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FIOS
Ilustrações Andréia Vieira
© Ana Carolina Carvalho (texto) e Andréia Vieira (ilustrações), 2020
Ana Carolina Carvalho
Coordenação editorial: Graziela Ribeiro dos Santos
Assistência editorial: Olívia Lima
Preparação: Marcia Menin
Revisão: Carla Mello Moreira
ISBN 978-65-5744-053-7
20-36078 CDD-028.5
SM EDUCAÇÃO
Rua Tenente Lycurgo Lopes da Cruz 55
Água Branca 05036-120 São Paulo SP Brasil
Tel. (11) 2111-7400 Fonte: QuartoSlab
https://www.grupo-sm.com/br Papel: Offset 90 g/m2
Há vinte e cinco anos, a linha Natura Crer Para Ver escreve uma
história que começou com um sonho: transformar a realidade do
Brasil por meio da educação. Estamos comprometidos em garantir
que todas as crianças estejam na escola e aprendam a ler e a escre-
ver até os sete anos de idade, que os nossos jovens se desenvolvam
de forma completa em um Ensino Médio de qualidade e que as Con-
sultoras de Beleza Natura tenham cada vez mais oportunidades por
meio da educação.
Este livro, que faz parte de um movimento pela alfabetização das
crianças do Brasil, simboliza a nossa responsabilidade com essa causa
e também nosso desejo de uma sociedade mais justa e igualitária. Além
disso, é um convite para que, juntos, possamos escrever novas histó-
rias de transformação por meio da educação.
A narrativa deste livro foi inspirada na vida das Consultoras de Bele-
za Natura de todo o País. Mulheres que desbravam horizontes e supe-
ram desafios. Mulheres que colaboram ativamente com a construção
de uma educação pública de qualidade.
#EuEscrevoEssaHistória
Dedico este livro aos milhares de Consultoras de
Beleza Natura, cujos sonhos e histórias de vida foram
fundamentais para a costura desta narrativa.
Ana Carolina
Em uma cidade pequena e cheia de silêncios, feita de duas ruas
apenas, uma escola e uma praça com igreja, viviam uma mulher...
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… e sua filha.
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A menina e sua mãe.
As duas moravam na última casa da segunda rua, perto da saída
da cidade.
A mãe era costureira e passava as horas diante de sua máquina
de costura. Tecia roupas de festa e de boneca, roupas para gente
grande e para gente pequena. As roupas viajavam e eram vendidas
em uma cidade vizinha maior que aquela tão pequenina.
A menina gostava de ficar perto da mãe, observando seus pés no
pedal da máquina, suas mãos sempre ágeis, mágicas, e ouvindo
a música ritmada da costura sendo feita.
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No entanto, havia festa no pensamento
da menina, que inventava histórias para os
bordados, como se a mãe costurasse personagens
de livros bem diferentes. Aí ela começava a contar:
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A menina também gostava de
sonhar no quintal coalhado de árvores.
Nos galhos mais altos em que conseguia
subir, inventava moradas, vivendo no
último andar de um prédio imaginário.
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Primeiro, apareceram carros que mais
pareciam casas, com portas, janelas, cortinas
e escadas para alcançar o chão. Dos carros Teve até uma moça que fazia estrelas no
saíam pessoas de todo tipo. E como eram ar com suas pernas finas e um homem que
animadas e diferentes no jeito de agir, pulava com uma perna só e depois com as
parecendo festejar a chegada à cidade! duas juntas, como se estivesse buscando o
Algumas tocavam instrumentos musicais céu em um jogo de amarelinha.
e entoavam canções em línguas A menina ria sozinha e se perguntava:
desconhecidas. Outras corriam, saltavam
e dançavam.
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Depois, surgiu um caminhão grande, carregando
uma lona listrada de vermelho e branco, que logo foi içada
como um bicho gigantesco.
Fera mansa e silenciosa, presa por muitas e muitas cordas,
aquela estrutura parecia ser o telhado de uma casa enorme,
pronta para acolher todos os habitantes da cidade.
Foi então que a menina entendeu o que significava tudo
aquilo que se instalava no terreno ao lado de sua casa.
Esqueceu-se do prédio imaginário e agora sonhava
com um imenso picadeiro. Balançava-se em cordas
presas nos galhos como uma trapezista
experiente, imaginando sustos, suspiros
e palmas de um público enfeitiçado.
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Na noite de estreia do circo, vestiu a roupa mais bonita que a mãe
já havia feito. E várias e várias vezes ela voltou a assistir ao espetáculo.
Os vizinhos artistas tornaram-se amigos da menina e de sua mãe.
Passavam quase todas as tardes colorindo a casa delas, ouvindo
juntos o compasso da máquina de costura.
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Um dia, como era de esperar, o circo
partiu, mas levou na bagagem novas
fantasias, todas bordadas.
A menina continuava a sonhar com
uma vida no picadeiro. Virava e mexia,
pedia para a mãe costurar seus desejos.
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O tempo passava, e o quintal e as árvores
pareciam encolher a cada ano. Os pés
da trapezista já roçavam o chão. Não havia
mais sustos, suspiros e palmas de um
público enfeitiçado.
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A mãe desacreditava. O mundo era vasto e a
cidade parecia se encolher ainda mais quando se
via o que existia por aí. Quem saía não costumava
voltar...
Mas a moça sabia o que queria. Então a mãe,
contrariada, deu-lhe as economias a custo
guardadas e, triste, com medo de nunca mais vê-la,
observou a filha se afastar.
Também com o coração apertado, a moça pegou Ah, como era longa a linha daquele pedaço da vida! E ainda
a estrada rumo à estação de trem da cidade vizinha havia muitos fios para amarrar...
e partiu, seguindo a linha de sua vida. Quando possível, mãe e filha conversavam por telefone. A filha
pedia para a mãe descrever suas costuras; a mãe queria saber das
novidades da filha: era ela trapezista? Morava em um último andar
arranhando o céu?
A moça, porém, costurava segredos. Queria presentear a mãe
com surpresas.
As vozes trocadas de longe não davam conta de matar a saudade.
A filha sentia falta da mãe; a mãe sentia falta da filha.
A volta era uma promessa que demorava a ser cumprida.
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Até que um dia, em uma terça-feira do mês de maio, enquanto
costurava, a mãe ouviu palmas do lado de fora.
Ao abrir a porta, explosão de música de risos e beijos. Euforia!
A filha carregava uma espécie de máquina de costura. Só que essa
máquina não fazia roupas; sua costura era de outro tipo. Com ela,
a moça juntava os fios de muitas histórias de pessoas reais e de
personagens inventadas. Fazia de conta, como sempre fazia quando
morava em galhos de árvore ou balançava-se em cordas como uma
valente trapezista.
— Uma escritora?
— Ainda não, minha mãe!
E foi logo explicando:
— Mas já escrevi meu primeiro livro e sonho com os próximos.
Toma, este eu trouxe especialmente para você.
A mãe ficou sem palavras, emocionada. A filha continuou:
— O mundo é mesmo imenso, mãe. Há pedacinhos dele
costurados nesse meu livro e nos outros tantos que trago comigo
para que todos daqui possam conhecer outros jeitos de tecer a vida.
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A cidade pequena e cheia de silêncios, feita de duas ruas apenas,
uma escola e uma praça com igreja, teria também uma biblioteca.
E o mundo, vasto mundo, habitaria as paredes de uma velha casa
ao lado da escola de uma cidade pequena...
Sobre a ilustradora
Andréia Vieira nasceu em São Paulo, em 1975. É artista visual e
ilustradora e autora de livros para crianças. Também ministra ofici-
nas lúdicas e educativas em espaços culturais e literários.
Para ela, as artes, como a da costura, do bordado, do trapézio,
da literatura e tantas outras, nos inspiram a superar desafios com
coragem, beleza e afeto.