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Construindo Conhecimento Sala de Aula PDF
Construindo Conhecimento Sala de Aula PDF
Construindo
conhecimento científico
na sala de aula
A seção “Pesquisa no ensino de química” relata investigações Rosalind Driver
relacionadas a problemas no ensino de química, explicitando os Hilary Asoko
John Leach
fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos adotados na Eduardo Mortimer
pesquisa e analisando seus resultados. A seção “Aluno em Foco” Philip Scott
discute resultados de pesquisas sobre idéias informais dos Tradução*: Eduardo Mortimer
estudantes, sugerindo formas de levar essas idéias em
consideração no ensino-aprendizagem de conceitos científicos. O pedagógicas. De fato, Millar (1989) afir-
presente artigo enfoca a importante temática da construção de ma que perspectivas particulares so-
conhecimento científico em sala de aula e a relação entre as idéias bre a aprendizagem não resultam
científicas e idéias informais dos estudantes, razão pela qual se necessariamente em práticas pedagó-
inclui a tradução deste artigo para integrar as seções “Pesquisa em gicas específicas. Além disso, as tenta-
Ensino de Química” e “Aluno em Foco”. A publicação deste artigo tivas de articular as abordagens ‘cons-
também significa uma homenagem da comunidade de educadores trutivistas’ à didática das ciências
químicos brasileiros à grande pesquisadora em ensino de ciências (Driver e Oldham, 1986; Fensham et
que foi Rosalind Driver, falecida em outubro de 1997. 31
al., 1994; Osborne e Freyberg, 1985)
têm sido criticadas com base no pres-
processo de aprendizagem, idéias científicas, idéias informais, pedagogia suposto de que tais práticas pedagó-
gicas estão fundamentadas em uma
visão empirista da natureza da ciência
(Matthews, 1992; Osborne, 1993),
O
compromisso central de uma ficos (por exemplo, Edwards e Mercer, argumento que será posteriormente
posição construtivista — de 1987; Lemke, 1990). Outros, ainda, analisado neste texto.
que o conhecimento não é di- vêem o processo como um aprendi- Neste artigo, vamos apresentar
retamente transmitido mas construído zado das práticas científicas (Rogoff e nossa visão de como os vários fatores
ativamente pelo aprendiz — é com- Lave, 1984). O nosso da experiência pesso-
partilhado por diferentes tradições de próprio trabalho tem ...na educação em al, da linguagem e da
pesquisa no ensino das ciências. Uma se concentrado no ciências, é importante socialização inter-rela-
dessas tradições concentra-se na estudo de como os considerar que o cionam-se no proces-
construção individual de significados alunos recorrem a conhecimento cientí- so de aprendizagem
e nas várias teorias informais que as seu conhecimento in- fico é, ao mesmo das ciências em sala
pessoas desenvolvem sobre os fenô- formal e como este tempo, simbólico por de aula e discutir as
menos naturais (Carey, 1985; Carmi- interage com as for- natureza e socialmente relações problemá-
chael et al., 1990; Pfundt e Duit, 1985), mas científicas de negociado ticas entre conheci-
como resultado das interações indivi- conhecimento intro- mento científico, apren-
duais dos aprendizes com os eventos duzidas na sala de aula (por exemplo, dizagem das ciências e pedagogia.
físicos de sua vida diária (Piaget, 1970). Johnston e Driver, 1990; Scott, 1993;
A natureza do conhecimento
A aprendizagem em sala de aula, a Scott et al., 1994). Existe uma varieda-
partir dessa perspectiva, é vista como de de descrições dos processos de científico
algo que requer atividades práticas construção do conhecimento. Parece Qualquer relato sobre ensino e
bem elaboradas que desafiem as con- ser necessário esclarecer essas pers- aprendizagem das ciências precisa
cepções prévias do aprendiz, encora- pectivas distintas e suas inter-relações. levar em consideração a natureza do
jando-o a reorganizar suas teorias Uma outra questão que precisa ser conhecimento a ser ensinado. Embora
pessoais. Uma outra tradição descreve esclarecida entre os educadores em trabalhos recentes sobre a natureza da
o processo de construção de conheci- ciências é a relação que vem sedo pro- ciência enfatizem que as práticas cien-
mento como conseqüência da acultu- posta entre a visão construtivista da tíficas não podem ser caracterizadas
ração do aprendiz nos discursos cientí- aprendizagem e suas implicações de modo unitário simplista, ou seja,
Rosalind Driver
Quando o eu estava preparando esta tradução, fui co- em ciências na década de 80. Dinâmica e inquieta, Ros
municado do falecimento da esteve sempre a frente do movimento construtivista no ensi-
profa. Rosalind Driver, principal no de ciências e soube perceber como ninguém a crise
articuladora deste artigo. Ros foi que foi se instalando nesse programa de pesquisa a partir
uma da mais proeminentes figu- do fim da década de 80. Este artigo representa uma tenta-
ras da educação em ciências tiva de refletir sobre essa crise e sugerir novos rumos ao
neste século. Seu trabalho com movimento.
Jack Easley, publicado em 1978 Todos que tiveram a honra e o privilégio de conviver e
no Studies in Science Education, trabalhar com a excelente figura humana que foi Ros Driver
sob o título de “Pupils and para- podem avaliar a dor que sua morte significou para seus
digms: a review of literature rela- amigos e colaboradores. Para seus leitores e admiradores
ted to concept development in nos quatro cantos do mundo, fica a sensação de uma perda
adolescent science students”, é irreparável para a educação em ciências. Espero que a pu-
considerado um marco na cria- blicação deste artigo em português provoque nos leitores e
ção do programa de pesquisa sobre concepções alterna- leitoras a mesmas inquietações, questionamentos e buscas
tivas dos estudantes, que dominou a cena na educação de novos rumos que marcaram a vida de Rosalind Driver.