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CURSO PROFISSIONAL DE TÉCNICO DE APOIO À INFÂNCIA

TÉCNICAS PEDAGÓGICAS E INTERVENÇÃO EDUCATIVA

Módulo 6

O Jardim de Infância como espaço educativo

Quem não sabe brincar, não sabe pensar (Eduardo Sá)


Conteúdos do módulo:

A criança no jardim-de-infância

1.1. Tipos de resposta de atendimento.

1.2. Organização do dia-a-dia em estabelecimentos de Segunda Infância.

1.2.1. O quotidiano no jardim-de-infância.

1.2.2. Organização do espaço e do tempo.

1.2.3. Utilização de materiais.

1.2.4. O contacto com a família e comunidade.

1.2.5. As actividades no jardim-de-infância: rotina, transição espontânea e planificada.

1.2.6. Os objetivos das atividades no jardim-de-infância, tendo em conta o desenvolvimento

sócio afetivo, cognitivo, psicomotor e psicolinguístico.

1.2.7. Estratégias para atingir os objetivos propostos.

Objetivos:

 Reconhecer a realidade da criança no Jardim-de-infância (3 aos 6 anos). ƒ


 Identificar as formas de atendimento à criança. ƒ
 Reconhecer como é organizado o dia-a-dia em estabelecimentos de Segunda Infância.
ƒ
 Explicitar a importância da relação escola/família e escola/comunidade.

Instrumentos de avaliação:

Trabalho individual: criação de um portefólio

Ficha de avaliação

Relatório de atividade prática


Introdução:

O Jardim-de-infância, espaço de transição entre a família e a escola, é o local privilegiado


para a realização da educação Pré-Escolar. É um espaço educativo pensado e organizado em
função da criança e adequado às atividades que nele se desenvolvem. O Jardim-de-infância
oferece condições que permitem à criança descobrir e relacionar-se com o mundo à sua volta.
As organizações educativas são contextos que exercem determinadas funções, dispondo para
isso de tempos e espaços próprios e em que se estabelecem diferentes relações entre os
intervenientes. A organização dinâmica destes contextos educativos pode ser vista segundo
uma perspetiva sistémica e ecológica. Esta abordagem assenta no pressuposto de que o
desenvolvimento humano constitui um processo dinâmico de relação com o meio, em que o
indivíduo é influenciado, mas também influencia o meio em que vive.
Para compreender a complexidade do meio, importa considerá-lo como constituído por
diferentes sistemas que desempenham funções específicas e que, estando em interconexão,
se apresentam como dinâmicos e em evolução. Assim, o indivíduo em desenvolvimento
interage com diferentes sistemas que estão eles próprios em evolução.
Nesta abordagem, importa distinguir os sistemas restritos e imediatos, com características
físicas e materiais particulares — a casa, a sala de jardim de infância, a rua, etc. — em que há
uma interação direta entre atores que aí desempenham diferentes papéis — pai ou mãe,
filho/a, docente, aluno/a, etc. — e desenvolvem formas de relação interpessoal, implicando-se
em atividades específicas que se realizam em espaços e tempos próprios. São exemplos destes
sistemas restritos, com particular importância para a educação da criança, o meio familiar e o
contexto de educação pré-escolar.
As relações que se estabelecem entre estes e outros sistemas restritos formam um outro tipo
de sistema com características e finalidades próprias (as relações entre famílias e o contexto
de educação de infância). Por seu turno, estes sistemas são englobados por sistemas sociais
mais alargados que exercem uma influência sobre eles (por exemplo, a organização da
educação de infância no sistema educativo e no sistema social influenciam o funcionamento
dos jardins de infância).
Estas interações podem ser representadas de forma esquemática:

A abordagem sistémica e ecológica constitui, assim, uma perspetiva de compreensão da


realidade que permite adequar, de forma dinâmica, o contexto do estabelecimento educativo
às características e necessidades das crianças e adultos, tornando-se, ainda, um instrumento
de análise para que o/a educador/a possa adaptar a sua intervenção às crianças e ao meio
social em que trabalha, pois possibilita:

— compreender melhor cada criança, ao conhecer os sistemas em que esta cresce e se


desenvolve, de forma a respeitar as suas características pessoais, cultura e saberes já
adquiridos, apoiando a sua maneira de se relacionar com os outros e com o meio social e
físico;

— contribuir para a dinâmica do contexto de educação pré-escolar na sua interação interna


(relações entre crianças e crianças e adultos) e na interação que estabelece com outros
sistemas que também influenciam a educação das crianças (relação com as famílias) e ainda
com o meio social envolvente e a sociedade em geral, de modo a que esse contexto se
organize para responder melhor às suas características e necessidades;
— perspetivar o processo educativo de forma integrada, tendo em conta que a criança
constrói o seu desenvolvimento e aprendizagem, de forma articulada, em interação com os
outros e com o meio;

— permitir a utilização e gestão integrada dos recursos do estabelecimento educativo e de


recursos que, existindo no meio social envolvente, podem ser dinamizados;

— acentuar a importância das interações e relações entre os sistemas que têm uma influência
direta ou indireta na educação das crianças, de modo a tirar proveito das suas potencialidades
e ultrapassar as suas limitações, para alargar e diversificar oportunidades educativas das
crianças e apoiar o trabalho dos adultos.

Tendo em conta os diferentes sistemas em interação, analisam-se seguidamente algumas


características relevantes para a organização do ambiente educativo na educação pré-escolar:

 Organização do estabelecimento educativo.


 Organização do ambiente educativo da sala.
 Organização do grupo.
 Organização do espaço .
 Organização do tempo.
 Relações entre os diferentes intervenientes.

Organização do estabelecimento educativo

O estabelecimento educativo deve organizar-se como um contexto facilitador do


desenvolvimento e da aprendizagem das crianças, proporcionando também oportunidades de
formação dos adultos que nele trabalham. Estabelece procedimentos de interação entre os
diferentes intervenientes (entre crianças, entre crianças e adultos e entre adultos), tem um
papel na gestão de recursos humanos e materiais, o que implica a prospeção de meios para
melhorar as funções educativas da instituição. O estabelecimento educativo tem uma
influência determinante no trabalho que o/a educador/a realiza com o seu grupo de crianças e
pais/famílias, bem como na dinâmica da equipa educativa.
Cada estabelecimento educativo tem as suas características próprias e uma especificidade
que decorre da rede em que está incluído (pública, privada solidária ou privada cooperativa),
da dimensão e dos recursos materiais e humanos de que dispõe, diferenciando-se ainda pelos
níveis educativos que engloba. Muitos estabelecimentos educativos, para além da educação
pré-escolar, incluem outros níveis educativos como a creche ou os ensinos básico e
secundário. Esta inserção num contexto organizacional mais vasto permite tirar proveito de
recursos humanos e materiais, facilitando ainda a continuidade educativa.
A dinâmica própria de cada estabelecimento educativo está consignada no seu projeto
educativo, como instrumento de orientação global da sua ação e melhoria, complementado
pelo regulamento da instituição, que prevê as funções e formas de relação com os diversos
grupos que compõem a comunidade (órgãos de gestão, profissionais, pais/famílias e alunos).
Estas linhas gerais de orientação, e nomeadamente o projeto educativo de estabelecimento
educativo/agrupamento de escolas, enquadram o trabalho educativo dos profissionais e a
elaboração do projetos curriculares de grupo. A contribuição dos educadores na elaboração do
projeto educativo e o modo como o concretizam confere-lhes também um papel na sua
avaliação.
Há ainda determinados aspetos da gestão do estabelecimento educativo que têm uma
influência direta nas salas de jardim de infância, tais como a distribuição de grupos e horários
dos diferentes profissionais, critérios de composição dos grupos e organização global do
tempo (horas de entrada e saída, horas de almoço, disponibilidade de utilização de recursos
comuns).
Os estabelecimentos educativos proporcionam, também, um espaço alargado de
desenvolvimento e aprendizagem de todas as crianças, em que a partilha dos espaços comuns
(entrada, corredores, refeitório, biblioteca, ginásio, etc.) deverá ser planeada em conjunto pela
equipa educativa.
A organização do tempo não letivo é também decidida a nível do estabelecimento educativo,
importando que o/a educador/a planeie e supervisione a sua concretização, tendo em conta as
finalidades que a distinguem da componente letiva, mas assegurando uma coerência de
princípios educativos entre estes dois tempos.
Neste contexto global, cada sala organiza-se de forma a dar resposta ao desenvolvimento e
aprendizagem de um determinado grupo de crianças.

Organização do ambiente educativo da sala

A educação pré-escolar é um contexto de socialização em que a aprendizagem se


contextualiza nas vivências relacionadas com o alargamento do meio familiar de cada criança e
nas experiências relacionais proporcionadas. Este processo educativo realiza-se num
determinado tempo, situa-se num espaço que dispõe de materiais diversos e implica a
inserção da criança num grupo em que esta interage com outras crianças e adultos.
A organização do grupo, do espaço e do tempo constituem dimensões interligadas da
organização do ambiente educativo da sala. Esta organização constituiu o suporte do
desenvolvimento curricular, pois as formas de interação no grupo, os materiais disponíveis e a
sua organização, a distribuição e utilização do tempo são determinantes para o que as crianças
podem escolher, fazer e aprender. Importa, assim, que o/a educador/a reflita sobre as
oportunidades educativas que esse ambiente oferece, ou seja, que planeie intencionalmente
essa organização e avalie o modo como contribui para a educação das crianças, introduzindo
os ajustamentos e correções necessários.

Organização do grupo

Na educação pré-escolar, o grupo proporciona o contexto imediato de interação social e de


socialização através da relação entre crianças, crianças e adultos e entre adultos. Esta
dimensão relacional constitui a base do processo educativo.
Há diferentes fatores que influenciam o modo próprio de funcionamento de um grupo, tais
como as características individuais das crianças que o compõem, o maior ou menor número de
crianças de cada sexo, a diversidade de idades ou a dimensão do grupo.
Organização do espaço

A organização do espaço, no jardim-de-infância, reflete as intenções educativas do educador


pelo que os contextos devem ser adequados para promover aprendizagens significativas,
alegria, o gosto de estar no jardim e que potenciam o desenvolvimento integrado das crianças
que neles vão passar grande parte do seu tempo.
A organização do espaço por áreas de interesse bem definidas permite uma variedade de
ações muito diferenciadas e reflete um modelo educativo mais centrado na riqueza dos
estímulos e na autonomia da criança. Por sua vez, os objetivos e a natureza de cada área ditam
o tipo de atividades que nela devem ser realizadas, se a tarefa / brincadeira é de caráter mais
livre ou orientada.
Para uma melhor organização do espaço torna-se necessário selecionar as áreas
fundamentais, que podem ser alteradas durante o ano, evitando sobrecarregar a sala de
atividades. A organização da sala pode sofrer mudanças periódicas, segundo o desejo das
crianças ou apenas porque a aquisição de novos materiais assim o justifique.
“Área” é um termo habitual na educação pré-escolar para designar formas de pensar e
organizar a intervenção do educador e as experiências proporcionadas às crianças.
As áreas de conteúdo supõem a realização de atividades, dado que a criança aprende a partir
da exploração do mundo que a rodeia. Se a criança aprende a partir de ação, as áreas de
conteúdo são mais do que áreas de atividades pois implicam que a ação seja de descobrir
relações consigo própria, com os outros e com os objetos, o que significa pensar e
compreender.
As áreas ou os espaços criados na sala do Jardim de Infância não são estanques. Pode-se e
deve-se criar novas áreas indo ao encontro do interesse do grupo de crianças, mediante os
projetos que se estiverem a desenvolver. As mudanças são feitas com o grupo. Desta forma
familiarizam-se com o espaço e participam no processo de organização.
As áreas devem estar bem definidas e identificadas (com o nome e símbolo) e os materiais
arrumados em locais fixos, para que as crianças se sintam orientadas e capazes de assumir
uma atitude autónoma. Cada área pode ter um limite de utilizadores (ex.: cartões com os
nomes com velcro), o que ajuda as crianças a compreender e a cumprir as regras.
Existem áreas que, pela sua natureza, não devem ser colocadas próximas uma da outra, por
ex.: “área da música e dança” que é mais barulhenta, com a “área da biblioteca” que exige
silêncio e concentração.

É importante solicitar às crianças ideias e a sua participação em todo este processo e


também pode ser pedida a colaboração dos pais, familiares e de elementos da comunidade
onde se insere o jardim-de-infância, para fazerem e/ou doarem equipamento e material para
as áreas segundo as suas possibilidades.
No jardim-de-infância tudo tem um objetivo pedagógico e a organização da sala também
tem!
Contudo, não devemos cingir-nos apenas à tradicional casinha, garagem, espaço da manta,
etc. Devemos sempre alargar para outro tipo de áreas de acordo com os interesses que as
crianças manifestam nas suas brincadeiras (daí a importância também da observação que nos
permite alargar o nosso conhecimento sobre o grupo). Por exemplo, se um grupo de crianças
mostra particular interesse em brincar aos médicos, devemos desenvolver e aprofundar o seu
interesse e o seu jogo criando uma área na sala relacionada com o tema e colocando materiais
à sua disposição.
Aqui ficam algumas sugestões de áreas ou “cantinhos”, talvez os mais comuns que podemos
encontrar numa sala de jardim-de-infância:

Área da Manta/Acolhimento – É o local onde diariamente se faz o acolhimento, mas é


também um espaço polivalente, isto é, frequentemente utilizado para variadas atividades, tais
como: histórias, canções, exploração de instrumentos musicais, jogos de expressão corporal e
outros de carácter lúdico-pedagógico, etc.
Este espaço é delimitado por uma manta ou tapete, onde se podem colocar várias almofadas.
É aqui que normalmente existe o quadro de presenças diário e o quadro do tempo.

Área do Jogo Simbólico - Esta área inclui a “casinha das bonecas”, a “arca das trapalhadas e os
fantoches. As crianças podem fazer dramatizações, fantoches, teatro se sombras, histórias,
brincadeiras de imitação dos modelos familiares…

Área da Biblioteca - Nesta área a criança manuseia livros, inventa histórias, “lê” histórias,
conta histórias, manuseia ficheiros de imagens, enciclopédias, revistas, fotografias...

Área da Expressão Plástica - Nesta área a criança experimenta vários materiais e suportes,
realiza artefactos com materiais reutilizáveis, realiza colagens, pinturas, desenhos com
variadas técnicas, manuseia tesouras, agulhas, colas, experimenta e treina noções de espaço
relativos ao suporte que nele se inscreve.

Área dos jogos e construções - Nesta área a criança experimenta construções a três
dimensões; Faz atividades de iniciação à matemática que implicam comparações e seriações,
sequências, alternâncias, tamanhos, peso, forma, cor; Experimenta materiais que promovem
noções de lateralidade; Faz actividades de experimentação de noções espaciais como: puzzles,
construções, pistas de carros

Área da escrita - Nesta área a criança tem contacto com o código escrito de uma forma
informal. Brinca com letras, copia-as, faz tentativas de escrita, imita a escrita e a leitura,
familiariza-se com o código escrito, percebe que há uma forma de comunicar diferente da
linguagem oral, percebe as funções da escrita

Não se trata de uma introdução formal e “clássica” à leitura e escrita, mas de facilitar a
emergência da linguagem escrita.

Área da matemática - Esta área está interligada especialmente com a área dos jogos onde a
criança, podendo ser criada separada em função dos interesses do grupo.

Área das novas tecnologias - Nesta área a criança usa o computador para jogar jogos
didácticos com diversos temas para o seu desenvolvimento. O código informático pode ser
utilizado em expressão plástica e expressão musical, na abordagem ao código escrito e na
matemática.
Recreio exterior - Nesta área a criança brinca livremente; Faz atividades de motricidade; Faz
exploração do espaço; Interage com outros.

“E assim actividades lúdicas e actividades expressivas se entretecem e entrelaçam para um pleno desenvolvimento da
personalidade infantil”.

(M.E.; Perspectivas de Educação em Jardins de Infância; s/d, p. 20.)

1. "Proibido insultar o jardim-de-infância chamando-lhe "escolinha"  (ou "infantário"). Em


primeiro lugar, porque é uma escola. Em segundo, porque todas as escolas ganhavam se
ligassem Brincar com Aprender.

2. Proibido que os pais imaginem que o jardim-de-infância serve para aprender a ler e contar.
Ele é útil para aprender a descobrir os sentimentos. Para aprender a imaginar e a fantasiar.
Para aprender com o corpo, com a música e com a pintura. E para brincar. Uma criança que
não brinque deve preocupar mais os pais do que se ela fizer uma ou outra birra, pela manhã ao
chegar.
3. O jardim-de-infância assusta as crianças sempre que os pais - como quem sossega nelas os
medos deles por mais um dia de jardim-de-infância - lhes repetem: " Hoje vai correr tudo
bem!"

4. Os pais estão proibidos de despedir-se muitas vezes das crianças, ao chegarem todos os dias.
E é bom que se decidam: ou ficam contentes por elas correrem para os amigos ou ficam
contentes por elas se agarrarem ao pescoço deles, com se estivessem prestes a ser
abandonadas para sempre.

5. Proibido que as crianças vão dia-sim dia-não ao jardim-de-infância. E que vão,


simplesmente, quando os seus caprichos infantis vão de férias. E que não vão " só porque sim".
O jardim-de-infância não é um trabalho para os mais pequenos. É uma bela oportunidade para
os pais não se esquecerem que se pode amar o conhecimento, namorar com a vida, nunca ser
feliz sozinho e brincar, ao mesmo tempo.

6. No jardim-de-infância não é obrigatório comer até à última colher; nem dormir todos os
dias. E não é nada mau que uma criança se baralhe e chame mãe à educadora (ou vice-versa).

7. Os pais estão obrigados a estar a horas quando se trata duma criança regressar a casa.
Prometer e faltar devia dar direito a que os pais fossem sujeitos classificados como tendo
necessidades educativas especiais.

8. Os pais não podem exigir aos filhos relatórios de cada dia de jardim-de-infância. Mas estão
autorizados a ficar preocupados se as crianças forem ficando mais resmungonas, mais
tristonhas ou, até, mais aflitas, sempre que regressam de lá. E estão, ainda, autorizados a
proibir que o jardim-de-infância só se abra para eles durante as festas.

9. O jardim-de-infância é uma escola de pais. E um lugar onde os educadores são educados


pelas crianças. Um lugar onde todos se educam uns aos outros não é uma escola como as
outras. É um jardim-de-infância.

10. Um dia, num mundo mais amigo das crianças, todas as escolas serão jardins-de-infância!"
“Devia ser proibido ensinar a ler e a escrever no jardim de infância”. A ideia foi defendida por
Eduardo Sá no encontro “Vale a Pena ir à Pré”, uma iniciativa conjunta da  Carlucci American
International School of Lisbon (CAISL) e da revista Pais&filhos destinada a debater e esclarecer 
o valor do ensino pré-escolar na educação de uma criança.

Eduardo Sá, que começou por manifestar o seu desacordo pela “distinção que é feita entre
educação infantil e ensino obrigatório”, considerou depois que ainda existem alguns “erros”
nos moldes em que, por vezes, o ensino pré-escolar é praticado.

“O jardim de infância não é para aprender a ler nem a escrever”, criticou, lembrando que “as
crianças antes de aprender a ler, aprendem a interpretar “ e que “não é por tornarmos uma
criança um macaquinho de imitação que ela vai ser mais inteligente”. Eduardo Sá, psicólogo
clínico com grande parte da sua carreira dedicada à psicologia infantil, defendeu que o jardim
de infância deve antes ser um local onde a criança exerça atividade física pois, justificou, “as
crianças aprendem a pensar com o corpo” e se souberem mexer o corpo “mais expressivas
serão em termos verbais”.

Além disso, prosseguiu, o jardim de infância deve ser um local para a criança receber educação
musical (“a música torna-os mais fluentes na língua materna”) e educação visual (“quanto mais
educação visual tiverem, menos dificuldades têm de ortografia”). Por outro lado, disse ainda,
as crianças precisam de “contar e ouvir histórias” no jardim de infância, sublinhando que “as
histórias ajudam a pensar” e a “linguagem simbólica a arrumar os pensamentos”.

Mas, mais que tudo isso, o jardim de infância deve ser um espaço para a criança brincar. A
brincadeira é um “património da humanidade” que a ajuda  “a pensar em tempo real e a
resolver dificuldades”, salientou o psicólogo, sublinhando que “brincar não pode ser uma
atividade de fim de semana” nem os espaços para brincar podem estar confinados a pátios
fechados. “É obrigatório que as crianças brinquem na rua”, defendeu.

Em suma, concluiu, “o jardim de infância faz bem à saúde” e é urgente que seja “acarinhado”.
Sob pena de virmos a pagar no futuro “custos exorbitantes” por tal esquecimento.

É um cenário que se repete por todo o País, e que se espera revisto e alargado no próximo ano
letivo,

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