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O PRECONCEITO: UMA VISÃO ATRAVESSADA PELA PSICANÁLISE

PRECONCEITO IMPLÍCITO:
Atualmente vivemos em uma sociedade onde o politicamente correto está instaurado, ou seja,
tudo o que é da ordem do preconceito é levado na tratativa do rechaço. Partindo desse
princípio, é natural que pessoas que antes tinham um preconceito latente, passe a "recalcar"
esse sentimento para que então possa viver naturalmente na sociedade. Originando assim um
falso édipo, onde para que haja uma vivência social sem conflitos se faz necessário que os
preconceitos individuais estejam submersos e escondidos.
Porém, diversas vezes o conflito emerge no consciente do sujeito, como o retorno do
recalcado, proporcionando atos falhos e evidenciando vestígios desse preconceito antes
esquecido. Um exemplo comum são as piadas, onde satisfazem o desejo do Id, não entrando
em conflito com o Superego, já que é apenas uma brincadeira.
CONTEXTO GRUPAL:
Entretanto existe uma condição onde fica explícito esse preconceito, e não apenas por atos
falhos, mas sim com toda sua veracidade. Estamos falando de um contexto grupal.
O indivíduo que antes tinha recalcado seus preconceitos para viver em sociedade, quando se
depara com uma dinâmica de grupo não castrado se vê liberado a abrir parcialmente a porta
do narcisismo recalcado para que ele possa, em partes, voltar. Nessa situação, se cria um
sentimento de invencibilidade, porém agora não apenas pelo fato do seu narcisismo, mas
também de estar inserido em uma condição que o faz sentir protegido. Sendo assim se entrega
a sentimentos que sozinho teria que refrear. O fato de estar em contexto que lhe faz anônimo,
tira do indivíduo o peso da responsabilidade.
CONJUNTURA ATUAL:
Além das questões já vistas acima, temos um fator agravante, o da liderança. Em casos que a
figura do líder atua dentro de um regimento de um sistema fascista, onde propaga discursos
de autoritarismo e ódio, segue uma linha onde os símbolos se repetem ao longo da história e
não fica difícil olhar para trás e enxergarmos no passado o nosso presente.
É interessante observar a fala do Papa Francisco: “Devo confessar a vocês que quando escuto
um discurso de alguém responsável por uma ordem ou governo [contra homossexuais, judeus
e ciganos], lembro dos discursos de Hitler em 1934 e 1936″
“O erro da ditadura foi torturar e não matar” BOLSONARO, Jair
A conjuntura política atual no Brasil, tem como líder um sujeito que segue um sistema que
sabe que não poderia alcançar os indivíduos de forma racional, sendo assim, faz uso de
discursos irracionais e regressivos. Essa imagem do líder autoritário desperta no indivíduo a
imagem paterna individual e internalizada. Essa energia libidinal é o que une os indivíduos
em um grupo, e é importante para o líder que o fator que faz com que o grupo o siga não seja
racional e sim libidinal, pois não é atrativo para o líder que seus discursos sejam atentamente
analisados. Além da cortina de fumaça, esse líder apresenta em suas falas questões que muito
pouco falam sobre política.
Esse personagem montado, que representa esse pai e também representa o irmão - Fazendo
alusão a Totem e Tabu, é o irmão porque veio do mesmo lugar e porque ajudou também a
matar o pai- traz o sentimento de segurança, de pertença e principalmente de se sentir coagido
a seguir os seus discursos. Neste grupo o indivíduo é posto sob condições que lhe permitem
se livrar das repressões de seus instintos inconscientes.
É nessa atmosfera que encontramos tantas pessoas que antes tinham um sentimento
internalizado de raiva, externalizar como ação, com autorização.
“Para mim é a morte. Digo mais: prefiro que morra num acidente do que apareça com
um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo” BOLSONARO, Jair
Em 2015 foram 319 LGBTQ+ assassinados, já no início do ano de 2019, mais precisamente
em maio, já foram constatadas 141 mortes de pessoas LGBTQ+
Essas relações de poder já estabelecidas, faz com que o grupo opressor se sinta legitimado a
continuar com sua prática, além de que sua posição lhe proporciona inúmeras situações
prazerosas de desfrute de seus privilégios. A população que está imersa nesse regime
autoritário nunca vai racionalizar essas questões como um problema, pois não racionaliza, é
movida por questões libidinais.
“Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As
minorias se adequam ou simplesmente desaparecem” BOLSONARO, Jair

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