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Resumos de MTIS I – Lúcia Costa |1

Ponto 1 - A produção de conhecimento sociológico – paradigmas e estratégias de investigação

Confronto entre paradigmas e estratégias de investigação :

 Produção de conhecimento sociológico:

METODOLOGIA:

1. Estudo dos métodos


2. Processo para se atingir determinado fim
3. Explicação detalhada, rigorosa e exata de toda a ação desenvolvida no método de trabalho de pesquisa
4. Estuda a realidade social para encontrar a explicação verdadeira dos factos sociais, através da observação e
da experimentação comum a todas as ciências
5. Estudo das práticas de investigação.
6. Parte da lógica que estuda os métodos das diversas ciências sociais
7. É uma etapa específica que procede de uma posição teórica e epistemológica – ferramenta para analisar uma
realidade

MÉTODO:

1. Meio/caminho para chegar a um fim, passando por várias etapas/fases


2. Procedimento racional arbitrário de como atingir resultados
3. Estratégias de investigação

TÉCNICA:

1. Conjunto de regras, normas e protocolos que se utiliza como meio para chegar a uma determinada meta
2. Requer conhecimentos e ferramentas bastante variadas
3. Instrumento de análise e recrutamento de informação
4. Dimensão operacional.
5. A escolha da técnica está dependente da escolha do método. Umas técnicas são para recolha (inquérito) e
outras para a análise de informação

PARADIGMA:

1. Tem anotações técnicas e metodológicas


2. Modelo a seguir; normas estabilizadoras de um grupo que estabelece limites e que determinam como um
indivíduo deve agir dentro desses limites
3. Matriz de leitura da realidade. Aqui fazem-se opções teóricas e metodológicas

TEORIAS:

1. Conjunto de conceitos e de relações entre conceitos

INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA:

1. Recolha de dados.
2. A dimensão empírica está na recolha de informação estatística em fontes, sendo que os dados não foram
produzidos pelo próprio investigador.
3. Remete para a ida ao terreno com o objetivo de produzir resultados a partir da recolha de dados.

INVESTIGAÇÃO EMPIRISTA:

1. Recolha de dados feita única e exclusivamente através dos sentidos.


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PROBLEMÁTICA TEÓRICA:

1. É problematizar as próprias interrogações.


2. Mais do que um conjunto de questões articuladas.
3. É uma procura de respostas para a questão com algum contexto teórico.
4. É o quadro teórico necessário para dar resposta à pergunta.

PROBLEMA TEÓRICO:

1. Interrogação. Remete para a questão como ponto de partida numa investigação.

HIPÓTESE:

1. Resposta/afirmação, onde se tenta explicar algo para, posteriormente serem validadas.

PROJETO DE INVESTIGAÇÃO:

1. Desenhar, conceber a investigação.


2. Prevê a totalidade do projeto a nível temporal, das etapas, tarefas, métodos e técnicas.

RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO:

1. Ponto de chegada. É o que produzimos com as ideias principais, onde se obtém os resultados finais.

 A sociologia dos factos sociais, a sociologia da ação social e a sociologia do conflito: pressupostos metodológicos
subjacentes e revisão integrada de conteúdos abordados no âmbito do 1.º ano do ciclo de estudos:

SOCIOLOGIA DOS FACTOS SOCIAIS – O centro de interesse são as regularidades sociais associadas às estruturas
sociais. O nível de análise privilegiado é um nível macro, ultrapassando desta forma o individualismo do próprio
comportamento. Uso de técnicas quantitativas através da análise estatística dos resultados.

SOCIOLOGIA DA AÇÃO SOCIAL – Estudam-se as ações sociais de cada agente, faz-se então uma abordagem de
nível microssociológico, ações, relações, comportamentos. É um nível mais focalizado, mais cirúrgico ao nível do
problema.

SOCIOLOGIA DO CONFLITO – Faz-se uma perspetiva mais macro, quantitativa, comparativa, mas com uma
contextualização histórica subjacente. Caraterísticas mais próximas dos factos sociais. Preocupação extensiva com o
funcionamento das estruturas sociais. Dimensão histórica com longa duração, com enquadramento histórico, dos
fenómenos sociais. Preocupação com a quantificação. Preocupação com o método dialético, método de análise
histórico
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1. A nível metodológico, o que torna diferente cada uma das matrizes da Sociologia?

A escala de observação: observação não enquanto técnica. As escalas de observação são macro e micro
sociológicas.

Pelas técnicas de recolha (inquérito) e de análise.

A Sociologia dos factos sociais tem uma metodologia extensiva do social, aplicando dados quantitativos.

Weber inaugura a abordagem mais micro, focalizada, intensiva e qualitativa. Visão mais focada no individuo.
Recorre à análise da linguagem verbal e não-verbal. Tem como instrumento a entrevista.

2. Consequências que surgem desta dicotomia/diferenciação na investigação sociológica?

Esta dicotomia implica diversidade metodológica e conflitualidade. Também se traduz em maior ou menor
legitimidade de cada matriz paradigmática e questiona qual das matrizes se tornou mais legítima, como é o caso da
matriz quantitativa.

O facto de ser mais legítima do que a outra levanta questão da cientificidade ou validade científica.

3. Quais os critérios de cientificidade que a Sociologia desenvolveu?

Nunca foram os mesmos. Estes critérios têm a ver com maior ou menor domínio e legitimidade que uma matriz
paradigmática teve. Igualmente dependem da época. Tinham de obedecer a testes estatísticos, dados quantitativos
para que tivesse validade sociológica. Contudo, o desenvolvimento da disciplina tem por base a dicotomia, sendo que
tem uma tem mais relevância em relação à outra.

 Confronto entre o paradigma quantitativo e o paradigma qualitativo a partir dos planos ontológico,
epistemológico, metodológico, axiológico e retórico (tipologia de Creswell):

SOCIOLOGIA – 2 PARADIGMAS – Propõem formas de investigar a sociedade, sendo necessário pressupostos


teóricos e metodológicos para o fazer, bem como de técnicas.

QUALITATIVO – Paradigma construtivista, naturalista, interpretativo, compreensivo)

QUANTITATIVO – Paradigma positivista, tradicional, experimental, empirista.

Para estes paradigmas houve contributos importantes da sociologia dos factos sociais (Durkheim), sociologia
da ação social (Weber) e sociologia do conflito (Marx).

A investigação empírica em Sociologia tem sempre a vertente teórico-metodológica e uma componente


discursiva.

Creswell faz um exercício cruzado entre paradigma quantitativo e qualitativo. Cria assim 5 planos de modo a
fazer um exercício de confronto entre essas duas vertentes.

1. Ontológico (Sociedade/Realidade social) – Qual é a natureza da realidade social?

Tudo o que se passa na produção de conhecimento científico!

Nível quantitativo: A realidade é objetiva, exterior e independente do investigador (Durkheim). A realidade é


vista como coisa e pode ser analisada objetivamente. Neste plano o que caracteriza da sociedade é distante de nós.

Nível qualitativo: A sociedade é composta por indivíduos que estão inseridos num processo de construção da
sociedade. Portanto, a realidade social é subjetiva e é simbolicamente construída pelos indivíduos.
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2. Epistemológico (Processo de conhecimento/Sujeito) – Qual a relação entre o investigador e o que é


analisado/objeto de investigação?

Nível quantitativo: O investigador permanece distante, independente do objeto em estudo e, como tal,
controla enviesamentos que possam ocorrer no processo de conhecimento. A relação existente é de distanciamento
para se conseguir ser objetivo (conceção positivista).

Nível qualitativo: O investigador interage com o objeto em estudo e tenta minimizar a distância social
estabelecida entre ambos. Há uma relação próxima entre o sujeito e objeto de conhecimento. Sujeito e objeto de
conhecimento não têm de ser coisas separadas e não é esta relação que retira objetividade. A preocupação é controlar
os efeitos decorrentes da interação que possam ser contraproducentes à investigação.

3. Metodológico (Métodos/Técnicas) – Qual a estratégia de investigação/projeto de pesquisa?

Nível quantitativo: A grande preocupação do investigador é de estabelecer relações de causalidade entre os


fenómenos sociais. Para estabelecer essas relações o investigador valoriza as estruturas desenvolvendo uma
perspetiva macro dos fenómenos. Para tal, isola os factos que possam ser causa. Ou seja, estratégia hipotético-
dedutiva: estabelecimento de relações de causalidade.

Parte de uma pergunta teórica, formula hipóteses e procura validar essas mesmas hipóteses. Este processo é
de caráter estático, pois parte-se de um pressuposto teórico assumido como verdadeiro sem qualquer reformulação
nem são incluídos novos fatores para a análise, não havendo circularidade durante o processo de investigação. Segue-
se um esquema rígido de etapas para constituir essas relações de causalidade, utilizando forte análise de fontes
estatísticas e inquéritos com questões fechadas. O objetivo era estabelecer generalizações, leis relativas ao
comportamento social. É um esquema essencialmente dedutivo. Abordagem dedutiva em que a técnica por excelência
é o inquérito por questionário.

Nível qualitativo: A estratégia de investigação é essencialmente indutiva, com etapas menos fixas uma vez que
o objetivo é desenvolver um processo o mais possível pelo uso de várias técnicas que se cruzam para obter diversa
informação.

Privilegiam-se as técnicas de observação direta, observação participante, entrevistas, análise de discurso e


análise de conteúdo. Há uma preocupação com a descrição detalhada dos fenómenos sociais. Não há preocupação
com as relações de causalidade, mas sim com a tentativa de analisar a maior quantidade de fatores para explicar um
fenómeno social (analisa múltiplas dimensões do mesmo fenómeno). Não interessa a quantificação dos fenómenos
sociais. Os testemunhos dos atores sociais são considerados importantes para a pesquisa, mostrando que não se faz
investigação baseada apenas em pressupostos teóricos.

Indução: ida ao terreno e entra imediatamente em contacto com o objeto de análise – pega em pequenos
casos para a investigação final.

4. Axiológico (Valores/ Prática de investigação-Ética) – Qual o papel dos valores no processo de investigação?

Nível quantitativo: Não há juízos de valor. Nada depende do investigador e os valores do mesmo não
interferem na investigação. Apenas descreve factos e as suas opiniões e valores não interessam. Por isso não há
grandes preocupações quer da ética ou da autoavaliação da pesquisa do investigador. Estão presentes técnicas
objetivas e sem margem para erro. Fazem-se juízos de factos.

De acordo com a perspetiva qualitativa os valores fazem parte do processo, as questões de ordem ética
assumem um caracter central.
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5. Retórico (Discurso cientifico) – Qual é a linguagem de pesquisa a utilizar?

Nível quantitativo: Em termos retóricos, a linguagem é clara, factual e objetiva. Esta linguagem traduz o que a
investigação lhe mostrou. A linguagem é impessoal e formal, para que todos os termos e conceitos usados sejam
explicitados e aceites, pela comunidade de pares. A explicação remete para a causalidade.

Nível qualitativo: o universo de valores, ou seja, a ética do investigador interfere na pesquisa. Do ponto de
vista qualitativo integram no discurso científico a própria linguagem dos atores sociais, sendo encarado como uma
forma de validar a investigação (por meio dos discursos dos atores). É algo que se inicia no paradigma qualitativo.
Assume-se que a linguagem pode ser metafórica e informal. Creswell também refere que os investigadores
qualitativos integram enviesamentos na investigação. Há a integração do meta-discurso – abordagem crítica do
próprio processo de investigação; avaliamos o que fazemos. Quanto mais qualitativo se é na abordagem mais
necessidade há em integrar um meta-discurso sobre o trabalho realizado.

 Critérios de escolha de um paradigma:

Creswell considera que existem vários critérios específicos quando o investigador se quer situar ou num lado
mais quantitativo ou num lado mais qualitativo da investigação, sendo que estes passam por um ponto de vista teórico
do investigador, ou seja, o investigador utiliza geralmente o que mais se identifica. A especialização metodológica e
técnica torna-nos mais direcionados para determinada área enquanto investigadores. Outra forte influência é
natureza do problema teórico que vai exigir determinada abordagem.

1. Ponto de vista teórico do investigador

Não é de forma aleatória a escolha do ponto de vista teórico da investigação. São as especificidades da
personalidade (atributos psicológicos) que se refletem na escolha do investigador perante a técnica que nos deixa
mais confortável - > ou < proximidade do investigador com os pressupostos do paradigma. Consoante as características
da pessoa e as especificidades do objeto de estudo escolhe-se a que se entende por ser a melhor abordagem a adotar.

2. Treino e competências/experiência que o investigador tem do ponto de vista da investigação

Independentemente da formação, adquirimos competências que se tornam em especializações. Para um


trabalho há que perceber quais as competências técnicas e metodológicas. Um trabalho pode ser mais forte a nível
qualitativo e, portanto, para melhor abordagem é necessária uma pluralidade metodológica.
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3. Natureza do problema teórico em análise.

Os dois elementos que orientam a investigação são os objetos de pesquisa e o problema teórico. É em função
dos objetos e questões levantadas que se pensa metodologicamente na investigação. Podem ser estes aspetos que
também ajudam na abordagem a adotar – qualitativa ou quantitativa.

4. Públicos-alvo da pesquisa
5. Atributos pessoais do investigador

 Teorias, métodos e técnicas na investigação sociológica.

 Estratégias de pesquisa associadas aos diferentes paradigmas.

Os objetivos de pesquisa científica segundo Charles Ragin são:

1. Identificar padrões e relações gerais.

2. Testar e clarificar teorias.

3. Predizer/prever.

4. Interpretar cultural e historicamente fenómenos significantes.

5. Explorar a diversidade teórica e metodológica.

6. Avançar na construção de novas teorias.

7. “Dar voz” a grupos sociais minoritários/excluídos (visibilidade sociológica de grupos sociais específicos).

6. Charles Ragin para além de diferenciar as duas vertentes sociológicas, cria uma terceira estratégia de
investigação – quantitativa, qualitativa e comparativa.

 As propostas de Greenwood e Ragin. A tipologia das técnicas de Grawitz.

Charles Ragin para além de estabelecer o acima referido, desenvolveu uma terceira estratégia de investigação:

1. INVESTIGAÇÃO QUANTITATIVA

Trata-se de um estudo extensivo e é a estratégia de investigação indicada para atingir os objetivos 1, 2 e 3. É


um estudo de relações entre variáveis e um estudo de poucos aspetos de um número elevado de casos.

O objetivo principal é estabelecer relações de causalidade entre as variáveis relativas a um fenómeno social.

Esta estratégia tem como fases nucleares: escolher os casos; construir as estruturas analíticas; construir uma
matriz de dados; medir as variáveis e examinar as correlações; associar as correlações; associar as correlações à
estrutura analítica de partida. Para tudo isto, o procedimento principal são os métodos estatísticos.

2. INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA

Trata-se de um estudo intensivo e é a estratégia de investigação indicada para atingir os objetivos 4, 6 e 7. É o


estudo dos fenómenos em profundidade e é um estudo aprofundado de muitos aspetos de um número reduzido de
casos.
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O objetivo principal desta estratégia de investigação é analisar dimensões específicas dos fenómenos sociais
sem negligenciar o todo social (visão holística).

Esta estratégia tem como fases nucleares: selecionar o local e os casos; utilizar conceitos que orientem a
investigação; clarificar os conceitos e as categorias empíricas; elaborar as estruturas analíticas do objeto de estudo.
Para tudo isto, o procedimento principal é a introdução analítica.

3. INVESTIGAÇÃO COMPARATIVA

Trata-se de um estudo compreensivo e é a estratégia de investigação indicada para atingir os objetivos 5 e 6.


Esta estratégia cruza-se com as anteriores. É o estudo da diversidade e estuda um número moderado de casos.

O objetivo principal é estabelecer padrões de significados e de diferenças.

Na tipologia de métodos de Greenwood, o autor segue os métodos pelo que são nos seus originais, sem que
haja correlação entre eles. Este autor orienta bastante ao discurso e a prática em sociologia. Aborda primeiramente o
método experimental, de seguida o método de análise extensiva e o método de análise intensiva sendo os dois últimos
os mais usados em Sociologia.

1. ANÁLISE EXPERIMENTAL

Ideia das ciências “duras”. Primeira grande etapa é o facto de haver um problema, através do qual observamos
pessoas em ação para ver se determinadas caraterísticas acontecem ou não.

Estabelecem-se dois grupos: O grupo de controlo e o grupo experimental.

O grupo de controlo mantem-se sempre com o mesmo tipo de variáveis. O comportamento do grupo
experimental já não permanece o mesmo porque vão-se introduzindo novas variáveis para se perceber se essas
variáveis são suscetíveis de provocar algum tipo de mudança nos comportamentos no grupo experimental. Toma-se
nota do que se altera ou não. A observação é a técnica associada, porque precisamos de ver e registar.

Aquando deste método as pessoas são avisadas previamente que irão ser alvo de estudo de “laboratório”.
Neste método é utilizada a técnica de “role play”, por exemplo.

Vantagens – Consegue estabelecer causalidade entre duas ou mais variáveis e é este o principal objetivo

Desvantagens – Pode haver falta de rigor e é algo reducionista em termos de análise aplica-se apenas para
alguns contextos e nada mais.

2. ANÁLISE EXTENSIVA OU MÉTODO DE MEDIDA

Entendido como método por excelência em sociologia. Associado ao positivismo, segue a lógica hipotético-
dedutiva. Há teoria e hipóteses como ponto de partida. Para iniciar um processo de investigação precisamos de ter
hipóteses.

O método de análise extensiva consiste na observação por meio de perguntas diretas ou indiretas de
populações vastas colocadas em populações reais a fins de obter respostas, permitindo este método recolher
informações através das populações vastas em situações reais mediante processos quantitativos.

O tratamento quantitativo dos resultados baseia-se em comparar os resultados entre si e estabelecer


regularidades para que se possa validar a hipótese teórica e verificar se é positiva ou negativa. É desta forma que se
racionaliza a informação empírica. O inquérito por questionário ajusta-se melhor a padronização desta técnica.

Vantagens – Extensão e capacidade de generalizar e comparar resultados.


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Desvantagens – Relativa superficialidade dos dados obtidos uma vez que se centra na medida quantitativa e
o universo simbólico pode ficar ausente; prevê-se apenas um contacto direto e rápido que não volta a repetir-se e por
isto poderá haver uma desatualização mais rápida do que seria de esperar e por vezes a técnica do inquérito por
questionário chega a ser excessivamente padronizada (perguntas fechadas).

Um grande exemplo deste método foi o inquérito aos hábitos de leituras dos Portugueses.

3. ANÁLISE INTENSIVA OU MÉTODO DE ESTUDO DE CASOS

É um método mais exigente visto que se trata de um exame intensivo tanto em amplitude como em
representatividade e utilizam-se todas técnicas.

É o lado oposto do método anterior. Não se está tão preocupado com a ideia quantitativa nem com o facto de
se estabelecer variáveis independentes.

Este método prima pela ideia descritiva e analítica, ou seja, analisa em profundidade. É analisar quase de forma
histórica um determinado fenómeno.

Estudar o maior número possível de dimensões que estão subjacentes ao fenómeno em estudo, traz-nos
amplitude.

Visa usar-se o maior número possível de técnicas e tentar cruza-las. Escolher as mais adequadas e construi-las
de forma menos rígida possível de forma a termos flexibilidade.

Pretende destacar-se regularidades ao fazer-se esta análise qualitativa dos fenómenos.

Este método é mais exigente, precisa de mais tempo e de mais recursos uma vez que há um contacto direto
com a população alvo e é necessária mais teoria.

Vantagens – Dimensão mais interpretativa, qualitativa; intensidade da análise e maior liberdade de escolha
nas técnicas.

Desvantagens – Não há estandardização da informação e está não o é, está padronizada ou suscetível de


comparabilidade; diz-se mais subjetiva e mais propensa à subjetividade já que faz mais uso dos atores sociais.

Críticas apontadas: não estandardização da informação e não é tão suscetível de comparabilidade; era um
método mais propenso às interferências de subjetividade do investigador, bem como a dos atores sociais.

Exemplo deste método: anos 90 comparação entre o que é a escola para toda a gente.

O facto de se fazer uma análise intensiva não significa que não se quantifique resultados, no entanto essa já
não é a análise pura e dura da análise intensiva. “O investigador deve decidir qual é a sua dominante.”

Tipologia de Grawitz – Trata-se de um molde antigo em que se aplica a técnica e a catalogação e divulgação
das técnicas. Não faz distinção entre técnicas de recolha e tratamento de investigação.

Esta tipologia não faz uma análise exaustiva e pode não cobrir tudo o que temos em sociologia. Não existe
distinção entre qualitativo e quantitativo e não há distinção entre tratamento e análise de informação e técnicas de
recolha. Esta tipologia não tem a observação direta porque parte do pressuposto que esta é participante.

As técnicas são divididas entre:

1. Documentais
a. Clássicas
b. Modernas
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i. Semântica quantitativa
ii. Análise de conteúdo
2. Não documentais
a. Observação participantes
b. Experimentação
c. Observação não participante
i. Entrevistas (clínica, em profundidade e centrada)
ii. Testes
iii. Inquérito por questionário

É uma tipologia que não é exaustiva; não tem distinção entre técnicas de teor mais qualitativo e mais
quantitativo; não tem distinção entre técnicas de recolha e de análise de informação. Não tem observação-direta
incluída porque pressupõe que a observação-direta já é participante. No esquema de Grawitz a entrevista é uma
técnica de observação não-participante.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS TÉCNICAS USADAS NA PESQUISA SOCIOLÓGICA:

1. Inquérito por questionário


a. Vantagens:
i. Torna possível a recolha de informações sobre grande número de indivíduos
ii. Permite comparações precisas entre as respostas dos inquiridos
iii. Possibilita a generalização dos resultados da amostra à totalidade da população
b. Desvantagens:
i. O material recolhido pode ser superficial. A padronização das perguntas não permite captar
diferenças de opinião significativas ou subtis entre os inquiridos
ii. As respostas podem dizer respeito mais ao que as pessoas dizem que pensam do que ao que
efetivamente pensam
2. Entrevistas
a. Vantagens:
i. Permite aprofundamento da perceção do sentido que as pessoas atribuem às suas ações
ii. Torna-se flexível porque o contacto direto permite explicitação das perguntas e das respostas
b. Desvantagens:
i. É menos útil para efetivar generalizações. O que se ganha em profundidade perde-se em
extensividade
ii. Implica interações diretas. As respostas podem ser condicionadas pela própria situação da
entrevista. Estes efeitos devem ser tidos em conta
3. Análise documental
a. Vantagens:
i. Pode traduzir-se em informação diversa de acordo com as caraterísticas do documento. Quer
sobre informação muito abrangente (estatísticas, por ex.), quer sobre informação em
profundidade (temas específicos)
b. Desvantagens:
i. Depende-se das fontes que existem e da sua melhor ou pior qualidade, verosimilhança,
representatividade, etc.
ii. A quantidade de informação recolhida é em geral enorme e dispersa, o que exige tratamento
e análise mais demorados
4. Pesquisa no terreno (observação participante):
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a. Vantagens:
i. Garante uma informação rica e profunda
ii. Permite flexibilidade ao investigador, porque lhe torna possível mudar de estratégia e seguir
novas pistas que aparecem
b. Desvantagens:
i. Só pode ser utilizada para estudar pequenos grupos ou comunidades
ii. Levanta dificuldades de generalização

Pluralidade paradigmática e metodológica em sociologia :

 Articulação e convergência interparadigmática: o continuum metodológico.

Foi-se encontrando abordagens a nível paradigmático e metodológico incompatíveis. Tem havido tendência
para cruzar técnicas e pressupostos. Há contradição entre discurso de investigação e prática de investigação.
Maioritariamente tem-se feito prática de investigação, havendo mais ganhos quando se faz o cruzamento de
estratégias de investigação. Contudo, não tem havido resolução para essa contradição.

 A triangulação metodológica e os modelos de pesquisa combinados.

Triangulação = Métodos + Técnicas + Teorias

Entenda-se por teoria, e segundo a obra Metodologia das ciências sociais “como um conjunto organizado de
conceitos substantivos, isto é, referidos direta e indiretamente ao real”, como é o caso do conceito de anomia, de
suicídio, de globalização. Onde o papel de comando define/orienta o objeto de análise.

Os métodos são uma estratégia integrada de pesquisa, pois têm fases, tarefas que exigem competências
articuladas entre si, podendo ter maior ou menor reflexibilidade – circuito de retroação epistemológica. Método é
mais amplo, mais abrangente. É o caminho desenvolvido para produzir conhecimento. (Método qualitativo,
quantitativo)

Por sua vez, as técnicas são basicamente instrumentos de investigador. Nas diferentes fases do processo de
investigação empírica em sociologia são utilizados um conjunto de instrumentos, como a observação direta e
participante, entrevistas e inquéritos, que em termos sociológicos correspondem a conceitos processuais. É uma
abordagem mais específica. Instrumento de recolha, de análise e tratamento de informação.

Até agora centramo-nos muito no binómio “qualitativo-quantitativo”. A partir dos anos 90, o discurso não é
tanto para ver as estratégias na versão dicotómica ou binómio, mas sim o posicionamento de tentar ultrapassar isto
com “métodos combinados” pois quando se cruzam práticas de pesquisa há uma aproximação do objeto de estudo.

A maior parte considera que há um desnível entre o discurso e a prática da investigação. Foi-se encontrado
sempre abordagens do ponto de vista paradigmático e metodológico que seriam incompatíveis- diriam que não era
possível cruzar paradigmas e 8 de investigação díspares nas suas origens. Há contradição no que toca ao discurso e à
prática da investigação, recorrentemente, faz-se a prática da investigação, há mais ganhos nos resultados obtidos
sempre que se faz 1 estratégia de investigação cruzada. Os ortodoxos puros consideram que não é possível o
cruzamento, mas isso é uma minoria, pois na atualidade as abordagens pragmáticas têm mais relevância. Pode haver
descoincidência entre discursos e práticas, mas isso na produção sociológica de hoje considera-se irrelevante. Os mais
positivistas/extensivos começou também a preocupar-se com as dimensões mais éticas e descritivas da investigação
e começou a integrar em algumas fases da sua investigação algo típica dos métodos quantitativos. Assimilação de
aspetos dum campo e de outro, cruzamento de práticas de investigação, triangulação na prática da investigação.
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Subjacente à ideia de triangular esta uma ideia de cruzar informação entre si para que eu consiga fazer uma
avaliação interna dos dados obtidos.

4 TIPOS DE TRIANGULAÇÃO

1. Triangulação de investigadores na pesquisa empírica – Traduz-se na constituição das equipas


pluridisciplinares. As pessoas que façam parte tenham formações diferentes na área das ciências sociais para
que se operacionalizem pontos de vista teóricos sobre o mesmo objeto de estudo. A principal vantagem é o
facto de termos sobre o mesmo objeto é termos várias áreas das ciências sociais a trabalharem o mesmo
objeto de estudo com pontos de vista diferentes

2. Triangulação teórica – Encontra-se nos autores de síntese da sociologia. Integrar no mesmo trabalho de
investigação contributos de autores diferentes, contrários e contraditórios entre si e a partir deles conseguir
construir um modelo de análise viável. É conseguirmos usar conceitos de autores diferentes e levar o trabalho
avante;

3. Triangulação metodológica – Triangulação de métodos, importa reter para o caso da unidade curricular.
Temos a preocupação dos métodos combinados continuum metodológico). Ter o cuidado de cruzar técnicas
diferentes ao longo do processo de pesquisa. Procuramos alguma diversidade de técnica no trabalho de
pesquisa. Se usamos diversas técnicas produzimos diversos resultados e a partir daí temos de obter os mesmos
resultados por técnicas diferentes. Tentativa de usar um método de investigação onde posso articular
diferentes técnicas de recolha e tratamento de informação e cruzamos estratégias de investigação procurando
no fim as suas regularidades. Diversificação da fonte dos dados;

4. Triangulação dos dados – Há diversidade de resultados obtidos devido à diversidade de técnicas usadas.
Cruzar as regularidades/singularidades que obtemos permite fazer a triangulação dos dados entre si.

As principais vantagens da triangulação é a maior diversidade de informação e o maior aprofundamento da


análise do objeto. Posso trabalhar o objeto de estudo qualitativa e quantitativamente de uma forma mais ampla.

A principal desvantagem é a dificuldade de realização devido à inexistência dos recursos materiais, humanos
e económicos. E é, também, mais demoroso.

CRESWELL CONSIDERA QUE EXISTEM 3 ESTRATÉGIAS DE INVESTIGAÇÃO:

1. Modelo de pesquisa de 2 fases

O mesmo objeto de estudo. O investigador organiza-se em torno 2 fases: qualitativa e quantitativa, como se
houvesse uma autonomização no tempo. Num momento faz uma análise quantitativa e mais tarde aprofunda
qualitativamente os dados ou o inverso. Para um mesmo objeto trabalha-se características diferentes sob vias
diferentes.

2. Modelo de pesquisa dominante

Apresenta-se como tradição da escola sociológica. Apesar de em algumas fases existir uma abordagem mais
descritiva, tendencialmente segue-se uma abordagem hipotético-dedutiva – é a estratégia dominante. Refere-se a um
modelo de pesquisa dominante que é a estratégia mais próxima da intensiva: estratégia hipotético-dedutiva. Não se
faz duas fases em tempos diferentes, pois ambas as fases não têm a mesma importância. Há a dominante quantitativa.

3. Modelo de pesquisa combinado

É o modelo que se tenta usar o mais possível. Ao longo da estratégia da investigação cruzar técnicas diferentes,
raciocínios dedutivos e indutivos e conseguir conciliar 2 métodos – o intensivo e o extensivo – com a mesma
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importância dada às suas feições. Quanto mais tempo de investigação, maior facilidade há em desenvolver um método
de pesquisa combinado (para além de exigir mais tempo e recursos).

Processos dedutivos e indutivos na investigação empírica em sociologia:

 Pressupostos teórico-metodológicos e desenho da pesquisa.

 A dedução e a indução na investigação sociológica.

O processo metodológico pode fazer-se em 2 sentidos:

1. A partir da dedução – Partindo de ideias (princípios teóricos) que serão confrontados com os dados.

2. A partir da indução – Observando realidades empíricas das quais se infere um conjunto de ideias/categorias
analíticas.

3. Há dedução e indução, mas dá-se prioridade temporal à dedução e prioridade concetual à teoria.

Qualquer investigação empírica em Sociologia integra um movimento de ideias para os dados e dos dados

para as ideias.

Na prática de investigação empírica em Sociologia, há diferentes tipos de dedução e de indução. Não se


concede a mesma relevância metodológica a qualquer uma delas a todas as investigações sociológicas. Existem no
mesmo processo, mas não têm a mesma importância e validade. Podem ter uma ordenação temporal num mesmo
trabalho. [atentos ao lugar e momento em que aparecem estes raciocínios].

A extração empírica faz-se de acordo com os conceitos implicados na teoria de partida. Os dados que se

obtém são reflexo desses mesmos conceitos, ou seja, do que se previu.

Há dedução e indução, mas dá-se prioridade temporal à dedução e prioridade concetual à teoria.

Ida ao terreno > recolha de informação > criação de categorias > por fim, surge a temática = INDUÇÃO

Definição teórica de algo a partir de quadros teóricos já existentes > técnicas = Forma DEDUTIVA
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MODELO DA LÓGICA HIPOTÉTICO-DEDUTIVA

1. Confrontar teorias existentes com dados empíricos.


2. Deduzir da teoria
3. Proposições logicamente articuladas com a teoria através da definição de hipótese e produção de hipóteses
operacionais que determinam a produção dos dados e podem ser confrontadas com as empíricas
4. Produzir e analisar dados
5. Fazer um processo de indução para verificar a teoria.
6. A extração empírica faz-se de acordo com os conceitos implicados na teoria de partida.
7. Os dados são o reflexo desses conceitos.
8. Há dedução e indução, mas dá-se prioridade temporal à dedução e prioridade concetual à teoria.
9. Da dedução para a indução, há uma preparação teórica antes de partir para o terreno para investigar e a
investigação não é só indutiva.

MODELO DA LÓGICA INDUTIVA

1. Escolher um tema de estudo num sentido amplo e um contexto social para realiza-lo.
2. Submergir na realidade empírica sem a intenção de comprovar uma teoria explícita.
3. Fazer uma observação não sistemática e conceptualmente não estruturada, focando a atenção em certos
aspetos.
4. Criar conceitos/esquemas adaptados à realidade observada de maneira a quebrar a distância entre factos e
conceitos.
5. Confrontar ao longo da investigação os conceitos/esquemas teóricos com as observações empíricas (processo
de refinamento concetual) – recolher, selecionar, …
6. Formula-se teoria a partir deste processo de abstração crescente em que os esquemas teóricos foram
sugeridos pela observação e surgiram durante a observação. Tal teoria tem um alcance de abstração suficiente
para extrapolar para outras situações similares.
7. Indução enumerativa – Descobrir quantas e que tipos de unidades de observações têm certas características
e inferir relações empiricamente contrastáveis. Retirar relações a partir da generalização derivada do estudo
de muitos casos. Enumerar o que recolhemos
8. Indução analítica – Criar conceitos e categorias teóricas que se ajustam à realidade social. Generalizar a partir
da abstração feita no estudo de um ou poucos casos – Generalizar. Indução mais pura; confronta com algum
enquadramento teórico. É uma análise pelo confronto da realidade social e pelas leituras que se vai fazendo.
É o criar conceitos e categorias teóricas que se ajustam à realidade social (recolhe-se características da
realidade e depois à literatura para reajustar conceitos).
9. Dá-se prioridade temporal à observação não estruturada por teorias prévias e prioridade concetual à indução
analítica e à descoberta de teorias no processo de confronto entre categorias e factos – Observação para a
Indução [Teoria]
10. Qualquer investigação empírica em sociologia integra um movimento das ideias para os dados e dos dados
para as ideias que é um processo continuo e reiterado de ida e volta entre dados e ideias – Abdução

ABDUÇÃO:

Raciocínio constante entre ida e volta entre dados e ideias – é o vaivém entre teoria e empiria.

Permite maior confronto temporal e maior generalidade dos esquemas necessários à compreensão da
realidade social.
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É um processo cognitivo global que exige um movimento rápido e contínuo entre imaginação e observação,
entre teoria e empiria, entre dedução e indução. Na estratégia hipotético-dedutiva há abdução.

Subjacente às tipologias de Greenwood, Ragin e de Quivy e Campenhoudt estão raciocínios dedutivos e


indutivos. Na investigação utiliza-se ambos os raciocínios em fases diferentes, ainda que possa existir um raciocínio
dominante.

CONCLUSÃO:

1. É um processo cognitivo global que exige um movimento rápido e contínuo entre imaginação e observação,
entre teoria e empírica, entre dedução e indução.
2. A dicotomia é simplista e difícil de visualizar nas práticas de investigação.
3. Na prática da investigação empírica em sociologia:
4. Há diferentes tipos de dedução e indução.
5. Não se concede a mesma relevância metodológica a qualquer uma delas em todas as investigações
sociológicas. (Critérios de cientificidade)
6. Podem ter uma ordenação temporal diferente num mesmo trabalho.

 A investigação empírica como um duplo processo de teorização e de verificação.


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INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

1. Ideia de desenvolvimento de um processo e é composto pelo método, técnica e teoria


2. Tem um carácter dinâmico, versátil – podem ocorrer ajustamentos, alterações e reajustamentos das escolhas,
tanto nas fases como nas tarefas
3. Capacidade reversatilidade
4. Circuito de retroação epistemológica – olhar para trás, corrigir, alterar, modificar hipóteses, acrescentar
técnicas – tudo no seu devido contexto
5. Não é um processo estático, rígido, sólido, não estamos num caminho pré-formatado
6. EMPÍRICA – trabalhar com dados qualitativos ou quantitativos, independentemente da dimensão ou
construção (investigador ou instituições), dão especificidade ao trabalho de campo
7. O próprio investigador é um construtor de dados relativos ao seu objeto de estudo

PROCESSO DE DUPLO MOVIMENTO

Existe um processo de verificação – a investigação parte da teoria existente e analisa a realidade empírica;
constrói uma representação da realidade com base na teoria – modelo analítico - e confronta-a com a pesquisa
empírica; é um processo dedutivo e descendente; é um processo de prova.

Existe um processo de teorização – parte da realidade empírica (dados) no sentido da teoria síntese; formula
conceitos e enunciados e articula a teoria com dados obtidos; estabelece conclusões: é um processo indutivo e
ascendente; é um processo de síntese.

PROCESSO DE IDA E VOLTA – HILL:

Ponto de partida da teoria: conceitos e pressupostos teóricos.

Ponto de chegada da teoria: resultados, conclusões, novos pressupostos teóricos.

É um processo de aplicação prática de conhecimentos sociológicos adquiridos e um processo de planificação


e criatividade teoricamente controladas através de uma estratégia geral de investigação: etapas e tarefas.

Implica que com teorias já existentes encontremos novos dados/resultados, mas também criemos nova teoria
a partir das generalizações que os dados empíricos nos permitem conceber.
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As questões éticas na investigação:

 Princípios éticos e regras de atuação do sociólogo.

ÉTICA NA INVESTIGAÇÃO:

Dar cumprimento aos objetivos éticos exigidos é um critério de cientificidade. Através das questões éticas na
investigação empírica está-se a abordar a relação: por um lado, validade dos conhecimentos adquiridos e, por outro,
os princípios de ordem ética.

Há um conjunto de normas, regras e princípios de atuação que estão previamente definidos e assumidos por
uma comunidade de pares, o que acaba por delimitar quais os processos corretos ou não numa investigação empírica.

Como a Sociologia é marcada por conflitualidades paradigmáticas, as questões éticas estiveram sempre
presentes nas mais diversas circunstâncias na investigação, independentemente da estratégia adotada. No entanto,
as questões éticas foram mais integradas por aqueles que fizeram uma investigação qualitativa. Nesta perspetiva,
coloca-se o investigador em mais interação e, portanto, levanta mais questões éticas. Estas questões também variam
de acordo com as técnicas de recolha de informação usadas e de acordo com o tipo de estratégia privilegiada.

Quando se faz investigação-ação produz-se conhecimento e faz-se intervenção sobre a própria sociedade.
Nesta forma de investigação também importam os requisitos éticos.

Na investigação qualitativa há uma maior intensidade das questões éticas nas técnicas, essencialmente, na
observação-participante. É observador, investigador e participante nas interações. Também na técnica de
experimentação social – pessoas desenvolvem papéis sociais que não são os delas (role play). As pessoas são avisadas
do que se vai passar, logo a questão ética está presente.

REGRAS/PRINCÍPIOS ÉTICOS:

As questões éticas na pesquisa em sociologia levam à validade do conhecimento que produzimos com os
princípios que temos. Há portanto, uma relação entre o conhecimento que produzimos com os princípios que
seguimos – Perceber o que é correto ou incorreto na investigação empírica.

As questões éticas estão sempre presentes nas investigações sociológicas mesmo nas investigações
quantitativas. Todavia, as questões éticas são mais centrais e valorizadas nas investigações qualitativas.

As questões de ordem ética variam consoante as técnicas de investigação usadas. Variam, também, de acordo
com a estratégia valorizada na investigação sociológica.

As questões éticas são transversais a uma investigação sociológica o que muda são as variações da
centralidade dessas mesmas questões em relação às técnicas a utilizar.

Autonomia dos sujeitos

1. Este princípio deve ser clarificado no início da investigação. Os sujeitos que escolhemos para a investigação
são livres de aceitar ou não a investigação em curso. É preciso um consentimento prévio. Só se aplicam as
entrevistas e inquéritos se as pessoas que são alvo aceitarem.

2. Implica a apresentação dos investigadores, da temática, dos objetivos principais às pessoas e instituição; quais
a atividades previstas em termos genéricos (timing necessário para a realização das atividades). Quando
confrontados com um “não” há que haver outro plano.
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Beneficência não maleficência

1. Nunca devemos desenvolver uma investigação empírica que ponha em causa a sanidade mental e física tanto
dos atores sociais/organização que trabalha connosco como do próprio investigador. O investigador é que
define os limites. Existe um conjunto de valores do cidadão e de bom-senso que se deve ter em conta para
haver equilíbrio. O trabalho não deve trazer resultados menos bons para os intervenientes. Quando se faz
investigação-ação deve ser algo para trazer benefícios para as populações.

Justiça/Equidade (dos recursos)

1. Tema ver com a forma como se gere um conjunto de recursos disponíveis, para que haja ganhos para todos.
importa fazer investigação com maior qualidade possível. Por exemplo, quando nos dão dinheiro para uma
investigação devemos apresentar um relatório de contas.

Regra da veracidade

1. Querer ser verdadeiros enquanto produzimos conhecimento. Assenta na verdade dos factos; não inventar. É
produzir informação com o que se consegui recolher, mesmo que essa recolha o esperado.

Regra da confidencialidade

1. Associa-se à regra da privacidade. Devemos respeitar o consentimento que nos foi dado na abordagem que
fazemos aos próprios sujeitos. É o facto de respeitarmos a identificação dos sujeitos (perceber de que forma
é que estes pretendem ser identificados). É uma regra que varia consoante o tema e estas regras são definidas
no início.

Regra da fidelidade

1. Não prometermos nada que não possamos vir a cumprir. Sermos fiéis ao próprio projeto e às intencionalidades
do mesmo.

Regra da não fraude

1. Não cometer fraude nas diversas tarefas e instancias da pesquisa.

Regra da clareza

1. Em tudo!

Regra geral

1. Naturalidade relativa aos juízos de valor dos investigadores.

Regra da reciprocidade

1. Relação de confiança entre o investigador e os atores sociais.

Regras de atuação do sociólogo

1. Autonomia dos sujeitos – princípio que obrigatoriamente se deve seguir num projeto de investigação.

2. Principio ético estruturante do trabalho de pesquisa – deve-se fazer o processo de pesquisa com o
consentimento prévio dos intervenientes – deve-se informar no inicio da investigação a temática, os objetivos
principais, as atividades previstas e a apresentação pessoal.
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REGRA GERAL:

Os juízos de valor do investigador são dispensáveis para a investigação. É preciso neutralidade relativa dos
juízos de valor. O investigador define até que ponto é que os juízos de valor do próprio interessam para a investigação.

Clareza – Sermos claros no que dizemos; a expressar os objetivos e intenções.

Com tudo isto pretende-se uma relação de confiança e de colaboração entre o investigador e atores
sociais/pop. alvo, numa investigação. Implica relação de reciprocidade.

Existem 3 patamares de investigação empírica que o investigador deve saber estabelecer:

1. Relação estabelecida entre investigador e os sujeitos de pesquisa – Como e quando damos o feedback aos que
participaram na investigação.

2. Relação estabelecida entre investigador e organismos financiadores – Obrigatoriamente há um feedback


durante e no final do trabalho. Obedecer aos formalismos de quem financia.

3. Relação estabelecida entre investigador e seus pares/comunidade científica – O trabalho de pesquisa não deve
ficar numa “gaveta”. Criar-se espaço para divulgar os resultados da investigação: conferências, seminários.

 O papel do investigador.

NA INVESTIGAÇÃO EXISTEM 3 POSSÍVEIS RELAÇÕES DE PODER:

1. O investigador e o sujeito de pesquisa

Quando estabelecemos esta relação, há momentos de maior e menor contexto, onde o investigador é que
tem de criar a relação (estabelecer confiança). Uma vez estabelecida a relação, o investigador deve “devolver” algo às
pessoas participantes, isto é, divulgar-lhe o resultado da pesquisa, sendo esta informação selecionada antes de
divulgada.

2. O investigador e entidades financiadas da investigação

Esta relação baseia-se no respeito mútuo. Criam-se expectativas de ambas as partes pois o investigador espera
apoio enquanto as entidades financeiras esperam os resultados. Não se deve enviesar só para agradar às entidades.

3. O investigador e a comunidade de pares

Os resultados também são mostrados à comunidade e também são criadas expectativas de ambas as partes.

Estas três relações são de poder porque são desiguais. Os dois lados de investigação não estão ao mesmo nível
o que pode levar a sentimentos de inferioridade. Para que isto se evite deve-se estabelecer a confiança e não fazer
distinções.

4. Conclusão

Não se deve distorcer a informação;

Deve existir apenas relacionamento profissional;

Não se deve diferenciar o estatuto dos inquiridos;

Zelar pela proteção da informação confidencial;

Princípio de autonomia do sujeito (se quer ou não fazer parte da pesquisa);


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Informar corretamente os indivíduos da investigação logo de início;

Não se pode colocar em causa a integridade física, mental e social do indivíduo.

 O código deontológico do sociólogo segundo a Associação Portuguesa de Sociologia.

O CÓDIGO DEONTOLÓGICO DO SOCIÓLOGO (APS, 1992):

1. Fruto da reflexão sobre as práticas profissionais do sociólogo e dos princípios gerais da prática científica

2. Sensibiliza o sociólogo para as questões e os dilemas éticos da investigação e da prática profissional

3. Um enunciado de princípios de atuação

4. Estabelecer uma relação de confiança e de colaboração entre investigador e sujeitos-alvo da pesquisa

5. Saber mantê-la dentro dos parâmetros científicos e éticos e do bom senso do investigador enquanto ator
social e cidadão reflexivo, consciente dos seus direitos e deveres

 A Carta Europeia do Investigador.

 Os princípios éticos da Associação Internacional de Sociologia.

Ponto 2 – O processo da investigação empírica em sociologia

Atos epistemológicos, etapas e tarefas da pesquisa

 Natureza e tipos de investigação empírica: a investigação pura e a investigação aplicada.

A investigação empírica em Sociologia pode ser uma investigação pura ou uma investigação aplicada e
aplicável:

1. É pura quando alargamos os conhecimentos produzidos – não se traduz num processo de mudança social. É
uma investigação que não se traduz na alteração dos padrões; não sustenta uma política de intervenção. É o
investigar para produzir novo conhecimento.

2. É aplicada e aplicável quando as ciências sociais são chamadas a intervir, avaliar e aplicar medidas. Neste caso
produz-se conhecimento para poder ser aplicado em determinados contextos. Os resultados produzidos na
investigação podem ser necessários para uma futura intervenção na sociedade. A intervenção pode não ser
feita pelo próprio sociólogo, a não ser que o mesmo esteja integrado nas instituições/organizações em
questão.

 A investigação empírica enquanto processo metodológico, teórico e expositivo.

A investigação empírica é um processo que envolve as componentes metodológica, teórica e expositiva.

É um processo sistemático, reflexivo, dinâmico e controlado onde tentamos encontrar respostas para uma
interrogação estabelecida, que permite descobrir novos factos ou dados, regularidades e/ou singularidades no social.
Para um problema de ordem teórico tenta-se encontrar uma resposta ou conjunto de respostas que estão validadas.

Objetivo: é um processo que tenta estabelecer regularidades ou singularidades da vida social.


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Um projeto de investigação parte sempre de pressupostos teóricos. Só se concretiza a pesquisa se houver


métodos e técnicas (de recolha de dados). É um processo expositivo em Sociologia porque partimos de um discurso
científico escrito pelo próprio investigador. A pesquisa empírica em Sociologia exige sempre uma vertente expositiva.

Trabalha-se com condições de ordem teórica. Toda e qualquer investigação implica recursos – humanos,
metodológicos, financeiros, etc. – condições sociais e socioinstitucionais.

A investigação empírica é uma atividade teórica que procura a solução teórica para um determinado problema
científico através de processos teórico-metodológicos. A investigação exige um posicionamento teórico face a um
objeto de estudo e um posicionamento metodológico.

Integra, por um lado, problemas teóricos, problemáticas teóricas e hipóteses teóricas e por outro, métodos e
técnicas de recolha e de análise de informação.

A investigação depende das dimensões do problema científico, da maior ou menos profundidade da análise
(objetivos teóricos e metodológicos), da qualificação do investigador e dos recursos disponíveis.

Envolve uma pesquisa bibliográfica (análise do problema a partir das referências teóricas contidas nos
documentos) e uma pesquisa empírica (análise do problema a partir da recolha e do tratamento de informações –
procura associar teoria e dados.

A investigação cientifica é um processo que ao concetualizar a realidade integra três dimensões triplo processo
(Sierra Bravo):

Processo metodológico – Focalizar a pesquisa a partir dos passos a seguir para procurar informação e dar
resposta ao problema (a estratégia de pesquisa)

Processo Teórico (Lógico) – Focalizar a pesquisa a partir dos elementos teóricos necessários (Enquadramento
teórico)

Processo Expositivo – Focalizar a pesquisa a partir da elaboração dos relatórios de pesquisa e da divulgação
dos resultados finais (o discurso cientifico)

 Condicionantes sociais globais, institucionais e teóricas da investigação sociológica.

Uma pesquisa não se faz apenas de condições teóricas, necessita também de condições sociais (globais da
sociedade na altura em que se avança com a pesquisa e que podem ou não condicionar os projetos) e de condições
institucionais (modos de funcionamento das instituições onde a investigação ocorre).

A investigação é um processo sistemático, reflexivo, controlado e dinâmico no qual se tenta encontrar


respostas para uma dada interrogação estabelecida. Este processo engloba condições sociais, teóricas e institucionais.
A investigação empírica é um projeto que tenta descobrir as regularidades e singularidades da vida social tendo
subjacente 3 elementos (formação):

Problemas teóricos (?) – Pergunta de partida a estabelecer (1ª e 2ª etapa) objeto teórico de um trabalho.

Problemáticas teóricas – Proposição interrogativa (3ª etapa – pesquisa bibliográfica)

Hipóteses teóricas (.) – Proposição afirmativa (4ª etapa).

Nota: Há uma ponte/ligação entre o problema e a hipótese. É a teoria que enquadra o objeto.
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 Atos epistemológicos do conhecimento e fases de realização de uma investigação empírica em sociologia.


1. Levantamento do problema teórico:

Definição da temática

Definição dos objetivos gerais e específicos

Definição da pergunta de partida

2. Etapa 2:

“Entrevistas exploratórias” – expressão redutora do nosso projeto (contactos, dimensão exploratória,


questionário, inquéritos, análise de formas documentais, observação direta […])

Argumentação - para justificar um tema pode e deve utilizar-se indicações bibliográficas já existentes, usar
autores/conceitos/perspetivas que a sociologia tem feito em torno dessa temática. (Justificação teórica)

Há também a argumentação empírica que diz respeito a dados de ordem macro (Dados do INE, PORDATA,
dados da organização) – Dados que traduzam regularidades da sociedade. (Enquadramento)

3. Etapa 3 – mais teórica:

Esta etapa define-se pela definição de uma problemática teórica. Ou seja, o quadro onde se vai encontrar
interrogações/respostas ao que se vai estudar.

Corresponde ao que se designa por fazer o enquadramento teórico da temática em análise.

Apresentação de conceitos e relação entre conceitos.

Objetivos – Conseguir escr

ever algumas páginas em que se traduzam ideias que se vão conceber.


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ESTRATÉGIA HIPOTÉTICO-DEDUTIVA

Remete para a formulação de hipóteses. É uma estratégia dedutiva na sua maioria porque o ponto de partida
da investigação é de ordem teórica. Sendo hipotético-dedutiva tem presente os atos epistemológicos – tem sempre
noção que há 3 atos que orientam a investigação, ou seja, exige sempre 3 exercícios por parte do investigador. Não
iniciamos pela construção, pois não se parte de hipóteses, nem pela validação porque não há nada para tal.

Os circuitos de retroação epistemológica estão presentes, tornando a investigação flexível. O que se pensa e
o que se realiza não é algo fechado, podendo rever e reajustar o que foi feito. Este circuito de retroação é mais possível
e verificado nas primeiras 3 etapas.

É uma estratégia de teor quantitativo (preocupada em estabelecer relações de causalidade), mas não só. Esta
estratégia de investigação implica circuitos de retroação, pois necessita de ajustamentos. Segue um método extensivo
porque define uma população-alvo e uma amostra representativa da mesma. Encontramos a conjugação da teoria e
empiria desde a 2ªfase. É uma estratégia flexível, versátil porque implica reajustamentos ao longo da investigação.
Esta estratégia de investigação prevê raciocínios dedutivos e indutivos. A abordagem dedutiva está mais presente nas
primeiras fases e a indutiva nas fases finais.

Esta estratégia de investigação tem 2 características:

1. Tem subjacente a função de comando da teoria, mas ao mesmo tempo, esta função de comando da teoria
aparece relativizada. A etapa 2 permite assumir que a teoria é confrontada muito cedo com a empiria.
Afirmando esta função, a teoria tem relevância, mas desde que seja confrontada com os dados empíricos. A
empiria tem importância para a estruturação do trabalho. No entanto, esta estratégia não deixa de ter
dominante hipotético-dedutiva.

2. Esta estratégia envolve outras técnicas, para além do inquérito por questionário e as entrevistas.
Normalmente há o cruzamento de técnicas de recolha de informação e, a partir destas, pode-se cruzar os
dados.

ETAPAS E TAREFAS (INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA EM SOCIOLOGIA):

Pergunta de partida:

1. Escolher e definir um fenómeno social para ser analisado (tema de investigação)

2. Definir os objetivos gerais e específicos da investigação

3. Colocar uma interrogação científica (pergunta de partida)

A exploração:

1. Fazer pesquisa bibliográfica acerca do tema

2. Fazer as leituras necessárias acerca do tema

3. Estabelecer contactos exploratórios com a população-alvo

4. Aplicar técnicas exploratórias (quando necessário – entre vistas exploratórias) – OBSERVAÇÃO DIRETA

5. Fazer enquadramento histórico, estatístico e sociológico do tema

6. Começar a definir o objeto teórico de pesquisa


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A problemática:

1. Definir e explicitar uma problemática teórica

2. Construir o objeto teórico

A construção do modelo de análise:

1. Definir hipóteses teóricas

2. Construir indicadores

A observação:

1. Construir as técnicas de recolha dos dados

2. Definir a população-alvo e a amostra

3. Aplicar as técnicas de recolha dos dados – ENTREVISTA E INQUÉRITO

4. Recolher os dados

A análise das informações:

1. Tratar e analisar os dados recolhidos

2. Confrontar os dados com as hipóteses teóricas

3. Validar ou não validar as hipóteses teóricas

As conclusões:

1. Assinalar as conclusões da pesquisa

2. Redigir o relatório final da investigação

3. Definir novas interrogações de pesquisa

 O "caos original": as "três maneiras de começar mal" um trabalho de investigação.

3 ASPETOS A EVITAR NA INVESTIGAÇÃO:

1. “A gula livresca” e/ou gula estatística – Risco de nos perdermos no que existe. É uma procura exaustiva sem
uma problemática definida. Não devemos exagerar na quantidade de bases teóricas, pois o excesso de
informação dificulta a compreensão e organização da mesma. Escolher o mais relevante.

2. “Passagem às hipóteses” – Começar pela 4ª etapa. Como fazer as respostas sem se ter feito a pergunta de
partida? É necessário clarificar as interrogações de partida para, posteriormente, se passar à formulação de
pressupostos explicativos.

3. “A ênfase que obscurece” – Ênfase no discurso da investigação. O discurso longo não é adequado. A forma
como se escreve ao longo da investigação deve ser simples, clara, aplicando conceitos.

 Desenho da pesquisa e projeto de investigação sociológica.


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 Como planificar um projeto de investigação sociológica?

A investigação empírica em Sociologia é um processo que exige a formulação de problema teórico,


problemática teórica e hipóteses teóricas – relação circular:

1. Problema teórico – questão/pergunta teórica que carece de uma resposta científica – 1ª e 2ª etapas

Capacidade de colocar questões científicas que acabam por ter alguma pertinência e validade do ponto de
vista da análise sociológica – a investigação empírica começa aqui, quando o levantamento de questões e perguntas

2. Problemática teórica: ponte estabelecida entre teoria e conceitos que ajudam a elaborar hipóteses. Pesquisa
bibliográfica (3ª etapa).

Quadro teórico (abordagem teórica) que permite dar uma resposta ao problema sob a forma de uma hipótese
teórica. Não é um conjunto de problemas, é a capacidade de dar resposta aos problemas – Ajuda a explicar os
problemas teóricos

3. Hipótese: (.) – Proposição afirmativa. Resposta teórica provisoria para o problema, suscetível de confirmação
ou infirmação (4ª etapa).

O processo de pesquisa tem sempre uma dupla componente: pesquisa bibliográfica e pesquisa empírica. A
pesquisa bibliográfica pressupõe uma análise do problema teórico com base na bibliografia recolhida. A pesquisa
empírica é a análise do mesmo problema teórico com base nas técnicas de recolha de dados (5ª, 6ª etapas).

 Projeto de investigação e relatórios parcelar e final de investigação.

 Componentes básicas de um projeto de investigação sociológica.

COMPONENTES BÁSICAS DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO:

1. Formulação do problema teórica – definição de temática e objetivos, revisão bibliográfica, levantamento de


questões teóricas para análise, enquadramento teórico e social do problema e abordagens exploratórias no
terreno
2. Operacionalização do problema teórico – formulação de hipóteses/coordenada de análise do problema e
construção de indicadores (modelo de análise)
3. Desenho da investigação – definição da estratégia de investigação, delimitação da população-alvo e amostra
e escolha e construção das técnicas de recolha e análise de dados
4. Viabilidade da investigação – tempo de realização (cronograma), fontes bibliográficas e recurso materiais,
humanos e financeiros (necessários e disponíveis)

 Indicações metodológicas gerais, sumário e índices.


 Como elaborar um cronograma da investigação?
 O diário de campo da investigação.

Rutura e construção do objeto: problema e problemática teórica

 Etapa 1 - o problema teórico sob a forma de uma pergunta de partida. Escolha de temática e subtemática.
Elaboração de objetivos gerais e específicos. Formulação da pergunta de partida: critérios e indicações gerais.
 Etapa 2 - a exploração do problema: as leituras; as entrevistas exploratórias; a observação direta; o uso de
fontes documentais. Indicações gerais de elaboração.
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 Etapa 3 - problemática teórica de uma pesquisa. Objetivos e tarefas. Momentos de elaboração da problemática.
 Construção do objeto teórico e função de comando da teoria: os circuitos de retroação epistemológica.

Modelo de análise: hipóteses, conceitos e indicadores

 Etapa 4: a construção do modelo de análise. Caracterização metodológica das hipóteses teóricas: noção e
função, condições de elaboração e elementos que as compõem.

QUARTA ETAPA – MODELO DE ANÁLISE:

1. Objetivos
a. Elaborar hipóteses teóricas e um sistema de conceitos e de relações entre conceitos
2. Elementos
a. Definir hipóteses teóricas
b. Estabelecer as relações pressupostas entre conceitos
c. Operacionalizar conceitos – construir variáveis
3. O que é uma hipótese teórica?
a. Proposição afirmativa que estabelece uma relação entre dois ou mais conceitos
b. Estatutos diferentes
c. Variável

HIPÓTESES TEÓRICAS – TIPOS – TIPOLOGIA DE FORTIN:

1. Não direcional – relação entre variáveis, mas sem predizer a natureza da relação
a. Ex: existe uma relação entre a autoestima nos adolescentes e o seu sentimento de rejeição
2. Direcional – explicita-se a natureza da relação entre as variáveis; inclui os termos positivo, negativos, mais que
ou menos que
a. Ex: num determinado grupo de adolescentes que praticam desporto de elite, há uma relação positiva
entre um grau elevado de controlo interno e de autoestima
3. De associação – existência de relações entre variáveis ou de variáveis que variam ao mesmo tempo
a. Ex: existe uma relação entre a autoestima nos adolescentes e o seu sentimento de rejeição
4. De associação positiva
a. Ex: entre os adolescentes há uma correlação positiva entre a autoestima e o seu sentimento de
inclusão
5. De associação negativa
a. Ex: entre os adolescentes há uma correlação negativa entre a autoestima e o seu sentimento de
rejeição
6. De causalidade – relação de causa e efeito entre duas ou mais variáveis (variável independe e dependente) –
são sempre direcionadas
7. Simples

 Construção dos indicadores: a operacionalização dos conceitos (conceito, dimensões e indicadores).


 Indicadores e pesquisa sociológica: o caráter indireto da medida em sociologia.
 Construção do modelo de análise e função de comando da teoria: os circuitos de retroação epistemológica.
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Ponto 3 – A observação em sociologia

A observação em sociologia

 Enquadramento metodológico.

Segundo Sierra Bravo, uma coisa é falar de observação, num exercício diário, quotidiano que nos ajuda a
enunciar, categorizar e catalogar comportamentos sociais, e outra coisa é transformá-la para o campo científico
(processo de observação enquanto processo cientifico).

Segundo este autor, para a observação se tornar observação científica é necessário contextualizar a
observação num projeto de investigação mais amplo (situar o exercício no âmbito de um projeto de investigação em
sociologia); fazendo uma tentativa de exercício planeado, tendo em conta o tempo de organização, sistemático,
organizado, um exercício relacionado com proposições teóricas, que é feito de acordo com determinados objetivos
(tudo começa porque existem teorias); definir o que vamos observar dado o objeto de estudo, bem como vamos
observar (seja através de diários de campo, máquinas fotográficas, grelhas de observação), recorrendo a um controlo
interno da informação.

Observação (Técnica) ≠ Observação (Etapa)

A observação enquanto técnica trata-se da recolha de informação por via dos sentidos. Tipo mais simples,
principalmente através da audição e visão. Informações dos comportamentos sociais. Num primeiro momento temos
os discursos e ações dos atores sociais, depois temos o discurso sobre o discurso: fazemos um discurso sobre esses
discursos e ações (só não acontece quando fazemos discurso direto-discurso hermenêutico do investigador)

A observação enquanto etapa é a recolha e tratamento da informação (idas ao terreno)

 Apresentação da observação: clarificação terminológica e concetual, características e objetivos.

OBSERVAÇÃO DIRETA

Técnica enquanto recolha de informação através dos sentidos. É vista como a 5ª fase de investigação,
constituída pela recolha e análise de informação (entrevistas e inquéritos).

Dificilmente faz-se observação sem que haja interferência.

A observação direta pode-se confundir com observações diárias enquanto atores sociais.

A observação direta torna-se científica quando, a dado momento, está inscrita num projeto de pesquisa
previamente formulada. Está relacionada com proposições mais gerais e pergunta de partida. A técnica terá de ter
relação com a formulação de hipóteses teóricas. Usa-se esta técnica de forma metódica e sistemática. Os registos são
feitos num determinado período de tempo – a temporalidade define-a enquanto técnica.

A observação direta está sujeita a registos metódicos (planificar e registar o que é observado), sendo
necessário saber tratar esses registos. Isto também confere cientificidade.

Segundo Sierra Bravo, é a técnica em que se usa os sentidos, essencialmente a visão e a audição. É uma técnica
que implica saber usar os sentidos.

1. A observação direta é feita no local.


2. A observação direta é também uma técnica que pode ser feita com recurso a suportes coadjuvantes.
3. A observação direta é interessante a nível sociológico para analisar comportamentos - Confrontamo-nos com
a ação direta dos indivíduos, verbal ou não verbal. Permite dar conta de algumas subjetividades do social.
R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 27

4. Enquanto observação direta poderá não implicar interações de ordem verbal entre investigador e população-
alvo.

PRINCIPAIS VANTAGENS

1. Permite recolher um conjunto de atitudes dos atores sociais.


2. Permite visualizar os atores sociais no próprio processo de interação social.
3. Contacto direto com uma diversidade de contextos sociais.
4. Permite detetar alguns elementos que não são detetáveis nos primeiros momentos (com base nas entrevistas
e inquéritos por questionário).
5. Depende menos da interferência do investigador.

ASPETOS MAIS QUESTIONÁVEIS DO ALCANCE DO OBSERVADOR

1. Quanto maior for a interação entre observador e observado, maior é a probabilidade de se produzir um
conjunto de impressões (positivas ou negativas) face ao observado e vice-versa.
2. Há aspetos da própria interação que não são controlados pelo investigador (risco, espontaneidade, acaso). É
uma técnica que não lida bem com o imprevisto, risco ou acaso. O risco e imprevisto faz com que surjam
comportamentos inesperados.

Quando a observação direta não é feita com recursos audiovisuais acrescidos os sentidos humanos
apresentam limites. Os recursos audiovisuais podem ajudar a controlar, a verificar o que não ficou registado nos
apontamentos escritos do investigador. Há maior probabilidade para que surjam erros de perceção por parte do
investigador quando não há recurso a suportes audiovisuais.

O investigador tem de saber fazer escolhas sobre o que pretende observar (tem que haver uma seleção prévia
dos elementos a observar). Todas as técnicas de investigação têm limites.

OBSERVAÇÃO DIRETA NUM CONTEXTO DE PESQUISA:

Técnica de recolha de informação assente no uso dos sentidos pelo investigador, em particular a visão e
audição, segundo objetivos, questões e procedimentos previstos e controlados

O que torna cientifica esta observação:

1. Contacto direto com a realidade


2. Presença física do (O – observador) no local, com ou sem intenção, com ou sem participação, com ou sem
anonimato
3. Identificação e descrição de comportamentos, atitudes, tarefas, espaços e atores…
4. Interferência mínima e distanciamento VS proximidade e familiarização – distanciamento crítico e controlado

Para ter o estatuto de observação cientifica:

1. Integra-se num projeto de pesquisa


2. Relaciona-se com objetivos, questões teóricas de partida
3. Faz-se de modo planeado, sistemático e controlado (observar, registar, interpretar e integrar conclusões no
conjunto da pesquisa)
4. Integra a dimensão ética [papel do (O) e relação entre o (O - observador) e o (o - observado)]
R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 28

ESTA TÉCNICA DE OBSERVAÇÃO DIRETA:

1. É utilizada num contexto de DESCORTA (fase exploratória)


Ou/e
2. É utilizada num contexto de verificação, através do levantamento sistemático dos padrões regulares de
ocorrência dos fenómenos e das suas condições (fase de tratamento e análise, fase de validação)

 Tipos de observação.

 Tipologia de Ander-Egg.

Define 4 modalidades de observação e, para as distinguir, constrói a sua tipologia com base em 4 critérios.

1. Meios utilizados

Observação estruturada – sistemática, planeada, controlada

Observação não estruturada – espontânea, ocasional, acidental, informal.

A diferença entre elas diz respeito à presença ou não de categorias de observação previamente definidas.
R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 29

Uma observação estruturada tem por base a definição de categorias de observação. Já uma observação não-
estruturada não tem a definição de categorias de observação construídas e escolhidas pelo investigador.

A observação estruturada é sistemática porque vai ser feita durante um período de tempo com as mesmas
categorias e é controlada porque segue um padrão de categorias definidas – acaba por traduzir regularidades nos
comportamentos (observa estes e as suas singularidades). A observação estruturada pode ser feita com meios
audiovisuais que ajudam no registo de informação. Na observação estruturada sabe-se o que se pretende observar.
Observa-se com categorias de observação e com outros meios de registos. Este tipo de observação é mais direcionado
para pequenos grupos e não multidões. Ela está planificada para situações pequenas. É uma técnica para efeitos de
validação das hipóteses teóricas.

Por outro lado, a observação pode ser não estruturada e não planificada a nível de categorias de observação
previamente definidas. Isto não significa que seja uma observação feita ao acaso. Simplesmente não tem a presença
de categorias. Para efeitos exploratórios deve ser feita uma observação não estruturada: quanto menos se conhecer
o terreno, mais adequada é.

Na observação não estruturada primeiro desloca-se ao terreno para se dar conta do que se vai passando – não
é orientada por aspetos previamente definidos. Adequa-se mais a situações de exploração temática – 2ª etapa do
projeto de investigação – quando se conhece pouco ou nada do terreno.

Observação estruturada e não estruturada não se excluem. Ambas fazem parte do mesmo trabalho, na medida
em que nas primeiras fases é menos estruturada, mas, ao longo do tempo, vai-se estruturando conforme a
investigação.

2. Critério de participação do observador

Observação participante (ou ativa) – Caracteriza-se por um grau visível e assumido de participação por parte
do investigador no contexto das atividades da própria interação social.

Observação não-participante (ou passiva) – É aquela que se traduz no anonimato do investigador para efeito
de registos de observação, caso se assuma que o nível de interferência é mínimo ou nulo.

3. Nº de observadores

Observação individual – O observador será sempre o mesmo e só um na ação. Estar sozinho pode ser benéfico
e deve ter atenção aos possíveis enviesamentos.

Observação em equipa – Local/lugar onde a observação se realiza.

Pode-se ter vários observadores a observar, ao mesmo tempo, as mesmas atividades. Partindo de que é
estruturada, partem das mesmas categorias de observação, as quais orientam os olhares de todos. Isto permite o
confronto de registos. No final faz-se uma grelha de observação a partir dos registos de todos.

As categorias podem ser distribuídas pelos indivíduos, o que, de certa forma, permite maior focalização.

Se for uma com observação não estruturada há uma reunião prévia entre os elementos.

4. Local/lugar onde a observação se realiza.

Observação direta in loco – Observação no próprio local onde têm lugar as interações sociais.

Observação em laboratório – O contexto onde ocorrem as interações foi alvo de preparação pelo investigador.
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 Observação direta e observação participante: definição e caracterização, usos, virtualidades e obstáculos. 24 a


26 papel

OBSERVAÇÃO DIRETA:

Sierra Bravo considera que a observação direta é uma técnica de recolha de informação, que tem como
principal característica o investigador usar os sentidos (“visão” e “audição”), podendo não ter recurso a instrumentos
técnicos. Como os sentidos humanos são limitados e os fenómenos sociais complexos, pela observação direta nunca
chegamos aos fenómenos sociais, pelo que recorremos muitas vezes a gravadores e máquinas fotográficas que nos
ajudam no combate aos erros de perceção.

1. Vantagens:

É uma técnica que se destaca à descrição e análise das práticas dos atores sociais;

Técnica que destaca dimensões das práticas sociais que os inquéritos e entrevistas não podem localizar;

Exige menos do observador, mais fácil de ser operacionalizada;

Reflexividade do observador.

Notas de método/técnica – como modo de controlo.

2. Desvantagens:

Espontaneidade, risco de acaso (o investigador tem que adaptar o “inesperado” à observação.)

Há limites no sentido do observador – mecanismo de seleção. Os comportamentos sociais são demasiado


complexos.

A nossa presença pode causar interferências do outro lado.

Em síntese: observação direta – “Uma forma de observação direta não procura evitar a interferência, pelo
contrário, assume-a.”

A observação enquanto técnica define-se pela temporalidade. Quanto mais contínua e duradoura for,
melhores são os resultados.

Paramos a observação quando esta se torna redundante – a observação em si já não avança com novas
informações. Isto acontece quando a observação é contínua.

Para efeitos exploratórios tem de ser contínua (feita ao longo do tempo). Quanto mais contínua for essa
temporalidade, mais vantagens traz.

Observação direta: caracterização do espaço; quais os atores sociais e atividades presentes no espaço.

Começam-se as primeiras observações com relato cronológico. A partir desse relato podem-se formar grelhas
de observação – passando-se, posteriormente, para um registo categorial.

OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Segundo Raul Iturra, “a observação participante é o envolvimento direto que o investigador de campo tem
com o grupo social que estuda dentro dos parâmetros das próprias normas dos grupos.”

A observação participante consiste, portanto no envolvimento direto do investigador com o seu objeto de
análise, fazendo uma análise do grupo a partir dos parâmetros que são as próprias normas do grupo.
R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 31

O investigador é o instrumento de pesquisa, entretanto em contacto direto com as pessoas, as situações e os


acontecimentos. O principal objetivo é recolher informação sobre as práticas e as representações sociais e, segundo a
obra Metodologia das ciências sociais, ainda “alcançar a caracterização local das estruturas e dos processos sociais
que organizam e dinamizam esse quadro”.

Quando falamos de observação direta participante, falamos de uma técnica, porém, ao falar de pesquisa de
terreno, falamos de método. Esta é a principal distinção entre ambos. Ao falarmos em pesquisa de terreno, uma
abordagem qualitativa, estamos a reportar-nos para um método intensivo, de cariz qualitativo, que inclui várias
técnicas, entre elas pode contar a observação direta participante (principalmente na etnografia).

A observação direta enquanto técnica, aparece quase sempre em articulação com outras.

Enquanto somos capazes de ter uma pesquisa empírica feita apenas com a técnica do inquérito por
questionário, a observação é complementada por outras. Não conseguimos, porém, fazer o mesmo com a observação,
porque há tendência para termos mais que uma técnica, havendo triangulação interna. Assim a observação não surge
isolada em projetos de investigação científica.

Projetos de investigação como o de Graça Carpinteiro sobre o contexto hospital envolvem esta técnica. Quanto
às características da observação participante consideram-se 6 fases:

1. A interferência

Tipologia de Marlere Grawitz – participação-observação e observação-participação

Fazemos observação direta, mas com um nível de interferência maior, envolvimento direto do investigador
com um determinado grupo social que é o seu objeto de análise fazendo essa análise de grupo a partir dos parâmetros
que são as próprias normas.

2. A longa duração

Exige a entrada no grupo, permanecer no grupo, ir ficando no grupo e no fim do trabalho sair do grupo. Esta
permite obter um conhecimento o mais profundo possível a cerca do grupo social, sendo esta uma abordagem
intensiva.

3. O conhecimento

Obter um conhecimento o mais profundo possível a cerca do grupo social.

4. A diversidade

Permite-nos caracterizar as estruturas sociais que dinamizam um grupo social. É uma abordagem intensiva.

5. A presença física do observador

Obedecendo a um maior rigor: o observador tem relações sociais. “O observador deve criar uma presença”.
Esta técnica faz-se também com o auxílio de outras técnicas.

6. O observador privilegiado

Necessidade de utilizar informantes – chave ou informantes privilegiados. Muitas vezes faz sentido recorrer
ao observador participante. São pessoas que ou estão no grupo ou estão perto do grupo. Por fim, relativamente às
fases da observação participante, segundo José Portela, estas são cinco:

Fase de terreno ou prévia (primeiras perguntas);

Fase da seleção do grupo e da comunidade para a análise;


R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 32

Fase de identificação com a comunidade (o observador é um desconhecido, um estranho);

Fase da adaptação e da integração (a integração nunca é completa nem plena);

Fase da saída, pois não andamos toda a vida a analisar o objeto.

Etapas da observação e papel do observador

 Etapas da observação.

Peretz – etapas da observação direta para que a interferência do investigador seja mínima.

1. Relações do observador com o meio a observar – ter ou não ter relações com o meio vai traduzir-se na maior
ou menor familiaridade que será influenciada pela maior ou menos igualdade de características. Na
observação participante quanto maior for a distância passar a ser necessário informantes privilegiados que
farão a ponte.
2. Entrada no meio - categorias, informantes privilegiados e ética (levantamento de dados e divulgação – o que
eu vou dar em troca).
3. Instalar-se no meio - que papel assumirá o observador? se eu fizer isto que implicações vou ter? como é que
se resolvem as questões de ordem ética? Questão da apresentação e da linguagem. Evolução da observação:
meios utilizados.
4. Desenvolver relações com o meio – evitar relações com o meio exclusivo, quando saiu do terreno e termino a
observação enquanto etapa tenho que fechar esta relação.

5., 6. e 7. Recolha de dados; Redação de dados; codificar e apresentar os resultados.

 A interação com o meio observado: o papel do observador e as questões de ordem ética.


1. Planificação

Classificar e definir os pressupostos da observação, bem como construir categorias da observação com base
na teoria. Categorias de observação construídas à priori.

2. Recolha

O investigador quando faz observação direta tem de trabalhar competências de cariz social e cariz pessoal.
Capaz de memorização do registo de notas de forma rápida e clara; treinar os sentidos para desenvolver uma atenção
permanente que pode ser mais ou menos orientada por categorias de observação e capacidade de adaptação a
situações que lhe sejam menos familiares onde interferem o saber estar e o saber falar.

3. Registo

Grelha de observação – as grelhas de observação podem ser feitas desde que as categorias da observação
tenham sido feitas inicialmente, um trabalho de categorização sustentado.

Diário de campo – Forma mais livre e solta de fazer observação. Texto descritivo de ordem cronológica, que
permite escrever ali todos os dados que achamos necessários e que mais tarde podemos rever.

4. Análise
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Registos de observação: o observar e o anotar; o tratar, analisar e apresentar

 O observar e o anotar: o memorizar e o escrever; as grelhas de observação e os diários de campo; as categorias


de observação (a priori, durante e a posteriori); tipos de notas em diário de campo.

MOMENTOS DE OBSERVAÇÃO:

Conceção/planificação da observação:

1. Quadro teórico da pesquisa (tema, objetivos e questões)


2. Quadro de categorias de observação (o que observar)
3. Condições para a realização da observação
4. Questões éticas
5. Seleção e formação de observadores
6. Grelha de observação e/ou diário de campo

Recolha e registo dos dados de observação

1. Realização das observações (quantas?, quando?, como?)


2. Notas em diário de campo
3. Preenchimento das grelhas de observação

Interpretação e análise dos dados de observação

1. Confronto entre todos os registo de observação


2. Tratamento e análise (vertical e horizontal)
3. Apresentação dos resultados

Os registos de observação são feitos em diário de campo onde se regista de uma forma livre, mas de ordem
cronológica, todas as informações que consideramos relevantes.

Podem-se fazer também grelhas de observação caso as categorias estejam corretamente formuladas.

No registo é importante termos em conta:

1. Identificação dos intervenientes: os elementos/se a obs é invidual ou coletiva.


2. Identificação dos alvos da nossa atenção: quem são, quantos são, interesse particular.
3. Identificação das atividades dos sujeitos: comportamentos, atitudes, etc.
4. Dipositivos materiais: instalações, objetos, vestuário, etc.
5. Ponto de vista dos participantes: reações, discurso, troca de interações, etc.
6. Posicionamentos do observador: faz observação com ou sem participação, revelação de identidade, possíveis
ações, etc.

Ao longo da observação e dos respetivos registos, o investigador vai diminuir o seu centro de interesse, isto é,
ao início ele tem muita coisa para observar, mas com o tempo vai escolher determinadas coisas que considera ser
mais importante.

Através dos registos em diário de campo – principalmente das grelhas de observação- é possível analisar todos
os aspetos importantes que foram sendo destacados a justificar os mesmos. Relação do investigador com o meio
[notas de método e notas teóricas] e relação das jornadas do observador [notas da observação]

Existem três tipos de nota:

1. As notas de observação propriamente ditas que são as mais importantes porque o seu conteúdo resulta do
facto de se estar a observar. Corresponde ao repositório da observação - Quem, Quando, O quê e Como?
R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 34

2. As notas de método que são pequenas anotações que dizem respeito ao processo metodológico. Corresponde
à aplicação da técnica (relação entre o investigador e os dogmas sociais). As notas de método implicam um
autocontrolo do próprio processo de recolha através de um “processo de vigilância” epistemológica. O
objetivo passa por controlar o trabalho do investigador no sentido de melhorar as próximas sessões.
3. As notas teóricas são anotações em diário de campo onde vamos organizando informação sobre conceitos,
observações, interpretações, novas pistas bibliográficas, ou seja, trata-se da preparação teórica do próprio
trabalho.

A função principal das notas é recolher a informação, armazena-la e coloca-la no mesmo sítio, organizada
cronologicamente – Recolha e organização.

A principal característica é o facto de se recriar, através das notas, em tempos e em espaços diferentes dos
reais aquilo que a observação coligiu. Ou seja, há a recriação dos dados em espaço e tempos diferentes posteriores.

As notas em diário de campo são registos por parte de um “eu” acerca de outros “eu”.

As notas são um registo vivo onde há o confronto entre teoria e empiria. Sempre que a interação exista não
se deve tirar notas no momento. É a posteriori que se faz.

Lemos 1, 2, 3 vezes e só depois é que passamos do trabalho e análise da observação à estratégia de


investigação que seguimos (existe sempre uma espécie de retroação).

Quando estamos em situação de interação não se devem tirar notas de campo porque este facto iria criar uma
situação constrangedora, por isso normalmente as anotações são feitas depois do contexto de observação quando já
não estou em interação. (Sendo que esta não deve ser feita passado muito tempo para que não se esqueçam
pormenores)

A observação exige sempre contextualização espacial, temporal e de conteúdo do que foi observado; tempo
e espaço próprios para o registo e trabalho teórico e empírico de construção das categorias de observação:

Existem duas formas de fazer notas:

Notas condensadas – Que se fazem por tópicos/aspetos/pontos obrigatórios para desenvolver mais tarde num
registo de observação.

Notas alargadas/desenvolvidas – Que é o registo de observação propriamente dito. Acabamos por re-
memorizar a interação de acordo com as notas condensadas (nos momentos cruciais) em relato cronológico, em texto.

O investigador deve ser capaz de:

1. Desenvolver os níveis de atenção, trabalhar a capacidade de atenção, permanente ao que se passa fazendo
apelo à audição e visão.
2. Capacidade de memorizar diversas características que fazem parte da própria situação.
3. Tomar notas de forma clara e rápida.
4. Observação é uma técnica que exige adaptação do investigador a meios que desconhece Está sempre
presente a aplicação das técnicas sendo que determinadas técnicas adaptam-se mais ou não à personalidade
de cada investigador. Há momentos em que é necessário interagir com os outros e outros em que apenas é
necessário observar.
5. Acompanhamento da teoria sociológica para acompanhar os registos de observação. Só interpreto os registos
de observação através do acompanhamento da teoria sociológica.

Em suma, as características base são a memorização, a sociabilidade, a atenção e a interpretação


(acompanhamento teórico).
R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 35

Ao longo do diário de campo, o investigador seleciona determinadas categorias de observação. Fazer


categorias:

A priori – Observação de validação

A posteriori ou durante – Observação de tipo exploratório

Esta categorização sugere a Ander-Egg quatro critérios importantes relativamente à categorização,

1. Número de observadores presentes.


2. Regularidades
3. Momentos de interferência (observação participante)
4. Só pensar no tempo da categorização e não no tempo da simultaneidade.

Para formarmos estas categorias temos diferentes processos, nomeadamente o olhar vertical para cada
registo em que se fazem o tratamento e a análise e o olhar horizontal em que se comparam os registos entre si e se
encontram regularidades ou singularidades.

 Domínios de observação e passos do observador: a proposta de Henri Peretz.

DOMÍNIOS DA OBSERVAÇÃO SEGUNDO PERETZ

Ações verbais e não verbais – sequência das ações sociais, escolheu a ação e apenas a protagoniza (principais
e secundárias):

1. Gestualidade
2. Interações
3. Expressões verbais e não verbais
4. Sequências das ações sociais
a. Data, hora e duração
b. Circunstâncias atmosféricas
c. Acontecimentos peculiares do local
d. Acontecimentos gerais que podem ter consequências

Grupos sociais e conjunto de pessoas observadas:

1. Dados biográficos e autobiográficos


2. Relatos de carreira sobre a história dos atores sociais
3. Classificação dos atores por categorias sociodemográficas, pelo seu lugar na divisão social do trabalho e pelo
seu papel no meio social
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Dispositivos materiais – discussão de espaços, materiais e objetos, utilizados no contexto da observação.

1. Implantação e localização dos lugares


2. Tipo de decoração e instalações
3. Instrumentos e objetos produzidos/utilizados
4. Fatos de trabalho/de passeio usados pelos participantes

Ponto de vista dos participantes

1. Intenções expressas nas manifestações observadas


2. Ponto de vista sobre as pessoas e as situações
3. [categoriais de classificação, de avaliação e de perceção próprias do meio]

Posicionamentos do observador – papeis assumidos pelo observador durante a pesquisa e relações


individualizadas e ações com certos atores sociais

PRIMEIROS PASSOS DO OBSERVADOR:

1. Anotar os elementos que lhe parecem novos/estranhos


2. Fazer perguntas sociologicamente relevantes
3. Escrever um primeiro texto, curto, que responda a:
a. O que é que acontece neste lugar/instituição/meio social?
b. O que é que eu compreendo ou não de tudo o que observo?
c. Como abordar este lugar/instituição/meio do ponto de vista sociológico?
4. A partir do texto, compor uma grelha de observação:
a. Primeiro enunciado de categorias de observação
b. Sobre as caraterísticas gerais e permanentes do lugar/instituição/meio social
i. Familiarização com o local
ii. Definição da ação central e das ações que são alvo de uma observação direta
5. Realizar registos sistemáticos de observação a partir da grelha de observação

 A escrita das notas de observação.

INDICAÇÕES PARA A ESCRITA DAS NOTAS DE CAMPO

1. Fazer um relato cronológico

Desenvolvimento cronológico das sucessivas fases da observação e dos acontecimentos

2. Fazer uma categorização temática

Dividir os registos em ação principal e ação secundária

Dividir estes últimos em sequências

Atribuir-lhes um nome (categoria)

Interrogar-se quanto aos tipos de conclusões

3. Atender às ações descritas e aos discursos e comentários verbais dos atores sociais

Utilizar as aspas sempre que se transcreve um discurso/comentário/palavra(s) dos atores sociais


R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 37

4. Empregar a voz ativa e dar um sujeito ao verbo


5. Por meio de uma abreviatura dar identidade ao sujeito (para preservar o anonimato e privacidade)
6. Evitar o uso do infinitivo como sujeito ou o uso do pronome impessoal

É necessário mostrar quem protagoniza as ações.

7. Evitar o uso do futuro histórico na descrição dos acontecimentos e usar o presente descritivo
8. Estar atento ao uso dos advérbios e das expressões generalistas: avaliar o nível de generalidade

A maior parte, em geral, frequentemente

9. Estilo direto: reproduzir textualmente as palavras ditas e utilizá-lo para ligar conversas entre si
10. Estilo indireto: é o discurso contado feito pelo narrador/observador

É o estilo normalmente utilizado.

11. Utilizar os [] ou () para anotar informações adicionais: dados de caraterização sociográfica dos atores sociais
que remetem para uma tabela de apresentação destes, e expressões/atitudes que acompanham os
comentários/ações

 Regras gerais e indicações metodológicas.

INDICAÇÕES METODOLÓGICAS ADICIONAIS PARA NOTAS EM DIÁRIO DE CAMPO (TRATAMENTO E ANÁLISE


SEGUNDO BOGDAN E BLICKEN)

1. Explorar a literatura existente enquanto se encontra no terreno


2. Ensaiar ideias/temas junto dos informantes privilegiados com noção dos limites de tal abordagem e sem pôr
em causa os objetivos e as dimensões de análise do trabalho.
3. Informantes: Quem faz a ponte entre o investigador e o local/ organização onde nos queremos integrar para
o projeto. Quanto mais desconhecido é o contexto para onde vamos, ou quanto mais complexas forem as
áreas temáticas, mais isto se torna importante.
4. Utilizar auxiliares visuais (tabelas, gráficos, plantas, diagramas)
5. Escrever ideias/comentários nas margens das notas de campo, sublinhando as secções importantes e
circundando palavras/frases dos atores sociais

ANÁLISE APÓS A SAÍDA DO CAMPO SEGUNDO BOGDAN E BLICKEN

1. Desenvolver categorias de observação (categorias de codificação)


2. À medida que se vai lendo as notas de campo, repetem-se/destacam-se palavras/frases, padrões de
comportamento, formas dos sujeitos pensarem e acontecimentos/ações. [tentar encontrar regularidades]
3. Codificar a informação implica:
4. Percorrer os dados à procura de regularidades e de padrões e redigir palavras/frases que representem tais
padrões (categorias de codificação)
5. São um meio de classificar os dados descritivos recolhidos; podem surgir durante a recolha, mas são ultimadas
nesta fase.
6. Para evitar a perda ou confusão da informação registada:

Rever as páginas de registos das notas de campo

Numerar sequencialmente as páginas

Desenvolver, à medida que se lê, uma lista de categorias de codificação


R e s u m o s d e M T I S I – L ú c i a C o s t a | 38

Atribuir categorias de codificação a unidades de dados (partes/excertos das notas de campo)

Modificar, criar outras, eliminar categorias e codificação

 O tratar, analisar e apresentar: o organizar e catalogar os dados de observação.

ANÁLISE NO CAMPO:

1. Tomar decisões para estreitar o campo de análise


a. Fazer da recolha de dados um funil: passar da recolha ampla à recolha específica e delimitada
2. Desenvolver questões analíticas
a. Ver as questões pertinentes e reorganizar/reformular as questões orientadoras iniciais
3. Planificar as sessões de recolha de dados à luz do que se detetou em observações anteriores
a. Rever as notas de campo e planificar as próximas sessões de recolha de dados
4. Explorar a literatura existente enquanto se encontra no terreno
5. Redigir comentários do observador (CO – abertura de comentários do observador)
a. Acerca das ideias que lhe vão surgindo
b. E estimulando a reflexão crítica sobre aquilo que se observa
6. Redigir memorandos sobre o que vai aprendendo
a. Ler os dados e escrever resumos de ½ página sobre o que emerge e estabelecer ligação com os CO
[faze-los após 5/6 idas ao terreno]
7. Ensaiar ideias/temas junto dos informantes privilegiados
a. Com noção dos limites de tal abordagem e sem pôr em causa os objetivos e as dimensões de análise
do trabalho
8. Utilizar auxiliar visuais (tabelas, gráficos, plantas, diagramas)
9. Escrever ideias/comentários nas margens das notas de campo, sublinhando as secções importante e
circundado palavras/frases dos atores sociais

 Indicações metodológicas quanto à análise dos dados de observação.


 Integração dos dados de observação no quadro de uma estratégia de investigação hipotético-dedutiva.
 Integração dos dados de observação no projeto de investigação e no relatório final de pesquisa.

Reflexões finais sobre a técnica da observação

 A construção social da validade dos resultados.

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