de se assentam suas asserções. Um desa-
discurso científico e usaram as idéias certos fenômenos naturais forem muito fio crucial para o cotidiano da sala de
de forma produtiva. A situação no se- diferentes das representações cientí- aula é, portanto, transformar esses as-
gundo exemplo parece ser bastante ficas, a aprendizagem acaba sendo di- pectos epistemológicos no foco explícito
diferente. O professor havia envolvido fícil. Já argumentamos que a relação do discurso e, assim, socializar os alu- 39
as alunos nas atividades e no discurso entre as visões de aprendizagem e a nos na perspectiva crítica da ciência co-
a fim de apoiá-las na construção da pedagogia é problemática e que não mo forma de conhecimento.
visão científica, e mesmo assim vemos existem regras simples para a prática
as alunas passando por dificuldades pedagógica que emergem de uma Rosalind Driver foi professora titular de ensino de
ciências na Faculdade de Educação da Universidade
para tornar aqueles modelos da ciên- visão construtivista da aprendizagem. de Leeds, Reino Unido, onde Hilary Asoko, John
cia significativos e apropriá-los à reali- Existem, no entanto, aspectos impor- Leach e Philip Scott são professores de ensino
dade de cada uma. Sugerimos que es- tantes do processo de mediação que de ciências. Em 1995 Rosalind Driver assumiu a
sas diferenças nas reações dos alunos podem ser identificados. Para que os posição de professora titular do King’s College, em
Londres. Todos os quatro têm em comum o interesse
podem, em parte, ser explicadas ao se alunos adotem formas científicas de no ensino e aprendizado das ciências, com um
considerar as demandas ontológicas conhecer, é essencial que haja inter- enfoque específico sobre o desenvolvimento da
e epistemológicas de aprendizagem venção e negociação com uma autori- compreensão de conceitos, tendo sido membros do
nos domínios distintos da ciência que dade, normalmente o professor. Nesse CLIS (Children’s Learning in Science Research Group),
atualmente LIS. Eduardo Mortimer é professor
estão sendo estudados. No entanto, o aspecto, o ponto crítico é a natureza adjunto da Faculdade de Educação da Universidade
que é comum em ambos os casos é o do processo dialógico. O papel do pro- Federal de Minas Gerais, Brasil, também interessado
processo pelo qual o professor, fami- fessor, como autoridade, possui dois no desenvolvimento da compreensão de conceitos
liarizado com o modo de ver científico, componentes importantes. O primeiro nas ciências.
torna acessíveis aos alunos as ferra- deles é introduzir novas idéias ou ferra- *Este artigo foi originalmente publicado em Educa-
mentas culturais da ciência, apoiando mentas culturais onde for necessário tional Research, v. 23, n. 7, p. 5-12, 1994. Sua tradução
a (re)construção de suas idéias por e fornecer apoio e orientação aos estu- foi autorizada pela American Educational Research
Association.
meio do discurso sobre eventos físicos dantes a fim de que eles próprios pos-
comuns. sam dar sentido a essas idéias. O outro
é ouvir e diagnosticar as maneiras Agradecimentos
Resumo e comentários finais como as atividades instrucionais estão Os autores agradecem os comen-
A visão de que o conhecimento sendo interpretadas, a fim de subsidiar tários feitos por Robin Millar a uma ver-
científico é socialmente construído, as próximas ações. O ensino visto são anterior deste trabalho, bem co-
validado e comunicado é central neste nessa perspectiva é, portanto, também mo as valiosas sugestões feitas por
artigo. Apresentamos uma perspectiva um processo de aprendizagem para o revisores anônimos.
de aprendizagem das ciências como professor. Aprender ciências na sala de
processo de enculturação e não de aula requer que as crianças entrem Nota do tradutor
descoberta, argumentando que o numa nova comunidade de discurso, 1. No original, “is burnt away”. É di-
estudo empírico do mundo natural não numa nova cultura; o professor é o fícil encontrar uma expressão seme-
resultará em conhecimento científico guia, quase sempre pressionado, des- lhante em português.

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